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Matador de Goblins – Vol. 04 – Cap. 10 – De Ir Lá e de Voltar Outra Vez

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A noite estava chegando quando a carruagem compartilhada parou. O sol se pondo lançava seus últimos raios vermelhos, e o mundo foi pintado de roxo junto as marcas da escuridão. A sombra alongada do veículo se fundia com as grandes e distorcidas silhuetas da cidade, criando figuras bizarras e caricatas.

Quando ouviu as crianças correndo para a casa ao longe, Matador de Goblins relaxou. Ele não entendia por que seus músculos ficaram tão tensos na carruagem, embora tudo o que fez foi cavalgar. Ele estava completamente consciente, mas seu corpo parecia pesado, sua cabeça confusa e seus passos incertos e leve.

Acho que esse é o momento, decidiu ele, fechando os olhos durante alguns segundos para aliviar a dor maçante neles. Ele recordou de ouvir em algum lugar, uma vez, que humanos só podiam lutar continuamente por no máximo vinte dias. Sem descanso, mais do que isso iria provavelmente degradar suas capacidades de diversas formas.

Matador de Goblins não era tão otimista de supor que ele poderia aguentar tanto tempo.

Ele partiu com um passo audaz, rumando direto para o edifício que assomava próximo ao portão principal: a Guilda. Ele faria seu relatório, pegaria a recompensa, examinaria seu equipamento, descansaria um pouco, e então sairia de novo para matar goblins.

Era exatamente a mesma rotina que sempre seguia. Nunca mudou. Não poderia.

Mas, quando ele foi abrir a porta da Guilda…

— Oh!

— Minha… nossa.

Ela abriu do outro lado, e ele quase acabou esbarrando em um homem e uma mulher saindo. O homem recuou alguns passos quando confrontado com o capacete de aço coberto de manchas carmesins. Sua companheira avantajada apenas parou com seu cajado preparado e seus lábios arqueados elegantemente.

— Caramba, parceiro — disse Lanceiro com uma expressão tremendamente cansada. — Tem que parar de andar por aí com esse capacete.

— Eu te assustei?

— Não mais que o normal!

— Sabia… que você… parece uma… armadura viva, não é?

Os risinhos de Bruxa pareceram fazer o perplexo Lanceiro ainda mais furioso.

Matador de Goblins virou seu capacete de um lado para o outro, os observando despreocupado. Lanceiro estava equipado com sua armadura e a sua amada lança, com uma mochila pendurada na ponta. Quanto a Bruxa, ela usava seu traje habitual e segurava seu cajado usual. Ela também carregava um recipiente cilíndrico com um pergaminho. Era perfeitamente óbvio onde os dois estavam indo.

— Partindo em uma aventura?

— Sim. — Os olhos de Bruxa, agraciado por cílios longos, entrecerrou um pouco. — Um encontro… se preferir.

— E suponho que você tem andando exterminando goblins?

— Sim — assentiu Matador de Goblins. — Acabei de terminar.

— Tsc. Claro — murmurou Lanceiro, então abriu a boca para dizer mais alguma coisa. Mas uma expressão que era difícil de descrever passou pelo seu rosto; ele olhou do capacete para a Guilda e voltou de novo, depois fechou a boca sem dizer nada.

Matador de Goblins abriu a porta, dando espaço para passar uma pessoa. Depois de um momento de reflexão, pensando que deveria dizer algo, ele disse: — Tenham cuidado.

— Você é a última pessoa de quem quero ouvir isso.

Lanceiro bateu com o punho no ombro de Matador de Goblins enquanto passava. Ele já estava começando a andar quando Matador de Goblins olhou para o ombro com um pouco de perplexidade. Quando ele olhou para cima de novo, viu Bruxa dando a ele um sorriso estranhamente significativo antes de sair, balançando os quadris.

— …Hmm.

Matador de Goblins inclinou a cabeça ligeiramente, deixando a porta entreaberta. Ela rangeu quando fechou, e então ele abriu de novo, por si mesmo dessa vez.

Os gritos entusiasmados no edifício o envolveram. Um grupo estava agrupado na recepção, tentando apresentar um relatório sobre sua aventura. Um outro olhava o quadro de avisos, à procura de uma missão que podiam começar de imediato. Algumas pessoas estavam no bar, aproveitando um dia de folga, enquanto outros estavam ansiosos para pegar novas aventuras. Era barulhento, era rude e o lugar todo ressoava com o som de armas, equipamentos e vozes.

Matador de Goblins examinou rapidamente o local desde a entrada, então caminhou até a área de espera livre. Ele podia ver que Garota da Guilda estava ocupado no momento ajudando outros aventureiros. Sua cabeça balançou em resposta à sua pequena saudação, e ele foi para o banco.

— Oh!

— Ah!

Isso provocou um par de exclamações incoerentes dos arredores. Ele se virou para olhar e viu um jovem e uma jovem que pareciam completamente exaustos.

Era Guerreiro Novato e Sacerdotisa Aprendiz. Talvez tivessem tido uma luta de água, pois o cabelo deles estavam úmidos e ensopados. Ao mesmo tempo, havia uma pitada de entusiasmo em seus rostos, muito provavelmente o prazer de um trabalho feito.

Uma clava estava pendurada ao lado da espada na cintura do garoto. Estava sujo e bem usado, e havia uma alça de corda no cabo. Matador de Goblins inclinou o capacete bem ligeiramente.

— Então você está usando.

— …Oh, hum, é. — Guerreiro Novato se moveu desconfortavelmente, então deu um tapa na clava suavemente. — É bastante boa.

— É mesmo? — disse Matador de Goblins assentindo.

Guerreiro Novato coçou a bochecha de uma forma que sugeria indecisão, depois disse: — Estive pensando…

— …

— Talvez dê o nome de Esmagador.

— Entendi.

— Ei — disse Sacerdotisa Aprendiz, dando ao jovem guerreiro um golpe com o cotovelo. — Esse nome é vergonhoso.

Guerreiro Novato resmungou, mas não recuou. — É, mas…

Matador de Goblins olhou de um para o outro quando começaram discutir, então se levantou.

O grupo na frente de Garota da Guilda fora embora.

Matador de Goblins ficou em silêncio por alguns instantes, mas antes que ele começasse a se mover, murmurou: — Não é nada mau.

A argumentação deles parou em um instante. O garoto e a garota ficaram boquiabertos para o capacete de aço medíocre, como se não conseguissem acreditar no que acabaram de ouvir. O capacete inclinou um pouco para olhara para eles.

— Não serve para arremessar, mas essa corda é engenhosa — continuou a voz sossegada. — Talvez eu tente isso.

Os dois aventureiros jovens se viraram para olharem um para o outro enquanto Matador de Goblins virava as costas para eles e partia.

Na recepção, Garota da Guilda, que acabou os afazeres com os outros aventureiros, endireitava um maço de papéis. Quando viu o elmo de aço sujo, ela deu um sorriso brilhante.

— Bem-vindo de volta, Sr. Matador de Goblins!

— Obrigado. — A cadeira rangeu sob seu peso quando ele se sentou, e então ele observou rapidamente alguns objetos estranhos na mesa. Eram bonecos pequenos o bastante para caberem na palma da mão; não, era um grupo de cinco ou seis peões em forma de aventureiros.

— Oh, esses? — Garota da Guilda não conseguiu segurar um riso quando tocou um deles com a ponta do dedo. Parecia ser um guerreiro com armadura leve. Ele estava com um pequeno escudo e espada, e ela o colocou gentilmente na mão. — Os encontrei outro dia… Eles só são peças de jogo, mas me senti um pouco mal os colocando em qualquer lugar.

— É mesmo? — Ela assentiu para ele e pôs o boneco de volta no lugar. Um batedor levemente armadurado, um cavaleiro com um capacete de aço, um elfo feiticeiro, um guerreiro anão e um monge velho.

— Isso é… um grupo?

— Sim. Aventureiros que partiram para fechar o portão da tumba que leva ao inferno. Não que eles já tiveram conseguido… — ela coçou a bochecha.

— Está bem balanceado — disse ele.

— Sim. É um grupo muito bom. — Ela falou sobre sua aventura como se tivesse realmente acontecido. Como elas encontraram a entrada do túmulo, lutou com um monstro guardião de verde e o labirinto terrível…

Matador de Goblins ouviu em silêncio, até que Garota da Guilda voltou a si mesma com um susto.

— M-me desculpe! Eu fiquei todo esse tempo…

— Não se preocupe — disse Matador de Goblins balançando a cabeça. — É bem interessante.

— É? — Garota da Guilda inclinou a cabeça, balançando ligeiramente as tranças. Então ela tossiu um pouco. Ela lhe ofereceu uma xícara de chá que preparara e se acomodou de novo no seu lugar.

— Então, hum… Como foi a sua missão?

Matador de Goblins pegou o copo e bebeu, então disse:

— Havia goblins lá.

Sim, claro. Garota da Guilda sorria como se isso a fizesse feliz, com sua pena se movendo pela folha. Quantos eram? Como se estabeleceram? Como os matou? Ele resgatou alguém? A missão foi bem-sucedida?

Ele lhe deu a informação serenamente. Tudo como o de costume. Outro trabalho de extermínio de goblins por Matador de Goblins. Quando ela terminou de escrever um relatório rápido, ela leu de novo, revisando tudo.

Estava tudo em ordem. Garota da Guilda o parabenizou outra vez pelo trabalho bem feito, depois colocou o selo no relatório. Agora o trabalho estava realmente terminado. Tudo o que faltava era pegar sua recompensa do cofre.

— Agora, sua recompensa… Oh, isso mesmo. — Ela bateu as mãos com suas unhas cuidadosamente cortadas. Havia algo que ela não poderia esquecer. — Se lembra da aldeia do outro dia?

— Que aldeia?

— Aquela que foi sozinho…

— Ah — assentiu ele. A caverna. Os aldeões. O garoto. A prisioneira. — Eu me lembro.

— Bem, aquela aldeia — disse Garota da Guilda com um riso expressivo — lhe enviou um pequeno presente de agradecimento.

Ela disse a ele que esperasse um instante e desapareceu como um cachorrinho feliz. Ela pegou uma bolsa de couro do cofre e pesou em uma balança, se certificando de que o ouro pesava o que devia. Sem problemas.

Ela pôs a bolsa em uma bandeja, depois deu um hup! e colocou um cesto inconveniente ao lado. O resultado, na mesa da recepção, era um monte de milho que parecia ter sido colhido recentemente.

— Eles disseram que isso é para você comer!

— Oh-ho.

Matador de Goblins pegou uma das espigas; era pesada na mão. Ele puxou a casca para revelar lindos grãos dourados.

— Está muito maduro.

— Não é? — Ela estufou seu peito mediano prazerosamente, tão orgulhosa como se ela mesma tivesse cuidado do milho. — E sabe que mais? A pessoa que trouxe foi uma pessoa que você salvou recentemente.

— …Foi agora?

— An-ham! — Garota da Guilda deixou seus olhos se moverem para o milho com uma expressão que indicava alívio. Era raro que aventureiros ou mercenários tivessem uma segunda chance quando falhara uma vez. — É ótimo, não é?

— É. — Matador de Goblins balançou seu capacete lentamente para cima e para baixo. — Excelente.

E assim, com toda a papelada e procedimentos terminados, Matador de Goblins pegou a cesta de milho e se pôs de pé. Exceto pelos registrantes muito novos, nenhum desses reunidos na Guilda lhe prestou atenção especial. Talvez alguns olhassem para cima e comentavam: “Ah, lá vai ele de novo”. Não foi diferente de Garoto Aprendiz enquanto espreitava da oficina, lhe dando uma pequena reverência.

Matador de Goblins parou. — O que foi? — O garoto limpou as mãos no avental antes de falar.

— Ah, nada. Pensei que você poderia, hum, precisar de uma espada ou algo assim, e queria vir fazer o seu pedido.

— Entendi — assentiu Matador de Goblins. — Nesse caso, uma, por favor.

— Pode deixar. Não quer pedir várias de uma vez?

 

 

 

— Não. — Matador de Goblins apalpou a bainha ao seu lado. — Só consigo carregar uma de cada vez.

— Esse é o nosso Matador de Goblins — disse Garoto Aprendiz com um sorriso irônico e um aceno. — Vou arranjar uma para você então, e… Uoo! Esse é um belo milho! — Ele avistou a cesta e pestanejou. — Sorte a sua — disse ele. — Não sabia que já estava na época.

— É.

— No interior, antes de vir para cá, nós costumávamos ferver o milho toda vez. Sabe, no verão.

— É mesmo? — Matador de Goblins pegou da cesta, indiferentemente, duas ou três espigas de milho. Ele as esticou na direção do aprendiz. — Quer um pouco?

Garoto Aprendiz fez um som de surpresa. — Posso? Sério?

— Devo bastante a você e a seu mestre.

— B-bem, está bom então! Muito obrigado! — Abaixando a cabeça, Garoto Aprendiz correu com o milho nos braços. — Ei, chefe! — Sua voz ecoou na oficina. Matador de Goblins se virou e seguiu.

O dia estava acabando e aventuras tinham acabado, então a Guilda estava cheia de aventureiros. Ele abriu caminho por entre a multidão, dando um ligeiro aceno com a cabeça cada vez que alguém que conhecia o cumprimentava.

— Céus. Podia ter nos avisado. Podíamos ter cozinhado elas na cozinha.

Assim que alcançou a porta, ele sentiu um puxão no cotovelo.

— O quê? — Ele olhou e viu Garçonete Felpubro, segurando seu braço e olhando sugestivamente na direção da oficina.

— Na verdade, tenho certeza de que devia ter nos trazido um pouco disso primeiro.

— Acha?

— É. Podíamos ter preparado e todos podiam ter dividido! Isso não foi muito gentil de sua parte… — continuou ela, piorando a injúria.

Matador de Goblins apenas assentiu e disse: — É mesmo?

Com sua cesta de milho, o aventureiro de capacete de aço se destacava ainda mais do que o usual.

— Aí, Matador de Goblins! — chamou uma voz eufórica da taverna.

Ele virou o capacete para olhar. Guerreiro de Armadura Pesada acenava com a mão, seu rosto vermelho sugeria que ele já tinha tomado todas.

— Você parece um homem que precisa de uma bebida. Venha cá e vamos brindar!

— Não me diga que você quer que ele se junte a nós? — Cavaleira, com seu lindo rosto tingido com um pouco de carmesim, estufou as bochechas ao lado do guerreiro.

— Ah, qual é o problema? Só de vez em quando.

— Alguns de nós gostariam que algo além de história sobre goblins acompanhasse nossas bebidas. — Sua cadeira rangeu quando ela se levantou com um resmungo exasperado de “ah, esqueça” e trocou de lugar. — Cheguem para lá, crianças. A paladina vai se sentar aqui.

— Não sei, realmente acha que pode se chamar de paladina com uma boca como essa…? — disse Garoto Batedor.

— Tome cuidado. Veja se eu não lance Punição Sagrada em você um dia desse…

— Claro. Não tem sido nada além de Trombada com Escudo ultimamente — comentou Druidesa.

— E o quê? Por favor, me diga, é errado para um cavaleiro usar seu escudo? Culpe os deuses por não me dar nenhum milagre!

— Ahh, já pode ficar quieto?! Homens não conseguem pensar direito porque falam demais!

Garoto Batedor e Druidesa começaram a discutir como crianças quando Cavaleira os deixou livre. Guerreiro de Armadura Pesada interrompeu e olhou furiosamente para todos. Ele não tinha nenhuma atenção sobrando para Matador de Goblins.

Assim que o último tentava descobrir o que fazer, uma sombra apareceu ao lado dele. Era o meio-elfo do grupo de Guerreiro de Armadura Pesada. Ele fez uma elegante reverência com a cabeça e piscou.

— Quero ter uma palavrinha com os nossos estimados líderes. Por favor, não lhes dê atenção.

— Nem brincando! — Disse Garçonete Felpubro com uma risada. — Eles estão para lááá de bêbados. Não há nada de interessante lá. — Ela balançou a mão parecida com uma pata como se estivesse enxotando algo. — Muito bem, senhor, vá em frente. Não seria bom manter alguém esperando, seria?

— … — Matador de Goblins virou seu capacete em direção aos dois, depois para Guerreiro de Armadura Pesada no bar. Ele olhou para cima, depois para baixo. — Obrigado.

— Sem problema! — Ela respondeu sua palavra calma de gratidão com um sorriso, e ele não disse mais nada enquanto saía do edifício.

Empurrado pelos aventureiros em volta, ele abriu as portas vai-e-vem e saiu. Havia uma brisa fresca da noite, e dentro do capacete, Matador de Goblins fechou os olhos. Então ele deu um passo em frente. Ele prosseguiu pela rua com seu passo casual e ousado habitual, indo para o portão principal. Mais uma vez, o portão estava bem ao lado da Guilda, então não ficava muito longe. Ainda assim…

Entre o vai-e-vem de aventureiros e viajantes passando pelo portão, uma forma maciça se sobrepunha acima do resto. Matador de Goblins parou quando notou a silhueta distinta, e seu dono o viu também.

— Oh-ho, meu senhor Matador de Goblins! — O rosto do homem-lagarto se iluminou, e ele balançou bem o braço para chamar a atenção do guerreiro. Quando Matador de Goblins chegou perto o bastante por entre a multidão, ele pôde ver três outras pessoas ao lado do lagarto; todos os seus companheiros habituais estavam ali.

Os quatro pareciam exaustos, com as roupas sujas, mas um sentimento de realização estava claro em seus rostos. O nariz de Anão Xamã se contraiu com o leve cheiro de sangue, e assim ele destampou uma garrafa de vinho para se livrar dele.

— O que é isso? Não me diga que está saindo de novo a essa hora, Corta-barba?

— Não — disse Matador de Goblins balançando o capacete. — Estou indo para casa. E vocês?

— Apenas acabamos uma pequena aventura.

— É bem difícil com apenas uma pessoa na linha de frente! — Alta-Elfa Arqueira fez um som de aborrecimento e deu de ombros, balançando a cabeça. Então estendeu a mão e agarrou Sacerdotisa, a puxando em um abraço.

— Q-quê!

— Aposto que você está bastante cansada.

— N-não, eu… — O súbito contato físico pareceu deixá-la tonta; podendo ou não ter sido isso o motivo de ela abaixar a cabeça timidamente. — Estou bem. Obrigada a todos por se esforçar tanto em me proteger…

— Oh, e é modesta também! — Alta-Elfa Arqueira mantinha os braços esbeltos da garota, acariciando sua cabeça e gorjeando “que docinho”. Ela olhou para Matador de Goblins ao mesmo tempo, com aparentemente nenhuma intenção de deixá-lo ir. — Então — disse ela — não sou um anão, mas pensei que devíamos ter um miminho.

— Entendi.

— Ooh, isso é milho? — Os olhos da elfa, sempre perspicazes, caíram sobre o cesto que Matador de Goblins carregava. A menos que ela estivesse muito enganada, estava cheia de milhos amarelos de maduro, ainda na casca. — Ooh! Ooh! Pode me dar um pouco? Por favor! — Mal terminou de falar e ela soltou Sacerdotisa e surrupiou uma espiga.

— Você é um elfo ou um rhea? — perguntou Anão Xamã, apanhado entre irritação e diversão.

— Está bem — disse Matador de Goblins, fazendo com que a elfa estufasse seu pequeno peito ainda mais orgulhosamente.

Sacerdotisa ficou ocupada estando desvairada durante toda a situação, e Lagarto Sacerdote silvou. — Oh-ho. Isso era um alimento básico na minha terra natal.

— Hã? Quer dizer que vocês comem algo além de carne?  — perguntou Sacerdotisa, surpresa. Ela podia ver uma discussão surgindo apesar da fadiga, e ela queria evitar isso o máximo possível.

— Costumamos fazer mingau dele e beber em uma sopa com mel ou agave.

— Uau! Mal consigo imaginar isso. — Alta-Elfa Arqueira se inclinou, com seu interesse desviado com sucesso, e Sacerdotisa deu um pequeno suspiro de alívio.

— Nesse caso, prepararei um pouco. Ah, sim, meu senhor Matador de Goblins.

— O quê?

— Se me permite incomodá-lo, gostaria de outra rodela de…

— Queijo?

— …Hum.

A cabeça de Lagarto Sacerdote se agitou impacientemente, e ele não conseguiu conter uma bofetada de sua cauda no chão.

— Eu o enviarei diretamente ao seu quarto.

— Ahh! Meus agradecimentos sem limites! Isso se tornou um vício para mim… — Ele continuou nesse mesmo sentido, com gritos de “oh, doce néctar!” e coisas assim.

— Orcbolg — disse Alta-Elfa Arqueira, observando o lagarto de soslaio —  por que simplesmente não entrega você mesmo então?

— Então não seria afazeres de fazenda.

— Hummm.

Isso contava como uma espécie de integridade? Alta-Elfa Arqueira balançou as orelhas e riu. — Isso é perfeito, então… Estava pensando em te pedir para fazer um trabalho.

— Goblins?

— Claro que não — disse Alta-Elfa Arqueira com um balançar de suas orelhas. — Quero que acompanhe essa garota de volta ao templo.

— Hwah?! — Sacerdotisa não esperava se tornar o alvo da conversa. Ela acabou por ser empurrada por trás até que estivesse na frente de Matador de Goblins. Ela olhou freneticamente dele para Alta-Elfa Arqueira e assim por diante. — Ah! Uh! E… estou bem… sozinha. Não é muito longe…

— A estrada é um lugar perigoso à noite. — Anão Xamã passou a mão pela barba, com um sorriso provocador no rosto. — Goblins podem aparecer a qualquer momento. Não é verdade, Corta-barba?

— Sim — disse Matador de Goblins com máxima seriedade. — Mas vocês não estão hospedados na pousada da Guilda?

— É, mas parece que ela tem alguma coisa a ver com o festival do outono, hum?

Quando Alta-Elfa Arqueira olhou para ela para confirmar, Sacerdotisa pareceu incapaz de formar uma resposta. Era verdade, aparentemente, mas admitir isso significaria ser escoltada de volta ao templo.

Lagarto Sacerdote a encurralou ainda mais, adicionando sua voz ao coro: — Lhe faria bem deixá-lo acompanhá-la.

— Não é hora de ficar tímida, moça.

— …

Todos pareciam muito sérios. Eles não poderiam estar errados, poderiam? Sacerdotisa olhou de um em um, esperando encontrar alguma pista em seus rostos, quando Matador de Goblins começou a se mover.

— Vamos. — E ele partiu com essa palavra franca.

— Ah, hum, uh, s-sim, senhor! — Sacerdotisa acabou por correr atrás dele, ansiosa para não ficar para trás.

Ela deu uma olhada sobre os ombros para encontrar os outros três observando eles ir, seus sorrisos sugeriam que estavam se divertindo com a cena. Ela achou isso estranhamento embaraçoso e sentiu suas bochechas aquecerem, mas ela se curvou para eles mesmo assim.

— Eu, hum, vejo vocês amanhã!

Matador de Goblins parou e pensou por um momento, com seu capacete inclinando só um pouco, depois começou a andar outra vez. Sacerdotisa correu para alcançá-lo enquanto ele ficava cada vez mais distante. Ela só o alcançou quando ele abrandou o passo.

— V-você tem andado, é, ocupado ultimamente? — Sacerdotisa olhou para ele, se esforçando para acalmar sua respiração. Ele usava o mesmo capacete de aço de sempre. Se o capacete já não tivesse ocultado sua expressão, a escuridão o teria.

— Sim — disse Matador de Goblins assentindo. — Precisava de dinheiro.

— Dinheiro…?

— Juntei o suficiente agora.

Hum. Sacerdotisa tocou o dedo pálido nos lábios, observando o chão enquanto pensava. Ela sentiu um pouco de insatisfação e uma pitada de preocupação. Ela não experimentava isso como ciúmes, propriamente. Era uma tristeza, quase uma raiva, que ele não a convidara. Ele devia ter se sentido livre para lhe dizer.

Enquanto ela ficou pensando, ele continuou andando, e ela fez um esforço para alcançá-lo. Não demorou muito tempo para chegarem ao Templo da Mãe Terra.

— Chegamos. — Quando Matador de Goblins falou, ela olhou para cima para se ver à porta do templo. O sol roxo da penumbra atravessava pelas paredes de porcelana; dentro, um fogo aceso pela vigília noturna tremeluzia.

— Muito obrigada — disse Sacerdotisa, subindo as escadas da entrada.

Eu estou… bem com isso?

Não. Não, não estava. Foi por isso que ela criou coragem e falou. Ela tinha certeza de que seu rosto estava vermelho, mas talvez entre o crepúsculo e a escuridão, ele não poderia ver.

— A-ahn! Na próxima vez que for em uma aventura, tenha… tenha a certeza de me avisar! — disse ela tão energicamente quando pôde.

— …

Matador de Goblins não disse nada a princípio e apenas olhou para ela. Mas depois de um momento ele disse: — Está bem — e deu um aceno inconfundível. — Eu irei.

Isso era tudo o que Sacerdotisa precisava ouvir. Seu rosto se iluminou tão intensamente que era notável mesmo na profunda escuridão. — Certo! — exclamou ela. — Até amanhã então!

— Até amanhã — murmurou ele, observando enquanto ela se virava e desaparecia no templo.

Por um tempo ele ficou parado ali na frente do edifício.

Encontrei com bastante pessoas hoje. Ele pensara isso antes.

Mas, ele refletiu, não era exatamente verdade. Essas pessoas estiveram sempre ali. As coisas tinham, em certo sentido, mudado. Mas em outras, não. Era simplesmente porque ele nunca reparou.

Ele tinha a sensação de que muitas coisas tinham escapado de sua atenção. Ele respirou fundo e depois soltou lentamente.

Ele passou pela Guilda — ainda movimentada — então saiu pelo portão e seguiu a estrada. As luas gêmeas e as estrelas entre elas conspiravam para silenciar a sensação de escuridão. O vento agitava a vegetação rasteira, oferecendo um frescor agradável.

Ele caminhava silenciosamente pela estrada com seu passo habitual.

E então, ao longe, ele viu um único ponto de luz. Por sua vez, no mesmo lugar de sempre. Ele chegou onde ele conseguia ver a luz da fazenda.

Matador de Goblins acelerou o ritmo ligeiramente. Ele passou pelo muro de pedra que ele e o dono da fazenda construíram juntos e passou pela cerca que ele consertou, até a porta.

Após respirar fundo, Matador de Goblins parou diante de uma porta velha de madeira, mas não a abriu imediatamente. Antes, ele vasculhou sua bolsa de itens em sua cintura, pegando um saco estufado de peças de ouro. Tinha um bom peso na mão. Ele soltou a corda e verificou o conteúdo. Estava tudo em ordem. Ele guardou. Seu capacete de aço se moveu para a direita, então para a esquerda. Por fim, ele moveu seu olhar para o céu.

— Bom — sussurrou ele baixinho, depois pôs a mão na maçaneta. Ele girou e abriu a porta.

Juntamente com o ranger da porta veio um calor relaxante e um aroma doce. Assim que ele percebeu que era alguma coisa cozida com leite, a garota que estava na cozinha se virou.

— Ufa! Você ficou fora bastante tempo. — Ela piscou de surpresa, limpando as mãos no avental e correndo pela cozinha.

Ele fechou a porta atrás de si, entrando na casa com passos calculados. Ela olhou para ele e viu a cesta que carregava ao seu lado.

— O que há com o milho? Parece ótimo!

— Um presente — disse ele, colocando a cesta na mesa.

— Ah, é? — disse ela, mexendo a panela grande. Sem olhar para ele, depois acrescentou: — Não em cima da mesa.

— Hrm.

— Coloque em uma cadeira.

— Onde está o seu tio?

— Ele disse que tinha uma reunião hoje. Vai chegar tarde.

— Muito bem, então. — Ele puxou uma cadeira fazendo ruído e pôs a cesta. O monte de milho ficou lá orgulhosamente, como se fosse o convidado de honra. Ele deu um grunhido e assentiu.

Enquanto isso, ela estava correndo por toda a cozinha. — Só um minuto, está bem? Estará pronto em breve.

— Tudo bem — disse ele. Ele foi até a cadeira e colocou a mão atrás das costas.

— Hum? — Ela olhou sobre os ombros quando ele não mostrou sinais de se sentar como costumava fazer. Ela o viu parado próximo da cadeira, em silêncio.

Hmm… Secando as mãos no avental, ela largou o fogo e foi ao seu lado. Normalmente é melhor para mim ver o que há quando ele fica assim.

— O que foi? — Ela se inclinou para frente, como se estivesse tentando vislumbrar o rosto dele.

Aquele capacete familiar. Ele escondia sua expressão, e ainda assim, ela tinha uma boa ideia do que estava debaixo dele agora.

— Hm. — Ele ficou calado por um momento antes de finalmente dizer “nada”. Depois de mais algum tempo ele disse: — Antes de comermos…

— Sim?

— …tem uma coisa que quero te dar.

Pouco a pouco as palavras deixaram sua boca, e então ele mexeu sua bolsa de itens. Ele pegou o saco de peças de ouro que verificou mais cedo. O saco balançou quando ele colocou na mesa.

Ela piscou, surpreendida. — O que é isso? Pensei que já tivesse pagado o aluguel desse mês.

— Não é o aluguel. — Ele falou ainda mais cruamente do que o habitual. — Feliz aniversário.

— Oh! — Ela juntou as mãos. Ele estava certo. Ela esteve tão ocupada que tinha esquecido completamente disso.

Amanhã é meu décimo nono aniversário.

— Eu não sabia o que te dar, então achei que isso seria melhor — disse ele, empurrando o saco em direção a ela. Poderia ter sido mais problemático do que o normal o embrulhar, mesmo assim, era uma bolsa de couro sem decoração, excepcionalmente simples. E ela estava cheio de dinheiro. Como um presente de aniversário, não era muito bom.

— Sabe, você… — Várias expressões passaram pelo rosto de Vaqueira, todas difíceis de se entender. Ela deveria estar zangada? Chateada? Aborrecida, ou triste? Finalmente ela pôs um sorriso estupefato. — …não tem jeito.

Ela abraçou a bolsa de moedas em seu peito assim como uma criança faria com uma boneca nova.

— Você age como se não soubesse de nada, e então quando acho que você sabe de uma coisa ou outra… acontece que você não sabia mesmo de nada.

— Hrm…

— Se não tiver certeza do que comprar, me leve junto. Podemos escolher algo juntos.

Isso é o que realmente quero.

Ele grunhiu suavemente com as palavras dela, depois acenou lentamente com seu capacete para cima e para baixo. — …Eu entendi.

— Essa resposta não inspira confiança. Vou lhe agradecer… mais uma vez quando escolhermos meu presente. — Ela riu, percebendo que estava lhe dando sermões, e afagou suas costas. — Estou com grandes expectativas com o festival da colheita, está bem? Ela estava sorrindo. Ela não parecia estar esperando muita coisa.

Então ela não o levou muito a sério quando ele disse “vou pensar sobre isso”.

— Claro, claro. Enfim, sente-se. O jantar está pronto, vamos comer!

Então ela colocou as mãos no ombro dele, grande pela armadura, e o guiou para a cadeira. Ela foi de volta à cozinha, mas se virou quando um pensamento cruzou sua cabeça.

— Ah, é, esqueci de uma coisa importante. — Ela fez com que lhe desse o sorriso mais brilhante que pudesse. — Bem-vindo de volta!

— Obrigado — assentiu ele, se movendo calmamente na cadeira. — Estou de volta.

 


 

Tradução: Kakasplat (3 Lobos)

Revisão: JZanin (3 Lobos)

 

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