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Matador de Goblins – Vol. 11 – Cap. 03.2 – Escolha Sua Própria Aventura

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— Feche a porta e faça uma barricada!

— Certo…!

Quando ele entrou na sala, veio um som parecido com água sendo derramada em uma panela quente. Se já não soubessem que eram blocos de areia sendo arremessados contra o prédio, nunca teriam imaginado.

Lagarto Sacerdote levantou a mesa empoeirada e empurrou-a contra a porta enquanto Matador de Goblins agarrou o tapete. As meninas — que aterrissaram em cima do tapete — se levantaram apressadas para que ele pudesse pregá-lo na janela. A areia ainda entrava pela moldura da porta e ao redor das bordas do tapete, mas estavam protegidos do pior.

A tempestade continuou a bater, mas não era alta o suficiente para impedi-los de conversar. Matador de Goblins olhou através de sua viseira para o teto rangendo, em seguida, balançou a cabeça.

— E os outros quartos?

— Eu dei a volta e fechei tudo o melhor que pude — respondeu Alta Elfa Arqueira (Quando ela encontrou tempo para fazer isso?), batendo a poeira de seu cabelo. O movimento tinha toda a inocência de um gato se arrumando, mas um elfo o fazendo ainda parecia excepcionalmente bonito. — Ugh… Tenho areia em lugares que nem sabia que tinha… — Cada vez que penteava os dedos através de seus cabelos, uma nuvem de poeira saía como fumaça pálida.

Isso alertou Sacerdotisa e Comerciante Feminina para verificarem seus cabelos e roupas também. Não importava para onde olhasse, dificilmente havia uma superfície no prédio que não estivesse coberta de areia. Até mesmo Matador de Goblins podia senti-la triturando sob suas roupas. E é claro que os outros homens também podiam.

— Talvez devêssemos descansar um pouco… — sugeriu Sacerdotisa.

— É… não é uma má ideia — concordou Comerciante Feminina com um sorriso cansado. — Pelo lado positivo, acho que este lugar não pertence mais a ninguém.

Eles estavam em estado de alerta máximo desde que cruzaram a fronteira. A tensão mental levou à tensão física e, em seguida, à fadiga. Matador de Goblins assentiu com a cabeça.

— Quando você concluir sua oração para os mortos, descanse. Nada de bom pode vir de ter nossos lançadores de feitiços cansados.

Ele tinha o estado mental dela em mente? …Não, não é bem assim. Seria um problema se ficassem acordados. Matador de Goblins olhou em volta a procura de uma cadeira, viu que não havia nada do tipo e caiu contra a parede ao lado da porta. Removeu a espada em seu quadril, em seguida, esticou uma perna, inclinando-se para trás.

— Mesmo que os goblins estivessem lá fora nesta tempestade, duvido que seriam capazes de entrar aqui. — Assim, caberia àqueles da linha de frente — que não eram lançadores de feitiços, ficarem de guarda. Era este o procedimento operacional padrão quando acampavam, ele e Alta Elfa Arqueira vigiavam, enquanto os três usuários de magia (atualmente quatro) descansavam.

Quando Matador de Goblins apresentou este plano, Anão Xamã acariciou sua barba enquanto ponderava e assentiu com a cabeça.

— Poderia muito bem preparar mais um pequeno truque, então… — Afinal, seus feitiços seriam reabastecidos depois que descansasse. Seria o momento perfeito para usá-los. Anão Xamã vasculhou em seu saco de catalisadores e puxou um rolo de papel de pele de carneiro. — Sandman, Sandman, respiração ofegante, parente do sono interminável da morte. Uma música lhe oferecemos então, pegue sua areia e em nossos sonhos agora coloque sua mão.

O papel flutuou pela sala, espalhando poeira e desapareceu abruptamente no ar. Após o que, o som da tempestade parecia tornar-se um pouco mais suave e sentiram que o interior da sala estava cheio de um calor aconchegante. Talvez tenha sido por isso que Sacerdotisa sentiu suas pálpebras ficando pesadas com o sono e Comerciante Feminina teve que pressionar uma mão em sua boca para educadamente esconder seu bocejo.

— O feitiço do sono? — Matador de Goblins perguntou e Anão Xamã bufou:

— É tudo em que sou bom. — Deve ter sido incrivelmente difícil invocar os espíritos com uma tempestade como essa lá fora. Anão Xamã tomou um gole do vinho da cabaça que mantinha em seu cinto, limpando as gotículas de sua barba. — Se precisarem de mim, estarei procurando algo para comer… de preferência, algo não coberto de areia, embora minhas esperanças não sejam altas.

— Permita-me acompanhá-lo. Não tenho calor suficiente aqui, não, não há calor o suficiente — disse Alta Elfa Arqueira.

— Sim, certo — murmurou Anão Xamã, mas de qualquer forma os dois foram para o que parecia ser a cozinha.

— Ok, bem, nós vamos… nós vamos apenas… dormir um pouco… — disse Sacerdotisa, com a cabeça balançando.

— Desculpe. Você poderia… lidar com as coisas aqui…? — perguntou Comerciante Feminina, começando a deslizar lentamente para o chão.

— Ei, não faça isso — disse Sacerdotisa, oferecendo a mão para Comerciante Feminina; que a pegou e ambas se dirigiram para as quartos de dormir com passos instáveis. Matador de Goblins as observou por um momento, preocupado com a possibilidade de caírem, mas elas conseguiram chegar com sucesso ao quarto. Houve um chocalho do cajado quando Sacerdotisa começou a orar. — Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, por favor, coloque sua reverenciada mão sobre aqueles que deixaram este lugar, para que suas almas possam ter orientação… — A invocação parecia exigir dela um pouco mais de esforço do que o habitual.

Então as duas mulheres, levadas ao limite, desmaiaram na cama. Logo suas respirações adquiriram o ritmo uniforme do sono. Pareciam irmãs enquanto estavam deitadas com as mãos entrelaçadas, dormindo em meio às cinzas que antes eram pessoas.

— … — Silenciosamente, Matador de Goblins tirou um odre de água de sua bolsa de itens. Estava praticamente vazio agora; era muito claro que teria que beber com moderação e conservar o que pudesse. Decidindo que um gole era, no entanto, necessário, molhou a língua e a garganta com um precioso bocado, depois bufou. Realmente gostaria de limpar o rosto. Seus olhos doíam por causa da areia.

— O que fazemos em relação à água? — perguntou.

— Boa pergunta. Esta tempestade provavelmente enterrará os poços — disse Alta Elfa Arqueira, encolhendo os ombros com uma contração de suas orelhas. Ela deu uma rápida olhada na janela barricada. Seus olhos poderiam ver algo que ele, um humano, não podia? — Acho que havia um jarro de água na cozinha, mas tinha um monte de areia nele. Provavelmente ainda bebível, eu diria.

— Entendo.

— Estamos considerando tudo, não estamos? — Alta Elfa Arqueira varreu um pouco de areia com o pé para que ela pudesse se sentar em algum lugar relativamente limpo. Ela o encarou com um largo sorriso.

— Hrm… — Matador de Goblins grunhiu. — …Não sei.

— Você não está envergonhado, está?

— Não. — Matador de Goblins balançou a cabeça. — Eu realmente não entendo. Não entendo essa coisa de ser líder do grupo.

Depois disso, ficou em silêncio.

Ele não entendia, mas não era tolo o suficiente para sugerir que um grupo não precisava de um líder. Se lembrava de Guerreiro de Armadura Pesada e como ele nunca fazia nada que sugerisse que estava inseguro consigo mesmo.

Matador de Goblins ficou muito grato que Alta Elfa Arqueira simplesmente disse “Huh” e não prosseguiu com o assunto. Ela tirou as botas e as virou de cabeça para baixo, tentando esvaziar a areia que havia entrado nelas. Os elfos podem não deixar pegadas na areia, mas a areia ainda pode ficar a seus pés. Quando esse pensamento passou pela mente de Matador de Goblins, ele franziu a testa para si mesmo, para o cansaço que estava sentindo. Pensar em coisas inúteis era a prova de que estava cansado.

— De qualquer forma, está tudo bem — disse Alta Elfa Arqueira. — Quanto tempo você planeja ficar acordado?

— …Hrm.

— Eu quero dormir de verdade, agora — acrescentou ela com aborrecimento. Era provável que esta era sua maneira de dizer que, como de costume, ficaria com o primeiro turno, mas também era uma maneira menos sutil de lhe dizer para se apressar e ir dormir.

Matador de Goblins, pensando em alguém muito familiar, muito querida por ele, sentiu sua expressão amolecer. Estava feliz por estar usando seu capacete. De repente, sentiu que não tinha certeza de qual voz ouvira.

— Entendi. Vou dormir.

— É melhor que o faça. — Alta Elfa Arqueira acenou com uma mão desdenhosa para ele e Matador de Goblins começou a afrouxar sua armadura. Então se inclinou bem para trás contra a parede, respirou fundo e fechou um olho, deixando sua consciência se estender por toda parte.

Água, comida, viagens e goblins. Descanso… quando acordar, vai pegar comida na cozinha. Isso e um mapa. E depois goblins.

Como eles sobreviveram nesse ambiente cruel? Seria preciso mais do que uma horda. Teriam que viver quase como os bandidos da montanha. De fato, o território dos dois se sobrepunham. Como foi que eles não brigaram? Onde estava o ninho?

Como estavam conseguindo comida? Deveria faltar diversão a eles aqui. Seus apetites eram grandes e a tolerância era algo desconhecido para eles.

Não podiam sobreviver no deserto. Porém, quanto a isso, era o mesmo para ele.

Se não pudesse trazer seu grupo de volta para casa vivos, dificilmente poderia se chamar de aventureiro. Se seu professor o visse agora, quão desapontado estaria? O quanto zombaria dele?

À deriva em um mar de pensamentos, Matador de Goblins respirou novamente.

A tempestade de areia diminuiu em algum momento, mas não sabia quando.

 

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Exigiria algum esforço para saírem. A porta estava dobrada para dentro e as persianas nas janelas estavam repletas de areia.

— Estamos realmente bem enterrados — disse Anão Xamã com um olhar de derrota, balançando a cabeça. Ninguém no grupo argumentou o contrário. Afinal, um anão estava se pronunciando sobre uma questão de terra. Poderia haver poucos, se é que realmente houvesse, que tivessem o conhecimento ou a experiência para contradizê-lo.

A questão, então, era o que fazer? Matador de Goblins revisou mentalmente as cartas em sua mão.

— Acho que cavar o nosso caminho para fora não seria tão fácil… — Sacerdotisa aventurou-se, espiando através das lacunas ao redor da porta e janelas. Ela não era engenheira, mas até ela podia dizer que não chegariam a lugar nenhum trabalhando à mão. Se a areia inundasse a casa, jamais seriam capazes de resistir a ela. E não saberiam para que lado ou até onde cavar de qualquer maneira.

Matador de Goblins grunhiu baixinho. — Você poderia fazer um caminho usando um feitiço?

— Túnel, você quer dizer? — Anão Xamã não parecia empolgado e não porque tinha acabado de se levantar de um cochilo. — Não é impossível, mas se o feitiço for lançado enquanto ainda estivermos em movimento, seremos enterrados vivos e esse seria o nosso fim.

— Ugh… — Alta Elfa Arqueira gemeu, extinguindo essa ideia de vez. Eles ainda podem precisar tentar a sorte, mas somente se todas as outras opções falharem.

— Se não pudermos atravessar, então talvez possamos ir para cima. O caminho para a vida e a evolução tende a ser esse. — Lagarto Sacerdote, enrolando o rabo enquanto falava, parecia estar entregando um sermão a uma congregação de fiéis.

Sim, isso fazia algum sentido. O edifício foi construído com tijolos secos ao sol. Sequer precisariam de ferramentas para abrir seu caminho com bastante facilidade. Desde que ninguém estivesse de pé logo abaixo do buraco, não seriam enterrados vivos… provavelmente.

Ainda assim, havia um problema. Alta Elfa Arqueira olhou para o telhado com desconforto e murmurou:

— E se a coisa toda desabar sobre nós?

— Então é só lançarmos Proteção para mantê-la de pé. Ou deixá-la rolar direto por nossas costas, por assim dizer. — Anão Xamã fez parecer tão simples.

Sacerdotisa sorriu desconfortável.

— Esse milagre não é exatamente para esse tipo de coisa, mas… darei o meu melhor.

Alta Elfa Arqueira parecia claramente desanimada com isso, mas então olhou para o teto, dando um longo balançar de cabeça. Não, Proteção certamente não foi feito para tais coisas, mas ainda assim, usariam o que pudessem.

— Ele realmente é uma influência.

— …O que quer dizer? — Sacerdotisa perguntou, abertamente intrigada. Alta Elfa Arqueira deu um tapinha na cabeça dela como uma irmãzinha. Cada tapinha produziu novas nuvens de areia, mas as duas apenas riam.

— Para cima, então. — Matador de Goblins se levantou e olhou para o teto, esticando-se para passar a mão ao longo dele. Pressionou suavemente e sentiu a pedra pressionar para trás. Sem deformações aqui. — Teremos que prosseguir com cautela.

— Pelo que me lembro lá de fora, o telhado parecia uma terra boa e dura  — disse Anão Xamã, acariciando sua barba e depois cruzando os braços. — Não há razão para não sermos capazes de sair dessa maneira, com ou sem areia.

— …Você não acha que devemos comer algo primeiro? — A sugestão veio de Comerciante Feminina. Considerando o quão nervosa e exausta estava, talvez isso simplesmente tenha escapado. Seu rosto, contudo, realmente estava seco, assim como sua garganta. Além disso, seu estômago estava vazio.

— Bom ponto — disse Matador de Goblins, exalando dentro de seu capacete. — Vamos fazer isso.

O grupo já estava mentalmente bem preparado para pegar emprestado o que pudesse da casa. Era praticamente o trabalho de um aventureiro adquirir bens de antigas ruínas ou locais de sepultamento. Ainda mais uma casa onde o mestre e todos nela já estavam mortos. Sendo respeitosos com os falecidos, ainda assim reuniram o que podiam, resgatando o jarro de água cheio de areia e puxando um pedaço de pão sírio, há muito já frio, do forno.

Esvaziaram outro jarro e tiraram a areia. Colocando um pano sobre a boca do recipiente, passaram a água através dele várias vezes para tirar a areia. Quanto ao pão sírio, acenderam o forno e aqueceram algumas pedras que lhes permitiram esquentá-lo novamente. Desta forma, um pouco de engenhosidade os ajudou a conservar um milagre Purificar e um feitiço Arder, sem mencionar suas provisões.

— Esta é uma boa oportunidade. Não tivemos a chance de nos sentar para uma refeição adequada nos últimos dias — disse Matador de Goblins, arrancando um pedaço de pão e empurrando-o através de sua viseira.

Isso gerou um sorriso cansado de Comerciante Feminina.

— Fazia alguns dias que não tinha um lugar para dormir que não estivesse pulando também — disse ela.

— Só queria que pudéssemos nos enxaguar — acrescentou, apática, Alta Elfa Arqueira, puxando o cabelo. Elfos e sujeira não se misturavam e estava compreensivelmente chateada.

— Gostaria de ter recebido um milagre para criar água — disse Comerciante Feminina olhando penosamente para a elfa.

— Isso seria perfeito. Comece um pequeno negócio arrumado aqui fora — disse Anão Xamã, recebendo um sorriso irônico de Sacerdotisa e um aceno significativo de Lagarto Sacerdote, que então disse:

— Falam de “gastar dinheiro como água”, mas talvez a expressão não seja tão apropriada neste lugar. — Então deu uma mordida no pão, que parecia terrivelmente pequeno enquanto ele o colocava em suas enormes mandíbulas. — E por falar em água, ouvi dizer que é possível ferver o queijo em uma panela pequena e depois mergulhar outros ingredientes nele. Sim?

— Ah — disse Comerciante Feminina, apertando os olhos para ele. — Vinho branco e queijo… sim, ouvi dizer que fazem isso em algum lugar das montanhas.

— É preciso dizer que soa como o alimento dos sonhos.

— Existe uma demanda para isso?

— Ah, sim, é claro — insistiu Lagarto Sacerdote, acenando com a cabeça para a demonstração de interesse de Comerciante Feminina. — Certamente há uma demanda.

Limparam tudo com areia, seja lavando as mãos ou os pratos. Tendo sido exposta a tanta luz solar, a areia era muito mais limpa do que o questionável suprimento de água.

Foi um momento tremendamente alegre, quase incongruente. Era como se tudo tivesse sido esquecido: O fato de que havia um deserto lá fora, que estavam nas garras de uma crise, até mesmo os goblins pareciam ter sido esquecidos.

O pensamento veio para Matador de Goblins enquanto estava contemplando o assassinato de goblins: Eles tinham muito mais chances hoje em dia de se sentar juntos e comer. Várias vezes durante a refeição, notou Comerciante Feminina esfregando os cantos de seus olhos enquanto ria, mas ele optou por não dizer nada sobre isso. Talvez os outros tenham notado também; e talvez também tenham optado por não dizerem nada.

Nenhum dos membros do grupo seria tão grosseiro a ponto de pisar sutilmente nos sentimentos da única que não era membro do grupo. Sacerdotisa, no entanto, tratava Comerciante Feminina com zelo, como uma criança pequena que ganhou uma nova irmãzinha. Essa foi a escolha dela e se Comerciante Feminina aceitou sua hospitalidade, então tudo bem.

Quando tudo foi limpo, Matador de Goblins ficou de pé sem arrependimentos e sem apegos.

— Tudo bem, vamos começar.

Como observado, sair de casa exigiria algum esforço.

Eles posicionaram uma cadeira sob o teto e, como havia uma questão de altura envolvida, foi Matador de Goblins quem subiu nela e começou a remover delicadamente as tábuas do telhado. Acima deles estavam os tijolos secos ao sol, que rompeu com igual cuidado. Para conseguir isso,  usou o martelo e o cinzel do Kit de Ferramentas do Aventureiro (você sabe o que dizem sobre ele).

Com os tijolos quebrados, a areia começou a inundar a sala com um thump. Todos sabiam que isso iria acontecer, mas ainda era inquietante. O vislumbre do céu azul visível através do teto, no entanto, alegrou o coração de Sacerdotisa tanto quanto a areia a havia perturbado.

— Seremos capazes de sair desse jeito…!

— Sim, só precisamos ampliar esse buraco um pouco primeiro. — Anão Xamã ergueu as mãos, fazendo um pequeno quadrado com os dedos e olhando para a lacuna. — Troque de lugar comigo, Corta Barbas. E Escamoso, empreste-me seus ombros por um momento. Um humano está fazendo o trabalho mais difícil e eu não suporto isso.

— Bem e muito bem! — Lagarto Sacerdote se inclinou e Anão Xamã escalou suas costas, literalmente de pé em seus ombros para continuar o que Matador de Goblins havia começado. Seus dedos grossos empunhavam o martelo com a maior habilidade enquanto quebrava os tijolos em pedaços, os removia e jogava fora. Esse foi um esforço mais do que necessário; depois disso era só uma questão de tempo.

E, de fato, no que parecia um piscar de olhos, o buraco estava largo o suficiente para uma pessoa subir. Matador de Goblins foi o primeiro.

— Tudo limpo — disse ele, jogando uma corda pela abertura. Sacerdotisa se esforçou para escalar…

— Uau…

…O horizonte dos Quatro Cantos do Mundo, parecendo se estender eternamente e um céu azul que parecia também se erguer até o infinito acima dela. Ela nunca tinha percebido que o mundo era um lugar tão vasto.

As nuvens que flutuavam através daquele azul distante estavam tão longe que ela não poderia tocá-las nem se tivesse estendido o braço até onde ele alcançava. Enquanto isso, no chão, tudo o que podia ver era areia avermelhada que se estendia em direção a todos os pontos da bússola. Ela apertou os olhos contra o vento quente que batia contra suas bochechas e segurou o cabelo no lugar enquanto sentia sua respiração se intensificar. Huff, huff, huff. Respirações rápidas e curtas. Por alguma razão, a vista inspirou nela um sentimento de estar se afogando após ser jogada no mar..

 

 

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Mas também foi por isso que ela — Sacerdotisa — foi a primeira a notar. — A areia… está se movendo…?

Eram apenas pequenas vibrações no início. Leves ondulações na areia. Então surgiu: uma barbatana dorsal como uma torre.

Houve um baque tangível quando as criaturas surgiram em uma nuvem de poeira, peixes maciços que a fizeram pensar em carpas grandes a ponto de serem antinaturais.

No início, ela viu uma, depois mais. Duas. Três. Uma após a outra, as grandes coisas lançavam-se ao céu, barbatanas peitorais trabalhando, suas caudas levantando nuvens de areia. Um vasto cardume, numeroso o suficiente para deixá-la tonta, emergiu do chão, quase cobrindo o céu, antes que mergulhassem de volta sob a areia. Os grandes gêiseres de areia que elas espirravam para cima realmente choveu sobre o grupo.

— Um cardume de mantas da areia em movimento…! — Alguém finalmente exclamou maravilhado. Foi Anão Xamã, ou talvez Lagarto Sacerdote, ou mesmo Comerciante Feminina? Porém, estas foram as últimas palavras ditas por algum tempo, os aventureiros ficaram mudos de espanto com a cena avassaladora. Era o tipo de coisa que se poderia ter a sorte de ver apenas uma vez na vida — até mesmo a vida de um elfo.

— Bah… E o que devemos fazer? Pular naqueles cavalos do céu e cavalgar para longe? — Eles não eram os caçadores de capuz negro dos contos de fada, murmurou Alta Elfa Arqueira sem piedade. — E por falar em contos de fadas, alguns deles mencionam uma cobra sem fim que parece ter realmente existido de alguma maneira no passado.

— E o que tem isso? — Lagarto Sacerdote perguntou com grande interesse, mas Alta Elfa Arqueira apenas encolheu os ombros. — O elfo que a encontrou no passado ainda está esperando que ela apareça novamente. — Ela entregou essa declaração com um rosto completamente sério, mas depois de um curto período de tempo, não conseguia mais esconder o tremor de seus ombros e, logo depois, o riso veio explodindo dela. — Hah! Cara, eu simplesmente não consegui me conter! — gritou, sua voz como um sino tilintando, sua alegria alcançando do fundo de seu coração até o céu azul distante. Ela se jogou para trás como uma criança brincando, esticando os braços e as pernas, sem se importar com a areia. — É por isso que não consigo me cansar de aventuras.

Alguém riu disso. Isso se espalhou como uma onda, contagiando rapidamente todo o grupo. Talvez não houvesse nada a fazer além de rir, ou talvez todos estivessem apenas impressionados.

No entanto, isso não significava que haviam desistido. Não tinham cavalos, suprimentos ou tempo, mas também não tinham escolha a não ser esperar que as mantas da areia passassem. Uma vez que tivessem, o grupo teria uma ideia de qual direção começar a vagar pela areia.

Apesar de tudo isso, de alguma forma — de alguma forma — nenhum deles se desesperou, nem mesmo Comerciante Feminina. Matador de Goblins murmurou “Sim”, mas talvez nenhum deles tenha notado que sequer era necessário dizer que se tratava de uma aventura. E se isso era uma aventura, então os dados do Destino e da Chance ainda estavam rolando. No entanto, as sementes brotaram, para o bem ou para o mal, seria dramático.

Foi Comerciante Feminina que finalmente viu os números nos dados.

— Um navio… — disse suavemente, pressionando seu caminho através da areia até a borda do telhado.

Sacerdotisa correu atrás dela, envolvendo um braço em torno de sua cintura fina para apoiá-la.

— Um navio…? — Ela ecoou, seguindo o olhar de Comerciante Feminina. Piscou em seguida. Havia, de fato, um navio. Cortando as areias, grandes velas brancas infladas com o vento quente do deserto. Navio após navio, uma frota inteira. Velas triangulares ondulavam, parecendo estar seguindo as mantas da areia. Era quase o suficiente para fazer alguém esquecer que estava de pé no meio de um deserto, era possível que fosse apenas uma miragem.

— Bem, talvez possamos esperar ser resgatados como vítimas da tempestade — disse Lagarto Sacerdote casualmente. Matador de Goblins assentiu e ergueu sua espada de comprimento estranho.

— Grite o mais alto que puder. Acenem para ele com qualquer coisa que reflita luz.

— Ah, c-certo! — Sacerdotisa disse, levantando seu cajado.

— Talvez isso, então…! — Comerciante Feminina acrescentou, tirando sua rapieira do quadril. Com som claro de metal, surgiu uma arma aparentemente forjada de rubi, com um brilho de prata viva. Ele captou a luz do sol e piscou e isso parecia finalmente chamar a atenção dos navios. O leme da embarcação principal deslocou-se fortemente para um lado, apontando o navio para a aldeia abandonada.

— Velhos cães marinhos, ou cães do deserto, devo dizer? Espero que eles não sejam problemas, pelo menos. — Mesmo esse murmúrio de mau presságio acabou soando alegre na boca de Anão Xamã.

— Eh, se forem, é só roubarmos o navio debaixo de seus narizes — respondeu Alta Elfa Arqueira.

Finalmente, o navio chegou ao lado da aldeia em uma nuvem de areia, virando de lado quando parou diante deles. Talvez fosse algum tipo de barco de pesca. Não era tão grande — ou, pelo menos, não em comparação com as mantas da areia. O convés parecia ter espaço suficiente para cerca de dez pessoas e sobre ele estava um velho com um arpão na mão.

— Vocês são beduínos? — perguntou.

— Sim — respondeu Matador de Goblins com um aceno reservado. — Nós somos… — após uma pausa — …aventureiros. Estamos com problemas. Seria possível uma carona no seu navio?

Ele parecia indiferente e o outro homem também falava calmo e baixo.

— Faça o que quiser — disse o capitão idoso, um Mirmidão, com as mandíbulas balançando enquanto falava.

 

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O vento que experimentaram no convés do navio era diferente mais uma vez da brisa que soprava pelo deserto; era uma brisa cortante e agradável. Não era apenas pela velocidade do navio, mas também ao Mirmidão, que lhes dera água e toalhas molhadas. Apenas passar uma toalha fria e molhada sobre seu rosto foi o suficiente para provocar uma exclamação de alívio de Sacerdotisa. E pensar que só estavam nesta terra ressequida há alguns dias.

— Ficamos gratos, Mestre Mirmidão. Você nos deu uma bela de uma ajuda — disse Anão Xamã, mas o capitão o encontrou com mais indiferença e desinteresse.

— Está tudo bem por mim. Meu tipo não precisa de muita água.

Então o capitão organizou seus navios numa formação em constante mudança, cercando uma das mantas da areia que estavam à margem do cardume. De repente, isolado de seus compatriotas, o peixe gigante foi atingido com um arpão após o outro lançado pelos mirmidões. Podiam não arremessar tão bem quanto os humanos, é verdade, mas compensavam essa fraqueza com números. Dito grosseiramente, se você jogasse cem arpões em um alvo, um deles estava fadado a acertar.

Um único arpão, no entanto, dificilmente tiraria a vida de uma criatura enorme que vivia entre a terra e o céu. Talvez nem fosse suficiente para feri-lo; se o arpão tivesse uma corda presa a ele, só arrastaria o navio junto. Entretanto, os mirmidões agarraram a corda em suas garras, abriram as asas em suas costas e desceram até a manta.

Agora os mirmidões estavam em seu elemento. Fincaram arpão após arpão nas costas da manta, depois mudaram para machadinhas, cortando-a. Não tiveram tempo de causar danos realmente graves, mas bateram nas fendas em sua concha, fazendo cortes precisos em suas brânquias e barbatanas. Não demorou muito para que a manta desse um grito de luto e se inclinasse para um lado, vagando preguiçosamente pelo ar. Finalmente, atingiu o chão com um grande estrondo, pulverizando areia para todos os lugares.

— Se você os colocar no chão, até mesmo os grandes morrem — explicou o capitão Mirmidão. — É assim que funciona.

— Uma exibição magnífica — disse Lagarto Sacerdote, revirando os olhos na cabeça, ao que o capitão respondeu com um barulho de suas mandíbulas:

— É assim que ganhamos a vida. Acontece que agora é a época de acasalamento deles. Eles formam esses cardumes enormes para encontrar fêmeas.

Tornava a pesca uma questão simples.

Com isso, o capitão Mirmidão virou suas antenas no vento, prontamente levantando a mão em direção aos outros no navio. Em um piscar de olhos, os marinheiros ajustaram as velas e giraram o leme. Para Sacerdotisa parecia pura magia, mas Comerciante Feminina parecia se sentir diferente. Seu rosto era uma mistura de ansiedade, preocupação e excitação enquanto olhava fixamente para os navios e mantas da areia.

— Tudo bem? — Sacerdotisa perguntou e Comerciante Feminina acenou com a mão como se quisesse descartar a pergunta.

— Oh, uh, t-tudo bem. Eu estava apenas pensando o quanto tudo isso é meio que… Incrível.

— Você aí — capitão Mirmidão chamou Comerciante Feminina. — Você parece uma comerciante. Eu posso precisar fazer um pequeno negócio.

— …Eu ficaria muito grata — respondeu Comerciante Feminina, olhando para o convés e ruborizando um pouco ao perceber que ele a havia lido tão facilmente.

Estou surpresa, pensou Sacerdotisa. Ela sempre ouviu que os mirmidões eram criaturas mais frias e menos engajadas, mas mesmo nessas breves interações não pareciam assim. Acho que nunca se sabe ao certo até conhecê-los. Sacerdotisa corrigiu esse pequeno preconceito com diligência — talvez não tenha ido longe o suficiente para ser chamado de viés — dentro de si mesma.

Formar noções prévias não era útil, não quando se tratava do deserto, ou de Mirmidões, ou de aventuras. Isso, pelo menos, havia aprendido para sua grande angústia em sua primeira missão.

Ela deu uma olhada em Matador de Goblins, embora não estivesse claro o que ele acreditava que isso significava. O capacete de metal de aparência barata silenciosamente se virou para o capitão.

— …Você sabe alguma coisa sobre os goblins?

Ah meu Deus. Isso de novo. Sacerdotisa sentiu um sorriso puxar as bordas de seus lábios para sua pura desesperança.

— Goblins? — perguntou capitão Mirmidão, baixando a cabeça e aparentando estar pensando, suas antenas balançando suavemente. — Costumava lutar contra eles e combatê-los com bastante frequência no passado, mas não acho que você estaria interessado nessas histórias.

— O quê? — Alta Elfa Arqueira, suas orelhas movendo-se quase como as antenas do capitão, ficou imediatamente intrigada. — Não me diga… você costumava ser um aventureiro?

— Algo do tipo. — Capitão Mirmidão desviou o assunto como se fosse muito problemático. Espere… poderia ser que ele está envergonhado? Sacerdotisa se perguntou. — Francamente, tudo depende um pouco do quanto todos vocês sabem… sobre este país, quero dizer.

— Bem, eu sei que as relações diplomáticas azedaram depois que o novo rei chegou ao trono… — disse Sacerdotisa, colocando um dedo nos lábios e tentando se lembrar.

Comerciante Feminina pegou o assunto.

— …E ouvi dizer que houve movimentos suspeitos na fronteira.

— Vocês não estão erradas, mas também não estão certas — disse capitão Mirmidão enquanto lentamente se sentava. Ele parecia digno e confiante de si mesmo ao fazê-lo, falando com muitos anos de experiência real. Sua carapaça, visível em vislumbres sob suas vestes, estava riscada com uma panóplia de pequenas cicatrizes. — O rei não mudou. O velho rei morreu, isso é verdade, mas é o primeiro-ministro que governa este país agora.

— Como um tirano? — perguntou Comerciante Feminina. Capitão Mirmidão encolheu os ombros, produzindo um som de clique de sua carapaça. — Ainda há uma princesa por perto. Duvido que ela possa detê-lo, no entanto.

— Espere, então… — Lagarto Sacerdote perguntou com um movimento lento de sua cabeça. Os homens-lagarto eram guerreiros consumados. As chances eram de que ele soubesse a resposta antes de fazer a pergunta. — Aqueles bandidos que lutamos, que se pareciam com soldados. Em vez disso, eram…?

— Soldados disfarçados para parecerem bandidos, muito provavelmente — respondeu o capitão. Matador de Goblins deu um grunhido baixo. Não se preocupou em esconder seu intenso descontentamento, como se alguma vez o fizesse.

Sacerdotisa entendia como ele se sentia. Este era um fato árduo de se contemplar.

— Está sugerindo que os soldados podem estar trabalhando com os goblins?

Se fossem simples ladrões ou bandidos da montanha, não teria sido incomum que seu território invadisse o dos goblins, mas para as forças armadas do próprio Estado se envolverem em tal comportamento de guerrilha a uma curta distância dos goblins… Entretanto, parecia a única conclusão. A horda de goblins tinha equipamentos, os recursos para manter lobos e a capacidade de montá-los. Em circunstâncias normais, nenhuma horda tão grande e elaborada poderia ter sobrevivido por muito tempo a uma distância tão curta de um exército nacional.

O capitão Mirmidão não respondeu. Em vez disso, apertou suas mandíbulas.

— Ninguém sabe ao certo se o rei morreu assassinado ou se foi graças a uma doença. Uma coisa é certa: esse primeiro-ministro é um homem inteligente.

Ele provavelmente quer dizer… que o que quer que ele coloque em sua mente. Sacerdotisa sentiu uma onda de vertigem e de repente sentiu seus pés instáveis. Humanos… obedecendo goblins? Se fosse algum cultista ou cavaleiro-servo dos deuses do Caos, ela ainda poderia entender, mas o primeiro-ministro de um país inteiro? Que tipo de planos poderiam motivar um ato tão miserável? Sacerdotisa se encolheu, sentindo um calafrio, apesar do sol opressivo.

— Não fique tão chocada. Houveram humanos que obedeciam a monstros desde tempos imemoriais. — Hrmph. O Mirmidão expeliu ar de seus espiráculos, suas antenas balançando. — Histórias loucas circulam por toda parte… por exemplo, você já ouviu falar de uma arma que lança pedras usando pó de fogo?

— Você quer dizer aqueles que se parecem com cilindros, grandes e pequenos? — Anão Xamã disse como se isso fizesse sentido para ele, mas Sacerdotisa nunca tinha ouvido falar de tal coisa; ela trocou um olhar intrigado com Alta Elfa Arqueira.

— Você quer dizer rifles de sílex — disse Comerciante Feminina.

Sacerdotisa só podia ecoar: — Sílex?

— Ouvi falar deles — disse Matador de Goblins com suavidade. — Mas, pelo que posso dizer, não se adequam aos meus propósitos. Não preciso deles.

— Bem, essas pessoas usam — disse o capitão. — Essas armas podem perfurar a armadura. Junte um número suficiente deles e você pode varrer uma unidade inimiga do campo. Um exército equipado com eles poderia governar, um dia. Ou, pelo menos — acrescentou o capitão, — parece que alguém, em algum momento da história desta nação, havia conspirado para fazer isso.

— E qual foi o resultado? — Matador de Goblins perguntou, insistindo com o capitão.

— O cavaleiro adversário evitou as balas usando Desviar Projétil e, chegou perto o suficiente e esmagou a forma do rifle.

— É claro — afirmou Lagarto Sacerdote como se fosse óbvio, com os olhos revirando em sua cabeça. — Uma única arma nunca poderia governar sobre campo de batalha. Há muitos caminhos para a vitória.

Um vento carregado de areia varreu ruidosamente o convés. O capitão Mirmidão olhou para o céu com seus olhos compostos. A areia formou uma névoa acastanhada contra o azul.

— Tudo o que isso significa é… que eles não têm ideia de como se parecem aos olhos de todos os outros.

 

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Quando o sol estava para passar de seu zênite, o navio deslizou para uma parada com um farfalhar de areia. Ao longe, podiam ver algo se aproximando como uma pequena montanha escura. Tinha vários níveis de minaretes arredondados — um castelo. Porém, era diferente de qualquer castelo que Sacerdotisa já tinha visto e se viu tão tomada com a visão que se esqueceu de descer da borda.

— Essa é a capital — disse o capitão Mirmidão. — Vamos ficar nesta distância. Não queremos nenhum problema. — Sua observação trouxe Sacerdotisa de volta à realidade; ela se endireitou e abaixou a cabeça.

— Uh, hum, m-muito obrigada…! — Ela se curvou repetidamente, apertando a boina na cabeça. Isso pareceu incomodar o capitão, que acenou com a mão.

— Não precisa de tudo isso. O que quer que aconteça com você não importa para mim. Não sei como planejam lidar com os goblins, mas se quiserem informações, é aí que vão encontrá-las. Vocês têm alguma conexão?

— Temos um passe de salvo-conduto e o punhado de suprimentos do que pudemos carregar… — disse Comerciante Feminina, com as sobrancelhas finamente moldadas em uma carranca. Parecia algo como uma criança desapontada. — Mas perdemos todo o resto na tempestade de areia.

— O Vento Vermelho Mortal? Essa é uma força a ser considerada. Vocês têm algum dinheiro?

— Sim, um pouco. Também temos os nossos passes… acha que eles são o suficiente para passar pelo portão?

— Se não forem, o dinheiro será. Um pouco de ouro e prata permitirão que você faça algum comércio na cidade.

Praticamente tudo neste mundo tinha um preço: bens, informações, o direito de entrar em uma cidade. Você poderia obter todos se pudesse pagar.

O vento contava a história. O capitão Mirmidão falou como se confortasse uma menina:

— Há duas divindades no deserto. O Deus do Vento e o Deus do Comércio. O que o vento leva, o vento ainda pode trazer de volta para você. — Então estendeu a mão em suas vestes, suas mandíbulas se agitando e suas antenas se estendendo em direção ao grupo. — Qual de vocês é o cartógrafo do grupo?

— Este seria eu — disse Lagarto Sacerdote, levantando a mão. — O que tem para mim, capitão?

— Leve isso com você. — Com um movimento quase casual, atirou-lhe um rolo do que parecia ser papel papiro. Lagarto Sacerdote pegou-o facilmente no ar e o desenrolou para descobrir um diagrama habilmente desenhado.

— Bem, bem… — disse com um suspiro. — Um mapa magnífico…

— Ele retrata a área por aqui. Use-o como quiser, desde que não o atire no deserto.

— Sua consideração é muito comovente. — Lagarto Sacerdote juntou as mãos em um gesto estranho e abaixou a cabeça profundamente.

— Quando Escamoso está certo, ele está certo — disse Anão Xamã ao seu lado. Ele deu um tapa em sua bolsa de catalisadores com a palma da mão áspera. — E nós certamente somos gratos por você compartilhar conosco sua comida e água.

— Com tudo isso, se nos depararmos com outra tempestade, podemos dar um jeito! — Alta Elfa Arqueira disse.

— Prefiro que não. Nem todos nós podemos viver de névoa e orvalho como elfos, Orelhas Compridas. — Alta Elfa Arqueira riu abertamente disso, pulando para baixo do navio com um movimento acrobático. Suas vestes brancas ondulavam quando pulou ao chão sem perturbar um único grão de areia. Anão Xamã, em contraste, pousou com uma pancada provocando outro vendaval de risos da elfa. Ela parou de rir quando foi pega na chuva de areia levantada pelo pouso de Lagarto Sacerdote.

— Mil perdões — disse ele quando a viu de pé com as mãos nos quadris, mas depois revirou os olhos na cabeça como se não estivesse muito preocupado. Estendeu sua longa cauda em direção ao navio para que Sacerdotisa e Comerciante Feminina pudessem usá-la como um corrimão enquanto desciam.

— Agora vocês duas podem desembarcar.

— Obrigada.

— …Com licença.

As meninas seguraram a cauda de Lagarto Sacerdote enquanto caminhavam hesitantes até o chão arenoso. Talvez ainda perturbada pela chuva de areia, a Alta Elfa Arqueira golpeou Lagarto Sacerdote suavemente no lado com o cotovelo.

— Percebi que eu não recebi um corrimão de cauda.

— Fiquei tão impressionado com a agilidade e graça que demonstrou que me esqueci de pensar nisso — disse com uma gargalhada e Alta Elfa Arqueira tufou suas bochechas de uma maneira bem imprópria para um alto elfo. Ainda assim, durou apenas um momento. No momento em que começou a andar com suas longas pernas através das areias, já estava de volta com bom humor.

— Orcbolg, apresse-se! — chamou, girando e acenando para ele.

— Ah, elfos. Um povo alegre, se é que existe algum — comentou o capitão do convés, com carinho evidente em seu tom.

— Ela é sempre de grande ajuda — disse Matador de Goblins, sem necessariamente saber ao certo sobre o que o capitão estava falando. — Pessoalmente, não sou capaz de me comportar dessa maneira.

— Você — disse o capitão. Matador de Goblins parou com a mão na borda. O capitão Mirmidão virou seus olhos compostos, cuja emoção e expressão eram quase impossíveis de ler, para Matador de Goblins. — Você parece um homem perdido.

Ele parecia convicto.

— …Não — disse Matador de Goblins, mas por um momento não disse mais nada. Ele inalou; considerando; e, finalmente, lentamente, admitiu: — Sim. Estou surpreso que possa perceber.

— Não foi difícil. — O Mirmidão produziu um som de estalo seco. Parecia que estava rindo. — Eu costumava estar com muitos assim no passado.

— Eu sou o líder deles… — Matador de Goblins começou, mas depois se corrigiu. — Ou melhor, eles me reconheceram como tal. — Em seguida, o capacete de metal de aparência barata girou de um lado para o outro. Através das ripas de sua viseira, viu seu grupo e Comerciante Feminina de pé na areia, esperando por ele.

— Ei, qual é a daquele telhado? Parece uma cebola! Estranho! — Alta Elfa Arqueira estava dizendo.

— A teoria é bastante simples para isso. Você empilha as pedras, depois adiciona a pedra angular e pronto, ela se levanta por conta própria.

— Há certamente uma grande amplitude de conhecimento entre os povos de nossas muitas terras.

— Sinto que não parei de me surpreender desde que chegamos aqui — comentou Sacerdotisa.

— …Eu também — concordou Comerciante Feminina.

Matador de Goblins soltou um suspiro enquanto os observava. Nunca imaginou que poderia vir a tal lugar e em tal companhia. Talvez até este momento, nunca teria pensado que era sequer capaz disso.

— Temo que, além de matar goblins, eu seja… não muito bom para o resto — disse, perguntando-se em particular o que poderia ter sido capaz de fazer sobre tudo o que tinha acontecido até aquele momento. Poderia seguir em frente? Seria um fato simples dizer que estava incerto sobre esse assunto.

Sem pompa ou cerimônia, no entanto, o capitão Mirmidão respondeu:

— Qualquer aventureiro eventualmente tem que dar esse passo em território completamente desconhecido. Alguns morrem lá. Alguns chegam perto. Alguns sobrevivem. O quanto eles se preocupavam com isso raramente importa.

— …

— Então acho que a única coisa a se fazer é o que você pode fazer.

— É isso?

— Sim — respondeu o capitão com um movimento de suas antenas. — No fundo, é assim mesmo.

— …Entendi — disse Matador de Goblins depois de um longo intervalo, depois exalou novamente.

Não foi uma resposta. Suas preocupações não desapareceram de repente. Foi simplesmente uma reafirmação dos fatos. Deuses… se seu mestre visse isso, como iria rir, como zombaria, como bateria com sua bengala sem piedade. Seu discípulo não tinha inteligência ou talento. Tudo o que ele tinha era coragem, o que significava que tudo o que poderia fazer era agir. Era tudo o que tinha.

Matador de Goblins apertou os dedos na borda, tensionando todo o seu corpo antes de saltar para a areia. Ele pousou com um thump, um som leve, mas poderoso, diferente daquele feito por Anão Xamã ou Lagarto Sacerdote.

— Que você se saia bem, aventureiro — murmurou o capitão Mirmidão enquanto observava o grupo partir com seus olhos compostos. O sol, embora passado do ponto médio no céu, ainda era brilhante e quente o suficiente para queimar, mas logo se suavizaria no carmesim da noite. Seria quando esses aventureiros chegariam à cidade.

O capitão acenou com suas antenas para ajudá-lo a se distrair do fato de que tinha vindo em seu auxílio quase sem pensar nisso. Havia deixado a aventura para trás há muito tempo, mas de vez em quando coisas assim aconteciam: Os dados eram inescrutáveis.

Talvez este seja um vento de cauda do Deus da Viagem. Ou talvez seja obra do Destino ou da Chance…

— Bem, pessoalmente… Estou perfeitamente feliz de qualquer maneira.

E com isso, Monge Mirmidão1Para quem não se lembra, Monge Mirmidão fazia parte do grupo da Donzela da Espada que derrotou o Rei Demônio. fez um barulho alto de suas mandíbulas.

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Tradução: NERO_SL

Revisão: B.Lotus

 

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