Liberte Aquela Bruxa – Vol. 04 – Cap. 560 – Descobrindo a Verdade

Roland estava debatendo que tipo de arma incendiária era mais fácil de fabricar quando um guarda entrou.

— Vossa Majestade, os embaixadores da Região Norte solicitaram uma audiência.

Faz apenas um dia… — Roland pensou, sentindo-se um pouco surpreso — Eles estão planejando recusar minha oferta diretamente, sem que o Duque saiba?

— Traga-os para a sala de estar. — Roland instruiu depois de um silêncio momentâneo — Além disso, peça a Carter que bloqueie todas as saídas para o Edifício de Relações Exteriores e impeça a delegação de emissários de irem embora.

— Sim, Vossa Majestade.

Caso eles se recusem a concordar com suas políticas, não lhe restava escolha senão detê-las à força.

Quando Roland entrou na sala de estar, ele notou que o par do outro lado da mesa havia mudado de lugar. A mulher, que alegou ser a assistente de Cole, estava sentada no assento do convidado de honra, enquanto Cole estava sentado ao lado dela com um livro na mão.

— Majestade, sou a primeira filha do Duque da Cidade de Noite Eterna, Edith Kant, irmã de Cole. Por favor, aceite os melhores cumprimentos da Família Kant. — A mulher levantou-se e fez uma reverência perfeita — Por favor, perdoe Cole por não me apresentar durante a nossa primeira reunião.

— Filha de Calvin? — Roland ficou intrigado com essa reviravolta e, depois de uma breve pausa, disse — Então você é a verdadeira líder da delegação de emissários?

— Sim. — Edith colocou a mão no peito — Meu pai me autorizou a agir em seu nome em relação a todos os assuntos relacionados a esta visita e também me deu seu selo.

Era bastante raro uma mulher participar de assuntos políticos nesta época, especialmente para uma mulher jovem e bonita. A julgar pela expressão confiante de Edith, Roland percebeu que, evidentemente, não era a primeira vez que ela lidava com chefes de Estado. Todas as características de seu comportamento eram impecáveis. Quanto a esconder sua verdadeira identidade, Roland sabia que era apenas um pequeno truque para chamar sua atenção. Não foi um ato deliberado de ocultação ou engano, mas apenas um disfarce para enganar a outra parte. A maioria dos nobres via isso como uma jogada ousada e divertida, que ele teve que admitir que foi realmente eficaz.

— Em outras palavras, você pode tomar a decisão em nome do seu pai?

— Sim, Vossa Majestade. Para ser mais precisa, ele seguirá meu conselho.

Essa é uma resposta confiante. — Roland pensou, enquanto se divertia vendo Cole coçando a cabeça ao lado da irmã.

— Tudo bem! Então, Senhorita Edith, qual é o seu propósito nesta reunião?

Roland pensou que ela recusaria educadamente seus termos ou o impediria de implementar as novas leis usando uma tática mais “divertida”, mas ele não esperava vê-la tirando um livreto da mochila e abrindo-o sobre a mesa. Esse era o livreto exato que ele havia redigido.

— Eu tenho algumas perguntas a fazer. — Edith foi direto ao assunto — O senhor disse que os nobres feudais serão obsoletos à medida que o poder centralizado aumentar. No entanto, como o senhor garantirá a gestão eficaz de todas as autoridades locais do Reino sem a assistência de nobres?

Ela está… planejando discutir política comigo? — Roland pensou.

Pelo seu olhar sincero, Roland sabia que ela estava falando sério. Fazia muito tempo desde que ele ouvira uma pergunta tão interessante.

— A garantia de uma gestão eficaz se dará com pessoas e com o desenvolvimento de tecnologias. — Roland respondeu, após refletir por um longo tempo.

— O senhor está se referindo aos homens livres? E o que seria esse “desenvolvimento de tecnologias”?

— Sobre a primeira pergunta, a senhorita está correta. Refiro-me a uma equipe administrativa treinada, paga e desembolsada pela Prefeitura. Como a Prefeitura fornecerá mão-de-obra e equipamentos necessários, os administradores não precisam ter grandes propriedades ou mão-de-obra em demasia. Portanto, o fato de serem nobres ou não, definitivamente não importa…

Roland começou a explicar como deveria ser um governo centralizado e como as pessoas comuns poderiam ser promovidas, bem como o significado prático das tecnologias no controle de domínio. Levou uma hora para detalhar tudo.

— E como o senhor pretende evitar que os administradores da capital deixem de cumprir seus deveres? Como será o comércio após a unificação do Reino de Castelo Cinza? O senhor irá realmente avaliar o desempenho de suas políticas com produtividade? E…

Os olhos de Edith brilhavam de excitação enquanto ela levantava mais e mais perguntas. Já era meio-dia quando eles finalmente encerraram a conversa. Edith suspirou, então aliviada.

— Creio que entendi. O senhor considerou todos os detalhes antes de escrever a declaração de abertura no livreto.

Roland tomou um gole do chá com satisfação. Como uma pessoa que não se formou em ciência política, por sorte, os tópicos de política que Edith levantou foram bem direcionadas aos campos que ele dominava.

— Muito obrigada pelo seu tempo, Vossa Majestade. Não esperava que o senhor respondesse minhas perguntas com tantos detalhes.

— O requisito básico de uma Prefeitura na nova era é divulgar as políticas e permitir que todos tenham uma compreensão abrangente de seu conteúdo. Somente dessa maneira é que as coisas irão bem quando tratamos de sua implementação.

Edith assentiu com aprovação e depois mudou de assunto.

— O senhor poderia fornecer à Região Norte equipamentos e trabalhadores para a fabricação de motores a vapor?

— Receio não poder fornecer os trabalhadores, já que a Cidade de Primavera Eterna também está com falta de mão-de-obra. Mas você pode enviar seus homens para estudar aqui, desde que os nobres da Região Norte renunciem a seus direitos feudais e concordem em ficar sob a supervisão da Prefeitura.

— O senhor também os ensinará a fabricar os navios a vapor que navegam com rodas de pás?

— Mas é claro. Contanto que eles estejam dispostos a pagar as peças de ouro, isso não será um problema. No entanto, será difícil mudar a linha de produção para o norte em um curto período sem a assistência de bruxas.

— Estou muito surpresa com sua honestidade, Vossa Majestade. — Edith meditou por um tempo — Mas há uma coisa que eu não compreendi direito. De acordo com o seu plano, o senhor pode facilmente unificar todo o Reino de Castelo Cinza em dez anos. Até então, as novas políticas não enfrentarão nenhuma reação do público e o senhor realmente não precisará se preocupar com nossas opiniões. Por que o senhor está tão ansioso para implementar essas novas leis?

Roland ficou calado. Demorou um tempo para responder.

— Você quer mesmo saber a razão?

Edith não esperava que ele falasse em um tom tão sério, então sua maneira também se tornou formal.

— Sim, por favor.

— Venha comigo. —  Roland levantou-se — Eu vou te mostrar uma coisa.

Roland levou Edith para o quintal nas sombras das árvores e a levou para o galpão de madeira no centro da floresta de oliveiras.

Um demônio, cujos membros haviam sido amputados, estava deitado sobre uma mesa comprida. Havia todo tipo de frascos e vidrarias empilhados ao redor dele. Agatha estava colhendo suas amostras de sangue para concluir a etapa final da preparação.

— Meu Deus, o que é… isso? — Edith gritou em voz baixa, incrédula, mas Roland percebeu que ela estava simplesmente chocada. Ela não estava com medo.

— Eu deveria ter trancado o galpão e pedido a Ramos que cercasse o quintal inteiro. — Agatha franziu a testa — Não me diga que planeja permitir que pessoas comuns participem da fabricação de Sigilos? Se eu estivesse integrando a Pedra da Retaliação Divina, provavelmente já teria falhado.

— Claro que não. Nós não vamos ficar aqui por muito tempo. — Roland tossiu para esconder seu constrangimento e depois se virou para Edith — A criatura que você está vendo é de uma raça diferente. É o que as pessoas chamam de demônio. Eles vivem ao norte da Cordilheira Intransponível e também são os maiores inimigos que os seres humanos devem enfrentar. A guerra entre os demônios e a humanidade não tem nada a ver com domínios ou riqueza, mas com vida e morte.

— Demônio? Uma guerra de vida e morte? — Edith murmurou involuntariamente.

— Isso. É uma longa história que a Igreja tem mantido em segredo. Ela pode ser datada de mil anos atrás, quando as pessoas a chamavam de Batalha da Vontade Divina.