Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 29 – Operação Queda do Lenço

Separando os dormitórios masculinos dos femininos em Saint-Noel, havia um belo pátio conhecido como Jardim de Água. Estando em Belluga, que é rica em água, ostentava uma grande fonte e muitos canais. Era também adornado por uma generosa variedade de flores coloridas e exalava uma espessa aura de romance. Muitos alunos entraram como amigos e saíram como namorados.

Que lugar perfeito para encenar um encontro acidental! pensou Mia com um sorriso diabólico enquanto apertava firmemente o lenço que havia trazido.

Foi um dia depois que conheceu Rafina, ela estava sentada em um banco no pátio mencionado. Através de informações obtidas pela pesquisa de reconhecimento de Anne, descobriu que Abel logo passaria por esse local. Como tal, antecipadamente se colocou em posição para aguardar sua chegada.

Ela também estava vestindo o uniforme oficial da academia, que consistia em um blazer sofisticado e uma saia plissada elegante. Ambas as peças eram novas em folha, e sua brancura imaculada complementava perfeitamente sua beleza refinada. Havia uma qualidade quase divina em sua figura quieta, imóvel, exceto pelo suave esvoaçar de seu cabelo. Naquele momento, era de fato a Santa de Tearmoon.

Isso era apenas na superfície, de qualquer maneira. Suas motivações não eram tão puras.

Por algum tempo, ficou sentada sozinha, ouvindo o suave borbulhar da fonte. Então, em meio à percussão constante da água caindo, ela ouviu outra coisa – passos. Seus olhos se abriram.

Ele está aqui!

Com sua presa à vista, Mia soltou um suspiro rápido e se levantou. Ela começou a andar, certificando-se de se posicionar um pouco na frente de Abel. A cada poucos segundos, olhava para trás, procurando o momento certo…

Agora! Inicie a queda!

Ela soltou o lenço. Ele flutuou suavemente pelo ar antes de chegar ao chão, pousando bem aos seus pés. Vendo que seu alvo foi certeiro, Mia manteve a compostura, mas em sua mente, estava rugindo em triunfo.

Que técnica! Que precisão! Eu fiz um trabalho perfeito! E agora, aqui vem ele!

A antecipação acelerou seu pulso enquanto esperava ser chamada. Ela diminuiu seus passos para que pudesse alcançá-la mais facilmente. Ela continuou a andar, e então esperava, e voltava a andar, e continuava esperando, mas… nada aconteceu.

Que estranho.

Esticando o pescoço para avaliar a situação do lenço, ela o viu ainda no mesmo lugar em que havia pousado. Preso em uma folha de grama, esvoaçando inutilmente ao vento, solitário e ignorado.

P-por que ele não pegou o lenço?!

Desta vez ela se virou e olhou para Abel, apenas para vê-lo falando com uma garota ao seu lado.

— Há algo de errado, minha querida senhorita — ele perguntou levianamente.

Como visto, Mia havia esquecido um fato muito importante: entre um lenço caído e uma garota necessitada, Abel sempre optaria por ir atrás da garota! E então tentaria ficar todo amigável com ela! De fato, Abel Remno era fundamentalmente um playboy. Era bonito, mas também superficial e pretensioso. Lamentavelmente propenso a fazer cantadas bregas.

Isso, no entanto, não foi o fim de seus infortúnios.

— Hum? O que é isso…?

Em um movimento gracioso, outro menino se abaixou e pegou o lenço. Levando-o aos olhos, observou-o por um momento. Seu lindo cabelo prateado e feições irritantemente notáveis indicavam-no como o arqui-inimigo de Mia, Sion.

— Alguém aqui deixou cair um lenço? — perguntou às pessoas ao seu redor.

— Ah! V-v-você! — ela murmurou com raiva baixinho enquanto rangia os dentes.

Ela tinha que sair daqui. Seu primeiro e principal objetivo era garantir que Sion e Tiona não se familiarizassem com ela. De forma alguma poderia permitir que qualquer comunicação ocorresse entre eles, ou estaria entregando sua cabeça em uma bandeja! A retirada era sua única opção. Fingindo desinteresse, se virou e começou a se afastar. Só então…

— Ah, isso pertence à princesa Mia.

Sua outra arqui-inimiga, Tiona Rudolvon, juntou-se ao ataque.

— Eu peguei um desses emprestado ontem — disse Tiona, enquanto corria até Sion.— Parece o mesmo, então tem que ser dela. — Ela pegou seu lenço, que havia sido cuidadosamente lavado e limpo, e mostrou a ele.

Os lenços que Mia usou foram feitos por artesãos reais. Na busca por agradar sua amada princesa, fizeram pleno uso de sua especialidade, bordando as laterais com rendas de padrões complicados. Como resultado, seus lenços eram exclusivamente identificáveis e, neste caso, uma prova inegável de sua propriedade.

— Ah! Lá está ela! Princesa Mia!

D-Droga, garota!

Percebendo que a fuga não era mais uma opção, Mia finalmente se resignou ao seu destino. Ela se virou graciosamente e deu um tapinha no uniforme como se estivesse checando os bolsos.

—Oh, você está certa. Parece que deixei cair por acidente — disse ela com um sorriso. — Muito obrigado por me avisar.

— Eu vejo. Então isso pertence à Sua Alteza Princesa Mia. — disse Sion enquanto olhava para o lenço. Então caminhou até Mia, pressionou a mão no peito e abaixou a cabeça em uma demonstração de respeito. — Eu sou Sion Sol Sunkland, Príncipe do Reino de Sunkland. Acredito que esta é a primeira vez que nos encontramos, Vossa Alteza. Eu ouvi muito sobre você.

— Nossa, que educado. Eu sou Mia Luna Tearmoon. — Mia respondeu, dando um puxão rápido em sua saia em uma pequena reverência.

Ela pretendia pegar o lenço, agradecer e depois dar o fora de lá, mas assim que se virou para sair…

— Devo dizer, que ótima coincidência é essa. Eu queria perguntar se Vossa Alteza escolheu um parceiro para o baile de amanhã?

Um calafrio percorreu sua espinha.

— Se não, então estou pensando em me nomear para o papel.

Como? Por quê? Pelas luas o que está acontecendo agora?!

Enfrentando esse sorriso radiante que deixaria qualquer outra garota com os joelhos fracos, Mia não sentiu nada além de uma vontade terrível de gritar em frustração para o céu.