A masmorra do palácio era um pesadelo de infância para o antigo Príncipe Roland. O sentimento naturalmente retornou enquanto ele estava descendo os degraus de pedra.
Ele começou a perscrutar em suas memórias e logo encontrou o motivo para todo esse medo.
Um dia, Timothy convidou Gerald, Garcia e o pequeno Roland para explorarem juntos a parte mais funda da masmorra sob o salão do palácio. Roland, com doze anos de idade, estava muito empolgado por finalmente ter a chance de fazer alguma coisa com seus irmãos, mas nunca esperou o que aconteceria em seguida. Timothy roubou as chaves dos guardas, trancou Roland em uma cela e foi embora com Gerald e Garcia.
O pequeno Roland ficou sozinho na cela escura. Ele estremecia com os gritos estridentes que ocasionalmente ouvia. Um guarda lhe dissera uma vez que aqueles gritos eram as lamúrias dos fantasmas do mundo subterrâneo sob o palácio. Seus dentes rangiam de medo, mas ele não ousou gritar pedindo ajuda, pois tinha medo de atrair os fantasmas. Por fim, ele se encolheu num canto, abraçou os joelhos e apertou o rosto contra eles, soluçando incontrolavelmente. Quando Timothy, Gerald e Garcia voltaram para checar o quão terrível ele estava, seu rosto estava coberto de ranho.
Depois disso, o Príncipe Roland ficou com muito medo de voltar à masmorra do palácio.
Roland agora entendia que os lamentos e os gritos não vinham de fantasmas, mas dos prisioneiros sendo interrogados e torturados na masmorra. A prisão não podia conter muitos prisioneiros, o que explicava por que o pequeno Roland só conseguia ouvi-los de vez em quando.
Roland encontrou Timothy Wimbledon em uma pequena cela no andar de baixo da masmorra. Comparado com as outras duas prisões no centro e na periferia da cidade, o lugar era muito bom. Pelo menos estava seco e limpo, sem ratos, baratas ou fedido. Esta era a cela exata onde o pequeno Roland esteve trancado e chorou por uma noite inteira.
Ironicamente, agora Timothy trocou de posição com Roland.
Ouvindo ruídos inesperados, Timothy, sentado silenciosamente contra a parede, abriu os olhos e viu Roland.
Esse irmão, que o Príncipe Roland mais temia no passado, parecia quase o mesmo de antes. Como todos os outros descendentes da Família Wimbledon, ele tinha olhos cinzentos e cabelos grisalhos. Ele se parecia com seu pai, com cabelo curto e encaracolado e tinha o nariz e rosto bonitos de seu pai. No entanto, seus olhos longos e estreitos deixavam seu rosto com um ar terrível, especialmente na luz bruxuleante da tocha.
O Príncipe Roland nunca se atreveu a olhar nos olhos de seu irmão antes, mas agora, Timothy era apenas um estranho fraco e indefeso.
Eles olharam um para o outro por um tempo, durante os quais nada podia ser ouvido, exceto os sons ardentes das tochas. Finalmente, Timothy não pôde mais manter seu rosto sem expressão e desistiu de tentar dominar Roland com uma atitude agressiva, pois descobriu que agora era inútil. O olhar nos olhos de Timothy mudou, e de alguma forma ele parecia estar aterrorizado.
— Quem diabos é você? — Timothy quebrou o silêncio.
Sua voz seca e aterrorizada reverberou na masmorra, e Roland podia facilmente dizer que seu irmão estava com medo. Comparado a Tilly, Timothy teve mais interações com o Príncipe Roland e contribuiu muito para seus comportamentos irritantes e volúveis anteriores. Ele achava que era natural que Timothy visse algo diferente em Roland agora e fizesse essa pergunta, já que o conhecera melhor que os outros irmãos.
— Eu sou Roland Wimbledon. — Roland disse enquanto se agachava até que seu rosto estivesse no nível de Timothy e olhou em seus olhos — Você não lembra de mim?
— Não, você não é ele. — Timothy disse em uma voz trêmula — Ele nunca poderia olhar para mim desse jeito. Ele jamais ousou olhar diretamente nos meus olhos. — Ele ofegou pesadamente e continuou — Entendi… você é o verdadeiro demônio! Você não foi tentado por demônios. Você é o mal encarnado, querendo roubar meu reino!
Roland nem queria se incomodar em explicar qualquer coisa a um moribundo como Timothy, então disse:
— É mesmo? Você acha que é melhor que os demônios? Você matou nosso pai, enquadrou nosso inocente irmão mais velho e depois o executou para manter o trono que roubou. Você colaborou com a Igreja, instituição essa que nosso pai odiava de todo o coração. Você compeliu pessoas inocentes a invadir o domínio da Princesa Garcia e não quis nem poupar seu irmão mais fraco e impotente, o Príncipe Roland. Em apenas um ano, você conquistou e destruiu muitas cidades, arrastando todo o reino para o caos e deixando milhares de pessoas desabrigadas e passando fome. Até mesmo os demônios não fariam isso!
Timothy apressadamente refutou:
— Não! Eu não matei nosso pai. Ele se matou. Assim como você, ele era controlado por demônios!
— Se matou? — Roland perguntou, franzindo a testa.
— Sim! Ele estava deitado na cama como de costume e colocou uma adaga em seu coração com um sorriso no rosto! — Timothy respondeu.
— Não era uma bruxa? — Roland questionou.
— Não, ele usava uma Pedra da Retaliação Divina! Porra… — Timothy gritou com voz rouca e acrescentou com a voz embargada — Aconteceu sem nenhum aviso e eu não consegui pará-lo!
Roland olhou para Rouxinol, que assentiu levemente para ele.
Deve ter sido a habilidade de uma bruxa do tipo vínculo. Uma vez que ela utilizou sua habilidade, o efeito não poderia mais ser desfeito pela Pedra da Retaliação Divina. — Roland pensou — E ao contrário de bruxas de outras organizações, as bruxas purificadas da Igreja poderiam encontrar uma chance para aproximarem-se do Rei.
Roland relembrou rapidamente um incidente que aconteceu há meio ano quando estavam evacuando os refugiados. Uma bruxa conseguiu se infiltrar nos campos para assassinar Wendy, devido à sua habilidade de mudar sua aparência. Conectando esse incidente ao que aconteceu com o Rei Wimbledon III, ele achou que a resposta estava clara.
Se a Igreja fosse a responsável por estes incidentes, também poderia explicar o motivo do Decreto Real sobre a Seleção do Príncipe Herdeiro, que visava claramente criar guerras e caos. Ele ainda precisava de alguém para confessar essa especulação e acreditava que iria conseguir algo do Sumo Sacerdote da capital.
— Mas isso não justifica o fato de você ter matado Gerald e ter expandido a guerra. — Roland disse com uma voz séria — Você conspirou com a Igreja e usou as pílulas da loucura para criar soldados enlouquecidos. Você já pensou em quantas pessoas morreram por causa dos seus atos?
— Mesmo se eu não usasse as pílulas, quem poderia garantir que Garcia não as usaria? Se ela tivesse me reconhecido como o legítimo herdeiro desde o início, por que eu a destruiria impiedosamente? — Timothy tentou se explicar enquanto se arrastava para segurar as grades — E o que tudo isso tem a ver com um demônio como você? Como diabos você quer lidar comigo?
— Irei expor seus crimes, julgá-lo e depois mandá-lo para a guilhotina. Você acabará como Gerald, exceto se for provado que é culpado de crimes imperdoáveis pelos quais nem a pena de morte é suficiente para servir à justiça. — Roland disse.
— Não! Você não pode me matar. Demônios como você nunca podem ficar na luz, já que divindades poderosas vão acabar com você. Se você quiser o Reino de Castelo Cinza, precisará de mim! — Timothy gritou.
— Divindades? — Roland sorriu — Você está se referindo à Igreja?
— Você não os conhece! A força oculta da Igreja é insondável. Há coisas incríveis que o pai escreveu em suas anotações e são a razão pela qual ele não conseguiu banir a Igreja do reino em toda a sua vida! — Timothy gritou — As pílulas são apenas um dos seus métodos formidáveis. Se eles descobrirem a sua identidade, não haverá escapatória para você!
— Não, Timothy Wimbledon. Eu sei muito mais do que você pensa e, acredite, tenho uma ideia clara do caminho a seguir. É uma senda difícil e você não tem a capacidade de levar as pessoas a um futuro brilhante. — Roland disse devagar — Sua vida deve terminar aqui pelos crimes que cometeu. Mas, relaxe, você não é o único que vai para o inferno.
Com essas palavras, Roland levantou-se e saiu da prisão, deixando Timothy chorando sozinho, sem sequer virar a cabeça.
Tradução: JZanin
Revisão: Kabum
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