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Matador de Goblins – Vol. 09 – Cap. 03 – Correndo Rápido

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Os aventureiros deixaram a cidade ao raiar do dia e em uma jornada intercalada com pequenas pausas, chegaram à montanha antes do meio-dia.

— Hooo…! I-isso é… intenso! — Guerreiro Novato exclamou. Não que ele tivesse subestimado o tempo ou que lhe faltasse resistência. Isso era uma nevasca, a tempestade havia diminuído um pouco, mas o frio do vento e da neve uivando montanha abaixo ainda era intenso. Isso trouxe à mente histórias de gigantes do gelo ou o sopro de dragões de gelo.

Essas eram apenas fantasias, é claro, mas o fato de que estavam em perigo real permanecia. Mantendo as capas bem fechadas com as mãos, inclinando-se contra o vento, eles realmente rastejaram montanha acima. Atrás de Guerreiro Novato, Clériga Aprendiz não conseguia pronunciar uma única palavra, lutando ao longo do corpo enorme de Lagarto Sacerdote para protegê-la da força dos elementos.

—  Viu? Eu disse que ia fazer frio — Alta Elfa Arqueira disse a eles, incisivamente estufando seu pequeno peito. Suas próprias orelhas estavam se mexendo… espere, não, elas não estavam. No momento, suas orelhas pontudas distintas estavam enroladas sob um chapéu peludo — É para isso que você precisa de um desses! He he he, que ótima compra…!

Seu humor foi rapidamente estragado por Anão Xamã.

—  Acho que um elfo é o único que teria que se preocupar em literalmente ter suas orelhas congeladas.

—  O que você disse?! — ela exigiu e lá foram eles.

Com o murmúrio de sua discussão no fundo, Sacerdotisa deu uma olhada em Lagarto Sacerdote.

— Você está bem?

—  Mm-hmm. Bem, eu aguento — ele limpou a neve de suas escamas e ergueu a mão para mostrar a ela o anel que estava usando. Era um anel de respiração, um item mágico igual a um que ela pegara emprestado de Matador de Goblins muitas luas atrás. Ele também estava vestindo roupas consideravelmente mais grossas do que o normal — E, afinal, a persistência é a incubadora da evolução.

Pelo menos era mais fácil do que ir das guelras aos pulmões.

Com isso, Lagarto Sacerdote deu uma grande risada, mas Sacerdotisa não entendeu bem a piada. Ela sabia que sua capacidade de lidar com essa marcha era fruto do que havia experimentado no inverno um ano antes.

Evolução, hein?

Era mais do que ficar mais forte; era o acúmulo de experiência. Mantendo a capa bem fechada, ela assentiu e retomou a árdua escalada. Ela bateu com o cajado no chão, usando-o para se apoiar contra o vento enquanto dava um passo e depois outro, sempre para cima.

O sol estava escondido atrás de um céu de chumbo, como se mal brilhasse. A escuridão suspensa era como uma névoa que desencaminhava as pessoas; um passo descuidado poderia significar o fim. Mesmo assim, Sacerdotisa continuou andando. Tomada por um pensamento, ela olhou para trás.

É tão distante.

Ela ficou surpresa por ter percorrido tal distância a pé. Não era tão longe quanto o corvo ou o dragão voavam – ou como o troll andava, por falar nisso – mas, vestida com o branco da neve e o cinza das rochas, parecia uma vasta distância.

Ela olhou para cima novamente, para ver o topo da montanha coberto de nuvens. Não parecia possível chegar a pé.

Talvez as montanhas não sejam um lugar para quem tem palavras.

Ela soltou um suspiro e viu nevoeiro na frente dela. Suas mãos agarraram seu cajado inconscientemente.

Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, obrigado por fazer esta terra…

Foi uma oração à Mãe Terra. Não para proteção, mas simplesmente para oferecer elogios. Quão amplo e vasto era o mundo criado pelos deuses! Simplesmente entrar em terras desconhecidas já era uma aventura.

—  Ohhh, Deus Supremo… Suas apostilas precisam de um pouco mais de detalhes… — Clériga Aprendiz gemeu, encontrando-se lutando com a escalada brutal. A maneira como ela falava, agarrada à espada e à balança, lembrava a alguém que ela ainda estava apenas alguns passos acima de uma novata. Sacerdotisa riu ao ver que mesmo assim, a jovem não caiu de joelhos. Ela trocou um olhar com seus amigos. Nenhum deles parecia ter qualquer objeção.

— Vamos fazer uma pequena pausa, então.

O grupo encontrou uma fenda onde ficariam protegidos do vento e de avalanches e se sentaram. Eles se reuniram em um círculo com uma pedra de fogo, um catalisador da bolsa de Anão Xamã, no meio.

Chama dançante, fama da salamandra. Conceda-nos uma parte do mesmo.

Com as folhas secas, protegidas do derretimento da neve, ali com elas, o feitiço Arder se provou especialmente valioso.

— Vou fazer um pouco de água, então — disse Sacerdotisa.

— Muito obrigado — Anão Xamã respondeu, dando a ela o lugar na frente do fogo. Sacerdotisa colocou um pequeno pote cheio de neve sobre as chamas. Eles observaram por apenas um momento antes de a neve derreter em água. Isso os deixou, à sua maneira, gratos pela neve.

— Você não pode simplesmente comer? — Clériga Aprendiz perguntou, agora mais firme, mas um tanto perplexa.

— Colocar neve na boca não é o mesmo que beber água — disse Sacerdotisa. Em seguida, acrescentou — Ah, também, vocês dois deveriam afrouxar um pouco o equipamento. Isso vai deixar seus corpos relaxarem.

— Er, certo.

— …Você realmente sabe muito.

Quando o jovem mudou sua mochila e relaxou sua armadura, Sacerdotisa colocou a mão suavemente em seu peito.

Tudo porque Matador de Goblins me ensinou.

Ela tinha certeza de que isso não passava despercebido por seus companheiros, mas eles apenas sorriram com indulgência enquanto ela tentava bancar a mentora. Ela ficou envergonhada, mas também feliz com isso e sorriu para si mesma.

— Agora, a única coisa de que estamos sentindo falta é o vinho — a jarra de vinho de fogo e a taça cheia vieram naturalmente do anão.

— Uh, obrigado… — Guerreiro Novato pegou a xícara incerto e a colocou nos lábios. Seguindo-se de um ataque de tosse violenta.

— Ha-ha-ha! Lembre-se disso, rapaz. É assim que é o gosto do álcool de verdade.

— C-claro…

O sorridente Anão Xamã passou a seguir uma xícara para Clériga Aprendiz.

— Aqui, moça. Tome um gole, para não congelar.

— Oh, uh, eu, eu não…

Claro que ela não — Alta Elfa Arqueira fungou com um sorriso, em apoio à clériga um tanto frenética — Você sabe quem gosta de vinho de fogo dos anões? Anões e mais ninguém — ela vasculhou sua mochila enquanto falava, anunciando: “Ta-da!”, quando ela apareceu com um pacote embrulhado em folhas — É aí que entram os doces élficos! — ela desfez a corda do pacote para revelar um bom assado firme com um aroma doce.

— Ooh — respirou Sacerdotisa, que tinha acabado de encher seu copo com água quente. Ela não conseguia comer essas iguarias élficas com frequência, mas elas rapidamente se tornaram uma de suas comidas favoritas.

— Aqui está, aqui está — disse Alta Elfa Arqueira, distribuindo os pães — Deixe os luxuriantes beberem o seu vinho.

— O-obrigada… — Clériga Aprendiz deu uma mordida hesitante, então seu rosto se iluminou — …?! — pela forma como suas bochechas incharam como uma espécie de esquilo, parecia que ela gostava também.

Sacerdotisa deu um sorriso à Alta Elfa Arqueira enquanto entregava um pouco de água em seu caminho.

— Hee-hee, isso é muito saboroso.

— Obrigada. Não é? Nós, elfos, estamos muito orgulhosos disso! — Alta Elfa Arqueira disse, estufando o peito.

— Pfah — Anão Xamã resmungou, estalando a língua — Sem o Corta Barbas aqui, não tenho ninguém com quem beber.

— Ha-ha-ha-ha-ha, bem, suponho que não pode ser evitado — Lagarto Sacerdote entregou um pouco de água para Guerreiro Novato, mantendo um olho nas garotas enquanto elas saboreavam seu pão — A preferência por doces ou bebida é individual, assim como prefiro carne a coisas com folhas, sem prejudicar meu apetite — ele tomou um longo gole de vinho de fogo e, em seguida, deu uma grande mordida em uma rodela de queijo que tirou de sua bolsa. Em seguida, outro bocado desapareceu em suas mandíbulas, a rodela tão grande que encheu suas mãos.

Ele embalou o estômago como se tivesse engolido uma presa inteira e soltou um grande arroto, provocando uma risadinha de Alta Elfa Arqueira.

— Você realmente ama queijo, não é?

— Não há motivo de culpa em ter uma comida favorita — ele cortou uma fatia da rodela com uma garra afiada e passou para a mão esguia que se estendeu para uma porção. Alta Elfa Arqueira comeu com gratidão, assistida com mistificação por Clériga Aprendiz e por Guerreiro Novato.

— Algo de errado? — Sacerdotisa perguntou.

— Oh não — e —Naaah — Vieram como respostas gêmeas.

— Nós simplesmente não nos aventuramos com tantas pessoas — disse Guerreiro Novato.

— Sim, normalmente somos apenas nós dois…

Ahhh. Isso, Sacerdotisa entendeu. Ela tinha ficado tão confusa no início, mas durante a viagem às ruínas onde lutaram contra o ogro, uma jornada de apenas alguns dias, ela se acostumou. E por apenas um motivo simples.

— É divertido, não é?

O menino e a menina se entreolharam, mas então os dois assentiram e responderam com seriedade.

— Sim.

— Espero que algum dia ganhemos mais companheiros de aventura — disse Guerreiro Novato.

— Oh, eu não sou o suficiente para você? — Clériga Aprendiz respondeu, inchando as bochechas intencionalmente. Sacerdotisa derramou mais água quente em sua xícara — Obrigada — disse ela, segurando a xícara com as duas mãos e soprando nela — …Tenho que admitir, é bom ter um acampamento animado como este.

— Não podemos baixar a guarda por causa disso, no entanto — advertiu-a Anão Xamã. Ele tirou o gelo da barba, o vinho do fogo ainda em sua mão — Com os espíritos das neves tão frenéticos, você pode acabar sendo comido pela Filha do Deus do Gelo.

— O que é isso? — Alta Elfa Arqueira perguntou, inclinando-se com interesse — Um Deus? Como os do céu?

— Você não cala a boca sobre há quanto tempo vocês elfos estão por aí, nunca ouviu essa velha história?

— Não é como se eu me lembrasse de tudo que ouço — respondeu Alta Elfa Arqueira, aparentemente imune ao olhar de Anão Xamã.

O anão suspirou e disse — Bem, o deus, neste caso, não é um dos grandes motores do céu, é mais como um dos gigantes primordiais.

— Gigantes…? — Sacerdotisa soprou em sua própria caneca e tomou um gole, depois deu uma mordida no pão.

Isso mesmo, no festival do ano passado…

Durante o festival da colheita do ano anterior, um Elfo Negro tentou convocar algum titã antigo. Sacerdotisa ouviu mais tarde sobre o que teria acontecido se ele tivesse tido sucesso…

…Oh.

Essa memória a levou a outras lembranças ainda vivas e frescas, incluindo uma de uma batalha enquanto vestia uma roupa bastante reveladora. Para esconder suas bochechas repentinamente vermelhas, ela soprou furiosamente na água.

— Os jogos de guerra dos deuses podem estar longe, mas alguns desses gigantes ainda vagam pela terra, sem dúvida — disse Anão Xamã.

— E eles são bastante fortes? — Lagarto Sacerdote perguntou.

— Pode acreditar — Anão Xamã respondeu.

Guerreiro Novato e Clériga Aprendiz deslizaram para mais perto um do outro, assustados. Eles mal podiam imaginar um monstro que até mesmo as fileiras prateadas consideravam bem poderosos.

— Esses gigantes, eles se autodenominam os Deuses do Gelo e arrasam com qualquer um que tropece em seu território.

— …E a filha deles é mais legal? — Alta Elfa Arqueira perguntou com um calafrio, mas em vez de responder, Anão Xamã tomou um gole de vinho.

— Eles dizem que ela é uma excelente cozinheira.

— ……… — Sacerdotisa coçou uma bochecha, preocupada. Alta Elfa Arqueira parecia prestes a começar a chorar.

— Não posso dizer que conheço a verdade sobre o assunto. Apenas os rumores de que gente como essas vagueiam por essas montanhas.

— E você não poderia ter mencionado isso antes…?!

A voz de Alta Elfa Arqueira estava quase falhando, mas Anão Xamã simplesmente deu de ombros.

— Para qual finalidade? Eu só teria assustado as crianças.

— Ooo, Supremo Deeeeus… — Clériga Aprendiz estava realmente à beira das lágrimas, agarrada à sua espada e balança. Quanto a Guerreiro Novato, parecia que ele pensava que, infelizmente, sua aventura terminaria aqui.

Bem, isso era justo. E os cuidados de Anão Xamã também eram compreensíveis, mas…

— …Você realmente não deveria tentar assustar ninguém assim, ok?

Mas talvez ela pudesse colocar sua melhor voz de irmã mais velha e tornar as coisas um pouco mais fáceis para elas.

— Oh! — Anão Xamã exclamou alegremente quando Sacerdotisa o repreendeu — Ha-ha-ha, me perdoe. Bem, o ponto é, fiquem alerta.

— …Isso mesmo! E não confiem em nada que um anão diga…

— Sobre o que essa bigorna está tagarelando?

— Bem, por que esse anão está olhando para mim?

Alta Elfa Arqueira parecia estar de volta ao seu jeito alegre de sempre, mesmo que fosse apenas por uma questão de formalidade. Ela começou a cuidar de seu arco, o amarrou com seda de aranha, verificou a corda do arco e acenou com a cabeça satisfeita. Então piscou (não muito graciosamente) para os dois aventureiros mais jovens, que ainda pareciam completamente assustados.

— Não se preocupem! Se toparmos com qualquer gigante, vou atirar nele imediatamente!

— Acho que não.

A voz inesperada produziu uma reação instantânea de todos, exceto dois dos aventureiros. Alta Elfa Arqueira colocou uma flecha em seu arco, Anão Xamã enfiou a mão na bolsa, Lagarto Sacerdote descobriu suas presas e Sacerdotisa pegou a panela de água fervente.

— Huh? Huh? — gaguejou Guerreiro Novato e Clériga Aprendiz.

Ao lado deles, um par de orelhas longas e brancas se agitaram.

— Seria um grande problema para nós se você atirasse — a voz disse casualmente. Veio de um coelho branco parado ali com uma machadinha de lenhador no cinto. O nariz do homem-lebre se contraiu ao farejar o ar — A propósito, você acha que eu poderia ter um daqueles seus doces assados? Estou faminto.

 

 

 

 

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—  Nós, temos que comer todos os dias ou morremos — disse a lebre, um escoteiro e caçador da montanha, mordiscando o pão enquanto caminhava pela trilha com a facilidade de como se fosse um terreno plano, mesmo que estivesse na verdade em um caminho da montanha com declive acentuado.

—  Você não… Você não disse — disse Sacerdotisa, lutando para recuperar o fôlego. Eles estavam no alto entre os picos e o ar estava cruelmente rarefeito.

—  O céu é tão grande que os Aerials, os espíritos do ar, se espalham em todas as direções — Alta Elfa Arqueira explicou com uma risada.

— Se tivermos algo para comer, podemos durar para sempre, mas este inverno tem sido difícil.

— Isso é verdade… foi um longo inverno — Sacerdotisa, embora fosse muito mais resistente do que costumava ser, foi reduzida a se agarrar a seu cajado. Guerreiro Novato, sempre obstinado, ainda estava andando, mas Clériga Aprendiz agora estava montada nas costas de Lagarto Sacerdote.

— …Você está bem? — Sacerdotisa perguntou a seu companheiro.

— Se eu parar de mover meu corpo, ele pode nunca mais voltar a se mover. O calor de um passageiro humano é muito bem-vindo — Lagarto Sacerdote respondeu com seu sorriso habitual. Sua voz soou visivelmente mais fraca do que o normal, no entanto. O frio pode ser fatal para um homem-lagarto.

— Talvez você pudesse conseguir um chapéu felpudo como o meu. Não que você tenha muito a cobrir — Alta Elfa Arqueira disse com uma risadinha. Ela estava acostumada a viver no topo das árvores, então não havia hesitação ou ineficiência em seus movimentos. Ela seguiu o homem-lebre, a machadinha ainda na cintura, suas longas pernas dando passos leves — Tem certeza que não precisa de um? — ela perguntou a ele, exibindo orgulhosamente o chapéu felpudo sobre as orelhas — Orelhas compridas ficam geladas tão rápido, não é?

— Nós temos pelo.

— …Bem, tudo bem.

Do final da fila, Anão Xamã deu um suspiro claramente destinado à elfa abertamente desapontada.

— Você pode ignorar a bigorna. Já estamos chegando lá? — Anão Xamã tinha muita energia, mas ter braços e pernas atarracados tornava as coisas mais difíceis para ele. Os anões tinham uma grande afinidade com as colinas, mas viviam dentro delas. O alpinismo normalmente não estava em sua agenda. O xamã estava achando essa jornada até a aldeia do povo-lebre bastante cansativa.

— Quase, sim, quase lá, um pulo, uma pinchada e um salto! — Caçador Homem-Lebre disse, quicando em outra pedra — Poxa, que chato. Você pode culpar a Bruxa de Gelo por tudo isso.

De acordo com seu guia, a aldeia do povo-lebre existia mais ou menos pacificamente.

— Quando meu tataravô ainda era jovem, a vila no sopé da montanha foi destruída e perdemos todo o contato com os humanos.

— Isso há muito tempo…? — Sacerdotisa piscou. Muitas gerações teriam ocorrido há mais de um século.

— Não, não — disse Caçador Homem-Lebre, agitando as orelhas compridas — Quero dizer, com nosso cálculo, provavelmente não se passaram cem anos ainda.

A lebre saltou agilmente da rocha, a cabeça inclinada depois de atingir o solo. Uma pata peluda apontou indiferente para um ponto específico.

— Olhem, bem ali. Está vazio por baixo, então tomem cuidado.

— Caramba?!

Assim que Caçador Homem-Lebre falou, Guerreiro Novato afundou na neve. Era um lugar onde a neve se acumulou sobre algumas raízes ou fendas, uma armadilha natural. Uma vez lá dentro, era difícil sair. Se você não fosse morto instantaneamente, morreria em pouco tempo.

— Wh-wh-wh-whoa-!

— Aqui!

Esse foi o fim de sua aventura? Anão Xamã estendeu a mão para o jovem guerreiro frenético. A mão áspera do aventureiro mais velho agarrou o pulso fino do mais jovem e puxou. Guerreiro Novato se jogou na neve. Felizmente, sua clava tinha uma alça que estava enrolada em seu pulso, então ainda estava lá, embora ele a tivesse soltado.

— Oh, graças a Deus…

— Pare de brincar…! — Clériga Aprendiz disse rispidamente das costas de Lagarto Sacerdote, provocando um “Aw, cale-se!” de Guerreiro Novato.

Alta Elfa Arqueira, que pôde detectar a preocupação na repreensão da clériga, riu baixinho.

— Os humanos não podem ver essas pequenas armadilhas — ela disse, então saltou sobre a neve compactada tão delicadamente como se estivesse pulando uma poça. Ela acenou para os outros, no entanto, indicando a rota segura com um aceno de cabeça gentil — De qualquer forma, tudo está bem quando acaba bem. Então, o que aconteceu com essa Bruxa de Gelo?

— Olha, nosso povo ocasionalmente é pego por ptármigas ou pé-grandes, e ninguém reclama — Caçador Homem-Lebre, com a machadinha agora baixando, balançou a cabeça exausto — Mas está realmente piorando neste inverno.

— …E não era ruim antes?

Alta Elfa Arqueira parecia um tanto exasperada, mas Lagarto Sacerdote revirou os olhos.

— Os fortes comem os fracos; tal sempre foi o grande princípio orientador do mundo.

— Mas ter os pé-grandes nos caçando todos os dias em homenagem à era do inverno, isso é problema. Podemos levar-lhes outra comida para comer, mas então morreremos de fome. Opções limitadas.

Eventualmente, para os mais otimistas, seria de se esperar que o suprimento de alimentos e a população alcançassem o equilíbrio, mas…

— Mas morremos se não comermos todos os dias — repetiu Caçador Homem-Lebre, com os olhos baixos.

— A era do inverno…? — a expressão incomodava Sacerdotisa; ela estava começando a entender que, mesmo quando o homem-lebre parecia despreocupado, o assunto não era necessariamente menor. Os pé-grandes, governados por esta Bruxa de Gelo, seja ela quem for, estavam atacando a aldeia, roubando provisões e comendo pessoas.

Isso parecia um trabalho para aventureiros.

Com uma palavra do rei, o exército poderia ter entrado para resolver o problema, mas a aldeia do povo-lebre não tinha contato com o mundo exterior e não pagava impostos; dificilmente poderia ser chamado de parte deste reino. Não havia ninguém para salvá-los. Não…

— …Deus Supremo — de seu lugar nas costas de Lagarto Sacerdote, Clériga Aprendiz agarrou o símbolo sagrado pendurado em seu pescoço.

Agora ela sabia.

Sabia o que sua esmola significava. Por que eles foram guiados para esta montanha.

Sacerdotisa olhou para Clériga Aprendiz, viu a fé da garota confirmada e acenou com a cabeça. Um sorriso apareceu nas feições de Sacerdotisa, embora por dentro ela estivesse confusa.

E eu?

Ela receberia tais comandos da Honorável Mãe Terra? Ela poderia continuar a cumprir seu papel?

Ela não deve duvidar de sua própria fé. Não deve se sentir assim por sua deusa…

Matador de Goblins…

De repente, ela se perguntou onde ele estaria naquele momento. Ele já estaria de volta à cidade? O que ele pensaria quando descobrisse que ela havia partido? Que nenhum deles estava lá…

Será que ele não ligaria e simplesmente sairia para caçar goblins sozinho de novo? Por que ela se encontrava atormentada por tal consternação simplesmente por estar separada dele? Sacerdotisa percebeu o quão desesperadamente ela queria vê-lo e suspirou profundamente.

Garota tola.

Ela não era mais uma criança.

— Sim, hup, olhem para a frente, todos. Aí está — Caçador Homem-Lebre deu um salto final e apontou.

Sacerdotisa ergueu os olhos tardiamente.

— Oh, nossa…

Em uma espécie de ravina entre os cumes das montanhas, uma série de pequenos ninhos foram escavados. Portas bem pintadas selavam cada uma, pequenos caminhos correndo em padrões agradáveis ​​desde as entradas. Eles eram habitações de lebres, distintas das casas de humanos ou elfos. A única coisa a estragar a cena idílica foram as expressões preocupadas, as orelhas visivelmente perturbadas, das pessoas-lebre que iam e vinham; pareciam pouco à vontade.

— Oh…! — Clériga Aprendiz exclamou, causando um questionamento de Sacerdotisa.

— Qual é o problema?

— Olhe! Olhe, bem ali!

— Lá…?

— No centro da aldeia…!

Huh? Sacerdotisa semicerrou os olhos, mas então ela prendeu a respiração.

— Entendo — disse Alta Elfa Arqueira, murmurando com admiração — É difícil encontrar um lugar onde ninguém nunca tenha estado antes.

Bem no centro da aldeia, em uma grande praça aberta, havia um único pilar estreito. Era um grande, antigo e enferrujado cajado.

Antigo como o próprio tempo, o desenho era o de uma espada com balanças penduradas.

A salvação divina do Deus Supremo havia alcançado este lugar; não havia dúvida.

 

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— Ei, mãe! Eu trouxe de volta uma apóstola do Deus Supremo!

— Meu Deus — disse uma mulher-lebre corpulenta com um aplauso entusiasmado — Vamos comer, então! — sua saudação foi tão calorosa como se ela estivesse vendo velhos amigos.

A casa de Caçador Homem-Lebre, isto é, o ninho, ficava atrás de uma porta um tanto pequena para um humano, mas dentro da casa, até um homem-lagarto poderia relaxar. O teto era um pouco baixo, mas o tapete de grama de verão era convidativo para os pés.

Mais do que tudo, nem é preciso dizer como foi acolhedora a hospitalidade da esposa-lebre. Ela havia preparado uma sopa de raiz vermelha com acelga, como se soubesse que viriam visitantes. O sabor não era familiar, mas apenas uma garfada os aquecia do fundo do coração até a ponta dos dedos.

— Ah, infelizmente devo recusar — Lagarto Sacerdote disse se desculpando enquanto todos saboreavam a sopa — Receio que as coisas com folhas não sejam tanto do meu agrado.

— Ah minha nossa, sinto muito por isso. Meu marido não está por perto, sabe…

— Aconteceu alguma coisa? — Sacerdotisa perguntou entre duas grandes colheres de sopa.

— Papai se transformou em uma torta saborosa — disse Caçador Homem-Lebre solenemente, tirando um rabanete da tigela de sopa.

— Oh, eu sinto muito…! — Sacerdotisa disse, curvando-se rapidamente.

Caçador Homem-Lebre, entretanto, acenou com a mão e disse — Não se preocupe com isso. Não nos importamos. O morto está morto.

— …Uh, de qualquer maneira, você tem certeza sobre isso? — Alta Elfa Arqueira perguntou em uma tentativa abrupta de mudar de assunto — Quero dizer, nós pegando sua comida? Você está nos dando tanto…

Clériga Aprendiz deu uma cotovelada em Guerreiro Novato, que acabava de esvaziar sua terceira tigela de sopa.

— O que? — ele fez beicinho.

— Oh, está tudo bem — a esposa-lebre disse brilhantemente — O nome dos Homens-Lebre seria manchado se deixássemos os convidados ficarem sem comida.

— Ah — disse o Anão Xamã, engolindo a sopa de cenoura como se fosse vinho — Pensando naquela história do coelho que se assou para alimentar o viajante?

— Deus, movido pela bondade de coração naquele ato, nos ensinou a orar em troca.

— Então você está dizendo que… nós podemos comer a comida? — Alta Elfa Arqueira perguntou, ainda perplexa.

— O que ela está dizendo — respondeu Lagarto Sacerdote — É que os homens-lagarto têm seus mitos, os elfos tem os deles e os homens-lebre também.

— O que ela está dizendo é que seria mais rude não comer a comida! Aqui, coma — Anão Xamã a encorajou.

— Tem certeza de que é você quem deveria falar isso? — Alta Elfa Arqueira questionou com um olhar de esguelha.

— Ele está certo, no entanto — a mulher-lebre disse, seus olhos se estreitaram alegremente — Por favor, comam o quanto quiserem — então ela encheu a tigela de Alta Elfa Arqueira e a expressão da elfa se suavizou. Nunca houve em qualquer época alguém que pudesse resistir por muito tempo a uma comida quente, deliciosa e sincera.

— Mais uma tigela, então… — era compreensível que Sacerdotisa perdesse a luta contra a tentação. Talvez fosse simplesmente porque as tigelas do povo-lebre eram um pouco menores do que ela estava acostumada…

Quando a refeição acabou e o chá estava chegando, Sacerdotisa pigarreou.

— Então, aham… Sobre a Bruxa de Gelo — o chá de groselha tinha um leve amargor de remédio e um único gole enviava um frescor purificador à boca. Também pareceu ajudar as palavras a saírem facilmente, pelo que ela era grata.

— Hmm, bem, como eu disse, estamos acostumados com os tremores das montanhas — Caçador Homem-Lebre segurava uma xícara fumegante com as duas mãos, as pernas balançando — Mas este inverno pareceu excepcionalmente longo e intenso. E isso significa…

Então aconteceu.

Thump. Um passo, mesmo sendo só um passo, sacudiu o solo, acompanhado por um estrondo como um tambor. Alta Elfa Arqueira e Sacerdotisa estremeceram, o som sacudindo-os profundamente.

O inverno está aqui, o inverno está aqui,

nossa temporada chegou.

Hah, jogue suas cartas mágicas,

lance seus feitiços e levante sua voz.

Dados não significam nada,

inteligência e força em nossos braços

nossos braços para lutar, agora vamos lutar.

A Bruxa do Gelo falou certo:

esses picos não precisam dos fracos.

O verão dos mortos acabou

aqui, orgulhosamente, as flores de lótus negras.

O inverno está aqui, o inverno está aqui,

nossa temporada chegou!

A música rolou pelas colinas como o estrondo de um trovão.

— O-o que diabos…?! — Alta Elfa Arqueira exigiu, tirando o chapéu.

— …Huh, então eles estão aqui — Caçador Homem-Lebre, parecendo sério, levantou-se — Mãe, mãe, apresse-se e se esconda na despensa.

— Sim, claro.

— E cuide do irmão e irmã e irmão e irmão e irmã e irmão e irmã!

— Eles vão voltar para casa em breve.

Lá estava Caçador Homem-Lebre, alarmado, e a matrona-lebre, bastante melosa. Os aventureiros, todos exceto Guerreiro Novato e Clériga Aprendiz, correram para a janela. Lagarto Sacerdote se inclinou para que ele pudesse ver, seu rosto quase no mesmo nível do de Anão Xamã.

— Você pode porventura consegue ver alguma coisa?

— Não muito… Ei, o que você acha?

— Não consigo ver nada — murmurou Alta Elfa Arqueira, a quem a pergunta fora direcionada; suas orelhas compridas estavam sacudindo — Mas ouvi três vozes e passos diferentes. Um trio de inimigos.

— Sim, isso mesmo — Caçador Homem-Lebre disse, empurrando a machadinha em seu cinto — Os mesmos três de sempre. Vou cortar suas cabeças hoje…!

— Hmm — Sacerdotisa disse, colocando uma linda ponta do dedo branco em seus lábios em contemplação.

Um ataque inimigo. Eles deveriam receber o ataque. Não havia dúvida.

Matador de Goblins… o que ele faria?

Ele com certeza agiria sem hesitação, mas com pensamento cuidadoso.

Uma canção. Gigantes. Uma bruxa.

— …Vamos também — Sacerdotisa disse decisivamente — É para isso que viemos aqui!

Todos os aventureiros concordaram com a mesma certeza. Desta vez, isso incluía Guerreiro Novato e Clériga Aprendiz.

 

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— Agora, quem estará lutando contra nós?

— Serei eu! — um bravo menino-lebre disse em uma voz que rolou pelo vale enquanto ele pulava de seu ninho.

Os maciços e musculosos pé-grandes eram humanoides deformados cobertos por pelo branco. Eles haviam sido muito reduzidos desde os dias de seus ancestrais, os gigantes, de modo que agora pareciam, à primeira vista, macacos muito grandes, mas ainda tinham facilmente mais de três metros de altura, ainda eram dignos do nome “gigantes”.

— Você, hein?

— O que vamos fazer com você?

— Não pense que você pode nos equiparar em termos de força.

E havia três deles.

Eles sorriram, parecendo não muito brilhantes; estes foram os três que mantiveram esta aldeia em um estado de medo perpétuo.

Claro que foram eles próprios que convocaram uma luta. Eles sabiam muito bem que poderiam vencer um concurso de violência. Eles poderiam arruinar esta vila com a mesma facilidade com que quebrariam um graveto.

Mas isso não era divertido, então eles exigiram um concurso. Eles alegaram que, se fossem derrotados, poupariam a vida do vencedor, mas se ganhassem, eles poderiam fazer o que quisessem com o perdedor. Comê-lo ou usá-lo como brinquedo.

O povo lebre, naturalmente, não teve escolha a não ser aceitar. Era melhor do que ser abatido de uma vez.

— Bom, bom, tente, então — disse um dos pé-grandes. Ele apontou para alguns arbustos de mirtilo na orla da aldeia — O primeiro a alcançar aquelas frutas vence. Preparado?

— Ah, estou pronto! — o menino-lebre disse e assim que o megera gritou “Jáááá!” ele começou a correr. Ele não era o mais rápido da aldeia, mas não era desleixado e conhecia o terreno como a palma da mão. Ele tinha a mente quase tão rápida quanto os pés e, embora não tivesse certeza de que poderia vencer, não pretendia perder.

Essa intenção não sobreviveu ao primeiro passo do pé-grande.

— ?!?! — o grito não veio do jovem coelho, mas sim dos outros aldeões que olhavam de seus ninhos.

Com o segundo passo, o pé-grande fechou a distância ainda mais e no terceiro, ele pegou um punhado de mirtilos.

— Ha-haaa, parece que eu ganhei!

— Ah… Urgh… Hrrgh…!

Era como se todos os ossos de seu corpo estivessem emudecidos. No início, ele nem sentiu dor, apenas percebendo como era difícil respirar de repente, mas a essa altura, o menino não conseguia mais mover nem um dedo. Ele se contorceu de agonia, uma dor que se tornou duas vezes pior, depois dez vezes, percorrendo todo o seu corpo. Ele poderia ter comparado isso a ser atingido por um raio, se ele tivesse tempo para tal pensamento.

Mas ele não teve nem um minuto antes que sua vida acabasse. Ele pode nem ter sentido o gigante erguê-lo pelas orelhas e colocá-lo na boca.

— Hmm. Esses coelhos, tão pouca carne e tantos ossos.

— E você, um glutão? Você vai comer qualquer coisa.

— Gostaria que houvesse um pouco mais disso.

— Ei, as ordens não eram para trazê-los vivos de volta?

— Aw, nós só comemos um. Ela nem vai saber.

Uma conversa cordial ocorreu em meio aos sons de trituração e mastigação. Sacerdotisa e as outras, que acabavam de entrar em cena, observavam tudo, tremendo.

— Chegamos tarde…! — nas sombras, ela agarrou seu cajado e cerrou os dentes.

Não sei se poderíamos ter feito alguma coisa, mesmo se tivéssemos chegado aqui antes.

O pensamento era fraco e ela o empurrou desesperadamente, olhando para os pé-grandes.

Ela odiava pensamentos assim. Nunca quis dizer que as ações de seus companheiros naquele dia, naquela hora, em que decidiram mergulhar naquele primeiro ninho de goblins, tenham sido equivocadas. Ela, entre todas as pessoas, não queria dizer isso. Ou assim ela se sentia.

— O-o que vamos fazer…? — Clériga Aprendiz parecia totalmente perdida.

— Só há uma coisa a se fazer! — Caçador Homem-Lebre exclamou— Eu irei a seguir!

— Guh?! — Guerreiro novato sufocou — Nem pense nisso! Você viu o quão grande é essa coisa?!

Ele tentou conter Caçador Homem-Lebre, que gritou — Me deixe iiiiiir!

Havia três inimigos. Enormes e poderosos. Guerreiro Novato estava certo, eles podem ter sido lentos, mas esse déficit foi eliminado pelo tamanho de seus corpos. Quanto à inteligência deles… bem, quem poderia dizer?

O que Matador de Goblins faria…?

Sacerdotisa imaginou a maneira como ele reagia a uma situação dessa. E então ela fez o mesmo.

— O que você acha?

— Bem, agora — Lagarto Sacerdote revirou os olhos como se estivesse se divertindo. Sacerdotisa olhou para o chão, envergonhada de perceber que ele tinha visto através dela. Seu rosto estava quente — O que eles dizem sobre cabeças grandes e pouca inteligência? Embora não tenha certeza se vale neste caso… — Lagarto Sacerdote bateu em sua própria cabeça com uma garra afiada — O que importa é a relação entre o tamanho do cérebro e o tamanho do corpo. Inteligência simples.

— Hmm — disse Alta Elfa Arqueira, apertando os olhos e contando nos dedos — As cabeças deles são ligeiramente menores do que as de um humano, eu acho. Talvez do tamanho de um macaco.

— Mas este não é um lugar muito vantajoso para lutar contra eles — disse o Anão Xamã com uma carranca, tomando um gole de vinho muito desgostoso —Estamos bem no meio da cidade. Uma agitação aqui pode sair do controle rapidamente.

— Então, talvez nossa melhor opção seja dar a batalha cara a cara e aberta, e evitá-los da mesma maneira — Lagarto Sacerdote ofereceu — Então, o que você propõe que façamos?

O olhar coletivo do grupo pousou em Sacerdotisa. Até Caçador Homem-Lebre, com os braços ainda presos atrás dele pelo Guerreiro Novato, olhou para ela.

Bem… hum…

Ela colocou um dedo pálido e bem torneado nos lábios e reflexivamente murmurou.

— Hmm.

Eles não tinham muito tempo e suas opções eram limitadas. Ela tinha que colocar tudo isso na balança. Tinha que fazer seu cérebro funcionar.

Me pergunto se ele já teve momentos como esses.

O pensamento trouxe o fantasma de um sorriso ao rosto dela. Seu coração parecia ligeiramente mais leve.

— …Vamos fazer isso — ela tomou uma decisão — Eu tenho um plano.

 

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— Eu serei sua oponente!

Uma voz clara ecoou pelo vale e deixou os pé-grandes piscando.

Da sombra de uma pequena construção na vila dos homens-lebre, uma garotinha magra emergiu. Uma humana. Ela estava vestindo uma vestimenta de sacerdote e segurando um cajado. Uma aventureira. Os pé-grandes se entreolharam e sorriram.

— Bem, olhe para você, hein? Esperando que comamos você de cabeça?

— Não sei, acho que ela pode ser um belo brinquedo.

— Não, não, vamos rasgá-la para que suas entranhas fiquem do lado de fora!

A maneira como riam era nojenta (embora eles próprios certamente não pensassem assim) e a garota enrijeceu um pouco. Isso divertiu ainda mais as criaturas, suas gargalhadas ecoando por todo o vale.

— E-eu, eu…

— O nome dela é Noman.

A voz trêmula da garota se harmonizou com outra muito mais profunda e sombria. Os pé-grandes olharam e encontraram um homem-lagarto que parecia ter surgido do chão, embora ainda fosse minúsculo em comparação com eles.

— Pelos ancestrais dela — o homem-lagarto disse — Ela deve desafiar todos vocês. Ela é a garota, ninguém menos que Noman.

Ignorando a maneira como a garota rapidamente curvou a cabeça para o lagarto, os pé-grandes olharam perplexos. O homem-lagarto era um servo do Caos? Eles não sabiam. Eles poderiam simplesmente ignorá-lo. Ou talvez comê-lo.

Mas e se ele fosse um servo do Caos? E se ele fosse amigo da Bruxa de Gelo? Então eles realmente ouviriam sobre isso.

Ele não parecia muito saboroso, de qualquer maneira. Se iam comer, preferiam a garota.

Bem, isso resolveu tudo.

— Tudo bem, muito bem. Parece bom para nós — disse um dos pé-grandes com uma reverência magnânima, porém condescendente — E como você nos desafiaria?

— Hum, bem… — a garota Noman olhou em volta rapidamente, como se esperasse encontrar inspiração no cenário, o que os pé-grandes acharam profundamente divertido. Este concurso não era nada, já havia acabado antes de começar. Eles não tinham como perder, por isso estavam se divertindo tanto. Era o pensamento arrogante e temível, tão característico dos servos do Caos, dos seres Não Propensos à Crença.

— Aquela árvore, então — a garota disse por fim, apontando para uma árvore logo além dos limites da aldeia — O primeiro a arrancar uma folha daquela árvore vence… O que vocês acham disso?

— Não nos importamos nem um pouco.

— Além disso… — a voz da garota tremia de incerteza quando ela acrescentou — A regra é, você não pode tocar o corpo do seu oponente…

— Muito bem — o pé-grande acenou com a cabeça, ainda sorrindo. Ele lançou um olhar para seus companheiros atrás dele e ambos acenaram para ele — Quando você perder, você pertencerá a nós. Combinado?

— Sim — disse Sacerdotisa — Você pode fazer o que quiser comigo.

— Prepare-se e vamos, então!

Quando o gigante deu seu primeiro passo, ele estava convencido de que já havia vencido. Sua cabeça já estava cheia de coisas que faria mais tarde. Ele estava cansado de comida crua; ele gostaria de ter uma chance de cozinhar algo. Que tal uma boa carne cozida desfiada?

Ele poderia pegá-la pela cabeça, tomando cuidado para não esmagá-la entre os dedos. Quase podia sentir a garota lutando como um inseto. Ele a cutucava na barriga e no peito com os dedos.

Ela iria gritar e chorar, sem dúvida. E então, quando ele estivesse satisfeito e pronto, arrancaria um braço ou uma perna. Que expressão cruzaria seu rosto quando ela percebesse que isso continuaria até sua morte? E quão mais desesperada ela ficaria quando visse que seria espancada e usada antes que a morte viesse?

E assim o pé-grande não registrou o que tinha acontecido quando ele deu seu segundo passo.

Ele nem mesmo estava olhando para a garota Noman quando ela colocou uma pedra em uma tipoia e a jogou pelos ares. Ela passou assobiando por sua cabeça e atingiu a raiz da árvore.

Houve um estalo seco e as folhas caíram da árvore.

— Eu consegui…!

— O-o quê…?! — o pé-grande gritou, girando. Ele queria dizer que era trapaça, que não contava, mas a próxima coisa que viu foi uma pedra vindo em sua direção.

Ele estava inconsciente antes mesmo de perceber que havia caído.

Afinal, desde tempos imemoriais, os gigantes são vulneráveis ​​a pedras atiradas por humanos…

 

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— Eu consegui…! — Sacerdotisa exclamou, apontando para o pé-grande, que desabou com um grande estrondo — E agora que ganhei, eu… uh, eu tenho direitos!

— Mmm — Lagarto Sacerdote acenou com a cabeça, mas é claro que os pé-grandes restantes não estavam inclinados a acatar seu julgamento. Em vez disso, agitados, eles batiam no peito de forma ameaçadora, gritando e uivando.

— Irmão! Nosso irmão apagou! Noman pegou nosso irmão!!

Mas a criatura que se virou gritando para Sacerdotisa ainda não era particularmente inteligente. Como seu irmão falecido, tudo em que conseguia pensar era em pegá-la e esmagar sua cabeça entre os dedos.

Gnomos! Ondinas! Façam para mim a mais fina almofada que se verá!

Portanto, o pé-grande nunca percebeu o anão espreitando a seus pés. A neve se transformou em lama, que não suportava o peso da criatura; ele afundou direto nela.

— Hr-hrragh…?!

— Oh, por q…! Por que continuo fazendo trabalhos físicos hoje em dia…?!

Ele também, naturalmente, nunca imaginou a arqueira élfica circulando em volta dele com uma corda para amarrá-lo.

— Nrragghh?! — não havia nada que ele pudesse fazer; o pé-grande, enorme como era, simplesmente caiu. Ele caiu no chão com um estrondo e um grito bastante impróprio. A neve voou como um gêiser; o pé-grande bateu sua cabeça e perdeu a consciência.

— E assim o concurso está concluído! — a proclamação sanguinária de Lagarto Sacerdote foi feita com uma voz rugindo digna de um dragão. Ele caiu sobre o gigante que havia sido atingido por uma pedra para acabar com ele, como as regras agora permitiam — Devo dirigir minha mão a este próximo e assim que o fizer, irei privá-lo de sua cabeça e oferecer seu coração em sacrifício!

— U-urrgh…! — o pé-grande sobrevivente ficou sem escolhas. Quando um homem-lagarto disse que faria algo, ele faria, a Ordem e o Caos que se danem. O gigante olhou do irmão morto para o inconsciente e então se encolheu. Nisso, pelo menos, ele se mostrou talvez mais inteligente do que seus irmãos.

— Noman! Noman matou meu irmão!! — ele ergueu os outros com tremenda pressa, então se dirigiu para as profundezas da montanha com sua cauda metafórica entre as pernas.

Lagarto Sacerdote ouviu os passos retumbantes se retirando com profunda satisfação.

— E estamos satisfeitos com este resultado, então?

— Sim, muito obrigada — Sacerdotisa colocou a mão em seu pequeno peito e soltou um suspiro. Seu coração estava batendo como um alarme, estava tão grata por tudo ter corrido bem.

Só não gosto de deixar as coisas para a sorte.

— Isso foi… incrível!

— Você venceu eles…

Sacerdotisa foi trazida de volta a si pelas duas pessoas que estavam esperando apenas no caso de o pior acontecer. Guerreiro Novato e Clériga Aprendiz, ainda gentilmente segurando Caçador Homem-Lebre, estavam olhando para ela com os olhos arregalados.

— Sorte… Sério, isso é tudo — ela sorriu timidamente, achando seus olhares um pouco intensos — Se Matador de Goblins estivesse aqui, ele teria pensado em algo muito melhor…

Estou certa disso. Mas essas palavras apenas provocaram olhares sem palavras nos outros.

Por que? Sacerdotisa olhou para eles com curiosidade, perguntando-se se ela havia dito algo estranho.

— Mas você é… Agora olhe, eu não estou reclamando, ok? Mas você é uma Sacerdotisa, certo? — Caçador Homem-Lebre parecia quase tão confuso quanto ela. As orelhas compridas balançaram e o caçador continuou hesitante — Você não meio que… enganou eles? Está tudo bem?

— Er… — Sacerdotisa soou profunda e sinceramente surpresa — Mas… eu não toquei neles, toquei?

Ela tinha seguido as regras.

Alta Elfa Arqueira, acabando de se juntar ao grupo, ouviu isso e lançou um olhar para o céu, sem palavras.

 

 


 

Tradução: Nero

Revisão: Sönny

 

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