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Matador de Goblins – Vol. 11 – Cap. 04.1 – A Anastasis da Gehenna

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— …Fwoo…

— Mmm…!

— Phew…

Três mulheres juntas podem causar um grande tumulto, mas neste momento o trio de jovens estava simplesmente expirando. A escura sala de pedra se enchia de fumaça perfumada, uma névoa branca que as impedia de ver até mesmo o rosto da pessoa ao seu lado. Os encostos dos bancos de mármore eram na verdade partes de grandes caixas e delas saía o vapor. Vestidas apenas com roupas finas — Alta Elfa Arqueira não usava nada além de uma toalha — relaxaram e deixaram o suor fluir. Este banho de vapor estrangeiro era a coisa perfeita depois de se exaurirem no deserto.

— …Ahhh… humanos pensam nas coisas mais estranhas… — disse Alta Elfa Arqueira, com as orelhas caídas, parecendo tão preguiçosa quanto sua voz soava. Já fazia muito tempo desde que se preocupou com banhos como sendo um lugar onde os espíritos se misturavam. Seu cabelo estava úmido com o vapor subindo, parecia a própria imagem do contentamento.

— É muito diferente de sentar em frente à lareira, não é? — Sacerdotisa pontuou.

— Sabem, alguns castelos e mansões mais grandiosas são aquecidos por um fogo mantido em uma grande sala de granito. — Comerciante Feminina acrescentou, sua língua muito preguiçosa para formar as palavras corretamente; também parecia totalmente relaxada. — É porque a pedra aguenta bem o calor. Devo dizer que usá-la para um banho de vapor é… algo único. — Enquanto falava, Comerciante Feminina passou a mão pelos músculos do pescoço. Talvez sua cicatriz estivesse doendo.

Sacerdotisa, segurando delicadamente seus pertences, resolveu tentar mudar de assunto.

— …Bem, hmm, aqui estamos nós na cidade. Mas… o que faremos agora? — Sim, esse era o problema. Sacerdotisa fechou os olhos languidamente. Não, pensou, não é realmente um problema.

Talvez seu fluxo sanguíneo tenha melhorado. Deixou-se afundar no calor, tão diferente e mais confortável do que o ardor do deserto. Mesmo aqui neste país de sol e areia, banhos de vapor eram onipresentes. Ouviu até que se poderia receber uma massagem noutro lugar do prédio.

Entretanto, não havia tempo para trabalhar nas dobras de seus músculos. Havia coisas que precisavam fazer. Isso mesmo, não era um problema, mas uma questão de como resolver o problema. Tendo entrado na cidade com a ajuda do Mirmidão, o grupo encontrou alojamento e já partiu para o próximo passo: Descanso e recuperação, isso tinha que vir primeiro. Então encontrariam as informações de que precisavam para prosseguirem.

Quando não se sabe para onde ir, raramente era aconselhável avançar. Lagarto Sacerdote e Anão Xamã disseram que iriam procurar algo para comer e explorar a cidade enquanto isso. Matador de Goblins saiu sozinho, dizendo ter lugar para ir. Isso deixou as meninas sozinhas…

Será que só estavam sendo atenciosos?!

Ele as havia deixado apenas com o brusco comando: “Descansem”, mas todos já se conheciam há muito tempo. Ela podia adivinhar o que ele estava pensando.

Ao contrário de antes, tinha uma escolha agora. Só precisava falar. Ainda assim, Sacerdotisa simplesmente respondeu a ele com “Certo”, e ela, Comerciante Feminina e Alta Elfa Arqueira vieram a esta casa de banhos.

Se não estivesse em boa forma física e mental, não seria capaz de rezar para a deusa quando chegasse o momento. Afinal, este é um território inimigo.

É preciso relaxar quando é hora de relaxar e estar em guarda quando for a hora de estar em guarda. Sacerdotisa esticou o braço, pegou um pouco de água na bacia encostada na parede e lavou o rosto. O respingo da água fria contra sua pele superaquecida foi maravilhoso.

— Estou pensando em… — disse Comerciante Feminina timidamente — …ir fazer alguns negócios.

— Negócios? — Alta Elfa Arqueira perguntou com as orelhas se agitando.

— Hmm-hum. — Comerciante Feminina respondeu com um rápido aceno de cabeça. — Perdemos nossa carruagem, mas estou carregando alguns itens que seriam perfeitamente bons para o comércio.

Agora que mencionou…, pensou Sacerdotisa. Ela parecia se lembrar que Anão Xamã tinha pedras preciosas costuradas em suas roupas. Ele descreveu que era uma forma de se preparar para viajar. Agora ela entendeu o que significava. Bagagem ou carga podem se perder, mas as roupas do corpo tendem a ficar com você. Sacerdotisa puxou o pano mais apertado ao seu redor e sussurrou:

— Entendi.

Comerciante Feminina assentiu.

— Conheço uma empresa que negociava com nosso país antes da usurpação do trono. Vou perguntar por lá.

— Sozinha? — Alta Elfa Arqueira estreitou os olhos. Então se inclinou para Sacerdotisa como se esperasse obter seu apoio. — Isso não é um pouco perigoso?

— Eu meio que concordo… — Sacerdotisa disse, colocando um dedo fino nos lábios em pensamento. — Não sabemos o que há por aí… E como você é nossa contratante, somos tecnicamente seus guarda-costas. — Sim, mesmo que Comerciante Feminina conhecesse um pouco de magia, carregasse uma espada e soubesse como usá-la, e mesmo sendo ela uma ex-aventureira, não poderia sair sozinha em território hostil… o que ele diria de qualquer maneira.

— Realmente não acho que podemos te deixar ir sozinha — insistiu Sacerdotisa.

— Entendo…

Sacerdotisa piscou ao ver Comerciante Feminina virar os olhos para o chão como se estivesse desapontada ou deprimida. Então teve que apertar os olhos e se forçar a não rir. Alta Elfa Arqueira também deve ter notado, pois uma risadinha se formou no fundo de sua garganta.

Foi profundamente agradável para as duas, que sua amiga agisse de acordo com sua idade pela primeira vez.

— Então isso é dois, dois! — Alta Elfa Arqueira disse com entusiasmo. Ela ergueu dois dedos adoráveis em cada mão, gesticulando para Sacerdotisa e Comerciante Feminina.

Ambas olharam para ela inexpressivamente, como se dissessem: Dois?

— Sim! — disse Alta Elfa Arqueira, projetando seu peito modesto. — É estranho, o jeito que Orcbolg saiu sozinho. Devem ser sempre dois. É perigoso ir sozinho!

Isso significava que Comerciante Feminina, embora fosse uma fornecedora de missões, estava sendo tratada não como uma intrusa, mas como integrante da equipe. Não havia como ter certeza se era realmente intencional, mas o pensamento profundo dos elfos às vezes revelava a verdade.

Os olhos de Comerciante Feminina se arregalaram por um segundo, então um sorriso floresceu em seu rosto como uma flor.

— Certo! Então… tudo bem — disse com um aceno de cabeça. Como uma criança obediente, pensou Sacerdotisa. Mesmo que suas duas idades não fossem tão distantes. Embora, de fato, Comerciante Feminina parecesse a mais adulta entre elas. Sacerdotisa a invejava por isso, um pouquinho. Na verdade, porém, tinha mais experiência que Comerciante Feminina. E nesse caso…

— Ficarei feliz em…

— Farei os “negócios” ou qualquer outra coisa com ela, então fique com Orcbolg!

Alta Elfa Arqueira interrompeu Sacerdotisa no meio da frase. Os dois dedos que segurava agora eram apenas um, apontando diretamente para ela.

— Er, uh… — Sacerdotisa piscou várias vezes. — Eu ia dizer que iria com ela…

— Ah, vocês duas pareciam gêmeas siamesas durante toda aquela tempestade. Não a vemos há muitos anos. Também quero falar com ela.

Parecia estranho ouvir um elfo usar casualmente a expressão “muitos anos”, Sacerdotisa riu apesar de tudo. Alta Elfa Arqueira olhou para ela, aparentemente pensando que Sacerdotisa estava zombando dela.

— N-não tenha a ideia errada. — Sacerdotisa disse com um aceno de sua mão. — Estou… — Ela olhou para Comerciante Feminina — …bem com isso… Se você estiver?

— Sim. — Comerciante Feminina disse com um firme aceno de cabeça. — Esperava falar um pouco com vocês duas.

— Isso resolve tudo, então!

Alta Elfa Arqueira era como um vento forte. Sacerdotisa franziu os lábios, sentindo como se estivesse sendo tratada como uma criança assim como Comerciante Feminina, mas se preocupar em ser tratada como criança, e ainda mais ficar amuada por isso, não seria a coisa mais infantil?

Com isso em mente, Sacerdotisa assentiu.

— Tudo bem. Vou na frente, então. Sei que Matador de Goblins está acostumado a trabalhar sozinho, mas…

— Mas ainda não chegou a hora de exterminar goblins — Alta Elfa Arqueira disse com uma gargalhada e até Sacerdotisa não pôde evitar um sorriso. Enquanto reunia seus pertences, Comerciante Feminina olhou para ela com curiosidade. — A propósito, por que você trouxe sua cota de malha para o banho…?

— Bem, eu odiaria perdê-la, sabe?

Alta Elfa Arqueira só podia olhar para o teto sem dizer uma palavra.

 

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O nariz de Sacerdotisa formigou quando saíram; havia um aroma familiar no ar. Era um pouco como chá branco, talvez.

Deixando a casa de banhos limpa e revigorada, Sacerdotisa ficou impressionada com a forma como a cidade se estendia diante dela. Era uma profusão de prédios de tijolos escurecidos e secos ao sol. O vidro — material fino e transparente tão caro aqui quanto em sua casa — era ausente das janelas. A estrada era de terra marrom, compactada por todos os pés que passavam por ela. Partículas de areia vinham voando com o vento. As pessoas que caminhavam pela rua usavam roupas que ela nunca vira antes e carregavam objetos que ela não reconhecia. E acima de tudo pairava a sombra do enorme palácio de telhado redondo.

Sei que nossos castelos são imponentes, mas isso…

Os castelos construídos como estruturas defensivas, para a guerra, eram certamente intimidantes, mas este edifício era diferente; parecia projetado para comunicar o quanto você era insignificante diante dele.

Contudo esta era só uma cidade e aqueles que viviam aqui eram apenas pessoas. Os raios platinados do sol ao se pôr no céu eram os mesmos de qualquer outro lugar. As crianças corriam descalças. Idosos jogavam jogos de tabuleiro em mesas montadas à beira da estrada. Uma mulher, talvez a esposa de alguém, estava comprando frutas em uma barraca de beira de estrada.

São melões, se não me engano.

Já tinha comido um uma vez. Então são daqui que vieram…

Claro, nem tudo era brilhante e alegre. Sacerdotisa sabia muito bem que havia mais do que isso no Mundo de Quatro Cantos1NT: Em referência a um tabuleiro de RPG de mesa.. Sabia por experiência que o tempo todo aconteciam coisas para virar a vida de uma pessoa de cabeça para baixo.

Às vezes se perguntava se isso era realmente aceitável.

Por exemplo, considere as pessoas sentadas nas sombras lúgubres à beira da estrada, vestidas com juncos e empoleiradas de frente para tigelas vazias. Se virar a esquina bem ali, um distrito de prazer sórdido pode estar não muito longe ou talvez um antro de ópio. No mercado, tinha certeza de que escravos estavam sendo vendidos. Talvez alguns tenham caído a esse ponto devido a dívidas, falta de pagamento de impostos, crimes ou por estarem do lado perdedor de uma guerra.

Não era uma questão de bem ou mal: Era um fato; era o mundo em que Sacerdotisa vivia.

E depois havia goblins.

Obviamente, os goblins não eram os únicos monstros que ameaçavam este mundo. Talvez tenha sido um erro focar apenas neles. Ogros, globos oculares gigantes, elfos negros, trolls, Mokele Mubenbe, demônios superiores, bruxas de gelo, cultistas. Esses eram apenas os terrores do mundo que já viu com seus próprios olhos. Era impossível acreditar que os goblins fossem realmente o maior perigo. Mesmo assim…

Isso mesmo…

Quando foi que estiveram na Cidade da Água? As palavras de Matador de Goblins flutuaram no fundo de sua mente.

“O ar de uma vila que foi alvo de goblins…”

De alguma forma, havia sombras nos rostos das pessoas. O vento fedia. Ela sentia um formigamento desagradável no pescoço. Talvez fosse apenas, em uma palavra, sua imaginação, mas, de novo, a intuição era essencialmente uma experiência aplicada. Era capaz de sentir coisas que não sentia antes por causa de sua experiência acumulada, ou apenas sentia isso?

— … — Incapaz de chegar a uma conclusão definitiva, Sacerdotisa agarrou seu cajado como se estivesse em súplica e correu pela cidade. Viu soldados montando guarda em cada encruzilhada, pessoas com espadas curvas em seus quadris, observando vigilantemente a estrada. Ao pensar no que havia acontecido na estrada, decidiu que seria melhor ser cautelosa com os soldados — exatamente porque havia soldados presentes.

Assim, tentou percorrer a cidade da forma mais inócua possível, a fim de não chamar a atenção. Não se movendo muito rápido. Sem olhar muito ao redor.

No caminho para a pousada, passaram pelo lugar que Matador de Goblins disse que visitaria. Ela se lembrava que era sobre…

— Hum, com licença…

— Bã? — A declaração inesperada escapou de Sacerdotisa, soando boba até para seus próprios ouvidos. Virou-se para encontrar uma mulher com roupas familiares, isto é, roupas de seu país.

— Ah, eu sabia! — A mulher exclamou jovialmente, sorrindo para Sacerdotisa. Uma orelha comprida se contorceu por baixo do pano em volta de sua cabeça. Uma insígnia da Mãe Terra pendia de seu pescoço.

— Uma elfa…?

— Obrigada Senhor. Sabia que você tinha que ser da mesma terra que eu. Estava com tanto medo de perguntar a um dos moradores daqui. — A jovem elfa, ainda sorrindo, aproximou-se de Sacerdotisa, que olhou em volta confusa. Ela certamente não havia imaginado essa situação. — Na verdade, estou procurando informações sobre a casa de banho. Por acaso você não saberia…?

— Ah, s-sim. — O que exatamente ela deveria dizer? Sacerdotisa assentiu, embora não tivesse certeza do que fazer. — Eu, uh, sei o caminho…

O que era esse sentimento, essa sensação incômoda de que algo estava errado? Era por causa de seu tempo com Alta Elfa Arqueira e todos os outros elfos que conheceu naquela aldeia? Comparada a eles, essa garota parecia…

— Pare com isso. — O pensamento agitado de Sacerdotisa foi interrompido por outra voz inesperada, uma calma e clara. Vinda das sombras à beira da estrada. De uma menina ruiva, também com orelhas compridas.

Esta elfa ruiva caminhou na direção delas com autoridade, olhando para a outra garota elfa com um olhar cortante.

— Você é uma farsa. É óbvio pelo jeito que fala.

— Céus, do que está falando? Estava simplesmente pedindo direções… — A elfa de cachecol tentou parecer confusa, mas sua ansiedade era impossível de esconder. A elfa ruiva não disse uma única palavra. Sacerdotisa olhou de uma a outra em confusão, então notou algo sobre a primeira elfa.

Gotas de suor…

— …Perdoe-me!

— Hã?!

Quando tiver uma ideia, aja imediatamente. Aprendera repetidas vezes que essa era a chave para a sobrevivência.

Sacerdotisa estendeu a mão sob o cachecol da elfa, passando a mão ao longo de sua bochecha. Sentiu algo molhado na palma da mão, mas descobriu que não era suor que tinha visto brilhando, mas maquiagem branca no rosto. Sob o bolo de pó, viu flashes de pele preto-azulada.

— Uma elfa negra…!

— Pfah… — A elfa, ou melhor, elfa negra, estalou a língua, então se virou e começou a correr. Sacerdotisa agarrou seu cajado e estava prestes a brandi-lo, mas pensou melhor. Criar problemas tão óbvios com os guardas em cada esquina não parecia o melhor plano…

— Bem pensado. Essa foi a decisão certa — disse a elfa ruiva com um sorriso.

Oh… Sacerdotisa piscou. Ela não era especialista em contar a idade dos elfos, mas essa mulher era bem mais jovem do que pensava…?

— …Aquela garota estava em conluio com os guardas. Eles estarão atrás de você num piscar de olhos, alegando que estava falando com um traficante de drogas ou algo assim… Ah, veja só. — A elfa ruiva indicou um soldado vindo em sua direção com a espada na mão e um olhar perigoso nos olhos.

Sacerdotisa pesou as opções em sua mente, a melhor maneira de sair disso, mas a elfa já estava pensando nisso. Antes que Sacerdotisa pudesse dizer seja lá o que estivesse prestes a inventar, a elfa ruiva acenou com a mão na frente do soldado em um gesto misterioso.

— Não estávamos falando com ninguém — disse ela.

— … — O guarda pareceu confuso por um segundo, mas então assentiu. — Vocês não estavam falando com ninguém.

— Você pode ir cuidar dos seus negócios.

— Vou cuidar dos meus negócios.

Sacerdotisa não sabia o que estava vendo, se era algum truque bizarro, ilusionismo ou algo assim. O soldado virou-se inseguro e caminhou de volta para o cruzamento que estava vigiando um momento antes.

— O efeito não vai durar muito. Agora é a nossa chance. Vamos. — A elfa ruiva enxugou o suor da testa com um suspiro e começou a andar. Desta vez, Sacerdotisa não viu nenhuma maquiagem alterada em seu rosto. Ela seguiu a elfa, ainda alerta e cautelosa.

— É assim que começa. — A ruiva disse sem se virar. — Então dizem que precisam verificar seus pertences em busca de contrabando e roubam parte do seu dinheiro.

— Então é tudo um golpe?

— Talvez não tudo, eles são soldados de verdade. — A elfa ruiva deu de ombros e Sacerdotisa apenas mordeu o lábio sem dizer nenhuma palavra.

Tinha sido uma intuição do Caos. Ela não acreditava que todas as pessoas em todos os lugares tinham de ser completamente perfeitas o tempo todo. Mesmo os deuses não desejavam isso. No entanto, a corrupção e a injustiça eram as sementes do Caos. Quando floresciam, criavam raízes, espalhavam-se e tornavam-se intratáveis. Então poderiam sufocar a bela flor de um país, como uma invasão de ervas daninhas.

— Por quê…? — Sacerdotisa perguntou simplesmente, mas a elfa ruiva pareceu entender de uma forma diferente o que ela quis dizer.

— Autossatisfação — respondeu com uma risada. — Queria acumular algum karma positivo.

Sacerdotisa mal conseguia falar. Nunca foi realmente do tipo que duvida, para começar.

Mas duvidar de todos o tempo todo…

Ninguém poderia sobreviver assim também. Ela respirou fundo e soltou o ar, os ombros caídos. Era como quando você estava em uma caverna. Seja vigilante quando for hora de ser vigilante. Se algo acontecer, responda imediatamente. Ela havia sido salva dessa maneira. A primeira coisa que precisava fazer era evidente.

Sacerdotisa parou e abaixou a cabeça.

— Hum, m-muito obrigada!

A elfa ruiva piscou para ela, então pareceu um pouco desconfortável — totalmente envergonhada, na verdade — enquanto coçava a bochecha.

— Não foi nada tão sério assim. Uh, ei… Você é uma aventureira, não é?

— Sim, sou — disse Sacerdotisa. — Estou tentando encontrar um lugar chamado Miragem Dourada…

— Perfeito. — A elfa ruiva parou e deu a ela um sorriso digno de uma garota de quinze ou dezesseis anos. — Estava a caminho de lá também.

Sacerdotisa olhou para cima com uma percepção repentina. Um lindo pavilhão pairava sobre ela, como se tivesse acabado de aparecer neste momento, como uma ilusão.

 

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No instante em que entrou, Sacerdotisa ficou, digamos, sobrecarregada. O edifício de vários andares foi construído em torno de um pátio central aberto e todo o lugar era muito maior do que parecia por fora. Os quartos individuais foram dispostos em forma de saca-rolhas, de modo que olhassem para baixo na área central circular. Tudo o que via brilhava como ouro, mas isso não era tudo.

Água. Havia um canal no centro do prédio com quantidades ostensivas de água. Água de verdade aqui no deserto — o suficiente para um banho!

Sacerdotisa parou meio que sem querer, ao seu redor, pessoas de todas as raças compartilhavam conversas sussurradas:

— Dizem que este lugar é uma verdadeira ilusão…

— …Ainda não começou? Estou tentando conseguir reservas há meses…

— Não fique animado. Os guardas escolhidos pelo mestre são todos muito habilidosos…

— Ei, veja só. Não é o dono daquela loja enorme?

Uma mulher cuja metade inferior era a de uma cobra deslizou pelo salão… aquele cantarolando no fundo de um tanque de água era um tritão? Alguns dos empregados tinham duas cabeças e alguns dos clientes tinham corpos completamente cobertos com tatuagens bizarras.

Sacerdotisa olhou abertamente por um momento antes de voltar a si mesma, balançando a cabeça. Não, não. Ela não podia apenas ficar ali paralisada. Rapidamente seguiu a elfa ruiva, que estava entrando como se tudo isso fosse algo cotidiano para ela.

De fato, tudo no edifício parecia surpreendente. Sacerdotisa podia sentir o cheiro da fumaça saindo dos canos presos às garrafas de vidro. Empregados passavam com pratos de comida que nunca tinha visto antes. Houve um rápido thump thump de uma mesa onde alguém estava enfiando uma adaga entre os dedos da mão aberta — algum tipo de jogo, imaginou. As garçonetes passeavam pelos corredores, balançando os quadris, vestidas com roupas tão reveladoras que eram o suficiente para fazer Sacerdotisa corar. O felpubro parado na frente da porta no fundo do estabelecimento deve ser algum tipo de guarda. Era bem musculoso, como era de se esperar, mas também parecia usar uma armadura por baixo da roupa. Era robusto em lugares estranhos, então havia o chifre penetrante crescendo em seu rosto!

— Aquela pessoa ali… é um unicórnio?

— Não tenho certeza. — A ruiva riu. — Acho que é o que chamam de homem rinoceronte. — Ela sentou-se em um lugar no balcão onde podia ver o pátio circular e Sacerdotisa, como se puxada pelo fluxo, sentou-se ao lado dela. Do outro lado do balcão, uma funcionária magra com uma máscara — uma mulher? — esperava seu pedido.

— Hmm… — Sacerdotisa olhou para o menu pendurado sobre sua cabeça. Era na língua comum, mais ou menos. Conseguia ler os nomes das bebidas, mas na verdade não sabia o que eram. A elfa ruiva riu ao ver a angústia de Sacerdotisa e ergueu o dedo para a funcionária mascarada.

— Você tem alguma coisa sem álcool?

— Na verdade, não temos nada que contenha álcool — respondeu a funcionária com um aceno de cabeça. — Chá ou outras bebidas, sim. E comida.

— Apenas me traga algo doce e frio, por favor. E um petisco para comer. A escolha do chef.

— Ah, uh! — Sacerdotisa guinchou. — Para mim também, por favor. Vou querer o mesmo…!

— Muito bem. — A funcionária mascarada curvou-se respeitosamente para Sacerdotisa, recusando-se a insultá-la por sua óbvia inexperiência. Ela — Sacerdotisa ainda pensava que era ela — foi para os fundos e Sacerdotisa soltou um suspiro. Olhou para o lado para descobrir a elfa ruiva relaxando, completamente à vontade.

Os olhos da Sacerdotisa pousaram nas orelhas da elfa, então murmurou: “Hã?” e piscou. Essas orelhas eram terrivelmente curtas para um elfo, mas um pouco longas para pertencer a um meio-elfo.

— Você é uma elf… — Escolheu suas palavras com cuidado — …aventureira, não é?

A mulher sorriu um pouco e balançou a cabeça.

— Não, uma metamorfo.

Sacerdotisa lembrou que esse era o nome da prole de uma elfa nascida de uma mãe humana. Não estava claro se essas crianças eram o produto do sangue ancestral há muito adormecido finalmente despertado, ou se realmente eram um truque pregado pelas fadas…

Seja lá o que fossem, nasceram diferentes dos humanos. Esta mulher deve ter encontrado muita dor em sua vida.

Antes que Sacerdotisa pudesse se desculpar por seu erro, a mulher continuou:

— Não sou tanto uma aventureira quanto… — Ela parecia totalmente imperturbável, prova de que já estava trilhando confortavelmente seu próprio caminho na vida. Sacerdotisa ficou repentinamente envergonhada por ter considerado se desculpar e olhou para o chão. — …uma profissional em ousadia. — A metamorfa ruiva sorriu timidamente. Sacerdotisa ficou boquiaberta com essa locução incomum.

— Uma profissional…?

— Bem, porque é o meu trabalho, sabe?! Quero dizer, é mais do que isso, mas… — Ela quase soou como se estivesse dando uma desculpa.

— …Suas bebidas, senhoras. — A funcionária mascarada voltou, colocando xícaras e pratos silenciosamente sobre a mesa. — Néctar de pêssego diluído em água, cozido com jujuba e açúcar gelado e depois colocado sobre o leite. — Continuando, a funcionária mascarada apontou para o prato. — E isso é arraia frita em óleo.

— Arraia?

— Aquelas que voam pelo mar de areia.

Ah, devem ser as mantas da areia…

Sacerdotisa assentiu, então agradeceu à Mãe Terra e começou a comer. Por que não? Ela não parecia ver aquele capacete distinto de aparência barata em nenhum lugar do estabelecimento. Sendo este o caso, seria contra sua fé deixar comida boa e quente esfriar. Depois que terminou de orar, a primeira coisa que experimentou foi a arraia grelhada no óleo, ou seja, basicamente frita.

— …!

A comida quentinha se desfez em pedacinhos em sua boca, liberando um sabor encorpado de peixe. Era como um pão amanteigado recém-assado, um pão branco feito com farinha refinada. Foi maravilhoso, mas também estava muito quente. Claro que ela pegou a xícara de quartzo.

— Eep… Uau…! — A bebida doce e fria ameaçou derramar de sua boca, mas era tão refrescante. Engoliu ruidosamente e podia senti-la descer até o estômago, um frio maravilhoso e reconfortante.

— Hmm… Sim, muito bom — disse a metamorfa ruiva com um sorriso, estalando os lábios e claramente de bom humor. Sacerdotisa achou isso uma visão nova, pois Alta Elfa Arqueira não tinha interesse em carne ou peixe.

Porém, ela não podia passar o tempo todo intrigada. Não estava aqui para se divertir. Sacerdotisa sussurrou inquisitivamente para a funcionária mascarada:

— Hum, com licença. Acho que um membro do meu grupo pode estar aqui, você o viu?

— Que tipo de pessoa você procura?

— Erm. — Sacerdotisa ergueu um longo dedo indicador e começou a pensar. Qual a melhor forma de descrevê-lo? — Ele tem um capacete, armadura de couro, cota de malha… uma espada curta e um escudo redondo no braço…

…Uh-hum, isso vai servir. Ela sorriu um pouco ao perceber que apenas a ladainha de sua aparência externa era mais do que suficiente para deixar claro quem estava procurando. Então Sacerdotisa notou que a funcionária mascarada parecia um pouco rígida, talvez desconfortável.

— …Nesse caso, — ela(?) disse —, talvez seja melhor começar com uma olhada na pessoa no palco.

— Palco…? — Sacerdotisa olhou para cima assim que as luzes se apagaram e uma única grande luz brilhou no palco no centro do salão. A multidão ficou em silêncio, esperando ansiosamente por algo que claramente estava prestes a acontecer.

A metamorfa ruiva sussurrou no ouvido de Sacerdotisa:

— Ooh, está começando.

Ah cara, estava começando.

 

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Tradução: NERO_SL

Revisão: ZhX

 

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