Abel estava com a corda toda.
Suas duas lutas seguintes foram contra estudantes mais velhos, e ele venceu ambas. Com três vitórias consecutivas no currículo, era hora do almoço. Ele caminhou em direção a um canto do pátio. Banhada pela luz suave do sol, a grama macia irradiava um calor confortável e convidativo. Anne e Chloe tinham estendido uma toalha no chão, sobre a qual arrumavam a comida. Ao lado delas estava Mia, que abriu um sorriso radiante para ele assim que se aproximou.
— Isso foi absolutamente espetacular, Príncipe Abel!
Ela acenou com os dois braços para ele, a empolgação transbordando em sua expressão.
— Obrigado — disse ele, com um sorriso meio sem graça —, mas eu não teria conseguido sem você torcendo por mim o tempo todo, pode ter certeza.
— Ah, deixe de modéstia! Isso é tudo fruto do seu trabalho duro — ela respondeu, embora o jeito como cantarolava alegremente para si mesma sugerisse que não ficaria nem um pouco chateada se a modéstia dele continuasse. — Mas preciso dizer, você é realmente muito bom. Eu não fazia a menor ideia!
O desempenho notável de Abel tinha sido uma surpresa e tanto para ela.
Quem diria que ele seria tão forte assim? Nesse ritmo, talvez ele até consiga tirar o Príncipe Sion daquele pedestal todo! Que cena memorável seria essa!
Mia não estava particularmente interessada em se vingar de Sion ou Tiona; esse tipo de atitude drástica era simplesmente perigoso demais, pois ela arriscaria atrair a ira deles. Um movimento em falso, e ela iria para a guilhotina de novo. Ela preferia manter uma distância segura. No entanto, se ela não precisasse se arriscar… Se o Grupo Anti-Sion encontrasse um novo campeão, ela abraçaria a causa num piscar de olhos. Puxa, a etiqueta era a única coisa que a impedia de erguer uma placa enorme de “Vai, Abel!” e gritar seu apoio a plenos pulmões.
— Nesse pique, o primeiro lugar parece estar ao seu alcance.
— Uh… Isso talvez seja mirar um pouco alto demais. Bem, o Príncipe Sion ainda está no torneio. Não vamos nos precipitar, né?
— Você vai se sair bem, Príncipe Abel. Eu sei que você vai ganhar. Acredite em si mesmo! — declarou Mia com uma confiança exagerada, até teatral. Ela ergueu o punho para Abel. — Você é forte, então, por favor, quando o Príncipe Sion aparecer, dê um jeito naquele imprestá—
— Hm? O que foi que disse sobre mim, Princesa Mia?
— Quê?! Príncipe Sion?!
Mia deu um pulo de susto antes de se virar bruscamente e dar de cara com Sion, Keithwood, Tiona e Liora parados logo atrás dela.
O-O-O que, pelas luas, eles estão fazendo aqui?!
Ela já tinha dado o sanduíche de Sion para Tiona entregar. A essa altura, eles já deveriam estar almoçando em outro lugar. Ela lançou um olhar interrogativo para Tiona, que apenas lhe deu um joinha e uma piscadela cúmplice, como quem diz: “Relaxa, deixa comigo.”
— Lady Rudolvon aqui sugeriu que, já que todos vocês ajudaram a preparar estas delícias, poderíamos muito bem nos juntar para saboreá-las. Espero não estar incomodando?
— N-N-Não, de forma alguma! F-Fiquem à vontade para se juntar a nós… Ohoho.
Mia sentiu os músculos do rosto repuxarem enquanto se esforçava para sorrir.
Sua pestinha… Depois de me esnobar tantas vezes na outra linha do tempo, agora você simplesmente aparece do nada e se convida?!
De fato, na linha do tempo anterior, por ter tido seu pedido recusado por Sion, Mia foi forçada a passar o dia inteiro do torneio sozinha, fungando pelos cantos e comendo o almoço que ela mesma preparara. Levando isso em conta, a atitude atual de Sion era… compreensivelmente irritante. O jeito como ele sorria suavemente enquanto tagarelava com Tiona e Anne acendeu uma labareda de raiva indignada no coração de Mia, que…
— Ei, que sanduíche engraçado!
…se dissipou no mesmo instante em que ouviu o comentário de Abel.
— M-Meu Deus, você notou?
Num piscar de olhos, Mia voltou a ser aquela pilha de nervos de sempre. Ver Abel pegar o sanduíche que ela idealizara deu um frio na barriga.
Ele está… Ele está olhando para o meu sanduíche! Ai, por favor! Não encare desse jeito! Me deixa nervosa!
Mia engoliu em seco. Sua expressão endureceu, transformando-se num olhar intenso enquanto aguardava a reação de Abel. Seus olhos foram ficando cada vez maiores até que…
— Ah, entendi! É um cavalo! — disse ele, rindo, antes de dar uma bela mordida. — Mmm. Delicioso! Este sanduíche está muito bom!
Seu olhar arregalado foi imediatamente substituído por um sorriso radiante. — Que maravilha ouvir isso! Fico feliz que tenha gostado.
Ouvir seu sanduíche ser elogiado fez Mia sentir um calorzinho gostoso por dentro. Ela quase ergueu os braços de tanta alegria. Afinal, a característica mais marcante do sanduíche era, obviamente, o fato de ter o formato de um cavalo. E quem foi que teve essa ideia brilhante? Foi, claro, a própria Mia. Não era razoável, então, interpretar todos os elogios feitos ao sanduíche como sendo direcionados a ela? Assim era a lógica um tanto questionável que tomava forma na cabeça de Mia.
Não importava que a seleção meticulosa dos ingredientes, a consideração cuidadosa de sua disposição e a aplicação minuciosa de um “adesivo” comestível tivessem sido todas realizadas por Keithwood. Todo o seu sangue, suor e lágrimas não resultaram em nada; sua importância era tão insignificante para Mia que foram varridos de sua memória.
…Pode chorar, Keithwood. Está tudo bem. A gente entende.
— Príncipe Abel, tem um momento?
Depois de uma troca de gentilezas com Tiona e as meninas, Sion aproximou-se de Abel.
— Príncipe Sion? O que foi?
Abel franziu a testa, imaginando o que o príncipe rival queria dele.
— Estou um pouco atrasado para dizer isto, mas parabéns pela sua primeira vitória sobre seu irmão.
— Ah, bem, muito obrigado! — respondeu Abel com um sorriso sincero.
Então, Sion baixou a cabeça.
— Eu também lhe devo um pedido de desculpas.
— Hm? Pelo quê?
— Eu tinha certeza de que você perderia. A diferença de habilidade entre você e seu irmão parecia evidente demais.
Nossa! Que grosso! De jeito nenhum o Príncipe Abel teria perdido para um cabeça-dura como o irmão dele!
A opinião de Mia sobre Sion despencou alguns pontos. Abel, no entanto, simplesmente sorriu e balançou a cabeça.
— Não, acho que sua avaliação estava correta. Só estou ganhando porque continuo tendo sorte. Não estou ganhando por minhas habilidades, diferente de você.
Nossa, que modesto!
A opinião de Mia sobre Abel subiu alguns pontos.
— Sorte é um fator importante, Príncipe Abel. Eu também não teria chegado tão longe apenas com pura habilidade.
Bem, claro que não conseguiria! Isso nem se discute! Você só está ganhando porque continua tendo sorte!
Mia concordou plenamente com a autoavaliação de Sion.
— É um privilégio e uma honra ouvir isso de você, Príncipe Sion. Vou levar suas palavras a sério.
Embora Mia se opusesse fortemente a essa afirmação.
De jeito nenhum, Príncipe Abel! E daí que esse idiota te elogiou? Quem se importa com o que ele diz? Não há necessidade de fazer tanto alarde por causa disso!
— De qualquer forma, vamos fazer da próxima luta uma boa luta.
Sion estendeu a mão, projetando uma confiança natural com seu sorriso fácil. Era um gesto que significava muitas coisas: confiança, rivalidade e respeito mútuo — um pacto honroso entre dois jovens para que cada um desse o seu melhor no duelo que se aproximava. Naquele momento, uma nova amizade nasceu. Ao lado de Mia, Chloe soltou um suspiro extasiado.
— …Tão sonhador.
Anne e Tiona pareciam igualmente hipnotizadas pelos dois príncipes, observando com olhos arregalados e encantados. Quanto a Liora… Ela cutucou a carne no sanduíche, confirmou que estava bem assada e acenou para si mesma em satisfação.
Liora, veja bem, era uma garota que sabia o que era importante na vida.
Da mesma forma, Mia também tinha pouco interesse na amizade crescente dos rapazes. Se alguma coisa, ela estava bastante chateada porque, justo quando as coisas estavam ficando boas entre ela e Abel, Sion apareceu e roubou a atenção dele. Então, numa demonstração de birra característica de sua idade, a jovem princesa inflou as bochechas como um baiacu zangado e emburrou-se silenciosamente enquanto mordiscava um sanduíche.
Por outro lado, para alguém que tecnicamente tinha vinte anos, seu comportamento era um tanto ridículo…
E o Príncipe Abel tinha acabado de elogiar meu sanduíche! Dá pra parar de atrapalhar, hein? Resmungou Mia enquanto dava um puxão rápido na manga de Abel. Quando ele se virou para ela, ela olhou diretamente em seus olhos. Lembra do meu sanduíche? Lembra como estava bom? Por que você não o elogia um pouco mais, hm?
Mia, veja bem, era uma garota que… era, na verdade, meio irritante.
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Vendo Sion estender a mão, Abel recorreu ao seu sorriso inócuo de sempre. Era um sorriso de conveniência — um que nada dizia e a nada se comprometia. Não fazia inimigos e não criava hostilidade. Mas era só isso. Não tinha nada a mais.
Usando seu sorriso habitual, ele pretendia dizer: “Sim, vamos fazer uma boa luta.”
Ele já havia se imaginado perdendo.
“Não sei o quanto vou conseguir lutar, mas vou tentar o meu melhor. Se nada mais, será uma boa experiência de aprendizado para mim”, ele diria antecipadamente. Isso o ajudava a parar de ter esperança. A parar de se importar. Dessa forma, ele não sentiria a dor quando finalmente falhasse.
Era uma parte dele — a lente através da qual ele via o mundo e a maneira como ele o navegava. Ele fazia isso desde a infância. Era assim que ele havia sobrevivido. Mas agora…
Hm? O quê?
Ele sentiu um puxão. Virando-se, encontrou os dedos de Mia em sua manga. Ele olhou para ela. Ela sustentou o olhar dele, seus olhos lindos e intensos e cheios de emoção. Eles pareciam falar com ele. Palavras ecoaram em sua mente.
Você é forte, Príncipe Abel.
Ele ouviu a voz dela. Ele se lembrou do que ela dissera.
Você é forte. Confie em si mesmo. Eu sei que você vai ganhar.
Ela lhe dissera isso.
Então eu…
Algo mudou em sua mente. Uma engrenagem, talvez, ou um parafuso. E então o mecanismo da lógica inverteu seu torque.
…não tenho escolha a não ser vencer.
Para evitar que as palavras dela se tornassem falsas… Para proteger a santidade de sua confiança inabalável…
— Prepare-se, Príncipe Sion.
As palavras fluíram de seus lábios, a voz familiar, mas o tom estranho. O que era aquilo? Ele nunca ouvira antes. Então, ele percebeu: era determinação.
— Prepare-se, Sion Sol Sunkland.
— Hm?
Sion lançou-lhe um olhar intrigado.
— Eu… Abel Remno… não vou perder.
Sion encarou o jovem príncipe, que respondera à sua promessa de espírito esportivo com uma declaração de guerra… e sorriu.
— É mesmo? Desafio aceito então, Abel Remno. Vamos duelar até nossos corações se contentarem. Seria um prazer esmagá-lo com toda a minha força.
Diante dessas trocas inflamadas, o trio de espectadoras Chloe, Anne e Tiona não pôde deixar de suspirar e desmaiar. Até Liora, que estava espetando a carne de seu sanduíche novamente, não pôde deixar de suspirar e desmaiar… com o quão bem assada estava.
M-Mas… e o meu sanduíche…? O meu sanduíche… coitadinho…
Mia, enquanto isso, também remoía tristemente sobre seu sanduíche, sobre a tragédia de ele ser ignorado, e soltou um suspiro impotente.
Tradução: Gabriella
Revisão: Matface
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