Faltavam ainda alguns dias até meu encontro com o chefe de estado Turgis, então Kuu estava nos guiando pelas cidades próximas.
Ir a lugares desconhecidos, ver como os locais viviam e identificar as similaridades entre eles e nosso próprio povo era divertido. Toda vez que encontrávamos algo novo, apresentamos as descobertas com excitação.
— Oh, o que é isso? — comentei — Nunca vi esse tipo de fruta antes.
— Irmãozão, estão vendendo alguns animais estranhos por aqui! — Tomoe chamou. — Eles são pequenos e fofos.
— Deixe-me ver… Espera Tomoe, ali não diz que eles são para comer?
— As pessoas comem eles?!
Tomoe e eu olhamos ao redor com grande entusiasmo, enquanto Juna e Roroa sorriam.
Aqueles dias tranquilos continuaram, mas hoje foi diferente.
Hoje, faltavam dois dias para ir ao encontro com o chefe da república.
Ainda era manhã, mas Kuu correu para o quarto onde eu estava. Ele estava sem fôlego, e parecia estar com pressa. Atrás dele estava Leporina, parecendo tão afobada quanto.
— Hah… Hah… Ka-Kazuma… — Ele disse ofegante
— O que aconteceu? — perguntei. — Você está totalmente sem fôlego
Quando os convidei para entrar entrar no quarto pedi para Aisha buscar um pouco de água, Kuu ergueu uma mão me impedindo, tentando colocar sua respiração em ordem ao dizer:
— Está tudo bem… não preciso de água. Antes disso, tenho que te pedir um favor.
— Um favor?
— Por enquanto, consegue chamar todos do seu grupo para esse quarto?
Vendo uma expressão séria em Kuu que nunca tinha visto antes, juntei todo os meus companheiros de viagem, apesar de algumas dúvidas
Havia nove de nós agrupados em um quarto para quatro pessoas: Aisha, Juna, Roroa, Tomoe, Hal e Kaede e eu, junto de Kuu e Leporina. Nove pessoas tornou o lugar horrivelmente apertado, mas ele disse “todos”, então não tinha o que fazer.
— Então, Kuuie. O que você tem em mente ao nos juntar aqui? — Roroa perguntou, suspeitando.
Ele era o filho do Chefe de Estado deles, então pensei que era um pouco demais chamar ele de Kuuie, mas… dada a situação tensa, decidi fingir que não escutei.
Kuu se levantou e curvou a cabeça para todos nós. Enquanto ainda estávamos em choque dada a situação repentina, Kuu disse desesperadamente:
— Vou tornar isso breve! Por favor! Me emprestem seus guarda-costas!
— P-por favor! — Leporina rapidamente se levantou também, curvando sua cabeça assim como Kuu.
— Me desculpe por envolver estrangeiros nisso! Mas ainda assim! — Ele chorou.
— Se acalme, Kuu — Eu disse. — O que exatamente aconteceu?
— Ah… C-certo.
Kuu finalmente se acalmou. Com uma respiração profunda, bateu em suas próprias bochechas, talvez como uma forma de se beliscar.
— A coisa é que uma masmorra anteriormente não descoberta teve a existência confirmada perto de uma vila da montanha que fica a aproximadamente duas horas ao norte daqui de carruagem. Parece que era uma montanha rochosa, quando ocorreu um deslizamento, a entrada da masmorra apareceu.
Uma masmorra.
Eu estava acostumado com elas sendo algo nos RPGs, mas nesse mundo, uma masmorra era entendida como um labirinto tendo sua própria ecologia. Elas eram também os únicos lugares fora do Domínio do Lorde Demônio onde monstros poderiam ser encontrados. Mas os monstros encontrados nesses lugares tinham uma inteligência do nível de bestas selvagens, não eram nada similares com os demônios sencientes no Domínio do Lorde Demônio. Havia um bom número dessas masmorras pelo continente.
Isso era o que sabemos sobre as masmorras até o momento:
Havia uma grande variedade de tipos, e eram habitadas por criaturas de baixa inteligência.
Os pontos mais profundos continham o que era chamado de núcleo da masmorra.
Enquanto o núcleo existisse, os monstros continuariam a aparecer, não importa quantos eram derrotados.
Se o núcleo fosse destruído, os monstros iriam parar de aparecer… e assim por diante.
A conexão entre monstros e os núcleos de masmorras ainda era desconhecido.
No entanto, os núcleos destruídos poderiam ser usados como jóias para uma Transmissão de Voz da Joia.
Em adição aos núcleos, ainda haviam casos onde artefatos estranhos e ultra tecnológicos poderiam ser encontrados.
Tinham grupos que tornavam o estudo desses artefatos um trabalho de vida.
A casa de Maxwell, da qual Genia, a “ultra cientista” pertencia, era uma dessas.
A existência de artefatos assim tinham causado uma quantidade insana de progressos na tecnologia desse mundo.
E ainda, haviam aventureiros como Dece e Juno, que faziam de suas vidas explorar essas masmorras, cidades próximas também lucravam com a reunião de tais aventureiros. Com as várias demandas se sobrepondo, masmorras eram consideradas perigosas, mas também potencialmente lucrativas.
Kuu nos disse, com um olhar em seu rosto como se tivesse mordido algo desagradável, que uma dessas masmorras tinha sido descoberta a apenas dois dias daqui da carruagem.
— Agora, tenho certeza que tem coisas que podem ser ganhas de uma masmorra. No entanto, isso é algo que podemos discutir apenas quando a segurança da população nas vilas próximas da entrada esteja garantida. Você nunca sabe o que está dentro de uma masmorra recém descoberta. — Ele disse.
— Então, algo saiu de lá? — perguntei.
— Sim, escutei que dez ogros, ou algo assim, saíram.
Ogros ou algo assim, huh…
Ogros eram Onis. Na mitologia japonesa, Oni era um representação simbólica daqueles que não se conformaram com o sistema, eram retratados como poderosos e assustadores, mas de alguma forma trágicos. No entanto, na mitologia ocidental, eles eram monstros humanóides comedores de homens, e geralmente eram bárbaros ou demi-humanos. Da forma que eu estava ouvindo, esses ogros se pareciam com a última opção.
— Na mesma hora em que o pessoal do vilarejo a encontrou e correram para a capital e reportar a descoberta, um pouco mais de dez ogros rastejaram para fora e atacaram o vilarejo. — disse Kuu. — De acordo com o pessoal que fugiu… eles os viram devorar pessoas indiscriminadamente
— Devorando pessoas… — murmurei.
Se os ogros estavam atacando pessoas indiscriminadamente, e as devorando, nesse ponto, não era nada diferente de um ataque de bestas perigosas. Ao invés de uma guerra travada por um propósito, não havia espaço para negociação, e nós poderíamos exterminá-los como animais.
— Naturalmente, estamos juntando forças para derrotá-los nós mesmos, colocamos um pedido na guilda para aventureiros matarem os monstros que saem da masmorra, mas… o tempo é essencial. — Kuu disse. — Assim que uma besta experimenta o gosto de carne humana, é certeza que irão atacar pessoas novamente. Com essas coisas vai ser o mesmo. Não sabemos quando eles irão atacar outra vila. Eu não sei se eles são ogros ou o que, mas não vou permitir que façam o que querem.
Kuu pareceu mais sério e heroico do que nunca. Ele era completamente diferente do Kuu sempre reservado e risonho. Era sua raiva pelos ataques ao povo de seu país. Kuu tinha agido como se ser o filho do Chefe de Estado não significasse nada para ele, mas em sua raiva, senti como se pudesse ver o orgulho de alguém que está acima dos outros.
— Entendo. — Eu disse, acenando com a cabeça. — Você tem que prevenir baixas futuras.
— Sim. É isso, Kazuma.Quero que vocês me ajudem! — Kuu disse e curvou sua cabeça mais uma vez. — Nós podemos ir até o vilarejo rapidamente daqui. Também, sei que você tem guarda costas capazes em suas mãos. Particularmente a elfa negra e o cara ruivo. Se eles viessem, seria reconfortante. Acha que pode pedir para eles também?
Emocionalmente, eu queria ajudar, mas… Eu estaria arriscando a segurança da minha família, então não podia dizer sim facilmente. Eu queria um pouco mais de informação.
— Aisha? O quão forte são os ogros? — perguntei.
— Bem, eles têm a força para esmagar rochas com as mãos, mas até mesmo soldados comuns poderiam derrotar um se o cercasse com dez homens. Eu poderia derrotá-lo sozinha. — Aisha acrescentou com uma bufada.
— Parece que tem mais de dez deles. Podemos lutar contra eles com o que temos à disposição?
— Se eles são em dez, não consigo nos ver falhando. Madame Juna, Sir Halber e Madame Kaede são combatentes excelentes, e o Sir Kuu também é muito habilidoso.
— Entendo…
Nesse caso, se pudermos confirmar a situação no local, podemos ajudar.
— Certo. Nos deixe ajudar. — Eu disse.
— Você fala sério?! — Kuu chorou
— Esse é um problema que poderia acontecer com qualquer país. É praticamente um desastre natural. Agora não é hora para nos preocupar se é com Friedonia ou Turgis.
— Obrigado! Eu te devo uma! — Kuu pareceu aliviado em receber nossa ajuda.
Eu acrescentei:
— No entanto, quero que me leve também.
— Querido?! — Juna gritou.
— Querido?! — Roroa lamentou.
Antes que elas dissessem algo a mais, levantei minha mão para pará-las
— Não posso lutar, mas minha magia é apropriada para reconhecimento. Me deixe ajudar.
— Se é assim que você quer… Okay. — Kuu disse. — Estou contando com você.
— Sim. Estaremos prontos para ir imediatamente, então nos espera lá fora.
Kuu pediu para sermos rápidos e saiu do quarto com Leporina. Assim que ouvimos os passos se afastando, Roroa me confrontou.
— Espera um minuto, querido! Você perdeu a cabeça? Indo para um lugar perigoso daqueles?!
— Também me oponho a isso. — Juna protestou. — Se algo acontecer com você, senhor, eu…
Pelo fato de ela estar se referindo a mim como “senhor” e não “querido”, podia ver que ela falava sério.
Roroa continuou.
— Você não é forte igual a Mana Ai, não é?! Porque não pode só esperar aqui?!
— Escutem, eu sei bem que não sou forte, mas quero que vocês me soltem. — apoiei minha mão na cabeça de Roroa. — Não acho que o Kuu esteja mentindo, mas para nos prepararmos para a possibilidade de uma armadilha ou qualquer evento não planejado, seria conveniente para mim estar perto da nossa maior força de combate. Se eu vou estar emprestando minha família e vassalos, tenho que ter certeza de que voltarão para mim.
— Bem, talvez, mas…
— Além disso… acho que é uma boa oportunidade para aprender sobre como os monstros são.
— Aprender sobre os monstros? — Roroa perguntou.
— Sim. Desde que vim para esse mundo, vi criaturas cruéis pelos olhos do Pequeno Musashibo, que eu fazia trabalhar como aventureiro, mas se tratando de monstros, apenas tenho um conhecimento de segunda mão. Pensando sobre o futuro, gostaria de vê-los pessoalmente e medir a ameaça que eles representam.
Pode ser que venha uma hora em que terei de enfrentar os demônios do Domínio do Lorde Demônio. Se isso acontecer algum dia, posso acabar tropeçando ao me aproximar com o conhecimento de um iniciante, pensando que tudo ficaria bem por eles serem inteligentes. Em adição aos demônios, aparentemente também tem uma enorme gama de monstros no Domínio. É por isso que eu queria essa chance de aprender mais sobre monstros.
— Mas é claro, eu vou garantir minha segurança o melhor possível… Inugami.
— Estou aqui. — Inugami apareceu repentinamente das sombras da porta por onde Kuu e Leporina saíram.
Sempre havia mais de dez membros dos Gatos Pretos por perto, nos observando sem serem notados. Tinha sido desse jeito desde nossa saída da Cordilheira do Dragão Estrela.
Eu entreguei algo a ele e também dei uma ordem:
— Você estava nos ouvindo, certo? Quero que envie alguns dos Gatos Pretos para fazer o reconhecimento do nosso acampamento agora. Confirme se a situação e o número de monstros estão de acordo com o que Kuu nos disse. Vou deixar a escolha dos membros para você. Se tiver mais deles do que podemos lidar, me reporte com esse rato de madeira. Se esse for o caso, vou me sentir mal pelo Kuu, mas teremos de recuar.
— Pela sua vontade.
Inugami pegou o rato de madeira possuído pelo meu Poltergeist Vivo, desaparecendo repentinamente da mesma forma que apareceu. Ele estava ficando mais e mais ninja, não estava?
— Hrm.. Bem, se você vai ficar num lugar seguro, acho que está tudo certo… — Roroa murmurou.
— Eu vou ter que aceitar. — Juna concordou
Sorri. Minhas medidas cuidadosas fizeram Roroa e Juna aceitarem relutantemente que eu estaria colaborando.
— Não se preocupem! — Aisha declarou. — Vamos acabar com aqueles monstros imediatamente. Não vamos deixar eles encostarem um dedo em Sua Majestade. Certo, Sir Halbert, Madame Kaede?
— Mas é claro! — Hal concordou. —Estava pensando que queria testar minha nova arma também!
— Sério, Hal… — Kaede murmurou. — Mas se é uma ordem real, nós vamos seguir, você sabe.
Aisha encheu o peito orgulhosa, Hal e Kaede acenaram com a cabeça. Que noiva e companheiros confiáveis eu tinha.
Agora que nosso caminho estava decidido, dei a cada um deles ordens individuais.
— Roroa e Tomoe vão ficar na cidade. Vamos deixar alguns membros dos Gatos Pretos para protegê-las.
— Bem, mesmo se fossemos, acabaríamos sendo apenas um estorvo. — Roroa disse.
— Se proteja, irmãozão. — Tomoe acrescentou.
— É claro. Não vou fazer nada perigoso, apenas confiem em mim e esperem. — coloquei ambas as mãos em suas cabeças e as acariciei gentilmente. — O resto do grupo vai ir com o Kuu para abater os monstros. Vou me manter em contato com os Gatos Preto, farei o reconhecimento pela retaguarda. Juna será minha guarda-costas.
— Deixe comigo! — Juna disse
— Aisha, Hal e Kaede, vocês irão derrotar os monstros com o Kuu. Mas não se forcem. Se acharem que é perigoso, recuem imediatamente. Isso também serve caso seja detectado mais inimigos do que o reportado durante o reconhecimento e dê a ordem para recuar. Eu não vou tolerar perder uma única pessoa em outro território!
— Sim senhor! — Aisha exclamou.
— Entendido! — Hal disse.
— Pode deixar com a gente, você sabe. — Kaede confirmou.
Escutando a resposta de todos, dei a ordem.
— Agora, todos…Vamos!
— Sim, senhor! — Todos gritaram.
Na carruagem a caminho, expliquei minha magia para Kuu e Leporina.
Obviamente, se eu dissesse para ele sobre as limitações ou sobre a área de efeito em detalhes, levaria muito tempo, então apenas contei o que precisavam saber.
— Minha magia transfere minha consciência para objetos modelados em criaturas, como manequins, me permitindo controlá-los livremente. Por exemplo, ao transferir minha consciência para esse rato de madeira, tenho a visão do… bom, apenas entenda que vou ver o que o rato vê.
— Wow, essa é uma habilidade e tanto! — Kuu disse, impressionado enquanto via o rato de madeira se mover livremente na minha mão, quase como se estive vivo. — Oookyakya, se eu tivesse uma habilidade como essa, poderia espiar o banheiro feminino o tanto que eu quiser!
— Você tinha que pensar nisso?! — exclamei.
— Jovem mestre, você está me envergonhando como sua subordinada, então por favor, mostre um pouco de autocontrole. — Leporina protestou com lágrimas nos olhos.
Em contraste com o rosto preocupado que ele mostrou quando se apresentou na pousada, Kuu já estava de volta ao seu comportamento normal.
Eu os ignorei e continuei
— É por isso que, se eu mandar esse rato de madeira para fazer o reconhecimento, posso ter uma ideia exata da situação sem que o outro lado saiba. O problema é que não sei para qual direção o inimigo está, posso apenas enviar ele para patrulhar a área ao nosso redor.
Talvez Aisha pudesse, mas eu não conseguia fazer algo como sentir a presença do inimigo. Se eu soubesse para qual direção ele estava, poderia mandar um imediatamente, mas até lá, vou deixar eles espalhados em uma área ao nosso redor.
Dito isso, assim que o destacamento dos Gatos Pretos que mandamos na nossa frente chegasse, eu saberia qual direção correta de imediato. No entanto, não poderia deixar que Kuu e Leporina descobrissem sobre a unidade clandestina operando sob minhas ordens.
— Nesse caso, podemos mandar Leporina olhar. — Kuu disse como se não fosse nada demais. — Ela e seus companheiros coelhos brancos tem boas orelhas. Mesmo em florestas com uma visibilidade ruim, são capazes de sentir a direção das coisas se movendo pelo som que fazem.
— Mas consigo saber apenas a direção do som, e se vem de uma única fonte ou várias. — Leporina acrescentou
Oh, isso combinava bem com minha habilidade. Leporina poderia reduzir as direções, e então eu podia enviar o rato.
Então recebi uma mensagem.
“Inugami reportando. Alvo avistado”
O relatório de Inugami e seus homens chegou em minha mente através de uma parte da minha consciência.
— Nós temos confirmação visual de cinco criaturas. Os alvos são ogros. No entanto, Sua Majestade… a forma deles é de alguma forma… distorcida.
Distorcida? Eu conseguia ver os bonecos que estava controlando através de uma visão aérea, mas isso também significava que só poderia ver a área em volta deles. Ja que os Gatos Pretos estavam monitorando os alvos à distância, eu não conseguia vê-los, então só pude imaginar de acordo com o relatório.
— O rosto e tamanhos deles são de ogros, mas seus braços são imensos e encostam no chão, resultando neles andando de quatro. Escuto que muitos monstros são bizarros em comparação com aqueles ditos em lendas. É provável que essa seja uma das sub-raças.
Uma sub-raça de ogros…huh. Fiz o rato que ele estava carregando tremer para indicar que tinha entendido.
O acordo era que Inugami e seu pessoal ficassem vigiando a masmorra de onde os ogros surgiram. Isso era para que pudéssemos nos prepararpara uma situação em que mais monstros poderiam rastejar para fora de lá, e também porque eu não podia ter unidade de espiões fazendo algo que chamasse muita atenção.
Mesmo assim… chamou minha atenção que muitos dos monstros que ficavam nas masmorras tinham formas bizarras
O alto número de monstros e demônios que começaram a surgir depois do Domínio do Lorde Demônio aparecer. Eles eram distintos dos muitos monstros estranhos que habitavam as masmorras desse continente. Qual era a diferença entre eles? Havia alguma para início de conversa?
Para conseguir enxergar melhor esse mundo, posso ter que prestar atenção nisso também.
Era um sentimento vago, mas essa era a sensação que eu tinha.
Enquanto pensava nisso, chegamos no vilarejo da montanha que dizia ter sido atacado por monstros.
Era uma pequena vila com mais ou menos dez prédios, mas parecia que um tornado passou por ele. Nenhuma das construções estavam queimadas, mas quase todas tinham desmoronado ou tinham buracos nas paredes. Se havia alguma diferença entre um tornado, eram as manchas de sangue que podiam ser vistas aqui e ali.
As linhas de sangue que pareciam ter vindo de um corpo sendo arrastado eram especialmente perturbadoras.
— Droga… Primeiro, temos que procurar se tem alguém aqui! — Kuu disse, rangendo os dentes.
Todos nós procuramos ao redor para ver se havia algum sobrevivente. No entanto, não encontramos nem os corpos
Aqueles que conseguiram escapar, sobreviveram, e aqueles que não conseguiram foram devorados ou arrastados.
Tendo confirmado que não havia mais ninguém na vila, nos juntamos e começamos nossa busca.
— Leporina, consegue me dizer para qual direção os monstros foram? — perguntei
— Vou tentar. — Leporina levantou suas orelhas de coelho,. Alguns segundos depois ela acrescentou. — Tem cinco deles à duas horas, sete à três horas e barulhos indicando a presença de muitos outros.
— Ouvi falar que ogros se movem em grupos. Estes dois grupos devem ser eles.
Os muito outros provavelmente devem ser os membros dos Gatos Negros em posição pela floresta.
Mandei o rato de madeira na direção que Leporina apontou. Então, quando ele se foi por aproximadamente oitocentos metros longe da vila, confirmei cinco ogros e depois de mais um quilômetro de distância, estavam os outros sete.
Igual ao relatório que tinha recebido dos Gato Negros, os ogros realmente possuíam uma forma bizarra. Seus braços eram estranhamente gordos e grandes, fazendo com que seus corpos fossem extremamente desbalanceados.
De mangás e jogos, eu tinha uma imagem de ogros como sendo machões gordos com chifres, usando uma saia de palha e balançando enormes clavas por aí, mas enquanto esses ogros tinham uma cabeça de ogros, não havia vestimenta, nem carregavam armas seus corpos eram cobertos por pelos longos. Eles eram como uma mistura de oni com um gorila, e se parecia com o ijuu que eu tinha visto na enciclopédia youkai que li quando criança.
O rato de madeira chegou mais perto e confirmou que ambos os grupos estavam sentados em um círculo e festejando alguma coisa. Tive um mal pressentimento, então decidi não olhar, mas vi de relance um dos morad… Não, melhor não pensar sobre isso.
Os “ogros-gorilas” com seus olhos sanguinários estavam devorando sua comida despreocupadamente. A única coisa que consegui obter deles, foi que estavam extremamente famintos.
Ainda bem que não trouxemos Tomoe…
Se estivesse apenas considerando meu objetivo de aprender sobre monstros, a habilidade de Tomoe teria sido útil. Mas eu podia dizer apenas olhando, havia algo de diferente com esses caras. Eles apenas pensavam em comer.
Quando se tratava de humanos e animais, assim que seus estômagos estavam cheios de comida, eles se acalmavam. No entanto, esses ogros estavam comendo, mas não mostravam o menor sinal de estarem satisfeitos. Eles eram como ghouls vindos do inferno. Se Tomoe pudesse entender o que quis dizer com isso, ela provavelmente teria desmaiado com o choque. Era uma cena cruel.
Enquanto evitava a náusea, informei a todos do que eu tinha visto.
Escutando meu relatório, Kuu bateu com os punhos no chão como se descontasse as frustações nele.
— Aqueles desgraçados! Nunca vou perdoá-los!
Hal cruzou os braços e disse:
— Tem alguma distância entre os dois grupos? Vai ser complicado se eles se unirem
— Derrotar uma força dividida é uma estratégia básica, sabe. — Kaede, que era oficial na Força Nacional de Defesa de Ludwin, concordou. — Se possível, gostaria de me livrar do grupo menor primeiro.
Kaede colocou cinco e sete pedras no chão, então cavou uma trincheira entre eles com um graveto.
— Eu gostaria de colocar uma armadilha entre esses dois grupos. Uma que vai atrasar os sete caso percebam que algo está errado com os cinco, e corram para ajudar, isso pode feri-los se formos sortudos.
— Nós temos tempo para preparar armadilhas? — perguntei.
—Posso facilmente fazer poços com minha magia, se não houver outra escolha, sabe. É por isso que eu gostaria de ficar de fora da luta com os cinco, e ao invés disso, mantê-los separados. Se possível, gostaria de um arqueiro que pudesse mirar nos feridos e enfraquecê-los.
— Então, Leporina pode ir com você. Ela age como uma idiota, mas é uma arqueira capaz. — disse Kuu.
— Você não precisava me chamar de idiota. — Leporina protestou, mas ainda seguiu a ordem.
Isso já nos deu mais ou menos um plano de batalha. Enquanto Kaede e Leporina atrasariam a chegada do grupo de sete, Asiha, Hal e Kuu iriam eliminar o grupo de cinco com seu potencial de combate completo. Eu estaria apenas atrapalhando, então estaria dando apoio a longa distância usando o Pequeno Musashibo com a Besta equipa que eu havia trazido.
Juna estaria em prontidão como minha guarda-costas e atacaria se ordenada.
Quando a operação começou, Kuu deu uma ordem.
— Me desculpe por envolver vocês de outro país nos problemas do meu. Mas por enquanto, obrigado, me emprestem sua força! Vamos levar nossa força improvisada e combinada!
— Sim! — Todos gritaram.
Apesar de sermos um grupo pequeno e montado às pressas, a primeira batalha em conjunto do Reino de Friedonia e a República de Turgis começava.
Para conseguir derrotar todos eles antes dos sete chegarem de outro lugar, decidimos que seria preciso avançar primeiro com um ataque surpresa de maior poder possível. O objetivo era ter certeza que pelo menos um deles seria derrubado com o ataque inicial.
E entre nós, aquele com maior poder era… Aisha.
— Hahhhhhhh!
Com um grito de guerra, Aisha balançou sua espada grande.
Pego desprevenido pelo ataque, um dos ogros foi dividido em dois sem poder fazer nada. Os outros quatro entraram em pânico ao ver que um deles tinha sido abatido.
Então Aisha, Hal e Kuu pularam neles.
— Sei que você sabe disso, ruivo, mas não temos muito tempo! — Kuu gritou.
— Eu sei, cabelo branco! — Hal gritou de volta.
Espera, Hal, eles é o filho do chefe de estado, okay?
Kuu estava segurando o porrete decorado com um centopeia dourada que tínhamos visto na oficina do Taru. Hal carregava duas lanças curtas, mas nas suas bases elas estavam unidas por uma corrente fina. Era essa a nova arma que ele disse ter comprado no Taru? Acredito que era chamada de Lança Serpente Dupla.
— Seus moleques vão pagar pelo que fizeram com nosso povo! — Kuu rodou seu porrete como um moinho de vento, então moveu-se agilmente desviando dos braços de seu oponente e acertando com precisão a testa do ogro, o plexo solar, e outros pontos vitais.
— Muito lerdo! Aqui, você pode comer isso também!
Muito provavelmente, o porrete era fortalecido com um encantamento. Toda vez que acertava carne, havia um som vibrante. O ogro segurava o lugar onde havia sido atingido e gritava de dor.
Comparado com o estilo de ataque próximo de Kuu, Hal estava trabalhando a médio alcance.
Ele envolveu a lança de sua mão direita em chamas, e o arremessou no ogro. Quando desviou, a lança acertou nas árvores atrás dele. Naquele momento, as chamas explodiram. Houve um estrondo alto e a árvore explodiu em pedacinhos.
O ogro se aproximou de Hal, sem se sentir intimidado, e ergueu seus braços enormes.
— Oh, droga! — Hal gritou.
Antes que pudesse acertá-lo, Hal puxou sua lança remanescente.
Isso puxou a corrente conectando a lança a sua base, e a outra lança retornou suavemente para sua mão. Hal cruzou as lanças e bloqueou o ataque descendente do ogro.
— Urgh… É, eu não estou me saindo muito bem entrando em batalha sem nenhuma prática. — Ele gemeu.
Enquanto deslizava suas lanças cruzadas e redirecionava os braços do ogro para a direita, Hal girou seu corpo, e lançou um chute circular flamejante de costas no flanco do oponente. O corpo do ogro, que era facilmente maior que dois metros, foi arremessado por uns cinco metros.
Hal estralou o pescoço, e olhou para o ogro.
— Sheesh… Eu vou precisar treinar para conseguir usá-lo rapidamente.
Hal sorriu, e então jogou sua lança esquerda contra o ogro dessa vez.
O ogro tentou desviar novamente, mas Hal usou a outra lança para mudar sua trajetória. Ele não conseguiu desviar, e acertou o ombro direito do ogro.
— Exploda! — Hal gritou.
A lança imbuída em chamas estourou o braço direito do monstro.
Enquanto Kuu e Hall pareciam estar com a vantagem em suas batalhas, Aisha lutava contra dois ogros sozinha. Apesar disso, não havia sinal algum que indicasse que ela estava com problemas.
Repelindo todos os golpes pesados dos ogros com sua espada grandeo, ela continuava a cortá-los. Com o passar do tempo, a quantidade de cortes profundos aumentava.
— Tão inexperientes. Isso não é nem um aquecimento. — Aisha disse quanto cortava o braço de um dos ogros no ombro.
Todos os três estavam fazendo um trabalho incrível lutando.
Por acaso…da minha parte, eu estava assistindo-os à distância.
Isso era para que pudesse também observar aqueles sendo atrasados, como também para manter um olho em qualquer sinal de atividade inimiga na área próxima.
Enquanto eu ocasionalmente via uma abertura e fazia meu Pequeno Mashibo com sua Besta equipada atirar, os músculos grossos dos ogros ficavam no caminho, então meu tiro de suporte não estava fazendo um trabalho muito bom, além de irritá-los.
— Todos são fortes. — murmurei para mim mesmo.
— Mas é claro. — Juna disse. Ela estava em pé ao meu lado como minha guarda-costas. — Aisha e Sir Halbert estão entre os melhores guerreiros de nosso país. Devo acrescentar que Sir Kuu também é forte. Não tenho certeza se eu conseguiria vencê-lo.
— Oh, sim. Agora que mencionou, você era um deles, huh…
A comandante dos fuzileiros navais da antiga marinha. Ela era alguém que tinha a força para se comparar aos outros.
— Sei que posso contar com você. — acrescentei.
— Hee hee. — Ela pareceu contente. — Mas… Não abaixe sua guarda, okay?
Juna tirou cinco facas repentinamente e as arremessou para frente.
As facas imbuídas em água deixaram uma trilha enquanto avançavam, então penetraram uma grande rocha que estava vindo em nossa direção em algum ponto, e no próximo instante, a rocha foi pulverizada. Parece que um dos ogros que Aisha tinha encurralado começou a arremessar por aí qualquer coisa que estava por perto durante o desespero. Uma dessas coisas acabou vindo em nossa direção.
— Porque a coisa para realmente temer em tempos como esses são as flechas perdidas que acabam vindo em sua direção sem intenção assassina. — Ela terminou.
— Oh! Okay…
Enquanto ela escovava o cabelo e dizia isso, senti-me apaixonando por Juna novamente.
Quando havia apenas um ogro restante, houve um movimento dos outros sete.
— Ah! Os sete estão vindo para cá! Kaede e Leporina estão vindo também!
Relatei para todos, então me preparei para a batalha novamente.
Leporina e Kaede se apressaram de lá. Elas estavam se movendo como planejado, mas por alguma razão, Leporina parecia perturbada. Ela correu direto para mim.
— O q-O que foi?
— Hah, hah… K-Kazuma! Além daqueles sete, outro grupo está vindo às oito horas! Tem cinco deles!
Um grupo? Reforços, agora?
Mas eu não recebi nenhum relatório dos Gatos Pretos.Enviei um rato de madeira na direção que Leporina indicou. Então, quando eu confirmei o grupo… Fiquei chocado.
Huh? O que eles tão fazendo aqui?!
Eu estava tão surpreso, que perdi a voz. Quando voltei aos meus sentidos, escondi meu boneco Pequeno Musashibo nos arbustos. Seria ruim se aqueles caras vissem-no.
— O-O que foi?! É algo ruim?!
Leporina estava com um rosto preocupado, então eu apressadamente balancei minha cabeça.
— Oh… Está tudo bem. Eles não são nossos inimigos.
E eles vieram do outro lado dos arbustos.
Dava para saber só de olhá-los que eram cinco aventureiros. O espadachim bonitão, uma ladra elfa com aparência masculina e cabelo verde, o artista marcial musculoso, o educado sacerdote de rosto gentil, e a bela e silenciosa maga. Eu…conhecia bem essas pessoas.
— Nós viemos dar suporte a você em resposta ao seu pedido da guilda de aventureiros! — O espadachim bonitão conhecido como Dece gritou. — Tem alguém no comando por aqui?
Toda vez que eu mandava Pequeno Masashibo para fora para brincar de aventureiro, esse era o grupo que eu me juntava.
O espadachim se chamava Dece.
A ladra era Juno.
O cara educado no uniforme de sacerdote era Febral.
A maga era Julia.
E o cara musculoso era… Quem era ele de novo? Ele não estava lá da última vez que me juntei à equipe… Oh! Augus. Era Augus.
— Hm?
Então Juno veio até mim, e…
— Hey, você. A gente já não se conhece de algum lugar? — Ela perguntou enquanto me encarava.
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Esse é apenas um lembrete, mas aventureiros eram pessoas que viviam suas vidas conquistando as masmorras que existiam por todo o continente, derrotando criaturas perigosas que às vezes fugiam delas, e executando tarefas como defender mercadores e subjugar bandidos.
O objetivo final de um grupo de aventureiros era conquistar uma masmorra e ganhar riquezas e glória por destruir e trazer de volta o núcleo da masmorra.
Entre eles, haviam classes baseadas no trabalho que desempenhavam.
Se eles se especializavam em combate a curta distância, eram “espadachins” ou “lutadores”. Se eram especialistas em combate à longa distância, eram “arqueiros”. E se focassem na magia, eram “magos”. Além disso, havia o cargo de reconhecimento e comando conhecido como “ladrão” e o papel de curandeiro era dado ao “sacerdote”, mas esses eram apenas os títulos de trabalho, e não significava que eram ladrões ou sacerdotes de verdade.
Eles eram como o João e Maria de todas as trocas, dos quais seus corpos eram a principal vantagem, o que significava que sua posição na sociedade não era particularmente alta, mas se eles conseguissem recuperar algo útil de uma masmorra, eles poderiam acabar ficando ricos, então era uma profissão razoavelmente popular e romantizada.
Mais a frente, devido à natureza das trocas, eles trabalhavam regularmente nas fronteiras, então estar registrado na guilda de aventureiros também garantia benefícios de vistos simplificados quando entravam ou saíam de um país.
Você pode até pensar que isso os tornaria fáceis de usar como espiões, mas também significava que era fácil para eles chamarem à atenção. Se um aventureiro descuidado chegasse muito perto de segredos importantes, ele com certeza seria abatido sem perguntas.
Ainda, é verdade que era um jeito conveniente de entrar em outro país disfarçado, e é por isso que a irmãzinha do Império Gran Chaos, Jeanne, conseguiu fazer contato com o Souma no passado.
Agora, voltando à história. Voltamos mais ou menos meio dia mais cedo.
Nesse dia, o espadachim Dece, a ladra Juno, o sacerdote Febral, a maga Julia e o artista marcial Augus deixaram sua base de operações rotineira em Friedonia para visitar a República de Turgis.
Seu objetivo era comprar novos equipamentos. Eles precisavam de novas armas e armaduras para substituir aquelas que usavam nos trabalhos de aventura, e todos concordaram com isso. Se tivessem que comprar, pegariam equipamento Turguês, que era conhecido pela sua alta qualidade.
Sendo os contratados que pegavam serviço de outros, não apenas funcionalidade era importante, como também aparência.
Já que importar este tipo de produto era relativamente caro, eles decidiram ir ao lugar onde elas eram feitas, como meio para poupar dinheiro.
Dece e os outros estavam todos sorrindo depois de comprar seu novo equipamento, mas então a guilda de aventureiros postou uma missão de emergência.
Aparentemente, uma masmorra havia sido descoberta perto de uma vila da montanha, ogros rastejam para fora dela e atacaram o pequeno vilarejo. A missão era para “cooperar e subjugar os ogros”.
Essa missão de emergência estava no nome tanto da guilda como do país, e os aventureiros na área afetada eram quase que obrigados a aceitá-la. Eles podiam recusar, mas caso fizessem, arcariam com graves consequências, tais como ter seu status de aventureiros removido.
— Bom, se é uma missão de emergência, não podemos exatamente recusar. — Dece comentou. — Vamos, todo mundo.
— Urgh… Eu acabei de conseguir esse equipamento novo, e eu já preciso suja-lo? — Juno reclamou.
Seus ombros caíram, como se percebessem que estavam sendo levados para um verdadeiro problema.
Mesmo assim, eles não poderiam ignorar.
Não havia nada mais a se fazer, então Dece e os outros se apressaram para ir às montanhas a fim de se juntar ao grupo que já estava na localização e lidando com o problema.
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— Hey… você. — Juno disse. — A gente já não se conhece de algum lugar?
A ladra tinha um distinto cabelo verde e idade de dezessete, talvez dezoito anos. Seus olhos desafiadores parecem não se encaixar em seu rosto juvenil que me encarava.
Em seu grupo, ela era especializada em reconhecimento e emboscada, então se vestia com roupas leves, com shorts e uma camisa regata com um peitoral sobre. Mas por conta do clima frio desse país, agora ela vestia uma capa por cima disso tudo.
— Seu rosto… — Ela continuou. — Sinto que já o vi em algum outro lugar.
— Erm… — Eu respondi.
Eu não tinha certeza de qual rosto ela se referia. Era o meu rosto na Transmissão de Voz da Joia como o Rei de Friedonia, ou meu rosto quando nos encontramos nas antigas favelas, ou o rosto da pessoa dentro do aventureiro Pequeno Musashibo…? Oh, espera, eu estava controlando o Pequeno Musashibo remotamente. Bom, não importa qual das minhas identidades alternativas era, seria problemático explicar.
Julgando pelas rugas na testa de Juno, parecia que ela mesma não conseguia se lembrar. Nesse caso, minha solução estava decidida.
Eu ofereci minha mão à Juno.
— Prazer conhece-los. Vocês são os aventureiros que vieram nos ajudar?
— Huh? Huh… Sim, mas…
— Whew, que bom que estão aqui. — peguei a mão de Juno e balancei com força.
Meu plano era continuar antes que ela adivinhasse alguma coisa. Enquanto eu segurava a mão direita de Juno, apontei para os últimos cinco ogros que os outros estavam enfrentando.
— Nós também viemos aqui para matar os ogros e responder o pedido de ajuda do Sir. Kuu.
— V-você veio? — Juno olhou para mim fixamente.
Whew… Parece que eu consegui fingir certo o suficiente.
— Querido…
Juna, que estava em pé ao meu lado, estava me olhando com um sorriso.
Mesmo que não tenha dito nada, eu conseguia saber o que ela pensava.
“Oh, meu senhor, por quanto tempo você planeja segurar a mão dela?”
“Que tipo de relação você tem com ela…”
Senti que eu estava sendo interrogado. Eu era como um sapo, paralizado pelo olhar de uma cobra. Não, não qualquer cobra, uma cobra gigante marinha. Era em tempos como esse que eu realmente podia sentir que Juna era a neta da serpente marinha Excel.
Eu solto a mão de Juno, então volto a conversa para o líder do grupo Dece, que tinha um olhar em seu rosto de como se perguntasse do que estávamos falando.
— Terminamos de eliminar aqueles cinco, mas ainda tem outros sete vindo em nossa direção. — Eu disse. — Gostaria de sua ajuda para exterminá-los.
— C-Claro! — Ele respondeu. — Entendi. Vamos lá, todo mundo.
— Sim! — disse Augus.
— Sim senhor! — Febral e Julia gritaram.
Juno continuou me encarando, mas graças ao sutil intermédio de Juna, conseguimos quebrar a linha de contato.
Juno ficou com uma expressão irritada para alguém que estava entre nós.
Juna não deixou seu sorriso quebrar mesmo que a outra mulher a encarasse duvidosamente.
Fagulhas cintilavam entre elas.
Por que…? Eu senti uma dor no estômago.
Bom, deixando isso de lado.
Não muito depois, os sete ogros apareceram, mas com nosso grupo original de sete melhorado com os cinco aventureiros, agora havia doze de nós.
Mesmo me excluindo, já que eu não podia usar meu boneco Pequeno Musashibo na frente de Juno e seu grupo, o que significava que meu papel de reconhecimento estava reduzido com Juna me protegendo, nós ainda tínhamos pessoal suficiente para esmagá-los.
Enquanto Dece e Juno estavam bem mais abaixo que Aisha ou Hal em termos de habilidade, Dece e Augus mantinham os ogros sob controle nas linhas de frente, Febral curava seus ferimentos, Juno atrapalhava os ogros e os cortava com suas espadas duplas revestidas com veneno, e Julia os finalizou com magia.
Eles usavam todo tipo de trabalho em equipe para acabar com dois ogros. Estavam derrotando inimigos dos quais não conseguiriam sozinhos, mas com trabalho em equipe.
Era um estilo diferente dos usados por soldados no campo de batalha, e combinava com eles como aventureiros.
Pequeno Musashibo era parte disso…
O Pequeno Musashibo que eu fazia agir como um aventureiro se juntava ao grupo deles regularmente. Seu trabalho era o tipo de trabalho da vanguarda que Dece e Augus estavam fazendo. Mesmo que tenha sido temporário, ele se juntou a eles muitas vezes, então eu estava confiante que ele poderia trabalhar em conjunto com eles.
Ele já tinha sido convidado para se juntar ao grupo formalmente também, mas eu não podia arcar com um pedaço da minha consciência para ficar constantemente participando de aventuras, então recusei educadamente. E pensar que eu ia encontra-los nesse país… Me perguntei. Seria obra do destino…?
— Destino é uma amante inconstante, e a miséria faz um homem familiarizar-se com estranhos companheiros… — murmurei.
— Hm? Disse alguma coisa? — Juna questionou
— Não, nada não. — balancei minha cabeça.
O que em algum ponto se tornou o último ogro, recebeu a lança flamejante de Hal no seu flanco, o que criou um enorme buraco quando explodiu.
Agora exterminamos todos dessa área.
Não havia mais relatórios de mais inimigos dos Gatos Pretos observando a entrada da masmorra, então isso era uma missão cumprida.
— Todos vocês foram ótimos — Kuu disse. — Kazuma e companhia, vocês aventureiros também. Eu agradeço a vocês em nome das pessoas deste país.
Kuu e Leporina abaixaram suas cabeças. Ele estava falando formalmente, sem dúvidas por ser aquele que divulgou a missão.
Então, Kuu levantou a cabeça e sorriu para Dece e os outros com uma risada.
— Vocês realmente nos salvaram. Vou dizer à guilda que a missão está completa. E sobre a parte de vocês também, é claro. Vá até eles para receberem sua recompensa.
— C-Certo. — disse Dece. — Entendido. Estamos indo, então.
Dece e os outros abaixaram as cabeças e se viraram para a estrada de onde vieram.
Quando eles estavam quase fora de vista, Juno pareceu entrar em pânico sobre alguma coisa e correu volta sozinha.
Oh, merda! Ela descobriu alguma coisa?
Ela parou na minha frente, e apontou o dedo na minha direção.
— Me lembro agora! Vo–você é o cara no campo de refugiados de Parnam
Oh, esse é o que ela se lembra, huh…
Parecia que ela se lembrava de mim não como rei, nem como o Pequeno Musashibo, como o cara que ela encontrou no campo de refugiados. Me pergunto como eu iria desviar do problema, mas sabia que tentar mentir enquanto ela me encarava acabaria saindo pela culatra.
Coloquei minha mão no topo de minha cabeça e me curvei levemente.
— Ohh… Obrigado pelo seu tempo…
— Eu sabia! Eu queria te perguntar esse tempo todo! Lá atrás, eu nunca te disse meu nome, mas você me chamou de Juno! Como você saberia meu nome?!
— Isso…
Qual seria a melhor forma de responder a isso? Eu poderia dizer que era porque eu era o Pequeno Musashibo e tinha trabalhado com frequência com o grupo dela… certo?
Mas, huh? Havia alguma necessidade de manter esse segredo? Seria problemático se eles descobrissem que eu sou o rei agora, mas se eles soubessem que eu estou conectado ao Pequeno Musashibo… isso não seria um problema, certo?
— Bom… A verdade é…
— Hey, Juno! Nós vamos te deixar para trás! — Dece estava chamando ela de longe.
Juno cerrou os dentes, então apontou seu dedo indicador para mim novamente.
— Da próxima vez que nos encontrarmos, eu vou conseguir respostas de você!
Deixando essas palavras para trás, Juno correu de volta para o resto do grupo.
— Da próxima vez… huh.
Eu estava bem em contar para ela, mas acabei mantendo o segredo no fim das contas.
Para ser sincero, eu estava sempre no centro de Parnam, e não saia muito do castelo, então iria encontrar Juno pessoalmente de novo algum dia?
Enquanto eu me perguntava isso, Kuu bateu as palmas,
— Agora então… Leporina, Kazuma, não há mais ogros do lado de fora, certo?
— Certo. — Leporina disse. — Eu não escuto mais nenhum outro grupo se movendo.
Concordei.
— Mandei meu rato de madeira atrás de fontes individuais de som, e posso confirmar que não há mais ogros por perto.
Kuu concordou com a cabeça.
— Nesse caso, devemos ficar bem agora. O exército já deve chegar a qualquer momento, então podemos deixar para eles guardarem a masmorra. Você estava vigiando a entrada, por acaso, certo?
— Sim. — respondi. — Parece que também não há movimento por lá.
Apesar que, se eu fosse ser mais correto, os que estava vigiando a entrada seriam os Gatos Pretos. Não houve nenhum novo relatório, então deve estar tudo bem.
Kuu pensou por um tempo.
— Então posso pedir a você para vigiar até que os militares cheguem? — Ele finalmente perguntou. — Se algum outro monstro conseguir sair, teremos de lidar com ele.
Cabia bem a ele, como aquele acima dos outros, que sua posição seria tomar todos os cuidados possíveis até que estivéssemos totalmente seguros. Naturalmente, concordei de todo o coração.
— Entendido! — disse. — Vou continuar assistindo até que eles cheguem.
— Estou contando com você. Okay, devemos retornar então também? Cara. Me desculpe. Envolver vocês em nossos problemas desse jeito. — Kuu disse com um sorriso. — Eu sou realmente grato, sabe? Deixe me pagá-lo com a mesma recompensa que darei aos aventureiros.
Mas eu balancei minha cabeça.
— Não, isso estava dentro do acordo de colaboração internacional. Eu não preciso de nenhuma compensação.
— Huh? Eu não me sinto bem deixando as coisas como estão…
— Você não? Hm… Se insiste, então você poderia pedir para o seu pai fazer todo tipo de concessão para o meu país nas próximas conversas? — perguntei brincando.
Kuu riu e jogou seu braço envolta do meu ombro.
— Oookyakya, isso não vai acontecer! Quando se trata de negociações com outros países, a vida do meu povo está envolvida. Eu posso ser grato, mas não posso fazer concessões aí.
— Ha ha ha, sério? Que pena então.
— Você não está falando sério. — Kuu sorriu. — Se está, então tente parecer mais chateado.
Olhamos um para o outro e rimos.
Aisha e Juna nos observavam com sorrisos.
— Eu não sei como dizer isso, mas eles são tão jovens quando você os observa desse jeito. — Aisha disse.
— Hee hee. — Juna deu uma pequena risada. — É relaxante, de um certo modo.
Eu me senti um pouco envergonhado.
Tradução: Vinyell
Revisão: Pride
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