Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 23 – O elenco se reúne…

Sion Sol Sunkland veio ao mundo como o filho mais velho do rei de Sunkland

— Ele, que reina sobre o povo, deve acreditar firmemente na justiça e mantê-la próxima ao seu coração.

Quando era jovem, seu pai frequentemente lhe dizia aquelas palavras… E elas o guiaram desde então. Até este dia, ele ainda vivia por elas. Realeza e nobreza — aqueles que reinam sobre o povo — devem sempre se orgulhar por sua integridade e manter-se em um padrão elevado, de tal forma que possam ser exemplos para seus súditos; Ele sempre acreditou nisso, mas…

Enquanto crescia, havia algumas coisas que não pôde deixar de observar. Ele veio a perceber que nem todos os nobres eram iguais, e que nem todos — nem mesmo a maioria — deles vivia pelos princípios de seu pai. Mesmo assim, seguia tendo esperança na academia Saint-Noel. Ela era, afinal de contas, uma escola onde todos os alunos excepcionais da nobreza se reuniam. Muitos deles devem ser exemplares em sua conduta e virtude. Com certeza, aqui, conheceria diversas pessoas dignas de uma posição de poder…

E exatamente por causa de sua esperança que se viu profundamente irritado ao ver alguns alunos brigando por algo tão insignificante como a ordem em que atravessavam o lago. Entretanto, logo depois, foi forçado a presenciar outra cena que era imprópria da nobreza. Uma garota nobre indo em defesa de sua atendente, que havia cometido um erro, sendo importunada por outras três garotas nobres.

— …Hah. É o mesmo aqui, também.

— Infelizmente, sim, mas a podridão que se propaga pela realeza e pela nobreza piora a cada dia. Aqueles que seguem os mesmos princípios de Sua Majestade e de Milorde são escassos — disse seu mordomo, Keithwood, ao encolher os ombros e balançar a cabeça. Seus lábios curvados em um sorriso sarcástico que sempre usava.

Ambos cresceram juntos desde a infância. Keithwood era um órfão de guerra que foi aceito pelo rei em sua infância e criado como seu próprio filho. Como resultado, um laço forte se formou entre eles, que confiavam um no outro como irmãos de sangue.

— Então, qual é o plano? Parece bem problemático para mim. Você vai ajudar?

— Obviamente — assentiu Sion sem o menor sinal de hesitação.

A agressão era claramente unilateral. Deixar uma garota sofrer tal abuso verbal era contra seus princípios de justiça. No entanto, bem quando estava prestes a intervir, algo atravessou rapidamente sua vista.

— Com licença, mas o que exatamente vocês estão fazendo? — perguntou uma jovem com uma voz exigente. Seu cabelo esvoaçante brilhava como se estivesse encharcado com a luz de prata da lua. Com a raiva colorindo cada parte do seu lindo rosto, ela se apresentou como Mia Luna Tearmoon.

— Ah, Princesa Mia. Aquela que estão chamando de Sabedoria do Império… Então aquela é ela — sussurrou enquanto assistia de longe, um pouco hipnotizado pela garota. Ele se viu fascinado, até um pouco comovido, pela forma que ela ousadamente entrou em cena. Sua ousadia era admirável. Sua raiva, ainda mais cativante.

 Ao presenciar a opressão ao fraco, a indignação era a resposta correta. Para Sion, a habilidade de se enfurecer perante a injustiça — de ser justo em sua revolta diante de más ações — era uma qualidade essencial para aqueles que reinam sobre o povo. No entanto, quantas pessoas poderiam verdadeiramente sentir empatia pelo sofrimento dos outros? Quantas poderiam ir longe ao ponto de sentir raiva como se fossem os injustiçados? Mesmo o próprio Sion, que estava pronto para intervir, só teria feito pelo seu próprio senso de dever. Uma ação vinda da mente, não do coração. Em face à raiva genuína de Mia diante da injustiça, ele sentiu ter visto nela as características de um governante que verdadeiramente se encaixava em seus ideais.

Honestamente falando, aquilo foi um exemplo extraordinariamente marcante do porquê dos humanos nunca realmente entenderem uns aos outros

— Dizem os rumores que ela fez os arranjos para a construção de um hospital nas favelas.

— Ouvi sobre isso. Estive esperando encontrá-la desde então, mas… — Seu olhar ainda preso em Mia, Sion colocou seu dedão em seu queixo. — Francamente, esperava encontrar uma garota que vive uma vida fácil e mal soubesse diferenciar cobre de ouro.  Ou, no máximo, alguém que possuísse compaixão em abundância ou algo assim…

Um governante incompetente, porém, caridoso era bem melhor do que um que ativamente causa tumultos com seu desgoverno. Por essa razão, Sion achava Mia apenas razoável, mas a cena que acabara de presenciar mudou completamente sua opinião sobre ela.

— Quando deu aquela presilha… ela provavelmente tinha um bom entendimento do efeito que aquilo traria, também….

Uma tola gentil não escolheria entrar de cabeça na confusão, muito menos acabar com a vilania ali mesmo. Sion estava certo de que Mia possuía sabedoria a par com seu sangue imperial e portava justiça próxima àquela em seu coração.

— Se a amizade dela for a única coisa que ganhar da academia Saint-Noel, então acho que minha vinda valeu a pena — disse Sion, seu humor se tornando cada vez mais brilhante conforme sua opinião sobre Mia passava por um surto de hiperinflação.

Enquanto isso, Mia estava em terrível confusão. Ela se sentiu muito bem depois de descarregar o que pensou ser um insulto magistral, mas seu triunfo durou pouco. Depois de ver Tiona cair em prantos, ela foi imediatamente tomada por uma onda de culpa.

Não esperava que ela chorasse tão facilmente!

Mia nunca foi muito tirana. Se alguma coisa, ela era uma espécie de covarde, e apesar de sua consciência ser uma eterna preguiçosa, ela não estava completamente ausente.

— A-Ah, talvez eu, uh… tenha exagerado um pouco? Sim? Então, hmm, você poderia… Parar de chorar, por favor? — Ela gaguejou quase incoerentemente antes de pressionar um lenço nas mãos de Tiona. — Seque seu rosto com isto!

E então, ela saiu de cena.