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Lorde dos Mistérios – Cap. 30 – Um Novo Começo

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Rua Narciso nº 2, 4 e 6 eram casas geminadas com telhados de quadril multifacetados. Seus exteriores eram pintados de azul acinzentado e haviam três chaminés erguidas.

As casas obviamente não tinham gramados, jardins ou grandes varandas, e suas entradas ficavam diretamente de frente para a rua.

Scarter, da Companhia de Aprimoramento Residencial da Cidade de Tingen, pegou um monte de chaves e, ao abrir a porta, introduziu:

— Nossas casas geminadas não têm foyers, então você entra diretamente na sala de estar. Há uma janela de sacada de frente para a rua Narciso, então é bem iluminada…

Klein, Benson e Melissa foram recebidos por um sofá de tecido banhando-se nos raios dourados do sol e uma área mais espaçosa do que o apartamento de dois quartos anterior.

— Esta sala pode ser usada como um salão de hóspedes. À sua direita está a sala de jantar e à esquerda uma lareira que irá mantê-los aquecidos durante o inverno. — Scarter apontou com grande familiaridade.

Klein olhou em volta e confirmou que era um conceito simples e aberto. A sala de jantar e a sala de estar não estavam separadas por divisórias, mas também estavam longe da janela de sacada, o que as tornavam um pouco escuras.

Havia uma mesa retangular de madeira vermelha cercada por seis cadeiras de madeira de lei com almofadas macias. A lareira na parede da esquerda parecia exatamente com a de filmes estrangeiros e séries de TV que Klein costumava assistir.

— Atrás da sala de jantar é a cozinha, mas nós não fornecemos quaisquer utensílios domésticos. Em frente à sala de estar há um pequeno quarto de hóspedes e um banheiro… — Scarter andou ao redor e descreveu o layout restante da casa.

O banheiro era separado em duas partes, dividido por uma porta sanfonada. A área externa era onde se lavava o rosto e escovava os dentes, enquanto a área interna era o banheiro. O quarto de hóspedes era descrito como pequeno, mas era tão grande quanto o quarto em que Melissa ficava. Ela ficou atordoada com a visão.

Depois de olhar ao redor do primeiro andar, Scarter levou os três irmãos para a escada ao lado do banheiro.

— Lá embaixo está a adega. É bem abafado por lá, então devem se lembrar de deixar circular um pouco de ar fresco antes de entrar.

Benson assentiu casualmente e seguiu Scarter até o segundo andar.

— À minha esquerda, há um banheiro. Do mesmo lado, há mais dois quartos. É o mesmo layout à minha direita, mas o banheiro deste lado fica ao lado da varanda.

Enquanto falava, Scarter abriu a porta do banheiro e ficou de lado para não obstruir Klein, Benson e Melissa de olhar para dentro.

O banheiro tinha uma banheira extra. Assim como o outro banheiro, havia uma porta sanfonada ao lado do banheiro. Embora um pouco empoeirado, não era sujo, fedorento ou apertado.

Melissa ficou atordoada até Scarter ir para o quarto ao lado. Só então ela parou de olhar e seguiu os outros devagar.

Ela deu mais alguns passos antes de olhar para trás.

Klein, que era experiente na vida, também ficou encantado e empolgado. Mesmo que o senhorio muitas vezes supervisionasse a limpeza do banheiro, ainda não estava limpo o suficiente. Estava muitas vezes imundo, tirando o fato que encontrariam facilmente uma fila quando precisassem se aliviar.

O outro banheiro era parecido. Um dos quatro quartos era um pouco maior e estava mobiliado com uma estante de livros. O resto era do mesmo tamanho que o outro e tinham cama, mesa e guarda-roupa.

— A varanda é muito pequena, então não poderá secar muitas roupas ao sol de uma só vez. — Scarter ficou no final do corredor e apontou para um lugar com uma porta e uma fechadura. — Há drenagem subterrânea completa, tubulação de gás, medidor, e outras instalações. É muito adequado para cavalheiros e uma dama como vocês. Só requer treze soli de aluguel e cinco centavos para uso dos móveis semanalmente. Além disso, há um depósito que equivale a quatro semanas de aluguel.

Sem esperar que Benson dissesse uma palavra, Klein olhou em volta e perguntou, curioso:

— Aproximadamente quanto custaria comprar a casa?

Como um transmigrador do Império dos Amantes de Comida, o desejo de comprar a propriedade ainda existia dentro dele.

Ao ouvir essa pergunta, Benson e Melissa ficaram chocados. Eles olharam para Klein como se estivessem vendo um monstro. Scarter respondeu com calma e firmeza:

— Comprar? Não, nós não vendemos propriedades. Apenas fornecemos propriedades para aluguel.

— Estou apenas tentando ter uma noção geral dos preços. — Klein explicou sem jeito.

Scarter hesitou por alguns segundos antes de dizer:

— No mês passado, o proprietário do nº 11 na rua Narciso vendeu uma escritura de terra de período limitado com uma propriedade semelhante no topo do terreno. 300 libras por quinze anos. É muito mais barato do que alugar diretamente, mas nem todos podem desembolsar uma quantia tão grande de dinheiro. Se alguém quiser comprá-lo completamente, o preço do proprietário é de 850 libras.

850 libras? — pensou Klein rapidamente fazendo cálculos mentais.

Meu pagamento semanal é de três libras, do Benson uma libra e dez soli… O aluguel é treze soli e se nós comermos bem todos os dias, gastaríamos quase duas libras por semana. Além disso, há despesas como roupas, transporte, gastos sociais, e assim por diante. Só poderemos economizar menos de vinte soli por semana. Um ano totaliza cerca de 35 libras. 850 Libras exigiriam mais de vinte anos. Mesmo que comprássemos a terra por um período limitado por 300 libras, isso nos levaria pelo menos oito ou nove anos… Isso não inclui casar, viver de maneira independente, criar filhos, viajar e assim por diante…

Em um mundo sem empréstimos habitacionais individuais, a maioria das pessoas optam pelo aluguel…

Percebendo isso, ele deu um passo para trás e olhou para Benson, chamando-o para falar com Scarter sobre o aluguel.

Quanto às intenções de Melissa, eram óbvias pelos seus olhos brilhantes!

Benson bateu sua bengala simples e olhou em volta antes de dizer:

— Deveríamos dar uma olhada em outras casas. A iluminação da sala de jantar não é boa, e a varanda é muito pequena. Veja, só aquele quarto tem uma lareira, e a mobília é muito velha. Se nos mudarmos, teremos que trocar pelo menos metade…

Ele apontou falhas em um tom apressado, gastando dez minutos para persuadir Scarter a reduzir o aluguel para doze soli e a taxa de uso de móveis para três centavos, enquanto arrematava o depósito para duas libras.

Sem mais delongas, os irmãos voltaram com Scarter para a Companhia de Aprimoramento Residencial da Cidade de Tingen e assinaram duas cópias do contrato. Eles então dirigiram-se ao cartório da cidade de Tingen para firmar o contrato.

Depois de pagar o depósito e o aluguel da primeira semana, o dinheiro restante de Klein e Benson somava nove libras, dois soli e oito centavos.

Diante da casa nº2 da rua Narciso, cada um deles segurava um punhado de chaves de cobre. Eles foram momentaneamente incapazes de desviar o olhar; suas emoções se agitando dentro deles.

— Parece um sonho… — disse Melissa com uma voz baixa e instável, depois de um tempo, ela levantou a cabeça para olhar para a futura “Residência Moretti”. Benson soltou um suspiro e sorriu.

— Então, não acorde.

Klein não estava tão emotivo quanto eles. Ele acenou e disse:

— Precisamos trocar as fechaduras da porta principal e da porta da varanda o mais rápido possível.

— Não há pressa. A reputação da Companhia de Aprimoramento Residencial da Cidade de Tingen é muito boa. O resto do dinheiro é para o seu terno formal. No entanto, antes disso, precisamos fazer uma visita ao Sr. Franky. — Benson apontou na direção do apartamento.

Os irmãos comeram pão de centeio em casa antes de irem para um apartamento no terraço da rua Cruz de Ferro. Quando bateram à porta do senhorio, o sr. Franky declarou de modo imponente, enquanto seu corpo pequeno empoleirava-se num sofá:

— Você conhece minhas regras. Ninguém pode atrasar o aluguel!

Benson se inclinou para frente e sorriu.

Sr. Franky, estamos aqui para desistir do nosso contrato.

— Assim tão direto? Negociar assim funcionaria? — ao lado de Benson, Klein ficou chocado ao ouvi-lo.

No caminho até aqui, Benson dissera que seu limite era uma compensação de doze soli.

— Desistir do contrato? Não! Temos um contrato, e ainda resta meio ano! — Franky olhou para Benson enquanto agitava os braços.

Benson olhou para ele seriamente e esperou por um momento antes de dizer calmamente:

— Sr. Franky, o senhor deveria entender que poderia ter ganhado muito mais dinheiro.

— Ganhado muito mais? — perguntou Franky com interesse, tocando seu rosto magro.

Benson endireitou-se e explicou com um sorriso:

— O apartamento de dois quartos foi alugado a nós três por cinco soli e seis centavos. Mas se fosse alugá-lo para uma família de cinco ou seis pessoas, com dois ou três trabalhando e ganhando dinheiro, acho que eles estariam dispostos a pagar mais para ficar lá, em vez de ficar na rua de baixo, onde está cheio de crimes. Acho que cinco soli e dez centavos ou seis soli seria um preço razoável.

Os olhos de Franky brilharam e sua garganta se moveu enquanto Benson continuava a dizer:

— Além disso, você certamente está ciente de que os preços dos aluguéis vêm aumentando nos últimos anos. Quanto mais ficarmos, mais você irá perder.

— Mas… Preciso de tempo para procurar um novo inquilino. — Sr. Franky, que herdara o prédio, obviamente gostou da ideia.

— Eu acredito que você pode encontrar um muito rapidamente, já que você tem a habilidade e os recursos para tal. Em dois dias, talvez três… Pagaremos pelas perdas que você tiver durante este tempo. Que tal o depósito de três soli que pagamos? É muito razoável! — Benson imediatamente decidiu por Franky.

Franky assentiu em satisfação.

— Benson é um jovem tão meticuloso e honesto. Tudo bem então, vamos assinar a rescisão do contrato.

Klein ficou espantado ao ver isso acontecer. Ele percebeu como era fácil “convencer” o Sr. Franky.

É fácil demais…

Com o problema do contrato anterior resolvido, os três irmãos primeiro ajudaram Klein a comprar sua roupa formal e então se ocuparam com a mudança de casa.

Eles não tinham nada pesado ou volumoso, pois os itens mais volumosos pertenciam ao proprietário. Assim, Benson e Melissa rejeitaram a ideia de Klein de alugar uma carruagem e, em vez disso, levaram as coisas por conta própria. Andaram de um lado para o outro entre a rua Narciso e a rua Cruz de Ferro.

O sol quente do lado de fora da janela se punha no oeste, e os raios dourados brilhavam através da janela da sacada, espalhando-se pela superfície da mesa. Klein olhou para a prateleira que tinha livros e cadernos arrumados antes de colocar um frasco de tinta e uma caneta-tinteiro sobre a mesa, que havia limpado mais cedo.

Finalmente acabou… — ele soltou um suspiro de alívio e ouviu seu estômago roncar. Ele afrouxou as mangas arregaçadas enquanto caminhava em direção à porta.

Ele tinha uma cama que lhe pertencia. O lençol e cobertor eram brancos e velhos, mas limpos.

Klein girou a maçaneta e saiu do quarto. Assim que estava se preparando para dizer algo, ele viu as duas portas do lado oposto abertas enquanto Benson e Melissa entravam em sua visão.

Olhando para as marcas de poeira e sujeira em seus rostos, Klein e Benson de repente explodiram em gargalhadas, soando anormalmente alegres.

Melissa mordeu os lábios levemente, mas a risada era contagiante. Ela eventualmente soltou uma leve risada.

Na manhã seguinte.

Klein estava diante de um espelho de corpo inteiro, sem rachaduras, arrumando seriamente o colarinho e as mangas da camisa.

O traje incluía uma camisa branca, smoking preto, cartola de seda, colete preto, conjunto de calças, botas e gravata-borboleta. Ele sentiu o aperto de pagar oito libras no total.

No entanto, o efeito foi ótimo. Klein sentiu que seu reflexo no espelho exibia maiores qualidades acadêmicas e o fazia parecer mais bonito.

Click!

Fechou o relógio de bolso e colocou no bolso interno, pegou então sua bengala e escondeu o revólver. Pegou a carruagem pública e chegou à rua Zouteland.

No momento em que entrou na Companhia de Segurança Blackthorn, ele percebeu que estava tão acostumado ao estilo de vida anterior que havia esquecido de dar dinheiro extra a Melissa, fazendo com que ela caminhasse para a escola.

Balançando a cabeça, ele tomou nota antes de entrar. Viu a garota de cabelos castanhos, Rozanne, fazendo café. Um aroma rico permeou todo o escritório.

— Bom dia, Klein. O tempo está ótimo hoje — cumprimentou Rozanne com um sorriso. — Para ser franca, sempre tive curiosidade. Nesse clima, vocês não se sentem quentes vestindo esses ternos formais? Eu sei que o verão de Tingen não é tão quente quanto o do Sul, mas ainda assim é verão.

— É o preço do estilo — respondeu Klein com humor. — Bom dia, senhorita Rozanne. Onde está o Capitão?

— No lugar de sempre. — Rozanne apontou para dentro.

Klein assentiu, atravessou a divisória e bateu na porta do escritório de Dunn Smith.

— Entre. — a voz de Dunn era profunda e suave como de costume.

Quando viu Klein, que parecia bem diferente em um belo traje formal, assentiu e seus olhos cinzentos sorriram.

— Já decidiu? — ele perguntou.

Klein respirou fundo e respondeu seriamente:

— Sim, eu me decidi.

Dunn sentou-se devagar. Sua expressão ficou solene, mas os profundos recessos de seus olhos cinzentos permaneceram os mesmos.

— Diga-me sua resposta.

Klein respondeu sem hesitar:

— Vidente!

 


 

Tradução: Lodis

Revisão: MoriSan

 

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