Império Tearmoon – Vol. 01 – Cap. 06 – Princesa Mia Arregaça as Mangas

A Grande Biblioteca do Palácio Lua Branca abrigava conhecimento coletado de todo o império. Sentada em uma das mesas de madeira estava Mia, que com o queixo na palma da mão, soltou um suspiro abatido.

— Hmm… Isso tem sido muito infrutífero…

Ela tinha passado a maior parte dos últimos dias enfiada na biblioteca. Depois da memória de Anne voltar à sua mente, Mia passou a semana seguinte revendo seu diário e organizando tudo de que se lembrava. No final, chegou à conclusão de que suas visões não eram apenas sonhos. Aquilo  realmente aconteceu, ou melhor, irá acontecer no futuro. Quando  percebeu isso, gritou:

— N-N-Nunca! Não vou passar por isso de novo!

Ela com certeza não tinha estômago para a ideia de ser colocada na guilhotina uma segunda vez. Independente do que acontecesse, precisava descobrir uma maneira de evitar esse futuro. Motivada por um desejo singular de escapar desse destino horrível, Mia  se enfiou na biblioteca e começou a ler sobre o estado atual do Império Lua de Lágrima. De acordo com suas memórias, em  alguns anos, as finanças do império iriam começar a se deteriorar. Para piorar a situação, uma fome ocorreria logo em seguida, acompanhando o  início de uma praga. Então haveria uma revolta popular que se transformaria em uma revolução completa. Finalmente, o império estaria sujeito à intervenção estrangeira direta quando reinos vizinhos decidissem ajudar o exército revolucionário.

Essa era, conforme se lembrava, a essência de como as coisas haviam acontecido. Depois de ler todos os tipos de livros na biblioteca e cruzá-los com suas próprias memórias, resumiu tudo o que aprendeu em uma frase simples:

— Como tudo isso é terrivelmente complicado.

Sem surpresa, sua infância mimada a deixou desesperadamente despreparada para tal empreendimento. Não havia como folhear alguns livros e de repente entender política ou economia. O problema estava no fato de que ela sabia o que iria acontecer, mas simplesmente não sabia o que fazer para evitar isso. Frustrada, ela segurou a cabeça entre as mãos e suspirou. Mesmo a ingestão excessiva de açúcar não ajudou; não importa quantos doces comesse,  não conseguia ter boas ideias. Para seu crédito, no entanto, ela meio que começou a entender porquê pode ser um problema o fato de que apenas uma de suas refeições custava o salário mensal inteiro de um plebeu.

— Parece que não tenho escolha a não ser encontrar aquele homem…

Quando  se lembrou dos eventos com Anne, também se lembrou de outro de seus súditos leais. Era um jovem oficial do ministério de competência excepcional e ferozmente dedicado. Diante de um império em ruínas, ele deu seu sangue e suor para tentar salvar o reino e, no processo, a família real. Mesmo depois de Mia perder tudo, ele nunca a abandonou, tentando tudo que podia para ajudá-la até o fim.

No entanto, tinha um problema.

Não vejo o nome dele escrito em lugar nenhum. Tudo que me lembro é que ele havia sido terrivelmente rude…

As referências ao homem incluíam: “quatro olhos”, “quatro olhos estúpido” e “maldito quatro olhos”. Ela se lembrava de chamá-lo de todo tipo de coisa, mas seu nome era provavelmente a única coisa da qual ela nunca o chamou.

— Bem, não posso fazer muito se não souber o nome dele. Me pergunto se vou encontrar alguma pista aqui…

Ela voltou ao início de seu diário e o leu novamente. Na página que detalhava seu primeiro encontro, achou  uma pequena linha de texto que o descrevia como “o idiota que foi expulso da Central e enviado para o campo”.

— Ah-hah! Me lembro de quando  ele ocupou um cargo na capital por algum tempo… Talvez eu deva procurá-lo.

Era possível que ele ainda estivesse na capital imperial. Imaginando que era melhor se apressar, Mia se levantou e pediu para Anne fazer os preparativos de uma possível excursão.

Lunatear, a capital imperial do Império Tearmoon, era o lar de cinco ministérios que ajudaram o imperador no governo.

O Ministério da Lua Azul-Celeste era a agência administrativa da capital. O Ministério da Lua Dourada administrava os impostos. O Ministério da Lua Escarlate era a agência administrativa das regiões rurais vizinhas. O Ministério da Lua de Jade cuidava das relações exteriores. Finalmente, o Ministério da Lua de Ébano comandava os sete exércitos do império.

Mia estava indo para o ministério mais próximo do Palácio de Lua Branca, o Ministério da Lua Dourada. Ela não tinha nenhum motivo em particular para fazer isso. Nem o fato dele ter trabalhado extensivamente para restaurar as finanças do império, nem o fato dele ter sido extremamente exigente com o uso do dinheiro passou por sua mente. Foi, com toda a honestidade, apenas um palpite.

— Uhh, Princesa Mia, o que exatamente estamos fazendo aqui? — perguntou Anne perplexa.

— Existe uma pessoa que preciso  encontrar

A resposta de Mia foi curta e simples.

— Alguém… Que deseja encontrar? Você quer dizer…

As mãos de Anne atingiram sua boca e ela engasgou. Então, acenou com a cabeça em compreensão aparente.

— Se for esse o caso, então tenha certeza de que farei tudo ao meu alcance para ajudar.

— …Hm? É mesmo? Bem, se você insiste. Eu certamente aprecio isso.

Mia não tinha certeza do motivo para Anne parecer  tão entusiasmada de repente, mas  não insistiu nisso.

— Espero que ele esteja aqui… Oh, que coisa.

Elas ouviram um par de vozes. Pareciam estar discutindo.

— Por que esse gasto desnecessário pode continuar sem controle? Você sabe tão bem quanto eu, nesse ritmo, não vai demorar muito para as finanças do Império implodirem!

— Nah, chega dessa conversa.

— Mas…

— Já disse o suficiente! De que adianta se preocupar com detalhes tão triviais ?

— Não são assuntos  triviais. Se continuar assim, o Império vai…

Ela sorriu. Agora aqui estava uma voz que ela reconheceu.

— Meu Deus — disse ela, sentindo uma leve sensação de nostalgia. — Parece que encontramos ouro. Todo aquele tempo gasto na Grande Biblioteca valeu a pena!

Apesar da total irrelevância de seu limitado aprendizado na biblioteca, Mia de fato teve um golpe de sorte.