Liberte Aquela Bruxa – Vol. 04 – Cap. 677 – O Reencontro Prometido

Apesar de terem se atrasado bastante caminhando pela floresta, a viagem havia sido tranquila.

Com apenas três dias, Yorko encontrou uma equipe de soldados do Reino de Castelo Cinza próximo da fronteira. Eles usavam uniformes especiais de couro e portavam rifles nas costas, o que claramente revelava a identidade deles.

Yorko logo entendeu o que havia acontecido quando se encontrou com o Duque Kant após seguir a equipe de soldados e retornar à Cidade de Noite Eterna. Após receber a carta de Hill, Sua Majestade Roland havia enviado duas cartas confidenciais. Uma delas ordenava que o pelotão do Primeiro Exército estacionado na Vila do Vale Profundo se dividisse em quatro tropas e entrassem no Reino do Alvorecer pelas quatro rotas principais da fronteira, com o objetivo de auxiliar a retirada do grupo de diplomacia. A outra carta pedia que o Duque da Região Norte se preparasse para uma possível guerra. Ou seja, começar a preparar materiais como grãos, algodão e carruagens. Quando o exército principal chegasse na Região Norte, eles poderiam declarar guerra ao Reino do Alvorecer.

Felizmente, o grupo de diplomacia havia retornado em segurança.

O Duque deu um longo suspiro de alívio quando soube disso. Yorko se sentiu lisonjeado.

Mas o que mais tocou ele foi como seu velho amigo, Roland, havia reagido a tudo isso.

Embora as bruxas fossem muito importantes, Roland ainda assim havia colocado o nome do embaixador, Yorko, no topo da lista. Ele sentiu que esse ato havia compensado todo o sofrimento e experiências assustadoras que ele havia passado.

Yorko escreveu uma longa carta contando tudo o que havia acontecido durante o processo de retirada. Ele entregou a carta ao Duque, que posteriormente enviaria para Sua Majestade. Ele esperava que Sua Majestade pudesse dar um fim às tensões militares na Região Norte. Neste momento, ele soube que o que Hill havia dito era verdade. Sua Majestade realmente levava tudo isso muito a sério.

Ademais, ele trial bastante impressionado com a velocidade de resposta do Primeiro Exército. Além do tempo recorde que os pombos-correios entregavam as cartas, o exército, que também estava responsável por defender a Região Norte contra um possível ataque da força restante da Igreja ou de bestas demoníacas, havia conseguido realizar a operação no mesmo dia em que recebeu a ordem. Pelo que ele sabia, se os nobres quisessem fazer algo desse tipo, eles demorariam mais de quinze dias só convocando os cavaleiros, mercenários e pessoas livres, que dirá dividi-los em grupos menores para realizar missões. Assim que as tropas se espalhassem sem muita supervisão, muitos mercenários pagos de antemão desapareceriam após o primeiro dia.

Talvez este fosse o motivo pelo qual seu velho amigo, Roland, havia conseguido conquistar a Cidade Real de Castelo Cinza em apenas um dia.

Neste momento, Yorko entendeu vagamente que a força militar de Sua Majestade era muito melhor que a dos outros nobres, não apenas em termos de armas, como também em todos os aspectos.

Mesmo sendo apenas um embaixador, ele não havia sido abandonado. Todo o reino havia apoiado ele com unhas e dentes. Ele se sentiu eufórico ao pensar nisso, como se uma chama tivesse acendido em seu peito.

Agora, a única preocupação de Yorko era Número 76.

De acordo com a promessa que ele havia feito a ela, a primeira pessoa que chegasse no destino penduraria uma bandeira de quatro cores num local visível. O Duque Kant, quando soube disso, ordenou que seus homens procurassem por todo canto da Cidade de Noite Eterna, mas, no fim, não conseguiram encontrar nenhuma bandeira desse tipo, o que significava que Número 76 ainda não havia chegado. Agora que ele estava morando numa casa preparada pelo Duque, Yorko colocou um mastro com uma bandeira de quatro cores logo à frente da casa. Assim que Número 76 entrasse na cidade, ela imediatamente veria a bandeira e os encontraria.

Na verdade, ele não era o único que estava preocupado com Número 76. Pela janela, Yorko frequentemente via Annie e Amy sentadas abaixo do mastro, esperando pelo retorno de Número 76. Já que agora eles se conheciam melhor, Annie gradualmente havia mudado a atitude dela em relação a ele. Pelo menos, ela agora não olhava mais para ele com tanta desconfiança.

Os homens de Hill haviam conversado com ele diversas vezes, querendo que ele fosse logo para a Região Oeste. Mágico havia falado para ele que as chances de Número 76 estar viva eram mínimas. Se ela tivesse conseguido de fato escapar dos cavaleiros, ela deveria ter sido a primeira a chegar na Cidade de Noite Eterna, já que ela provavelmente viria de cavalo. Mas ela ainda não havia chegado, o que muito provavelmente indicava que ela já estava morta.

Yorko sabia que Mágico estava certo, mas ele queria esperar por mais alguns dias devido às palavras que Número 76 havia dito antes.

“Após essa trial, eu vou me reencontrar com vocês lá na fronteira do Reino de Castelo Cinza. Então, por favor, esperem por mim.”

Após se separarem, Yorko finalmente descobriu por que havia sentido aquela sensação estranha.

Embora Número 76 fosse uma escrava, ele nunca havia tratado ela como uma escrava, nem nos Mercadores Negros, nem no Reino do Alvorecer.

Yorko havia decidido que, se ela voltasse viva, ele daria a liberdade a ela.

Mas parecia que já era tarde demais.

Mais três dias se passaram. Quando ele já estava quase desistindo, as coisas de repente melhoraram. Uma carruagem parou ao lado do mastro de bandeira. O cocheiro parecia muito nervoso e queria perguntar algo para os guardas, mas estava com medo. Yorko assistiu tudo pela janela, e antes mesmo que ele pudesse sair, Annie e Amy se aproximaram da carruagem.

Número 76 voltou!

A notícia logo se espalhou, e até o Duque Kant, por pura curiosidade, veio para ver a brava criada que havia se sacrificado pelo grupo.

Mas a condição dela não era nada boa.

Olhando para Número 76, Yorko notou que havia diversas contusões espalhadas pelo corpo dela. Ela não conseguia se mover, pois o pé esquerdo e mão direita dela estavam quebrados.

— Senhor… — Número 76 sorriu fraca e levemente. — Obrigada por esperar por mim.

De repente, ele se sentiu completamente aliviado.

— Estou feliz que você tenha voltado.

Eles, depois disso, permaneceram na Cidade de Noite Eterna por mais uma semana até que a condição de Número 76 ficasse estável. Em seguida, eles foram para a Vila do Vale Profundo, onde embarcaram num navio e partiram em direção à Região Oeste.

Nos dias seguintes, Yorko soube o que havia acontecido com Número 76.

Os cavaleiros haviam alcançado ela antes do pôr do sol. Para ganhar tempo, ela desamarrou os cavalos e os fez correr na direção dos cavaleiros, conseguindo atrasá-los. Ao mesmo tempo, ela tentou fugir pelas montanhas. Mas no meio do caminho, ela se deparou com um cânion¹Cânions são vales profundos com encostas quase verticais, que podem se estender por centenas de quilômetros e atingir até 5 mil metros de profundidade. São criados, principalmente, a partir da atividade erosiva de um rio. Aqui em LAB, ele se parece com esse da imagem que anexei ao texto, só que menor., no qual um riacho passava no fundo.

Considerando que ela morreria após ser capturada, ela decidiu pular no cânion, que tinha aproximadamente trinta metros de altura. Felizmente, havia muitos galhos e cipós entre as paredes do cânion, que amaciaram a queda, caso contrário, ela teria sido esmagada pelo impacto. Porém, durante a queda, o corpo dela acabou batendo numa pedra da parede do cânion, quebrando a mão direita e o pé esquerdo dela e fazendo-a desmaiar logo em seguida. A sorte dela foi ter caído à margem do riacho, senão ela teria morrido afogada.

Os cavaleiros pararam de persegui-la, provavelmente porque não conseguiram encontrar um caminho seguro para descer, ou porque pensaram que ela já estava morta. Ela só acordou quando já era quase meia-noite. Toda vez que sentia sono, ela molhava o rosto com a água gelada do riacho para se manter acordada. De vez em quando, ela também conseguia pegar um peixe pequeno para comer.

Dois dias depois, pescadores locais acharam ela e a salvaram.

Salvadora conseguia remover a dor, mas não curar ferimentos e contusões. Neste momento, eles precisavam ir para a Região Oeste e ver se havia bruxas que podiam curá-la.

De todo modo, ela havia voltado em segurança!

Satisfeito, Yorko desfrutou da brisa enquanto o navio, com suas velas sendo sopradas pelo vento, navegava em direção à Cidade de Primavera Eterna.