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Matador de Goblins – Vol. 05 – Cap. 03.2 – Cortar e Massacrar

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— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, conceda tua luz sagrada para nós que estamos perdidos na escuridão!

Com essas palavras, Sacerdotisa empreendeu a iniciativa. Ela fez isso sem nenhuma capacidade especial; apenas um rolar de dados. Mas a forma como ela entoou o milagre Luz Sagrada sem hesitação, era um sinal de quanto ela crescera. Ela ergueu seu cajado, cujo qual era o anfitrião do milagre sagrado. Uma luz brilhante preencheu a caverna.

— GORARAB?!

— ORRRG?!

Os goblins, atingidos pela luz sagrada, pressionaram as mãos nos olhos e gritaram. Ela contou dez; não, quinze?

— Dezessete. Sem hobs, sem conjuradores. Arqueiros presentes. Vamos!

Para os aventureiros, que possuíam a luz em suas costas, a iluminação não era nenhum problema.

— A primeira morte é minha! — Tão logo Matador de Goblins emitiu sua ordem, uma flecha ponta-broto começou a voar. Alta-Elfa Arqueira puxou elegantemente a corda de seda de aranha de seu arco, liberando as três flechas que carregava com um único movimento.

A caverna poderia ser escura e confinada, mas isso não era obstáculo para a pontaria de um elfo. Sua habilidade era tão avançada que era praticamente indistinguível de magia. Três goblins desabaram onde quer que estivessem: catorze restaram. Uma salva de pedras começou a assolar as criaturas restantes.

— Saiam, seus gnomos, é hora de trabalhar, não se atrevam a fugir de seu dever; um pouco de pó pode não causar choque, mas mil fazem uma bela rocha!

Anão Xamã arremessou um pouco de areia para o ar, a transformando em rochas que choveram sobre os inimigos.

— ORGAAA?!

— GROOROB?!

Os goblins berraram e caíram para trás. A magia Impacto Pétreo os assaltou indiscriminadamente, quebrando ossos e rasgando carne.

Nesse momento, claro, magias que feriam o inimigo e aquelas que auxiliavam os aliados eram ambos úteis. Foi o próprio Anão Xamã quem optou por Impacto Pétreo, uma técnica ofensiva. Magias que atingiam uma área toda eram melhores enquanto mantinha a iniciativa, antes de engajar o inimigo.

Dez goblins restaram. Gritando e chorando suas lágrimas vis, os monstros avançaram.

— Vamos nessa! É a sua vez, Corta-barba! Escamoso!

— Hrrrooahhh!

— Ótimo.

Um grande rugido e uma resposta curta: os dois membros da vanguarda do grupo ficaram bloqueando a entrada da sala. Era apenas lógico que não entrariam; quando lutando contra um grande número de adversários, era sensato escolher um ponto estreito e defender.

O inimigo, que possuía a maioria de quase quatro para um, foi reduzido à metade da força. E apenas dois ou três goblins poderiam ficar lado a lado no túnel. Contra os dois guerreiros, e tendo em conta o terreno, a luta era quase equilibrada. Isso só foi para mostrar quão crucial era tomar a iniciativa de combate.

Afinal, haveria sempre mais goblins do que aventureiros. O destino dos aventureiros que tentavam enfrentar goblins sem reconhecer esse fato básico era cruel.

— GORROB!

— Eeyahhhh!

Os goblins ainda estavam meio cegos pelo clarão de luz; seus ataques nem valiam a pena se preocupar. Lagarto Sacerdote atacou com garras e cauda, lidando com um goblin com um golpe poderoso e dilacerando outro em pedaços. Oito sobravam.

Os homens-lagarto respeitavam a animalidade, pois era uma natureza bestial combinada com o intelecto astuto que definia os nagas. Violento e bravo, gritos de guerra se misturaram com orações, Lagarto Sacerdote se lançou nos goblins sobreviventes.

— Hmph. — Bem ao lado dele, Matador de Goblins apunhalou as criaturas em seus pontos vitais; silenciosamente, zelosamente, precisamente.

Garganta, coração, cabeça. Não importava. Criaturas humanoides tendiam a ter muitos pontos fracos. Matador de Goblins preferia pessoalmente a garganta. Uma estocada podia não resultar em uma morte instantânea, mas deixaria o alvo impotente. Ele chutou de lado o goblin asfixiando e arremessou sua espada em outro mais longe.

— ORAGAGA?!

— Dez, onze.

Seu alvo colapsou, perfurado na garganta. Mesmo no escuro, sua mira era precisa.

Seis restando. Matador de Goblins empurrou com o pé uma clava pertencente a um dos goblins mortos, chutando para cima sua mão. Ele parou um golpe de machado do goblin ao seu lado com o escudo, depois visou um ataque com a clava no estômago da criatura.

— ORARAO?! — Algo nojento foi derramado da boca aberta do goblin. Matador de Goblins atacou outra vez. Isso dava mais dois desde a última contagem.

Depois de dar um golpe cruel no crânio da criatura, Matador de Goblins agitou o escudo indiferentemente, retirando o vômito.

— Treze. O inimigo vai se recuperar em breve.

— Certo!

Quatro sobrando. Não era uma desculpa para terem calma, claro.

Apesar do nervosismo evidente em seu rosto, Sacerdotisa ergueu seu cajado de monge e invocou outro dos milagres desgasta-alma.

— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, conceda tua luz sagrada para nós que estamos perdidos na escuridão!

A Mãe Terra respondeu a oração de sua discípula fiel com outro milagre. Uma luz ofuscante preencheu o local mais uma vez, banindo a escuridão da caverna.

Os goblins, no entanto, não eram tolos. Eles certamente não eram intelectuais, mas quando se tratava em crueldade e malícia, não tinham iguais. E quando essa total falta de princípios estava unida a violência, o resultado era inevitável.

O cajado que a garota ergueu brilhara. Agora estava se levantando outra vez. Isso significava que brilharia de novo.

Um dos goblins, juntando esses fatos mais elementares, abaixou a cabeça. Infelizmente, ele era um dos arqueiros. Como seus três companheiros foram assassinados, ele manteve sua cabeça baixa, à espera de uma oportunidade, com arco e flecha em prontidão.

— Hh… Haagh!

O grito pareceu ser de choque. Alguém caiu: era Alta-Elfa Arqueira. A flecha do goblin havia passado entre os dois guardas da linha de frente para lhe acertar. Um acerto crítico, de fato.

— O que foi isso! — exclamou Lagarto Sacerdote.

— Hrrgh… — Uma flecha rudimentar, mas sinistra, perfurou a perna de Alta-Elfa Arqueira.

Matador de Goblins olhou para trás, então atirou sua clava antes de correr até a elfa.

— ORAAG?!

Fuush. A clava girou uma vez no ar e depois se conectou firmemente com a cabeça de um goblin, provocando um grito. Não foi o suficiente para matar a criatura, embora. Enquanto corria, Matador de Goblins pegou uma adaga do chão, abrangendo os últimos passos com um grande salto.

— GOAORR…?!

O goblin pegou sua flecha e se virou, tentando fugir, mas era tarde demais. A adaga enfiou em seu coração, torceu uma vez e acabou.

— Dezessete…

Isso era todos eles.

Olhando ao redor para a pilha de cadáveres, Matador de Goblins pegou uma espada nas proximidades e a pôs na bainha.

— Ei… ei, você está bem, Orelhuda?

— Hrr… r… sim. Estou… estou bem. Sinto muito. Eu falhei.

— Eu vou cuidar de você imediatamente — disse Sacerdotisa. — Está envenenada?

— Olha — disse Lagarto Sacerdote com a voz grave. — Primeiro, temos que retirar a flecha.

O rosto de Alta-Elfa Arqueira estava pálido, mas ela tentava atuar corajosa; ela mantinha as mãos na ferida enquanto murmurava “Está bem”.

Normalmente, Matador de Goblins teria ido direto até à sua camarada. Mas esse ainda era território inimigo. Eles precisavam estar alertas com eventuais emboscadas.

Pelo que Matador de Goblins poderia ver, o ferimento não era fatal; e de qualquer maneira, havia algo que ele queria verificar. Ele foi até o cadáver do último arqueiro goblin que matara e lhe deu um chute indiferente.

— Hmm.

O corpo rolou, expondo seu ombro. Nele, ele viu uma cicatriz, de uma ferida de flecha que já se curou. Ele se lembrava desse goblin.

— …Quê?

— O que foi?

Nesse momento, Matador de Goblins ouviu vozes de surpresa vindo de trás dele e se virou. Ele foi até onde Alta-Elfa Arqueira estava encolhida. Sacerdotisa olhou para ele do lado dela.

— M-Matador de Goblins, senhor… Veja isso.

Com a mão trêmula manchada com o sangue de Alta-Elfa Arqueira, ela ergueu a haste de uma flecha. Sim; só o cabo, sem ponta.

Fora esculpida de um galho, grosseira o bastante para sugerir o trabalho de um goblin; até tinha algumas penas feias e pequenas presas no final. A ponta, contudo, não estava bem presa. Ou… talvez tenha sido feito deliberadamente. Talvez a ponta da flecha tinha por objetivo romper e permanecer dentro do corpo de Alta-Elfa Arqueira.

Ele foi descuidado.

Não; a contemplação e o remorso teriam que esperar.

Imediatamente, Matador de Goblins se ajoelhou ao lado de Alta-Elfa Arqueira.

— Está doendo?

— E-e-estou bem, s-sério… Orcbolg, você se p-preocupa demais…

Parecia doer apenas de se mexer. Sangue fluía da perna de Alta-Elfa Arqueira, e ela estava gemendo.

— Mantenha pressão na ferida. Vai ajudar a conter o sangue. Embora não seja muito.

— E-está bem, eu vou… eu vou fazer isso. — Sem dúvida ela estava tentando soar forte, mas sua voz estava muito mais branda do que o habitual.

 

 

 

Matador de Goblins se virou para perguntar a Sacerdotisa.

— Algum tipo de veneno?

— De momento, acho que não. Mas… — Quando falou, Sacerdotisa olhou com preocupação para o ferimento de Alta-Elfa Arqueira. Mesmo com a elfa apertando o máximo que podia, sangue vazava por entre seus dedos. — Com a ponta da flecha ainda alojada, não haveria sentido em fechar a ferida com um milagre de cura…

Os milagres de um clérigo provinham dos deuses, mas seus efeitos eram limitados pela realidade física. Usar Cura Menor enquanto um objeto permanece no corpo era uma situação difícil.

Matador de Goblins olhou para Lagarto Sacerdote, mas ele balançou a cabeça também.

— Revigorar só é capaz de reforçar as capacidades naturais de cura do corpo.

Isso tornou a conclusão simples. Anão Xamã colocou a mão na bolsa enquanto falava. — Não podemos deixar lá, podemos? Corta-barba, me dê uma mão, está bem?

— Claro. — Ele e o anão se entreolharam e rapidamente foram ao trabalho. Sacerdotisa, que possuía uma ideia do que iam fazer, parecia bastante perturbada; Alta-Elfa Arqueira, que não, parecia só desconfortável.

Matador de Goblins sacou uma adaga — sua própria, não a que roubara de um goblin — e verificou a lâmina.

— Eu faço isso. Me dê fogo.

— Com certeza. Chama dançante, fama da salamandra. Conceda-nos uma parte da mesma chama. — Anão Xamã retirou uma pederneira dentre os seus catalisadores, lhe acertando enquanto falava. Uma pequena chama-fantasma se desenvolveu no ar, brilhando na adaga de Matador de Goblins.

Matador de Goblins aqueceu a lâmina com cuidado e depois apagou a chama com um movimento rápido. Quase ao mesmo tempo, ele pegou um pano de sua bolsa e jogou para Alta-Elfa Arqueira.

— Mantenha isso na boca.

— O-o que está planejando?

— Eu vou arrancar a ponta da flecha.

As orelhas longas de Alta-Elfa Arqueira ficaram de pé.

— Eu… eu não quero que faça isso! Depois que chegarmos em casa, podemos…!

Ainda sentada, ela recuou. Anão Xamã soltou um suspiro.

— Sem choramingar, Orelhuda. Corta-barba tem esse direito. Quer que essa perna apodreça e caia?

Ao lado deles, Lagarto Sacerdote falou friamente e com a firmeza de uma rocha caindo do céu. — Certamente não seria possível recolocar.

— Ooh… Ohhh…

— Qual é, pessoal, estão assustando-a. — Sacerdotisa, incapaz de se conter mais, repreendeu os homens do grupo; mas ela não fez qualquer esforço para impedir o que estavam fazendo.

Ela mesma teve uma flecha retirada de si à força uma vez. Ela sabia da dor e o medo; e o quão pior poderia ficar se deixassem para lá.

— …Pelo menos, tentem fazer da forma menos dolorosa possível.

— O que mais eu faria? — Matador de Goblins estava à espera da lâmina quente esfriar na temperatura certa. Um médico viajante lhe ensinou que isso se livraria de qualquer veneno na lâmina.

— Me mostre a ferida.

— Me mostre a ferida.

— Errgh… Ohh… Você realmente não vai fazer doer, vai…? — Bem devagar, com o rosto completamente sem sangue, Alta-Elfa Arqueira moveu sua mão.

Matador de Goblins não respondeu e inspecionou o ferimento, de onde o sangue ainda estava pingando.

— Vinho.

— Bem aqui. — Anão Xamã tomou um gole de vinho de fogo e cuspiu, como se estivesse lançando Estupor. Lágrimas surgiram dos olhos de Alta-Elfa Arqueira quando os espíritos alcoólatras queimaram na ferida.

— Hrr… rrgh…

— Morda o pano. Então não morda a língua.

— Só… só perguntando de novo, mas… você não vai fazer doer, vai…?

— Não posso prometer nada — disse Matador de Goblins balançando a cabeça. — Mas vou tentar.

Alta-Elfa Arqueira, parecendo resignada, mordeu o pano e fechou os olhos com força. Sacerdotisa pegou sua mão. E então Matador de Goblins enfiou a adaga na coxa da elfa, alargando a ferida, enfiando mais fundo.

— Hrrrrrgh… Ugh! Gaggghhh…!

O corpo flexível de Alta-Elfa Arqueira se debateu como um peixe que foi levado até a costa. Lagarto Sacerdote pressionou seus ombros para mantê-la firme, e Sacerdotisa continuou lhe segurando a mão. Matador de Goblins não parou o seu trabalho; sua mão era cruel, mas certa.

A remoção da ponta da flecha levou só alguns segundos, ainda que Alta-Elfa Arqueira teria jurado que horas se passaram.

— Feito.

— Hooo… hooo… — Ela soltou longos suspiros de alívio.

Lagarto Sacerdote colocou a mão escamada na coxa de Alta-Elfa Arqueira e recitou: “Gorgossauro, bonito mesmo ferido, permita-me participar da cura em seu corpo!” Foi-lhe concedido uma bênção: Revigorar. O poder dos temíveis nagas fez a ferida da elfa melhorar diante de seus olhos. Carne se juntou e pele se edificou, a ferida parecia evaporar. Um verdadeiro milagre.

— Consegue se mexer? — perguntou ele.

— S-sim — disse Alta-Elfa Arqueira, insegura, com lágrimas ainda nos cantos de seus olhos. Ela mexeu a perna para frente e para trás, verificando se funcionava. Suas orelhas caíram penosamente. — P-primeiros socorros humanos é terrivelmente violento. Ainda posso sentir isso.

— V-você está bem? — perguntou Sacerdotisa, oferecendo o ombro para apoiar Alta-Elfa Arqueira enquanto se levantava.

— Acho que sim…

— Consegue atirar com o arco? — perguntou Matador de Goblins.

— Claro que posso — respondeu a elfa, talvez um pouco mais ardentemente do que o necessário.

Ela não estava se gabando, exatamente. Mas mesmo que pudesse disparar, sua mobilidade estava prejudicada. Ao menos pelo resto do dia.

— Devemos fazer um recuo estratégico… — Matador de Goblins balançou a cabeça. — …mas não podemos fazer isso ainda.

— Não estou confiante com o número de nossas magias restantes — anunciou calmamente Lagarto Sacerdote.

Mesmo assim, o capacete se virou de um lado ao outro. — Ainda há mais deles mais adentro. Temos que investigar. — Matador de Goblins verificou sua armadura, capacete, escudo e arma. Satisfeito, ele se voltou aos seus companheiros. — Posso prosseguir sozinho, se preferirem.

A ferida Alta-Elfa Arqueira foi a primeira a responder. — Não tente ser engraçado. Vamos com você. Não é?

— Claro! Sem dúvida — disse Sacerdotisa assentindo energicamente.

— Hm — grunhiu Matador de Goblins. Lagarto Sacerdote riu e pôs a mão em seu ombro.

— Então, acho que isso significa que todos vamos.

— Pfft! Orelhuda, nunca pensa em quão cansado os outros estão — disse Anão Xamã com um sorriso e dando de ombros.

Alta-Elfa Arqueira o fixou com um olhar feio. — Ei, Orcbolg é aquele quem quer…

E eles começaram.

Matador de Goblins, ignorando o escândalo habitual de seus argumentos, deu outra olhada ao redor do local. Apesar de em desvantagem, os goblins não mostraram nenhum sinal de tentarem fugir.

Então havia um goblin que copiara seu pequeno truque. Um que recebera primeiros socorros pela ferida com a flecha. E um que os comandava.

— Eu não gosto disso — murmurou ele.

Ele não gostava nada disso.

 

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— Hmph.

Matador de Goblins deu um pontapé em uma porta velha apodrecida, a trazendo abaixo. Quase no mesmo momento, os aventureiros se amontoaram no cômodo, tomando posições, com Sacerdotisa no centro da formação, segurando uma tocha.

— Hmm…

Eles esperavam um armazém ou um arsenal, ou, porventura, um banheiro. Mas o local em que a luz brilhava não era nenhum desses.

Muito parecido com a área de antes, essa era outra sala grande escavada da terra. Havia vários montes de terra que poderiam se passar por cadeiras. Mais longe na sala estava uma pedra oblonga que parecia ter sido trazida de outro lugar.

Era inequivocamente um altar.

Isso era uma capela: então essa caverna era um templo? Se sim, esse altar seria onde eles ofereciam seus sacrifícios…

— Oh…! — Sacerdotisa foi a primeira a notar, como frequentemente acontecia. Ela se apressou. A memória de uma armadilha que encontraram nos esgotos passou pela sua mente, mas isso não era razão para hesitar. Ela ficaria atenta, mas não se absteria de ajudar.

Uma mulher estava deitada em cima da pedra fria como se tivesse sido simplesmente jogada ali; ela não usava nenhum pedaço de roupa. Seu corpo exposto estava sujo, e a forma como suas pálpebras estavam fechadas evidenciavam sua exaustão. Seu cabelo emaranhado era de um dourado cor de mel.

— Ela está respirando…! — disse Sacerdotisa alegremente, apanhando gentilmente a mulher.

Seu peito robusto subia e descia suavemente: a prova da vida.

— Missão cumprida, hein? — murmurou Alta-Elfa Arqueira, obviamente não acreditando em tal coisa.

Nunca havia qualquer senso de satisfação ou de conclusão em matar goblins. Ela contraiu os lábios e olhou pela capela. Era um local primitivo de culto. Para um alto-elfo como ela, não parecia ser possível sentir a presença dos deuses em um lugar como esse.

— …Me pergunto se um sacerdote da Seita do Mal esteve aqui.

— Ou talvez essas sejam resquícios de uma ruína antiga — disse Lagarto Sacerdote, olhando em volta. A elfa podia ouvi-lo tirando a poeira enquanto examinava o lugar. — Embora eu não possa imaginar bem qual deus poderia ser adorado em um lugar tão ordinário…

— Espere só um momento — disse Anão Xamã, passando o dedo ao longo da parede. — Essa terra está fresca. Foi escavada recentemente.

— Goblins.? — perguntou Matador de Goblins.

— Provavelmente — assentiu Anão Xamã.

Eram os goblins rheas caídos? Ou elfos ou anões? Ou eles vinham da lua verde? Ninguém sabia. Mas como criaturas que faziam suas casas no subsolo, possuíam estimadas habilidades em cavar. Não importa quão remoto o local, goblins poderiam cavar um buraco e começar a viver nele antes que alguém soubesse o que estava acontecendo.

Eles podiam sair e surpreender um grupo de aventureiros tão facilmente quanto poderiam tomar café da manhã. Uma pessoa não precisava ser Matador de Goblins para saber isso. Na sua primeira aventura, Sacerdotisa descobrira…

— Hum… Olhem aqui…!

Com a exclamação aflita de Sacerdotisa, ele olhou mais uma vez para a aventureira cativa. Sacerdotisa segurava o cabelo da mulher, sem medo de sujar as próprias mãos. Ela estava apontando para a nuca da mulher.

— Hum… Olhem aqui…!

Com a exclamação aflita de Sacerdotisa, ele olhou mais uma vez para a aventureira cativa. Sacerdotisa segurava o cabelo da mulher, sem medo de sujar as próprias mãos. Ela estava apontando para a nuca da mulher.

Alta-Elfa Arqueira não conseguiu conter um murmuro de “Isso é horrível”, e era difícil de culpá-la. O pescoço da mulher inconsciente possuía uma marca que se destacava dolorosamente. A impressão vermelha e preta horrível manchava sua pele senão linda.

— Hmm…

Matador de Goblins pegou o marcador de metal que estava próximo no chão. Parecia uma ferradura perdida ou algo assim, que fora trabalhada em um formato complexo.

— É isso que eles usaram? — perguntou Lagarto Sacerdote.

— Parece que sim.

Parecia ser uma espécie de círculo, no meio do que estava algo parecido como um olho. Matador de Goblins pegou uma tocha e examinou cuidadosamente a marca, fixando ela em sua memória. Era a marca de uma tribo nobre ou de um clã? Restavam muitos mistérios sobre os goblins.

— Contudo… não parece ser um totem de goblins.

Os goblins possuíam pouca noção para criar coisas si mesmos. Eles iriam apenas roubar o que precisavam; isso era o suficiente para eles. Esse ferrete, no entanto — mesmo que fosse construído de uma combinação de itens encontrados — representava um ato de criação.

— Acho que é… a lua verde — disse uma voz trêmula. Era Sacerdotisa, acariciando gentilmente o pescoço da mulher. — É o sinal de um deus. A divindade do conhecimento externo… o Deus da Sabedoria.

…Muitos deuses se reuniam à volta desse tabuleiro, para vigiá-lo. Eles incluíam, é claro, o Deus do Conhecimento, que governava o conhecimento das coisas e encontrava muitos fiéis entre estudiosos e oficiais. Dizia-se que a luz do Deus do Conhecimento brilhava entre todos que se aventuravam rumo ao desconhecido, buscando a verdade e as coisas do mundo.

Sim: o que o Deus do Conhecimento concedia não era o conhecimento em si, mas sinalizadores, um caminho que leva à verdade. As adversidades em si era um importante tipo de conhecimento.

O Deus da Sabedoria, que era a divindade do conhecimento das coisas externas, tratava com algo sutilmente diferente. O Deus da Sabedoria não conduzia os suplicantes ao conhecimento, mas dava sabedoria a todos os que pediam. O que isso faria ao mundo, o tabuleiro, provavelmente não era do interesse da divindade.

Considere, por exemplo, um jovem que, confrontado com as infelicidades mesquinhas da vida diária, resmunga: “Talvez o mundo acabe…”. Normalmente, tais palavras seriam meras tolices, uma expressão inocente de insatisfação. Mas, quando o olho do Deus da Sabedoria cai sobre tal pessoa; e então?

Em um instante, uma forma terrível de acabar com o mundo entra na mente do jovem, e ele começa a agir. Alguns acreditam nesse deus, graças ao surgimento repentino de discernimento inexplicável. Mas…

— Nossa. Agora minha cabeça dói tanto quanto a minha perna — disse Alta-Elfa Arqueira, franzindo a testa como se estivesse de fato com dor de cabeça. — Eu fico de olho. Vocês continuam.

— Ei — disse Anão Xamã com um pouco de aborrecimento. — É tudo muito bom e tal você ficar de guarda, mas poderia ao menos ouvir o que estamos falando.

— Sim, claro… — Ela não parecia muito entusiasmada. Ela mexia na corda do arco, com uma flecha vagamente de prontidão. Ela mantinha suas pernas se mexendo impacientemente; talvez a dor estivesse a incomodando. As suas orelhas balançavam um pouco como se escutasse atentamente.

Matador de Goblins olhou em sua direção, mas depois olhou mais uma vez para o marcador.

— A lua verde, você disse?

— Sim, senhor. Aprendi só um pouco sobre isso durante o meu tempo no templo. — Sacerdotisa não soava que acreditasse bem. Seu tempo como uma aprendiz já parecia tão distante.

— Você quer dizer daquela que os goblins vêm? — murmurou Matador de Goblins, pegando a marca de metal. — Se sim, então não há dúvidas de que os nossos inimigos são goblins.

Ele falou sem qualquer hesitação. — Um daqueles goblins mostrava sinais de ter sido curado.

Mas, quem chegaria ao ponto de usar um milagre para ajudar um goblin?

— Um agente do caos transbordando com misericórdia e compaixão? — zombou Lagarto Sacerdote. — Duvido.

— Então deveria ser um goblin, não é? — disse Sacerdotisa. — Mas… como poderiam…? — Ela pestanejou, como se não quisesse acreditar.

O deus que dava conhecimento do exterior era um imprevisível; não seria uma grande surpresa se a divindade falasse com um goblin.

Não seria estranho, contudo, uma dúvida desesperada permanecia no coração de Sacerdotisa. Ainda assim, se os goblins conseguissem completar um ritual… isso seria muito pior do que ouvir ocasionalmente a voz de deus.

— Tem certeza de que não é algum sacerdote maligno de ranque alto, um elfo negro ou algo assim? — perguntou ela.

— O quê? Não creio — respondeu uma voz clara e alta, em resposta a sugestão de Sacerdotisa.

Anão Xamã suspirou de novo e afagou a barba com mais do que um pouco de incômodo. — Você pode ficar vigiando ou conversar. Escolha um.

— Você é quem me disse para ouvir vocês. Se estou ouvindo, tenho o direito de contribuir, não tenho? — riu discretamente Alta-Elfa Arqueira.

— Hum — disse Lagarto Sacerdote, assentindo. — E senhora Patrulheira. O que gostaria de contribuir?

— Digo… — Ela girou seu dedo indicador em um círculo. — Se você tem um monte de goblins, e você só os usa para fazer algumas pilhagens… isso não o faz muito mais inteligente do que um goblin, não é?

— Inferno, Orelhuda, talvez um bando de bandidos descobriu a religião e pensaram que deveriam adorar os goblins!

— Você só está aborrecido porque não pode acreditar mais em sua própria explicação.

— Hum, bem.

— Heh. — Lagarto Sacerdote meio que bufou, cruzou os braços, e então começou a contar com seus dedos. — Ele pensa como um goblin, controla goblins, cura goblins, ataca pessoas e é um seguidor do mal.

Sacerdotisa colocou o dedo nos lábios, pensando nas possibilidades. — Um sacerdote goblin? Um sacerdote-guerreiro?

Nada parecia se encaixar bem. O que eles estavam enfrentando aqui? Um goblin de alguma espécie? Mas, de que tipo?

Naquele momento, uma ideia passou pela cabeça de Sacerdotisa, tão subitamente quanto fosse um presente dos céus.

Era uma ideia ultrajante e inviável. Mas…

As coisas começavam a fazer sentido se estivessem lidando com alguém que possuía um exército contra os descrentes.

— Não… Não pode ser. Isso é impossível.

— …

Ela se abraçou, pondo as mãos em seus próprios ombros enquanto balançava a cabeça, se recusando a acreditar.

Ao seu lado, ela podia ouvir o ferrete ranger na mão de Matador de Goblins.

Não era possível. Era ridículo. Mas, na verdade, nada era impossível.

Só havia uma resposta. Matador de Goblins reconheceu claramente a verdade de seu inimigo.

— Um goblin paladino…

 


 

Tradução: Kakasplat (3 Lobos)

Revisão: JZanin (3 Lobos)

 

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