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Matador de Goblins – Vol.11 – Cap. 02.1 – Guerreiro Livre

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— Boa saúde para você, sacerdote escamoso.

— Hmm. E que encontre belos campos de batalha.

A mulher caolha que comandava aquela área disse seu último adeus aos aventureiros antes que a carruagem deles partisse correndo pela fronteira para a Terra Média.

Fazia pouco mais de uma semana desde que partiram da cidade fronteiriça. O céu estava azul, o vento trazia o cheiro dos campos e a viagem foi bastante agradável no geral. Melhor ainda: os cavalos e as carruagens que Comerciante Feminina havia adquirido eram da mais alta qualidade.

Quando Sacerdotisa imaginou uma carruagem, um bagageiro e uma cortina eram a extensão dos apetrechos que vieram à sua mente, então ficou surpresa com o que se deparou. Tinha almofadas de seda forrando os bancos nos quais se podia reclinar à vontade e era larga o suficiente para esticar as pernas. E a propósito, quase não tremia! Havia molas sob o piso, explicou Comerciante Feminina, que segurava as rédeas. A reação de Sacerdotisa a isso foi:

Molas?

Isso foi tudo.

Seu desconforto por não ter ideia de que tipo de mecanismo estava envolvido não durou muito. Afinal, passar da cavalgada quase em meio à bagagem para a mais luxuosa das carruagens a fazia se sentir uma princesa.

Havia aquela carruagem em que o arcebispo andava, mas era feita para ser discreta…

Isso… Isso era diferente. Era a melhor carruagem que o chefe da Associação dos Comerciantes poderia requisitar. Sacerdotisa estava aproveitando esta oportunidade muito rara.

— Hrrrm… — Em contraste, Alta Elfa Arqueira estava estufando as bochechas. — Ela parecia realmente amigável com você — disse provocando Lagarto Sacerdote, suas longas orelhas se contraindo. — Realmente amigável. Você a conhece de algum lugar?

— Oh, uma conhecida de muito tempo atrás — respondeu Lagarto Sacerdote com um lento aceno de cabeça, claramente indiferente ao tom de Alta Elfa Arqueira. — Aham, embora quando digo há muito tempo, não quero dizer um século ou dois.

— Sim, sim, eu entendi o que você quer dizer — respondeu Alta Elfa Arqueira, projetando seu peito modesto. — Vocês, pessoas de vida curta, pensam em cinquenta anos como muito tempo, certo?

— Ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha! — Lagarto Sacerdote gargalhou alto em sincero reconhecimento a essa verdade. Ou talvez tenha pensado que Alta Elfa Arqueira estava fazendo uma piada. — Posso chamá-la de ex-companheira de armas… ou talvez ex-empregadora.

— Então, uma amiga sua?

— De fato.

— Huh, sério?! — Alta Elfa Arqueira murmurou e então deitou em seu assento. Isso poderia soar um tanto grosseiro, mas a elfa fez com que parecesse absolutamente elegante. Ela parecia estar em casa, praticamente uma só com a resplandecente carruagem.

Então não foi o comportamento dela que fez Anão Xamã bufar, mas suas roupas.

— Você não foi capaz de fazer nada sobre essa roupa, moça?

— Hã? Não há nada de errado com minha roupa! — Ela retrucou. Com um chute, ficou de pé novamente num instante. As roupas que usava eram completamente diferentes das que normalmente usava.

Eles estavam indo para uma nação estrangeira e se aventurando em um deserto. Cada um deles preparou seu equipamento. Matador de Goblins usava um manto sobre sua armadura usual para ajudar a bloquear o sol, tanto quanto era possível. A luz esquentaria o metal e o melhor que ele poderia esperar seria acabar um pouco cozido; mas se não tomasse cuidado, poderia morrer dentro daquela armadura.

Alta Elfa Arqueira, no entanto, tinha realmente enlouquecido, por assim dizer. Estava vestindo uma camisa de mangas compridas e bainha longa feita de um pano fino e com as pernas cobertas do mesmo tecido. Havia até um pano enrolado em sua cabeça. Um cinto amarrado em volta da cintura mantinha tudo junto. Parecia fácil para se movimentar, mas…

— Eu sabia que você estava ocupada comprando alguma coisa na capital. E você se pergunta por que não tem dinheiro.

— Moedas são como sementes, meu querido anão. Se você apenas segurá-las, apodrecerão. Espalhá-las é o que as torna úteis.

— …Odeio admitir isso, mas de vez em quando você realmente diz algo sensato.

— Seria estranho não deixá-las crescer. — Alta Elfa Arqueira murmurou baixinho e Anão Xamã finalmente jogou a toalha. Ele deu de ombros, um gesto que a Alta Elfa Arqueira interpretou como uma admissão de derrota. Ela mexeu as orelhas alegremente e virou a cabeça em direção ao banco do motorista. — Obrigada por organizar isso — disse ela, estendendo os braços para mostrar sua roupa. — Achei que, se estivéssemos indo para outro país, gostaria de parecer que pertenço a ele. Eu amei!

— Oh, er, claro… — disse Comerciante Feminina, pega de surpresa por esta explosão de aprovação. — Não foi nada. Também não sei muito mais sobre este lugar do que você… Se gostou das roupas, isso é o que importa. — O leve rubor de suas orelhas indicava que ela não estava totalmente descontente com os elogios de Alta Elfa Arqueira. Sacerdotisa sorriu um pouco mais, então decidiu dar uma mãozinha para sua querida amiga. Afinal, ela mesma não estava muito acostumada a elogiar.

— Não sei muito sobre comércio, mas você não lida com muitas coisas de países estrangeiros?

— Eu lido com muitos e vejo ainda mais. Porém, raramente experimento as mercadorias… — Comerciante Feminina ficou visivelmente aliviada ao retornar a um assunto no qual tinha alguma experiência. — Menos ainda em… ahem… — Ela levou um momento para encontrar as palavras. — …ir em uma loja e mandar fazer algo para uma amiga.

— Não é a mesma coisa?

— De jeito nenhum. Eu estava nervosa.

 

 

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Sacerdotisa riu enquanto Comerciante Feminina esfregava a própria nuca, olhando para baixo com vergonha. Não havia ninguém aqui que não soubesse o que estava marcado naquele lugar, mas graças a isso ela conseguia ficar tão relaxada com eles e isso a deixava mais feliz do que qualquer coisa.

— Cara, eu deveria ter convidado você quando minha irmã mais velha se casou. — Alta Elfa Arqueira soltou com algum desapontamento. A mudança abrupta de assunto, a incapacidade de manter o foco em uma coisa por muito tempo; era por ela ser uma elfa ou simplesmente porque ela era assim?

Um pouco dos dois, provavelmente, pensou Sacerdotisa enquanto sorria chamando a atenção de Comerciante Feminina, que sorriu de volta.

— Hmm? — disse Alta Elfa Arqueira.

— Ah nada. Não é nada, não é?

— Não, não. Nada mesmo.

— Ah é? Tudo bem, tudo bem. — A elfa murmurou e olhou pela janela. De repente, ela bateu palmas e exclamou: — Eu já sei! Você vai ter que ir à minha casa depois disso. Eles estão no meio de uma comemoração e tenho certeza de que ficarão felizes em vê-la!

— Er, ah… você tem certeza? — Comerciante Feminina parecia desconfortável.

— Claro que tenho! — As orelhas de Alta Elfa Arqueira se ergueram e ela desenhou um círculo no ar com o dedo. — Vou escrever uma carta de apresentação para você! Porque não sei se posso ir com você. Podemos mandar fazer um vestido para você e tudo mais!

— O-obrigada… muito obrigada.

Comerciante Feminina curvou a cabeça em demonstração de respeito enquanto Alta Elfa Arqueira borbulhava com planos. Sacerdotisa observou as duas, pensando: Uma carta de apresentação. Em outras palavras, prova de que ela é amiga de uma princesa elfa.

Ela só podia imaginar como aquele jovem rei elfo reagiria. Pelo menos sua esposa, ela tinha certeza, ficaria bastante satisfeita. Afinal, como poderiam não amar essa inocente irmãzinha?

Aconteceu exatamente quando Sacerdotisa pensava sobre isso.

— Uau… — Seus olhos se arregalaram quando viu a paisagem fora da carruagem. Os campos verdes que os acompanharam durante grande parte da viagem deram lugar de repente a extensões de areia branca. — Isso é incrível… achei que a mudança seria mais gradual..

— Eu também. Na verdade, nunca o vi pessoalmente antes — respondeu Comerciante Feminina com um aceno de cabeça.

O cenário havia mudado totalmente.

Nós percorremos um longo caminho. Confrontada com o céu azul acima — que parecia extraordinariamente baixo e próximo — Sacerdotisa não resistiu ao pensamento e colocou a cabeça para fora da janela, descobrindo que o ar estava quente e seco. Agora ela realmente estava longe da fronteira ocidental de seu reino.

— …Talvez seja hora de trocar as rodas pelos skis.  — Uma voz murmurou. Nem é necessário dizer que era daquele que até o momento tinha se mantido em silêncio: Matador de Goblins. Alta Elfa Arqueira o repreendeu por interromper repentinamente a conversa, mas ele não pareceu se importar.

Ele esticou os braços e as pernas lentamente, depois começou a fechar os fechos de sua armadura e capacete encardidos. Sacerdotisa rapidamente seguiu o exemplo, certificando-se de que sua cota de malha, que havia afrouxado para a viagem, também estava apertada. Afrouxar os fechos durante os momentos de descanso era uma regra de longa data que ela aprendera com ele.

— V-você estava acordado esse tempo todo? — Sacerdotisa perguntou.

Ele respondeu com um aceno rápido. — Eu só estava cochilando. Assim que deixarmos nossa nação, a chance de ataques goblins será muito real… ei.

— Sim, bem à frente. — Foi Comerciante Feminina que respondeu desta vez. Com um movimento das rédeas, conseguiu que o cavalo diminuísse o passo e então parasse. Atrás deles, a carruagem que levava a bagagem também parou. Matador de Goblins olhou pela janela para ter certeza, então virou-se para Anão Xamã e Lagarto Sacerdote.

— O que deveríamos fazer? — Ele perguntou.

— Acho que isso é óbvio. E aí, Escamoso?

— Na verdade, só há uma coisa…

Os três homens se entreolharam, então prontamente estenderam os punhos, suas mãos formando várias formas.

— …Hrm.

Foi Matador de Goblins quem, grunhindo, saiu da carruagem. Seria sua tarefa trocar as rodas da carruagem por skis. .

 

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Alta Elfa Arqueira observou timidamente um pássaro girando bem acima dela no céu.

— Skis. Por que precisamos de skis?

Rapidamente entediada dentro da carruagem estacionada, ela escalou para fora e subiu no teto. Passou alguns segundos comentando como era tranquilo, mas logo esticou o pescoço para ver o que estava acontecendo com as rodas.

— Eu nunca os usei na areia antes. Não há garantias.

Alta Elfa Arqueira pode ter ficado completamente impaciente, mas Matador de Goblins, por sua vez, parecia completamente calmo. Ele colocou tábuas com algum tipo de cano retorcido preso a elas bem na frente das rodas da carruagem, então sinalizou para Comerciante Feminina com um aceno de sua mão. Ela assentiu e conduziu a carruagem para a frente, provocando um “Oopa!” de Alta Elfa Arqueira no telhado.

— Na montanha nevada, as rodas da carruagem, como os pés, podem ficar presas na neve e incapazes de se mover. Pode ser o mesmo com a areia.

— Sim, isso é ótimo. Você é bom em calcular riscos, não é, Orcbolg? — Quando o homem em sua armadura puxou as bordas das tábuas para que se agarrassem às rodas, Alta Elfa Arqueira saltou sobre sua cabeça protegida pelo capacete. Ela nem levantou areia ao cair, apenas deu alguns passos dançantes para frente. Sem deixar pegadas, é claro. Era uma alta elfa, afinal. — …Mas não acho que precisamos deles.

— Então saberemos disso na próxima vez.

— Sim claro. — Alta Elfa Arqueira sorriu e deu de ombros. A tendência meticulosa desse estranho aventureiro não era novidade.

— Como está, Corta Barbas? — Anão Xamã chamou pela janela, embora não parecesse sentir que a pergunta era realmente necessária. Veja bem, esses skis foram feitos por anões e ele estava mais do que confiante de que não haveria problemas com eles.

— Teremos que testá-los para ter certeza — respondeu Matador de Goblins com um aceno de cabeça. — Talvez eu não tenha colocado da maneira certa.

— Tenho certeza que você seguiu as instruções, mas elas nem sempre são perfeitas.

Eles haviam usado várias correias de bagagem para prender os skis contra o peso, mas não havia uma maneira muito óbvia de amarrá-los. Pode parecer engraçado se falharem, mas o resultado em cascata poderia facilmente tombar a carruagem. Se você simplesmente risse disso como se fosse só uma ideia estúpida, nunca iria progredir ou encontrar maneiras de melhorar. Os anões sabiam melhor do que ninguém que o aço só poderia ser temperado aquecendo, martelando e depois resfriando.

Anão Xamã inclinou seu corpo atarracado para fora da janela o máximo que pôde para inspecionar as rodas da carruagem, então deu um aceno de aprovação.

— Seria melhor se pudéssemos trocar as ferraduras também…

— Ferraduras — repetiu Matador de Goblins suavemente. Ele tinha o conhecimento, é claro, mas não a capacidade técnica. — Trocar para ferraduras de deserto?

— Pelo que ouvi, os habitantes da areia usam ferraduras redondas em seus cavalos. Talvez para evitar que os cavalos afundem na areia ou talvez para tirar o fardo dos cascos.

— Hum. — Matador de Goblins grunhiu com esta explicação. Se e quando ele voltasse, teria que perguntar ao dono da fazenda sobre isso. O sujeito sabia muito mais sobre animais domésticos do que ele. — Por enquanto, talvez possamos simplesmente envolver seus cascos em coberturas de junco.

— Certifique-se de que eles recebam água também. E deixe-os pastar agora, enquanto podem. — Então o Anão Xamã encarou o sol brilhando acima deles. — E veja se consegue fazer isso antes de cozinhar com essa sua armadura.

— Esse é o plano.

À distância, Alta Elfa Arqueira podia ser ouvida reclamando sobre o calor que fazia.

O cocheiro da carruagem atrás deles estava fazendo preparativos semelhantes para o deserto. — Quer que eu cuide dos cavalos? — Alta Elfa Arqueira perguntou quando viu isso. Foi recebida, no entanto, com um indiferente “Por favor, faça” de Matador de Goblins. Ela saltou para os cavalos e falou algumas palavras em uma língua que não pertencia às pessoas.

Matador de Goblins ocupou-se silenciosamente prendendo os skis nas segunda e terceira rodas. Cada fase do trabalho era acompanhada pelo rangido da carruagem movendo-se para frente e para trás e por dentro, Sacerdotisa tinha um dedo na testa, esforçando-se para guardar tudo na memória. Algum dia… algum dia, ela mesma pode vir ao deserto para lutar contra os goblins. Não que ela pudesse imaginar isso acontecendo tão cedo, mas não significava que não iria acontecer.

E se acontecer, gostaria de estar preparada.

Nenhuma quantidade de preparação poderia deixar uma pessoa completamente satisfeita, ou seja, eliminar completamente a preocupação. No entanto, pode ser útil. Não o tempo todo ou em todas as situações, mas ela ficaria feliz se às vezes ajudasse.

— …Ainda assim, pensei que seria mais… você sabe, como um trenó. — Este era outro enigma que ela queria resolver.

Lagarto Sacerdote revirou os olhos e se inclinou para frente, se divertindo com suas palavras murmuradas. As perguntas da próxima geração sempre foram gratificantes.

— Muitas vezes há mais de uma maneira de abordar as coisas, isso é tudo o que temos que ter em mente — disse ele.

Carruagens, por exemplo, podem ter duas ou quatro rodas e podem ser puxados por um ou vários animais. Podem ser projetadas no escopo de transportar bagagem ou focar na velocidade desejada pelo proprietário. Havia um número infinito de variações possíveis.

— As escolhas específicas que fazemos não são certas, nem erradas. Assim é o mundo.

— Entendo… — Sacerdotisa assentiu. Isso fazia sentido para ela.

— Além do mais, às vezes uma pedra flamejante dos céus pode cair repentinamente sobre nós.

A questão é que coisas inesperadas acontecem na vida. Então, dizendo isso, Lagarto Sacerdote pegou algumas provisões, não, talvez devesse ser considerado um lanche leve, consistindo em um pouco de queijo e começou a comê-lo.

Sacerdotisa observou-o exaltar sua comida com um sorriso afetuoso, então decidiu fazer a próxima pergunta.

— Como será que as pessoas daqui vivem?

— Hmm… talvez descobriremos a resposta quando chegarmos. Cavalos, por exemplo, não podem viver sem grama. — Lagarto Sacerdote torceu seu longo pescoço, perplexo, mas acabou enrolando sua cauda confortavelmente. — Os cavalos pastam entre água e grama. Então, talvez essas pessoas tenham algum outro meio de transporte. Vamos ver…

— …Deram a entender que eles montam burros encaroçados — disse uma vozinha do assento do motorista. Sacerdotisa olhou para ver Comerciante Feminina mexendo nas rédeas. — E parece que os cavalos não podem viver aqui — continuou — e seus burros não podem viver em nossas terras.

— Oh-ho — rugiu Lagarto Sacerdote, muito intrigado. — Você já lidou com essas criaturas antes?

— Apenas uma vez — disse Comerciante Feminina. — Não conseguia andar muito bem e até me deu um mal-estar…

Sacerdotisa pensou muito, mas incapaz de encontrar uma resposta para sua própria pergunta, perguntou em voz alta:

— Hmm, esses caroços, ficam… nas cabeças dos burros?

— Não. Em suas costas — esclareceu Comerciante Feminina. — Eles formam duas colinas, se você quiser.

Uau… Sacerdotisa respirou, impressionada, tentando imaginar. Parecia que sua imagem de burros parecidos com unicórnios estava um tanto equivocada. — Você sabe sobre tantas coisas diferentes. É realmente maravilhoso. — Estava maravilhada..

Comerciante Feminina não a contradisse exatamente, mas suas orelhas ficaram vermelhas. Sacerdotisa riu, o que só pareceu envergonhar ainda mais sua amiga.

Não muito tempo depois, Matador de Goblins voltou para a carruagem com um “terminei”. E então, com um uivo, a carruagem partiu sobre as areias, fazendo uma estrada onde não havia nenhuma. Os únicos marcos a serem vistos em qualquer lugar eram estátuas semi enterradas do Deus do Comércio e outros santos padroeiros das viagens. Eles tinham pouca escolha a não ser confiar nesses marcadores, sem os quais poderiam muito bem vagar pelo deserto e morrer de sede.

Apesar desse risco, Sacerdotisa — acompanhada também por Alta Elfa Arqueira e Comerciante Feminina — ficou encantada com o cenário. O sol estava se pondo, sua luz ficando vermelha e tingindo a areia de uma cor rosa suave. O vermelho e o azul do céu se misturaram ao roxo e as nuvens captaram o que restava da luz, transformando-as em um branco resplandecente.

Enquanto isso, o vento trazia não apenas um calor ardente, mas um aroma doce e misterioso de algum lugar.

— Isso cheira a… flores — disse Alta Elfa Arqueira, sua mente claramente em outro lugar. — Mas as  flores desabrocham depois da chuva. Quem sabe quando floresceram pela última vez? Mas é como se o cheiro nunca tivesse saído.

Era quase impossível de acreditar, mas ela estava certa: Era o aroma das flores.

Quem sabia que havia flores no deserto? Sacerdotisa podia sentir o cheiro também, a leve sugestão de um perfume floral em meio à areia soprada. — Isso é… realmente incrível — disse ela.

— Sim… Realmente é. — O sussurro veio de Comerciante Feminina no banco do motorista. Ela olhou para o mundo levemente carmesim, piscou algumas vezes, depois esfregou os cantos dos olhos. Algo brilhou em suas bochechas rosadas.

Por alguma razão, isso deixou Sacerdotisa inexplicavelmente feliz.

 

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— …Huh, o que você acha que é aquilo? — Comerciante Feminina perguntou de repente quando a noite estava chegando e tudo ao redor estava se transformando em sombra. Não havia pousadas na Terra Média. Eles teriam que acampar.

Foi então, porém, que na escuridão à frente eles descobriram algum tipo de figura bloqueando o caminho.

— Um goblin? — Matador de Goblins perguntou instantaneamente, inclinando-se para o banco do motorista. A silhueta, tornando-se cada vez mais clara à medida que se aproximavam, tinha de fato um aspecto humanoide.

— Acho que não… — Comerciante Feminina, ignorando o odor pungente do capacete de metal, balançou a cabeça, enviando ondulações em cascata por seu cabelo cor de mel. — Mas não posso ter certeza. Não consigo ver bem o suficiente.

— Compreensível — disse ele. Então chamou: — Ei, você!

— Ei, quem? — Alta Elfa Arqueira rosnou, suas orelhas se contorcendo de irritação. Havia trocado  de lugar com ele perto do banco do motorista. De volta ao compartimento de passageiros, Matador de Goblins verificou rapidamente os fechos de sua armadura.

— Você acha que teremos que lutar…? — Sacerdotisa se perguntou em voz alta, certificando-se também de ter tudo o que precisava. Talvez estivesse imaginando a possibilidade de que teriam de pular da carruagem em alta velocidade. Seus movimentos eram rápidos e eficientes.

— Não tenho certeza; só tenho certeza de que não gosto disso — disse Anão Xamã, tomando um gole de vinho e depois lambendo as gotas da ponta dos dedos. Ele parecia tão imperturbável como sempre. — Pode ser um homem, pode ser um monstro. Por aqui, uma etiqueta de classificação da Guilda dos Aventureiros não vai te levar a lugar nenhum.

— Ha-ha-ha, de fato, de fato. Este é um deserto sem lei… — Mesmo Lagarto Sacerdote agiu indiferente à situação, o que fez Sacerdotisa franzir a testa. Isso não era medo. Nem hesitação. Ansiedade, talvez.

Isso está cheirando a problemas.

Esse foi o pensamento dela. Se fosse necessário, poderia compará-lo com o momento de uma aventura em que ela estava diante da entrada de uma caverna. Foi aquela mesma estranha sensação de formigamento que desceu por seu pescoço.

— Eu vejo uma armadura. Escudos… lanças, talvez. — Alta Elfa Arqueira estava forçando o olhar, sussurrando de volta para os outros. — Dez pessoas. Há uma carruagem parada logo adiante.

— Há?

— Eles estão acenando para nós, querem que paremos também.

— Parece um posto de controle — disse Comerciante Feminina com alívio.

Este território não pertencia a nenhuma das nações, mas ambas enviavam patrulhas. Mesmo em outro país, a visão de soldados era pelo menos um tanto reconfortante. Os viajantes podem não ter o apoio da Guilda dos Aventureiros aqui, mas Comerciante Feminina tinha o patrocínio de sua nação. Ela carregava um passe de viagem com o selo do rei como prova de sua identidade. Simplesmente o apresentaria e explicaria que era uma comerciante viajando com seus guarda-costas…

Ela se virou para falar pela abertura atrás do banco do motorista.

— Eles podem querer uma parte do que estamos carregando. Algumas moedas devem resolver o problema. — Assim era o mundo. — Primeiro, iremos para a cidade mais próxima. Podemos não chegar hoje à noite, mas pelo menos podemos estar lá amanhã. Então podemos descobrir mais sobre…

Quando ela começou a desacelerar a carruagem, porém, Alta Elfa Arqueira gritou:

— Acelere! — Comerciante olhou para ela com confusão. — Apenas faça!

— O quê? Mas… Mas e o posto de controle…?

— Esqueça isso — disse Matador de Goblins de dentro da carruagem. — Vai!

— C-certo! — Sem mais argumentos, Comerciante Feminina estalou as rédeas. O som agudo foi seguido por um relincho e depois pelo bater de cascos quando a carruagem ganhou velocidade. Sacerdotisa quase caiu, jogada para trás contra seu assento pela aceleração repentina. Ela olhou pela janela para ver os soldados gritando algo e vindo atrás deles para detê-los. Contudo, a carruagem era muito rápida; Sacerdotisa não conseguia nem entender o que os homens estavam dizendo.

Estranhamente, até o elfo e o rhea na carruagem parada gritavam com eles.

Espere o quê?

Algo estava errado. Sacerdotisa piscou. Ela se sentiu estranha por invadir um posto de controle? Sentiu que estava errada? Não, não era isso. Aqueles eram…

— Saqueadores?!

— Felizmente, aqueles outros gritaram para nós corrermos — disse Alta Elfa Arqueira, deslizando de volta para o compartimento de passageiros e pegando seu arco e flechas. — Qual é o plano? Você quer fazer isso? — Ela perguntou a Matador de Goblins.

— Só se eles vierem atrás de nós. — Ele era o líder do grupo, mesmo que quase por omissão. Sua resposta foi rápida. Ele sabia muito bem que era muito melhor agir agora do que bolar um plano brilhante mais tarde. — Viemos aqui para matar goblins. Não ladrões.

— Hmm — respondeu Alta Elfa Arqueira, mas mesmo assim começou a encordoar seu grande arco de teixo. Para os elfos, a prontidão vinha tão facilmente quanto uma respiração. Não para Sacerdotisa, no entanto. Ela abriu e fechou as mãos em torno de seu cajado, inquieta.

— Não deveríamos ajudar aquelas pessoas…? — disse ela.

— Eh, duvido que suas vidas estejam em perigo, — Anão Xamã respondeu, acariciando sua barba — mas admito que não é uma escolha fácil — acrescentou com uma careta. — Aqueles bandidos tiveram todo o trabalho de se vestir como soldados para ajudá-los no roubo. Não acho que fariam algo muito impulsivo.

— De fato — concordou Lagarto Sacerdote. — Pode-se até presumir que, se intervirmos, eles podem se sentir levados a fazer reféns ou até mesmo começar a matar.

— Pode ser…

Os outros poderiam estar certos? Talvez essa fosse mais uma daquelas coisas que simplesmente dependiam de uma jogada de dados. As palavras acontece o tempo todo passaram pela mente de Sacerdotisa. Seria mesmo verdade?? Ela vinha se perguntando isso há dois ou três anos. Ainda assim, não tinha resposta.

Algumas pessoas disseram que uma resposta encontrada com muita facilidade não era uma resposta, mas…

— Ainda temos um problema — disse Comerciante Feminina, com uma voz tingida de preocupação. O suor escorria em suas bochechas enquanto corria na carruagem através da escuridão. — Estivemos galopando com esses cavalos o dia todo. E à noite vai ficar bem frio… ou pelo menos foi o que ouvi.

A situação era perigosa e não havia espaço para erros. Não é de admirar que ela parecesse ansiosa. Já estava quase de noite. Se não encontrassem um lugar decente para acampar, bem, poderiam aguentar esta noite, mas morreriam no dia seguinte. E no terreno desconhecido do deserto, mesmo esta noite não era garantido…

— Poxa, vocês humanos são tão frágeis e ainda tentam viver em lugares como este — comentou Alta Elfa Arqueira, seu tom despreocupado apesar da situação. Ela sempre conseguia aliviar a tensão.

Sacerdotisa tentou rir um pouco desse comentário. Entre as coisas que aprendera ao se aventurar estava a importância de um pouco de bom humor.

— Os lugares onde vocês, elfos, vivem são muito apertados. — Ela disse.

— Acontece que nós vivemos na natureza. Vocês, humanos, são quem estão empenhados em mudá-la.

Alta Elfa Arqueira, com sorriso e tudo, parecia visivelmente mais alegre do que na cidade. Podia não haver árvores neste deserto, podia haver muito pouco verde, mas ainda era a Natureza e, portanto, agradável para um elfo.

Então, no entanto, sua expressão se anuviou e suas orelhas se inquietaram.

— Qual é o problema, Orelhas Compridas?

— Quieto. — Alta Elfa Arqueira fechou os olhos e franziu a testa, concentrando-se. — …Eles estão vindo. Lá de cima.

— À frente?

Eles não eram perseguidores? O grupo olhou um para o outro. Um grupamento separado? Mas eles já haviam se distanciado demais dos ladrões para encontrar um bando afiliado.

Matador de Goblins silenciosamente sacou sua arma e Lagarto Sacerdote assumiu uma postura de luta. Sacerdotisa descobriu que podia ouvir também: algo batendo na terra com muita pressa, como a própria carruagem deles.

Soldados montados?

Não, já tinha ouvido esse som antes. Não eram cascos. Eram patas. Ela ouviu vozes uivantes e só conseguia pensar em uma coisa que montava animais assim.

— Goblins!

Do outro lado do grande e escuro deserto surgiu uma aura da batalha.

 

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Tradução: NERO_SL

Revisão: B.Lotus

 

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