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Matador de Goblins – Vol. 10 – Cap. 4.1 – Um Mundo Para Nossos Patrocinadores

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Os humanos são muito estranhos: no momento em que algo acontece, eles aguardam na esperança de que tudo mudará.

Por exemplo, um humano se torna um aventureiro e imediatamente quer ir em uma grande busca que decidirá o destino do mundo. Ou acabam de aprender a usar a espada e esperam que no dia seguinte já sejam um espadachim de renome conhecido até mesmo no reino dos mortos. Os magos procuram segredos de mundos ainda desconhecidos pelo homem, enquanto os poetas parecem esperar ter seus nomes reconhecidos na capital…

Estes são sonhos perfeitamente comuns, não devem ser ridicularizados ou zombados, mas também não são realistas. Por que as coisas deveriam mudar imediatamente só porque algo aconteceu?

Sacerdotisa tinha sido uma aventureira por dois anos e alguns meses, e agora veio a entender e aceitar isso – ou achava que sim.

— Fuuuuu (suspiro)…

Mas de alguma forma, enquanto ela ia da Guilda para o Templo da Mãe Terra, e então de lá, de volta para a Guilda através da névoa da manhã, não encontrou nada além de suspiros em seus lábios. Afinal, achava que a situação era diferente agora. Matador de Goblins tomou o assunto em mãos. Todo mundo estava ajudando. Até os outros aventureiros. E mesmo assim, dias já haviam passado e nada havia mudado. Os rumores continuaram se espalhando. Nada mais parecia ter mudado.

Ela ia da Guilda para o Templo e voltava praticamente todos os dias, e hoje seus passos pareciam ainda mais pesados do que o normal. Mais uma vez, não era como se algo específico tivesse acontecido. Era só que o acúmulo inflexível dos dias começou a pesar sobre os ombros estreitos de Sacerdotisa.

Hoje, como em todos os outros dias, todos no Templo a cumprimentaram calorosamente (bem, todos, exceto Alta Elfa Arqueira, que ainda estava dormindo). Anão Xamã tinha calmamente dado seu selo de aprovação, enquanto Lagarto Sacerdote concluiu que passar um dia inteiro meditando poderia ser uma coisa muito boa. O que estavam dizendo era exatamente isso: que continuariam a guardar o Templo apesar de não receberem nenhuma recompensa por isso.

Depois, havia sua “irmã mais velha”, que a recebeu com um sorriso e se despediu da mesma forma: Irmã Uva. Os rumores já deviam ter chegado aos seus ouvidos, mas ela não mostrou nenhum sinal disso. Mesmo que a própria Sacerdotisa pudesse pensar apenas em Matador de Goblins.

— Fuuuu… — Outro suspiro. Os dias desde que visitaram o esconderijo daqueles bandidos pareciam semanas. Ela tinha dificuldade em se levantar de manhã e tinha medo de dormir à noite. Apenas passava o tempo vagamente, e era verdadeiramente terrível.

Hoje, aqui estava ela de volta na frente da Guilda dos Aventureiros, com as coisas não diferentes de antes.

Matador de Goblins…

O que ele estava pensando? Essa foi a pergunta que borbulhou na mente de Sacerdotisa, mas ela balançou a cabeça. Não deveria, não podia, pensar tais coisas. Matador de Goblins, o líder de seu grupo, devia ter alguma ideia em mente, mas ela não conseguia simplesmente fechar os olhos e confiar cegamente. Isso significaria… significaria que nada havia mudado desde quando ela começou a se aventurar, não é?

Sacerdotisa mordeu os lábios com força, então empurrou a porta da Guilda. O som da agitação da manhã a atingiu.

— Ah, bem-vinda de volta! — Esta primeira saudação veio de Garota da Guilda, absorta em algum tipo de trabalho na recepção. Ela certamente tinha ouvido os rumores também, mas, talvez por consideração à Sacerdotisa, nunca os mencionou.

Sacerdotisa, sempre grata por esse pequeno ato de decência, respondeu: — Obrigada —, e fez o possível para sorrir.

— Matador de Goblins já está aqui, sabe?! Apenas no caso de estar procurando por ele.

— Ah, obrigada. Será mais um dia de…?

Matança de goblins?

As palavras morreram em seus lábios enquanto ela olhava para a área de espera. Era fácil de identificá-lo mesmo entre a multidão de aventureiros em busca de missões. Ele estava no banco no canto da sala, exatamente onde sempre ficava, vestindo uma armadura de couro encardida e um capacete de metal de aparência barata.

“Ei”, ela ouviu, e “E aí” e “Goblins de novo hoje?” e “Mande-os para o inferno”, e assim por diante. Em seus dois anos ou mais como aventureira, a jovem que nunca conheceu nada além do Templo da Mãe Terra cultivou um número surpreendente de relacionamentos. Ela nem sempre sabia seus nomes ou mesmo como eles realmente eram, mas esses homens e mulheres eram todos aventureiros como ela. Seus colegas também eram das mais variadas raças, e Sacerdotisa curvou-se respeitosamente a cada um com um educado “Bom dia”. Havia ex-noviços, recém-chegados que se mostraram muito promissores, todos aventureiros juntos…

Eu realmente sou uma deles…?

Ela mesma era a menos confiante sobre isso de todos.

 

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— Uau, aquela senhora arcebispa com certeza fala bem!

— Eu tinha certeza que iriam nos mandar embora na porta da frente — disse Guerreiro de Armadura Pesada com um toque de exasperação enquanto observava a sacerdotisa se afastar.

Ele olhou para Cavaleira com uma expressão que dizia: Você quase me fez pensar que era uma verdadeira cavaleira do Deus Supremo ali, mas ela não pareceu notar. Estava muito ocupada balançando a cabeça vigorosamente.

— E é claro que iria, com a gente falando com ela sobre matar goblins. Boba fui eu por duvidar dela!

— Você acha? — disse Guerreiro de Armadura Pesada, mais ou menos ignorando-a.

O que importava era que o Templo do Deus Supremo havia decidido agir e que essa ação parecia poder levar a uma aventura que lhes renderia algum dinheiro. Afinal, uma pessoa não pode viver de só de aventuras – ela também precisa comer. O dinheiro era importante. Não era a única coisa, mas importava. Ainda mais quando você estava levando dois garotos cujo avanço foi atrasado porque  mentiram sobre suas idades.

Dinheiro na mão significava comida na boca. Uma cama para dormir. Equipamentos e armas novos em folha. Itens quando precisasse deles. Com uma doação generosa o suficiente – ou seja, com dinheiro suficiente – pode-se até receber o milagre da Ressurreição, pelo qual alguém pode ser chamado de volta do outro lado do rio da morte. Você poderia literalmente comprar a vida, de certa forma.

Algumas pessoas pregavam austeridade e frugalidade, mas isso nunca fez muito sentido para Guerreiro de Armadura Pesada. O dinheiro não deveria ser encarado com leviandade, mas desde que você o tivesse, tornava sua vida mais fácil, e deveria usá-lo quando precisasse.

Talvez eu devesse fazer uma doação ao Templo do Deus do Comércio. O pensamento passou por sua mente, embora não acreditasse particularmente nos deuses. Guerreiro de Armadura Pesada virou-se para seus amigos.

— Como foi para você?

— Uma enorme perda de tempo. — Lanceiro acenou com a mão desanimada enquanto corria para cima, seguido de um salto mortal. Ao lado dele estava Bruxa, fumando seu cachimbo, talvez ouvindo a conversa, talvez não.

Era tudo perfeitamente normal. Talvez fosse hora de pagar impostos, pensou Guerreiro de Armadura Pesada, deixando suas próprias preocupações de lado por enquanto.

— Perguntei a um conhecido meu que lida com aventuras na cidade, mas não me levou a lugar nenhum, pelo menos não muito rápido — disse Lanceiro.

— É?

— Sim. Somos especialistas em bater e correr, cara. Esta não é a nossa praia.

Sua declaração confiante provocou um silencioso “Heh, heh” de Bruxa .

— Acho que faz sentido — pontuou Cavaleira. — Cada um de nós tem um papel em que somos melhores.

— Hmm —, Guerreiro de Armadura Pesada grunhiu. — Você consegue dizer algo significativo de vez em quando, apesar de ser você.

— Idiota, tudo que eu digo é significativo.

— Se você diz — respondeu Guerreiro de Armadura Pesada com um aceno cansado.

Cavaleira o ignorou. — Ouça — disse ela, assumindo um ar de importância. — Qualquer um que diga que pode fazer tudo sozinho é apenas um idiota que não enxerga a realidade.

— Hô. — Lanceiro sorriu. — Um pouco cedo para começar a pregar, não é? — Mas de qualquer forma, ele precisava matar tempo de alguma maneira até que os papéis de missões da manhã saíssem. E também não encontrou sua doce Garota da Guilda em lugar nenhum.

— Mm — respondeu Cavaleira com confiança. — Nunca é cedo demais para aprender algo novo – e estou prestes a ensiná-lo.

— E se eu não quiser ser ensinado, ó bela cavaleira?

— Vamos começar com uma hipótese. Suponha que houvesse um aventureiro Bronze que pudesse rachar o céu e a terra com sua espada, que destruísse um Deus das Trevas, mas que nunca passasse do nível Bronze porque seria muito trabalhoso.

— Quem faria isso?

— Vamos apenas supor.

Isso parecia implorar à imaginação de Lanceiro, mas ele concordou com a cabeça, apesar de sua nítida sensação de que mesmo os heróis das histórias eram mais fundamentados do que isso.

— Basta pensar nisso — disse Cavaleira. — As roupas deste aventureiro, sua comida, seus vegetais, carne, sapatos, sua pousada e até mesmo seu próprio país, são todos produzidos por outra pessoa, não são?

— Sim, e tenho certeza que ele tenha uma amada – ou um amado, eu acho. De qualquer forma, alguém que se preocupa com ele, além de seus pais. — O comentário de Lanceiro não foi particularmente de boa fé. Bruxa silenciosamente o chutou na canela. Ele era homem o suficiente para não gritar por isso.

Cavaleira não pareceu notar: — Certo, exatamente — disse ela, impressionada. — Quem diz que estão fazendo todas essas coisas para si mesmos está mentindo descaradamente.

— Vamos, pense nisso — disse Bruxa com algum interesse, girando seu cachimbo e depois dando uma tragada — é… às vezes dito: para fazer vinho, requer uma batida constante. Se o mapa das estrelas muda, o sabor do vinho também muda.

Uma palavra ou duas de elogio ao seio farto da deusa é importante… e assim por diante.

Bruxa recitou essas palavras de uma sábia antiga, e Cavaleira respondeu:

— Exatamente — balançando a cabeça com firmeza. Nem os deuses agiram sozinhos. Pensar em qualquer pessoa como onipotente e onisciente era risível, mas Cavaleira ainda não havia terminado. — Então, já que não pode fazer tudo, confie nos outros para fazer o que você não pode!

Você não confia nos outros; você força os outros — disse Guerreiro de Armadura Pesada, esvaziando-a no clímax de seu discurso. — Quando alguém tem poder, seja um deus ou um demônio, é o poder deles. Eles podem usar como quiserem.

— Mas, como dizem, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades…!

— Claro, você salvou o mundo, obrigado, tenha um bom dia. Você quer ser um fazendeiro, tudo bem, tanto faz. Muitos de vocês entrariam em uma briga com um demônio se vissem um.

Para Guerreiro de Armadura Pesada, tudo parecia muito simples, mas Cavaleira deu um passo atrás: — Agora, espere aí.

Guerreiro de Armadura Pesada olhou para ela, sorrindo, um pouco irritado, mas totalmente familiarizado com esse tipo de reação.

— Você precisa parar de colocar as luvas antes do capacete. Sempre precisa ter alguém segurando seu cabelo para trás!

— Hrrgh…! — Isso foi um golpe crítico. Cavaleira, atingida ao máximo, soltou um hrk e hagh algumas vezes antes que finalmente parecesse se recompor. — Isso… isso pouco importa, não é? Não é como se fosse um grande esforço!

— Não estou dizendo que é. Apenas que está agindo como se não achasse que isso se aplica a você. — Guerreiro Pesado deu de ombros, Cavaleira continuou a ranger os dentes, e Lanceiro apenas olhou para os dois, sem revirar os olhos.

Bruxa deixou seu olhar vagar em direção ao chão. Qualquer um deles poderia estar em ambos os lados deste argumento. Ela riu. Eles simplesmente não desistiam.

— O que estou tentando dizer é que um grande herói é um grande herói exatamente porque são capazes de fazer essa distinção…!

— Não sei o que você está tentando dizer.

Por fim, Bruxa começou a deixar a conversa tomar conta dela, voltando-se para seus próprios pensamentos. Na melhor das hipóteses, uma conversa como essa não significava nada. Era simplesmente uma brincadeira comum. O mundo era tão grande, e o que vimos não era tudo; as coisas podem estar se movendo em lugares inesperados. O cerne da magia era ver através de tudo isso, penetrar na verdade.

O que estava acontecendo? O que seria deles? Mesmo que ela estivesse olhando apenas para a borda mais ínfima, poderia extrapolar a partir daí.

E isso a levou a…

— Eu, eu… me pergunto como, as coisas vão…

Uma coisa era certa: seria outra aventura interessante.

 

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— Uh, hum, b-bom dia, Matador de Goblins, senhor… —, Sacerdotisa disse quando veio tamborilando até ele. A resposta do aventureiro de aparência patética foi a mesma de sempre:

— Sim.

Era uma ocorrência diária aqui na Guilda na cidade fronteiriça: ele era o primeiro a chegar de manhã, mas o último a pegar uma missão. Os aventureiros que estavam por ali há algum tempo se acostumaram com a visão da armadura parada imóvel em um canto da área de espera. Os recém-chegados e noviços costumavam ficar com os olhos arregalados no início, mas também logo deixavam de prestar atenção nele. Para eles, um aventureiro especializado em matar goblins não valia a pena se prestar atenção.

Nos últimos anos, ele pareceu ter reunido uma espécie de grupo e começou a trabalhar regularmente com eles, mas agora estava sozinho – não, apenas com mais uma pessoa. Seu anão, sua elfa e seu homem-lagarto não foram vistos nos últimos dias.

— Matança goblins de novo, senhor…? — Sacerdotisa perguntou enquanto hesitantemente se sentava ao lado dele. Essa emoção em sua voz era admiração ou apenas hesitação?

Quanto tempo se passou desde que os dois começaram a lidar com missões juntos? Não é pouco tempo. Muitos anos. Embora se isso fosse muito tempo ou não dependesse de a quem você perguntasse…

— Sim. — A voz do aventureiro chamado Matador de Goblins era baixa, suas palavras curtas e desapaixonadas. — Depois de vermos como as coisas estão indo.

— …Certo. — Sacerdotisa assentiu com firmeza e, com isso, a conversa terminou. Conversas ociosas dos outros aventureiros encheram o ar, ondas de som sem sentido atingindo seus ouvidos. O silêncio poderia ser difícil de suportar, mas com barulho suficiente para preencher as lacunas, talvez não fosse tão ruim.

Depois de sentar-se desconfortavelmente por um tempo, porém, seu pequeno traseiro se mexendo no assento, Sacerdotisa abriu a boca.

— Ah, ah…

— O que é?

— H-há, uh, alguma coisa que… precisa ser feita?

Foi uma declaração ambígua, nenhum significado claro, e mesmo enquanto falava, Sacerdotisa parecia afundar em vergonha. Não ficou claro no início do que estava envergonhada. Foi a pura falta de clareza de sua pergunta, ou talvez estivesse envergonhada de si mesma por não ter feito nada?

Matador de Goblins grunhiu uma vez, então continuou calmamente:

— Eu já joguei minha mão.

— O que…? — Sacerdotisa olhou para ele, assustada, como uma criança que foi colocada para trás em seus calcanhares.

— Não que eu tenha feito alguma coisa ainda — disse ele como prefácio. — Mas quando se está caçando um cervo, às vezes é melhor não se mexer.

— Um cervo…?

— Até que sua presa pense que você é apenas uma árvore ou uma pedra à beira da estrada.

Era quando você soltaria seu tiro, uma única flecha que perfuraria um ponto vital – ou assim ele alegou ter sido informado.

— Huh… — Sacerdotisa respirou, em uma combinação de admiração e aborrecimento. Então colocou um dedo fino no queixo com um pensativo “Hmm”, depois continuou sobriamente: — Você sabe um monte de coisas diferentes, não é?

— Farei uso de tudo que puder — disse Matador de Goblins, com um tom humilde. — No fim das contas, não sou realmente um patrulheiro, um batedor ou mesmo um guerreiro.

— …Mas ainda assim, você sabe muito —, Sacerdotisa repetiu. Ela contou nos dedos: sobre aventureiros, sobre lutas, sobre como vasculhar uma caverna. — Há tantas coisas que você sabe, coisas que pensa… É meio injusto.

— É mesmo?

— É.

— Entendo…

As palavras eram suaves – não estava claro se Matador de Goblins concordava com ela ou não – mas então ele caiu em silêncio. Sacerdotisa olhou para o capacete de metal por um tempo antes de dizer baixinho, quase para si mesma:

— …Me pergunto se eventualmente também saberei tantas coisas.

— Não sei dizer.

— Não sabe dizer… o quê?

— Nunca me considerei muito inteligente. — Eu não saberia.

Sacerdotisa descobriu que não podia prosseguir no assunto. Em vez disso, estufou as bochechas como uma criança temperamental, mas quando percebeu que tinha feito isso, se endireitou.

— Nesse caso, vou estudar. — Ela tinha certeza de que parecia um pouco carrancuda, mas também como se gostasse da perspectiva. — Vou estudar tudo o que puder, aprender e treinar… farei o meu melhor.

— Entendo — disse Matador de Goblins assentindo. — Isso é bom.

Uh-huh —, Sacerdotisa respondeu como uma aluna obediente, então ficou quieta novamente. O burburinho do salão da Guilda soou em seus ouvidos mais uma vez, conversas ociosas preenchendo o espaço ao redor deles.

Se tudo isso era conversa fiada, então, o que foi a conversa deles agora? Deve ter sido igualmente sem sentido. Esses momentos nunca duravam muito de qualquer maneira. A funcionária que havia se afastado da recepção voltou com um maço de papéis…

— Tudo bem, atenção todos! Aqui estão os anúncios de trabalhos de hoje!

Houve um grito animado de aventureiros que estavam esperando por este momento; eles correram para o quadro de avisos. Alguns dos trabalhos eram fáceis, outros difíceis, mas o que todos tinham em comum era que um aventureiro que não trabalhasse não comia.

— Ei, pegue este aqui!

— O que é isso? Guardar o Templo da Mãe Terra?

Esta troca inesperada alcançou Sacerdotisa do burburinho da multidão, fazendo-a tremer.

— O que, elas temem que algum punk que ouviu os rumores venha atrás delas?

— Não, cara, ouvi dizer que já receberam ajuda do Templo do Deus Supremo…

— Huh, parece bom. E lucrativo!

— Ei, você sabe o que dizem – o que vai, volta. É, tipo, um bom karma ajudar pessoas em apuros.

Cada um dos aventureiros pegou uma missão, dizendo o que parecia bom para eles. Sacerdotisa os observou com uma expressão indescritível no rosto. Talvez estivesse pensando, mas eles também estavam espalhando os rumores! A ideia de que este pensamento estava brotando em seu coração causou um momento de hesitação, mas tinha de ser feito. Foi quando uma certa pessoa reuniu sua determinação e se levantou, caminhando diretamente entre os aventureiros.

— …?

A garota virou um olhar perplexo para ele. O capacete de metal, no entanto, não tinha expressão. Ele engoliu audivelmente: “Gulp.” Este aventureiro que parecia poder ser apenas uma armadura vazia, um Cavaleiro Inexistente. Acrescentou intimidação à hesitação natural, e enrijeceu.

— Precisa de alguma coisa?

Sim. — veio a breve resposta. Porém, a voz era tão áspera, tão aguda. Como nunca tinha sido. Ele respirou fundo, então limpou a garganta. — Eu te imploro. Esta é uma busca mais urgente. Por favor… imploro que nos ajude. A voz do filho do vendedor de vinhos da Cidade da Água era suave e suplicante.

 

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— Goblins?

— Não… Bem, sim.

Sacerdotisa foi a primeira a fixar um olhar sério no jovem com seus pronunciamentos inarticulados.

O filho do comerciante de vinhos. Aquele da Cidade da Água. Para Sacerdotisa, ele não poderia ter se identificado como algo mais carregado de significado. Ela abriu a boca para dizer algo, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.

O que posso dizer…?

Ela deveria provocá-lo? Recusá-lo friamente? Ficar com raiva, gritar, chorar ou atacá-lo diretamente?

Para ser franca, ainda não estava claro se o pai desse jovem era a fonte dos rumores. Quanto a isso… ela havia investigado e procurado, e estava convencida de que eles estavam se mudando. Claro, ela não tinha provas. Era melhor para eles que não existisse nenhuma prova…

A cabeça de Sacerdotisa girou com pensamentos que poderiam ser dedução ou conjectura ou pura fantasia. Era só que… ela achava que tinha de ser verdade. Alguém que importava para ela tinha sido ferida.

E não há nenhuma razão para não pagá-los de volta da mesma forma.

O pensamento cresceu em seu coração. Começou a se espalhar como uma semente que brota.

Filha de goblins. Com outros ansiosos para espalhar rumores tão cruéis, por que ela deveria ser a única a se conter? Um pouco tarde para vir implorar, se poderia dizer. Egoísta. Peça desculpas, ela poderia exigir. E quem disse que isso é problema meu?. Cai como uma luva.

Era possível? Claro que era. Só precisava deixar suas emoções a guiarem. Entretanto… ela, Sacerdotisa, viveu sua vida na de que isso não era a coisa certa a fazer.

O caminho que percorreu valorizava confortar as pessoas, ser atenciosa com elas, ajudar o mundo quando podia. Essa era sua fé, nesses dezesseis ou dezessete anos de sua vida.

É claro que todos tinham suas circunstâncias pessoais, suas motivações, e nem todos podiam ser perdoados; mas atacar sem pensar, era simplesmente demais…

Patético.

Sacerdotisa respirou fundo para limpar a garganta. Para ajudar a dispersar a raiva escura, pesada e pegajosa que borbulhava em seu peito.

— Eu… — disse ela, então teve que respirar fundo para continuar. — Posso pelo menos ouví-lo.

— Entendo. — Essa era sempre a resposta de Matador de Goblins. De alguma forma, Sacerdotisa mal podia suportar. — Então vamos ouvir. Aqui está tudo bem?

— Bem, uh… — O filho do mercador pareceu ser alertado pela conversa e pelo símbolo sagrado que Sacerdotisa segurava. Ele coçou a bochecha com culpa e olhou ao redor para a multidão de aventureiros buscando suas missões matinais. Nenhum deles estava prestando atenção especial ao pequeno grupo, mas é claro que havia muitos olhos e ouvidos aqui. A capacidade de saber o que estava acontecendo nos arredores era uma questão de vida ou morte para um aventureiro.

— Acho que é um pouco tarde para se preocupar com a reputação — murmurou o jovem, mas continuou com os dentes cerrados —, mas se pudéssemos, gostaria de usar uma sala de reuniões ou algo assim…

— Muito bem. — Matador de Goblins assentiu e virou-se para olhar na direção do balcão de recepção. Garota da Guilda estava ocupada lidando com todos os aventureiros registrando suas missões, mas ele certamente não poderia se servir de um dos quartos…

— …Oh.

Nesse momento, seus olhos encontraram os da inspetora, que estava encolhida em um canto com alguns papéis nas mãos. Ela despreocupadamente guardou o livro que estava escondendo atrás dos papéis e deu-lhe um sorriso. Matador de Goblins, implacável, apontou silenciosamente para o filho do mercador e depois para o segundo andar. A inspetora assentiu, olhou para a muito ocupada Garota da Guilda, então colocou um dedo em seus lábios. Nosso segredinho. O que importa é que ele teve sua permissão, era tudo o que queria.

— Vamos lá.

— S-sim…

Duas palavras desapaixonadas e um passo ousado, e o filho do mercador foi deixado para seguí-lo confuso.

— … — Sacerdotisa mordeu o lábio e segurou firme em seu cajado, mas veio logo atrás. Subiram até o segundo andar, até o final do corredor. Esta não era a parte do segundo andar que funcionava como uma pousada para aventureiros, mas onde a Guilda conduzia negócios administrativos. Percebendo que ela mal tinha estado aqui, exceto para suas entrevistas de promoção, Sacerdotisa sentiu uma onda de ansiedade.

Não, não. Isso era apenas uma desculpa. Até ela percebeu isso. Suas emoções corriam completamente descontroladas dentro de si, e mesmo assim, estava determinada a ouvir este homem.

Eles abriram uma porta pesada e entraram numa sala cheia de lembranças dos feitos de aventureiros do passado. Havia joias brilhantes, prêmios militares, músicas gravadas e armas e escudos famosos…

Era uma sala de troféus. Cheia de coisas muito mais impressionantes do que uma ocasional cabeça de monstro ou chifre serrado que enfeitava a taverna.

Talvez essas coisas estivessem presentes apenas para impressionar os possíveis fornecedores de missões, mas ainda assim, notando um martelo de guerra de metal simples entre todo o resto, Sacerdotisa sentiu um toque de orgulho. Então a auto-estima se transformou em coragem, e ela se jogou no banco comprido da sala.

O filho do mercador de vinho estava sentado à sua frente, enquanto Matador de Goblins se acomodava ao lado dela. Sacerdotisa sentiu a almofada afundar e o banco ranger sob o peso de seu equipamento.

— Tudo bem, conte-nos sobre o seu negócio — disse Matador de Goblins após algumas breves apresentações.

O filho do mercador ficou em silêncio – olhando para ele com mais calma agora, Sacerdotisa percebeu que ele era mais jovem do que ela havia pensado. Talvez fosse a cor de seu rosto e pele derivada da comida rica que comia, ou talvez fosse por suas vestes elegantes. Ele tinha cerca de vinte anos, ela adivinhou, talvez um pouco mais velho. Por volta da época em que um filho assumia os negócios do pai e começava a ganhar experiência.

Sacerdotisa não deixou que essas especulações atrapalhassem sua atenção ao homem à sua frente. Ela não tinha o milagre Sentir Mentira.

— Finalmente descobri com certeza — disse ele. — Meu pai fez um contrato com os agentes do Caos.

Sem nenhum milagre para ajudá-la, Sacerdotisa teria que julgar por si mesma se o que ele estava dizendo era verdade.

 

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— Percebi que meu pai estava agindo de forma estranha.

“Não era porque o negócio estivesse em baixa, pois estávamos bem financeiramente. E, no entanto, ele estava desesperado. E então começaram os rumores sobre o Templo da Mãe Terra, e meu pai aproveitou a oportunidade.

“Não estou tentando arranjar desculpas aqui, mas foi muito estranho para mim.

“O comércio não é uma atividade nobre, quando há caos, você aproveita para ter lucro, mas isso são apenas negócios… A nível pessoal, não nos alegramos mais com o sofrimento dos outros do que qualquer outra pessoa.

“Mas meu pai… estava sorrindo e rindo. Ele é dedicado ao seu negócio, muito sério, muito leal e, embora talvez isso não seja para eu dizer, altamente capaz. Eu o vejo trabalhar desde menino; o cheiro de vinho em suas roupas era o cheiro do meu pai.

“…Eu sinto muito. Sim, eu sei. Esse não é o ponto aqui…

“A questão é que ele estava desesperado.

“A produção de vinho estava indo bem e o dinheiro estava fluindo. Ele estava empenhado em crescer, em expandir seus negócios. Quando olho para trás agora, acho que foi onde as sementes do Caos foram plantadas.

“É um ciclo: você trabalha para ganhar dinheiro. Investe o dinheiro na expansão do negócio. À medida que o negócio se expande, você tem mais trabalho. Mas, da mesma forma, à medida que seu negócio se expande, há menos dinheiro disponível e, se o trabalho não for bem, o negócio desacelera e a fonte seca.

“Meu pai estava desesperado. E isso… provavelmente foi o que o levou a unir forças com aqueles servos do Caos. Ele provavelmente pensou que iria jogar junto com seus planos e ganhar seu dinheiro em algum lugar entre os enredos.

“Risível, eu sei. Ele foi enganado. Quando as forças do Caos já trabalharam com gente como nós, certo? Mas quando os negócios acenam… bem, o lucro faz estranhos companheiros de cama. Justiça e compaixão caem no esquecimento.

“Olha, não estou tentando dizer que somos inocentes ou algo assim. Já me voltei para pessoas que espreitam nas sombras antes. Negação plausível com eles. Todo mundo sabe que isso é para ficar por debaixo dos panos – er, me desculpem, estou fugindo do assunto de novo.

“…Meu pai, com medo, foi para o tudo ou nada, fazendo planos e contratos, certificando-se de deixar um rastro de evidências. Em outras palavras: se eu cair, tudo se torna público e todos vocês cairão comigo.

“Só uma pequena garantia. Claro, eles estavam cheios de ameaças sobre o que aconteceria com ele se os traísse. Podem rir se quiserem, mas com certeza foi um erro.

“Outro dia, alguns ladrões invadiram a residência do capitão da guarda da cidade. Não foi a primeira vez que aconteceu; tabaco e drogas foram roubados antes, mas desta vez foi diferente, o ladrão era um troll. Dizem que ele rasgou a câmara pessoal do capitão, depois fugiu, mas foi morto por alguns aventureiros que passavam.

“Mas esse troll, sabe? De alguma forma, no meio de toda a agitação, largou o contrato do meu pai na sala do capitão da guarda. E foi isso. Os guardas, furiosos com a perda de prestígio, começaram a persegui-lo e então tudo veio à tona. Meu pai foi preso e o negócio provavelmente está arruinado.

“Quanto a mim, minha única graça salvadora foi que eu não sabia nada sobre nada disso. Eles provaram isso com Sentir Mentira no Templo da Lei na Cidade da Água.

“Naturalmente, não posso simplesmente herdar o negócio e dizer que está tudo bem quando acaba bem. Eles sabem que tudo isso é público agora.

“Há alguns dias, agora, de manhã. Eu tenho um servo, um homem que esteve naquela batalha dez anos atrás. Ele me disse que havia encontrado algumas pegadas atrás de nossa casa. Disse que as reconheceu. E que sem dúvidas…

“Eram pegadas de goblins.”

 


 

Tradução: Nero

Revisão: Flash

 

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