Liberte Aquela Bruxa – Vol. 03 – Cap. 397 – Análise

Ao ouvir a notícia, Roland ficou chocado.

Saindo às pressas logo após Ramos, ele não quis questioná-la ainda mais até que chegassem ao quintal do castelo. Quando ele saiu do castelo, viu Raio arrastando dois demônios mortos das costas de Maggie.

— Vossa Alteza, veja só, nós vencemos! — Vendo o Príncipe, a menininha pulou direto para os braços de Roland — Nós derrotamos os demônios!

— Ninguém se feriu? — Roland perguntou.

— Não, todo mundo está bem. — Raio olhou para cima, com os olhos brilhando, ansiosa e esperançosa para ser elogiada. Parecia um cachorrinho que balançava a cauda.

Roland suspirou. Vendo o olhar puro e alegre da garotinha, ele relutantemente não começou a apontar os erros de imediato. Então, em vez de perguntar por que ninguém relatou ter visto os demônios, ele decidiu dizer:

— Estou feliz que não tivemos feridos, mas o que aconteceu exatamente?

Todas as três bruxas responderam de uma só vez. Roland teve que ouvir por um longo tempo antes de conseguir juntar as peças sobre o que havia acontecido.

A maneira como elas contaram do ocorrido fez a luta parecer fácil e rápida. No entanto, houve muitos momentos que poderiam ter terminado em desastre. Se Maggie não tivesse sido capaz de resistir ao impacto da carga elétrica, ou se os demônios tivessem sido capazes de livrar-se das restrições de Ramos, as consequências seriam impensáveis.

— Você nunca mais vai fazer algo assim novamente. — Rouxinol não conseguiu mais ficar quieta e, ao sair da névoa, continuou — Deixe os demônios para nós. Com Sylvie, eles não têm como escapar.

— Mas nós vencemos! — Raio disse enquanto fazia beicinho.

— Eu chamo isso de sorte. Antes da luta, você sabia que Maggie seria atingida? — Rouxinol respondeu com seriedade — Eu te ensinei a usar uma arma para que você pudesse proteger suas irmãs e a mim. Em vez disso, você as arrastou para o perigo!

— Não… — Raio abaixou a cabeça resignada — Eu… estava errada.

— E você… — Rouxinol disse voltando-se para Maggie — Você deveria ter voado de volta e ter informado que avistou um demônio, mas o que você fez? Ficou e lutou. Se cometer um erro como esse de novo, não lhe darei mais peixe seco!

— Affeee…. — A cabeça de Maggie também caiu.

Quando se trata de segurança, Rouxinol é realmente a bruxa mais exigente de Vila Fronteiriça. — Roland pensou, dando a Rouxinol um olhar de aprovação. Então ele disse:

— Tudo bem, contanto que essa seja a primeira e a última vez. Agora vá e traga Tilly e Agatha até aqui. É hora de examinarmos nossos novos troféus.

No porão do castelo, no chão de pedra fria, havia dois corpos despidos, com suas roupas surradas e pequenos pertences empilhados ao lado deles.

— Então estes são os demônios? — Tilly perguntou enquanto cobria o nariz, na esperança de não sentir mais o fedor.

— Eles não parecem mais fortes do que as pessoas comuns. — Cinzas disse, contraindo a boca.

Agatha parecia um pouco insatisfeita com a declaração de Cinzas e respondeu:

— Não os subestime. Qualquer demônio é um adversário difícil, com ou sem poderes mágicos. Um demônio de alta patente ou até mesmo uma Transcendente usaria uma Pedra da Retaliação Divina. — Ela disse franzindo a testa, enquanto encarava Roland — Eles realmente apareceram perto da vila?

— Sim. Ramos disse que eles estavam a menos de dois quilômetros das muralhas. — Roland acenou com a cabeça enquanto olhava para os corpos expostos diante dele.

Os corpos dos demônios eram altos, com mais de um metro e oitenta, tinham membros fortes e poderosos, e a pele deles era de um tom azul claro. Um dos corpos parecia estar severamente mutilado e os órgãos podiam ser vistos esmagados em seu peito dilacerado. Parecia quase como se tivesse sido esmagado por um rolo compressor. Ao lembrar da história de Raio, Roland quase podia ver o tremendo impacto que causou o dano.

O outro corpo estava em melhores condições e os únicos danos visíveis eram dois buracos. Ele ainda podia ver o sangue azul escorrendo dos buracos. Dos quatro tiros que Raio desferiu, apenas dois atingiram sua marca e, felizmente, eles foram fatais.

O sangue azul faz todo sentido, já que os demônios não precisam de oxigênio como nós, então não necessitam de hemoglobina. Tecnicamente, o sangue dos demônios poderia ser de qualquer cor. — Roland pensou — E sua estrutura óssea maciça também condiz com o que sabemos, pois precisa suportar um corpo alto e robusto.

No entanto, o que deixou Roland confuso é que, apesar da notável semelhança com seres humanos, tudo parecia em ordem, menos os órgãos reprodutores.

— Como eles… se reproduzem? — Roland perguntou a Agatha com curiosidade — Eles não têm diferenças de gênero?

— Até onde me concerne, não, não tem. — Agatha disse balançando a cabeça — Até hoje é um mistério. Ninguém conseguiu chegar perto o suficiente da torre de Névoa Vermelha para descobrir. Há especulações de que eles nascem na torre e são formados pela névoa. No entanto, a Sociedade Expedicionária rejeitou essa hipótese alegando que os demônios estavam se regenerando e que todas as batalhas eram com os mesmos demônios, só que em diferentes formas. Eles chamavam isso de “fenômeno do aprimoramento de regeneração”.

Cinzas franziu a testa e perguntou:

— E o que isso significa?

— Alguns dos demônios que foram gravemente feridos por nossas bruxas apareceriam novamente no campo de batalha. Com base em seus ferimentos, podíamos dizer que eram os mesmos de antes, mesmo que suas formas tivessem mudado. Isso implica que demônios não nascem, mas provavelmente evoluem por meio de batalhas. Quando eles alcançam o aprimoramento completo, suas formas também mudam. — Agatha explicou.

— Bem… a tecnologia das pedras mágicas por si só já é preocupante, e agora o inimigo parece ter a capacidade de se aprimorar em batalha. Não me admira que eles tenham derrotado os seres humanos nas duas últimas Batalhas da Vontade Divina.

Roland se agachou para dar uma olhada mais de perto nas roupas e pertences empilhados dos demônios.

Felizmente, não parecia que tivessem algo que pudesse ser considerado avançado. Seus pertences, na verdade, pareciam um pouco fora da época. A roupa era uma mistura de peles de animais e tecidos feios e primitivos. As máscaras ferozes eram crânios reais de bestas demoníacas híbridas, claramente não eram fabricadas.

Mesmo a parte transparente embutida nos olhos dos crânios não passava de um cristal polido e tingido com Névoa Vermelha. Ao usarem essas máscaras em batalhas, eles só seriam capazes de ver uma sombra vermelha sangrenta.

Como eles conseguem lutar com algo assim? — Roland pensou.

Além das roupas e máscaras, havia uma dúzia de placas de ardósias negras e algumas pedras mágicas.

— A Sociedade Expedicionária já viu algo assim? — Roland perguntou a Agatha enquanto colocava as placas de ardósia lado a lado. Essas placas fizeram Roland pensar em como as torres da Névoa Vermelha deveriam ser imponentes. Algumas placas possuíam uma marcação vermelha distorcida, enquanto outras não tinham nada de diferente a olho nu.

— É assim que os demônios mantêm registros. — Agatha assentiu enquanto respondia — Eles gravam na placa com magia também, então não podemos decodificá-las.

— Talvez a maneira que eles pensam seja completamente diferente. — Tilly sugeriu.

— Essa é uma possibilidade. — Roland concordou — E as pedras mágicas?

— Pedras de percepção, pedras de localização… e pedras de marcação. — Agatha respondeu enquanto olhava para elas — Nada precioso. São apenas equipamentos básicos para demônios batedores.

Demônios batedores… — Roland sentiu uma dor de cabeça. Ele trial para Agatha e perguntou:

— Isso significa que os demônios já descobriram este lugar e começaram a enviar seus batedores para a vila?