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Matador de Goblins – Vol. 04 – Cap. 05 – De um Dia em que Ele não Estava Lá

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— Mrm… ooh… hha…

Logo após o amanhecer, o ar fresco eriçou sua pele; ela se revirou com os cobertores com pequenos ruídos.

Normalmente ela teria esperado ouvi-los nesse momento, mas hoje não houve qualquer sinal de passos se aproximando.

— …Oooh…?

Ela não era do tipo de ter problemas em sair da cama, mas sem os sons que estava acostumada, achava difícil abrir os olhos.

Quando finalmente se arrastou para fora da cama de palha, ela esfregou suas pálpebras pesadas e sonolentas e deu um grande bocejo.

O meio-dia ainda era quente, mas a noite e a manhã assumiam um frio.

Com muita tremedeira e sacolejos, ela colocou as roupas íntimas em seu corpo saudavelmente carnudo, como sempre.

— M-mm… talvez só um pouco… apertado demais?

Ela ganhara algum peso? Ou apenas cresceu um pouco? Seja como for, ela não via com bons olhos. Era injusto seu tio ficar sempre comprando roupas novas e roupas íntimas.

Mas, também não é bom usar coisas que não cabem.

Se calhar, ela faria modificações na roupa.

Com esses pensamentos em mente, ela abriu a janela e a brisa fresca da manhã soprou no quarto.

Sorrindo de prazer, ela se debruçou, repousando seu peito volumoso no parapeito da janela.

Era uma cena que ela conhecia e gostava.

Os campos da fazenda balançando. O mugido de vacas ao longe. O cacarejo de galinhas. A fumaça se erguendo da cidade longínqua. O mundo.

— …Ah, é mesmo — murmurou Vaqueira distraidamente, enquanto se deleitava na luz dourada do sol. — Ele não está aqui hoje.

 

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— Que tal você ir à cidade?

— O que disse?

Vaqueira virou só a cabeça para olhar para seu tio. O café da manhã terminara, e ela estava empilhando os pratos na pia.

Não havia muito o que lavar quando ele não estava. Isso facilitava as coisas, e isso era bom, de certa forma.

— Eu disse: Que tal você ir à cidade?

Ela olhou para ele outra vez. Sua expressão era simples e franca, e ele olhava soturnamente para ela.

— Hum? — disse ela questionadoramente, olhando de volta para ele enquanto pegava os pratos e os secava. — Para mim tanto faz. Mas eu não teria muito o que fazer lá.

— Bom, isso não pode ser verdade. — Seu tio estava sempre tão sério. Ele continuou sem pausar: — Seus amigos estão lá, não estão?

— Amigos, certo…

Vaqueira sorriu vagamente. Ela pegou um pouco de areia de um balde ao lado dela e esfregou na superfície de um dos pratos, xric-xroc.

— Acho que podemos chamar aquela pessoa de amiga, se quisesse. Mas acho que talvez ela esteja bem mais para uma companheira que compartilha os mesmos valores.

— Devia sair para se divertir às vezes.

— Hmm…

Vaqueira fez um som que não foi nem aceitação quanto negação.

Vendo que a areia limpou todas as manchas do prato, ela lavou outra vez com água.

Finalmente ela limpou o prato suavemente para secá-lo e devolver para a prateleira de louças.

— Mas há os animais para cuidar, a colheita, o muro de pedra e a cerca para verificar, entregas para fazer e depois temos que se preparar para amanhã…

Ela contou as tarefas com os dedos; havia mesmo muito trabalho. Muitas coisas para serem feitas. Coisas que tinham de ser feitas hoje. Coisas que deveriam ser feitas hoje. Todos os tipos de coisas que poderiam ser resolvidas em vez de adiadas.

Exato, assentiu Vaqueira, fazendo seu peito balançar. — Não tenho tempo para brincadeiras. Ainda bem que temos trabalho a fazer!

— Estou dizendo para você ir se divertir. — Sua voz não tolerava qualquer argumento.

Ela olhou para ele, surpreendida com seu tom brusco.

Seu tio estava imóvel. Quando ele ficava assim, sua opinião era menos propensa a mudar do que uma montanha. Ele passara dez anos a criando, e ela compreendeu isso sem ele dizer nada.

— Hã? Mas… Hum…

— Você ainda é muito nova. Quantos anos você tem? Quero que você me diga.

— Hum, eu tenho… dezoito… — Ela assentiu assiduamente. — Quase dezenove.

— Então não é o seu dever trabalhar de manhã até a noite todos os dias.

Vaqueira quebrou a cabeça por uma resposta.

…Hum? Por que estou tão contraria em sair?

O pensamento passou por toda sua mente e desapareceu. Esse não era o momento.

— M-mas, e o dinheiro…

— Felizmente, não somos servos. Nossas vidas não são ditadas pela falta de recursos.

— Bem, verdade, mas…

Não adiantava. Com sua frágil resistência sumariamente subjugada, Vaqueira ficou sem palavras.

Bem, e agora? Os pratos estavam limpos e ela não tinha outras cartas na manga.

Ela revirou afazeres na cozinha por um tempo antes de finalmente se sentar em frente ao seu tio.

— Não precisa se preocupar comigo. — Ele era gentil como sempre, como se estivesse falando com uma criança.

Vaqueira contraiu os lábios — ele não tinha que falar com ela dessa forma — mas ela não disse nada. Talvez isso mesmo fosse infantil. Nesse caso…

— Vá e se divirta. — Enquanto a observava, seu rosto escabroso se suavizou de repente e relaxou. — Uma jovem que trabalha o tempo todo na fazenda? Certamente há alguma coisa ou outra feminina que quer fazer.

— Fico pensando…

Vaqueira não sabia.

Coisas femininas?

O que seria isso? Arrumar-se? Comer doces? Todas as suas ideias pareciam distantes e vagas.

Comparado com isso, o clima de amanhã parecia concreto…

— …Está bem — disse ela depois de um tempo, ainda não sabendo ao certo se entendeu ou não algo. — Vou sair um pouco então.

— Sim, faça isso.

— …Tá.

Vendo o alívio de seu tio, tudo o que pôde fazer era acenar com a cabeça.

 

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Ela não tinha a carroça e ele não estava ali, era apenas ela.

Ela viu seu ritmo instável mesmo que só estivesse indo à cidade por uma estrada que conhecia bem.

Como ela normalmente caminhava nessa estrada? Ela acabou se sentindo muito intrigada.

E assim, passando por entre aventureiros e mercadores enquanto iam e vinham, ela atravessou o grande portão da cidade.

Vaqueira sorriu jocosamente quando seus pés começaram a levá-la em direção à Guilda dos Aventureiros, geralmente o primeiro lugar que ia. Dominando conscientemente seu subconsciente, em vez disso ela foi reto para a cidade, em direção a praça.

Havia conversas no ar, vozes de comerciantes, crianças brincando, mães chamando, aventureiros conversando entre si. Mergulhando-se nos sons, Vaqueira se sentou vagamente em um meio-fio aleatório. Ela observou um menino e uma menina, talvez com uns dez anos, passar. Ela os seguiu com os olhos e suspirou.

Agora que penso nisso… — Eu tenho amigos…?

Não havia mais ninguém que conhecesse desde pequena. Ela se mudara dez anos atrás, e por cinco desses anos ela se absorveu só no que estava em sua frente.

É um pouco tarde para ir ao passado agora.

Da forma como ela estava naquela época, teve sorte de ele ter a chamado enquanto vagava.

Ainda havia chifres em seu capacete de aço, e o cabelo dela era consideravelmente mais longo.

Pelos cinco anos depois disso, sua cabeça estava cheia dele. Ela estivera completamente incapaz de se divertir.

— Ah, mas…

Ela balançou a cabeça, pensando na recepcionista e a empregada que via quase todos os dias. Elas podiam contar como amigas, mas só havia duas. Bem, duas amigas podem ser o suficiente.

Muitas pessoas não conseguiam fazer amigos.

— …Estou muito bem.

Esse pensamento a fez muito bem. Ela sorriu debilmente e continuou olhando para as pessoas que iam e vinham pela praça.

Elas carregavam uma variedade infinita de expressões. Algumas pareciam estar se divertindo, outras pareciam tristes. Algumas pareciam solitárias, outras felizes. Mas todas elas andavam sem hesitação, com algum tipo de objetivo em mente. Trabalho, ou uma refeição, ou um lugar para onde voltar, ou um lugar para se divertir, ou, ou…

Nada como ela.

Vaqueira sentada no meio-fio, trouxe os joelhos para perto do peito.

Esse é um problema grave.

No fim, não tenho uma única relação com nada, exceto a fazenda…

— …? Algo de errado?

Ela pensou ter reconhecido a voz acima dela.

Ela olhou para cima e viu uma garota de cabelos dourados olhando para ela com uma pitada de confusão. Ela tinha um corpo elegante e esbelto, e vestia roupas modestas de cânhamo, simples e despretensiosas.

Vaqueira piscou, tentando se lembrar de quem era, e então bateu as mãos.

— E-ei, você é aquela sacerdotisa…

— Ah, sim. E você é da fazenda, certo?

— É, isso mesmo. — Vaqueira assentiu e ficou de pé, abanando a sujeira do traseiro. — O que houve com suas roupas?

Em vez de suas vestimentas habituais, Sacerdotisa estava vestida com roupas normais; de fato, seu traje a fazia parecer uma garota de uma aldeia agrícola.

— Eu fiquei para trás dessa vez, então pensei… eu poderia muito bem sair. — Ela coçou o rosto com o dedo magro em um gesto de embaraço. — Mas não tenho ideia do que fazer.

— É, eu também. Sei exatamente o que quer dizer. Normalmente só preciso fazer o que se precisa em uma fazenda.

Hum. Elas eram iguais.

Ela sabia que seu senso de solidariedade poderia ser um pouco unilateral, mas Vaqueira ainda assim suspirou e relaxou um pouco. Ela sempre fora extrovertida, afinal; ela não ficava nervosa. E de qualquer forma, essa era um dos seus membros de grupo.

Seria errado dizer que não havia uma sombra de dúvida em sua cabeça, mas Vaqueira decidiu manter uma atitude descontraída.

— Você disse que ficou para trás dessa vez? Por quê?

— Ah, humm, é… — Subitamente, Sacerdotisa não conseguiu terminar bem sua frase; seus olhos se moveram de um lado para o outro. Suas bochechas coraram — sua temperatura subira um pouco? — e seus olhos se voltaram ao chão com um olhar abatido.

Hum?, pensou Vaqueira suspeitosamente, mas uma explicação veio a seguir.

— Hoje é… um dia bocado difícil para isso…

— Claro. — Vaqueira deu um sorriso tenso e assentiu. Era uma coisa que toda mulher tinha que lidar.

Deve ter sido difícil para uma garota envergonhada dizer a informação dessa forma.

— O que costuma fazer, sabe, quando não está em uma aventura?

 

 

 

— Eu oro.

Vaqueira sabia que era uma tentativa desajeitada para mudar de assunto, mas a resposta da garota foi breve e sincera. Ela se encaixava mais ou menos na imagem que Vaqueira criara depois de vê-la de longe algumas vezes.

— Sério? — disse Vaqueira com admiração, e Sacerdotisa pôs o esbelto dedo branco nos lábios e pensou por alguns instantes.

— Também leio as escrituras, o Livro dos Monstros e treino…

— Nossa, você é mesma uma garota séria, hein?

— Eu só não aprendi o suficiente ainda.

Talvez Sacerdotisa não estivesse acostumada a ser elogiada, pois a expressão surpresa de Vaqueira a fez com que corasse de vergonha.

Hmm…

Ela decidiu não dizer que planejava elogiar Sacerdotisa para ele mais tarde.

A despeito de como se parecia, ele se importava com as pessoas, do seu jeito, então talvez seria um bocado exagerado, mas…

— …Ei.

— Sim?

— Que tal darmos uma volta? — Vaqueira sorriu. — Já que nos esbarramos e tudo mais.

— …Tem razão. — Sacerdotisa sorriu de novo, como uma flor desabrochando. — Sim, vamos andar um pouco.

 

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— Se pensarmos bem, ainda está longe, mas quando o verão acabar, será o tempo do festival da colheita, não é?

— Ah, sim. O Templo vai começar em breve os preparativos para a dança de oferenda.

— Pergunto-me quem será a dançarina. Já pensou em se tornar uma candidata?

— Não, de certo. Isso carrega muita responsabilidade. Ainda não estou preparada.

— Acha? Talvez a nossa fazenda devesse montar uma barraca… Poderíamos fazer outra coisa além de comida.

— Já está ficando bastante quente, mas o outono chegará antes que perceba, não acha?

Enquanto as duas caminhavam lado a lado, sem qualquer destino específico, elas conversavam à toa.

A cidade fronteiriça era um dos assentamentos pioneiros mais distantes. Naturalmente havia muitos visitantes, e bastante gente andando ao redor. Mas não, é claro, tanto quanto a cidade da água ou a Capital, de modo que enquanto caminhavam, elas viam rostos que conheciam por aí.

— Oh, que bom ver você!

— Olá!

Vaqueira se curvou e Sacerdotisa deu um aceno respeitoso com a cabeça quando passaram por uma aventureira que reconheceram. Seus círculos de conhecidos certamente cresceram desde o ataque do senhor goblin à cidade.

É um sentimento estranho.

Vaqueira riu involuntariamente, induzindo uma olhada intrigada de Sacerdotisa.

— Nada, nada — disse Vaqueira, balançando a mão e com o sorriso ainda no rosto.

O que quer que ele pudesse dizer, ele estava ligado claramente a um grande número de pessoas.

Nada como eu, hum?

— …Ei. Como ele é? Quero dizer, geralmente.

— Como ele é? Como assim?

— Só queria saber se ele, sabe, é um pé no saco ou algo assim…

Vaqueira juntou as mãos atrás de si e virou, mas Sacerdotisa balançou as mãos e disse: — Ah, nem um pouco! Ele sempre está me ajudando e tudo mais. Temo que seja eu quem cause todos os problemas…

Não parecia haver qualquer falsidade nas palavras ou expressão de Sacerdotisa.

Vaqueira colocou a mão de alívio em seu peito farto. Alívio de que ele não estava causando problemas? Ou que ele não era desagradável? Ela não sabia qual.

— Mas… — Sacerdotisa baixou a voz e piscou provocantemente. — …Talvez ele seja apenas um pouco chato.

— Ah, é?

As duas se entreolharam e riram.

Era questionável, de certa forma, se ele era o assunto que compartilhavam, mas ao mesmo tempo, ele era fácil de se falar. Como ele poderia ser estranho, sério, obtuso e não se podia deixá-lo fazer o que tivesse vontade. Isso lhes dava bastante material para conversar.

— Mas é verdade que devo muito a ele.

Sacerdotisa descreveu um lado dele que Vaqueira nunca tinha visto.

Como quando o vira pela primeira vez, ela pensou que ele era algum tipo de monstro. De quando ele estava, aparentemente, tentando agir como um aventureiro ranque Prata. Do quão rápido ele ficou embriagado quando o grupo se reuniu para beber. De como ele sempre estava disposto a assumir a guarda dado ao grande número de conjuradores no grupo.

Isso se parece bem com ele, pensou Vaqueira. Mas ela também pensou: Ele foi beber com todo mundo?

— E ele me ensinou muito sobre aventura.

— Tipo o quê?

— Tipo… — Sacerdotisa tocou os lábios com o dedo. — Cota de malha, por exemplo.

— Cota de malha…?

No fundo de sua mente, Vaqueira tentou imaginar todos os itens que ele mantinha em seu galpão. Cota de malha era um de seus equipamentos favoritos. Ela se lembrava dele a polindo cuidadosamente com óleo. Ele até mesmo lhe mostrou como fazer reparos de emergência em partes danificadas usando fio.

— Mas… — Ela se lembrou repentinamente de uma pergunta que tivera há muito tempo. — Ela não é pesada?

— Se você atar um cinto em volta do quadril ou no abdômen, o peso se espalhará pelo seu corpo inteiro, então não é tão ruim. — Depois ela acrescentou: — Mas seus ombros ficam rígidos.

Vaqueira assentiu. Fazia sentido. — É difícil ser um aventureiro, hein…

— Eu uso cota de malha, mas entendo que muitos usuários de magia não gostam nada de usá-la. — O anão, por exemplo, parecia ignorá-la.

Vaqueira assentiu evasiva às palavras de Sacerdotisa. Havia uma antiga tradição de que metal interferia com a magia, mas ela não sabia o quão verdadeiro era. Ela estava meio convencida de que deveria ser superstição, mas de vez em quando havia pessoas que queriam ferraduras para afastar a magia.

Magia, bruxaria e milagres divinos eram coisas que Vaqueira não sabia nada.

O que ela estava mais interessada era…

— Cota de malha, hum?

— Perdão?

— …Ei, a Guilda lida com cota de malha, armadura, capacetes e coisas assim, não é?

— O quê? Ah, sim — disse Sacerdotisa, assentindo apressadamente. — Eu comprei a minha lá.

— Nesse caso… — Vaqueira sorriu como uma criança escapando dos pais para brincar. — Que tal olhar um pouco a loja?

 

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— C-caramba…

E lá, na frente dos olhos de Vaqueira, estava uma roupa íntima.

Ou, mais precisamente uma armadura que era praticamente uma roupa íntima.

Era um conjunto que incluía apenas uma cobertura para o peito e uma coisinha para a parte inferior do corpo. Categoricamente falando, poderia ser chamado de armadura leve.

Em termos de mobilidade, superava facilmente um conjunto completo de armadura de metal.

A armadura em si era lindamente curvada, elaborada e sólida. Desse ponto de vista, era impecável.

O problema era, que não cobria área suficiente.

Era só uma armadura de torso — na verdade, armadura de mama — e calcinha.

Havia ombreiras, verdade, mas isso não era bem a questão.

— Hã? V-você usa algo como isso?

— Não, essa é a questão. — O garoto aprendiz trabalhando em uma espada com a pedra de amolar atrás do balcão lhes lançou um olhar. De fato, ele já estava olhando há algum tempo, talvez preocupado com as garotas segurando a mercadoria.

— Tem… Tem alguém que realmente compra isso? — perguntou incrédula Sacerdotisa. Não estava claro se ela notou o rubor em suas bochechas.

— Bem, é fácil de vestir. E fornece um pouquinho de proteção… Pelo menos esse é o argumento de venda. — Então o rapaz murmurou algo que parecia um “desculpe…” — Não tenho certeza de que devia dizer isso, mas — …e acrescentou: — Algumas pessoas, você sabe. Querem, hum, atrair caras…

— Atrair? É, você provavelmente chamaria atenção nisso. — Vaqueira pegou a amadura biquíni, corando e murmurando “caramba”.

Ela a examinou na frente, a virou e observou por trás, passou o dedo pelos ângulos acentuados dos quadris, a estendeu e examinou outra vez.

— Não é meio revelador demais?

— …Temos pedidos o suficiente para fazer com que valha a pena ter aqui — murmurou o garoto aprendiz, evitando discretamente seus olhos.

— Humm — suspirou Vaqueira. — Acho que teria de ter coragem para usar algo tão perigoso. É basicamente um maiô.

— Isso é verdade… — assentiu Sacerdotisa com uma expressão imperceptível. Ela continuou analisando com grande curiosidade os itens das prateleiras. Como uma pessoa que ficava na fileira de trás, talvez ela não tivesse muito exposta à armas e armaduras. Vaqueira era tão curiosa quanto Sacerdotisa.

— Ah, esse… — Subitamente, Sacerdotisa parou na frente da exibição de uma armadura. Ela pegou algo com um sorriso. Era um capacete.

— Ei, eu reconheço esse.

Era a resposta natural para Vaqueira, que também estava sorrindo. Sacerdotisa pegara um capacete de aço reluzente, mas de aparência medíocre. Exceto pelos chifres saindo dos dois lados e o fato de ser novinho em folha, era exatamente como o dele.

Vaqueira espiou dentro do capacete pelo visor vazio, então bateu as mãos.

— Ei, se colocássemos ele?

— Hã? Podemos fazer isso? — Sacerdotisa inclinou a cabeça, confusa com a ideia inesperada.

— A placa diz que pode experimentar as coisas.

— Humm, tudo bem então, vejamos no que dá…

Segurando o capacete com um pouco de relutância, Sacerdotisa primeiro pegou uma balaclava de algodão com “Para Prova” escrito. Ela o preparou, prestando bastante atenção em seu cabelo comprido, depois colocou o capacete na cabeça.

— C-caramba…

Seu corpo delicado entortou para o lado; o capacete deveria ser tão pesado quanto aparentava. Vaqueira estendeu a mão freneticamente para apoiá-la. A forma esbelta da garota era surpreendentemente leve.

— Opa, você está bem?

— Ah, estou bem. Só um pouco desequilibrada…

Os olhos de Sacerdotisa podiam ser vistos dentro da viseira, ainda parecendo inocentes a despeito do equipamento. Pelo ligeiro rubor em suas bochechas, ela parecia estranhamente envergonhada.

— Heh-heh… Acho… acho que é bem pesado…  E torna difícil de respirar…

— Isso porque ele é um capacete completo. É mais do que natural, o visor é bem justo.

Com a observação do garoto aprendiz, Sacerdotisa lutou para afrouxar os parafusos, e então o visor se levantou.

— Ufa!

Vaqueira riu do aparente suspiro involuntário de alívio, e o rosto de Sacerdotisa ficou ainda mais vermelho.

— Is-isso não é motivo para rir…!

— Ahh-ha-ha-ha-ha! Desculpe, desculpe. Bem, sou a próxima.

Sacerdotisa retirou o capacete e depois a balaclava. Quando Vaqueira os pegou e estava próxima de colocá-los, ela sentiu um aroma doce e fraco de suor.

Hum?

Era — não perfume — mas como ela naturalmente cheirava? Que inveja! Com esse pensamento, ela colocou o capacete.

— N-nossa… Bem apertado aqui.

— É, não é?

Pelas grades finas do visor, o mundo era escuro, estreito e sinistro. Ela respirou fundo e soltou, sua visão se instabilizou quando o fez.

Esse é o mundo que ele vê?

O que ela, Sacerdotisa e seus outros companheiros pareciam para ele? Como seus rostos pareciam?

— Consigo mais ou menos imaginar, mas…

— O quê?

— Hm. Não é meio injusto ele poder ver nossos rostos, mas não podemos ver o seu?

— Ahh — disse Sacerdotisa concordando e rindo. — É verdade.

— Não que eu ache que ele tente esconder intencionalmente… Hup!

Ela assentiu quando o garoto aprendiz disse: “O coloque de volta onde achou, está bem?”.  Ela devolveu o capacete e a balaclava para a estante.

Ela suspirou, e seu peito balançou enquanto alongava o pescoço de um lado ao outro. Ela não se achava que estava em má forma, mesmo assim, a armadura deixou definitivamente seus ombros duros.

Hummm… — Diga…

— Sim?

— Já que estamos aqui… — Vaqueira sorria como uma criança com uma brincadeira em mente. — Por que não provamos aquela armadura?

Sacerdotisa olhou para onde ela estava apontando e rapidamente baixou a cabeça, corando.

 

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— Ahh, cara! Meu país já era!

— Que pena… Bem, isso não é muito engraçado.

— Aquele dragão é muito forte! Não tenho o equipamento nem habilidades para lidar com ele.

— Mas você vai encontrar um jeito. Não é isso o que faz você um ranque Prata?

Depois de olhar atentamente os produtos na oficina, as duas se voltaram para a taverna e viram uma coisa estranha.

Já se passara do meio-dia, mas ainda não era o fim da tarde, e não havia muitos clientes na taverna da Guilda. Aliás, eles pareciam estar se preparando. As cadeiras estavam colocadas nas mesas e as empregadas varriam um canto do chão.

Inspetora, Garota da Guilda e Alta-Elfa Arqueira estavam sentadas em uma mesa com cartas espalhadas sobre. Elas faziam uma companhia estranha, mas não deixava de ser uma.

— O que estão fazendo…? — perguntou Sacerdotisa hesitantemente, pestanejando enquanto olhava para a mesa.

Ela ainda parecia um pouco nervosa e não fora capaz de se acalmar; ela ajeitou sua roupa levemente desarrumada.

— Ah, isso é um jogo de mesa — respondeu Garota da Guilda, olhando sobre os ombros para Sacerdotisa. Ela também não estava usando seu uniforme, mas sim roupas pessoais. Ela emitia uma imagem arrumada e elegante.

Pensando consigo mesma: Ela está bonita, Vaqueira voltou seus olhos para a mesa. Havia, de fato, um tabuleiro de jogo com várias peças, cartas e dados.

— Eu o encontrei ontem enquanto organizava alguns papeis velhos, então pensamos em testar…

— Mas que dragão! É tão forte! — choramingou Alta-Elfa Arqueira, com seu peito pressionado na mesa.

— Se não fosse forte, não seria um dragão. Eu entendo o que quer dizer, mas tenha calma — disse Inspetora (também usando roupas pessoais) com um sorriso. Presumivelmente, a peça vermelha de dragão localizada no meio da mesa era a serpe em questão. E as peças caídas ao lado dela eram todos aventureiros que morreram a desafiando.

— Então, como se sente? — perguntou Alta-Elfa Arqueira, girando a cabeça para Sacerdotisa.

— Ah, tudo bem — assentiu Sacerdotisa envergonhada. — Está quase acabando agora.

— Legal — disse Alta-Elfa Arqueira, acenando para ela. — Nesse caso, me ajude aqui. Não tenho mais aventureiro o suficiente.

— Existem… aventureiros… nesse jogo de mesa? — Vaqueira inclinou a cabeça de perplexidade. Quase fazia sentido, mas ela não conseguia juntar bem as peças.

— Para simplificar — disse Garota da Guilda — você finge ser um aventureiro. Embora existam muitas regras e tal.

— Finge ser um aventureiro? — murmurou Vaqueira, ruminando a ideia. — Então você, tipo, mata goblins e coisas assim?

— Claro. Alguns um pouco mais básico existem, onde você é como um aventureiro de verdade vasculhando uma caverna. — Garota da Guilda tocou uma das peças de metal, talvez um guerreiro de armadura leve maltrapilho ou um ladrão, e sorriu. Até onde Vaqueira podia ver, a peça não usava capacete. Ela ficou ligeiramente desapontada.

— Esse é de uma perspectiva de um nível mais elevado, onde a questão é como proteger o mundo do perigo.

— Você tem que pegar armas e armaduras lendárias, e garantir que suas habilidades são boas antes do dragão acordar — resmungou Alta-Elfa Arqueira, erguendo bruscamente a cabeça e abaixando as orelhas. — Mas não temos mãos o bastante ou tempo suficiente.

— Você também pode pegar missões da aldeia, coletar equipamentos e combater o dragão… — Inspetora contou as funções nos dedos, assentindo consigo mesma. Ela parecia cheia de confiança apesar de ter perdido a batalha, o que a fez parecer tonta ao invés de segura. — Pode lhe dar o gostinho de gerenciar uma Guilda dos Aventureiros, onde você tem que fazer tudo.

— Não sabia que havia jogos assim — disse Vaqueira, enquanto estendia a mão com grande interesse e pegava uma peça que parecia um cavaleiro de armadura e capacete.

Ele parecia um pouco mais esfarrapado, ou pelo menos, seu equipamento parecia mais barato, mas que belo cavaleiro. Nada mal.

— Isso é completamente novo para mim…

Em sua mente, “jogos” eram principalmente limitados aos que você marcava pontos com combinações de cartas. Entretenimentos similares podiam incluir escutar canções, jogar dados e talvez competir se houvesse um festival.

Garota da Guilda riu, observando-a olhar para as peças e o tabuleiro.

— Quer tentar?

— Hã? Posso?

— Claro — disse Garota da Guilda, assentindo e quase fechando os olhos com a forma que o rosto de Vaqueira se iluminou. — Não é fácil apenas esperar lá sem fazer nada, é?

— Hmm. — Vaqueira deu um murmúrio. Não havia como superar essa garota. Acho que é o que chamam de mulher adulta.

Independentemente de estar ciente dos pensamentos de Vaqueira, Garota da Guilda continuou sorrindo.

— Vamos, adoraríamos ter mais aventureiros. Não seja tímida!

— Hum, certo, então com licença… Que tal vir comigo? Já que está aqui…

— Ah, tudo bem!

Vaqueira deu um puxão na manga de Sacerdotisa, praticamente a puxando para um banco. Agora havia cinco mulheres formando um círculo completo ao redor da mesa redonda. Sem dúvida, muitos aventureiros, se soubessem disso, teriam se queixado que queriam ir à taverna.

— Então comecem escolhendo sua peça, por favor — disse Garota da Guilda, sua voz e sorriso estavam mais suaves que geralmente na recepção.

— Humm… — Vaqueira juntou as mãos na frente do peito, olhando atentamente para os vários aventureiros alinhados no tabuleiro.

Bem… Acho que é esse que quero.

Apesar de estar insegura, ela escolheu o cavaleiro que pegara mais cedo. O capacete de aço tornava impossível ver seu rosto, mas ele tinha um escudo e espada erguidos enquanto olhava para frente.

— Vou querer… Acho que esse.

— Ah, hum, vou pegar… — Sacerdotisa pôs o dedo pálido nos lábios e pensou, meio perdida enquanto olhava para os peões. Então, com um “ah!”, ela olhou e escolheu uma peça particular.

— Es-esse, por favor!

O personagem que ela escolhera era um elfo conjurador, com o corpo volumoso envolto de um manto.

— Ótima escolha — disse Alta-Elfa Arqueira com uma risada conhecedora, e Sacerdotisa se contorceu um pouco.

— Está bem, para mim… — Alta-Elfa Arqueira balançou as orelhas com a expressão de um caçador perseguindo sua presa. — Certo! Vou pegar esse dessa vez! Um anão guerreiro!

— Puxa, tem certeza? — perguntou Garota da Guilda, mas Alta-Elfa Arqueira respondeu “é claro!” e estufou seu pequeno peito.

— Vou mostrar àquele anão que sou melhor em… anãozisse… do que ele já foi!

— Então vou continuar como a batedora.

— Heh-heh-heh! Isso significa que vocês não têm um monge. Bem, eu cuido disso.

Garota da Guilda colocou sorrindo um guerreiro de armadura leve com equipamento surrado no tabuleiro, enquanto Inspetora pegou um velho com um selo sagrado.

E assim, seus aventureiros se reuniram. Um cavaleiro de armadura e elmo, um elfo feiticeiro, um anão guerreiro, um batedor leve e um monge veterano. Esse foi o grupo que partiu para enfrentar um monstruoso dragão e salvar o mundo. Garota da Guilda explicou brevemente as regras para Vaqueira, que então pegou os dados firmemente na mão.

Lá vai.

— Meu aventureiro é o herói que vai proteger a aldeia, resgatar a princesa e derrotar o dragão!

Com essa proclamação resoluta, Vaqueira deixou o primeiro rolar de dados cair sobre o tabuleiro.

 

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— Ahh, nós perdemos.

A cidade e o céu estavam tingidos com o azul-ultramarino da penumbra. Vaqueira falou indiferentemente, olhando para as estrelas que brilhavam ao longe. Enquanto ela caminhava, com as mãos entrelaçadas nas costas, Sacerdotisa se movia ao lado como um pequeno pássaro.

— Não fomos capazes de pegar a Espada do Matador de Dragões, não é?

— Não conseguíamos ultrapassar suas escamas.

No fim, elas estiveram ocupadas com extermínio de goblins. O dragão acabou com as garotas, e elas não foram capazes de salvar o mundo, mas…

— Mas certamente foi divertido, né? — disse Sacerdotisa.

— Foi mesmo — concordou Vaqueira.

O outono ainda parecia levar algum tempo, mas a brisa que soprava cada vez mais fria sugeria isso.

O mundo que ele via.

O mundo que ele vivia…

Ela apanhara o pequeno vislumbre disso.

— Ei… — Vaqueira ria enquanto uma brisa acariciava sua pele, vermelha do jogo. — Olhar os produtos na loja de armas, jogar na taverna… Não é muito feminino, é?

— Ah-ha-ha-ha…

Sacerdotisa deu uma risada seca e evitou a pergunta. Ela era três ou quatro anos mais nova que Vaqueira, e ela parecia como uma irmã mais nova.

Me pergunto o que ele pensa dela.

— Hum. — Sacerdotisa pode ter ou não notado o pequeno suspiro que Vaqueira deu. Mas ela olhou para Vaqueira com um sorriso sincero.

— Eu gostaria de jogar de novo algum dia.

— …É. Eu também.

— Nesse caso… — Sacerdotisa deu vários passos em frente, tap-tap-tap, e se virou para encarar Vaqueira. Seu cabelo dourado esvoaçava atrás da cabeça, cintilando, apanhando a última luz do sol se pondo. — …Vamos fazer isso!

Hum. Vaqueira expirou sem perceber. Acho que tenho algumas relações aqui.

Ela pensava que só tinha ele e a fazenda. Mas por ele ser ligado a essa garota, agora ela também estava.

— …Claro. — Vaqueira abanou as costas dela e sorriu. — Vamos fazer isso mais vezes.

 


 

Tradução: Kakasplat (3 Lobos)

Revisão: JZanin (3 Lobos)

 

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