Dark?

Matador de Goblins – Vol. 06 – Cap. 05.1 – O Dia de Treinamento nos Arredores da Cidade

Todos os capítulos em Matador de Goblins
A+ A-

— Como é…?

Anão Xamã estava na taverna da Guilda, sujando o rosto todo com purê quente de batata. Estava um pouco cedo para o almoço – a refeição em questão podia ser considerada um café da manhã atrasado.

— Você me quer?

— Sim.

À sua frente estava um homem com uma armadura de couro suja e um capacete de aço de aparência barata: Matador de Goblins. Não havia sinais de que havia comido ou de que estava comendo alguma coisa.

Matador de Goblins colocou a mão no capacete como se estivesse sentindo alguma dor de cabeça e tomou um pouco de água pelos sarrafos de seu visor.

— Você fará isso?

— Claro, não me importo, mas…

Anão Xamã comeu outra colherada de purê de batata. Os anões eram conhecidos como gourmands que provavam de tudo e, assim sendo, eram muito bem-vindos em qualquer restaurante. A comida só precisava de um gosto meio decente e ser abundante. Se o sabor fosse especialmente requintado, seria considerado um bônus.

Alta Elfa Arqueira, se questionada a respeito de sua opinião, poderia caracterizar isso como falta de contenção, mas Anão Xamã provavelmente teria respondido que os elfos simplesmente careciam de imaginação.

Apesar de tudo, o lançador de feitiços ficou muito feliz ao comer uma montanha de purê de batatas que tinha apenas um pouco de sal para dar sabor.

— Batata?

— Mmf, mrf… Sim! Hoje eu estava no clima para batatas — respondeu ele, tossindo de forma indelicada enquanto dava outra garfada. — Você não vai provar nem um pouco?

— Tenho goblins para matar.

— É mesmo? — Anão Xamã pegou o copo de Matador de Goblins, o encheu até a borda com o seu vinho e o empurrou de volta. — Bem, beba. Você pode ficar alguns minutos comigo, não pode?

— Mm. — Matador de Goblins engoliu todo o conteúdo de seu copo. Anão Xamã observou com um sorriso.

— Tenho a impressão de que eu e nosso impetuoso amigo praticamos tipos ligeiramente diferentes de magia — disse Anão Xamã.

— Não sei os detalhes, mas suspeitei — respondeu Matador de Goblins.

— E acho que seria melhor você pedir isso a alguém que não fosse eu.

— Isso não vai acontecer. — Matador de Goblins balançou a cabeça lentamente. — Você é o lançador de feitiços mais capaz que conheço.

— …

A mão do Anão Xamã congelou enquanto partia para pegar outra porção de batatas. Ele girou a colher (que antes fazia incessantes viagens para a sua boca) na pilha de comida, sem tato algum.

Depois de algum tempo, suspirou.

— Bem, não diga não, é isso? — disse ele. Então lançou a Matador de Goblins um olhar ressentido. — Aposto que você poderia dizer a mesma coisa para aquela senhora bruxa.

— Com certeza não poderia — disse Matador de Goblins suavemente. Até mesmo o Anão Xamã poderia adivinhar o que ele queria dizer com isso.

— Sinto muito. Isso foi algo ruim a se dizer, mesmo como brincadeira.

— Se isso for demais, fique à vontade para recusar.

— Um pensamento tolo. Só recuso o trabalho de pessoas que não gostam de anões.

Anão Xamã então voltou a comer com voracidade. Ele nem se preocupou em limpar a barba, mas acabou deixando purê escorregar de sua boca, assim como faria o vinho em um barril.

Quando, por fim, reduziu a montanha de comida, jogou a colher de lado.

— Mas, Corta-Barba, quero que me diga uma coisa.

— O quê?

— O que resultou nessa ideia?

Matador de Goblins ficou calado.

Essa não era uma história tão incomum. Ele era um guerreiro; tinha pouca aptidão para a magia. Quando precisava de alguém com talento nessas artes, por que não recorrer a um xamã?

Mas não era isso que o anão estava a perguntar. Até Matador de Goblins compreendeu isso, olhando por cima da barba do Anão Xamã para se deparar com seus olhos.

— Sou Matador de Goblins. — Ele tomou um gole de vinho, parecia ser para molhar os lábios. — E ele é um aventureiro.

— Justo. — Anão Xamã bufou e encostou seu pequeno corpo contra as costas da cadeira. Ela rangeu sob o peso de sua cintura pesada. — Quando nossa amiga de orelhas compridas ficar sabendo disso, não acho que você ouvirá o final do sermão lá muito cedo.

— É mesmo?

— Suponho que sim.

— Entendo.

Anão Xamã empurrou seu prato vazio para Matador de Goblins e acenou com a mão.

Havia ali um conjunto de cinco ou seis pratos vazios, e a garçonete – esta com almofadinhas – apareceu e os levou para serem lavados.

— De qualquer forma, aceito. Mas posso… precisar que você espere um pouco.

— Não me importo. Disse a ele para vir esta tarde. — Matador de Goblins serviu um pouco de água enquanto falava. Ergueu e moveu ao redor, observando as minúsculas ondas correndo ao longo das bordas do copo. — Acha que ele estará lá…?

— Heh! Podemos apostar nisso, se você quiser. — Anão Xamã sorriu e esfregou as mãos. Foi um gesto dramático, como um mágico se preparando para exibir o seu próximo truque. — Pois bem. Acho que preciso de mais alguns drinques antes de ir. E então de uma caminhada calma e agradável. — Ele bateu alegremente em sua barriga. — Afinal, só comi o suficiente. Sem muita fome, mas não tão cheio!

Matador de Goblins não disse nada, só levou seu copo vazio à mesa.

— …

O garoto estava parado no centro de treinamento, ainda em construção, então uma boa parte da área parecia pouco mais que um campo gramado.

Ele era a própria imagem de alguém sendo forçado a fazer algo contra a vontade. Suas bochechas estavam estufadas, parecia fazer beicinho e estava com o queixo entre as mãos enquanto olhava para o homem que havia o chamado.

— O quê, não está matando goblins…?

— Não. — O homem com a armadura de couro encardida e o capacete de aço balançou a cabeça. — Pretendo ir assim que te entregar.

— Não lembro de ninguém ter pedido para você cuidar de mim.

— É mesmo?

— Sim!

— Sinto muito.

Sua atitude indiferente irritou o garoto.

Mas que cara para se ter em um grupo!

Se tivesse sido ele quem tivesse acabado naquele grupo – bem, não poderia ter recusado categoricamente, mas seria bem desagradável. Como aquela sacerdotisa podia suportar isso? Ou aquela elfa, ou aquele homem-lagarto? Ou…

— Ah, aí está. Excelente, isso é um sinal de compromisso. — Ou o anão, que estava agora rolando pela grama.

Ele estava sorrindo, embora o garoto não pudesse imaginar qual era a graça, e tomando goles de um jarro de vinho que mantinha em seu cinto.

Sim, ele era um Prata. Era, sem dúvidas, um usuário de magia muito capaz.

Mesmo assim, isso não significava que o garoto queria ter que aprender os seus passos.

Não queria, e ainda assim…

— …

O garoto voltou a si ao som de seus próprios dentes rangendo.

— Bom. Então posso contar com você para lidar com isso? — perguntou Matador de Goblins a Anão Xamã.

— Tenho certeza de que você pode. E não vá se esforçando só porque não tem um lançador de feitiços por aí.

— Claro que não.

— E qualquer dia desses me pague um pouco de vinho.

— Tudo bem.

Enquanto o garoto observava, os dois homens conduziram a conversa com curtos intervalos, quase como se pudessem ler os pensamentos um do outro. Ele os encarou com um olhar furioso, indignado por não poder entrar na conversa.

Matador de Goblins então se virou em sua direção.

— Ouça o que lhe for dito, não cause problemas e leve isso a sério.

Ele parecia quase um irmão mais velho dando instruções ao seu irmão mais novo. O garoto apenas bufou. Matador de Goblins pareceu tomar isso como aceitação, já que deu de costas. Em seguida, partiu em seu habitual passo ousado e indiferente.

— Ei, espera…!

— Foco em mim, garoto, é comigo que você deve se preocupar.

O garoto não conseguia se livrar da sensação de que estava sendo deixado para trás, mas Anão Xamã agarrou o seu ombro. Sua mão pequena, mas áspera, era forte o suficiente para que quase doesse.

— Sente-se, garotão. Tentar aprender de pé ou sentado faz diferença. Você não vai usar a cabeça, de qualquer forma.

— Tudo bem… — respondeu ele, petulantemente, acrescentando para si mesmo: Só tenho que sentar, hein?, e então sentou na grama.

De longe, soaram vozes entusiasmadas e o retinir de armas. Somado a isso, estavam os trabalhadores carregando materiais e trabalhando em suas ferramentas.

O céu estava azul, a luz do sol quente o bastante para fazer suar. O garoto soltou um breve suspiro.

Anão Xamã percebeu; ele lentamente se sentou em posição de lótus e sorriu.

— Muito bem. Não sou especialista, mas… Quantos feitiços você pode usar e com que frequência?

Essa era a pergunta que o garoto menos queria responder.

— Bola de Fogo. E… apenas uma vez — disse baixinho, quase com os lábios fechados. — Mas você já sabe disso, certo…?

— Seu idiota sem jeito. — Um punho caiu sobre o garoto.

— Gah?!

— Tô te falando, você tá errado à beça.

O garoto gemeu, segurando a cabeça que latejava onde recebera o golpe. Os lançadores de feitiços não deveriam ser fisicamente fracos?

Não, espera, este era um anão. Droga. O garoto grunhiu.

As diferenças entre raças não podiam ser menosprezadas.

— Er… Ergggh. Isso dói demais… Você podia ter rachado a minha cabeça!

— A cabeça de um lançador de feitiços, para começo de conversa, não deveria ser tão dura! Você ficará melhor se ela rachar.

— Achei que anões costumavam ser todos guerreiros…

— Nós também somos monges, se é que não sabia. E por que não? Temos inteligência de sobra, e até espírito também.

— Eu… eu acho que já ouvi sobre Anões Sábios…

— Isso é só história — disse Anão Xamã soltando um suspiro profundo. — Escute — disse, sussurrando como se fosse contar um segredo. — Bola de Fogo não é o único feitiço que você tem.

— Hein?

O garoto esqueceu a dor em sua cabeça de imediato, seu rosto assumindo uma máscara de surpresa. Três dedos apareceram diante de seus olhos.

Carbunculus: pedra ígnea. Crescunt: surja ou torne-se. Iacta: atire ou solte. É isso, não é?

— Uh.

— Você junta três palavras de verdadeiro poder e elas se transformam em Bola de Fogo. Entende o que estou dizendo?

— Sim, eu sei disso, mas…

Ele engoliu o resto do que estava prestes a dizer.

Isso é tão óbvio.

O feitiço que aprendera consistia em três palavras de verdadeiro poder, entrelaçadas para criar um único feitiço.

Isso significava que o poder também residia em cada uma delas, mesmo individualmente. Quão simples poderia isso ser?

Cada palavra pode conter muito menos poder do que o encantamento todo. Mas, ainda assim, qualquer um que reagisse a um ensinamento óbvio, mas novo, com um “Sim, que seja…” não passaria de um idiota…

Anão Xamã observou o rosto do garoto ficando tenso, então revelou um enorme sorriso.

— Excelente! Parece que começaram a aparecer as primeiras rachaduras no seu crânio. Então, quais são as implicações? Diga o que você acha.

— Criar fogo. Expandir. Lançar…

— Viu! Agora você tem quatro opções.

— Quatro?

— Você pode lançar a sua Bola de Fogo, ou pode colocar fogo em algo, ou pode fazer algo crescer, ou atirar algo.

Embora eu suponha que atirar uma bola de fogo grande ainda seja a coisa principal.

O garoto olhou para as palmas das mãos, ergueu os dedos, contando.

Quatro…

Ele acreditava que tudo o que podia fazer era uma Bola de Fogo – e, ainda assim, todo esse tempo possuía quatro feitiços?

— Ei…

— Hrm?

— Isso devia mesmo ser tão simples?

— Mudar a maneira como você vê o mundo não é… Bem, suponho que não seja exatamente isso que estamos fazendo. Estamos apenas verificando quantas cartas temos em nossas mãos.

Com isso, Anão Xamã puxou um baralho de cartas aparentemente do nada.

O que foi isso – um truque de mágica? Seus dedos grossos se moveram tão rápido que ficaram quase invisíveis enquanto ele cortava o baralho e dava as cartas.

— As cartas baixas ainda são cartas, não?

— Acho que sim…

— Não precisa achar! Elas são.

Ele juntou o baralho que então, como em um passe de mágica, desapareceu.

O anão não parou para chamar a atenção para esse truque de magia em momento algum, mas, em vez disso, sussurrou de forma conspiratória:

— Diga, garoto, lembra de uma certa usuária de magia, uma muito adorável? Uma bruxa?

— Sim… — disse o garoto, corando ao imaginar uma formosa lançadora de feitiços. — Eu a conheço.

— Ela usa inflammarae para acender o cachimbo.

— Espera, sério…?

Foi a primeira reação honesta de verdade que o garoto mostrou durante o dia todo, e não era de admirar. Se alguém fizesse isso na Academia, os professores partiriam sua cabeça.

Os feitiços mágicos eram compostos de palavras de verdadeiro poder, capazes de alterar a lógica do mundo e manipular a forma como as coisas eram. Não deviam ser usadas de forma leviana – aventureiros experientes não ficavam o tempo todo dizendo essas coisas?

Não baixe a guarda. Não hesite em matar. Não desperdice seus feitiços. E fique longe dos dragões…

— De qualquer forma, acho que você entende que só lançar feitiços para lá e para cá não é bom. Mas pense nisso. — Anão Xamã cruzou os braços e fez um barulho pensativo; o garoto ainda não o entendia direito. — Digamos que você esteja sob a chuva, não tenha pederneira e todo o combustível esteja molhado, mas você só precisa fazer uma fogueira. É aí que você o usaria.

— Bem, sim, eu acho…

— Mas se você for inteligente mesmo, poderá, nessa situação, acender uma fogueira de outro jeito e poupar um feitiço.

Se juntar galhos e casca de árvore, às vezes consegue acender uma fogueira, e os galhos das árvores caídos no chão na maioria das vezes estão secos. E dependendo do cuidado com que empilha a lenda, um galho molhado pode muito bem secar enquanto o fogo queima, tornando-o em combustível útil.

Ter mais massa cinzenta é a melhor maneira de cuidar dos próprios feitiços. Qualquer habilidade suficientemente avançada é indistinguível da magia.

— A única diferença é o método — disse Anão Xamã.

Cada método é uma alternativa, e alternativas significam, por sua vez…

— Mais cartas no seu baralho.

— …

— E mais uma coisa… — Anão Xamã ignorou o Garoto Feiticeiro, que estava de braços cruzados e resmungando. Ele então puxou a rolha do frasco em seu quadril. Um cheiro pungente de álcool, o aroma único de vinho de fogo dos anões, surgiu. — O trabalho de um lançador de feitiços não é entoar feitiços.

Isso fez com que o garoto piscasse, confuso.

— É usá-los.

— …? E qual é a diferença?

— Se não consegue perceber nem isso, não vai chegar a lugar algum.

Enigmas como esse estavam no cerne do significado por trás de ser um mago.

Que peso realmente havia nas palavras de quem sempre saía por aí proclamando possuir a verdade?

E que valor real havia na verdade que alguém detinha? Perante isso, um feiticeiro riria. Riria e diria: Talvez sim, talvez não.

— Só um amador que não sabe de nada pensaria que um feiticeiro não faz nada além de lançar bolas de fogo ou raios em seus inimigos.

Anão Xamã então sorriu feito um tubarão.

Matador de Goblins acertou a pederneira, acendendo sua tocha com as fagulhas. O cheiro de resina de pinheiro queimando se misturou ao cheiro de umidade e mofo, assim como de odores menos saudáveis que pairavam pela caverna.

Isso parecia ser o mesmo que alertar os goblins sobre a chegada de aventureiros, mas, por mais estranho que possa parecer, goblins não conseguiam reagir ao cheiro de uma tocha. O cheiro de mulheres, crianças ou elfos era bem mais propício a chamar a sua atenção e provocar um ataque.

A hipótese de Matador de Goblins era de que os diabinhos não conseguiam distinguir o cheiro da tocha do odor de podridão por toda a sua casa. Ao mesmo tempo, acreditava que não havia nada melhor para minimizar o cheiro de metal da armadura.

— Ugh… Isso é tããããão injusto…

E também não se deve esquecer de encobrir o aroma de elfos.

O rosto da Alta Elfa Arqueira estava manchado de sujeira, e ela gemeu e sorriu sem graça. Parecia muito menos do que satisfeita enquanto esfregava a lama de suas roupas de patrulheira. Suas longas orelhas caíram lamentavelmente, tremendo.

— Por que só eu preciso ser coberta por essas coisas?

— Porque você vai agitar os goblins.

A resposta foi curta. Alta Elfa Arqueira se abraçou e estremeceu. Desde que se juntou a este aventureiro obcecado, viu mais do que algumas vítimas de “goblins agitados”. Se lembrava até da vez em que ela mesma quase foi morta por eles, uma coisa que não queria imaginar voltar a passar.

Se queria evitar esse destino, tinha que tomar medidas apropriadas.

E, assim, parecendo completamente patética, continuou a se pintar com o vil efluente na entrada da caverna.

— O que aconteceu com a mistura de ervas que usou da última vez?

— Acabou… — A expressão da Alta Elfa Arqueira estava vaga, e ela desviou o olhar, evasiva. — O dinheiro…

Parecia que até mesmo os Alto Elfos, com linhagens que remontam à Era dos Deuses, estavam sujeitos a problemas tão comuns.  Essa talvez fosse parte da razão pela qual se juntou a um grupo em que não faria nada além de matar goblins, trabalho que tanto detestava.

Não passou pela sua cabeça que fosse por gratidão a Matador de Goblins.

— Assim como as suas flechas — disse ele suavemente —, é importante gerenciar todos os seus recursos.

— Já te falei, eu odeio dinheiro!

— É mesmo?

— É só você usar e ele já acaba!

— Sim, isso é verdade.

— Mas ele nunca dá em árvores!

— Isso.

— Eu não entendo…!

— Entendo.

Suas orelhas balançavam para cima e para baixo, movidas pela raiva; Matador de Goblins ouviu sempre impassível.

O que lhe importava eram os desenhos que os goblins haviam deixado nas paredes da caverna. As formas grosseiras e caricaturadas de animais não identificáveis foram pintadas em uma cor carmesim escura.

Ele olhou para tudo, confirmando que não via qualquer relação entre esses desenhos e a marca que havia sido usada pelo goblin paladino.

— Totens simples. — Matador de Goblins esfregou um dos símbolos, que tinha sido pintado com o sangue de uma criatura viva. O sangue seco escorreu da parede, deixando uma sujeira avermelhada na palma de sua luva. — Há um xamã aqui.

— Hmm. — Alta Elfa Arqueira não parecia tão interessada. Ela tirou o arco das costas e preparou uma flecha. — Quantos?

— Menos de vinte, suspeito — disse Matador de Goblins, fazendo uma suposição com base na poluição que havia fora da caverna. — Vai entrar?

— Vamos lá — respondeu Alta Elfa Arqueira, estufando o peito magro. — Se acham que podem nos tratar de forma leviana por sermos apenas dois, terão que aprender algumas coisas.

Apenas dois.

Sim, desta vez eram apenas dois aventureiros a desafiar o ninho de goblins: Matador de Goblins e Alta Elfa Arqueira.

Anão Xamã estava ajudando o garoto, enquanto Lagarto Sacerdote e Sacerdotisa tinham algum tipo de negócio o qual resolveriam juntos.

Quando se tratando de enfrentar vinte goblins, um guerreiro e uma patrulheira não eram a melhor das combinações.

Mesmo assim, goblins surgiram.

E ele era Matador de Goblins.

A missão era extremamente simples – tão comum quanto de costume. Alguns goblins apareceram por perto de uma aldeia. Os aldeões tentaram simplesmente deixá-los em paz, mas isso permitiu que se multiplicassem.

As colheitas foram roubadas. O gado fugiu. Uma garota que foi colher ervas foi atacada, sequestrada.

Por favor, por favor, ajude-a. A recompensa era uma bolsa de moedas sujas e enferrujadas, uma de pelo menos duas gerações atrás.

Mas não havia razão para ignorar.

Um caso estereotipado. Uma recompensa lamentável. Mas, e daí?

Os inimigos eram goblins. De que outra razão poderia ele precisar?

Matador de Goblins com certeza não poderia responder a essa pergunta.

— Se nada mais, você é consciencioso, Orbolg — disse Alta Elfa Arqueira, olhando para ele e sorrindo. — Percebo que, quando há uma chance de resgatar alguém, você nunca usa gás venenoso, água ou fogo.

Entretanto, quando tarde demais, ou após ajudarem a pessoa, ele era impiedoso. Alta Elfa Arqueira soltou uma risadinha.

— Aqui, pega isso. Uma coisinha para a sua barriga.

Ela jogou algo para ele: um pouco da comida secreta dos elfos, pequenas guloseimas assadas.

A própria Alta Elfa arqueira já mordiscava uma das coisas, igual um esquilo ou qualquer outro animal pequeno. O elmo de Matador de Goblins estava virado em sua direção.

— Com você por perto…

— O quê?

— Com você por perto, é sempre animado.

— Isso foi um elogio…? — Ela olhou para ele com desconfiança, correndo em sua direção como um passarinho. Então olhou profundamente além do seu visor, suas orelhas caindo no ritmo de suas sobrancelhas por um momento. — Essa não é a sua maneira de me mandar calar a boca, é?

— Só quis dizer o que eu disse.

— Bem… — Ela girou nos calcanhares, deixando uma palavra não dita pairando pelo ar. Seu cabelo esvoaçava como se fosse um rabo.

Então disparou mais adentro da caverna, livre como o vento, mas ainda…

— Heh heh!

Suas orelhas balançavam com alegria, algo que podia ser visto muito bem, mesmo por trás.

Claro, os dois não estavam tão desatentos quanto sugeria o comportamento. Qualquer um que não fosse um completo iniciante saberia que, quando em um lugar como este, estavam em terreno inimigo.

Matador de Goblins empurrou a guloseima através de seu visor, sacando sua espada enquanto mastigava.

Os sentidos aguçados de Alta Elfa Arqueira faziam suas orelhas balançarem sempre que ouvia algum barulho.

A conversa despreocupada – mesmo que fosse toda por parte de Alta Elfa Arqueira – era uma forma de preservar a sanidade.

A prova chegou um momento depois, quando ela de repente parou no meio do caminho.

— Eles são rápidos.

— Sim. Mas não tive a sensação de que estavam nos observando.

Não precisavam de palavras. Matador de Goblins já estava com sua arma pronta, Alta Elfa Arqueira estava tão tensa quanto um arco pronto.

— Se sequestram uma jovem, é normal que aventureiros venham.

A batalha entre goblins e aventureiros vinham acontecendo desde tempos imemoriais. Ao longo de um estonteante acúmulo de eras, até mesmo os goblins conseguiram aprender algo assim, os aventureiros virão.

Eles sempre vinham. Vinham, matavam e levavam o que lhes pertencia. Portanto, os matariam.

Foi por puro fracasso deles em refletir sobre as próprias ações ou tomar qualquer tipo de cautela que tornou os goblins no que eram.

— Qual direção?

— Direita. — Alta Elfa Arqueira fechou os olhos, suas orelhas tremendo. — Cinco ou seis deles, talvez. Também ouço algumas armas.

— E à frente?

— Por enquanto nada.

Em outras palavras, não haveria a tentativa de um movimento em pinça. Matador de Goblins bufou, então pegou sua espada em um aperto reverso, segurando-a pela lâmina e assumindo uma posição.

— Sempre pensam que emboscada é uma habilidade que pertence apenas a eles.

No segundo seguinte, pegou sua espada e bateu na parede de terra, como se cortasse lenha.

— GROOOORB?!

A terra, provando-se pouca após ser cavada, desabou para dentro, caindo no túnel lateral. O goblin à frente do grupo de escavação arregalou os olhos, completamente confuso.

Deveriam cercar os aventureiros idiotas, espancá-los, humilhar a mulher, fazê-la suportar…

Matador de Goblins acertou um golpe na cabeça da criatura, colocando um fim em seus planos – e em sua vida.

— Um. Vamos atacá-los por aqui. Vamos.

— Isso é tão apertado. Fica difícil de atirar. — Claro, mesmo enquanto reclamava, Alta Elfa Arqueira disparou três flechas ao mesmo tempo, por cima do ombro de Matador de Goblins, perfurando três goblins.

— GROR?!

— GOOBBR?!

Uma flecha foi à garganta; os monstros de cada um dos lados foi acertado nos olhos, um à esquerda, um à direita. Eles colapsaram e Matador de Goblins perfurou seus corpos.

— Quatro…

Uma espada banhada até o punho por miolos não seria de muita utilidade. Ele chutou um goblin que tinha agora uma lâmina brotando de sua testa, pegando a pá reta que o monstro usava como arma.

— Cinco…

O quinto goblin o atacou. Ele bloqueou o golpe de picareta do monstro e, no mesmo movimento, pegou a tocha, a qual segurava do mesmo lado do escudo, e a acertou no rosto do monstrengo.

— GROORRORBRO?!

Houve um som crepitante e o horrível fedor de carne cozendo. Matador de Goblins observou o monstro tendo seu rosto frito gritando. O contra-ataque fracassado logo se tornaria conhecido, presumiu. Pouca diferença faria um grito.

Ele foi totalmente sem misericórdia: enfiou a pá bem no meio do pescoço do goblin.

— GROORB!!

O último dos monstrinhos uivou, embora nada ainda lhe houvesse acontecido. Jogou até mesmo a machadinha que segurava de lado, erguendo os braços acima da cabeça. Babando e choramingando, se prostrou diante dos aventureiros.

Uma criatura que deixamos escapar no mausoléu?

Matador de Goblins jogou a tocha agora quebrada de lado e pegou a machadinha manchada de vermelho. A colocou no cinto, pegou uma nova tocha e a acendeu com a antiga.

— Pois bem.

— GOR?!

Matador de Goblins deu um chute na criatura, a qual gritou e caiu de costas. Mas logo retomou sua postura patética, raspando a cabeça contra o chão.

Estava implorando por sua vida. Será que tinha um mínimo de inteligência? Estava calculando o que seria de seu interesse? Tinha noção do que era uma rendição?

Dado que esteve na retaguarda do grupo, talvez tivesse certa posição até mesmo entre os goblins.

Então, parando para reparar, era fisicamente o menor. Uma criança, será…?

— Orcbolg…

— Sim.

A voz de Alta Elfa Arqueira tremia. Matador de Goblins balançou a cabeça.

O jovem goblin estava tentando sacar uma adaga envenenada de seu cinto.

Em torno de seu pescoço estava um colar.

Um que havia roubado.

Os objetos do colar foram todos perfurados com uma sovela e então costurados juntos. E também foram cortados por uma machadinha. Dez dedos recém-cortados de uma jovem mulher.

Para este goblin que se encolhia e se curvava, o tempo todo escondendo uma adaga nas costas, Matador de Goblins tinha apenas uma coisa a dizer:

— Mataremos todos.

 


 

Tradução: Taipan

 

Revisão: Milady

 


 

📃 Outras Informações 📃

 

Apoie a scan para que ela continue lançando conteúdo, comente, divulgue, acesse e leia as obras diretamente em nosso site.

 

Quer dar uma forcinha para o site? Que tal acessar nosso Padrim

 

Acessem nosso Discord, receberemos vocês de braços abertos.

 

Tags: read novel Matador de Goblins – Vol. 06 – Cap. 05.1 – O Dia de Treinamento nos Arredores da Cidade, novel Matador de Goblins – Vol. 06 – Cap. 05.1 – O Dia de Treinamento nos Arredores da Cidade, read Matador de Goblins – Vol. 06 – Cap. 05.1 – O Dia de Treinamento nos Arredores da Cidade online, Matador de Goblins – Vol. 06 – Cap. 05.1 – O Dia de Treinamento nos Arredores da Cidade chapter, Matador de Goblins – Vol. 06 – Cap. 05.1 – O Dia de Treinamento nos Arredores da Cidade high quality, Matador de Goblins – Vol. 06 – Cap. 05.1 – O Dia de Treinamento nos Arredores da Cidade light novel, ,

Comentários

Vol. 06 - Cap. 05.1