Matador de Goblins – Vol. 08 – Cap. 03.5 – Interlúdio – A Moça Intrometida Que Quer Ir a Uma Aventura

— Argh, meu irmão é o pior! — A garota rolava na cama, as mãos batendo nos cobertores. — Ele pode ir aqui, ali e em todos os lugares, enquanto eu nem tenho permissão para ir lá fora!

— Ele não pode evitar, certo? É o trabalho dele.

— Mas dizem que a pedra de fogo do céu caiu sobre a montanha…

— Não foi dito para você não falar sobre isso tão descuidadamente? — Sua amiga e criada, a pessoa que cuidava de seus negócios, lançou-lhe um olhar tenso. Era a mesma expressão que adotava toda vez que a garota reclamava do irmão que corria de um lugar para o outro.

Fazia sentido que a mulher achasse os discursos da garota desconcertantes, visto que o irmão dela era seu patrão. A criança sabia perfeitamente bem disso, mas a natureza humana a impedia de realmente aceitar.

— Meu irmão costumava ser um aventureiro, mas quando digo que quero ser uma aventureira, ele fica chateado.

— Isso porque ele conhece o mal e a dor, assim como o bem.

Argh. Ele nem mesmo levou uma flechada no joelho¹Na Mitologia Nórdica, a flechada no joelho é porque quando o homem pede a mulher em casamento, ele costuma ajoelhar- se, e o fato de deixar de ser um “aventureiro” é porque já é um homem casado e tem suas responsabilidades como marido, tendo que abandonar seu costume antigo e arranjar um emprego para se sustentar, tanto que viraram guardas. É também um meme bem conhecido de The Elder Scrolls V: Skyrim.. A garota estufou as bochechas e olhou pela janela.

Desde as primeiras horas da manhã, um imenso fluxo de pessoas entrava e saía da capital. Todo tipo de pessoa chegava de todos os lugares do mundo, por todos os motivos imagináveis. Ela nunca teria a experiência disso, trancada neste quarto por toda a sua vida.

— Sorte deles…

— Você está realmente tão ansiosa para sair?

— Bem, claro que estou — respondeu a garota imediatamente, rolando na cama.

— Nem todas as coisas lá fora são boas — disse sua amiga timidamente.

Um plano ultrajante após o outro passou pela cabeça da garota enquanto olhava para o teto. Tinha ouvido histórias de cidades onde se esperava que as meninas saíssem de casa com certa idade, quase como um rito de passagem. Então, por que ela não poderia, e por que não deveria se tornar uma aventureira?

Talvez um dia eu derrube essas paredes. Como se pudesse.

Todo mundo tinha fantasias semelhantes. A maioria, é claro, nunca agia de acordo com elas. Sabiam que muitos falhavam e encontravam problemas no processo.

Mas, bem, ninguém que não avance com essas fantasias pode ter sucesso. Nem Destino nem Acaso podem dizer como os dados cairão; a única coisa que se pode fazer é jogá-los.

Apenas aqueles que nunca jogaram os dados, pensou a garota, podem sentar-se e oferecer banalidades. Mas, no momento, ela não tinha permissão nem para jogar os dados. Isso a irritava terrivelmente.

Odeio quando as pessoas simplesmente tomam decisões por mim.

Decisões sobre o futuro, sobre o que ela poderia fazer, sobre o mundo – sobre tudo.

Um dia, ela provavelmente seria prometida e então se casaria. Era mais ou menos inevitável e sabia disso.

Mas ainda não vi nada.

Ela tinha ouvido falar que o mundo estava transbordando de danos causados ​​por goblins. Tinha ouvido canções sobre um herói que atacou uma fortaleza no topo de uma montanha de gelo para resgatar uma donzela em perigo. O rei e seus ministros, junto com os magos da corte e o exército, todos sabiam sobre os goblins, mas nenhum deles tinha feito nada.

Porque nunca viram isso, tenho certeza.

Até mesmo o irmão dela – ele disse que já foi um aventureiro, mas se recusou a compartilhar qualquer história de suas aventuras com ela. Provavelmente tinha apenas deixado os membros do seu grupo protegê-lo. Com toda a probabilidade, não tinha sido tão importante.

Ele provavelmente nem sabia nada sobre goblins.

— Hmm… Isso faz sentido.

Ela não conseguia decidir porque nunca tinha visto.

Tinha que ver por si mesma e então fazer uma escolha.

Os deuses podem ser os que jogam os dados, mas foi ela quem decidiu o que fazer.

— Diga, você disse que seu irmão é um comerciante, certo…?

— Sim, embora ele seja meu primo. Ele sai no momento em que abrem o portão todas as manhãs, faz suas vendas e depois volta para casa — explicou a amiga, aparentemente com a impressão de que os pensamentos da garota inconstante já tinham se voltado para outras coisas.

— Huh — disse a garota, cruzando os braços onde se sentou na cama. Sua mente saltando de uma coisa para a outra.

Então, de repente, sua amiga olhou pela janela e disse:

— Nossa.

— O que está acontecendo?

— Parece que seu honorável irmão voltou para casa.

— Mesmo?!

— Sim, vejo a carruagem lá. — Quase antes de sua amiga terminar de falar, a garota pulou da cama. Ignorando as tentativas da mulher de trocar suas roupas e saiu voando do quarto.

Os servos que passavam olharam para ela com espanto; então perceberam quem era e simplesmente suspiraram em resignação.

— Bem-vindo ao lar, Irmão!

Ela o cumprimentou o mais calorosamente que pôde, pensando:

Agora ele nunca vai suspeitar que vou fugir esta noite.