Dark?

Marcha Mortal à Rapsódia do Mundo Paralelo – Vol 02 – Cap. 05.2 –

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— Vamos praticar acampar antes de partirmos em uma jornada!

 

Por sugestão de Arisa, decidimos montar um acampamento para prática em um terreno baldio no bairro oeste.

 

Nadi teve permissão de uma pessoa para usá-lo. Normalmente seria bom apenas usá-lo sem permissão, mas como estaríamos usando fogo neste caso, é melhor perguntar com antecedência.

 

O terreno estava cheio de grama e outras ervas daninhas, então usei uma foice que comprei em uma loja de ferramentas próxima para começar a fazer um local para praticarmos.

 

Eu tinha mandado Arisa, Lulu e Liza comprar mais ferramentas e suprimentos necessários que usaríamos para acampar.

 

— Cortando ervas daninhaaaas?

 

— Deixe isso conosco, senhor!

 

Pochi e Tama começaram a cortar a grama alegremente.

 

Trabalhei junto com elas, fazendo uma pilha de todos as gramas em um só lugar. Na área onde estaríamos fazendo nossa cozinha improvisada, arranquei o mato pela raiz em vez de cortá-lo.

 

Em seguida, empilhei algumas pedras que Pochi e Tama pegaram para criar um fogão improvisado. Eu estava contando com minhas memórias de acampamento quando era estudante, mas acho que consegui fazer um trabalho muito bom.

 

Como tínhamos tempo livre antes que as meninas voltasse, nós três deitamos na grama cortada para olhar para as nuvens.

 

Notei um movimento no histórico de aquisição de habilidades enquanto estava trabalhando, então verifiquei. Eu tinha adquirido ainda mais habilidades do que esperava. Havia seis no total: “Capinar”, “Agricultura”, “Cultivo”, “Coleta”, “Alvenaria” e “Acampar”.

 

“Acampar” parecia uma habilidade que eu deveria ter adquirido há muito tempo. Mas acho que tudo que eu realmente fiz no labirinto foi pendurar uma barraca sobre algumas pedras e cochilar, então talvez isso não contasse. Os requisitos ainda não eram claros.

 

— Estamos de volta e trouxemos suprimentos!

 

Arisa voltou, com Liza e Lulu logo atrás.

 

Liza ajustou o fogão temporário e colocou uma panela no fogo. Parecia que ela já havia pegado água antes.

 

— Eh-heh-heh, olhe, olhe!

 

O item que Arisa estava segurando para mim com orgulho era uma chaleira, completa com um apito.

 

Eu não tinha certeza se era para uso externo ou apenas porque não havia fogões a gás neste mundo, mas parecia que deveria ser aquecido no fogo, assim como a panela.

 

Lulu colocou algumas folhas de chá na chaleira e pendurou ao lado do bule.

 

O cardápio de hoje aparentemente contava com um ensopado feito com carne-seca e três tipos de raízes picadas, com pão de centeio como acompanhamento.

 

Descobriu-se que o pão branco só podia ser comprado do outro lado da muralha interna. Eu não tinha problemas com pão de centeio por enquanto, então percebi que não havia necessidade de sair do meu caminho a menos que eu ficasse doente.

 

Liza tinha trocado sua lança por uma faca de cozinha hoje, servindo como nossa cozinheira. Lulu ajudou como subchefe, descascando vegetais, e Arisa as incentivou. Pochi e Tama foram colocadas no dever de vigiar a chaleira.

 

Eu fui até um canto do terreno baldio para pegar um toco de árvore. Podemos usá-lo como mesa.

 

Ninguém estava olhando, então puxei o toco com força bruta. Isso normalmente teria sido impossível sem maquinário pesado, mas a ajuda de minhas estatísticas de FOR anormalmente altas tornou isso uma tarefa fácil.

 

Cortei as raízes grossas do toco com a machadinha mágica que “peguei emprestado” do homem-rato de capacete vermelho.

 

Em pouco tempo, ouvi a chaleira começar a assobiar. Mas por algum motivo, em vez de tirá-lo do fogo, Pochi e Tama vieram correndo até mim.

 

— A chaleira está loucaaaa!

 

— Ajude-nos, senhor! O homem da chaleira está com raiva, senhor!

 

… O “homem da chaleira”?

 

Pochi e Tama aparentemente nunca tinham visto uma chaleira com apito antes, e se assustaram com o barulho agudo que o vapor fazia.

 

— Isso é apenas o som de um apito nos dizendo que a água está fervendo.

 

— Não está loucooo?

 

— Por que assobia quando a água ferve, senhor?

 

Tentei explicar a elas a mecânica do vapor, mas não entenderam muito bem.

 

— Claro que não. Elas são crianças, não graduadas em ciências. Como elas devem entender que o volume da água se multiplica por mil quando vaporiza?

 

Isso está errado, Arisa. Multiplica por 1.699.

 

Claro, eu realmente não expressei essa objeção a Arisa; em vez disso, abri a tampa da chaleira e levantei-a levemente.

 

— Olha para isso.

 

A tampa da chaleira balançava com o vapor.

 

— Quando a água esquenta, ela se transforma em uma coisa branca semelhante a uma fumaça. A fumaça é muito forte, então pode facilmente mover algo leve como esta tampa.

 

Arisa pegou um pedaço de grama próximo e fez uma roda d’água. Ou, neste caso, um cata-vento.

 

 

Ela segurou perto da chaleira e deixou o vapor girar, depois puxou e soprou para girar ela mesma.

 

— Assim como quando uma pessoa sopra o ar, o vapor que sopra pelo apito faz barulho.

 

— Arisa é incrível!

 

— Você é tão inteligente, senhora!

 

Para minha tristeza, a explicação de Arisa pareceu chegar a Pochi e Tama facilmente.

 

Se eu aprendesse a usar a Magia de Água, gostaria de tentar desenvolver um feitiço que explodisse os inimigos com o vapor ou se transformasse em uma parede ou algo assim. Acho que já possa existir.

 

Assim que terminamos a refeição e relaxamos contentes, percebi uma luz no meu radar e virei a cabeça.

 

Fixando os olhos em mim, três crianças povo gatos e povo cão congelaram no meio do caminho. Eu os reconheci imediatamente.

 

— Pelo Frrrango, senhorrrr.

 

— Obrigado, senhorrrr.

 

— Estava rrrrealmente saborroooso.

 

As crianças bestas me agradeceram repetidamente, e cada uma colocou uma folhinha cheia de nozes e frutas vermelhas no toco em que eu estava sentado.

 

— Quem são esses?

 

— Prrresentes, senhorrr.

 

Eram presentes de agradecimento?

 

Imediatamente, Pochi e Tama vieram correndo.

 

Arisa e Lulu tinham ido com Liza como sua escolta para comprar algumas frutas para a sobremesa, então elas não estavam por perto.

 

— Sem brigaaaas!

 

— Vocês não devem intimidar nosso mestre, senhores!

 

Aparentemente, elas pensaram que essas crianças estavam me atacando e estavam claramente prontas para uma guerra.

 

— Está tudo bem. Essas crianças me trouxeram nozes como agradecimento pelo frango grelhado que lhes dei.

 

Com isso, Pochi e Tama relaxaram suas posições de luta.

 

— Estas são nozes de chinquapin, senhor! São muito saborosas, senhor!

 

— E estes são wolfberriiies. São bons também!

 

Pegando um pouco do pratinho de folha, as meninas me disseram seus nomes.

 

— Ssssão parraa ele!

 

As crianças pareciam não gostar que Pochi e Tama pegando sem permissão, e levantaram a voz em protesto.

 

Eu certamente queria aceitar seus presentes com gratidão, mas considerando o que eu tinha ouvido de Pochi e Tama antes, eu estava preocupado que precisassem dessa comida muito mais do que eu.

 

… Eu sei, vou dar a eles um presente de agradecimento pelo presente de agradecimento.

 

Se tivessem vindo um pouco antes, poderia ter dado a eles um pouco de ensopado e pão…

 

Mas eu ainda tinha quase dois quilos de carne seca, então pensei que poderia dar isso a eles.

 

— Muito obrigado.

 

Enrolei as nozes e frutinhas em um lenço e as guardei na minha Bolsa Depósito.

 

As crianças pareceram satisfeitas com isso e começaram a ir embora, então as chamei.

 

— Eu tenho um favor pra pedir.

 

— O que serriiia, senhorrrr?

 

— Temos tanto disso que não conseguimos comer tudo. Você acha que poderia levar um pouco para mim?

 

Pochi e Tama pareciam que estavam prestes a falar, então eu rapidamente cobri suas bocas.

 

Eu tinha certeza que elas iriam me dizer que poderiam comer as carnes.

 

— Tem cerrrrteza?

 

— Sim, vocês estariam me ajudando muito.

 

Pochi e Tama me encararam com protesto nos olhos, mas fingi não notar.

 

Acenei para as crianças bestas enquanto saíam, carregando o pacote embrulhado de carne seca como um objeto precioso.

 

Em algum momento, Pochi e Tama descobriram a diversão de esfregar suas cabeças contra meu estômago, então eu deixei continuar até que Arisa e os outras voltassem.

 

 

Na volta do nosso “treino de acampamento” (que na verdade foi apenas pretexto para um piquenique), parei no armazém geral para preencher a papelada necessária para a compra da carruagem.

 

Combinamos que Nadi concluísse a compra naquele dia, com entrega marcada para o meio-dia dois dias depois.

 

Foi um processo surpreendentemente rápido.

 

Enquanto trabalhávamos na papelada, Arisa sugeriu que devíamos levar Mia de volta para sua casa.

 

Nadi disse que os elfos viviam ao sul da antiga capital, então deve ser fácil ir para lá depois de passear pela cidade.

 

Quando tocamos no assunto, Mia parecia bastante entusiasmada e eu certamente estava interessado em ver uma vila de elfos, então decidimos que conversaríamos com o gerente da loja sobre isso quando ele voltasse para Seiryuu. Acho que precisamos obter a permissão de seu guardião.

 

Mas mesmo depois de tomarmos nossa decisão, o gerente ainda não voltou.

 

Ainda assim, Nadi não parecia muito preocupada com seu amado chefe, então provavelmente estava tudo bem.

 

Quanto à carruagem puxada por cavalos, quando chegou a hora da tão esperada introdução e test drive, Lulu e eu saímos da cidade para que ela pudesse me ensinar como dirigir.

 

— O tempo está muito bom hoje.

 

— … Sim senhor. É, senhor.

 

Tentei conversar inocentemente sobre o tempo, mas a expressão de Lulu estava rígida como sempre.

 

Lulu parecia ansiosa por ficar sozinha comigo; seus ombros estavam tensos. Os cavalos pareciam sentir seu nervosismo também, pois estavam bufando com força e não conseguiam se acalmar.

 

— Você não precisa ficar tão tensa. Não estou esperando que você comece a se comportar como Arisa, na verdade, prefiro que não, mas espero que você possa se sentir mais confortável comigo como Pochi e Tama.

 

— Mas… eu sou uma escrava. Isso parece tão estranho…

 

A voz de Lulu estava tão fraca que era praticamente inaudível. Parece que vai demorar um pouco para mudar de ideia.

 

Por enquanto, talvez eu deva começar fazendo-a respirar fundo e relaxar.

 

— Lulu, respire devagar…

 

Peguei as rédeas dela enquanto dava instruções. Pensando que seria melhor aliviar a tensão de seu corpo e também de sua mente, mostrei a ela como fazer alguns alongamentos sentados que às vezes usava no trabalho.

 

Talvez porque ganhei um corpo novo e jovem quando vim para cá, não tinha ombros rígidos nem nada, então não os tinha feito recentemente.

 

— Você se sente um pouco melhor? Já que estamos aqui, gostaria de conversar um pouco?

 

Eu deliberadamente desviei o olhar de Lulu e olhei para as nuvens, falando em um tom descontraído.

 

Sua tensão parecia ter diminuído um pouco, mas ela ainda deu apenas respostas curtas como “sim” e “de fato”.

 

Isso mesmo… Lulu não se sente desconfortável com homens?

 

De acordo com Arisa, seus primos e crianças da vizinhança a intimidavam às vezes, então não seria tão surpreendente.

 

Ela também não parecia confortável em falar. Em casos como esse, é melhor deixá-los falar sobre o que querem falar. Se fosse sobre algo de que ela gostava ou de que podia se gabar, ela deveria se soltar um pouco. Afinal, era assim para meus amigos nerds e eu.

 

Então, qual seria o melhor tópico?

 

Eu pensei por um momento, então resolvi falar de Arisa.

 

— … É verdade! Arisa é tão incrível!

 

Aparentemente, minha decisão foi a certa.

 

Lulu parecia estar se divertindo enquanto falava sobre Arisa.

 

Seus olhos brilhavam e suas bochechas estavam um pouco coradas. Ela sempre foi uma garota bonita, mas isso só a deixava ainda mais bonita.

 

Oh, caramba. Meus pensamentos mudaram para um território perigoso por um segundo. Assustador.

 

— Você realmente ama sua irmã mais nova, não é?

 

— Sim! Embora às vezes seja difícil dizer qual de nós é realmente a mais velha.

 

— Ela certamente não age como uma menina de onze anos.

 

— Bem, Arisa sempre foi um gênio, desde que éramos pequenas.

 

Eu não tinha certeza se ela era um gênio, mas ela tinha muito conhecimento de sua vida anterior. Eu me perguntei se ela realmente conversou com Lulu sobre isso.

 

Bem, tanto faz. Já que estamos no assunto, podemos nos aprofundar um pouco mais nele.

 

— Como ela era?

 

— Bem, por exemplo…

 

 

Sua opinião elevada sobre Arisa parecia cegá-la para certas falhas, mas eu a deixei falar o quanto quisesse, sem corrigir ou objeção grosseira.

 

Eventualmente, Lulu começou a tossir e segurar sua garganta pelo esforço excessivo não usual, então eu entreguei a ela um pouco de água.

 

Continuamos assim até perto do meio-dia, com Lulu contente se gabando de Arisa.

 

Ouvindo o eco de um trovão distante, olhei para cima para ver nuvens escuras se estendendo sobre as montanhas.

 

Acho que ainda temos algumas horas, mas é melhor cuidarmos de nosso objetivo principal aqui antes que chova.

 

— Vamos começar a praticar?

 

— Sim! Sinto muito, eu só estava falando sem parar sobre Arisa…

 

Assim que assegurei a Lulu de que não havia motivo para ficar constrangida por falar tanto, começamos a aula.

 

Claro, assim que comecei a dirigir a carruagem como Lulu havia me mostrado…

 

> Habilidade Adquirida: “Dirigir”

 

> Título Adquirido: Cocheiro

 

… Ganhei imediatamente a habilidade necessária, então, a cada parte de nossa lição, coloquei mais pontos de habilidade nela.

 

Eu poderia ter aprimorado tudo de uma vez, mas queria ser atencioso, já que Lulu estava me ensinando, e levar o nosso tempo com a aula ajudou a facilitar uma comunicação mais relaxada com ela.

 

E ao longo de nosso bate-papo, pude aprender mais conhecimentos gerais sobre como dirigir carruagens.

 

A habilidade de “Dirigir” me ensinaria todas as sutilezas que eu precisava saber, mas não me ensinaria por que eu precisava fazer as coisas dessa maneira.

 

Então, confiei em Lulu para obter essas informações complementares.

 

Acontece que Lulu só havia dirigido dentro de uma cidade antes, então achei melhor que um cocheiro veterano me ensinasse algumas coisas antes de partirmos em nossa jornada.

 

Cada vez que havia um estrondo de trovão à distância, o espaço entre Lulu e eu diminuía um pouco.

 

Acho que ela deve ter medo de trovões.

 

Não só isso, mas ela gritou um pouco e agarrou meu braço quando teve um relâmpago sobre as montanhas.

 

Se Arisa estivesse por perto, tive a sensação de que ela gostaria de dar uma olhada mais de perto quando ouviu o trovão.

 

De repente, senti alguém me observando da floresta próxima, então me virei.

 

Não havia ninguém lá. Nada de estranho no meu radar também. Talvez fosse um pássaro ou um pequeno animal, não, era uma coruja.

 

O relâmpago brilhou novamente, e eu tive um vislumbre sinistro da silhueta da coruja contra as nuvens escuras.

 

De alguma forma, senti como se nossos olhos tivessem se encontrado por um momento, mas então a coruja pareceu perder o interesse em nós e saiu para pousar no teto de uma carruagem diferente que ia para a Cidade de Seiryuu.

 

— H-hmm… mestre…?

 

Meu súbito silêncio parecia ter deixado Lulu ansiosa.

 

Se eu a deixasse desconfortável agora, depois que finalmente ficamos um pouco mais amigáveis, não haveria sentido em tê-la ouvido com os elogios para Arisa por tanto tempo.

 

— Eu sinto muito. Achei ter visto um pássaro enorme na floresta, então me distraí um pouco.

 

— Era um falcão?

 

— Não, era um pouco mais redondo, então acho que pode ter sido uma coruja…

 

Com uma desculpa adequada, consegui me recuperar, tornando o ambiente mais relaxado novamente.

 

 

Quando entramos na cidade e voltamos para a frente do armazém geral, Tama de olhos afiados foi rápida para nos localizar e acenar da janela do segundo andar.

 

Eu me movi para acenar de volta, mas seu rosto já havia desaparecido da janela, então eu estava acenando sem nenhum motivo.

 

Lulu riu um pouco, então disfarcei meu constrangimento pedindo a ela que direcionasse a carruagem para a Pousada da Frente.

 

Bem, eu estava feliz que ela finalmente se abriu um pouco comigo.

 

— Bem-vindo de volta, senhor!

 

— Mestreeee! — Pochi e Tama vieram correndo ansiosas, então eu as peguei em meus braços. Mia estava atrás delas, acompanhada por Arisa e Liza.

 

— Satou.

 

— Oi, Mia. Você consegue andar um pouco agora?

 

— Hmm. Poção mágica.

 

— Ela parece muito recuperada graças à poção mágica que o gerente da loja trouxe. Esta foi a primeira vez que vi uma! Foi fantástico.

 

Arisa complementou a curta declaração de Mia.

 

Verificando o mapa, vi que o gerente da loja estava de fato no segundo andar. Ele voltou para a cidade de Seiryuu logo depois que saímos.

 

— Estou feliz que você esteja se sentindo melhor.

 

— Mm, obrigada.

 

Mia parecia querer dizer algo, e atrás dela, Arisa estava olhando para mim e apontando enfaticamente para a cabeça de Mia.

 

O penteado de Mia hoje estava diferente do normal. Normalmente, ela o usava solto, mas hoje ela o prendeu em duas tranças.

 

Parecia que eu deveria comentar sobre isso agora.

 

— É um penteado muito fofo. Combina com você.

 

— Hm.

 

Mia respondeu ao meu elogio com uma voz baixa e tímida.

 

Arisa sugeriu que comprássemos algo bom para comer em comemoração à recuperação de Mia, então perguntei se a própria Mia tinha alguma sugestão.

 

— Doces de mel.

 

Eu não esperava uma resposta tão rápida, então levei um segundo para reagir.

 

Possivelmente tomando minha reação como uma rejeição, Arisa rapidamente seguiu.

 

— Ela se interessou por eles depois que Pochi e Tama mencionaram comê-los antes.

 

— Liza também comeu, senhor!

 

— Eram doces e felizes de degustaçããão!

 

Lembrando-se da experiência, Pochi e Tama pressionaram as mãos nas bochechas.

 

— Eu pensei que seria bom se Mia e todos pudessem comê-los também, — Arisa acrescentou docemente.

 

Entendo. Então Arisa quer comer também, e ela está usando Mia como desculpa.

 

Não era caro, então dei a Lulu e Liza algumas moedas de prata e pedi que comprassem suficientes para que todos pudessem comer vários.

 

Eu poderia ter perguntado a Arisa, mas tive a sensação de que a recuperada Mia gostaria de ir também, então deixei isso para as duas.

 

De repente, Tama olhou para o telhado da Pousada da Frente.

 

— O que foi, Tama?

 

— Hmm… esse pássaro é estranhhooo.

 

Tama estava inclinando a cabeça incerta para uma coruja que estava empoleirada no topo do telhado.

 

… É a mesma que vi quando mais cedo?

 

Vendo que tínhamos notado, a coruja voou para algum lugar.

 

— Olá, Nadi. O gerente está aqui?

 

— Oh, bem-vindo de volta, Sr. Satou. O chefe está com Mize agora.

 

Quem é Mize mesmo…? Ah, certo, o homem-rato de capacete vermelho.

 

Agradeci a Nadi e subi as escadas para o segundo andar.

 

As crianças ficaram no andar de baixo, no sofá, e começaram a espalhar as cartas de vocabulário sobre a mesa. Elas realmente parecem gostar desse jogo.

 

Parecia que a chuva estava chegando, então não havia clientes na loja, mas eu as avisei para não incomodar Nadi por precaução.

 

Batendo levemente na porta, entrei no quarto.

 

Se este fosse o quarto de uma mulher ou de um menino na puberdade, eu teria esperado por uma resposta antes de bater, mas como era apenas o de um cara velho, achei que seria bom esperar alguns segundos antes de entrar.

 

Assim que entrei, o gerente olhou para mim e deu um breve aceno de boas-vindas.

 

— Satou.

 

— Zatoo? Voxe salvou minha vida, sah…

 

O homem-rato me agradeceu com sua voz rouca e quase inaudível. Pelo que pude perceber, não era porque ele estava ferido, mas sim porque sua boca, muito parecida com a das crianças que conheci, não era adequada para formar as frases.

 

Eu perguntei como ele acabou protegendo Mia e sendo atacado pelos perseguidores das sombras.

 

Claro, isso foi principalmente por curiosidade, e eu não teria ficado surpreso ou incomodado se os dois se recusassem a explicar, mas em vez disso, eles me deram uma explicação inesperadamente detalhada.

 

Um feiticeiro raptou Mia de sua cidade natal na vila dos elfos e a levou para uma instalação chamada Berço. Ela escapou enquanto estava sendo transportada e deu de cara com o homem-rato, que ajudou a trazê-la para a Cidade de Seiryuu para buscar a ajuda do gerente da loja.

 

O homem-rato de capacete vermelho explicou que estava por perto na hora porque estava investigando se o Berço poderia ser a causa da crescente quantidade de plantas murchas nas montanhas perto de sua aldeia.

 

Segundo ele, o motivo pelo qual o homem-rato chamou Mia de “princesa”, apesar de sua evidente falta de uma raça comum, foi que ele desenvolveu o hábito na juventude ao visitar a vila dos elfos para treinar.

 

A razão pela qual o feiticeiro sequestrou Mia era desconhecida. Tive a sensação de que o gerente da loja poderia saber de algo, mas ele parecia não ter intenção de falar sobre isso, então ignorei.

 

Então, perseguido pelas formigas com presas gigantes e pelas formigas voadoras gigantes que serviam ao feiticeiro, o homem-rato usou alguns de seus contatos no mundo subterrâneo para entrar furtivamente na cidade.

 

Então aquele feiticeiro havia enviado as formigas voadoras gigantes que atacaram a Cidade de Seiryuu também?

 

Também descobri que ele usou sal grosso que poderia ser coletado perto de sua aldeia para comprar uma passagem para a cidade.

 

… Oh certo, eu tenho que perguntar ao gerente sobre levar Mia de volta para sua cidade natal.

 

— Gerente, eu estava pensando…

 

O estrondo repentino de um trovão do lado de fora da janela e os gritos de Nadi e das meninas no andar de baixo interromperam minha frase.

 

— Nadi!

 

O gerente da loja saiu rapidamente do quarto.

 

Corri atrás dele. O homem-rato também seguiu atrás de mim.

 

Quando nós três descemos as escadas, vimos Nadi e as meninas se abraçando.

 

— Qual é o problema?

 

— C-chefe…

 

Meio ajoelhado, o homem-rato ficou de olho na entrada da loja como um sentinela.

 

No entanto, não vi nenhum sinal de inimigo em meu radar.

 

Além de Arisa estremecer e gritar “tio” enquanto Pochi e Tama se agarraram a ela em ambos os lados, não parecia haver nenhum problema.

 

Eu tirei as meninas bestas de Arisa antes que elas pudessem sufocá-la.

 

— O que na Terra…

 

O estalo de um trovão me cortou desta vez.

 

Pouco depois, um fio de chuva rapidamente se transformou em aguaceiro, cobrindo o exterior com uma cortina escura de chuva em um piscar de olhos.

 

Sentando no sofá com as garotas de cada lado de mim, percebi por que elas gritaram alguns momentos atrás.

 

Elas tinham acabado de ser surpreendidas por um trovão.

 

O gerente da loja usou magia para iluminar a sala.

 

A luz iluminou o rosto de Nadi; agarrada ao braço do gerente da loja, ela parecia assustada, mas feliz. Amaldiçoando internamente todos os casais felizes em todos os lugares, me forcei a dar a ela um sorriso relutante.

 

Eu não me importava com Arisa e Mia agarradas aos meus braços, ou mesmo as unhas de Tama cravando em mim enquanto ela se enrolava no meu colo, mas eu queria que Pochi tivesse se agarrado em algum lugar diferente do meu rosto. E que ela pararia de puxar meu cabelo.

 

Levantei Pochi suavemente e a sentei no meu colo ao lado de Tama.

 

— O homem do trovão é assustador, senhor!

 

— Flash, flash, baaang!

 

— Está tão escuro, senhor!

 

— E as árvores estão quebraaando?

 

Pochi e Tama estavam em pânico, agitando os braços em lágrimas enquanto demonstravam o terror absoluto das tempestades. É realmente tão assustador?

 

E pior ainda…

 

— O trovão é realmente muito perigoso, você sabe! Muito perigoso! Aaze me disse isso. Um raio pode derrubar até dragões. Até dragões! É verdade!

 

Uau, quem você deveria ser?

 

Como se sua habitual falta de vontade de falar fosse fruto da minha imaginação, Mia de repente descarregou como uma metralhadora.

 

Eu nunca tinha ouvido o nome Aaze antes. Talvez fosse sua mãe?

 

— Então você tem medo de trovão também, Arisa?

 

— … uuh, uh?

 

Assustada o suficiente que você nem consegue falar, hein? O rosto de Arisa ficou branco como um lençol, e ela rapidamente se enterrou no meu braço.

 

Eu estava preocupado que ela tentasse algo engraçado de novo, mas podia senti-la enrijecer de medo cada vez que o trovão soava, então acho que não havia nada com que me preocupar dessa vez.

 

Tama estava agarrada ao meu peito, a cabeça ligeiramente virada para ver a chuva lá fora.

 

— O que foi? — Eu perguntei a ela, mas um trovão especialmente alto abafou minha voz.

 

Um relâmpago iluminou uma pequena sombra do lado de fora. Também havia um ponto de luz no meu radar.

 

Saindo da cortina de chuva forte, uma grande coruja voou para dentro e pousou no balcão com um baque surdo.

 

… Era a mesma coruja de antes. Ele estava se abrigando da chuva?

 

Seus olhos redondos se fixaram em Mia.

 

Um display RA me deu mais informações sobre a criatura. Foi designada uma Coruja das Sombras, do mesmo tipo que eu tinha visto na noite em que encontrei o homem-rato.

 

Isso foi muito bom, mas seu título era Familiar de Zen. Um verdadeiro familiar? Agora, isso é como uma fantasia.

 

Mas… se era familiar, as chances eram boas de que servisse a um feiticeiro.

 

Nesse caso, a pessoa que comanda essa coruja pode muito bem ser o mesmo feiticeiro que sequestrou Mia.

 

E, aparentemente, o nome do feiticeiro era Zen.

 

Eu senti como se já tivesse ouvido esse nome em algum lugar antes… Oh, certo, o protagonista da peça que eu tinha visto com Zena e as outras. Achei que aquela trágica história de amor fosse baseada em uma história real, mas deve ser apenas uma coincidência. Afinal, o feiticeiro Zen que foi o protagonista daquela história foi executado no final.

 

Tentei tirar essa informação inútil da minha mente.

 

Por enquanto, eu tinha que lidar com esse familiar. Tentei procurar no mapa o feiticeiro por trás dele, mas quando procurei em toda a cidade e até mesmo em todo o condado, ele não estava em lugar nenhum.

 

… De onde ele está controlando?

 

Por enquanto, vamos apenas pegar o familiar. Se não tirarmos seus olhos e ouvidos, não há como saber se ele enviará monstros atrás de Mia novamente.

 

De olho na coruja, levantei Pochi e Tama do meu colo e as dei para Arisa e Mia respectivamente, então me levantei do sofá para manter as quatro protegidas atrás de mim.

 

A luz mágica fez uma longa sombra na parede de chuva atrás da coruja.

 

Algo jorrou daquela sombra escura e tudo ao meu redor congelou no lugar, como se o tempo tivesse parado.

 

… Medo.

 

Sim, essa figura era como a própria personificação do medo.

 

Todos nós fomos engolidos por puro medo, esquecendo até mesmo de piscar. Era impossível pensar em lutar contra tal coisa.

 

Eu queria gritar e fugir, a única coisa que me impedia era a necessidade de proteger as crianças e meu último resquício de orgulho. As meninas sob minha proteção que me trouxeram de volta aos meus sentidos.

 

Depois de um momento, o medo diminuiu ligeiramente.

 

Foi a Magia Psíquica de Arisa?

 

Com a pequena lasca de minha mente que ainda estava lúcida, fui capaz de abrir o menu.

 

Foi incrivelmente lento, como um PC antigo. Amaldiçoando o tempo todo, abri a guia de habilidades e rolei para baixo até a habilidade de que precisava.

 

Depois do que pareceu uma eternidade, encontrei o que procurava.

 

A habilidade “Resistência ao Medo”.

 

Operei o menu mentalmente para mudá-lo de Inativo para Ativo, e imediatamente, o tempo começou a se mover novamente.

 

Minha mente ficou surpreendentemente clara.

 

Meu campo de visão, que havia sido restringido pelo medo, espalhou-se novamente como a maré voltando.

 

O som da chuva também alcançou meus ouvidos mais uma vez.

 

Apesar de quanto tempo parecia, haviam se passado apenas alguns segundos desde que a figura sombria apareceu.

 

Como prova disso, ainda estava no meio de emergir da sombra da coruja.

 

Embora até um momento atrás parecesse um oponente enorme, eu poderia dizer agora que ele era apenas um pouco mais alto do que eu.

 

Era um homem curvado em um manto marrom sujo. Seu capuz pendia baixo sobre os olhos, obscurecendo suas feições.

 

Ao contrário da coruja, que voou para dentro, esse cara simplesmente se materializou aqui.

 

Como se para confirmar sua chegada abrupta, um ponto branco de luz apareceu de repente no meu radar. Ficou vermelho quase imediatamente.

 

Deve ter sido magia, embora eu não soubesse de que tipo.

 

Mudei meu olhar para o visor da RA ao lado de sua cabeça.

 

Seu nome era Zen, seu nível muito alto, 41. Habilidades: “Desconhecido”.

 

Tive um mau pressentimento sobre isso. Ele era outra anomalia como heróis ou Arisa?

 

Antes que eu pudesse ler até o fim, o feiticeiro Zen deu um passo à frente e olhou para nós, sua linha de visão fixando-se em Mia.

 

Tive a sensação de que seus olhos passaram por Arisa e eu por um momento antes disso, mas talvez fosse minha imaginação?

 

— Eu vim por você, Mia — Sua voz era como a de uma criatura morta-viva que rastejou das profundezas do inferno. Atrás de mim, senti Mia tremer enquanto se segurava na minha manga.

 

Este deve ser o feiticeiro que a sequestrou antes, então.

 

Sob o capuz, seu rosto estava escuro, apesar da magia que iluminou o quarto. Tudo o que pude ver foram dois pequenos reflexos de luz violeta que ardiam como brasas.

 

Como Mia estava com muito medo de falar, respondi em seu lugar.

 

— Como você está, Mestre Feiticeiro? Eu sou Satou, um comerciante.

 

— Hmph. Não tenho assuntos com um comerciante humilde, — Zen cuspiu arrogantemente.

 

— Embora, eu esteja impressionado, descendente de um herói. Ser capaz de falar tão facilmente enquanto é inundado de medo é um feito digno de elogio.

 

Quem você está chamando de “descendente de um herói”?

 

Se ele estava assumindo isso pelo meu nome e cabelo preto, ele realmente deve estar…

 

— Eu tinha planejado deixar você ir, mas se você vai se opor a mim, não vou deixá-lo escapar tão facilmente.

 

Zen fez uma demonstração para dar peso às suas palavras. Ele colocou a mão na bancada, e a madeira secou e apodreceu em um piscar de olhos.

 

Eu não sabia se isso era um feitiço ou alguma ferramenta mágica, mas em qualquer caso, seria perigoso deixar esse cara me tocar. Eu tinha a habilidade “Resistência ao Apodrecimento”, então provavelmente poderia suportar até certo ponto, mas não tinha desejo de colocar isso à prova.

 

Em um jogo, um oponente feiticeiro normalmente significava que você tinha que ter cuidado com ataques mágicos com uma ampla área de efeito, mas como seu único objetivo parecia ser sequestrar Mia, provavelmente estávamos a salvo disso aqui.

 

— Eu preferiria me abster de violência, mas Mia é uma amiga. Receio não poder permitir que ela seja levada contra sua vontade.

 

— Você ainda estaria dizendo o mesmo se eu apodrecesse seu braço direito como fiz com esta madeira?

 

Zen cruzou os restos apodrecidos do balcão, dando mais um passo em minha direção.

 

— Não tem como te convencer a nos deixar?

 

— Uma pergunta tola. Se você deseja proteger Mia, então me mostre como você realmente é corajoso. Minha loucura não é tão superficial a ponto de ser interrompida por meras palavras.

 

Bem, acho que vou aceitar isso, então.

 

Tomando cuidado para não deixar um buraco no chão de pedra, cavei e dei um soco em seu abdômen, bem no plexo solar.

 

Eu estava tentando replicar as artes marciais chinesas que tinha visto nos quadrinhos, e minha habilidade de “Combate Corpo a Corpo” ajudou a torná-las realidade.

 

Eu poderia matá-lo com um golpe se não me controlasse, então também usei os sentidos que minha habilidade de “Rapto” me deu para me conter o suficiente.

 

… Isso foi leve.

 

Em vez de nocauteá-lo, eu pretendia parar o golpe logo depois de atingir seu corpo, mas ainda não esperava que fosse tão leve.

 

Olhando para baixo, vi que meu punho atravessou o corpo agora semitransparente de Zen.

 

— O quê?!

 

Enquanto eu olhava em choque, algo agarrou meu tornozelo e me ergueu no ar.

 

Minha visão de repente virou de cabeça para baixo. Graças à minha habilidade de “Mobilidade Espacial”, fui capaz de olhar em volta sem problemas, sem qualquer reclamação do meu ouvido interno.

 

A força gigante que me agarrou era, na verdade, vários tentáculos negros que dispararam da sombra de Zen.

 

Ele pode controlar as sombras?!

 

Eu não estava sofrendo nenhum dano, mas senti uma dor formigante no tornozelo.

 

Eu sabia que Arisa e eu éramos iguais, mas um oponente que poderia usar magia sem qualquer cântico era um verdadeiro problema.

 

> Habilidade Adquirida: “Magia Sombria”

 

> Habilidade Adquirida: “Resistência à Sombra”

 

O que diabos é “Resistência à Sombra”?! Eu queria reclamar, mas agora não era realmente hora para isso. Em vez disso, coloquei pontos de habilidade na habilidade, aumentando minha capacidade de combater essa forma irracional de magia.

 

Graças à minha nova habilidade de “Resistência à Sombra”, o formigamento na minha perna desapareceu.

 

— Que surpresa. Então você é um artista marcial disfarçado de comerciante, não é? Duvido que haja muitas pessoas no mundo do seu nível que possam se mover assim.

 

— Bem, eu não tinha ideia de que existia um feiticeiro que podia manipular sombras, então acho que estamos quites.

 

Parecia bobo continuar falando respeitosamente com um oponente hostil, então decidi ser mais casual.

 

Ainda assim, acho que ele me subestimou, já que eu havia definido meu nível na guia de rede tão baixo. Essa era uma boa maneira de pegar alguém desprevenido, mas eu gostaria que não houvesse necessidade de fazer isso em primeiro lugar…

 

— Você ainda está falando assim em tal posição? Estou impressionado.

 

Outra nova sombra surgiu ao lado de Zen, formando um punho.

 

Um soco com certeza seria doloroso. Enfiei minha mão no bolso do meu robe, planejando tirar minha Pistola Mágica do Armazenamento.

 

— Tire suas mãos do meu mestreeee! — Arisa gritou desesperadamente. No mesmo momento, senti algo puxando do lado direito do meu corpo.

 

De acordo com o histórico, ela usou um feitiço de Magia Psíquica chamado “Onda de Choque”.

 

Por um momento, Zen cambaleou para trás.

 

Não aconteceu nada com seu medidor de PV ou resistência, mas o feitiço deve ter tido um efeito de empurrão. Seu capuz caiu, revelando seu rosto à luz.

 

… Não era nada além de uma caveira.

 

No lugar das pupilas, duas chamas roxas estavam instaladas no fundo de suas órbitas vazias. Se não fosse pela minha habilidade de “Resistência ao Medo”, provavelmente teria gritado. Eu examinei o restante do status de Zen, que eu não tinha terminado de ler antes.

 

— … Um espectro? — Nadi murmurou com uma voz rouca.

 

Arisa lançou Remover Medo antes de seu ataque, libertando todos do status.

 

O palpite de Nadi não estava longe, mas seu oponente não era tão simples.

 

— Estou um pouco ofendido por ser visto como criaturas mortas-vivas tão básicas.

 

Parecendo irritado, Zen se virou para encarar Nadi. O punho sombrio que estava pronto para me atacar disparou em sua direção.

 

Girei meu corpo no ar, usando a Pistola Mágica que acabei de puxar do Armazenamento para interceptar o punho.

 

O projétil mágico atingiu o punho em cheio e o vaporizou, mas a base da sombra de onde ele viera continuou se movendo em direção a Nadi sem qualquer perda de impulso.

 

Eu puxei o gatilho de novo, mas o minúsculo intervalo de tempo me impediu de atirar.

 

— Nadi!

 

O gerente da loja saltou na frente de Nadi, brandindo seu longo cajado e abrindo a boca para começar a entoar um feitiço.

 

Mas a ponta da sombra atingiu o cajado, atingindo-o bem no meio do peito.

 

A visão me deu uma ideia.

 

Eu puxei minha perna amarrada para longe das sombras que a seguravam, pisando na base com meu outro pé.

 

No instante em que escapei, corri para frente e dei um soco na sombra que se dirigia para Nadi e o gerente.

 

— Absurdo! Sim, isso é um absurdo! Hmph…!

 

Eu puxei meu punho do chão de pedra que eu esmaguei junto com a sombra, então me levantei. Achei que não seria capaz de tocá-lo porque era uma sombra, mas não entendi.

 

Se elas pudessem interagir conosco, então poderíamos interagir com elas também…

 

“Um chicote de sombra feito com Magia Sombria só pode ser interrompida por magia ou itens mágicos.

 

… Ou era o que pensava.

 

Eu estava feliz por não ter falado isso ou algo assim. Isso teria sido constrangedor.

 

Mais importante, o medidor de PV do gerente não parecia bom depois daquele golpe no peito. Destruir a sombra não deve ter diminuído o impulso; Nadi, que havia pegado o gerente quando ele foi mandado para o ar, também estava inconsciente.

 

— Eu não vou dar a brinsiss!

 

O homem-rato assumiu uma posição de combate ao meu lado, segurando o cajado quebrado.

 

Atrás de mim, ouvi Arisa começando a dar a Pochi e Tama algum tipo de ordem.

 

— Pochi, Tama, vou distraí-lo. Vocês duas pegam Mia e escapam pelos fundos. Vocês conseguem fazer isso, certo?

 

— Nós lutamos juntos, senhora!

 

— Bata no homem ossoooo!

 

— Vocês não vão fazer isso! Vocês não são páreas para ele. Seu nível está muito alto!

 

Só então, Mia falou com a voz trêmula, rejeitando a proposta de Arisa.

 

— … Não. Você corre.

 

— Qual é o ponto de fugir e deixar você para trás? Não estou apenas tentando ajudá-la a fugir porque você é nossa amiga. O desejo de nosso mestre é que você escape, então essa é minha prioridade.

 

Se Arisa não fosse uma criança, eu sentia que poderia simplesmente me apaixonar por ela.

 

— Mas…

 

— Sem desculpas. Vou criar uma brecha para você, então, por favor, não se preocupe conosco e apenas corra!

 

Ela estava planejando usar uma habilidade única? Mas, ela usou frases bastante clichês para uma menina.

 

Ela conseguiu passar por minhas defesas, eu tinha certeza que ela não teria problemas com um mero oponente de nível 41.

 

Eu pretendia totalmente cuidar dele antes que chegasse nesse ponto.

 

— Mestre Feiticeiro. Perdoe minha ignorância, mas você se importaria de nos contar sua identidade? — Eu perguntei, apontando a pistola para Zen.

 

Eu já sabia sua identidade, é claro. O display RA me informou que ele era o Rei Morto-Vivo.

 

Um morto-vivo do mais alto nível, igualado apenas por lendas como o Lich King e Nosferatu.

 

— Hmm. Às vezes um comerciante, às vezes um artista marcial. A sua verdadeira identidade é de um atirador?

 

Sem responder à minha pergunta, Zen respondeu em um tom tão banal quanto o de Arisa, sua boca sem carne se movendo em uma risada estranha para combinar com suas palavras.

 

— Talvez eu tenha muitas identidades.

 

Se eu tivesse que escolher uma identidade “verdadeira”, sugeriria “turista do mundo paralelo”.

 

— Que divertido. Muito bem, Satou. Vamos ver se você pode adicionar ‘Herói’ a essa lista de identidades…

 

— Mestre, Sr. Rato, afastem-se! — Antes que Zen pudesse terminar sua declaração, a voz de Arisa interrompeu abruptamente. — Tome isso!

 

Eu pulei para fora do caminho assim que Arisa gritou.

 

Zen foi atingido por um ataque invisível.

 

Ele deu passos para trás, mas isso foi tudo.

 

— Essa foi por pouco. E pensar que você tem uma habilidade única! E esse cabelo… Você deve ser uma reencarnação também, hein? Não sabia que você estava usando uma peruca.

 

Também? Então, como eu suspeitava, Zen deve ser uma transmigração assim como Arisa.

 

— Nngh, ele resistiu…

 

O corpo de Arisa bateu no sofá com um baque. Esse ataque deve ter usado toda a sua magia e resistência.

 

As outras meninas se reuniram em torno da desmaiada Arisa, gritando seu nome e verificando se ela estava bem.

 

Tendo se esquivado tarde demais, o homem-rato começou a vazar fluidos corporais de seus olhos e boca e também desmaiou. Não parecia que sua vida estava em perigo, mas provavelmente haveria efeitos colaterais desagradáveis se ele ficasse sozinho.

 

Aproveitando a chance que Arisa tinha criado, apontei a Pistola Mágica para o ombro de Zen e puxei o gatilho.

 

Eu teria ficado um pouco relutante em atirar em outra pessoa, mas como ele era algum tipo de criatura morta-viva, não tive nenhum problema em atirar em uma ameaça.

 

O projétil mágico voou em sua direção, mas uma barreira mágica apareceu diante dele e a afastou. Parecia uma parede de vidro preto transparente.

 

A Pistola Mágica não funcionará mais…

 

Eu não poderia simplesmente usar Tiro de Fogo nele por dentro. Se eu o usasse sem cuidado, não havia dúvida de que toda a loja iria pegar fogo.

 

Eu provavelmente poderia vencê-lo facilmente com uma das Espadas Sagradas ou Lâminas Divinas que eu tinha no Armazenamento, mas isso definitivamente o mataria, e eu não tinha certeza se queria fazer isso. Ele certamente parecia uma aparição, mas eu ainda sentia que teria dificuldade em dormir à noite se matasse algo com uma consciência humana.

 

Demônios como o Sr. Bola de Olho e seu amigo, os inimigos naturais da humanidade, era outros 500…

 

— Usar o poder além do que pode é implorar por destruição. Se você não quer que aquela garota se torne um brinquedo dos deuses, você não deve deixá-la usar aquela habilidade única novamente.

 

— Vou avisá-la quando ela acordar.

 

Quase ouvindo os conselhos de Zen, tentei bolar um plano.

 

— Muito bom. Então vou me despedir.

 

… Ele estava desistindo de capturar Mia?

 

Eu estava prestes a me sentir aliviado com a retirada casual de Zen, mas então me virei quando ouvi gritos atrás de mim.

 

— Minha força acaboooou…

 

— Deixe-me ir, senhor!

 

— Satou!

 

Chicotes de sombras ergueram Pochi e Tama no ar.

 

Incontáveis sombras surgiram do chão e envolveram Mia, que gritou meu nome desesperadamente enquanto a puxavam para baixo, metade de seu corpo já desaparecendo na escuridão.

 

As sombras drenaram a resistência de Pochi e Tama e as jogaram no sofá. Felizmente, elas não pareciam estar feridas.

 

Minha maior preocupação agora era Mia.

 

— Mia!

 

Me desculpando mentalmente com Pochi e Tama, pulei na direção da garota elfa.

 

Tentei usar minhas próprias mãos para afastar as inúmeras sombras ao redor de Mia, mas elas não se quebraram, apenas se esticaram como borracha.

 

Tudo bem, então, pensei, e comecei a atirar nelas com minha Pistola Mágica, mas novos chicotes se formaram nas sombras mais rápido do que eu poderia destruí-las.

 

Jogando de lado a Pistola Mágica, agarrei Mia e tentei tirá-la das sombras, mas a força com a qual a estavam puxando para baixo era mais forte do que eu pensava.

 

Mia soltou um grito de dor.

 

Minha força ainda era maior do que as sombras, mas o PV de Mia estava lenta, mas seguramente, diminuindo. Se eu puxasse com mais força, ela poderia se despedaçar.

 

— Não adianta.

 

Zen me desprezou enquanto afundava nas sombras sob seus pés.

 

Arisa tentou atirar nele com a Pistola Mágica que eu joguei de lado, mas assim como antes, uma barreira parou o projétil.

 

— Você não pode esperar derrotar um poder transcendente como o meu, então faria bem em aceitar a injustiça do mundo. Se você não tem medo da morte, venha visitar o Berço. Estou ansioso para sua invasão com essa sua ‘sabedoria’ e ‘coragem’.

 

Deixando seu desprezo como um presente de despedida, Zen desapareceu nas sombras. Ele não ficou para garantir que Mia estava totalmente absorvida, era confiança ou apenas descuido?

 

Meu corpo parecia que ia ser arrastado também por um momento, mas minha “Resistência à Sombra” me impediu de afundar mais de um centímetro ou mais.

 

— Mestre!

 

— Arisa!

 

Naquele momento, Liza e Lulu voltaram, gritando ao ver a cena desastrosa lá dentro.

 

Eu tomei uma decisão.

 

— Liza! Lulu! Por favor, cuidem de todos. Chamem Zena ou o ex-sacerdote Horn!

 

Com essas breves instruções, joguei uma bolsa cheia de moedas de ouro para Liza. Era o que continha o brasão do visconde Belton; se necessário, ele pode ajudá-los também.

 

— Não se preocupem comigo. Prometo que voltarei com a Mia!

 

Sem esperar pela resposta delas, afundei nas sombras junto com Mia.

 


 

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