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Matador de Goblins – Vol. 02 – Cap. 11 – Lá e de Volta Outra Vez

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Para ela, esse mundo parecia um branco puro, um espaço em branco totalmente impregnado pela luz.

O ar quente, a brisa refrescante, o farfalhar das folhas, a grama contra a sua pele nua. Tudo isso.

Tudo isso era revigorante, cheio de luz, não dando lugar ao caos. Ela caminhou por isso bem regiamente, sentindo uma sensação gentil em seu coração.

Sim, ela estava à vontade. Isso a surpreendia.

Nos últimos dias, ela tinha sentido um calor incomum em seu coração. Ela não conseguia compreender o que era, mas ela tinha uma ideia de onde vinha.

Havia começado quando tinha dormido com o homem ferido, ou assim ela pensava.

Ele era um guerreiro comum sem nenhum talento especial, cujo corpo falava de uma devoção singular ao treino. Mais um motivo por ela estimar isso mais do que a de qualquer herói. Ela mesma viu o valor de cada uma das cicatrizes na pele dele e as dela, enquanto se pressionava contra o corpo dele.

De repente, ela parou.

Passos suaves ecoavam pela grama do jardim do Templo.

Algo preto em meio ao branco. Uma silhueta vaga e escura.

Seus lábios se separaram ligeiramente, e um sorriso pequenino se espalhou pelo seu rosto.

Como ela poderia se esquecer dessa forma?

— Que bom vê-lo bem.

A silhueta — ele — assentiu brevemente.

Ele estava usando uma armadura de couro e um capacete de aço; no seu quadril estava uma espada que parecia ter um comprimento estranho. Ela tinha sonhado com ele muitas vezes, uma escuridão sacolejante escondia sua forma de guerreiro.

— Eu vim com uma pergunta — disse ele, caminhando ousadamente até o lado dela.

Ela ficou brevemente perdida quanto à forma de agir. Ela deveria permanecer indiferente, ou um sorriso honesto seria melhor? Parecer encantada demais seria infantil e vergonhoso.

— Sim, o que é? Se estiver em meu alcance para responder…

No fim, ela escolheu seu habitual sorriso calmo. Para ela, isso parecia mais consigo mesma. Ela esperava que ele pensasse assim também.

Ela se perguntava com que expressão ele estava. A forma enevoada que ela via não revelava nada. Embora mesmo que pudesse ver, seu capacete ainda assim a esconderia dela.

E isso era só um pouquinho de se lamentar.

Com uma voz suave, ele disse:

— Você sabia de tudo, não é?

Ela sentiu seu coração acelerar, suas bochechas ficaram quentes. Ela trouxe seu cajado espada-e-balança para mais perto de si, depois esticou as costas revigorantemente.

Assim, ela esperava que sua voz não tremulasse.

— …Sim. Sabia.

Ela pôde ouvir ele dizer baixinho “entendi”.

Foi o mesmo tom desapaixonado que ele havia usado quando eles tinham se encontrado e quando conversaram na cama.

Ela achava isso curiosamente e inacreditavelmente triste.

Só agora que ela percebeu que tinha esperado alguma coisa mudar. Ela nunca tivera tal sensação perturbadora antes.

— Mas… como é que você descobriu?

— Não descobri.

Ela inclinou curiosamente a cabeça para ele.

— Eu tinha a intenção de perguntar isso a todo mundo que tivesse condições de saber.

— Todo mundo… — murmurou Donzela da Espada. — Heh. Então é assim…?

Ela se viu inflando as bochechas com um toque de decepção.

Isso é vergonhoso. Não seja tão infantil, se repreendeu ela.

— Talvez eu deveria ter sido menos próxima então… — Ela suspirou ligeiramente e olhou para ele, para sua sombra. — Mesmo assim… não estou triste por ser a primeira a quem você perguntou.

Seus lábios se ergueram um pouco, formando um meio círculo. Ela fez isso? Ou isso só aconteceu? Ela mesma não tinha certeza.

— Posso lhe perguntar por que suspeitava?

— Diversas razões.

A sombra negra se moveu ligeiramente na sua visão. Ela tinha um modo de andar ousado e despreocupado. Mas não fazia nenhum som.

Ela amava o jeito que ele andava.

— Aquele branco… Como se chamava?

— Aligátor?

— Sim. — Ele assentiu. — Algo assim. Não acho que foi um encontro aleatório.

— Você acha que foi um encontro planejado então?

— Pelo menos na medida em que ele tentou nos espantar e atacar unilateralmente os goblins.

— Sabia que você soa só um pouquinho paranoico?

Ele balançou a cabeça em resposta. — Você tem ruínas assim e ainda não tem mapas e nenhuma missão de matar ratos. Aventureiros evitam o lugar. Não há sequer patrulhas. É impossível.

— Você é inteligente.

— …Sim — disse Matador de Goblins. — Quando se trata de aventureiros, eu sou.

— Hee-hee. — Uma gargalhada surgiu da parte de trás de sua garganta com a resposta franca dele.

— Em outras palavras, tinha de haver alguma coisa montando guarda lá embaixo… Um familiar.

— …

Ela não disse nada, apenas ficou olhando para ele com um sorriso colado em seu rosto.

Ela odiava admitir isso, mas seria vergonhoso negar isso também. Ele estava certo. O aligátor era um guardião da ordem ao serviço do Deus Supremo, o protetor do subsolo da cidade.

O frio da chuva, o calor da batalha, o fedor de goblins, as lâminas enferrujadas perfurando escamas e pele.

Ela tinha entrado no banheiro para aliviar as sensações que ela partilhava com o aligátor.

O pensamento do modo como ela tinha se exposto para a sacerdotisa, fez suas bochechas queimarem tão intensamente que mesmo ela os pôde sentir.

— Irônico, não é? — sussurrou ela. — Que a mensageira do Deus Supremo deve proteger a cidade e só.

— Então você sabe. — Que os que mataram a mulher, abriram suas entranhas e largaram seu corpo… — Eles não eram goblins.

Ele estava certo de novo.

Goblins eram covardes, cruéis, brutais e muito pouco inteligentes. Provavelmente jamais ocorreria de eles permanecerem no território humano para viver e devorar suas presas.

Suas cativas infelizes sempre eram levadas para o ninho, para ser diligentemente despojadas da virtude lá. Ou, se as prisioneiras fossem numerosas o suficiente, os goblins poderiam simplesmente brincar com elas até morrerem.

Em todo caso, suas mortes não seriam fáceis.

Ela sabia de tudo isso.

— …Não, eles não eram.

A cena estava gravada em sua memória, literalmente.

Ela tinha sido confinada numa câmara de pedra escura, cheia com a própria sujeira e a dos seus captores, chorando lastimavelmente…

Eles tinham queimado ambos os seus olhos com uma tocha. Isso foi há mais de dez anos agora.

— Eles estavam planejando alguma coisa com esse espelho… Os apoiadores desse Deus Demônio infame. O mentor já…

Não está mais nesse mundo.

Em algum lugar completamente separado deles, tudo estava acabando.

Ela se curvou contra um pilar, virando seus olhos cegos para a paisagem além.

— Afinal…

O mundo branco vibrava diante dela. Ela olhou para aquele branco interminável e suspirou. Era o tipo de coisa que uma aldeã jovem cansada de falar poderia ter feito.

— Afinal, se os goblins atacassem, tenho certeza que eu teria simplesmente… entrado em colapso e chorado.

Donzela da Espada estava muito ciente dos movimentos da Seita do Mal, contra a qual ela mesmo tinha se oposto. Quando ela soube dos rituais de sacrifício medonhos que eles estavam realizando, ela teve uma boa ideia do que eles queriam conseguir.

Se vingar dela. A maioria de tais retaliações, ela poderia ter suportado.

Mas, goblins.

Seus pés tremeram. Agarrando a espada e balança, ela se levantou. Ela estava contente por seus olhos estarem escondidos pela faixa.

Para quem ela poderia dizer?

Para quem ela poderia dizer que a heroína chamada Donzela da Espada precisava ser salva de simples goblins?

— Quem acreditaria em mim?

Enquanto falava, ela puxou graciosamente o pano de suas vestimentas e começou a massagear seus próprios ombros. Seus lábios se curvaram provocantemente, e ela disse com um tom malicioso:

— O que você pretende fazer comigo?

— Nada. — Ele soou o mesmo de sempre: ordeiro, ainda mecânico e frio. — Porque você não é um goblin.

Ela contraiu seus lábios como se estivesse amuando; não, de fato, ela estava amuando.

— Por isso que você não pergunta por que, não é?

— Se quiser falar, vou ouvir.

— Oh-ho. — Um suspiro lânguido escapou dela. — Eu queria alguém que entendesse.

Uma rajada longa de vento farfalhou galhos e folhas.

Medo, tristeza, dor, terror, impotência; tais coisas estão nesse mundo, e nesse mundo são as pessoas que inspiram essas coisas.

— …Só queria alguém que entendesse.

Os goblins viviam debaixo da cidade.

Eles surgiam do esgoto à noite para atacar as pessoas nas ruas. Os aventureiros que foram enviados atrás deles não voltaram; não havia como e quando saber quem iria se tornar suas vítimas. Os goblins podiam estar se escondendo debaixo da cama, à sombra da porta. Se você adormecesse, eles atacariam você. Ela tinha certeza que todos sentiriam esse medo, assim como ela.

— Mas no fim… ninguém sentiu…

No fim, ninguém vivia com medo que os goblins os matariam. Era sempre outra pessoa que morreria. Nunca eles.

— …Eu posso te dar esse espelho Portal.

Ela pôs um grande sorriso adulador em seu rosto. Mesmo ela sabia que tudo era muito obviamente falso e frágil.

— Você certamente entende… Você acima de todos deve…

Ele a interrompeu bruscamente:

— Eu me desfiz dele.

— O quê…? — Pela primeira vez, algo mais do que um sorriso atravessou seu rosto. Surpresa e uma pitada de confusão. — Isso era uma relíquia antiga. Um tesouro que vale milhares de peças de ouro.

— Outros goblins podem ter aprendido como o usar. — Ele falou friamente, franco, como se para salientar seu desinteresse. — Nós envolvemos o espelho em concreto e o mandamos para o fundo do canal. Isso será um bom leito para o seu branco… seja lá como se chama.

Sua silhueta não vacilou nem um centímetro. Ele soou como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

— Heh-heh. Você é muito… muito interessante, de fato.

A normalidade esmagadora da sua voz a fez sentir muito estranha. Ela se sentia como se estivesse flutuando; havia uma tranquilidade incomum no coração.

— Não deve haver muitos como você.

— Talvez.

— Diga. Posso te perguntar uma coisa?

— Não posso prometer que saberei a resposta — murmurou ele.

— Agora que você já matou os goblins… alguma coisa mudou? — Ela abriu os braços quando perguntou, como uma garota inocente partilhando um segredo.

Heróis, heróis eram diferentes.

Quando um herói põe fim a Seita do Mal, a justiça, o mundo, a paz e assim por diante estavam todos salvos. Mas, o que dizer sobre alguém que ajudou uma pobre garota que tinha medo de goblins? As pessoas continuariam vivendo tranquilamente; o rio se manteria fluindo. Nada mudaria. Nada.

Essa foi a razão por ninguém a ter ajudado.

Mesmo quando uma sacerdotisa sem nome acabasse descuidadamente por ser capturada por goblins e era aviltada. Mesmo quando a garota de quinze anos dentro da mulher aclamada como Donzela da Espada chorava por salvação.

Quem iria se condescender para reparar em tais coisas?

Do contrário, como ela poderia emitir uma missão de goblincídio?

— Certamente nada… nada mudará.

— Não me importa — respondeu ele sem sequer hesitar. — Você disse que já passou por coisas terríveis, certo?

Ela acenou que sim.

— Eu já os vi. Do início ao fim. Então, eu não entendo seus sentimentos. — Matador de Goblins foi inequívoco.

— ………………………………………

Donzela da Espada vagou.

Ela estendeu a mão suavemente, suplicante, para a sombra vaga que flutuava no seu mundo branco.

— …Então, você não vai me ajudar?

— Não.

Ele não pegou a mão dela, mas sim lhe virou as costas.

Sua cabeça se abaixou como se ela tivesse sido lançada nas profundezas do inferno, e ela riu sem graça. Havia um elemento de resignação nele. Um sentimento que para ela era familiar demais.

É assim que sempre foi.

Sua alma, uma vez de uma donzela, fora ferida em todos os lugares possíveis.

Mesmo agora, aquela cena terrível, sua última visão nesse mundo, foi gravada em seus olhos. À noite, ela viria para atormentá-la. A horda de goblins a conspurcando, a estuprando, a violando, tomando tudo dela.

E ninguém podia a salvar disso. Isso iria continuar e continuar, para sempre…

Ninguém iria a ajudar.

Nunca. Jamais.

— Mas.

Ela olhou para cima, surpresa com a única palavra soando.

— Se os goblins aparecerem de novo, me chame.

A sombra escura, suas costas, já estava distante. Mas a sua voz impassível e mecânica a fez ouvir facilmente.

— Eu os matarei para você.

— Ah…

Ela deslizou de joelhos como se estivesse entrando em colapso. Suas características requintadas se distorceram e um soluço escapou de sua boca; ela não pôde conter as lágrimas que saíram dos seus olhos.

Quando foi a última vez que ela tinha chorado tanto quanto depois de um dos seus sonhos?

— Mesmo… Mesmo em meus… meus sonhos?

— Sim.

— Você… vai… Você vai vir…?

— Sim.

— Por quê? — A voz dela estava tremendo tanto que ela não podia dizer a palavra; ela se embaralhou com uma incompleta em sua boca.

Mas ele a respondeu claramente.

— Porque eu sou Matador de Goblins.

O único que mata os diabinhos.

A sombra escura chamada Matador de Goblins se foi.

Foi-se para destruir goblins.

— Ah…

Donzela da Espada se viu agarrando seu peito generoso.

Não era puro ou decoroso.

Mas, ela nunca havia imaginado que um dia como esse iria chegar. Ela nunca tinha imaginado que iria mais uma vez ser capaz de sentir esses sentimentos. Ela havia pensando que eles estariam para sempre além do seu alcance, mas agora ela se agarrou a eles.

Não era nada.

Uma mulher arrasada tinha conversado com um homem arrasado. Nada mais do que isso.

Mas, agora ela sabia a verdade sobre o calor que floresceu no seu peito. Era uma longa centelha ardente, atiçada inesperadamente em uma chama furiosa. Talvez pudesse ser comparada a uma lareira partilhada com outra pessoa: tudo indo bem, sem preocupações, um sono pacífico.

 

 

 

Sem ansiedade, sem medo.

Sem tremer e chorar no escuro, sem acordar gritando de um pesadelo.

Como ela tinha ansiado por uma noite de sono sem perturbação.

— Eu… Eu… Eu…

Ela ergueu a voz, fungando e soluçando.

Com as mãos, ela limpou desesperadamente as lágrimas que saíram dos seus olhos.

Quando uma alegria penetrante surgiu em seu coração, ela gritou:

— Eu gosto de você…!

Se as palavras alcançaram ele ou não, só os deuses sabiam.

 

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A chuva tinha parado, mas o céu permanecia carregado de nuvens.

A carruagem ribombava por uma estrada que seguia retamente como uma flecha pela planície no interior da fronteira, do leste ao oeste.

Alguns iam para comércio. Outros, para ver seus familiares. Outros ainda, para fugir deles.

Alguns como pioneiros. Alguns eram do tipo tristonhos que deviam estar indo para o exílio.

Como era tão frequente em carruagens compartilhadas, expressões de alegria e tristeza se misturavam livremente.

Entre essas expressões, alguns poderiam ter notado alguns companheiros de viagem cuja aparência falava de um trabalho recente e finalmente terminado. Nenhum, no entanto, teria sido capaz, provavelmente, de adivinhar de que aventura provinha esses poucos.

Não fazia diferença para ninguém mesmo.

Extermínio de dragão poderia ter sido interessante, mas isso era apenas coisas de lendas, e ninguém iria supor que eles tivessem sido atacados por um dragão.

Eis como o trabalho de se aventurar era muitas vezes.

— Mm… Ahh! Isso foi divertido…!

Alta-Elfa Arqueira se estirava para longe da bagagem que ela estivera encostada, tentando aliviar seus ombros rígidos. Suas orelhas longas se levantaram felizmente, e ela tinha uma expressão relaxada.

Anão Xamã, que estava sentado de pernas cruzadas e descansando o queixo na mão, disse irritado:

— Mesmo na parte em que você estava sendo assediada por goblins e chorando como um bebê?

— Bem, nós ganhamos a luta, não? E aqui estamos nós. E temos uma recompensa para aproveitar! — Ela ergueu um saco de couro na palma de sua mão. O peso dele vinha das peças de ouro lotada dentro.

Não que a recompensa importasse muito para ela. Era apenas um bônus.

— Devo confessar que sinto uma pontada de arrependimento sobre aquele espelho Portal — disse Lagarto Sacerdote, com sua cauda enrolada no chão. Ele lambeu o nariz com a língua enquanto folheava algum tipo de caderno. Antes de terem afundado o espelho, ele havia tomado tantas notas sobre suas propriedades únicas quanto pôde. — Mas nós recolhemos informações valiosas, acabamos com uma heresia e fizemos ações valorosas. Estou bem mais que satisfeito.

— Não ouvirá nenhuma queixa de mim enquanto esse ouro me der uma boa refeição!

— Vocês anões… sempre pensando com o estômago.

— Bem, ele é a maior parte de nós, afinal!

A réplica entre a arqueira e o xamã foi animada como sempre.

Nas proximidades, Sacerdotisa estava sentada e os observava alegremente.

Já acabou? Eu acho…

Ela se perguntava quem tinha usado o Portal para invocar a ameaça goblin… Mas essa era outra história, uma que não tinha nada a ver com a aventura que ela e os outros tinham acabado de terminar.

— ……

Ela olhou para o lado.

Ele estava lá, espremido entre a bagagem e a cortina, ainda com sua espada e sua cabeça com o capacete virado para o chão.

Pouco depois da carruagem ter deixado a cidade da água, ele havia começado a adormecer.

— …Ah, bem.

Sacerdotisa riu e pegou um cobertor fino da sua bolsa.

Ele realmente se machucaria por tirar a armadura e capacete, pelo menos quando estivesse descansando?

Ela envolveu gentilmente o cobertor em volta dos seus ombros, depois se sentou ao lado dele silenciosamente. Ela cruzou a mão e as colocou nos joelhos, esticando suas costas, e colocou seu cajado de monge ao lado.

Verdade: Ele era Matador de Goblins. Então, não havia nada a se fazer.

Enquanto os goblins fossem seus inimigos, ele não abaixaria a guarda nem por um momento.

Foi por isso que ela não tinha tentado lhe perguntar nada. Quando ele havia voltado de fazer o seu relatório a Donzela da Espada, ele só tinha dito “está feito”.

E isso foi o suficiente. Agora que tudo havia acabado, ela tinha de deixá-lo descansar.

— Oh?

Ela reparou que ele estava segurando outra coisa além da sua espada.

Uma gaiola pequena; o canário.

O pássaro, como seu dono, estava dormindo, com os olhos fechados e empoleirado em um galho.

Parecia que ele estava alimentando e cuidando devidamente do animal. Tanta atenção para fazer o que era certo, parecia muito ele.

— Me pergunto se ele já o deu um nome.

Ela o conhecia. Ele iria cuidar diligentemente do pássaro e provavelmente nunca parou para pensar que ele precisaria de um nome.

Quando eles voltassem para a cidade fronteiriça, quando ele acordasse, ela teria que ter certeza de perguntar.

Ela poderia quase escutar: Canário é bom o suficiente.

— Hee-hee.

Ela estendeu a mão, com cuidado para não acordar ele ou o pássaro. Com seus dedos finos, ela pegou uma pena que o pássaro havia deixado cair. Ela a pegou silenciosamente entre as barras da gaiola, a examinando na luz que se infiltrava através da cortina.

Ela brilhava com um verde-claro pálido. Bem gentilmente, ela a colocou em uma fresta em seu capacete.

A pena verde-pálida parecia combinar estranhamente com o elmo sujo, mas ela não se importou.

Ele não iria se preocupar com esse pequeno toque de ostentação.

— Você trabalhou duro, Matador de Goblins, senhor.

— Quando chegarmos em casa…

De repente, uma voz escapou do capacete.

Sacerdotisa piscou várias vezes, depois contraiu os lábios e disse: — Vamos. Se você está acordado, então diga.

— Acabei de acordar. — A sua voz, quando ele se sentou lentamente, tinha um toque mais suave que o habitual.

Sacerdotisa acreditou que ele estava dormindo, mas ela resmungou: — Não posso perceber sob esse capacete.

— Entendi.

Matador de Goblins pegou um cantil da sua bolsa e bebeu uma golada, depois duas.

Como de costume, ele bebeu pela viseira do seu capacete, sugerindo que ele estava a ignorando.

Ou talvez ele não entenderia se eu na verdade não o dissesse para tirar essa coisa.

Ele olhou para Sacerdotisa, que tinha colocado o dedo na boca pensando, e disse:

— Quando chegarmos em casa… — As mesmas palavras de antes. — Tem uma coisa que quero testar.

— O que é?

— Uma sobremesa gelada.

— Ah… — disse Sacerdotisa, com um sorriso. Lagarto Sacerdote respondeu imediatamente:

— Uma sobremesa gelada! Eu poderia porventura o acompanhar na degustação dessa coisa?

— Se você quiser um pouco, não me importo — disse Matador de Goblins e, depois de um tempo pensando, acrescentou: — É feito com leite.

— Oh-ho! Doce néctar!

Sua cauda se desenrolou e bateu em êxtase contra o chão da carruagem, provocando um olhar de interesse do cocheiro pela cortina.

— D-desculpa, nada de mais aqui. Sinto muito por isso! — Sacerdotisa curvou rapidamente a cabeça para ele e exortou seus companheiros a se acalmarem.

Ela pôs as mãos em seu peito e deu um suspiro. Graças aos céus eles não foram avisados para sair da carruagem.

Ignorando-a totalmente, Anão Xamã deu uma risada ressonante e bateu na barriga.

— Ho, Corta-barba! Planejando ter uma refeição e não convidar o anão?

— Eu deveria?

— Certamente acho que sim!

Matador de Goblins virou seu capacete para o nada e fez um som silencioso, depois assentiu.

— Nesse caso, por favor, se junte a nós.

Anão Xamã perguntou como ele planeava fazer essa sobremesa gelada, no qual Matador de Goblins explicou, gesticulando com as mãos. Lagarto Sacerdote levantou a garra para oferecer sua ideia, ao qual Matador de Goblins respondeu: — Então, devíamos…

Matador de Goblins normalmente era reticente e fazer com que ele se abrisse era difícil. Mas…

— Caramba…

…aqui agora, ele era claramente o centro das atenções.

O pensamento espalhou um calor agradável pelo pequeno peito de Sacerdotisa.

— Certo! — decidiu ela, levantando a mão facilmente. — Matador de Goblins, senhor, eu também posso comer um pouco, não posso?

— Não me importo.

Ele não se importa. Ela deu um risinho e olhou para Alta-Elfa Arqueira.

Alta-Elfa Arqueira se sentava à frente dele, encarando sugestivamente o outro lado, com suas orelhas tremulando.

Embora não fosse necessariamente um sinal de que ele havia notado, Matador de Goblins disse:

— E você?

— … — Suas orelhas se ergueram de novo. — Sim. Me dê um pouco também.

— Entendi — disse Matador de Goblins, então ele adicionou incisivamente: — Se isso não dar muito certo, não me odeie.

— Tsc…

Ele está guardando rancor?

Não, não pode ser. Alta-Elfa Arqueira bufou levemente.

Sim. É claro. Ele não era o tipo que ficaria chateado, mesmo que uma elfa estourada o maltratasse. Mesmo se uma pessoa normal pudesse ficar aborrecida.

Depois de um tempo, Alta-Elfa Arqueira deu um longo suspiro e se virou para o encarar.

— Sim, tudo bem. Nada de odiar. Então… por favor?

— Sim.

O capacete de aço balançou para cima e para baixo depois.

Sacerdotisa pensava em quando ele perceberia a pena verde-clara em seu capacete.

Quem sabe enquanto eles ainda estivessem na carruagem, talvez depois deles voltarem para a cidade, se calhar não até à próxima vez que ele o tirasse.

O que ele faria quando notasse? Ele ficaria com raiva, ou iria rir, ou talvez não ligaria para isso?

Alta-Elfa Arqueira, ignorante às imaginações de Sacerdotisa, entrecerrou os olhos como um gato.

— Eu não sei se estou gostando muito de extermínio de goblins.

Ela fez um círculo no ar com o dedo, com suas orelhas se movendo para cima e para baixo.

Eles haviam ido em uma ruína subterrânea para explorar, foram apanhados em uma armadilha e saíram de novo. Eles tinham lutado, derrotaram um monstro bizarro e descobriram um artefato inestimável. Todos eles estavam viajando nessa carruagem juntos.

Do interior à fronteira. Do leste ao oeste.

Tudo isso para retornarem para a casa agora que a aventura havia terminado.

— …Mas não foi assim tão ruim, eu acho.

Talvez ela não conseguisse muito bem dizer como se sentia. Os olhos do canário se abriram vibrando, e ele chilreou vividamente.

 

 


 

Tradução: Kakasplat (3 Lobos)

Revisão: JZanin (3 Lobos)

 

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