Dark?

Marcha Mortal à Rapsódia do Mundo Paralelo – Vol 01 – Cap. 05.1 – Labirinto

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Satou aqui. Acho que me interessei em entrar no ramo de jogos quando era criança e fiquei obcecado com um dos jogos de meu pai, um Dungeon Crawler onde se explorava um labirinto. Nunca esquecerei minha emoção quando encontrei uma espada ultra-rara naquele jogo.

Verificando o mapa, vi nossa localização agora marcada como Labirinto do Demônio: Piso Inferior, sem caminhos exibidos.

Acho que sabia que não seria tão fácil.

Ainda assim, essa transição de aventura leve na cidade para uma de masmorra, foi repentina demais; se fosse um RPG de mesa, eu estaria preocupado com a saúde mental do mestre.

… Oh, céus. Mais importante, as crianças pareciam muito assustadas. Devia checar elas primeiro. É melhor começar com as apresentações, certo?

— Meu nome é Satou. Sou um vendedor ambulante.

— Gato!

— Eu sou cão, senhor.

— E eu sou lagarto.

São realmente os nomes delas?

Seus mestres anteriores, não apenas Urs, as chamavam assim. As meninas com orelhas de cão e de gato eram escravas desde pequenas, mas, aparentemente, a menina do povo escamoso virou escrava já adulta, então tinha ao menos um nome. Mas soou como um som áspero, então não consegui pronunciar.

No final, elas queriam que eu lhes desse nomes que fossem fáceis de pronunciar, então decidi chamá-las de Pochi, Tama e Liza. Eu meio que esperava que ficassem bravas ao receber nomes semelhantes a animais de estimação, mas estava bastante confiante de que, se desse a elas nomes normais, iria me confundir na mesma hora. Imaginei que isso funcionaria pelo menos até sairmos do labirinto.

Liza não veio de lizard, mas das duas primeiras sílabas de seu nome real impronunciável. E Pochi e Tama são nomes populares no Japão para cães e gatos, respectivamente.

Agora, então, antes de nossa fuga começar, melhor cuidar dos primeiros socorros.

Peguei algumas toalhas e a Bolsa Fonte, além das conchas que continham pomada. Eu tinha comprado como lembrança para Martha e as outras, mas podia comprar mais quando saísse daqui.

— Use essas toalhas e a Bolsa Fonte para desinfetar as feridas abertas. Depois passe esta pomada e depois coloque toalha por cima. Não use a mesma toalha com que limpou as feridas.

Entreguei algumas toalhas novas para as três, mas pareciam perplexas. Certo… Sempre que eu tentava falar com elas normalmente, pelo menos a princípio, ficavam confusas, a menos que usasse um tom mais imponente. Era como se estivesse cuidando de meus parentes mais novos de novo.

— Qual o problema? Não se preocupem, vou olhar para o outro lado enquanto vocês fazem isso.

Mas, aparentemente, não era o fato de estarem com vergonha, era incomum que escravos recebessem toalhas e pomadas de alta qualidade e coisas do gênero, por isso ficaram surpresas.

— Obrigada, senhor. Você não precisa olhar para o outro lado, senhor.

— Que tecido bonito. Estou tão feliz!

— Hmm… jovem mestre, não seria melhor guardar essas coisas… água e remédio, isto é… para seu próprio uso…?

Pochi e Tama se despiram sem hesitar, desatando o cordão de cânhamo em volta dos vestidos de saco e começando o tratamento de primeiros socorros. Se não fossem as orelhas e as caudas, seriam indistinguíveis das crianças humanas normais.

Pochi tinha cabelos castanhos, enquanto os cabelos de Tama eram curtos, brancos e ondulados. Os cabelos ruivos até a cintura de Liza estavam amarrados perto da ponta. Ela ainda estava hesitante, talvez fosse do tipo que pensa demais, mas quando eu expressei como uma ordem, ela começou a usar os suprimentos assim como as outras duas.

Liza também teria parecido uma humana normal se não tivesse uma cauda esplêndida e escamas alaranjadas que cobrissem parte de seu corpo. As escamas se estendiam do rabo e do pescoço até os ombros, dos cotovelos até as pontas dos dedos e dos joelhos até os dedos dos pés. Pelo que pude ver através de suas roupas, seu peito era bastante plano.

Quando parecia que havia passado tempo suficiente para terminarem seus primeiros socorros, me virei e ofereci algumas coisas para comerem. Eram os doces com mel que tinha comprado como lembrança quando estava passeando com Zena. Eram do tamanho da minha palma, e tinha apenas três para cada garota. Ainda assim, deveria ser o suficiente para encher o estômago por um tempo.

Pochi estava visivelmente babando enquanto olhava para os doces, mas ninguém se mexeu para comer. Então elas precisavam de permissão para comer? A escravidão era ainda pior do que eu pensava.

— Não precisam se segurarem. Apenas vão em frente e comam.

— Gostosooo!

— É tão doce e saboroso…

Pochi começou a engasgar, então eu entreguei a ela a Bolsa Fonte.

— Não tenha pressa, beleza? Não vou pedir de volta.

Estranhamente, era como ser uma babá.

— Bolinhos assados feitos com mel… eu… — Liza ficou sem palavras. Isso parece um pouco exagerado para um pouco de bolo.

Olhei para o mapa novamente, mas ainda não mostrava nada fora desta sala.

Talvez a magia não funcionasse aqui, ou seus efeitos eram de alguma forma limitados.

Abri meu menu e selecionei o feitiço Explorar Todo o Mapa. Se não funcionasse, teria que mapear tudo sozinho.

Essa preocupação foi rapidamente deixada de lado. Quando usei o feitiço, todo o Labirinto do Demônio foi imediatamente revelado para mim. A combinação desta magia e meu mapa era totalmente conveniente demais. O que é isso, está no fácil?

Mesmo que pudesse ver todos os caminhos da masmorra, era difícil entender o layout do labirinto na tela 2D, então troquei para 3D. Em jogos de guerra como GM, as variações de altura da terra poderiam se tornar um fator importante, então os mapas 3D eram indispensáveis.

Agora o mapa poderia ser até reposicionado, então olhei para ele de vários ângulos. Desse ponto de vista, o local parecia menos um labirinto e mais uma fazenda de formigas. Os caminhos se ramificavam como as raízes de uma árvore para formar várias salas, depois voltavam para outros caminhos.

Havia áreas que atravessavam vários níveis e atalhos conectando outras salas também. Era tudo parecido com uma masmorra.

Pelas minhas estimativas, cerca de 159 pessoas estavam no labirinto. Sete delas eram demi-humanos, e os outros 152 eram humanos, com cerca de um quarto do total sendo escravos. As tropas enviadas para reprimir a multidão consistiam em cerca de 50 pessoas, divididas em três grupos.

Parecia que Zena também estava em um desses grupos. Indo pelo mapa, não parecia provável que nos encontrássemos, mas ela deveria ficar bem se estivesse com seus companheiros soldados.

Para falar a verdade, gostaria que viessem ao meu resgate.

O jovem sacerdote Garleon estava ainda mais longe de mim do que Zena. Se fôssemos nos reunir, provavelmente seria perto da saída. Ele parecia uma pessoa capaz, que eu preferiria que não morresse, ele poderia cuidar de si mesmo, então acho que me consideraria sortudo se nos encontrássemos.

Se eu pudesse contatá-los de algum jeito, poderia levar todos à superfície. De alguma forma, uma função de bate-papo não estava entre todos os recursos geralmente úteis do menu.

Por alguma razão, o demônio bola de olho não apareceu na minha pesquisa. Havia uma sala que era particularmente profunda, no coração da masmorra, então achei que talvez ele estivesse lá, mas…

Definitivamente, não seria divertido se eu o vencesse muito cedo, apenas para que todo o labirinto desabasse porque o chefão havia sido derrotado, então também o deixaria em paz.

A maioria dos inimigos parecia ser demônios do tipo inseto nos níveis 10 a 20. Quando explorei o mapa pela primeira vez, havia apenas vinte, mas cada vez que procurava de novo, aparecia mais, e já estava com cem. Também apareceram mais variedades, como sapos e cobras. Cada um tinha o título de Demônio Primitivo. Isso significava que foram criados quando a masmorra foi gerada? Não acho que o wyvern que vi antes tinha um título assim.

Esta sala tinha apenas uma saída; seria ruim se fôssemos atacados enquanto tentávamos prosseguir. Devo dar armas para essas três? Beleza, vou apenas fingir que encontrei nas sombras de uma passagem e dar a elas algumas das lanças ou dardos do Armazenamento.

Depois que comecei a ir em direção à primeira passagem, as três garotas entraram em pânico e correram atrás de mim.

— Não nos abandone! Faremos qualquer coisa, senhor!

— Não nos deixe aqui!

— Jovem mestre, por favor, nos leve com você, mesmo que seja apenas para me usar como escudo. Eu imploro…

Elas estavam me implorando desesperadamente, mas nenhuma tentou agarrar minhas roupas. Isso foi por causa de experiência ou treinamento como escravas?

— Sinto muito por ter assustado vocês. Só estava tentando dar uma olhada melhor na passagem. Não vou as abandonar, então não se preocupem. — Falei o mais gentilmente possível. Tinha certeza que ficariam chateadas, mesmo que eu dissesse que não as deixaria, mas ainda achava melhor dizer do que ficar em silêncio.

Enquanto esperava as três garotas terminarem de comer, peguei uma espada curta e a Pistola Mágica da minha bolsa e as equipei. A Pistola era do tamanho de uma arma de fogo e disparava magia como munição em vez de pólvora. Também pude ajustar a quantidade de magia usada sem limitações, mesmo que eu quisesse disparar os menores projéteis possíveis para gastar apenas um PM cada, para que seu desempenho em custo fosse altamente eficaz.

No meu caso, o PM se regenera em cerca de três pontos por segundo, então eu tinha basicamente munição ilimitada. Isso me lembrou os primeiros dias das armas de FPS, mas como havia um atraso de um décimo de segundo quando puxava o gatilho, era um pouco difícil de usar.

Das três, a única com alguma habilidade de combate era Liza, que possuía a habilidade “Lança”. Eu não poderia muito bem apenas tirar uma lança da minha bolsa, então por enquanto a entreguei uma espada curta. Ela hesitou um pouco, talvez fosse incomum dar uma arma a um escravo, mas insisti.

Fui na frente como guarda avançado e coloquei Liza para trás, para cuidar de qualquer ataque surpresa pela retaguarda, apesar de seus protestos de que poderia ir na frente. Tenho o radar, então não haverá nenhum ataque surpresa, mas aposto que ter uma função atribuída a fará se sentir um pouco melhor.

Então a ordem era eu, Tama, Pochi e Liza por último. Ordenei firmemente que não entrassem na batalha, a menos que lhes dissesse. Elas estavam apenas no nível 2 ou 3, então se fossem atingidas por um monstro, provavelmente morreriam.

Acho que agora era uma missão de escolta.

As paredes da passagem eram feitas da mesma pedra que o chão. Não havia mais luminescência por baixo, então estava muito escuro. Felizmente, havia pilares de pedra brilhantes a cada dois metros, mesmo que as sombras da caverna fossem certamente desconcertantes, caminhar não era um problema.

Os postes tinham a altura da cintura, mas a luz chegava apenas até o meu peito, por isso era infelizmente impossível ver o teto. Provavelmente esse era um projeto deliberado para causar mais ansiedade. Que agradável.

Talvez estivessem lá porque se as passagens ficassem completamente escuras, as pessoas iriam ficar apenas nas salas.

— Tama, se você ver algo à nossa frente, por favor me diga baixinho. Pochi, me avise se notar algum cheiro ou barulho estranho. E Liza, conto com você para cuidar de nossas costas. Só não fique muito ocupada e ficando para trás.

— Okies!

— Sim, senhor!

― Entendido!

Elas ainda pareciam ansiosas, mas suas respostas foram sólidas.

> Habilidade adquirida: “Direção”

> Habilidade adquirida: “Organização”

Hmm. Deviam ser habilidades relacionadas a grupos. Pareciam úteis, então distribuí alguns pontos de habilidade em cada uma.

Conhecimento relevante sobre como organizar e implantar membros do grupo apareceu em minha mente. Aparentemente, eu também poderia verificar e revisar suas posições relativas.

Enquanto continuávamos, um inimigo apareceu no meu radar. Ainda estava a uma boa distância de nós.

Enfiando a cabeça na escuridão da passagem e cheirando algumas vezes, Pochi deu seu relatório. 

— Sinto cheiro de sangue lá na frente, senhor.

A distância em linha reta não era tão grande, mas ao longo das curvas da passagem, devia estar a vários metros. Dei um tapinha na cabeça de Pochi, elogiando seu olfato afiado. Era um pouco estranho tratá-la como um animal de estimação, mas seu rabo estava abanando entusiasticamente, então ela parecia feliz.

Ao nos aproximarmos, verifiquei as informações do inimigo no mapa. Era de nível 20, sem habilidades especiais; seus ataques eram “Enfrentar” e “Mordida”. Havia apenas um, e estava na sala ao lado.

Algo me ocorreu e tomei nota do status das três meninas. Fiquei surpreso ao descobrir que havia um campo de EXP em suas informações. Sério, isso é um jogo? A experiência delas estava em porcentagens, então não consegui ter um número concreto, mas era conveniente saber o quão perto estavam do próximo nível.

Não consegui ver as barras de EXP de nenhuma outra pessoa no mapa. Era limitado aos membros do meu grupo? Ou tinha alguma outra condição envolvida?

Uma luz escapando da próxima sala apareceu. Disse às três que esperassem e olhei na sala. Um inseto gigante, que aparentemente não tinha me notado, estava comendo… alguma coisa. Ugh… Como eu disse, tenho uma tolerância muito baixa para sangue e gore.

Se eu perder, isso vai me comer assim também? Dadas as diferenças em nossos níveis, era difícil ver como poderia perder, mas isso não me fez sentir muito melhor.

Como os protagonistas de histórias e lendas lutam assim sem surtar?

O cheiro de sangue, carregado pelo vento até mim, enfraqueceu meu coração sem coragem. Talvez possamos apenas nos esconder na sala de onde viemos e esperar a ajuda chegar.

— Jovem mestre, perdoe minha arrogância, mas me pergunto se não poderíamos passar despercebidos pelo monstro enquanto ele come sua presa, ou então usar o elemento surpresa para atacá-lo por trás? — Timidamente, Liza deu sua opinião. Ela certamente também estava com medo. De fato, pude ver que seus membros esbeltos estavam tremendo.

Até as garotas com seus níveis de um dígito estão tentando descobrir o que podemos fazer para avançar, e aqui estou eu com o rabo entre as pernas. Como pude achar que alguém nos encontraria e nos ajudaria, afinal?

Definitivamente, não poderia lutar de perto, mas talvez pudesse atirar à distância com minha Pistola Mágica. Minha magia era forte o suficiente para pulverizar pedras enormes, por isso também deveria ser suficiente para derrubar esse monstro gigante.

Bloqueei o som de mastigação e atirei com a pistola, com potência máxima, é claro.

Meu primeiro tiro errou, mas o monstro não percebeu que estava sob ataque. Assim como quando atirei na pedra antes, ainda não havia recebido uma habilidade de “Tiro”.

Os projéteis mágicos brilhavam, para que eu pudesse ver sua trajetória na sala escura. A criatura me notou após o segundo tiro, mas uma vez que ajustei minha mira, consegui acertá-la no terceiro disparo, assim que ela correu para mim.

Como a pistola estava na potência máxima, o projétil arrancou as patas traseiras da criatura de suas articulações. Antes que pudesse chegar um pouco mais perto, derrubei o monstro gigante com uma chuva de tiros rápidos.

Foi uma vitória tão completa que minha preocupação de momentos atrás parecia ridícula.

> Habilidade Adquirida: “Tiro”

> Habilidade Adquirida: “Precisão”

> Habilidade Adquirida: “Alvo”

> Título Adquirido: Assassino de Insetos

Eu pensei que grilos-da-caverna só viviam no deserto, gigantes ou não…

— Super incrível, senhor!

— Tão forte!

Foi tudo graças à Pistola Mágica, então receber elogios me deixou um pouco desconfortável. Pochi e Tama estavam animadas, mas parecia que algo ainda estava incomodando Liza.

— Essa é uma varinha muito estranha, jovem mestre. Você pode usar magia com isso?

— Esta é uma arma mágica. Só não contem a ninguém, okay? — dei um aviso temporário. Liza assentiu docilmente, mas Pochi e Tama responderam com um entusiasmado “‘kaaay!”, então fiz uma anotação mental para repassar isso com elas novamente assim que saíssemos do labirinto.

Os segmentos inferiores dos membros destacados da criatura pareciam ter a forma perfeita para um cajado ou uma lança. Não eram nada parecidos com as pernas normais de insetos, pareciam quase artificiais. Será que posso criar uma lança improvisada com isso?

Usei a Pistola Mágica para destacar a parte em forma de bastão de uma perna traseira. A ponta com garras parecia um pouco frouxa, então puxei um fino bloco de madeira e uma pulseira de couro da minha bolsa e usei-as para fixá-la no lugar. O líquido verde estava vazando, então o envolvi na mesma toalha que usamos para limpar as feridas mais cedo.

> Habilidade Adquirida: “Desmontagem”

> Habilidade Adquirida: “Entomologia”

> Habilidade Adquirida: “Demonologia”

> Habilidade Adquirida: “Fabricação de Armas”

> Habilidade Adquirida: “Artesanato em Couro”

> Habilidade Adquirida: “Marcenaria”

Como sempre, as habilidades pareciam fáceis demais de obter.

A lança que acabei de fazer parecia poder desmoronar com uma única estacada, então desta vez aumentei minha nova habilidade de “Fabricação de Armas” e a usei para fazer uma nova. O conhecimento concedido por “Entomologia” e “Demonologia” me disse para fazer um entalhe na perna traseira com minha espada curta e arrancá-la.

Eca, isso parece nojento.

Raspei a perna restante com a espada curta. Parecia ser uma arma mágica também, porque sua ponta afiada era muito melhor do que o que eu tinha visto sendo usado no exército do conde.

Por fim, amarrei o final com couro e madeira, mas desta vez usei outro pedaço do próprio monstro. Poderia usar seu próprio tecido, e as peças se fundiriam automaticamente, graças às poderosas habilidades de regeneração da criatura. Eu não tinha certeza de como ou por que isso funcionou quando o monstro já estava morto, mas quando o experimentei, o conhecimento concedido por minhas novas habilidades era imenso: os tecidos se fundiram no lugar.

Só para ter certeza, amarrei uma pulseira de couro para reforçar.

Ainda parecia estranhamente surreal e parecido com um jogo, mas como essa lança era muito superior à primeira que eu havia feito, acho que não tinha do que reclamar.

Me virei para oferecer a lança de grilo-da-caverna para Liza, apenas para descobrir que ela estava trabalhando duro com sua espada curta no local que ligava a cabeça da criatura às costas.

… O que, ela está com fome?

— Liza, se você comer isso, terá dor de estômago, com certeza.

— Er… eu não vou comer. Se isso é um demônio, deve ter um núcleo, então pensei em tentar pegá-lo…

Núcleo? 

— O que é um núcleo?

— Basicamente, é dinheiro. Todos os monstros e demônios têm um núcleo em seu centro, e se você o der a um vendedor ambulante, poderá trocá-lo por várias coisas.

A resposta de Liza não foi exatamente o que eu estava procurando ouvir, mas acho que não deveria esperar que recitasse informações como uma wiki. Vi quando ela puxou uma esfera coberta de sangue verde-esmeralda. Era vermelha, do tamanho de um punho. A cor estava realmente nublada, portanto, certamente não poderia servir como uma joia.

Quando Liza voltou, entreguei a ela uma pequena bolsa de juta da minha mochila. Também peguei um pedaço da toalha usada para limpar o sangue.

— Coloque o núcleo nesta bolsa por enquanto. Ah, e use essa lança.

Entreguei a bolsa para Pochi e dei a lança para Liza. A espada curta que ela estava usando foi dada para Tama. Mudar de equipamento assim definitivamente me faz sentir como se estivesse em um RPG.

A espada curta era demais para Tama segurar. As manilhas presas ao colarinho provavelmente estavam atrapalhando. Oh, talvez possamos cortá-las agora.

Chamei Liza e a mandei esticar as correntes, depois usei a potência mais baixa da Pistola Mágica. Então fiz o mesmo em Pochi e Tama… mas suas orelhas se achataram de medo, então acariciei suas cabeças gentilmente e me desculpei.

Coloquei as manilhas em uma bolsa e entreguei a Pochi junto com o núcleo.

— Liza, começando com o próximo inimigo, pedirei que Pochi e Tama revezem para pegar os núcleos, por isso, ensine-as como retirar.

— Sim, entendido.

— Sim, senhor.

— Kay!

Todas parecem bem motivadas, então isso é bom, pelo menos.

Além disso, algo mais estava me incomodando. 

— Ah, e Pochi…

— Sim, senhor?

— Você não precisa se esforçar para adicionar ‘senhor’ a tudo.

— Mas se eu esquecer, serei punida, senhor.

— Entendo… — Pensei que ela estava apenas sendo educada, mas estava fazendo isso porque sentiu que deveria? Sou apenas seu mestre temporário, então não preciso corrigi-la. — Bem, não vou ficar com raiva se você não usar, então faça o que quiser.

— Sim… senhor.

Apertei minhas mãos e fiz uma pequena oração pela vítima do monstro, desejando-lhe felicidade em sua próxima vida. Também anotei o nome do falecido antes de sairmos da sala.

Comparei as estatísticas das meninas com antes, mas além de uma ligeira diminuição na resistência, nada parecia ter mudado; EXP não subiu nada. Então elas não podem ganhar experiência apenas por estar no meu grupo, hein? Então, como os membros das unidades de abastecimento, sacerdotes e os outros sobem de nível?

Se elas pudessem subir de nível, não me destacaria muito durante nossa fuga, mesmo que mais pessoas se juntassem a nós. Mas acho que seria fácil demais.

Bem, já que isso é como um jogo, por que não tento lidar da mesma maneira?

— Tama, se você encontrar alguma pedra do tamanho desse núcleo, por favor, pegue-a.

— Kay!

Pouco tempo depois, o caminho se dividiu em dois. Parecia que os dois lados estavam conectados à mesma sala, mas um dos caminhos tinha outra câmara em seu decorrer. Nós encontraríamos monstros, não importava qual rota escolhêssemos, mas na área adicional no segundo caminho, havia um par de manducas sexta[1] de nível 10. E um pouco mais abaixo, havia alguns sobreviventes.

Acho que devemos salvá-los, hein?

— Os caminhos se bifurcam aqui, miau — Tama relatou assim que o cruzamento apareceu. Não há necessidade de começar com as peculiaridades de fala esquisitas agora. Dei um tapinha em sua cabeça; ela parecia satisfeita.

Agora Pochi parecia com inveja, então também dei um tapinha rápido na dela. Ambas eram da altura do meu peito, então foi fácil. Elas tinham cerca de 110 cm, talvez? E Liza era mais alta que eu, 165 cm ou mais.

— Vamos seguir o caminho da direita.

Prosseguimos pela passagem. De acordo com o meu radar, já deveria estar vendo um monstro…

— Tem um inseto acima de nós, senhor — Tama relatou. Agora ela está imitando Pochi?

E como eu deveria derrotar um inimigo que não conseguia ver?

Oh, já sei! Não tenho certeza se isso vai funcionar, mas vamos tentar.

Usei o radar para descobrir mais ou menos onde estava e olhei na direção. Momentos depois, uma caixa RA apareceu para exibir o nome e o nível do monstro.

Perfeito! Atirei indiscriminadamente naquela área, mantendo o poder da Pistola Mágica no nível mais baixo. Um dos tiros deve ter acertado, porque o manduca sexta caiu no chão.

— Tama, jogue uma pedra nele!

Tama jogou três pedras no monstro. Duas bateram e ricochetearam, com apenas uma causando dano.

A manduca sexta lentamente se aproximou.

— Pochi, Tama, voltem. Liza, venha aqui. Fique atrás de mim, mas acerte-o uma vez com sua lança!

A manduca sexta tentou atacar, e eu o afastei com um chute fraco para ganhar tempo. Era como chutar uma bola de borracha.

Liza usou essa abertura para acertar o monstro com a ponta da lança; não era totalmente segura, mas ainda parecia a melhor aposta no momento. Ainda assim, causou um pouco de dano.

Com isso resolvido, atirei mais algumas vezes para acabar com a criatura.

Parando para pensar, ao contrário do Vale dos Dragões, os cadáveres dos meus inimigos mortos não desapareciam automaticamente no meu Armazenamento. Daquela vez todos os despojos de guerra apareceram quando derrotei o homem-lagarto final, então talvez eu tivesse que eliminar todos os inimigos para que aquilo acontecesse, ou algo assim.

— Liza, Tama, vou pedir que peguem o núcleo. Pochi, você vem comigo, tem mais um pela frente.

Tama entregou um monte de pedras para Pochi jogar. Tama… quantas pedras você pegou, exatamente?

O monstro na sala ao lado era do mesmo tipo que acabamos de derrotar. Deitados no chão, dois cadáveres, uma mulher jovem e um garoto, que pareciam escravos. Ao contrário do caso com o grilo-da-caverna, essas vítimas não estavam sendo comidas.

— Pochi, quando entrarmos, jogue pedras no monstro. Depois de jogar, volte até Liza e Tama.

Entrei na sala e comecei a atirar. Assim como eu havia instruído, Pochi seguiu e jogou algumas pedras na criatura. Todas atingiram o alvo, mas então a manduca sexta se virou para ela e começou a cuspir veneno.

A situação de Pochi me atingiu com um enorme horror, mas me movi rapidamente e consegui chutar o lado da cabeça da manduca, mudando sua trajetória. Coloquei mais força por trás do ataque do que pretendia, já que esmagou a cabeça do monstro e a coisa parou de se mover. A sensação na sola do meu pé foi meio nojenta.

O veneno não atingiu Pochi, mas parecia tê-la assustado, porque ela correu para a passagem, mas foi para a errada. Ela deve ter se perdido com o pânico.

— Pochi, pare!

Eu a persegui, mas demorei um pouco, contornando a manduca morta.

— Wah! Fique longe, fique longe!

Hã? Quem era? Essa não era a voz de Pochi. Era o homem que eu tinha visto no mapa?!

Verifiquei o radar. Ele estava muito perto.

— Pochi, volte aqui! — Corri atrás dela e agarrei a parte de trás de seu pescoço, levantando-a. Pensei ter visto as costas de um homem correndo pela passagem curva, mas antes que pudesse persegui-lo, seu ponto desapareceu do radar.

Em primeiro lugar, por que ele correu? Pensou que Pochi era um monstro?

Ou talvez sentiu algum tipo de culpa em relação às duas vítimas na outra sala…?

De qualquer forma, esse labirinto parecia ser um lugar mais traiçoeiro do que eu pensava. Teria que ter mais cuidado com a segurança dessas crianças.

— Jovem mestre! Você está bem?

— Tuuudu beem?

Liza e Tama vieram correndo até nós.

— Sim, estamos bem. Vamos voltar para a última sala e pegar o núcleo.

— Me desculpe, senhor. — As orelhas de Pochi estavam achatadas enquanto se desculpava, e seu rabo estava entre as pernas. Eu não estava chateado com seu erro, mas se ela entrasse em pânico novamente, sua vida poderia estar em perigo, então tive que repreendê-la um pouco.

— Pochi, se as coisas ficarem perigosas, tudo bem em fugir. Mas você não pode perder a cabeça, okay?

— … Sim, senhor.

A cabeça de Pochi abaixou em contemplação, então eu dei um tapinha nela para animá-la.

> Habilidade adquirida: “Domesticação de Animais”

“Animal”? Isso foi muito rude. Não poderia ser “Educação Infantil” ou algo assim?

Quando voltamos para a sala, a visão de Liza e Tama desmontando o cadáver da manduca gigante foi bastante surreal.

Anotei os nomes das duas vítimas, mas não consegui decidir se deveria verificar os corpos para ver se tinham alguma coisa útil. Não consegui tocá-los, mas, enquanto hesitava, Liza assumiu o comando e disse a Pochi para procurar.

— Devo tirar as roupas deles também?

— Apenas os sapatos. Deixe o resto. — Não vi motivos para precisarmos das roupas deles. Mas já me incomodava há algum tempo que as meninas não tinham sapatos, então eu a fiz pegar.

Pochi me trouxe os itens que pegou. A escrava não tinha nada, mas ela havia encontrado uma bolsa e alguns anéis, colares e outras joias no corpo da garota.

Fiz uma pasta no Armazenamento para os pertences dos falecidos, depois uma subpasta para o nome dela, onde guardei os itens. Se tivesse uma família em luto, eu poderia devolver tudo. Depois de um momento, peguei uma mecha dos cabelos de cada um e os coloquei com as outras coisas.

Dei os sapatos para Pochi e Tama usarem. Liza tinha a melhor constituição das três, então eu teria que pedir que esperasse um pouco mais.

Os sapatos do jovem que vimos antes provavelmente estavam na sala à frente com a cobra gigante, então não achei que ela precisaria esperar muito tempo.


[1]É uma lagarta


 

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