Marcha Mortal à Rapsódia do Mundo Paralelo – Vol. 05 – Cap. 05.2 – Problemas na Cidade de Gururian

 

Só porque resgatamos a Srta. Sara não significa que o caos acabou.

Assim que trouxemos ela e os outros feridos para o templo, nos separamos de Tolma e sua família lá. Fomos então convocados para o castelo do vice-rei, onde recebi sua gratidão, uma medalha, cem moedas de ouro e um convite para ficar para um banquete.

Apenas a Srta. Karina e eu pudemos desfrutar do delicioso jantar, então decidi fazer o meu melhor para reproduzir os pratos para o resto do grupo mais tarde.

Quando o banquete acabou, fomos para o salão para uma conversa amigável.

Senhoras cortesãs que estavam se entregando a algumas fofocas românticas cercaram a Srta. Karina.

— Lady Karina, Sir Pendragon é seu noivo?

— … N-não, ele não é.

A Srta. Karina respondeu à esposa do vice-rei após uma pausa suspeita.

Ela parecia arrogante, mas na verdade era bastante tímida, então estava tendo dificuldade em interagir com todos esses novos rostos.

Eu teria gostado de atirar-lhe uma corda de salvação, mas eu mesmo estava sendo sitiado por homens com perguntas sobre a defesa da cidade de Muno e a batalha com o demônio no início daquele dia.

— Se você pode derrotar um demônio, certamente um espadachim como você poderia até mesmo aspirar à vitória no torneio de artes marciais!

— Obrigado, mas como eu disse antes, tudo o que fizemos foi dar o golpe final após os cavaleiros e guerreiros já terem levado o demônio quase à morte. E sem a ajuda de minhas camaradas e a proteção da magia, estou certo de que eu mesmo teria caído na batalha.

 

Um dos nobres estava insistindo que eu deveria entrar no torneio, então eu repeti minha explicação enquanto educadamente declinava.

Eu realmente prefiro assistir a um torneio do que lutar nele.

Ah, e falando em cavaleiros…

Descobri por que o cavaleiro imperial Sir Ipasa estava defendendo a Srta. Sara do demônio menor naquela tarde, em vez do cavaleiro do templo Sir Keon.

Como se viu, os cavaleiros do templo estavam fora em uma missão para derrubar as Asas da Liberdade.

Deve ter sido por isso que parecia que alguém estava perseguindo os membros do culto mais cedo.

A propósito, a cavaleira que havia abandonado seu posto na defesa do bebê Mayuna em favor de perseguir o culto tinha recebido uma repreensão sonora de um superior no templo.

— Você está dizendo que, mesmo que você vá para a antiga capital, você não participará do torneio de artes marciais?

O vice-rei pareceu perplexo ao saber que eu não participaria.

Eu realmente parecia tanto assim com um lutador?

— Isso mesmo. Receio que não seja muito adequado para a competição…

— Você sabe, se eu formalmente recomendar você, você pode ignorar as preliminares e participar da seleção final.

— Eu acho que tal honra seria melhor concedida a seus próprios guerreiros dignos, Sua Excelência.

— Hmm.

— Entendi…

— Que jovem humilde você é.

Depois que eu recusei repetidamente, o vice-rei finalmente aceitou minha decisão.

— Aliás, Sir Pendragon, me disseram que sua espada foi capaz de cortar a pele do demônio.

— É o trabalho de um mestre ferreiro de espada, por acaso?

— Sim, o Ancião Dohal do domínio de Bolehart me deu a grande honra de forjá-la. Dei uma resposta honesta à pergunta do velho nobre.

— O… o que você disse?

— Você conseguiu que o velho Dohal fizesse uma espada para você? — Estou impressionado, senhor Satou!

— Aquele velho se recusa a fazer uma espada para qualquer um que não se adapte à sua fantasia, mesmo um nobre de alto escalão…

— Talvez tenha sido recomendação do Visconde Lottel…

Os nobres levantaram um coro de surpresa. A única pessoa que parecia relaxada era Tolma, que conseguiu um convite para o jantar. Ele estava vestido como um nobre adequado agora, aparentemente tendo emprestado roupas da casa do vice-rei.

Ainda assim, a reputação do Ancião Dohal carregava uma influência impressionante.

O vice-rei e companhia estavam todos morrendo de vontade de ver a espada, por isso a trouxemos para o salão. Eu o tinha dado sob sua custódia quando cheguei ao castelo.

— Não pode ser um selo?!

Aceitando a espada das fadas do mordomo, o vice-rei deu uma exclamação de choque quando seus olhos pousaram no punho.

O resto dos nobres clamorosos tiveram uma reação semelhante.

— Esse é o selo que eles dizem que só está afixado em verdadeiras obras-primas, mesmo entre as obras do Ancião Dohal!

— Eu nunca vi isso pessoalmente antes.

— O artesanato neste cabo também é incrível.

— Céus, a bainha por si só tem valor como uma bela obra de arte.

— Eu adoraria ter uma peça tão elegante como essa para minha própria espada, com certeza.

— Que oficina produziu isso?

A espada estava causando um alvoroço antes mesmo de deixar a bainha.

Na verdade, eu tinha acabado de molda-la com pressa ao ser convidado para o jantar do vice-rei, já que não queria aparecer com uma bainha preta simples, por isso não tinha realmente uma boa resposta para essa pergunta.

Em vez disso, decidi apenas dizer que também recebi do Ancião Dohal.

Sacando a espada, eu a coloquei em um suporte que o mordomo produziu para mostrá-la ao vice-rei.

— Sua inscrição é ‘a Espada das Fadas’.

— Que lâmina lindamente modelada.

— Esta borda verde e prateada é difícil de produzir, mesmo com o melhor mithril.

— Verdadeiramente, apenas o Ancião Dohal poderia ter feito tal espada.

Era certamente uma bela arma, mas eu não esperava que cativasse tão completamente estes nobres perspicazes.

Eu teria que ter cuidado para não mostrá-lo a nenhum estranho.

— Se você me der licença, vou tomar um pouco de ar.

Pedi licença do salão por pouco tempo. O vice-rei estava nos contando histórias de sua travessura juvenil enquanto apreciamos seu licor premiado, mas quando o assunto se voltou para a política privada da cidade de Gururian, achei melhor me despedir. Um estranho provavelmente não deveria estar ouvindo isso de qualquer maneira.

Abri a porta da varanda e saí. Embora estivéssemos no segundo andar, o pátio estava nivelado com o terraço.

Fechei a porta atrás de mim’. De acordo com o que ouvi anteriormente, foi feito em uma oficina na antiga capital. A vidraria era relativamente comum no Ducado de Ougoch.

— Sir Pendragon!.

Uma voz clara chamou meu nome, e me virei para ver a Srta. Sara, seu cabelo brilhando prata ao luar.

Ela parecia quase como…

— … Uma fada.

— Oh meu Deus, Sir Pendragon…

A segunda metade do meu pensamento escapou dos meus lábios contra o meu melhor julgamento. Minha habilidade de “Invenção” deve ter me traído por causa de todo o álcool.

— Boa noite, Lady Sara.

— Por favor, esqueça meu comentário; foi um deslize da língua.

— Hee hee. 

— Certamente não o irei.

Talvez porque não havia mais ninguém por perto, a contenção usual da Srta. Sara havia dado lugar a uma maneira mais relaxada, típica de meninas da idade dela.

Como meu nome longo parecia um pouco difícil para ela pronunciar, eu disse a ela que ela poderia simplesmente me chamar de Satou.

— Bem, Sr. Satou, vamos dar uma volta pelo jardim?

— Seria um prazer.

A Sra. Sara deu um sorriso malicioso.

O pátio continha um pequeno recurso aquático parecido com um riacho, forrado com prímulas noturnas desabrochando com um leve brilho sob o luar. Elss pareciam estar emitindo a luz, então deviam ser diferentes de qualquer prímula que eu tivesse visto no Japão.

De baixo das flores, ouvi o que soou como o canto dos grilos.

— Oh, vaga-lumes…!

Seguindo seu olhar, vi dois vaga-lumes girando entre as prímulas em uma dança.

— É bem bonito.

Uma bela jovem misteriosa em um jardim fantástico. Era uma cena perfeita o suficiente para pintar. Se eu pudesse, colocaria Lulu no quadro também.

Sara e eu caminhamos ao longo do canal em meio aos sons do riacho borbulhante e dos insetos que chilreavam.

Eu podia sentir a calma retornando ao meu coração e mente.

Que atmosfera terapêutica.

— Satou…posso te perguntar uma coisa? Ainda olhando para frente, a senhorita Sara murmurou para mim em silêncio.

— Você acha… que podemos mudar o destino?

Bem, isso é um tema muito pesado.

Claro, eu estava muito ocupado com essas coisas quando ainda estava passando pela puberdade, mas não tanto agora que sou mais velho.

Uma resposta vagamente positiva foi provavelmente a minha melhor aposta aqui.

— Com certeza. — A Srta. Sara reagiu com surpresa à minha resposta rápida e clara, então decidi elaborar um pouco.

— Não existe tal coisa como um destino que não possa ser mudado.

Acho que ninguém pode mudar coisas como o Grande Colapso, mas não é isso que ela está perguntando.

— Você realmente acha isso? Sara vacilou, como se estivesse lutando com algum conflito interno.

Eu não tinha dúvida de que uma garota como Sara, que era filha de um duque e uma sacerdotisa oráculo, tinha todos os tipos de problemas que pesavam sobre ela.

— Sim, eu acho.

— Então, se alguém tentar forçar algum destino bobo em você, apenas me avise e eu colocarei um fim nisso com minhas próprias mãos, se for preciso.

Eu respondi o mais levemente possível, tentando levantar seu espírito e ajudá-la a esquecer suas preocupações.

Com os dedos entrelaçados atrás das costas, a srta. Sara se virou para mim com uma risadinha.

— Mesmo que um lorde demônio esteja prestes a me matar?

— Sim, é claro que eu te salvaria de um lorde demônio.

— Porque, eu o nocautearia antes que ele percebesse o que o atingiu — Eu respondi da mesma forma ao estímulo alegre da srta. Sara, finalmente provocando uma risada genuína dela.

Ela riu tanto que as lágrimas vieram aos seus olhos, então eu lhe dei um lenço. 

— … Estou feliz que você esteja aqui, Satou.

A Srta. Sara enxugou as lágrimas dos olhos e as enrugou num sorriso.

— Obrigada.

Seu leve sorriso parecia prestes a desaparecer a qualquer momento, e eu tive um súbito desejo de abraçá-la. Ainda assim, consegui resistir ao impulso.

Um estranho silêncio caiu sobre nós por um momento.

No que eu estava pensando? Essa garota tinha praticamente metade da minha idade. Talvez se ela fosse cinco anos mais velha, seria uma história diferente, mas…

…bem, acho que tecnicamente, neste corpo eu tinha a idade dela.

— Oh?

— Se não são Sir Satou e Sara.

— Tendo um pequeno encontro?

Uma voz da escuridão fez a srta. Sara se encolher. Por trás de um arbusto particularmente alto, Tolma emergiu no caminho.

— T-Tolma!

— Satou e eu nunca faríamos algo tão impróprio!

— Ah, sério?

— Porque você parece estar chamando-o pelo primeiro nome…

Em momentos como este, a incapacidade constante de Tolma de ler uma situação realmente veio a calhar.

— Ah, bom — Sara fez beicinho com as provocações de Tolma.

— Lorde Tolma, não há necessidade de provocá-la mais, por favor.

— Você é terrivelmente maduro para sua idade, Sir Satou.

— Eu não consigo tirar um aumento de você, hein?

Bem, sim, porque na verdade tenho quase trinta anos por dentro.

— Eu estava simplesmente agradecendo a Satou por sua ajuda hoje.

— Tão longe de olhares indiscretos?

— Tolma!

— Desculpe, vou parar, vou parar.

Achei que era uma pergunta justa, mas a Srta. Sara freou as observações de Tolma franzindo as sobrancelhas adoráveis.

— Eu não gostaria que nenhum de nós pegasse um resfriado por estarmos fora muito tarde.

— Devemos voltar ao salão logo.

— … Suponho que sim.

— Oh?

— Você vai voltar?

— Eu estava prestes a sair para que você pudesse continuar seu pequeno encontro.

Com isso, o nobre fugiu brincando em direção ao caminho de volta ao salão como se fosse para evitar a última exclamação da Srta. Sara de “Tolmaaa!” Nós dois o seguimos.

Enquanto caminhávamos, Tolma iniciou uma nova conversa.

— Ainda assim, é um milagre que não tenha havido uma única baixa naquela briga demoníaca de hoje.

— Sim, graças à proteção de Deus e à ajuda de Satou e seus amigos.

— Os feridos podem ser curados com magia, mas não há nada que possamos fazer pelos mortos…

Embora o tom de Tolma fosse casual, a Srta. Sara respondeu de maneira adequada a uma pessoa do templo.

Apreciei que ela também desse crédito ao meu grupo, mas uma das coisas que ela disse chamou minha atenção ainda mais.

— Não há magia que possa ressuscitar os mortos?

— … Não, nenhuma.

Pega desprevenida pela minha pergunta, a Srta. Sara demorou um momento antes de responder.

Cara, eu não posso acreditar que um mundo de fantasia como este não tem Magia da Ressurreição! Que vergonha!

— Você não está esquecendo de nada?

— Quando aquele jovem nobre foi assassinado, a mulher santa…

— Tolma!

A expressão da srta. Sara escureceu com o último deslize de Tolma, e sua advertência veio em um tom completamente diferente.

— Desculpe, desculpe, esqueci que não devemos falar sobre isso.

— Sir Satou, por favor, esqueça o que acabou de ouvir, certo?

— Certamente.

— Eu não ouvi nada.

Aceitei prontamente o pedido de Tolma.

Meu palpite era que a existência de algum item de ressurreição estava sendo mantida em segredo, ou talvez os requisitos para usá-lo fossem tão rigorosos que poderiam ser usados apenas sob condições específicas.

Se alguns rumores mal formados sobre a ressurreição circulassem, isso certamente causaria um tumulto por parte das pessoas que quisessem usá-la.

— Você saiu para caminhar, Lady Sara?

O vice-rei cumprimentou nós três quando voltamos ao salão.

Foi uma coisa boa Tolma ter aparecido. Se a Srta. Sara e eu tivéssemos voltado juntos, sem dúvida teria semeado as sementes para algumas fofocas indesejadas.

Por alguma razão, a srta. Karina parecia estar me olhando com bastante atenção.

Talvez ela estivesse zangada por eu ter saído sem lhe pagar a fiança.

— Eu mesmo fui ao jardim para procurar por você, mas devemos ter nos desencontrado”, disse a esposa do vice-rei.

— Você precisava de alguma coisa? A senhorita Sara inclinou sua cabeça.

— Sim, na verdade, um mensageiro veio do Templo Tenion há pouco tempo… O tom da esposa do vice-rei era suave.

Agradecendo-a, a srta. Sara foi em direção à sala onde o mensageiro estava esperando.

Por alguma razão, Tolma foi atrás dela, então eu acabei acompanhando também. Eu estava curioso sobre a natureza do mensageiro.

— …Uma convocação urgente do Templo Tenion na antiga capital?

— Sim, mas foi transmitido com luzes de sinalização do grande rio, por isso receio não conhecer os detalhes.

— Entendo.

— Pegarei emprestado um navio expresso do vice-rei e voltarei para casa imediatamente, então.

Enquanto ouvia a conversa de Sara com o padre, abri o mapa para verificar a situação ao redor da antiga capital e do Templo Tenion, mas não vi nenhum sinal de um grande distúrbio.

Provavelmente foi um problema interno no templo, então.

Velejar à noite foi proibido mesmo em emergências, então foi decidido que o vice-rei prepararia um navio expresso para que a srta. Sara pudesse partir para a velha capital logo pela manhã.

— Cuide-se em sua jornada para casa, Lady Sara.

— Obrigado … Satou.

— Vamos nos encontrar novamente na velha capital.

Eu vi a Srta. Sara sair naquela manhã nas docas para o uso exclusivo dos nobres.

Arisa e Mia estavam olhando por trás como se tivessem me pego com uma amante, mas eu não sentia um único pingo de culpa por dizer minhas despedidas a uma amiga.

Os sinos da cidade de Gururian tocaram para anunciar que um navio estava de passagem em negócios urgentes.

O som ecoou da água como se o grande rio estivesse gritando em resposta.

Alguém acenou com uma bandeira da torre de controle das docas, e o navio expresso esperando no rio aberto de repente decolou em um jato de água.

— Rápido?

— Tão rápido, senhor!

Observando ao meu lado, Tama e Pochi acenaram freneticamente, surpresas.

Pelo que entendi, os navios expressos estavam equipados com uma hélice de alta velocidade que operava com magia, para que pudessem se mover sobre a água a velocidades de até sessenta milhas por hora.

Tive apenas um breve vislumbre, mas parecia estar relacionado ao hidrofólio.

Ouvi dizer que os navios expresso tinham uma capacidade muito pequena para passageiros, então a única pessoa que acompanhava Lady Sara era o cavaleiro do templo Sir Keon. Tolma e sua família, assim como os outros cavaleiros do templo, estariam levando um navio maior fornecido pelo vice-rei para a antiga capital.

Eu planejava pedir passagem no mesmo navio como recompensa por derrotar o demônio.