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Matador de Goblins – Vol. 11 – Cap. 04.2 – A Anastasis da Gehenna

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Há muito tempo, espalharam nossa areia como as estrelas,

então colocaram para descansar em uma terra brilhante distante.

Incline um ouvido para ouvir nossas palavras sussurradas:

um conto do som do vento…

Houve um único toque claro de um sino, então uma voz fraca se espalhou como uma onda. Arrastando-se para a frente no palco veio uma mulher-pássaro com pele bronzeada e asas negras. Parecia ser jovem, mas seu semblante era distante e frio, seus dedos de asa seguravam uma lâmina curva.

A cimitarra captou a luz fraca do fogo queimando no braseiro, brilhando e reluzindo como uma coisa viva. Certamente aquela era uma lâmina de renome.

De repente, whoosh, a espada foi lançada no ar e a garota deu dois passos severos no palco. Abriu as asas como se estivesse caindo no chão, mas então com um grande movimento saltou e a espada estava em sua mão novamente. Desenhou um arco simples, mas gracioso no ar com seu corpo, realizando uma estupenda dança com a espada.

A garota cortou e dançou no tempo com uma melodia sendo tocada atrás do palco. Era uma velha história de heroísmo, um antigo conto de valor deixado para as gerações futuras por uma poetisa. Um lago subterrâneo escondido nas profundezas da terra. Um dragão negro que governou lá. Os aventureiros que desafiaram sua fortaleza negra abrindo caminho através de multidões de goblins e vampiros, recrutaram a ajuda de um anão negro e, finalmente, desceram ao abismo mais profundo.

Apenas um deles notou a sombra na superfície da água: foi um rhea batedor quem deu o alarme. Num instante, o dragão negro ergueu-se com seu grande e longo pescoço, com seu terrível sopro ácido que incendiava tudo o que tocava.

Um guerreiro homem-lagarto se interpôs entre seus amigos e a explosão, mas suas escamas foram queimadas, sua carne dissolvida e ele caiu de joelhos. Uma clériga de idade indeterminada imediatamente invocou um milagre de cura, mas o inimigo não esperou que ela agisse. Uma bruxa guerreira, carregando um instrumento musical nas costas e o sangue dos demônios nas veias, correu para ganhar algum tempo. Sua Lâmina Amaldiçoada atingiu as escamas do dragão e o homem-lagarto aproveitou a abertura. Deu um bom golpe na besta com seu grande bastão dourado e o monstro fugiu de volta para as profundezas escuras.

O homem-lagarto, porém, uivou o nome de seus ancestrais e perseguiu a criatura nas profundezas. “Se eu puder derrubá-lo com minha arma, meus atos serão o material das canções. Desejo, eu apenas desejo, que as mulheres cantem sobre mim com corações feridos.”

E assim, ele quebrou o pescoço do monstro debaixo d’água com um único golpe de martelo…

A dançarina comunicou tudo isso não com palavras, nem mesmo com uma música, mas simplesmente pela maneira como dançava com a espada. Sua pele bronzeada adquiria um suave rubor com o esforço, gotas de suor brilhando como pérolas. Alguns na plateia devem ter notado que seus olhos inexpressivos estavam fixos num jovem no lugar de honra — o dono do estabelecimento. Essa dança, totalmente apaixonada e obstinada, estava sendo oferecida apenas a ele.

Era uma dança de amor, tão dedicada e inconfundível que Sacerdotisa se viu corando ao vê-la.

— Incrível… — sussurrou sem querer e a metamorfa ruiva, também um pouco corada, respondeu:

— Realmente.

Todos os clientes reunidos aqui neste prédio ficaram paralisados pela performance. Na verdade, Sacerdotisa tinha ficado tão impressionada que não conseguiu voltar imediatamente à realidade, mas se viu soltando um longo suspiro. Os aplausos da multidão foram dispersos e soaram distantes, sem dúvida porque o resto da plateia estava tão perdido em sua própria perplexidade quanto Sacerdotisa.

A dançarina baixou a cabeça profundamente e desapareceu nos bastidores, mas o espectro de seu ato permaneceu no palco.

— Dizem que ela é a melhor dançarina do país. — A elfa ruiva disse alegremente.

— Sim, e… extermínio de dragões. — Sacerdotisa quase murmurou as palavras, como se tivessem saído de um sonho. Ela fechou os olhos; era uma expressão tão nostálgica, extermínio de dragão. Nunca havia encontrado um dragão de verdade como os tipos que falavam em contos de fadas e lendas. Talvez um dia ela se encontraria em tal aventura. Assim como a brincadeira impensada que fez uma vez.

Sentia tudo isso, embora entendesse que um dragão não era uma criatura fácil e encontrar um pode não ser estritamente agradável.

— Ha-ha-ha… Bem, uma garota pode sonhar — disse a elfa ruiva, afastando o cabelo das orelhas compridas. Sua risada soou tensa, no entanto. — Mas sabe o que dizem: “Deixe os dragões adormecidos”.

— Porque são muito perigosos, você diz?

— Acho que sim, perigosos em praticamente todos os sentidos. — Ela não forneceu mais explicações, mas rolou a xícara de quartzo em sua mão. — Acho que depende de você acreditar neles ou não.

— Uh… huh. — Sacerdotisa tentou fazer um som educado, mas realmente não conseguiu. A elfa pareceu sentir isso imediatamente.

— O quê? Você tem alguma tara em matar dragões?

— Ah não. Eu só… tive um amigo que falou sobre isso uma vez… há muito tempo.

Amigo. Ela realmente poderia chamá-lo assim? Sacerdotisa nem sempre tinha certeza. Ele, as meninas. Uma das garotas ainda estava viva, mas Sacerdotisa não teve coragem — ou melhor, ainda não teve coragem — de ir vê-la. Tinha certeza de que fazer isso exigiria muito mais coragem do que confrontar qualquer dragão.1NT: Para quem não se lembra mais, ela se refere à garota que sobreviveu de seu primeiro grupo.

A metamorfa ruiva olhou para baixo em silêncio, levou a xícara aos lábios e bebeu audivelmente.

— Às vezes você tem amigos que não pode mais ver.

— Sim… Você tem.

Sacerdotisa não sabia nada sobre o passado da metamorfa, assim como a elfa não poderia saber o que havia acontecido com Sacerdotisa, mas nenhuma delas precisou dizer nada para saber que haviam sido deixadas para trás.

Tenho certeza de que deve ser uma das coisas que a mantém viva.

Assim como uma das coisas que fizeram Sacerdotisa continuar a aventura foram seus companheiros — seus amigos, desde seu primeiro grupo.

Seus pensamentos foram brevemente interrompidos; suas memórias se dispersaram violentamente. Todos os pensamentos sobre a dança no palco foram afastados por uma comoção caótica que começou na entrada.

 

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— Devolva…!

— Ah, está bem aqui, garoto!

— Minha espada… Devolva-a…!!

Sacerdotisa sentiu-se estremecer, mas se virou e olhou para descobrir um jovem cercado por vários valentões. Bem, para ser mais específico, parecia que o jovem veio cambaleando pela entrada e se jogou contra os valentões. Um deles, um homem-lagarto com escamas azuladas, ergueu uma espada em uma bela bainha. O jovem, entretanto, estava uma bagunça, obviamente tinha levado uma boa surra. A conclusão parecia óbvia: Os rufiões o espancaram e roubaram sua espada.

— Eu a consegui de forma justa, fedelho. Você quer? Vem pegar.

— Droga… Devolva…!!

Ficou claro para todos que a gangue havia roubado a espada do jovem, mas quando a vítima se lançou sobre seus perseguidores, com lágrimas nos olhos, ainda assim destemida, ninguém se moveu para ajudar. Franziam as sobrancelhas, enrugavam a testa, desviavam o olhar e geralmente se recusavam a mostrar interesse na comoção, tão imprópria neste elegante estabelecimento.

Talvez ser espancado por homens-lagarto fosse algo comum neste país, nesta terra?

É demais, pensou Sacerdotisa. Então empurrou a cadeira para trás e se levantou. A funcionária mascarada deu um estalo suave com a língua, convocando o guarda-unicórnio, cuja armadura de corpo inteiro rangeu e guinchou enquanto avançava. Quanto à elfa ruiva, sorriu um pouco enquanto suspirava.

— Ei.

Porque havia alguém que era mais rápido até do que os quatro. Fechos de metal tilintavam em suas botas no ritmo de seus passos enquanto se aproximava da briga, seus ombros balançando. Usava roupas de couro que pareciam militares e o fazia parecer um espião.

— Achei que estava aqui para curtir um pouco de música e dançar… Tranquilamente.

— Hrngh?! — O homem-lagarto de escamas azuis voltou seus olhos extraordinariamente grandes para o espião, que simplesmente levantou as mãos, sem pressa. Na verdade, parecia totalmente relaxado.

— Ei, não precisa ficar com raiva. Só estou sugerindo que levemos isso para fora.

— Não precisa dizer duas vezes — disse o homem-lagarto com um silvo desagradável de diversão, seus olhos rolando em sua cabeça. — Boa ideia. Vamos lá para fora. — O homem-lagarto afastou-se do jovem, dirigindo-se para a porta com um movimento quase deslizante. O espião foi atrás dele, atento à cauda longa e ondulada do homem-lagarto. O homem-lagarto olhou para ele com seus olhos vidrados como se o visse pela primeira vez. — É um hobby meu, derrubar espertinhos como você de seus cavalos.

— Oh? — O espião sorriu. — Você é bem-vindo, se puder.

Sacerdotisa não estava completamente certa sobre o que aconteceu a seguir. Parecia que o espião deu um soco na parte de trás da cabeça do homem-lagarto com uma velocidade incrível. Houve um instante, porém, em que ficou completamente confusa com o que havia acontecido. Só ouviu um thump, viu o homem-lagarto desmoronar e viu um arco prateado saindo de sua palma. O clarão roçou o chapéu do espião e depois se enterrou na parede do prédio. Era um fio de aço preso a algum tipo de ponta afiada que o homem-lagarto havia lançado de sua mão.

— Pensei que tivesse dito lá fora. — O espião, quase inexpressivo, quebrou o fio de aço com as próprias mãos, então pegou o homem-lagarto e o jogou casualmente pela porta.

Então, tudo acabou.

O pelotão do homem-lagarto deu ao espião um olhar rápido e fulminante antes de irem atrás de seu líder. Os demais clientes, junto com o guarda e a funcionária mascarada, viram que o assunto estava resolvido. Todos se voltaram intencionalmente para seus próprios assuntos e o burburinho do bar recomeçou prontamente. Grande parte da conversa parecia ser sobre a dança; era como se a briga de agora nem tivesse acontecido.

— Desculpe a confusão. — O espião tirou uma moeda de ouro do bolso e a jogou para a funcionária mascarada, que a pegou no ar. Sacerdotisa de repente percebeu que a funcionária tinha uma lâmina na mão, tão afiada que parecia uma agulha envenenada. Quando ela sacou isso? A funcionária guardou sua arma e a moeda de ouro calmamente, então acenou com a cabeça uma vez. Parecia ser direcionado para as laterais do palco, Sacerdotisa pôde apenas localizar a dançarina pairando nas sombras, não nos bastidores como ela esperava. Estava com a mão na espada, mas parecia aliviada agora e com um aceno de cabeça na direção do assento do proprietário, voltou para dentro.

Não fazia ideia. Sacerdotisa piscou. Sequer tinha visto todos eles se moverem.

— Vamos ver aqui… — Bastante indiferente à cena ao seu redor, o espião estava pegando a espada que havia caído da mão do homem-lagarto. Até mesmo Sacerdotisa poderia dizer que era um lindo sabre, alojado em uma bainha ornamentada. O espião avaliou criticamente, então o jogou para o jovem que estava de pé, cambaleante.

— C-caramba…! — Ele o agarrou e abraçou contra o corpo, olhando confuso para o espião. O espião levantou a aba do chapéu e pareceu sorrir, embora sua boca estivesse escondida pelo sobretudo.

— Você é um cara de sorte.

— …! — O jovem abraçou a espada com ainda mais força e, vencido, fugiu do prédio sem nem ao menos agradecer. O espião o observou ir, então se virou preguiçosamente na direção de Sacerdotisa, levantando uma mão timidamente.

— E aí.

— Pelo amor de Deus — exclamou a elfa ruiva, mas seu sorriso torto sugeria que não havia muito que pudesse fazer sobre isso. — Você já terminou?

— Eh, acho que sim — respondeu o espião com um olhar para a porta pela qual o jovem havia saído. — Agora mesmo.

— Hum.

— Só falta uma coisa. Junte-se aos outros e faça uma pequena batida.

A conversa parecia francamente íntima. Sacerdotisa estava tendo uma boa ideia do relacionamento entre eles apenas ouvindo. Estava rígida de nervosismo, mas se forçou a pressionar seu pequeno bumbum de volta no assento.

— Ele é um… amigo seu?

— Hmm-hum. — A elfa ruiva disse com um arranhão desajeitado em sua bochecha. — Lida com as tarefas de reconhecimento.

— Quem é a garota? — Desta vez foi o espião quem perguntou, mas a ruiva se levantou dizendo:

— Escute aqui, pensei que não devíamos chamar a atenção.

— Ei, — o espião resmungou —, ele atirou primeiro.

— Você só queria aparecer — brincou a garota ruiva com uma risadinha. — Essa arrogância… o que tá rolando aí?

O espião pareceu devidamente envergonhado, murmurou alguma coisa, mas então disse:

— Sim, você está certa —, com um aceno de cabeça derrotado. — Mas qual o problema? Estava só me divertindo.

— Sem danos causados. — A elfa ruiva balançou a cabeça sorrindo afavelmente e correu até ele. Provavelmente estava feliz em ver que o espião tinha feito algo parecido com ela. Sacerdotisa entendeu o sentimento, mesmo que apenas intuitivamente.

— Ahem. — Sacerdotisa tentou escolher suas palavras com cuidado. — Bem, cuidem-se. — Era uma trivialidade, mas transmitia o que realmente sentia. Era mais do que suficiente transmitir seus bons votos a essa pessoa que conhecera tão brevemente.

— Sim, você também. — A elfa ruiva sorriu gentilmente, então tirou uma moeda de ouro de sua bolsa e deslizou sobre o balcão. A funcionária mascarada o recolheu sem sequer olhar para baixo, depois fez um elegante aceno de cabeça.

— Esperamos vê-la novamente.

— Obrigada.

A elfa ruiva acenou alegremente, então saiu correndo atrás do espião como uma garota saindo para a noitada. Tinham uma altura diferente, mas caminhando lado a lado, a tranquilidade entre eles comunicava há quanto tempo se conheciam. Anos e anos. Sacerdotisa os observou ir embora, então soltou um pequeno suspiro. Não entendeu que o que sentia era inveja.

 

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O par incomum emergiu de sua conferência incomum logo depois.

— Sim, sabia que você parecia estranho, mas também faz perguntas estranhas. Que saco.

— Acho que ofereci uma compensação suficiente.

— Claro que ofereceu. Eu sei disso! Desculpe, só estou resmungando. Tem havido mais trabalho do que posso imaginar desde que meu subalterno montou aquela loja. A jovem bufou… Era uma rhea? Não, talvez uma anã. Não tinha barba, mas o cabelo abundante a denunciava, assim como seus passos, que revelavam músculos ondulantes apesar de seu corpo esguio. Suas roupas luxuosas e botas compridas com as quais pisava no chão falavam de uma reputação significativa.

Mesmo enquanto resmungava, a jovem anã lançou um olhar para o assento do proprietário. Alguém com um capacete de aparência barata a seguiu, um homem com uma armadura de couro suja, carregando uma garrafa cheia de líquido e com um pergaminho enfiado em sua bolsa de itens.

— E se uma pessoa se atreve a reclamar com ele, sua raqsa, a dançarina, fica puta da vida ou saca aquela espada. Deuses…

Não que alguém pudesse realmente reclamar. Quer a mulher-pássaro estivesse de bom humor ou não, sua dança rendeu um bom dinheiro.

O mago que podia controlar areia negra; a dançarina que veio como escrava; a assassina mascarada; o guerreiro felpubro — apesar de seus resmungos contínuos sobre seus subordinados que haviam se afastado do serviço na linha de frente, a anã parecia bem satisfeita.

Seus ex-subordinados seguiram seus próprios caminhos. Era por isso que não tinha mãos suficientes, mas esses subordinados abriram lojas que estavam ganhando dinheiro. Não estava negando a realidade, para pessoas práticas como ela, lamentar o estado das coisas parecia uma espécie de esporte. Matador de Goblins nunca esperou uma resposta adequada de qualquer maneira, então estava tudo bem.

— Sabe, eu costumava conhecer alguém como você. — A anã disse de repente com um olhar malicioso para o capacete de metal de aparência barata enquanto avançava diligentemente. — Tinha um ladrão que não conseguia atacar uma torre por medo dela. Um idiota do campo que só precisava encontrar um pouco de coragem e escalar o lado de fora.

— Eu fiz isso — disse Matador de Goblins com indiferença. — Como foi para ele?

— Ah, ele fez também — disse a anã, igualmente despreocupada. — Bárbaro realmente assustador, aquele. — Ela ficou em silêncio por um segundo, então franziu a testa e sussurrou: — Não é como eu, mas… pela primeira vez, não consigo encontrar mais nada para dizer. Ó discípulo do Cavaleiro de Barril. — Ela se endireitou e estendeu suas pequenas mãos para o aventureiro e sua armadura barata. — Boa sorte e coragem para você.

— …Nunca confiei na minha própria sorte — respondeu Matador de Goblins, segurando as mãozinhas da anã em suas próprias mãos enluvadas. — Mas farei melhor uso do que me foi dado.

— Faça isso.

Isso e o aperto de mão parecia ser o suficiente para os dois. A anã acenou com a cabeça para a funcionária mascarada e para o guarda chifrudo, então alegremente deixou o prédio. Matador de Goblins olhou lentamente ao redor da sala, então começou a caminhar com desinteresse. Sacerdotisa resolveu não dar um pio até que ele chegasse onde ela estava sentada no balcão. Acabara de ter uma aula prática sobre os complicados procedimentos e etiqueta exigidos em um lugar como aquele. Não faria bem a ninguém se ela interferisse no que ele estava fazendo.

— Desculpe, parece que deixei você esperando. — Esta foi a primeira coisa que saiu de sua boca, clara e certa. — Além de obter informações, tive que fazer algumas compras. Demorou mais do que eu esperava.

— De jeito nenhum. — Sacerdotisa disse com um sorriso corajoso e um aceno gentil de sua cabeça. — Está tudo bem.

— É mesmo? — Seu tom era indiferente, quase mecânico, mas Sacerdotisa percebeu a mínima mudança nele.

Há algo… diferente?

Ele não hesitou em… Bem, ele nunca hesitou. Mesmo assim, ela não resistiu ao pensamento.

E comparado a ele…

Como ela estava? Só se sentia perdida desde que chegaram a este país; não avaliou seu próprio desempenho muito bem. Sentia-se tão inexperiente quanto uma novata recém-formada que mal sabia distinguir a esquerda da direita. Certamente não se sentia como alguém que merecia uma promoção. A inveja estaria além dos limites. Sequer estava em posição de sentir tal coisa.

Fico tão cansada dessa falta de autoconfiança.

— Qual é o problema?

— Er, ah…! — Quando percebeu que estava sendo observada de dentro do capacete, Sacerdotisa rapidamente acenou com a mão. — N-nada, não é nada! É só que… — Sua voz estava embargada. Ela engoliu em seco. Ainda podia sentir a leve doçura da bebida de antes. — Eu me sinto mal… obrigando você a fazer tudo…

Sim, foi isso que aconteceu. Ela não tinha conseguido nada. Não tinha ajudado em nada. Estava apenas… aqui.

Não havia contribuído na batalha. Nem quando estavam se movendo. Ou quando havia problemas. Ou agora, quando havia informações a serem coletadas. Não foi capaz de fazer nada sobre o ladrão nesta cidade estrangeira ou para parar a briga neste bar. Mesmo se tivesse vindo para o Miragem Dourada com Matador de Goblins desde o início, que bem ela teria feito? Só poderia ter ficado de lado, ouvindo suas conversas. Quando Sacerdotisa pensava sobre tudo isso, sentia profundamente que era e sempre seria inexperiente.

Mas…

Mesmo com esses pensamentos, não pôde deixar de pensar que talvez, apenas talvez, tivesse feito o que podia. Por exemplo, se certificou de ter em mãos tudo o que fosse necessário (como o importantíssimo Guia de Sobrevivência do Aventureiro!) e fornecê-lo quando fosse necessário. Manteve os olhos erguidos durante a batalha, usando sua funda para apoiar seus aliados da melhor maneira possível. Nos descansos entre as aventuras, tentava cuidar de todos, distribuindo comida e água e assim por diante.

Também havia os milagres que só ela no grupo conhecia. Claro, Lagarto Sacerdote estava muito, muito à frente dela como clérigo. Além disso, não era como se ela fosse a melhor usuária de milagres que o mundo já tinha visto. Às vezes colocava tudo a perder, mas mesmo assim…

Nem fui repreendida dessa última vez…!

Ainda tinha algumas lembranças ruins sobre o milagre Purificar, mas desta vez, ela conseguiu. O pensamento trouxe-lhe um pouco de felicidade. Até os deuses a reconheceram. Quase tão logo teve este pensamento, teve outro: Isso estava indo um pouco longe demais. Ela admoestou a si mesma para permanecer humilde.

Ao mesmo tempo, deixou os pensamentos fluírem. A batalha com o ogro, a luta sob a Cidade da Água, sua dança no festival da colheita, o ataque à fortaleza e ao campo de treinamento. Claro, ela falhou na vila dos elfos, mas então desafiou a Masmorra dos Mortos e conseguiu desempenhar um pequeno papel na montanha nevada também. Os eventos em torno do vinhedo para a oferenda a fizeram se sentir inexperiente, claro, mas… Quando realmente enumerou suas atividades assim, começou a pensar: Será que estava trabalhando mais do que imaginava? Se não fosse, por que falariam em promovê-la?

Ela nunca seria capaz de fazer tudo sozinha. Até a Grande Heroína, ou mesmo a arcebispa da Cidade da Água, haviam trabalhado com seus próprios grupos para salvar o mundo.

Ei, não, não. Talvez fosse um certo tipo de evidência de seu crescimento que estivesse disposta a se comparar a grupos homéricos como aqueles. Diz nas Escrituras: “No momento em que alguém pensa que está iluminado, não está iluminado. Tal pessoa ainda está iludida.” No fim, os pensamentos de Sacerdotisa continuaram girando no mesmo lugar. Entendia que sua falta de autoconfiança era uma de suas falhas, mas também não tinha uma boa maneira de medir seu crescimento. Era uma pergunta sem resposta certa que a deixou com a sensação de estar correndo atrás do próprio rabo.

— Não. — Por isso mesmo, foi uma grande alegria para ela vê-lo balançar a cabeça. — Quanto mais cartas alguém tiver para jogar no momento crucial, maior será a ajuda.

Como sempre, ele falou um pouco menos do que ela gostaria.

— … — Sacerdotisa franziu os lábios em um beicinho, mas logo riu de sua própria infantilidade. O riso ajudou a animar seu ânimo, ela sorriu e disse: — Escuta. — Levantou um dedo para enfatizar suas palavras. — Não acho que isso seja realmente um elogio.

— Hrk…

— O que está dizendo é que só estou lá, mas não faço nada.

Isso provocou um grunhido silencioso de dentro do capacete de Matador de Goblins. Sacerdotisa colocou uma moeda de ouro no balcão com grande convicção, então começou a se afastar. Quando alcançou a porta do prédio, se virou, seu cabelo dourado ondulando. Em seu rosto havia um largo sorriso.

— Então vou ajudá-lo de verdade… você vai ver!

Era uma declaração de suas intenções, bem como uma espécie de juramento. Se não conseguisse, não aceitaria a promoção, mesmo que lhe fosse oferecida. A mera capacidade de dizer isso a fazia se sentir mais confiante, mesmo que não tivesse uma base especial para isso.

— … — O aventureiro incomum no capacete de metal de aparência barata ficou em silêncio por um tempo, então simplesmente disse o que sempre dizia: — É mesmo?

Então Sacerdotisa também respondeu com o de sempre:

— Certamente é.

Ele passou por ela e saiu do prédio. Sacerdotisa seguiu atrás dele. Atrás deles, a funcionária mascarada inclinava a cabeça.

— Aguardamos sua próxima visita.

— Claro! — Sacerdotisa disse com nova certeza, virando-se para oferecer uma breve reverência.

Da próxima vez… Da próxima vez, se certificaria de que poderia vir aqui com total confiança, mesmo que estivesse sozinha. Esse era seu objetivo, o que queria se tornar. Como a elfa ruiva. Como Bruxa. Como a arcebispa. Ou talvez, como um aventureiro de nível Prata.

— Decidi nosso destino.

— Não me diga… o castelo?

— Não.

Eles passaram pela porta enquanto conversavam. Não havia sinal agora do homem-lagarto que havia sido expulso, nem do espião ou de sua amiga ruiva. Sacerdotisa não pensou que estivesse no prédio há tanto tempo, mas de repente parecia fazer séculos que não sentia o ar externo em sua pele. Então finalmente percebeu o que estava cheirando, o aroma fraco e familiar.

Ah, então era isso…

O ar aqui pode parecer diferente, mas o cheiro de chuva, ao que parece, era o mesmo em todos os lugares. Por razões que não entendia, este pensamento deixou Sacerdotisa muito feliz.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: ZhX

 

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