Liberte Aquela Bruxa – Vol. 04 – Cap. 668 – Astrólogo Estrela da Dispersão

— É sobre a profecia da Lua Sangrenta? — Estrela da Dispersão se sentou.

— Bem, também vamos falar disso. Já que você tocou nesse ponto, vamos começar com a profecia então. — O jovem rei se levantou e encheu uma xícara de chá para o astrólogo, que ficou totalmente chocado por tamanho ato de humildade. Aparentemente, Roland era bem mais fácil de conversar do que Timothy.

— A Lua Sangrenta existe há mais de mil anos, quando não havia o Reino de Castelo Cinza, nem a família Wimbledon.

— Mas Vossa Majestade, os registros mostram que temos apenas 450 anos de história…

— A parte que falta da história foi apagada de propósito por alguém. — Roland se sentou numa posição mais confortável e continuou: — É uma longa história. Então se prepare para ouvir bastante.

O que o astrólogo ouviu em seguida foi totalmente incrível e assustador.

A história o trouxe para as Terras Selvagens e as Terras do Amanhecer de 1000 anos atrás, quando os demônios e os humanos tiveram uma batalha prolongada de vida ou morte. A história também falou sobre a Lua Sangrenta, o Império das Bruxas, a origem dos Quatro Reinos e da Igreja… Se essas palavras não tivessem saído da boca do rei, Estrela da Dispersão definitivamente teria falado que essa história não passava de um absurdo, uma loucura.

Pela expressão no rosto de Roland, Estrela da Dispersão sabia que o rei estava falando aquilo com extrema seriedade.

Depois que Roland terminou de contar toda a história, Estrela da Dispersão se sentiu sufocado. Antes, ele acreditava firmemente que o dia do juízo final era simplesmente uma punição de Deus. O tremor dos mares, as grandes fendas que se abririam na terra, o fogo subterrâneo e os raios que viriam do céu, apesar de assustadores, não poderiam destruir completamente a civilização humana. Contanto que os homens se preparassem de antemão, boa parte das cidades conseguiria sobreviver às catástrofes.

Mas de acordo com Sua Majestade, a Lua Sangrenta era um sinal que anunciava o início da guerra contra os demônios.

Parecia que a guerra entre seres humanos e demônios havia durado mais de mil anos. Os seres humanos foram derrotados duas vezes, e se perdessem a terceira, seriam completamente eliminados da terra.

— Vossa Majestade… — Estrela da Dispersão quase perdeu a voz. — Como o senhor sabe de tudo isso?

Roland levantou dois dedos.

— O Império das Bruxas e a Igreja. Ambos têm a ver com o surgimento dos Quatro Reinos, incluindo o Reino de Castelo Cinza. Eu também encontrei demônios no fim da Floresta das Brumas. Eles são, claramente, de uma espécie diferente, e já desenvolveram sua própria civilização e exército.

— E… o que é o Sorriso das Divindades?

— Ninguém sabe. Talvez descubramos a verdade após a Batalha da Vontade Divina.

Estrela da Dispersão ficou em silêncio. Ele não tinha certeza se deveria acreditar ou não nessa narrativa mirabolante, mas logo percebeu que toda essa história tinha ligação direta com o futuro do Reino de Castelo Cinza e, também, com a prosperidade da Família Wimbledon. Como rei, Roland não tinha motivos para mentir.

Não havia razão para ele fazer isso.

Supondo que tudo o que Roland disse foi verdade, isso então explicaria por que Sua Majestade confiava tanto nas bruxas.

Supondo que o poder das bruxas não vinha dos demônios, então naturalmente elas não eram inimigas da humanidade.

Sob essa nova ótica, o rumor sobre a inocência das bruxas que circulava na antiga Cidade Real de Castelo Cinza era somente a ponta do iceberg. Sem dúvida alguma, foi bastante inteligente da parte de Sua Majestade revelar apenas uma fração da verdade e manter a outra parte oculta, já que isso poderia espalhar pânico pela multidão.

A única coisa que Estrela da Dispersão não conseguia entender era como a Lua Sangrenta tinha alguma relação com os Portões do Inferno.

— Vossa Majestade, o que eu posso fazer pelo senhor?

Vagamente, Estrela da Dispersão ficou ciente de que o motivo pelo qual Sua Majestade havia pedido incontáveis vezes para que os astrólogos viessem à Região Oeste não estava relacionado a serviços astrológicos. Roland aparentemente sabia muito mais sobre a Estrela da Extinção do que qualquer um dos astrólogos. Se Estrela da Dispersão não tivesse sido informado sobre esse segredo hoje, ele provavelmente nunca saberia o que havia acontecido mil anos atrás.

— É sobre isso que eu quero conversar com você agora. Talvez isso seja até mais importante que o segredo que eu acabei de lhe contar. — Roland respondeu com um sorriso, pegou um livro que estava em cima da mesa e o deu para Estrela da Dispersão. — Dê uma olhada nisso primeiro.

Estrela da Dispersão pegou o livro e notou que o título da capa era composto por uma combinação de palavras que ele nunca tinha visto antes.

— Geometria… Analítica?

As palavras eram difíceis de pronunciar. Surpreendentemente, essas palavras tinham uma cor azul que poderia ser produzida apenas com pigmentos caros e de boa qualidade.

— Vá lendo com calma. Não se incomode se você não entender de primeira. Você ainda precisará aprender muitas coisas no futuro.

Embora a luminosidade do escritório de Roland fosse relativamente decente, ainda não podia se comparar com a luz do dia. Portanto, Estrela da Dispersão se sentia relutante em ler o livro imediatamente, já que a leitura à noite poderia danificar os olhos.

Como astrólogo, ele deveria cuidar bem de seus olhos.

Porém, Estrela da Dispersão não queria rejeitar o pedido do rei diretamente e correr o risco de enfurecê-lo. Então, ele decidiu dar apenas uma lida rápida agora e deixar para ler com mais calma amanhã.

Seus olhos, contudo, ficaram grudados no conteúdo do livro depois que ele leu o prólogo na primeira página.

— Descrever a órbita dos objetos com fórmulas aritméticas? Calcular uma órbita inteira apenas com alguns parâmetros-chave?

Depois disso, Estrela da Dispersão viu uma espécie de cruz, com uma linha na horizontal e outra vertical, cruzando-se no centro. Na ponta da linha horizontal, havia um X; já na ponta da linha vertical, um Y¹Famoso plano cartesiano. Ele chama de “cruz” porque nunca viu um plano cartesiano antes.. Em cada “cruz”, havia um “desenho” diferente. Em uma delas, o “desenho” era apenas uma linha reta na diagonal²Reta – Equação do Primeiro Grau.; numa outra, era uma curva em forma de U³Parábola – Equação do Segundo Grau.. Havia algumas também com formas bastante peculiares. A atenção de Estrela da Dispersão logo foi fisgada pela tal “fórmula aritmética” ao lado de um dos desenhos, cuja forma era um círculo.

A “fórmula” continha símbolos estranhos, como um tal de “+” e outro “=”. Estrela da Dispersão não tinha a mínima ideia do que essa fórmula representava, mas de algum modo ele conseguiu sentir a “beleza” dela⁴Só lembrando que os astrólogos são muito bons em contar e estimar valores, mas ainda estão desacostumados com os “símbolos matemáticos” usados por Roland. Isso é questão de adaptação.. Cada símbolo possuía um charme único e estava em perfeita harmonia com os outros.

Embora a forma de cada “desenho” fosse distinta, não havia muita diferença em suas respectivas “fórmulas aritméticas”.

Uma ideia de repente passou pela mente dele.

Será que qualquer forma neste mundo pode ser descrita por uma fórmula aritmética correspondente?

O astrólogo passou para a segunda página, animado.

Quando Estrela da Dispersão fechou o livro, seu pescoço já doía. Evidentemente, havia levado mais de uma hora para ele ver todo o conteúdo do livro. Durante esse tempo, Roland voltou ao trabalho e não o interrompeu uma única vez.

— Sinto muito, Vossa Majestade. Eu…

— Terminou? — Roland olhou para ele e sorriu. — Aposto que teve muitas coisas que você não entendeu.

— Sim. Eu não me recordo de nenhum mentor da corte que tenha te ensinado esses… esses símbolos e “fórmulas”… — Dos dez mentores da corte, nove eram da Associação de Astrologia. Contudo, o que Sua Majestade havia escrito nesse livro era algo totalmente inédito. — O livro é muito interessante, mas eu não consigo entender muito bem essas fórmulas complicadas de conversão.

— É porque você ainda não aprendeu equações. Você tem que aprender equações primeiro para depois aprender geometria analítica. — O rei pegou uma pilha de livros e os deu para o astrólogo. Os títulos desses livros também eram difíceis de pronunciar.

As mãos de Estrela da Dispersão começaram a tremer.

— Posso levá-los para casa?

— Claro. — Roland assentiu com a cabeça. — Na verdade, eu quero que não apenas você, mas todos os astrólogos e estudantes da associação aprendam isso. — Após uma breve pausa, Roland continuou: — A segunda coisa que quero que você saiba é que você não precisa se preocupar muito com a Lua Sangrenta. Quando vocês compreenderem todo o conteúdo dos livros, a Associação de Astrologia terá um papel importante na guerra contra os demônios. Esses livros servem apenas para preparar vocês. Após isso, vocês receberão conteúdos ainda mais profundos e complicados. Ao compreendê-los, vocês não apenas conseguirão calcular a órbita de um objeto em movimento, como também a de cada estrela no céu, e de tudo o que você vê neste planeta. O que você acha? Você está disposto a aceitar esse desafio?

— Sim, eu estou disposto, Vossa Majestade!

O Astrólogo Estrela da Dispersão rapidamente deu uma resposta afirmativa, esquecendo-se completamente de que, há pouco tempo, ele havia ficado desanimado com a falta de interesse de Roland pela Estrela da Extinção.

Ele agora tinha em mãos a arma que o permitiria calcular a órbita de milhares de estrelas.

O jovem rei, enquanto isso, sorria. O sorriso era tão estranho que fez Estrela da Dispersão lembrar daqueles caçadores que observavam a presa cair lentamente na armadilha.

— Ótimo! Mas por favor, não fique desanimado se você não conseguir entender de início. Vai ser difícil, e é perfeitamente normal que você, ou melhor, vocês enfrentem alguns obstáculos. Mas acredito que vocês logo logo conseguirão aprender.