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Liberte Aquela Bruxa – Vol. 03 – Cap. 148 – Comerciante da Cidade Real de Castelo Cinza (Parte 1)

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Vila Fronteiriça finalmente teve um dia chuvoso. O céu estava recoberto de nuvens espessas. A chuva caía torrencialmente e tamborilava em painéis e janelas. Normalmente, a primavera era uma estação chuvosa e quente. Contudo, este ano foi um pouco diferente. Após os Meses dos Demônios, ainda não havia chovido em Vila Fronteiriça. Mas, felizmente, as terras utilizadas para o plantio estavam próximas do rio, tornando mais fácil para os agricultores regar as suas culturas. A chuva forte tinha dissipado o mormaço que estava no ar. Rouxinol abriu a janela para deixar o cheiro de terra molhada entrar na sala.

Do outro lado do Rio Vermelho, brotos jovens estavam desabrochando no campo até perder de vista. O trigo verde se estendia de forma interminável debaixo da cobertura do céu. Ao contrário do rio que estava sujo e sombrio, as culturas aparentavam estar cada vez mais frescas e mais vivazes do que nunca após a chuva.

Roland deu uma esticada no corpo e deixou a pena em sua mão descansar em um suporte.

— Acabou? — Rouxinol perguntou.

— Sim. Um novo tipo de arma que pode aumentar a velocidade de disparo das pistolas em muitas vezes. — Roland empilhou uma dúzia de pergaminhos cheio de desenhos de seus projetos e, em seguida, continuou — Esta nova arma se chamará fuzil de repetição. Quer dar uma olhada?

— Não. — Rouxinol fez uma careta — De qualquer forma, eu não vou entender nada disso mesmo.

— Bem, isto é apenas um protótipo. Se eu encurtar o cano, ele vai se transformar em um revólver portátil. Mas eu preciso resolver outro problema técnico extremamente importante antes que eu possa colocar esta nova arma em uso. Se todos nós tivermos esta nova arma, nós não precisaremos mais temer o Exército do Julgamento da Igreja.

— O senhor está dizendo que ele vai fazer uma mulher comum ficar tão poderosa quanto um homem forte armado?

— Não apenas um, mas vários. — Roland sorriu triunfante — Se tivermos sorte, podemos fazer esta mulher com um revólver ser tão poderosa quanto cinco homens fortes armados.

Rouxinol estava claramente incrédula. Ela estava prestes a dizer algo quando de repente eles ouviram uma batida na porta do escritório.

— Vossa Alteza, o aprendiz de Barov acabou de retornar da Cidade Real de Castelo Cinza. Ele também trouxe uma comerciante que vende salitre. Eles estão esperando pelo senhor do lado de fora do castelo.

— O aprendiz do Ministro Adjunto? — Roland pensou por um tempo e recordou o assunto.

Como ele havia esgotado sua pólvora após o ataque ao Forte Cancioneiro, Roland havia enviado seus guardas até a Serra do Dragão Caído e a Cidade Carmesim em busca de novos fornecedores de salitre. Já o aprendiz de Barov, foi o último a iniciar a sua viagem, cujo destino era a Cidade Real de Castelo Cinza. Afinal, a capital do Reino tinha tudo. Quando o verão estivesse próximo, a produção de salitre provavelmente iria aumentar rapidamente.

Roland não esperava que o último a viajar nesta empreitada fosse realmente o primeiro a trazer boas notícias.

— Leve-os até a sala de estar. Eu estarei lá para recebê-los. — Roland olhou para o céu e acrescentou —Peça aos chefs para prepararem algumas sobremesas também.

No momento em que ele se virou, Rouxinol já estava fora de vista. Mas Roland sabia que ela estava ao seu lado.

Quando Roland entrou na sala de estar, a comerciante que vendia salitre ainda estava apenas caminhando para o corredor, sob a orientação do guarda. Ela tirou seu chapéu de palha e seu casaco, ambos encharcados, antes de prestar reverência ao Príncipe.

— Eu sou Margaret Farman da Cidade Real de Castelo Cinza. Por favor, aceite meus mais sinceros e calorosos cumprimentos, Vossa Alteza.

Roland foi pego de surpresa quando notou que a comerciante era uma senhora. Como fazer negócios nesta época era muito mais perigoso do que no mundo moderno, geralmente os comerciantes eram homens, pois muitos deles encontrariam bandidos e refugiados enquanto viajavam, sem falar no assedio dos valentões locais e nos bandidos e gângsteres do submundo. Logo, não havia muitas mulheres envolvidas em negócios.

Assim como Raio, Margaret também tinha um cabelo loiro, mas os seus cabelos eram mais densos e longos. Ela deveria estar na casa dos trinta anos. Provavelmente por ser uma mulher comum e não uma nobre, ela já tinha rugas ao redor dos cantos dos olhos e na testa. Sua pele estava um pouco escura, e até um pouco grossa à primeira vista. De sua aparência, no entanto, Roland sentiu que ela com certeza não era do Extremo Sul, mas sim, uma nativa dos Fiordes.

— Por favor, sente-se. — O Príncipe fez um sinal para ela se sentar na cadeira dos convidados — Você não é do Reino de Castelo Cinza, não é?

— Por que Vossa Alteza pergunta isso? — Após sentar-se, Margaret disse sorrindo.

— A cor de seu cabelo é muito rara nos países daqui do continente. Até onde eu me lembro, a maioria das pessoas que vivem nas ilhas de além-mar possuem estes lindos cabelos loiros. Além disso, eu também conheço muito bem uma exploradora dos Fiordes.

— O senhor é realmente muito versado no conhecimento das ilhas. Minha cidade natal é realmente nos Fiordes, mas eu já estou aqui há mais de 10 anos. Atualmente, estou vivendo no Reino de Castelo Cinza, e já me considero metade nativa do Reino. — Ela parou por um momento e então continuou — O senhor acabou de sair da Cidade Real de Castelo Cinza não faz muito tempo atrás. Talvez no passado nós já nos encontramos. Sinto-me honrada de viver em uma cidade que Sua Alteza uma vez viveu.

Aparentemente, todos os comerciantes bem-sucedidos possuíam habilidades de oratória, comunicação e diplomacia excepcionais. Roland sabia que Margaret estava tentando agradá-lo, mesmo assim, ele se sentiu bastante satisfeito com seu comentário. Entretanto, enquanto ele estava se deleitando com os elogios, Rouxinol beliscou seu ombro direito com bastante força.

Bem, Rouxinol, você está sendo superprotetora. Neste caso, não há necessidade de verificar a credibilidade de suas palavras. — Roland disse consigo.

— Mas, falando de exploradores, este título de explorador é realmente bastante famoso nos Fiordes. — Margaret continuou — O senhor provavelmente não sabe, mas há poucas terras nos Fiordes que são adequadas para se viver. Como as marés sobem e baixam o nível do mar continuamente, algumas ilhas sempre são engolidas pelas águas todos os anos. Outras, por outro lado, possuem chamas e fumaça em constante erupção. Rochas derretidas formam um rio vermelho-escuro e a temperatura é altíssima. Somente aqueles que conseguem descobrir uma nova rota de navegação ou uma nova ilha adequada para a vida é que são qualificados para receberem este título. Logo, uma pessoa comum dificilmente possui o título de explorador.

— Haha, sim, além de ela se chamar de exploradora, ela também diz que seu pai é o maior explorador que já existiu. — Roland balançou a cabeça com um sorriso — Ela é apenas uma criança. As crianças sempre gostam de imaginar a si mesmas como pessoas de grandes feitos.

— Bem, até mesmo as crianças nos Fiordes não se chamariam de exploradoras de forma tão imprudente. — Margaret franziu a testa — Ela disse quem é o pai dela?

Roland percebeu que ele tinha cometido um erro apenas olhando para o rosto de Margaret. Ao que tudo indica, para os nativos dos Fiordes, a palavra explorador continha alguns significados espirituais sagrados, que não poderiam ser usados ​​sem escrúpulos.

— Sim, ela disse que seu pai se chama Trovão.

Para surpresa de Roland, os olhos de Margaret se arregalaram assim que ela ouviu este nome.

— O senhor conhece o Senhor Trovão?

— Não, mas eu conheço sua filha. Você o conhece?

— Todo mundo nos Fiordes está familiarizado com esse nome! Senhor Trovão descobriu as Ilhas Dragões Gêmeos e a ilha Baía Dragão-marinho, expandindo à metade toda a área passível de habitação nos Fiordes. Ele também desenhou um mapa detalhado da costa leste e do Cabo Sem Sim. Praticamente oitenta por cento das rotas atuais neste continente foram descobertos por ele. Cada criança nos Fiordes conhece as histórias do Senhor Trovão de cor. Ele é um dos exploradores mais extraordinários em todo Fiordes!

— Mas eu soube que Trovão acabou perecendo em uma tempestade…

— Não, Vossa Alteza. Um verdadeiro explorador jamais será facilmente derrotado por uma tempestade. Ele encontrou numerosos perigos, mas sempre conseguiu escapar. Senhor Trovão, no momento, deve estar recrutando alguns marujos em algum lugar, como ele sempre fez. — Margaret se inclinou um pouco — Vossa Alteza, o senhor sabe onde a filha dele está?

Roland também se surpreendeu com o fato de que o pai de Raio fosse alguém tão conhecido. Será que todas estas aventuras, muito parecidas com as histórias de Mil e Uma Noites, eram realmente verdadeiras?

— Ela está vivendo aqui no castelo atualmente. Ela estava indo para o oeste após uma tempestade e acabou chegando aqui, em Vila Fronteiriça, onde acabei dando abrigo a ela.

— Em seu castelo? — Margaret mal podia esconder sua ansiosidade — Eu poderia… ter a permissão de Vossa Alteza para vê-la?

— Bem, eu receio que não agora. — Roland tinha certeza de que Raio estava voando ao redor da Floresta das Brumas tentando localizar a relíquia marcada no mapa do tesouro — Ela deve estar agora… praticando suas habilidades de exploração na selva. Se você pretende ficar aqui por uns dias, creio que você será capaz de se encontrar com ela.

— Então por favor, desculpe a minha intromissão. — Margaret assentiu imediatamente.

— Tudo bem, então, podemos agora falar de negócios?

— Claro, Alteza. — Margaret sorriu — Sinta-se livre para começar.

 


 

Tradução: JZanin

Revisão: Kabum

 

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