Dark?

Matador de Goblins – Vol. 03 – Cap. 06.2 – Sete Poderes

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A primeira vítima foi um tentando se arrastar para longe da cortina de fumaça.

O goblin inclinou a cabeça, sentindo alguém se aproximando, e pouco depois ele já não tinha mais uma cabeça para inclinar.

— GROORB?!

Matador de Goblins pisou no crânio enquanto avançava, o esmagando.

Ele empurrou a criatura para trás dele com seu escudo no braço esquerdo e perfurou a garganta de outro que se atirou nele.

— Dois.

O cadáver fresco caiu para trás quando ele largou a espada. Ele o chutou, atingindo com o machado de mão que retirou de seu cinto.

Ele cortou a criatura cambaleando atrás dele na base do pescoço, ceifando sua vida.

— Três.

Ele arremessou o machado casualmente na horda goblin antes de recolher uma lança curta de sua última vítima, e então continuou sem olhar para trás.

— É esse o caminho. Vamos.

— Entendido! — respondeu habilmente Lagarto Sacerdote, acompanhando com sua cauda enrolada.

Ele brandia a Presa Branca como uma espada de lâmina larga, derrubando vários inimigos em um só golpe.

— Vejam! Temível naga, meus ancestrais, vejam! Nos deleitaremos nessa noite!

— GOROROR?!

Gotas de chuva dançavam, sangue fluía e carne voava. Gritos e berros ressoavam pelo ar.

Goblins eram covardes de nascença. Era parte do porquê eles não eram astutos.

Relutantes em morrerem, eles usavam seus companheiros como escudo. Enfurecidos como resultado da morte de seus aliados, eles enxameavam juntos para oprimir o inimigo.

E porque os seus inimigos tinham feito a eles essa grave injustiça, toda e qualquer tortura se justificava.

Olhem. O inimigo é apenas dois. Alguns caíram, sim, mas os números continuam do nosso lado.

E no meio da chuva e os resquícios daquele fedor terrível… Está sentindo esse cheiro?

Uma garota. Uma elfa. Uma mulher.

Não há nada para se preocuparem. Façam.

— GOBBRO!!

— GROBB!!

Demorou apenas alguns momentos para a confusão dos goblins se transformarem primeiro em raiva, depois em cobiça.

Alguns pegaram suas mais variadas armas e se esforçaram para impedir a investida de Matador de Goblins, e alguns levaram lanças e procuraram cercar e matar Lagarto Sacerdote em seu turbilhão de violência.

Os mais inteligentes entre eles fugiram desses oponentes terríveis e quebraram a formação para escapar.

Mas Matador de Goblins e seu grupo estavam bem cientes de que alguns iriam possivelmente tentar isso.

— Pazuzu, Rei Gafanhoto, Filho do Sol, traga tremor e medo, com o vento você vem!

Os goblins tremeram ao que aprecia um assobio alto do vento.

E então eles viram a fonte do estrondo estranho, uma onda negra percorrendo a terra, vindo diretamente para eles. Uma tempestade de breu.

Era uma enorme tempestade de insetos, preparados para esmagar e destruir.

— GORRBGGOOG?!?!

— GORGO?!

Os goblins tentaram desesperadamente retirar as criaturas roedoras das suas peles, sem saber que era só ilusão.

Medo era o sentimento mais primitivo no mundo e terrivelmente eficaz em controlar os goblins. Eles fugiam gritando e rangendo os dentes.

Eles se dispersaram, largando as armas e correndo em todas as direções o mais rápido que suas pernas aguentavam.

Como se eles fossem muito longe.

— Gnomos! Ondinas! Faça para mim a melhor almofada que podem ver!

Os goblins foram enredados.

A terra deteve seus pés rápidos e eles caíram no chão um a um. Lama pegajosa emergia ao redor deles.

— GORBO?!

— GBORBB?!

Eles se esforçaram e lutaram, mas descobriram que não conseguiam se levantar.

Lagarto Sacerdote foi implacavelmente ao redor do pântano invocado, fazendo o seu trabalho mortal.

Garra, garra, presa, cauda. Ele se movia agilmente entre os goblins, os mandando embora com cada membro.

— Ho! Meu ancestral, que faz parte do meu próprio ser! Aceite essa fúria!

Os homens-lagarto vinham dos pântanos. Essa lama não era um obstáculo.

Lagarto Sacerdote talhou através dos goblins, depois levantou sua grande cabeça e berrou:

— Avante, meu senhor Matador de Goblins!

— Certo — disse Matador de Goblins, chegando ao lado dele. Ele levava um pouco de couro especialmente preparado.

Ele usou a lança para apunhalar por trás uma das criaturas caídas. Essa foi uma. Ele pegou a espada do monstro e a lançou. Duas.

Ele avançou com seu escudo erguido, derrubando mais algumas perto de um dos corpos. Ele se apoiou contra o cadáver, puxando uma espada dele. Três.

Ele usou essa espada para dividir o crânio de um goblin que tentou bloquear seu progresso. Quatro. Ele largou a arma embotada, chutando um corpo para o lado e pegando sua clava.

Friamente e precisamente, procurando o maior efeito com o mínimo esforço, ele abriu caminho pelas forças inimigas.

— Deuses, Corta-barba. Ele certamente sabe se cuidar. — Do outro lado do campo, Anão Xamã ria com uma trombeta de caça em uma das mãos e um pouco de argila na outra. Aquele homem era difícil de acreditar. — Claro, sem mim aqui, as coisas poderiam não ter ido tão bem…

Faça um pântano — dissera Matador de Goblins. — Não deixem eles escaparem.

Anão Xamã tinha exatamente a coisa.

Medo, então Trapeira. Os efeitos só seriam amplificados pelo fato de estarem ao ar livre.

Duas magias de larga escala. É verdade que ele estava mandando para o ralo seus catalisadores, mas…

— Fique atenta, Orelhuda, você é a próxima.

Ele lhe deu um empurrão amigável no ombro e ela sacudiu suas orelhas para ele com desagrado.

— Não me bata. Você vai desfazer minha pontaria.

— Não seja tonta. Com uma horda desse tamanho, não importa onde dispare, você vai acertar alguma coisa.

— Vocês anões, nunca levam nada a sério… Esses acertos só vêm antes de mirar.

Ela inalou calmamente, então expirou por suas narinas. Para um elfo, atirar era como respirar.

Seus dedos moveram a corda ritmicamente, enviando suas flechas zunindo através da chuva. Nesse mundo, só os deuses podiam se comparar a um elfo quando se tratava de disparar. E Alta-Elfa Arqueira era, também, um alto-elfo, os herdeiros de uma linhagem que remontava a era dos deuses.

Também, seus alvos eram goblins atolados na lama.

Apesar dos protestos dela, ela poderia atingi-los sem mirar. Mas estava dedicada demais para isso.

Afinal, Orcbolg tinha concordado em ir em uma aventura com ela! Ela não deixaria essa oportunidade escapar. Ela não podia.

— Aventureiros sempre vão em suas missões até o fim!

E assim sua chuva de flechas ponta-broto se aderiram a chuva que caía do céu.

Matador de Goblins se lançava como uma flecha através do campo, sem qualquer hesitação em seu passo. Isso não era um acaso, mas o que era preciso acontecer.

Ele tinha um objetivo; alcançar o líder bem atrás das linhas inimigas.

Por isso…

— G… Grr!

Elfo Negro rangeu os dentes.

Seu escudo de trinta goblins fora quebrado, o inimigo estava mais próximo e ele não tinha tempo para se concentrar em entoar.

Ele pensou em reunir seus goblins, mas sabia que não viriam.

A única coisa que ele podia confiar era nisso. Elfo Negro sacou sua espada da bainha.

— Seu humano detestável!

Ele golpeou com sua espada, como um lampejo de luz prateada.

Matador de Goblins a bloqueou com seu escudo. Era por isso que ele o levava. Sua utilidade para esmagar era apenas secundária.

Ele respondeu imediatamente com um golpe em arco de sua clava que segurava em sua mão direita. Ele visou a cabeça, esperando quebrar o crânio ou a coluna.

Mas elfos negros aproveitavam a movimentação bem como seus irmãos da floresta. Em outras palavras, bem melhor que qualquer humano.

Houve um salpico de lama quando o elfo saltou para trás, inalterado com o solo pantanoso bem como não intimidado pela temível ilusão.

A clava de Matador de Goblins se conectou com nada além do ar.

— Hrmph. E pensar que alguém dotado em ver através dos meus planos viveria nessa cidade…

— …Você não parece um goblin.

Matador de Goblins e Elfo Negro agora estavam a uma certa distância. A lama soava tchape, tchape suavemente, enquanto eles se moviam para encontrar uma posição vantajosa.

A espada de Elfo Negro era uma arma claramente melhor do que a clava do aventureiro.

Com plena consciência disso, o elfo tirou um tempo para interrogar seu oponente:

— Quem ou o que você é?

— …

— Ouvi dizer que alguns nessa cidade tinham alcançado o ranque Prata… Mas não consigo imaginar que tal aventureiro experiente se inclinaria a usar uma clava de goblin.

— Você é o líder?

Matador de Goblins respondeu com sua própria pergunta. Indiferentemente. Como sempre.

— Esse sou eu — respondeu Elfo Negro, se sentindo um pouco irritado. Seu peito estufou e os cantos de sua boca se ergueram ligeiramente. — Sou o apóstolo da anarquia, receptor de uma ajuda dos próprios deuses do caos! — Ele tinha uma espada na mão direita e um item mágico na esquerda. Elfo Negro tomou uma postura baixa quando exclamou: — E meu exército goblin se aproxima de todas as direções! A outra vida dará as boas vindas em breve a você e a seu…

— Não sei o que você é. E não me interessa. — Matador de Goblins interrompeu a proclamação do elfo. — …Aquele senhor goblin era mais complicado que você.

— ………

Houve uma pausa enquanto Elfo Negro processava o que fora dito.

— O-ora, seu insolente…!

Seus pés ágeis deram um passo geometricamente complicado e preciso.

Dessa posição estranha, sua lâmina surgiu como um relâmpago.

O brilho pouco detectável era a prova de sua latência mágica. Era uma espada mágica. Não muito incomum.

Matador de Goblins posicionou seu escudo para bloquear o golpe. O ataque percorreu pela superfície do escudo, se curvando e passando sobre ele.

Não…

— Uggh!

Matador de Goblins grunhiu.

A lâmina fina se deformou, perfurando sua cota de malha através de uma costura em sua ombreira.

Sangue escorreu do seu lado esquerdo. Elfo Negro não tinha bem a melhor arma, mas era experiente em usá-la.

— Hah! Você é lento, humano!

Sua habilidade não devia ser uma surpresa. Afinal, seu nível era alto o suficiente para que pudesse usar até mesmo Desintegrar.

Elfos e elfos negros tinham diferenças físicas fundamentais comparado aos humanos.

Humanos não eram naturalmente dotados de qualquer forma excepcional, o que dificultava levarem a melhor contra um elfo negro ágil. Ainda mais um como esse, que tinha dezenas, centenas ou milhares de anos a mais de experiência. Confrontado com os olhos, mãos e habilidades de Elfo Negro, um equipamento meramente tolerável era tão bom quanto nenhum equipamento.

— Entendi. Como o líder deles, não tem necessidade de se segurar.

Não que fosse importante para Matador de Goblins, é claro.

O ataque não era grave. Não atrapalhava ao ponto de impedir o uso de seu ombro. E não estava envenenado.

Ele avaliou sua própria ferida com seu habitual desapego calmo, depois elegeu prosseguir a luta.

— Ainda ansioso por mais, heim, seu pequeno verme nojento?

— …

— Muito bem. Veja por si mesmo se nós somos inferiores a um goblin!

Elfo Negro, que parecia ter precipitado alguma conclusão indevida, esticou o artefato em sua mão esquerda no ar.

— Ó Senhor deste grande membro, príncipe do furacão! Ponha o vento a soprar! Invoque a tempestade! Me conceda poder!

Algo mudou naquele momento. Um estranho som crepitante veio do corpo de Elfo Negro. Ele se retorceu e inchou. Então, um após outro, eles brotaram de suas costas.

Braços.

Deformados e bizarros, ossos ligados em lugares errados, protuberando com músculos.

Cinco deles no total, sete, incluindo os braços com que tinha nascido.

— …Hum.

— Heh, heh-heh, heh. Vejo que nem sequer sabe falar, seu aventureiro amaldiçoado!

Os apêndices se movimentando, como as de aranhas ou de caranguejos, eram visíveis do outro lado do campo de batalha.

Ele não era mais realmente um elfo negro. Seus olhos eram selvagens e avermelhados, com sua voz alta, lutava contra os limites do seus sentidos e capacidades.

 

 

 

Ele quase não fez nenhum som quando se inclinou com seu peso massivo e mergulhou em direção a Matador de Goblins.

No instante seguinte, um jato de lama disparou da terra, acompanhado de uma pancada.

— Mas que raios é aquilo?! — gritou Alta-Elfa Arqueira enquanto disparava uma flecha, apanhando um goblin invasor através do olho. — Aquele elfo negro simplesmente cresceu braços de suas costas?!

— Não pode ser! Ridículo! — Anão Xamã já tinha o seu machado preparado e estava o colocando em uso contra os goblins.

A ação dos Guerreiros Dragãodente e os dois lutadores da linha de frente havia reduzido significativamente o número dos inimigos. Contanto que o grupo pudesse aguentar sua linha de batalha, eles teriam uma grande chance de vitória.

— Diabos! O que quer que tenha feito, parece ser algum tipo de magia. E não se parece com qualquer coisa que queremos nos envolver!

— Ah, acho que não temos nada a temer. — Esse era o terceiro membro do grupo. Lagarto Sacerdote, com a cauda enrolada, soou mais confiante do que o normal. — É só um pouco de transformação corporal instantânea. Meu senhor Matador de Goblins tem tudo sobre controle.

Isso os deixava livre para se concentrarem em suas funções. Com um uivo, Lagarto Sacerdote saltou novamente nos goblins.

 

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Era justo dizer que Matador de Goblins estava enfrentando um inimigo que podia atacar sete vezes ao mesmo tempo.

Ele bloqueou um ataque da esquerda com seu escudo e então desviou com sua clava. Ele rolou para longe dos golpes que vinham de todas as direções, depois se levantou de joelhos.

Um punho veio abaixo sobre sua cabeça. Dessa vez ele avançou, diretamente para Elfo Negro.

— …!

Matador de Goblins impulsionou sua adaga para cima, mas a agilidade de Elfo Negro lhe permitiu esquivar.

Os braços da criatura lhe permitiam quase que sobrevoar a lama.

— O que foi, humano? Terá que chegar mais perto se quiser usar essa sua lâmina!

Agora que o inimigo ampliou o espaço entre eles, Matador de Goblins não tinha escolha senão avançar.

Elfo Negro esperava sem qualquer hesitação, apesar dos cinco braços massivos saindo de suas costas. A visão dele ali parado, seu equilíbrio inalterado pelos novos membros, era o mais perturbador.

— Bem, quanto maiores são, melhores alvos se tornam!

Verdade, Matador de Goblins estava em desvantagem um contra um. Então isso não significava apenas que precisava de amigos?

Alta-Elfa Arqueira tinha acabado com alguns goblins nas proximidades. Agora ela se ajoelhou e preparou seu arco.

Ela pegou uma flecha de sua aljava, a encaixou no arco, puxou e soltou em um único movimento fluído.

Sua pontaria era certeira. A flecha ponta-broto cruzou os pingos de chuva, atingindo Elfo Negro na test…

— ……!

…quase. No instante em que ia acertar, uma mão branca enorme apareceu de repente e pegou a flecha no ar.

Era como um furacão, um pilar de pedra. Uma mão inchada, abaulada e retorcida.

O membro translúcido quebrou a flecha como um galho que era e desapareceu.

Elfo Negro sorriu maliciosamente e segurou alto o artefato amaldiçoado em sua mão esquerda.

Ninguém iria liderar das linhas de frente sem algum tipo de proteção.

— Ele pode parar flechas…?! — lamentou Alta-Elfa Arqueira, tremendo de medo.

Era dito que nos tempos recônditos, um gigante tinha lutado na guerra entre os deuses da ordem e do caos.

Aquele artefato amaldiçoado era seu braço, um objeto com o poder de invocar o gigante. E Elfo Negro era o seu proprietário.

— Então… — Anão Xamã esbofeteou as bochechas, franzindo a testa. — …ele é um invocador?!

Se ele pudesse realmente invocar uma criatura da era dos deuses, significava que ele era tão forte quanto um aventureiro Bronze ou Prata, ou mesmo…

Seus métodos de invocação eram pouco ortodoxos, de fato, desumano, mas não havia como negar a confiança que ele exalava. Era possível que para Elfo Negro, ele próprio — muito menos seus goblins — não era a coisa mais importante.

Vejam as nuvens escuras que se agitavam no alto. Vejam o temporal que fez para atacar a cidade. O trovão. O vento. A chuva.

E se tudo isso fosse apenas os precursores do retorno de Hecatônquiro à terra?

— Se ele para flechas, devemos assumir que todas as armas de longo alcance são ineficazes?

— Eu mesmo não sei exatamente…

Lagarto Sacerdote tinha acabado de voltar — coberto de lama — de decapitar o último goblin.

A resposta de Alta-Elfa Arqueira foi acompanhada de um balançar ansioso de suas orelhas. Ainda se recuperando da descrença, ela preparou outra flecha.

— …Mas quando eu era pequena, meu avô me disse que não importa quantas flechas fossem lançadas naquele gigante, isso pararia todas.

Se o avô de um humano dissesse tal história, poderia muito bem ser descartada como um relato absurdo. Mas se isso partisse de um velho elfo veterano que estivera vivo durante as batalhas da era mítica…

E ele havia dito que flechas eram inúteis.

— Deuses — disse Anão Xamã enquanto estalava a língua. — De todas as horas para um elfo descobrir o significado de falhar. — Ele não parecia aberto ao otimismo.

Ele ergueu o dedo, julgando a distância até o Elfo Negro mutante. O inimigo estava bem no limite do seu alcance.

Mas Impacto Pétreo levava muito risco em atingir Matador de Goblins. E mesmo que só atingisse o elfo, quanto dano faria de fato naqueles braços monstruosos…?

— Oho?

Os olhos de Elfo Negro se arregalaram.

Matador de Goblins havia posto de lado a clava e desembainhou sua espada. A espada de tamanho estranho estava coberta com uma camada de terra, talvez por lutar na lama.

Mas Matador de Goblins tomou uma postura firme e girou o pulso uma vez.

— Acha que a mudança de armas lhe permitirá prevalecer contra mim?

— Não. — Matador de Goblins estabilizou a respiração, apontou a ponta de sua espada no inimigo e falou em voz baixa: — Imagino que vai me deixar te matar.

— Me poupe de sua estupidez!

Quando ele rugiu, os braços de Elfo Negro se esticaram anormalmente, tentando alcançar Matador de Goblins.

O guerreiro humano avançou, tirando vantagem da menor das falhas.

Em sua mão direita, Elfo Negro segurava aquela espada ligeira. Era uma arma boa, mas os reflexos de seu proprietário a fazia verdadeiramente perigosa.

— Uma investida suicida? Você nunca me alcançará.

Matador de Goblins conseguiu desviar o lampejo prateado por pouco com seu escudo.

O pedaço de couro redondo já havia sofrido vários cortes e perfurações, chegando a alcançar um ponto em que deixaria de ser muito útil.

Mas Matador de Goblins não ligou, estando diminuindo a distância entre eles com sua espada de prontidão.

Elfo Negro saltou para trás e se preparou para se impulsionar de novo. Matador de Goblins seguiu, estendendo a mão com a ponta de sua lâmina.

A armadura de torso do inimigo rachou bem ligeiramente com um eco tilintando. Mas nada mais do que isso.

— Ha-ha-ha-ha-ha-ha! Parece que seu braço fiel não é forte o suficiente!

Matador de Goblins simplesmente não tinha a força própria para ferir o elfo.

O inimigo pousou no chão, espirrando lama por todo o lado e declarando em triunfo:

— Eu fiz a tua avaliação! Você não é melhor do que Rubi, o quinto ranque. Ou mesmo Esmeralda, o sexto!

— Não — disse Matador de Goblins, balançando a cabeça. — Tente Obsidiana.

Matador de Goblins não poderia fazer isso. Mas…

— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, conceda tua luz sagrada para nós que estamos perdidos na escuridão!

Eles ouviram uma voz clara, erguida em súplica aos deuses.

Nessa noite de todas as noites, para uma oração de alguém que ela tinha tão recentemente abençoada com seu amor, como poderia a Mãe Terra não conceder um milagre?

Luz Sagrada explodiu do mangual erguido de Sacerdotisa.

Proferindo um grito silencioso, Elfo Negro recuou quando uma luz tão brilhante quanto o sol trespassou a tempestade.

Seus olhos acostumados com a noite e a chuva escurecida queimou como se fosse exposta a luz do dia.

Sacerdotisa não precisava mais de palavras para se comunicar com Matador de Goblins.

O grupo lidaria com os goblins; Matador de Goblins lidaria com o líder deles. E…

Você é crucial. Estou contando com você.

Ele havia confiado esse papel a ela.

É claro que ela seguiria o caminho que ele esculpiu através do exército goblin.

E agora, com a luz em suas costas, Matador de Goblins surgiu na escuridão.

Sacerdotisa ficou atrás de Matador de Goblins, coberta de chuva, lama e suor, contudo imaculada em determinação, segurando alto a luz.

Sua beleza não vinha da luz dos deuses que lhe banhava, nem das vestimentas que usava.

Vinha da forma como ela podia levar sua oração ao próprio lugar dos deuses do céu em nome de outro.

Sem um momento de dúvida ou hesitação. Embora tremendo e com medo, ela ainda erguia seu mangual.

— Matador de Goblins, senhor!

Sua espada funcionava, embora ele não gritasse ou berrasse.

Ele ergueu a arma, avançou, apontou, moveu e cortou seu inimigo.

Foi um ataque completamente normal, um ataque absolutamente banal.

— Hrr… ugh!

Mas era um ataque.

A armadura de torso de Elfo Negro quebrou, espirrando sangue. Não foi grande coisa. Mas o golpe acertou na mosca e era o suficiente.

— O-ora, v-vocêêêê…!

O elfo largou a espada e pressionou a mão no peito, cambaleando para trás.

Ele não temia nenhuma flecha, nem mesmo espada ou magia. Esse golpe feriu seu orgulho como um elfo negro mais profundamente do que seu corpo.

 

 

 

Como pôde esse grupo desorganizado de intrometidos ter me humilhado?

— Farei vocês terem desejado que eu apenas usasse o poder do gigante para obliterar essa cidade! — Matança cintilou em seus olhos. Por mais que os elfos da floresta procurassem a harmonia, elfos negros estimavam o orgulho e tormento. — Vou fazer de você comida para meus goblins. E sua elfa e sua menininha… cortarei suas mãos e pés, então as deixarei nas profundezas do ninho até que morram…!

Elfo Negro presumiu que era a sua própria fúria crescente que tornava difícil dizer as palavras.

Ele caiu de joelhos na lama.

— Erg… Ugh… Hrrr…?

Seu rosto, com a cor das trevas, se contorceu de dor. Os cinco braços em suas costas tentavam se apoiar na lama e ele se esforçava para ficar de pé.

Era a invocação que tinha minado sua força tão repentinamente? Impossível. Na verdade, ela lhe trouxera mais força.

A lesão, daí… a ferida?

…Não.

— Está envenenada.

Matador de Goblins disse apenas as duas palavras e retirou um trapo velho da bolsa em seu quadril.

O tecido mantinha os dardos que foram utilizados contra ele e Garota da Guilda no ataque na Guilda.

Matador de Goblins não sabia exatamente que tipo de veneno havia neles, mas…

— O-ora, seu…! Seu…! Seeeu…!

…usar em seu inimigo foi o bastante para saber que era veneno.

Sangue escorria entre os dedos de Elfo Negro e caia no chão.

Fúria eclodia em seus olhos e a chuva percorria por todos os seus lábios contorcidos.

Ele usou os braços em suas costas para se levantar, em vez dos que tremiam em seu tronco

Relâmpagos iluminavam por trás de Elfo Negro, realçando sua forma instável, como uma árvore murcha.

Ele ofegava, lutando contra o veneno correndo em suas veias. Ele se parecia com alguém prestes a morrer, mas ainda mais terrível do que antes.

— Omnis…!

Ele rugiu as palavras de verdadeiro poder, um último suspiro de magia se é que podemos dizer.

— Não…! — Sacerdotisa tentou desesperadamente erguer seu mangual com as mãos trêmulas e com o rosto pálido.

Mas a pressão de conectar sua alma aos próprios deuses várias vezes tornara seus dedos instáveis.

— Se ele nos acertar, está tudo acabado, mas… sua guarda está baixa!

Alta-Elfa Arqueira pegou três flechas da sua aljava, as lançando tudo de uma vez, mais rápido do que magia.

Mas com uma rajada de vento, a mão enevoada esmagou as flechas como se passassem através de uma tempestade.

— O enorme poder de Hecatônquiro…!

Alta-Elfa Arqueira cerrou os dentes e pegou furiosamente outra flecha. Ela se recusava a acreditar que era inútil.

— Impacto Pétreo é impreciso demais! Depende de você salvar o dia, Orelhuda!

— O que acha que estou tentando fazer?!

A arqueira disparou flecha atrás de flecha, mas o braço parou cada uma delas no céu.

— Minhas próprias magias e as de nossa dama sacerdotisa estão esgotadas. Significando…

— Nodos…!

Investir em um ataque corpo-a-corpo? Não, a essa distância nem eles nem Matador de Goblins teriam tempo. Lagarto Sacerdote se juntou a Alta-Elfa Arqueira ao ranger os dentes.

O encantamento de Elfo Negro continuou claro e alto. O tempo deles estava quase no fim.

Então… os olhos do grupo se viraram para um homem.

— Matador de Goblins… senhor…

— Deflexão de flechas?

Coberto de lama, veneno e sangue, aquele capacete de aço se inclinou bem levemente.

— Ele é capaz de parar flechas que avançam… não é mesmo?

Apesar da tempestade furiosa em torno deles, seu murmúrio suave não pôde deixar de chegar aos ouvidos da alta-elfa.

— As desvia, se defende contra elas… sabe? — Ela ergueu a voz para ser ouvida entre o vento. — O que…? O que meu avô falou disso…? — Ela mordiscou seu polegar primorosamente formado, sacudindo suas orelhas de irritação. — Acho que ele disse… “Nenhum metal perfura minha pele, a haste de qualquer flecha é apanhada por minhas mãos”.

— Entendi. — Nenhum metal perfura a pele. Apanha a haste de qualquer flecha. Ele murmurou para si mesmo. — Deflexão de flechas…

Ele disse tudo isso sem emoção, depois finalmente assentiu ao chamado de Sacerdotisa e deu um passo em frente.

Diante dos seus olhos, a luz branca já começava a brilhar. O ar zumbia com a edificação do poder mágico.

Quando deu um segundo passo, ele pôs sua espada longa de volta na bainha e virou seu ombro direito ligeiramente.

— Libe…

— Entendi.

Então o terceiro passo. Naquele instante, o braço esquerdo de Elfo Negro saiu voando.

Ninguém — incluindo o próprio Elfo Negro — percebeu que havia acontecido até o sangue começar a jorrar do cotoco.

A tempestade levou o sangue jorrando e o dispersou na chuva. O barulho do braço caindo nos arbustos pôde ser ouvido.

A tempestade levou o sangue jorrando e o dispersou na chuva. O barulho do braço caindo nos arbustos pôde ser ouvido.

A faca curvada e estranha havia cortado o ar e depois a carne e osso de Elfo Negro.

A lâmina em forma de hélice. Não tinha como Elfo Negro saber que era uma faca de arremesso do estilo do sul.

— …?! Aaaahhh!!

A estrela ninja seguiu pela névoa enquanto o cântico se transformava em um grito horrível.

Elfo Negro agarrou o seu membro mutilado. Atrás dele, o braço balançava como uma folha de grama na tempestade.

— Isso é considerado uma adaga.

Não houve nada de notável no arremesso de Matador de Goblins.

Foi simplesmente rápido e preciso.

Dois braços dançavam na noite; o de Elfo Negro e aquele que sua mão estivera segurando.

Eles caíram pateticamente na lama e Matador de Goblins pisou neles.

De baixo de sua bota, houve um som que evocava pedras rachando.

O elfo mutante não sabia exatamente o que tinha acontecido, mas parecia que o braço que defletia flechas, agora, defletia tão bem quanto o de um goblin.

— N-não! Meu… meu braço! O braço… de Heca… tônquiro…!

Um instante depois, uma flecha infalível perfurou a garganta de Elfo Negro que se contorcia no chão.

Houve uma expiração distante de Alta-Elfa Arqueira quando ela soltou a flecha. Isso foi tudo que ela podia fazer sem qualquer tipo de trapaça.

— Meus… sacrifícios… não… bastam… E meus goblins… não… servem… para nada…

Elfo Negro expeliu uma torrente de sangue, depois focou seus olhos ardentes nos inimigos se aproximando.

Mas a chama em seus olhos era baixa, indistinta. Sua visão estava turva. Ele piscava rapidamente.

Tudo o que podia ver era um aventureiro com equipamento estranho.

Uma armadura de couro imunda, um capacete de aço barato, uma espada de comprimento estranho e um pequeno escudo redondo atado em seu braço. Ele estava salpicado de chuva e lama, sangue e terra. Até mesmo um aventureiro novato estaria em melhor forma.

E mesmo assim…

— V-você… foi você… — Bílis subiu com sangue da boca de Elfo Negro. — Na cidade da água… O herói que… frustrou… nossas ambições…!

Ele deveria ter percebido mais cedo.

Sua vingança contra aquele Donzela da Espada amaldiçoada, o renascimento do Senhor Demônio e o ritual para invocar uma tempestade de caos.

Eram os aventureiros que tinham colocado um fim nisso tudo.

Esse homem. Esse homem era um deles, ele tinha certeza. Elfo Negro encarou aquele capacete de aço com pensamentos tão sangrentos quanto seus lábios.

— ……Não.

Ele respondeu friamente.

Muitas pessoas o apoiavam.

Ajudavam-no.

Guiavam-no. Era graças a todos eles que ele estava aqui.

Quando ele voltasse para a cidade, haveria aqueles que — independentemente de como eles pudessem achar dele — ele diria amigo.

Se ele se virasse, ele veria aqueles que lutaram com ele como companheiros.

Se ele fosse para casa, haveria alguém esperando por ele lá.

Nenhum lacaio. Nenhum seguidor.

Nada dado a ele pelos deuses, pelo destino ou acaso.

Mas sim pelas escolhas que tinha feito, caminhos e seções que ele optou por vontade própria.

Uma razão a mais para ele se chamar do que quisesse.

Ah, mas…

Por isso.

— Eu sou…

Sem qualquer centelha de hesitação, ele autoproclamou:

— …Matador de Goblins.

 


 

Tradução: Kakasplat

Revisão: JZanin

 

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Vol. 03 – Cap. 06.2