Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 56 – O Torneio de Esgrima 2: A Grande Final

— Que comece nossa próxima e última luta! Príncipe Sion, Príncipe Abel, por favor, dirijam-se à arena!

Os dois príncipes caminharam lentamente para a área de duelo. Uma multidão de estudantes havia se reunido para assistir ao confronto. Sendo o príncipe herdeiro de um grande reino e amplamente conhecido como um prodígio da espada, Sion naturalmente atraía muitos olhares. Abel, contudo, não ficava atrás. Como um aluno do primeiro ano, sua sequência implacável de vitórias o tornava igualmente magnético.

Caramba, quem diria que acabaria assim. Tenho que admitir, não esperava virar o centro de tanta atenção.

Com um sorriso irônico, Abel fez uma reverência a Sion. Em seguida, ergueu sua espada desembainhada bem alto sobre a cabeça. Era a primeira postura do estilo de esgrima transmitido pela realeza de Remno. Em contraste com a postura extremamente agressiva de Abel, Sion segurava sua espada frouxamente, numa guarda baixa, a ponta bem abaixo da cintura.

A esgrima de Sion refletia sua genialidade. Através do uso magistral de desvios e aparadas, ele desgastava o oponente, esperando o momento perfeito para o bote. Seu estilo era de contra-ataque; sua espada feria na resposta. Cada golpe era fatal, pois ele só atacava quando o oponente estava completamente vulnerável. Com a arma aparada e o equilíbrio perdido, não havia como evitar o único e decisivo golpe de sua espada. Era um estilo impossível para todos, exceto os mais brilhantes dos espadachins, pois exigia confiança absoluta na própria capacidade de resistir a todas as formas de ataque que o oponente pudesse lançar. Era, portanto, impossível para Abel.

Abel Remno era uma pessoa comum. Ele tinha consciência de sua mediocridade desde o dia em que nasceu, mas era um reconhecimento vago. Tudo isso mudou um dia, quando cruzou espadas com Sion. A experiência lhe ensinou muitas coisas: que gênios existiam, que alguns simplesmente nasciam melhores e que essa era uma lacuna que ele jamais fecharia. Ele vira em primeira mão — sentira através de sua espada — e percebeu ser inferior. Foi o dia em que aceitou sua mediocridade por completo.

E assim, ele desistiu. Parecia-lhe a escolha sensata. Algumas pessoas simplesmente tinham mais talento. Ele poderia tentar o quanto quisesse, mas nunca o alcançaria. Portanto, parara de tentar. Foi uma decisão perfeitamente racional.

Então ele veio para a Academia São Noel, conheceu Mia… e algo mudou. Um desejo bruto começou a crescer dentro dele. Ele não queria perder para Sion. Queria vencer e, ao vencer, mostrar que Mia estava certa em acreditar nele.

Ah, mas a realidade era cruel. O abismo entre seus talentos era tão profundo como sempre, e engoliu seu desejo por inteiro. Se seu oponente tivesse se tornado complacente em sua genialidade e parado de se esforçar, ele ainda poderia vencer através da diligência e do trabalho duro. Infelizmente, Sion não era desse tipo. Embora tivesse nascido com um dom, nunca descansou sobre os louros. Abel praticava, mas Sion também. Diante de um prodígio que se esforçava tanto quanto qualquer um, nenhuma quantidade de melhora jamais seria suficiente. A diferença só aumentaria…

Uma abordagem normal nunca funcionaria. Portanto, Abel descartou o que era normal. Em retrospecto, era simples. Se ele nunca seria um espadachim melhor, só precisava ser melhor em alguma outra coisa. Ele teve que lapidar seu treinamento. Afunilar seu foco. Descartar a defesa… Descartar as fintas… Descartar os giros… Descartar as estocadas…

Ele concentrou cada grama de seus esforços em uma única coisa. Ergueu a espada e a brandiu para baixo. Repetiu. Então fez de novo, mais rápido. E mais rápido. Dedicou todo o seu tempo a aprimorar aquele movimento. Desde a noite do baile, não fizera mais nada. Dia após dia, derramou seu coração e alma praticando aquele único golpe. E agora, depois de todo o suor, fadiga e dor, chegara a hora.

Ele brandiu a espada.

Hoje, ele conquistaria a genialidade.

Hoje, ele mataria um deus!

Claaang!

Um som áspero e estridente encheu seus ouvidos. Meio segundo depois, suas mãos sentiram o choque reverberante. Ele sabia. Metal encontrara metal; seu ataque falhara.

Ainda… não foi o suficiente.

O desespero o dominou. O mundo escureceu. Ele esperou pelo fim. Esperou, e esperou…

Mas o fim não veio.

O mundo voltou a ter foco. Suas espadas ainda estavam travadas, e ele… estava ganhando? De repente, percebeu que estavam na borda da arena, e Sion estava a um passo de sair do ringue.

— Você não disse que não ia se segurar? — disse Abel com uma careta raivosa.

Sion respondeu com um sorriso dolorido.

— Peço desculpas por não corresponder às suas expectativas, mas as circunstâncias — disse ele, entredentes —, parecem estar me forçando a isso.

— Você está zombando de mim…?

Abel encarou a observação como uma afronta, mas reconsiderou quando viu uma gota de suor escorrer pela lateral do rosto de Sion.

— Ou talvez não. Bem, seja como for… — Abel deu um passo para trás e voltou à sua postura com a espada sobre a cabeça. — Para mim não importa. Meu repertório é bastante limitado, afinal.

Ele brandiu a espada novamente.

— Ugh!

Sion desviou do golpe por um triz; a lâmina passou a um fio de cabelo dele. Ele não estava tentando se exibir. O golpe era simplesmente tão rápido que um desvio apertado foi tudo o que conseguiu fazer.

Droga, eu certamente não esperava por isso…

Ele nunca havia subestimado as habilidades de Abel — estava plenamente ciente dos perigos de subestimar um oponente. No entanto, o golpe de Abel era feroz, vindo em sua direção com uma velocidade e poder que excediam vastamente suas expectativas. Mal conseguiu encaixar sua própria espada entre a lâmina que se aproximava de seu rosto. Não houve tempo para aparar, resultando em seus braços suportando toda a força do impacto brutal.

Mal consigo sentir meus braços. A última vez que ficaram tão dormentes foi quando treinei com meu pai.

Aquele único golpe o deixara em uma posição terrivelmente desvantajosa. Mal conseguia segurar a espada, quanto mais tentar um contra-ataque. Contudo…

Vale repetir que Sion Sol Sunkland era um verdadeiro gênio. Um golpe foi tudo o que precisou para compreender o alcance do ataque de Abel.

— Haa!

O segundo golpe de Abel veio. Desta vez, ele o evitou puramente com o jogo de pés.

Ainda assim, é bom que eu só tenha que lidar com o golpe de cima para baixo. Caso contrário…

Rapidamente Sion percebeu que só conseguia desviar do golpe de cima para baixo porque era a única coisa com que precisava se preocupar. Se Abel misturasse quaisquer outros movimentos em seu repertório… Eles não precisariam ter a mesma força. Contanto que fornecessem um pingo de variedade e mantivessem os oponentes alertas, criariam aberturas para seu golpe de misericórdia.

O pensamento causou um arrepio em Sion. Ele viu o potencial em Abel, e o perigo.

De qualquer forma, preciso esperar meus braços se recuperarem. Não sei quantos segundos mais vai levar, mas…

Uma pergunta lhe ocorreu, e ele decidiu fazê-la.

— Diga-me uma coisa, Príncipe Abel… O que é que o torna tão forte? Seria, talvez… a Princesa Mia?

— Correto. É ela. Ela acredita em mim. Ela deseja minha vitória. Portanto… não posso me dar ao luxo de perder.

— Imaginei… — Sion soltou um suspiro baixo. — Quem me dera estar no seu lugar. — Então seus olhos se estreitaram e ele ergueu a espada. — No entanto, eu também não posso me dar ao luxo de perder.

Ambos permaneceram imóveis. Ele sentiu a dormência em seus braços diminuir. Mais um pouco, e ele estaria pronto. Enquanto ele — e toda a arena — esperava sem respirar, uma gota de chuva pousou na ponta de sua lâmina.