Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 35 – Devemos dançar?

A noite em que Mia Luna apareceu pela primeira vez no salão de baile antes de seus colegas de classe se tornaria material de lendas, e tudo começou com rumores de descontentamento se espalhando lentamente pelo salão.

Logo após se tornar o centro absoluto das atenções, a dança real que executou foi totalmente mediana.

— O que é isso? Suponho que ela saiba como fazer uma entrada, mas suas habilidades de dança não são nada a se destacar.

— Bem, o que você esperava? Quero dizer, alteza imperial ou não, ela ainda é apenas uma criança.

Sussurros ciumentos e zombarias podiam ser ouvidos ao redor do salão. Enquanto os colegas de Mia do primeiro ano podiam estar impressionados, os estudantes mais velhos a viam como uma monstruosidade. Muitos passaram por um desconforto considerável para ficarem bonitos, apenas para serem ofuscados pela chegada de Mia. Tendo sido relegados a pouco mais que personagens de fundo, decidiram deixar seu descontentamento claro. Nenhum deles diria isso na cara dela, é claro, mas poucos resistiram a falar às suas costas. Quanto ao alvo de sua animosidade, no entanto…

— Aí está, príncipe Abel. Seus passos são muito bons.

Mia não poderia se importar menos com os murmúrios da plateia. Ela simplesmente continuou a dançar, polida e cuidadosamente conduzindo Abel passo após passo com a precisão de um instrutor experiente. Exceto que sua liderança era invisível. Da perspectiva dos curiosos, parecia ser ela quem seguia os passos de Abel a cada batida. Por estar dançando à serviço de seu parceiro, Mia permitiu que ele aproveitasse o momento.

Os melhores dançarinos elevavam seus parceiros. Mia apenas fez isso.

Ninguém no salão se deu conta do que Mia estava fazendo.

Sou só eu, ou…

Ninguém, exceto o próprio Abel.

A princesa Mia está se segurando para que eu possa acompanhá-la?

Ao mesmo tempo, também percebeu as reações da multidão. Viu seus  olhares desdenhosos e ouviu suas risadas zombeteiras, as quais eram dirigidas para Mia. Depois de vê-la chegar como a estrela da festa, eles assistiram com malicioso deleite como ela seguiu para fazer de si mesma uma tola na pista de dança. O pior de tudo, ele sabia que a culpa era dele, e esse conhecimento o enchia de arrependimento e culpa.

Ela foi a única que disse acreditar em mim. E agora é a única sendo humilhada. Isso… Isso não pode…

Ele olhou para ela. Ela o encarou de volta, seu rosto uma máscara de indiferença. Isso era uma fachada. Tinha que ser. Uma gentileza para aliviar a mente dele. Ela estava fazendo isso… Por ele. Ele fez uma careta. Era um pensamento doloroso demais pra aguentar. Então, viu uma figura pelo canto do olho. Era a única pessoa no salão páreo para Mia.

Tão logo a música terminou, ele pegou a mão de Mia e a conduziu na direção de um grupo de alunos onde Sion Sol Sunkland, cercado por um círculo de garotas, fazia algumas brincadeiras leves.

— Príncipe Abel  Onde estamos indo?

Sem responder, ele caminhou até as garotas e se aproximou de Sion.

— Príncipe Sion, preciso pedir a você um favor.

— O que seria? — perguntou Sion, um tanto surpreso pelo pedido repentino.

— Estou me sentindo um pouco cansado. Gostaria de descansar por um momento. Enquanto isso, posso pedir a você para ser o parceiro da princesa?

— Príncipe Abel?! — exclamou Mia, horrorizada com a proposta.

Ele não lhe deu atenção e manteve seus olhos em Sion. Um breve silêncio seguiu.

— Justo. É verdade que eu desejava bastante levar a princesa para a pista de dança. Desde que a oportunidade foi apresentada… — Ele se virou para Mia — Posso pedir que se junte a mim para um número?

— O quê?!

Mia olhou de relance para Abel, que simplesmente disse:

— Estou um pouco exausto, então vou pegar algumas bebidas.

Por um momento, ela não disse nada. Então, se virou na direção de Sion e, com um sorriso inocente, respondeu:

— Claro. Apenas uma peça, então.

Abel sentiu seu peito apertar com a visão. Aquele adorável sorriso, que até momentos atrás tinha sido somente dele, era agora direcionado para outro alguém. Arrependimento misturado com tristeza e inveja, revirando dentro dele em uma torrente escura de emoções que ameaçou explodir para fora dele em um grito de frustração.

Por quê … Eu não tenho nenhum poder…

A sensação, queimando forte e vermelha em seu peito. Era uma sensação que nunca tinha sentido antes direcionada a Sion. Ele não queria perder. Encarando um oponente uma vez invencível.. Alguém que, apesar do seu maior esforço, o superaria.  Ele não queria admitir a derrota, não queria desistir. Pela primeira vez em sua vida sentiu uma raiva fervente, uma ardente paixão que queimaria seu corpo e consumiria sua alma.

— Da próxima vez… — ele disse, sentindo a dor enquanto mordia os lábios — Da próxima vez… Não vou deixá-la ir.

Então, ele se virou e caminhou para fora.

Agora, seria apropriado descrever os pensamentos que estavam passando pela cabeça de Mia enquanto sorria para Sion.

Na verdade, a oportunidade foi apresentada… Jogada em você, na verdade! Espero que você pegue uma queda espetacular e faça papel de tolo com todos assistindo!

Para ser clara, dançar com Sion era a última coisa que queria fazer, mas se não tinha escolha, percebeu que podia muito bem pegar o melhor da situação e tentar envergonhá-lo em qualquer oportunidade possível. Com um pouco de malícia rodeando sua mente, a expressão dela não poderia deixar de seguir o  exemplo. Em outras palavras, Abel já estava tão cego por seus próprios equívocos que enxergou o sorriso malicioso no rosto de Mia como um sorriso apaixonado. Esta era a extensão da cegueira dele.

De qualquer modo, o esquema de Mia se provaria um desastre. Ela se esqueceu de um fato crucial. Príncipe Sion era perfeito de todas as maneiras. Diferente de Mia que só era perfeita quando dançava, ele era bom em qualquer coisa à qual dedicava sua mente. Como sua habilidade na pista de dança do salão.

E então, a lendária noite se aproximou do seu ápice.