Passaram por um corredor tecido de galhos e descobriram que seu quarto era o oco de uma grande árvore zelkova. Uma cortina de videira estava pendurada sobre a entrada da grande câmara.
Um tapete de musgos compridos estava espalhado pelo chão e havia uma escrivaninha e cadeiras que pareciam ser nós estendidos da própria árvore. Folhas quase translúcidas estavam agrupadas em frente à janela, permitindo a entrada da luz da tarde com seu calor suave. As cortinas de videira aqui e ali deviam ser as entradas para os dormitórios.
A única coisa na sala que sugeria o trabalho de algo não natural era uma tapeçaria élfica que parecia ser tecida com fios de orvalho matinal. As ilustrações delicadas e fluidas retratavam uma série de histórias que remontavam à Era dos Deuses. Ao contrário dos mitos e lendas que os humanos contavam, as chances eram de que os elfos tivessem observado essa história com seus próprios olhos.
Não havia lareira, por razões óbvias, mas o calor da árvore em si, temperado pela brisa, era perfeitamente confortável.
Melhor ainda, toda a sala estava impregnada pelo aroma da madeira.
Vaqueira respirou fundo, saboreando o cheiro, e depois o exalou lentamente.
— Isto é incrível! Só ouvi falar de algo parecido em histórias.
Ela se sentiu errada, de alguma forma, entrando na sala com suas botas de couro sujas. Entrou o mais silenciosamente que pôde, um passo, depois dois.
Ao se aproximar de uma das cadeiras, descobriu que cogumelos cresciam nela como uma almofada.
Ela sorriu, realmente parecia um velho conto de fadas. Tentou se sentar suavemente. A almofada estava macia e inchada sob seu traseiro quando ela afundou nela. Depois se pegou exalando de admiração.
— Uau… Isso é ótimo.
— Hum, tá… Deixe-me tentar…!
Agarrando nervosamente o seu bastão, Sacerdotisa se deixou cair em uma das cadeiras. Os cogumelos habilmente sustentaram sua estrutura leve.
— Eek! Ack! — exclamou, como uma garotinha, arrancando uma risada de Garota da Guilda.
Essa clériga era como uma criança tentando agir como adulta. Ela sempre aproveitava para se divertir quando se apresentava.
— Conheci alguns elfos aventureiros, mas nunca fui convidada para a casa de algum deles — disse ela, olhando atentamente ao redor da sala. Então passou a mão pela tapeçaria na parede, uma que mostrava um herói meio-elfo e seus companheiros lutando pela Lança do Dragão. Devia ser uma cena de algum épico militar. — Como isso foi feito? — perguntou Garota da Guilda. — Isso é outra coisa feita pelas fae?
— Não foi feito, mas sua conjectura não está totalmente errada — respondeu o elfo com o capacete brilhante, com um toque de cortesia para com esta humana experiente. — A floresta nos dá sua afeição e cria a forma dessas coisas, uma expressão de seu poder.
— Dizem que se vai aos anões em busca de moradias robustas, aos rheas em busca de conforto e aos homens-lagarto em busca de fortalezas — disse Lagarto Sacerdote, varrendo o rabo com grande interesse ao longo do carpete de musgo. Ele soltou um suspiro, aparentemente aliviado ao descobrir que mesmo o apêndice longo e pesado não deixou nenhuma marca no revestimento do piso. — Mas que coisa, as casas élficas são profundamente intrigantes por si mesmas.
— Ouvir isso de um filho dos nagas é um elogio, de fato — disse o elfo com um gesto elegante. Uma demonstração de respeito, supunha-se, pelos corajosos e antigos homens-lagarto que tanto conheciam do ciclo da vida. Ele acrescentou de forma autodepreciativa: — Receio que, ocupado como estou com os preparativos para esta ocasião alegre, não tive tempo de tornar suas habitações adequadamente convidativas…
Alta Elfa Arqueira, no entanto, deu-lhe um soco impiedoso com o cotovelo e disse com os olhos semicerrados:
— Agora, irmão, não procure elogios.
— Erk…
— Não me importa o quão ocupado você estava, aposto que levou meses.
Ela fungou e então pulou sobre o musgo e para uma das cadeiras.
— Eu fico nesta aqui! — exclamou, pousando na almofada de cogumelo do assento com a melhor vista da janela.
Alta Elfa Arqueira parecia capaz de plantar seus pés ali mesmo.
— Que rude. — Seu cunhado franziu a testa. — Se ela visse isso, acho que você entenderia o que ela pensa.
— Você ouviu isso? Ainda nem casaram, e ele já está dizendo “ela isso” e “ela aquilo” como se ela fosse sua esposa! — Ela gargalhou com um som como o de um sino tocando, ignorando completamente a repreensão de seu cunhado. — Então, qual é o próximo?
— Hrm, vocês sem dúvidas estão cansados de sua longa jornada, então preparamos um banho e uma refeição do meio-dia para vocês.
O elfo com o capacete brilhante esfregou a testa como se estivesse lutando contra uma dor de cabeça, mas manteve a dignidade natural de seu povo. Talvez estivesse acostumado a ser incomodado por sua futura cunhada assim. Afinal, haviam passado dois mil anos juntos antes de ela partir.
— O que vocês gostariam de fazer? — perguntou ele.
— Vou descarregar a bagagem — respondeu Matador de Goblins de imediato. — Os goblins ainda podem vir.
A essa altura, dificilmente precisaria registrar as reações de seus companheiros a essa observação.
O elfo com o capacete brilhante se viu olhando com certo espanto. Alta Elfa Arqueira pressionou uma das mãos em sua bochecha e acenou com a outra.
— Então também vou ficar aqui. Nunca se sabe quando minha irmãzona pode aparecer. — Ela soltou uma risadinha resignada, à qual os outros estavam acostumados. Portanto, todos acenaram com a cabeça juntos.
— Acho que vou pegar um pouco de comida enquanto as mulheres cuidam de suas coisas.
— Creio que concordo com esse plano.
— Você tem… tem certeza? — perguntou Garota da Guilda, piscando. Pois sempre que ela cuidava de aventureiros, havia poucas oportunidades para os aventureiros mostrarem carinho por ela. Uma expressão ambígua surgiu em seu rosto com essa situação incomum, e ela balançou a cabeça hesitantemente. — Se você tem certeza de que podemos ir primeiro…
— Iremos primeiro à nossa maneira. As mulheres não devem ter prioridade em cuidar de sua aparência?
— Bem, então, muito obrigada. Ficarei feliz em lavar a poeira e o suor. — Garota da Guilda acenou com a cabeça mais uma vez, desta vez se desculpando, mas não tinha nenhuma objeção real.
Sacerdotisa saiu de sua cadeira de cogumelo e foi até Matador de Goblins.
— Pois não? — perguntou o capacete, virando-se para ela. Ela o enfrentou com um dedo pálido.
— Matador de Goblins, senhor, você tem que se certificar de comer e tomar banho, viu?
— Sim.
Ele não parecia muito feliz com isso, mas Sacerdotisa estava satisfeita. Ela estufou o pouco peito em triunfo.
Vaqueira sorriu desamparadamente.
— Ei, não vá pegar as coisas das meninas, especialmente as mudas de roupa. — Ela conscienciosamente tocou nesse ponto. Contanto que o avisasse, ela sabia que ele teria cuidado, mas se não dissesse nada, bem, ele seria capaz de ser totalmente ignorante.
— Quais são elas…? — Matador de Goblins parecia um pouco preocupado.
Vaqueira acenou com a cabeça.
— Vamos pegar algumas roupas para depois do banho, então tente se lembrar de em quais malas as pegamos.
— Certo.
— Mas não olhe nelas!
— Talvez outra pessoa além de mim deva cuidar dessas malas.
— O quê? — A voz da Alta Elfa Arqueira soou, suas orelhas batendo e um sorriso cruzando seu rosto. Ela estava totalmente confiante de que deixar Orcbolg cuidar de toda a bagagem seria muito mais divertido do que deixar que outra pessoa o fizesse.
— Suponho que se dois mil anos não te mudaram, alguns a mais não iriam fazer isso — disse o elfo com um suspiro. Ele sentiu alguém dar um tapa em suas costas, embora fosse estranhamente baixo.
Ele se virou para ver o rosto barbudo de Anão Xamã, com um olhar muito conhecedor.
— Bem, vá em frente, Sir Noivo — disse o anão. — Tenho certeza de que as mulheres estão ansiosas para o banho. — Ele deu outro tapa de incentivo no elfo e riu ruidosamente. — Ao contrário dos elfos, nós, meros mortais, não podemos enrolar com cada coisinha.
— Você quer saber por que nós, elfos, não comemos carne?
— S-Sim. Só quero entender por que não estou sendo alimentado com nada além de folhas e frutas.
— É uma questão de equilíbrio, ó amigo que mora na terra.
— Então você quer dizer que é uma questão de números, das criaturas que vivem na floresta? Oh-ho, esta banana é deliciosa.
— Prove então esta bebida também, Honrado Sacerdote Escamado. Isso é feito com tapioca.
— Ah, a raiz de mandioca. Meu povo é conhecido por ferver e comê-la. Talvez esta seja a verdade por trás daqueles doces grelhados.
— Pois bem, para um animal crescer até a idade adulta leva muitos anos, mas para os frutos amadurecerem na árvore leva no máximo um ano, e o suprimento é abundante.
— Hmm… Bem, acho que deve ser bom não ter que se preocupar com seu suprimento de comida.
— Além do mais, não precisamos ter medo de ser comidos pelos animais, nem precisamos deixar a floresta.
— Você quer dizer que o ecossistema seria ameaçado se vocês tivessem que caçar para o sustento diário. Aha! De fato, de fato.
— Sim, portanto nos servimos apenas de gramíneas, frutas e bagas. Você entende agora, anão?
— Entendo, mas não preciso gostar.
Anão Xamã olhou para o prato de cogumelos à sua frente, bufando sem qualquer tato.
O grande salão construído sob as raízes de uma árvore alta também servia como área de jantar dos elfos. No lugar das lâmpadas, vários botões fechados cheios de brilhos do mar pendurados ao redor da sala, e as mesas estavam cheias de comida.
Havia uvas e bananas, tapioca e saladas com uma mistura de ervas e vegetais, além de vinho de uva e uma bebida também feita de tapioca. Quando se tratava de elegância e atmosfera, qualidade e quantidade de comida, até Anão Xamã não conseguia encontrar nada do que reclamar.
Mesmo assim…
— Simplesmente não consigo me imaginar comendo insetos…
— Eles se reproduzem rapidamente e há uma grande variedade deles. E ainda por cima, são deliciosos.
No enorme prato à frente do anão havia uma pilha de besouros grandes, sem a casca e fervidos. Ele arrancou uma perna de um deles e a mergulhou no molho; quando mordeu, achou crocante e responsivo na boca.
Tinha que admitir, era bom.
Para os anões, a comida não era menos importante e nem menos digna de honra do que as gemas e as joias. E como um anão, Anão Xamã, por sua barba, não negaria quando algo estava delicioso.
Mas… mas ainda assim.
— Ainda são insetos, não são?
— Eu os considero deliciosos.
— Hrmph! Um primo da selva deste grupo, você é…! — Anão Xamã olhou para Lagarto Sacerdote, que estava estalando os lábios enquanto mastigava um inseto, com casca e tudo.
Talvez pudessem evitar que as coisas parecessem insetos. Ou pelo menos adicionar um pouco de sal.
O prato tinha um sabor leve de bons ingredientes, mas era tão óbvio que se estava comendo insetos. Isso foi o suficiente para fazer até mesmo Anão Xamã perder o apetite.
— Ah, certo! Acho que isso me deixa com os doces grelhados.
— Ah, não está comendo o seu? Então suponho que…, aham, eu poderia apenas me servir de uma dessas pernas…
— Seu idiota — disse ele, afastando a mão escamosa estendida. — Um anão nunca divide sua refeição com os outros! — Então começou a transportar os doces grelhados para a boca.
O centro úmido da guloseima tinha uma doçura distinta; dizia-se que era a receita secreta dos elfos. Talvez houvesse mel aplicado nele; em todo caso, era nutritivo e ele parecia nunca se cansar disso, por mais que comesse.
Anão Xamã estava enfiando comida na boca, migalhas voando sobre sua barba, por algum tempo quando ele congelou, de repente tendo uma ideia.
— Não me diga. Essas guloseimas também contêm insetos…?
— Vamos deixar isso para sua imaginação honrada — disse o elfo com o capacete brilhante, ao que uma expressão difícil de descrever passou pelo rosto do Anão Xamã. Ele olhou para o doce meio comido em sua mão, em seguida, jogou-o na boca como se dissesse “ah, que se dane” e engoliu fazendo barulho.
Enquanto Lagarto Sacerdote observava o anão, ele sombriamente tocou a ponta do nariz com a língua e abriu as mandíbulas.
— Contanto que residamos em sua fortaleza… er, essa palavra é apropriada no caso dos elfos?
— Este não é um lugar preparado para a batalha, mas na medida em que o chefe mora aqui, você não está errado.
— Então eu certamente gostaria de saudar seu chefe.
Isso fez com que um leve sorriso brotasse dos lábios do elfo com o capacete brilhante.
— Já está planejada uma audiência para você. Na verdade, é como se todos os que visitam esta floresta já estivessem diante do chefe.
— Ahh…
Lagarto Sacerdote semicerrou os olhos e esticou o pescoço. O teto, que na verdade era a base da enorme árvore acima deles, estava bem longe, iluminado pelo brilho suave dos brilhos do mar.
Houve um farfalhar silencioso das folhas ao vento, acompanhado pelo som da água fluindo pelas raízes.
Enquanto um elfo não fosse morto e não desejasse a morte para si mesmo, continuaria vivendo.
Então, o que aconteceria se alguém desejasse a morte…?
— Entendo.
Tudo fazia parte da floresta, parte da natureza, do ciclo. Simplesmente desapareceria e se juntaria a tudo o que já estava ali.
O chefe vivia ali. Este mesmo lugar era o chefe.
Olhando para cima com admiração, Lagarto Sacerdote juntou as palmas das mãos em um gesto estranho. Embora tivessem uma visão diferente, os homens-lagarto também viam o retorno ao ciclo como um tipo de morte ideal.
— Ofereço meus mais sinceros agradecimentos por termos conseguido tocar até mesmo a bainha das vestes daquele que supervisiona esta grande floresta.
— Seu agradecimento é aceito — disse o elfo, olhando para Anão Xamã, que havia estufado as bochechas como se perguntasse o motivo para tanto barulho. — Saber que há alguém de fora do nosso bosque que entende isso é uma alegria inesperada. Posso perguntar: o que acha deste lugar?
— Oh, meu breve olhar ao redor sugere que todos estejam ocupados.
E de fato estavam.
O grande salão foi decorado com muitos tecidos em preparação para o casamento, junto com harpas amarradas com seda de aranha. Mas, com exceção de algumas criadas, não havia sinal de ninguém ali, muito menos artistas.
— Tem tudo a ver com o casamento?
— Nem tudo — respondeu o elfo, tomando um gole de sua bebida de tapioca como se para juntar as palavras. O copo do qual bebeu era o chifre polido de um cervo, e nada mais, mas era uma obra de arte. — Tem havido muitos sussurros na floresta ultimamente. Muitos foram ver.
— Para ver “aquele que para as águas”, quer dizer?
— Então, há coisas na floresta que nem mesmo os elfos entendem — disse Anão Xamã com um sorriso malicioso.
Nunca deixando seu sorriso elegante sumir, o elfo respondeu:
— Então, deixe-me perguntar, ó anão: você conhece todas as coisas que dormem nas profundezas da terra?
— Entendo seu ponto… — grunhiu Anão Xamã. — Você me pegou nessa.
— He-he-he! Milorde Matador de Goblins certamente perguntaria se essas coisas foram obra de goblins — disse Lagarto Sacerdote, rindo alegremente e agarrando a perna de outro inseto. Ele deixou escapar o pensamento de que não teria reclamação se houvesse um pouco de queijo por perto.
— Quanto a isso… — disse o elfo.
Lagarto Sacerdote acenou com a cabeça sobriamente.
— Hmm… O queijo é o leite de uma vaca ou de uma ovelha, ou algo semelhante, fermentado; como se costuma dizer…
— Não foi isso que eu quis dizer… Ele é realmente o famoso Orcbolg, o Matador de Goblins? O homem mais gentil da fronteira?
— De fato, ele é.
— Ele parece muito pouco.
Lagarto Sacerdote revirou os olhos.
— Eu sei que ele pode parecer bastante inexpressivo à primeira vista, mas o que te faz dizer isso?
— Minha cunhada parece ter gostado dele — disse o elfo ironicamente, soando como um irmão mais velho preocupado com sua irmã mais nova. — Ela tem uma personalidade bastante… única, muito parecida com outra pessoa que conheço… Erm, acho que não há necessidade de esconder isso de você. Devo dizer, muito parecida comigo.
— Ho! É exatamente isso, er, eh, Sir Noivo — disse Anão Xamã, parecendo reanimado enquanto pegava um copo de chifre. O vinho era fraco, mas álcool era álcool. Ainda era bom para incitar um anão. — Não há nada que você possa fazer para controlá-la um pouco?
— Nós tentamos instruí-la nas artes mais femininas. Tecelagem, música, canto e muito mais.
— E funcionou?
— Passamos dois mil anos no projeto…
— Entendo… — E é isso que eles têm a mostrar. Os três se entreolharam e suspiraram ao mesmo tempo.
— Ainda digo, porém, que ela não é uma jovem ruim.
— Sim, eu sei disso. — A resposta de Anão Xamã foi breve, e então ele estendeu a mão e agarrou uma perna de seu besouro. Ele exigia sal enquanto o mastigava, o molho voando por toda parte enquanto se deliciava com a carne.
Ele arrotou diligentemente, depois bebeu mais vinho e soltou outro arroto.
— Admito que sua incapacidade de ser uma dama me desagrada e às vezes gostaria que ela se acalmasse e agisse de acordo com sua idade — disse o elfo.
Lagarto Sacerdote semicerrou os olhos.
— Hmph — Anão Xamã bufou, como se dissesse que não estava totalmente feliz com essa avaliação. — Contanto que ela não nos atrapalhe, querido noivo, ficamos felizes o suficiente em tê-la.
Tradução: Nero
Revisão: Kenichi
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