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Matador de Goblins – Vol. 03 – Cap. 03.1 – O Festival da Colheita Traz Sonhos

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Pew! Pew! O céu da manhã se enchia de explosões lentas de fumaça colorida.

Provavelmente magos contratados fazendo um show de fogos de artifício. As cores cintilantes apresentavam suas habilidades evidentes.

As coisas estariam agitadas apesar de ainda ser cedo, então os grupos animados de performances já estavam de pé tocando música. O tumulto chegava até a fazenda há uma boa distância da cidade, passando pelos ouvidos de Vaqueira.

O tempo estava fantástico e era o dia do festival, o festival da colheita, o festival do outono.

Seu coração estava leve e dançava em seu peito. Ela estava muito bem-disposta, absolutamente feliz demais para ficar parada.

— Oooh… Hummm… Ohhh…

Ou pelo menos, era assim que ela deveria ter se sentido.

Mas, havia uma razão para ela estar em seu quarto com roupas íntimas, gemendo.

Seu armário pequeno estava aberto, com roupas jogadas no quarto da porta à cama. Quase não havia espaço para andar.

E no meio disso tudo estava Vaqueira agachada.

Seu cabelo estava uma bagunça. Depois de todo o esforço que ela teve em arrumá-lo, agora ela teria que passar uma escova outra vez mais tarde.

Mas esse era um problema pequeno.

Ela nunca foi muito de usar maquiagem. Ela poderia arrumar o cabelo, passar um pouco de pó e um pouco de blush, mas seria só isso.

Então o problema era…

— Não faço ideia do que vestir!

Essa era uma situação crítica.

Um vestido estaria bom? Ou ela deveria tentar algo mais casual? Ou ela deveria ir ousada?

— Não posso usar minha roupa de trabalho… Ou posso? Apenas simples e direto?

Ah, mas há uma coisa, uma coisa era precisamente certa.

Ele estará vestido do jeito que ele sempre está!

Armadura de couro imunda e capacete lamentável, carregando uma espada não muito longa, mas também não muito curta, com um escudo redondo fixado em seu braço.

Ele estaria usando suas roupas normais (?), e ela as dela, e era assim que eles iriam juntos ao festival. Eles iriam ao festival juntos!

Enquanto ela segurava a cabeça com uma das mãos, a roupa de trabalho tinha encontrado a outra. Ela a jogou no cesto. Tchau.

As restantes eram roupas que ela havia montado pouco a pouco em seus dias livres ocasionais.

Mas nenhuma delas parecia razoável. Não havia nada que ela pudesse usar agora, quando era preciso.

Tragicamente, ela simplesmente não tinha pontos de experiência suficiente nos problemas do dia-a-dia. Seu nível era baixo demais.

Era claramente tarde demais para arrependimentos, mas ela desejou que tivesse tentado estar mais na moda regularmente.

— Talvez… Talvez não preciso se preocupar com roupas íntimas…

É. Estará tudo bem. Com certeza.

…Não! Você precisa decidir suas roupas normais, esqueça suas roupas íntimas! Argh, estou ficando confusa!

Ela pensou que tinha ouvido uma vez que quando você ficava confusa, o importante era não demonstrar.

Soltando um pequeno grito involuntário, ela pegou uma peça de roupa atrás da outra, considerando que cada uma não era bem adequada e as jogou de lado.

Então, ela se perguntou se a que ela havia descartado mais recentemente poderia ser mesmo a melhor, a agarrando outra vez e colocando em seu peito, só para jogá-la fora mais uma vez.

Seu encontro com ele era de manhã. Toda essa aflição estava desperdiçando um tempo valioso.

Ela ficou tão preocupada com essas questões que não ouviu seu tio bater.

— …Hum-hum. Com licença. Está muito ocupada?

— Oh! Quê! Hum… ah… Papa… digo, Tio?!

Ela mergulhou na cama e cobriu o cobertor ao redor de si.

Quando ela verificou, a porta ainda estava fechada. Ela pôs a mão em seu peito grande para acalmar os batimentos do coração.

— …T-tudo bem. Entre.

— Com licença. O quê…? O que é tudo isso?

Seu tio dificilmente poderia ser culpado pelo suspiro quando entrou no quarto.

Ela nem sequer tentou dar uma desculpa, apenas evitou envergonhada seus olhos da bagunça.

— Planejando abrir a sua própria loja de roupas…?

— Ha… Ha-ha-ha.

Ela coçou sua bochecha em um gesto inconfundível de constrangimento em relação ao seu tio exasperado.

— …Apenas se certifique de limpar isso — disse ele. Ele não teve de acrescentar mais nada. — Enfim, eu… hm. Agora é uma boa hora. Tenho uma coisa para você.

— Hã? O que é isso?

Em resposta a sua perplexidade, ele lhe ofereceu um vestido azul surpreendente. A roupa colorida deslumbrantemente era decorada com rendas e bordados.

A expressão de seu tio era difícil de descrever, exceto pelo reflexo melancólico nos olhos dele.

— Minha irmã mais nova… sua mãe usou isso quando tinha a sua idade.

— Oh…!

Ela achou que era realmente linda. Ela pegou e segurou timidamente em sua frente, para ver como ficava.

— Me pergunto se posso vesti-lo. Será que ficará bem em mim?

— Ficará perfeito — disse seu tio. — Sua mãe tinha cabelos mais compridos, mas fora isso você é a cara dela.

— C-certo. Certo! Vou experimentar ele.

Mamãe usou isso? Eu sou… parecida com ela?

Sentimentos inexprimíveis brotaram com esse pensamento, e ela abraçou firmemente o vestido contra si.

— Cuidado, vai amarrotá-lo.

— Ah, é-é verdade… Tenho de ter cuidado. Mas… Hee-hee-hee!

Ela quase o tinha esmagado contra seu peito enorme, e agora ela o alisou de novo apressadamente para que continuasse arrumado.

O sorriso em seu rosto, todavia, ela não pôde evitar. Ela disse suas próximas palavras sinceramente.

— Obrigada, Tio!

Ele pestanejou e ergueu os olhos para o teto durante alguns segundos antes de balançar a cabeça.

— …Não é nada. Não precisa dizer isso. — E então seu rosto rude se suavizou um pouco. — Pertencia a sua mãe, afinal de contas. Agora é seu. Use com amor.

— Eu irei! Cuidarei com carinho.

Enquanto ele fechava a porta, seu tio falou para ela não se apressar e tropeçar nele, ao que ela respondeu a plenos pulmões “Eu não vou!”.

Depois ela arremessou o cobertor e experimentou o vestido de sua mãe.

A saia rodada parecia um pouco alienígena para uma garota acostumada a usar roupas de fazenda.

Mas, a sensação estranha também trouxe à luz o fato de que ela estava quebrando a rotina, e isso era emocionante.

Ela colocou um chapéu com uma fita grande para complementar o vestido.

Isso vai servir!

Ela girou para uma inspeção rápida de sua aparência. Não havia espelho para olhar, mas, uma garota não poderia ter tudo.

O único problema era os sapatos, que não eram muito elegantes.

Mas isso é o suficiente para me tornar uma dama de verdade de qualquer forma!

— Muito bem, vamos lá!

Ela abriu a porta. Mas ela só viu seu tio esperando na cozinha.

Ele havia pegado o leite e parecia estar fazendo alguma coisa.

— Tio, é dia do festival. Você não vai sair…?

— Estou velho demais para esse tipo de coisa. Vou ficar aqui com o que chamam de, ice crème. — Ele tinha aprendido como fazer a sobremesa gelada, mas franziu a testa quando sua boca formou o nome pouco familiar. — E quanto a você? Não vai ficar fora o dia todo?

— Nem. E se você precisar sair? Não podemos simplesmente deixar a fazenda sozinha.

— É mesmo? — murmurou ele enquanto ela movia a mão em tchau.

Ela ficou um pouco distraída que ele parecia querer dizer alguma coisa, mas…

— Até logo!

— Hm. Até. Tenha cuidado.

Ela estava sem tempo. Vaqueira saiu rapidamente pela porta.

O céu estava azul, limpo da fumaça dos fogos de artifícios. O sol do outono invadia a colina e o vento soprava com pressa.

E lá estava ele, de pé no sol, analisando a área como sempre fazia.

Assim como ela havia esperado, ele usava todo o seu equipamento habitual. A armadura suja, o capacete de baixa qualidade, a espada de comprimento estranho e o escudo redondo.

Ah, mas…

Estou diferente hoje!

— Ei! Desculpe por te fazer esperar.

— Sem problema.

Ela acenou para ele, tentando agir o mais casual possível.

Ele devolveu com a sua resposta suave habitual, depois inclinou a cabeça pensando antes de acrescentar: — Não esperei muito tempo.

— Ah, é?

— Sim.

— Então vamos.

— Sim.

Ele assentiu, depois se preparou para partir na frente dela com seu ritmo vigoroso de rotina.

Mas antes que ele pudesse, Vaqueira girou e apanhou sua mão enluvada de couro.

— Hm…

— Vai estar lotado. Não iria querer se separar, não é?

Mesmo para Vaqueira isso soava como um pretexto. Ela desejou que sua voz não estremecesse.

Talvez as luvas dele o impedisse de notar seu pulso acelerado por meio de sua palma…

Era difícil dizer se ele estava ciente dos sentimentos dela. Perplexo, ele disse: — Pode estar lotado… na cidade.

— B-bem, não faz mal estar preparado. — Vaqueira olhou para longe e coçou sua bochecha com a mão livre. Ela podia sentir o calor nas pontas dos dedos. Ela devia estar vermelho-viva. — Quero dizer, temos de se acostumar… um pouco com isso. — Ela pegou a aba do chapéu e ajustou para que ele não a vesse corar. Ela ajustou a mão com a dele gentilmente. — Porque não… não estou acostumada com isso.

— Entendi. — Ele assentiu. — Isso é importante.

Vaqueira também assentiu e caminhou com suas mãos juntas.

— …E-ei.

— O que foi?

— Hum, bem… — Olhando diretamente para frente, Vaqueira perguntou o que estava morrendo de vontade de perguntar. — Minhas roupas… Digo… o que você acha?

— …

Era a mesma estrada que eles sempre andavam. O mesmo cenário que eles sempre viam.

O mesmo para ele. Diferente para ela. De mãos dadas.

O mesmo silêncio em que ele sempre caia quando pensava. Então…

— Elas combinam com você. É o que acho.

Foi o suficiente para fazer cada passo dela mais leve que o ar.

— Hee-hee-hee!

Vaqueira se sentia como se pudesse flutuar até o céu.

 

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Estava uma torrente de som.

Berrantes soavam, tambores batiam e flautas tocavam, com passos e risadas preenchendo as ruas.

Lojistas chamavam, artistas de rua gritavam e as vozes dos transeuntes passavam em ondas.

Isso era palpável no ar mesmo antes de alcançarem o portão da cidade, mas por dentro, as coisas estavam em um nível completamente diferente.

— Eu sei que eles fazem isso todos os anos — disse ela, agarrando mais forte a luva, ainda corando — mas é sempre incrível.

— Sim.

Seu capacete se moveu como resposta.

Hoje, de todos os dias, seu equipamento estranho não se destacava muito. Afinal, por todo lugar que olhavam, artistas dançavam na rua e faziam um show improvisado. E havia mais do que alguns aventureiros visitantes que não removeram os equipamentos na cidade.

No mínimo, era Vaqueira quem chamava toda a atenção.

Uma jovem elegante estava de mãos dadas com um aventureiro com um capacete e armadura imunda. Olhares curiosos a seguiam um após outro.

Me pergunto como estou para eles.

Ela adorou o pensamento passageiro.

Talvez eles pensassem que ela era uma aristocrata se misturando com a população, e ele era seu guarda-costas.

Não… Acho que isso é um pouco exagerado.

Ela era a sobrinha — a filha adotiva — de um dono de fazenda local que tinha uma boa quantidade de terra em seu nome.

E seu companheiro era um veterano conhecido por esses lados, um aventureiro ranque Prata.

É claro que eles sabiam que ela não era uma jovem nobre. E mesmo assim…

— Acho que tive uma boa ideia.

— De quê?

Ela riu do seu questionamento, depois se exibiu endireitando o chapéu.

— Onde você me levaria primeiro.

— Hum.

Ele olhou silenciosamente para o céu, pensando. O fluxo de pessoas se partia ao redor deles enquanto ficavam como rochas em um rio.

Eles não estavam realmente no caminho de ninguém. Ela esperava pela sua resposta, sorrindo.

Depois de um momento, ele murmurou como se desse conta de repente:

— Ainda não tomei café da manhã.

— Ah — disse ela, colocando a mão sobre a boca.

Ele estava certo.

Ela esteve tão preocupada com suas roupas e preparativos que a refeição da manhã escapou de sua mente.

Ele olhou firmemente para ela enquanto ela cobria os olhos.

— Vamos arranjar algo em uma barraca?

— …É. Parece bom — concordou ela.

Ela se sentiu mal por seu tio, mas era tarde demais para isso agora.

Ele estava bem ali com ela. Ela começaria por lhe pedir desculpas.

— …Sinto muito. Eu meio que… esqueci completamente.

— Não. — Ele balançou a cabeça lentamente. E então, depois de um momento, acrescentou: — Essas coisas acontecem.

Ela adorou sondar as barracas e pensar onde eles comeriam, mas eventualmente, ela não pôde aguentar mais sua fome.

O café da manhã tardio que eles finalmente conseguiram de um dos vendedores foi surpreendentemente caro pelo que era. Fatia grossa de bacon frito misturado com batatas. Nada mais.

Mas, era simplesmente delicioso.

— Oh — disse ela, rindo. — Esse é o nosso bacon!

— É? — respondeu ele, inserindo um pouco de comida através do visor de seu capacete. — Percebi.

As batatas salgadas e gordurosas encantaram sua língua.

Ela devorou seu café da manhã, assoprando a comida para evitar queimar a boca.

Ele comeu progressivamente e silenciosamente, mas com cuidado, como sempre fazia.

Depois eles pegaram os pratos vazios e sem lustro e os quebraram antes de partir novamente.

Vozes animadas soavam por todos os lados.

— Licor de ameixa para o adorável casal? Se dissolve na boca! — gritou um vendedor de licor. Vaqueira parou lá.

— O que acha? — perguntou ele, apontando. — Quer uma bebida? — Bem, já que estavam ali…

Foram-lhes entregues dois copos de um licor de fruta ligeiramente cheiroso em pequenos recipientes de barro.

Ela bebeu o seu delicadamente. Ele, todavia, engoliu em um só gole.

— Não vai para sua cabeça se beber tudo de uma vez assim?

— Não é um problema — disse ele seriamente. — Conhaque te acorda.

— …Isso não é apenas uma forma de dizer que está meio indisposto agora?

— Não é uma forma de dizer nada.

— Ah, sério? — Ela detectou um tom ligeiramente acuado na voz dele e riu.

Ela só estava provocando, apenas brincando. Se ele estivesse realmente se sentindo mal, ela certamente teria notado. Então ela o arrastaria de volta à sua cama e cuidaria dele.

O festival era divertido, sim, mas mais um motivo para ela não querer estragar isso o pressionando demais.

— Você de fato esteve fora ontem à noite, no entanto. O que estava fazendo? — perguntou Vaqueira.

— Terminando algo que precisava ser feito — respondeu Matador de Goblins.

Ela já estava completamente acostumada com as suas não-explicações a essa altura. Mas ela não o forçou mais, dizendo simplesmente “Hum”.

Calor estava se espalhando pelo seu peito, e ela começou a se sentir animada. Ela não tinha a certeza se era o álcool.

— Pensei que estava dormindo — disse ele com o mesmo tom de sempre. Ele reparou como ela estava se sentindo? — Você estava acordada o tempo todo?

— Ah, haha… Eu meio que… não conseguia dormir.

— Entendi.

Ele também não a pressionou. Juntos eles se fundiram de volta à multidão agitada e celebrante.

Nunca havia tempo suficiente.

Uma elfa arqueira jogava pratos no ar e atirava neles para aplausos exaltados. Um anão tinha montado uma barraca vendendo espadas gravadas bonitas que ele dizia ter feito. Um rhea músico tocava uma melodia agitada para todos ouvirem.

Onde quer que fossem, a cidade familiar tinha alguma coisa de novo para lhes mostrar.

Eles estiveram andando por um tempo quando ele parou de repente.

— Hã? O que foi?

Ela olhou para o seu rosto, é claro, não podendo ver nenhuma expressão lá.

Ele só murmurou “Hm”. Então…

— …Espere um momento.

— Bem, claro, mas…

Ele afastou suas mãos enluvadas das dela.

Repentinamente sozinha, ela fez o que sempre fazia e se apoiou contra a parede e o esperou.

Ela ergueu sua mão agora vazia em frente ao rosto e suspirou suavemente nela. Ela não estava exatamente solitária ou chateada. Mas, enquanto observava a turba de aventureiros e viajantes passando, um pensamento lhe ocorreu.

Essa relação dele indo e ela esperando não era susceptível a mudar.

Era assim que seria para sempre.

Eles tinham visto coisas diferentes.

Dez anos.

Dez anos desde que ela havia saído de casa e seu vilarejo fora destruído.

Cinco anos desde que ela tivera se reencontrado com ele, agora um aventureiro.

Ela não sabia como ele havia passado os cinco anos desde que se separaram. Ela não sabia nada dos dias antes de ele se tornar Matador de Goblins. Ela nem sequer sabe o que aconteceu na sua aldeia. Ela tinha ouvido histórias, é claro, mas isso foi indiretamente.

Ela se lembrava de segurar a mão de seu tio enquanto caixões vazios eram enterrados.

Mas nada mais do que isso.

Ela realmente não sabe o que aconteceu, por que ou onde todos tinham partido.

Tivesse havido fogo? Os campos, e quanto a eles? Os animais? Seus amigos? Seu pai. Sua mãe.

E quanto ao ninho de passarinho que ela mantivera como seu próprio segredinho, o tesouro que tinha escondido no nó de uma árvore?

O avental de sua mãe, o qual Vaqueira fora prometida uma vez que crescesse? Seus sapatos favoritos? O copo que tinha recebido em seu aniversário, cuja cor verde havia desbotada, embora ela tivesse tido bastante cuidado.

Uma após outra, as memórias preciosas voltaram a ela, agora quase como fantasmas.

O que lhe havia restado? Uma caixa pequena, as coisas que ela tinha encontrado na cidade naquele dia e determinado trazer.

Se… fosse só ela imaginando. Mas se.

Se ela não tivesse deixado a vila naquele dia, o que teria acontecido com ela? Ela teria visto as mesmas coisas que ele e sobrevivido?

Ou ela teria morrido e o deixado sozinho? E se sim, ele teria se vingado por ela?

Ou… E se ele tivesse morrido e ela tivesse sido a única viva?

Que pensamento terrível.

Naquele momento ela ouviu: — Desculpe te fazer esperar. — A forma armadurada familiar apareceu diante dela saído da multidão.

— Sem problema.

Ela balançou a cabeça enquanto ajeitava o chapéu. Ele segurava um objeto pequeno para ela.

— O que é isso? — disse ela, olhando para o objeto.

— Quando éramos pequenos… na aldeia — murmurou ele — você gostava de coisas como essa.

Ele estava segurando um anel pequeno artesanal.

Era prata; ou parecia ser, de qualquer forma. Ela sabia que tinha de ser imitação de prata. Algo que um vendedor de beira de estrada inventou para separar os trocados das crianças.

Em outras palavras, apenas um brinquedo.

Ela se viu sorrindo. Depois rindo alto.

— Ha-ha-ha! …Isso foi quando eu era uma menina.

— Foi? — disse ele com uma voz baixa e curta. E depois: — Acho que foi.

— É.

Ela concordou. Assentindo, ela pôs o anel.

Poderia ter sido feito à mão, mas era mal feito. Nem sequer havia uma joia falsa. Apenas metal.

Mas ele captava a luz do sol e brilhava, brilhante o suficiente para fazê-la apertar os olhos.

— …Mas — sussurrou ela — eu ainda gosto deles.

— …Gosta?

— Sim.

Ela conseguiu espremer para fora um “Obrigada”, e depois Vaqueira colocou o anel no bolso de seu vestido.

Ela manteve sua mão esquerda no anel para que não o perdesse, sua mão direta, é claro, estava na dele.

— Vamos?

Ela sorriu e partiram, de mãos dadas.

Ela não conseguia ver a expressão dele por detrás do capacete. Mas…

…Ele também estava sorrindo. Ela estava bastante certa.

Ela confiava que ele estava.

 

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Era quase meio-dia quando uma voz gritou para os dois.

— Então, se não é o velho Mata-gob!

Vaqueira esticou o pescoço para ver quem era, enquanto se inquietava sobre o que fazer com o anel.

Ela não reconheceu a voz relativamente aguda, mas o titular apareceu.

O capacete se virou para olhar diretamente para Garoto Batedor, que estava apontando para eles.

Junto dele estava a rhea Druidesa, Guerreiro Novato e Sacerdotisa Aprendiz.

Vaqueira percebeu que os aventureiros jovens passavam até mesmo seus tempos livres juntos.

— Uau, cara, você está tendo um encontro com a garota da fazenda?!

— Ei, devia ser mais educado com alguém muito mais velho!

Guerreiro Novato soou muito interessando de fato, mas Sacerdotisa Aprendiz puxou sua manga.

Mata-gob? Deixar uma criança inventar um apelido desse. Vaqueira sorriu.

Ela sorriu para o capacete em um gesto deliberadamente significativo.

— Um encontro? Me pergunto. O que você acha?

— Espere — disse ele bruscamente. — Só tenho vinte.

Seu sorriso se ampliou. Ele não tinha negado.

— Quêêêê?!

Os garotos deram gritos estranhos, e Vaqueira finalmente não conseguiu se segurar mais.

— Ele certamente tem. Mas ninguém sabe já que ele sempre está com esse capacete.

— …É uma medida necessária.

Sua voz soou um pouco mais brusca do que o habitual.

Ele estava se amuando. O dia dela continuava ficando melhor e melhor.

Todos diziam que não sabiam o que ele estava pensando porque não conseguiam ver seu rosto. Mas, para alguém que o conhecia há tanto tempo quanto ela, era bastante fácil.

— Hum, você poderia… nos dar uma ajuda? — perguntou-lhes Sacerdotisa Aprendiz, hesitantemente.

Vuup. O capacete de aço de Matador de Goblins se virou para ela.

— É goblins?

— Não, nada disso. Hmm…

— Ah… sem goblins?

Sua resposta monótona deixou Druidesa olhando duvidosamente ao redor.

Ao lado de Druidesa, Garoto Batedor disse: — Você é muito estúpido, cara! — e gargalhou. — Não tem jeito dos goblins aparecerem aqui!

— Eles vão.

— Hã?!

— Goblins virão.

— Sério?!

Sim. O quê? Nem pensar! Eles andaram de um lado para o outro. Vaqueira observou eles com uma espécie de divertimento inocente.

— Vamos, vamos garotos. Vocês duas precisam de alguma coisa?

Ela se agachou ao nível dos olhos de Druidesa e Sacerdotisa Aprendiz.

Elas se entreolharam, depois para o peito de Vaqueira, salientado pelo braço que ela estava repousando por baixo.

Então elas olharam para baixo em seus próprios corpos e suspiraram. Fácil o suficiente para se entender.

— Não se preocupem. Vocês continuarão crescendo.

— …Isso não é muito reconfortante.

— É, mesmo assim…

As duas coraram e ficaram inquietas, olhando fixamente para o chão.

Vaqueira sorriu por dentro enquanto dava a elas um tapinha na cabeça.

— Enfim, qual é o problema?

As garotas assentiram, então olharam para trás e apontaram para a entrada da taverna atrás deles.

Uma multidão enorme havia se reunido, e no meio do círculo estava uma mesa pequena. Em cima da mesa estava uma estátua de um sapo boquiaberto.

Um bêbado estava parado em uma linha branca desenhada na rua, segurando um punhado de bolas de prata.

— Hrah! Yaah! Haaah!

Ele arremessou as bolas uma após outra, mas sem sucesso. Cada uma delas repicaram na mesa e no chão.

O dono da loja perto da estátua recolheu as bolas com facilidade e disse em voz alta:

— Se aproximem, dez bolas por uma peça de bronze! Acerte um e pegue uma caneca de cerveja! Ou limonada para os meninos e meninas!

— Elas não entram — disse bufando Garoto Batedor.

Ele estivera treinando com o grupo de Guerreiro de Armadura Pesada, mas ele ainda era uma criança. Quinze era a idade mínima para se tornar um aventureiro, e essa fora a idade para esse garoto há vários anos, mas ele ainda não tinha vinte também.

Vaqueira percebeu que ele deveria ter mentido sobre sua idade, mas ela não sentiu qualquer disposição em falar disso.

— É. Acho que essas bolas de prata são fraudulentas.

— Vamos, criança. Isso não é engraçado.

O guerreiro aprendiz falou meio brincando enquanto entregava uma peça de bronze, e o dono respondeu com um sorriso e um tom que sugeria que já tivera essa conversa antes.

Depois os dois rapazes jogaram as bolas uma após outras, mas eles nem chegaram perto do alvo.

Um grande ai-ai… veio das meninas com eles.

— …Eles são pegos nessas coisas tão facilmente.

— Garotos são péssimos, hum?

Elas não eram muito mais maduras, mas tentavam fingir que eram.

Vaqueira ouviu as queixas das garotas com um “Uh-huh, uh-huh”.

Garotos. Eles estão tentando parecer legais…

— …e as garotas querem — disse ela, olhando para seu velho amigo.

A expressão atrás do capacete de aço era, como sempre, impossível de se ver e ainda assim fácil de se supor.

— O que foi?

— Nos dê uma demonstração?

— Hmm.

Matador de Goblins passou seu olhar pelas quatro crianças e Vaqueira.

Então, com um pequeno aceno, ele pegou uma peça de bronze de sua bolsa e foi até o dono da taverna.

— Vendedor.

— Simssenhor!

— Um, por favor.

O que aconteceu depois foi quase que rápido demais para se acompanhar.

Ele rolou as bolas em sua mão com um clinc, depois as jogou na boca do sapo.

Não houve nada de incomum em sua técnica.

Ele apenas tinha o seu alvo. Mas ele foi preciso e rápido.

Uma entrou. Duas. Três, quatro. Então cinco e seis.

Por vários segundos, as bolas rolando para dentro da estátua de sapo criaram um som muito parecido com um croac.

— Uau!

— Uoo…

O espanto nos rostos das crianças era fácil de se ver.

E não apenas as crianças.

Os curiosos suspiraram ohh apreciativamente e começaram a aplaudir.

Heh! Vaqueira inflou seu peito farto quase como se fosse ela que tivesse feito essa exibição impressionante.

As pessoas achavam que ele só era bom em matar goblins.

Mas não era verdade. Havia mais coisas para ele do que isso.

— Caramba, senhor, tu não poderia ter se contido? Pelo meu bem?

— Não.

Enquanto ele dava sua resposta extremamente séria ao dono, Vaqueira deu a ele um tapinha de parabéns nas costas.

— Você sempre foi bom nesses jogos, mesmo quando éramos crianças.

— Sim.

Havia uma taverna em sua cidade natal também, embora a estátua não fosse um sapo, mas uma mulher com um jarro de água. Em cada festival, ele tinha ganho três copos de limonada para ela, si mesmo e sua irmã.

Agora que penso nisso, me lembro dele praticando em fazer pedras quicarem sobre o rio antes do festival.

Ela percebeu com uma onda de carinho que ele sempre foi do tipo de se preparar cuidadosamente.

— Uau, é isso ai, cara! — disse um empregado. — Seis limonadas? É para já!

— Sim.

Ele abaixou seu capacete uma vez, tal como sempre fazia.

Depois se virou para os garotos e explicou com um tom moderado.

— E é assim que devem fazer.

— …C-certo.

— Agora é a sua vez.

Matador de Goblins passou as quatro bolas de prata restantes aos garotos com um tinir.

Garoto Batedor pegou duas, ao mesmo tempo frenético e estoico.

— V-você não tem outro conselho?

— Prática.

Isso foi tudo o que ele disse.

— Blá — choramingaram os meninos. Matador de Goblins assentiu para eles e se colocou sério.

— D-dê o seu melhor!

— Ei, você tem que lançar melhor que aquilo!

— Ha-ha-ha! Ahh, não seja tão dura com ele.

Assim as garotas assistiram os três garotos…

— Oh…

Vaqueira não achava que era errado pensar nele com essa palavra.

Era estranho?

Não, não era. Realmente não era.

Claro, já havia se passado dez anos desde então. Era muito tempo para desenvolver experiência. Ela tinha aprendido tantas coisas quanto ele.

Mas tudo isso era só uma acumulação.

As raízes ainda são as mesmas.

Esse era um princípio que ela acreditava… Não, era algo que ela esperava que fosse verdade.

— Bebida? — perguntou Matador de Goblins a Vaqueira.

— Claro, obrigada.

Ela pegou o copo gelado de sua mão. Era água com limão e mel.

Esse arrepio refrescante, pensou ela, não havia mudada em dez anos.

— Ah, é — disse ela, fingindo que tinha acabado de pensar em algo enquanto via de soslaio as crianças arremessarem com determinação as bolinhas. — Já que você quem me deu, por que não coloca em mim? O anel.

— Aonde?

Ele olhou atentamente para os dedos dela, de seu polegar ao mindinho.

— Digo… meu dedo anelar — disse ela, começando a se arrepender de ter dito alguma coisa. — …O que acha?

— De qual mão?

— Como assim, qual? A…

A mão esquerda.

Ela balançou a cabeça, de certa forma incapaz de dizer as palavras.

— Di…

Ela respirou e revistou seu bolso, pegando o anel com a mão esquerda.

— Mão direita… por favor.

— Está bem.

E então ele colocou o anel no dedo dela sem qualquer cerimônia.

Ela ergueu a mão ao sol, e o a anel brilhou intensamente.

Bem, acho que vou ter de tirar quando trabalhar.

Mas, pelo menos durante o festival ela poderia deixá-lo.

Com o sabor agridoce da limonada em sua boca, Vaqueira decidiu ter toda a diversão que pudesse.

 

 

 

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Agora, vamos deixar a estátua do sapo do lado de fora da porta e seguir o comerciante de dentro enquanto ele vai à taverna para mais limonada.

— Não vou meter o meu nariz onde não é chamado, mas… — Lagarto Sacerdote mordiscou suntuosamente uma salsicha frita coberta com uma grande quantidade de queijo. Não era rude na cultura dos lagartos falar enquanto aproveitava sua comida. — Me pergunto se vai dar certo… É claro, eu certamente espero.

— Ahh, as coisas nesse mundo mudam para melhor de oito a nove em cada dez vezes — disse Anão Xamã, batendo em sua barriga como um tambor enquanto dava um gole em sua bebida forte e proclamava: — Está tudo bem! — Ele olhou para o lado com um sorriso serelepe enquanto dizia: — Estou mais preocupado com…

A última pessoa à mesa, Alta-Elfa Arqueira, olhava como se estivesse caçando uma presa.

— Grrr…

— Por que está gemendo, Orelhuda?

— Porquê! — Ela bateu na mesa, apontando para fora da taverna enquanto suas orelhas sacudiam. — Eu tentei aquilo antes e não consegui acertar uma!

— Isso só quer dizer que disparar e lançar são coisas diferentes.

— Isso não é justo! Sou uma alta-elfa! Somos descendentes dos deuses!

Então ela tomou um gole desesperado de sua limonada.

Ela havia mandado embora uma peça de bronze atrás de outra e ainda acabou por ter de comprar sua própria bebida. Era a limonada mais amarga que já havia tomado.

— Bem, é assim que o mundo funciona. Minha senhora Patrulheira e meu senhor Matador de Goblins têm diferentes aptidões.

O tom de Lagarto Sacerdote sugeria como se estivesse falando com uma criança. E Anão Xamã ficou muito feliz em adicionar sua opinião.

— Certeza de que não está apenas chateada por perder para Corta-barba?

Sniiiiff… N-não estou chateada.

Lagarto Sacerdote sibilou com divertimento enquanto Alta-Elfa Arqueira dizia as palavras entre os dentes.

— …Oh, espere um segundo.

A elfa sacudiu repentinamente suas orelhas de surpresa, levantando a cabeça e se virando para a janela.

— Alguma coisa errada, minha senhora Patrulheira?

— Olhe. Estão se movendo.

Ela estava certa. Os dois estavam deixando o jogo de bolas.

Vaqueira se movia pesarosamente, enquanto Matador de Goblins caminhava tão ousadamente quanto sempre.

— Hum, eles estão falando… “Diga olá a Garota da Guilda por mim” e “Sim”.

Ele não consegue pensar em nada mais amigável para dizer?

Alta-Elfa Arqueira estufou as bochechas de desagrado, brincando com seu copo de limonada, agora coberto de gotículas de água.

Anão Xamã afagou a barba, aparentemente entretido com isso.

— Não consigo pensar em um uso mais estúpido para as orelhas de um elfo.

— Ah? Você não entende nada sobre a cultura humana, anão? — Alta-Elfa Arqueira lhe deu um sorriso confiante e incomum, com suas orelhas eretas. — Se você pode fazer coisas bobas, isso mostra que dispõe de recursos suficientes para se dar ao luxo.

— Me parece como a desculpa de uma pessoa que ficou tão envolvida no que estava fazendo que ela se esqueceu de sua bolsa em algum lugar.

— Isso não tem nada a ver.

— É por isso que odeio elfos! Sempre tentando esconder seus problemas.

— Palavras fortes enquanto anões só conseguem pensar em dinheiro!

E os dois amigos acabaram de novo em uma de suas discussões habituais.

Lagarto Sacerdote os observava com prazer, batendo a cauda no chão. Ele acenou para uma garçonete nas proximidades.

— Com licença, Senhorita Empregada!

— Sim, senhor!

A resposta atenciosa veio de uma felpubro; uma garota fera. Suas mãos, pés e orelhas eram as de um animal. Ela correu até ele.

— Nossa. — Naturalmente, os olhos de Lagarto Sacerdote se alargaram um pouco quando ele reconheceu a garota que ficou ali, rindo.

— Me perdoe, mas você não é uma das garotas da Guilda?

— Ah, sim! Estou trabalhando em dois empregos. — Garota Felpubro escondeu seu sorriso com a bandeja, mas não conseguiu ocultar sua risada. — Olhe ao redor. Todos estão tão ocupados hoje, eles pedirão toda a ajuda possível.

— Sim, estou vendo. Ainda bem que essa maré alta parece estar levantando seu barco também. — Lagarto Sacerdote assentiu atentamente, usando uma de suas garras afiadas para indicar o cardápio na parede. — Peço mais duas ou três de suas salsichas fritas. E se puder garantir que o queijo esteja especialmente abundante…

— Claro, claro. A propósito, se quiser, também temos salsichas com ervas.

— Oh, ervas, você disse?

— E outras com cartilagem…

— Com certeza!

— Mais algumas recheadas com queijo!

— Oh, deuses!

Não era preciso dizer que seus olhos nunca haviam brilhado tanto.

Assim, a hora do almoço passou tranquilamente.

 


 

Tradução: Kakasplat

Revisão: JZanin

 

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