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Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 40 – O Primeiro Amigo!

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Tentando fortemente ignorar o frio em sua barriga, Mia caminhou até a sala de aula durante o intervalo do almoço.

— Eh, Senhorita Rafina, posso ter sua atenção? — Perguntou com um sorriso trêmulo e uma voz que falhou.

— Hm? Oh, Mia. — Rafina olhou por cima de sua mesa e, vendo quem era, se levantou para cumprimentá-la. — O que houve?

Ela revelava seu cortês sorriso habitual, mas este era um gesto vazio para Mia. Afinal, não a chamavam de santa sem motivo; seu rosto sempre estava acostumado a sorrir. Ela poderia sentenciá-la à guilhotina e, ainda assim, manter-se sorridente. Não existe cuidado o bastante perto dela.

— Há algo que eu gostaria de discutir com você… — disse Mia, enquanto a encarava timidamente.

— Há algo? Neste caso, por que não se junta a mim em meu quarto? Estou prestes a ir almoçar — respondeu Rafina, sua voz leve e calma como sempre.

Assim que entraram no quarto, ela de repente bateu suas palmas uma única vez e virou-se para Mia.

— Nossa, acabei de lembrar! Muito obrigada por seus presentes. A equipe amou — disse ela, contente.

Mia sorriu em retorno, tanto pelo alívio dela estar de bom humor quanto para esconder o fato de não fazer a mínima ideia de que presentes estava falando. Eles certamente eram de Anne, que não a informou sobre o assunto.

Graças às luas. Nesse ritmo, posso realmente sobreviver a este encontro…

Uma vez que tomaram seus assentos e puseram o almoço na mesa, Mia lentamente se virou para Rafina e, sem qualquer hesitação, humildemente curvou sua cabeça.

— Sinto muito pelo acontecido.

Este era um potencial momento guilhotina; seu ego poderia esperar.

— Por favor, Princesa Mia, não precisa se desculpar. Isso não foi obra sua, correto?

— Não, mas como a Princesa de Tearmoon, sou responsável pelas ações de seus nobres — disse Mia, tentando soar da forma mais séria possível. Tomou algum esforço, já que no cantinho de sua mente, pensava em algo similiar a: “Claro que não! Isso não teve nada a ver comigo! Nem sabia que isso havia acontecido!”.

— Entendo. Então, como ação disciplinar… O que tem em mente?

— Já ordenei que os atendentes fossem enviados de volta para Tearmoon. Já seus mestres, devido a falta de evidências que indicassem seus envolvimentos diretos, pedi que mergulhassem em auto-reflexão e permanecessem vigilantes contra tal comportamento no futuro.

Rafina franziu as sobrancelhas imediatamente.

— Isso me parece bem leniente da sua parte.

Eeeeek!

O olhar penetrante da presidente do conselho estudantil enviou um terrível arrepio em sua espinha, que instantaneamente se arrependeu de deixar os mestres escaparem tão facilmente. Infelizmente, já era muito tarde para voltar atrás em sua decisão. Nesse ponto, não tinha outra opção além de argumentar as vantagens de uma sentença menor.

— Me parece, Princesa Mia, que você é uma pessoa muito misericordiosa.

L-luas— Luas misericordiosas! O que faço agora?! Estou muito ferrada!

Mia se sentiu como um gatinho que tropeçou num leão em busca de sua presa, com um olhar faminto. Com seu pescoço em jogo, desesperadamente procurou uma forma de sair dessa situação. Infelizmente, já tendo anteriormente atingido o pico de performance mental, seu cérebro agora estava superaquecido e se recusou a servir novas ideias. Apenas então, notou a tigela de sopa sob a mesa. O pedaço de algo amarelo se projetou na superfície. Era seu velho amigo, o tomate lua amarela.

O rosto do chefe de cozinha imperial brotou em sua mente. Lembrou de como odiava esses tomates, em como ele teimosamente continuou os servindo, e em como ele os trabalhou de uma forma em que ela iria gostar…

— Ah, tomate lua amarela… — murmurou para si. — Quão irônico sua pungência frequentemente guiá-lo ao desperdício… ainda que o remorso por tal pecado ocorra apenas ao não termos do que comer…

Se lembrou da primeira vez que os provou após reencarnar. O pensamento de que antes jogaria fora tal comida meticulosamente preparada — junto com todo o cuidado e dedicação depositado — tornou seu rosto em uma careta. Foi um claro lembrete  do quão horrível ela fora como pessoa.

Espera! Este não é momento de ficar nostálgica! Devo encarar a realidade!

— Então… Você quer dizer que as pessoas fazem coisas más apenas porque não estão cientes de que estão erradas?

— … Huh?

— E como nesse caso houve pouco dano real, a reparação com a vítima se tornou um tópico muito mais simples. Claro, eu entendo agora… Então é por isso que você enviou sua assistente de maior confiança, Anne…

A atitude de Rafina mudou visivelmente. Sorriu uma vez mais, no entanto, muito mais suavemente agora.

Punição serve a dois propósitos. O primeiro é promover consolo emocional para a vítima. O segundo é encorajar a reflexão ao ofensor. Neste caso, o esforço de Anne reduziu os danos causados ao mínimo.

— Nos permitir focar no fomento do ato reflexivo para os ofensores esperançosamente fará com que desenvolvam-se e aprendam… De fato, este pode muito bem ser o melhor curso a se tomar em uma instituição de ensino.

— C-com certeza!

Mia abraçou a ideia. Não entendeu do que se tratava, mas abraçou mesmo assim — qualquer coisa que a tiraria dessa situação.

— Mia, — disse Rafina, enquanto pegava as mãos dela — você tem a minha honesta admiração e respeito. Há uma profunda compaixão em ti. Isso a faz buscar a redenção mesmo nos perversos, e isso é algo que não possuo. Agora entendo porquê se referem a você como a Grande Sábia do Império.

— E-estou honrada em ouvir isso, — Respondeu, com um sorriso trêmulo. Ser exageradamente elogiada não era confortável também.

— E, bem… V-você sabe, sobre isso…

Rafina de repente começou a gaguejar.

T-tem mais?! O que é agora?!

Resistindo ao impulso de correr e ir embora na mesma hora, Mia continuou ouvindo. As próximas palavras de Rafina, no entanto, a pegaram completamente de surpresa.

— Hum… você gostaria… de ser minha amiga?

— Se eu gostaria… que?

Deste dia em diante, Mia ganhou uma amiga: a filha do Duque de Belluga, Rafina.

Após se despedir de Rafina e retornar ao seu quarto, Mia aproveitou o tempo para empilhar uma tonelada de elogios sobre Anne. E então, antes da pobre empregada se recuperar da súbita avalanche de gratidão, foi arrastada para a cidade em prol de recompensá-la por seus esforços. Portanto, Mia e Anne começaram a missão de experimentar todos os doces da cidade, mas essa é uma história para outro dia.


 

Tradução: Sincronize

Revisão: Matface

 

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