Dark?

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 07 – Cap. 03 – Um Grande Homem Ainda em Construção

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Não tinha muito sentido em continuar essa discussão do lado de fora, então fomos para dentro da oficina.

Junto com aqueles que já estavam lá antes, dessa vez Aisha estava nos acompanhando como guarda-costas.

Já tinha visto Kuu balançando aquela clava por aí, então sabia que ele era bem experiente, mas para o caso improvável das coisas darem errado, eu queria Aisha ao nosso lado.

Enquanto tomava o café que Taru preparou, expliquei para Kuu meu pedido para essa oficina.

— Bem, essa é a essência da coisa… — finalizei.

Existiam reformas médicas sendo feitas no Reino da Friedônia. No futuro haveria uma falta de equipamento médico e nós precisávamos que as pessoas desse país produzissem em massa esse material para podermos importá-lo. Também era necessário conseguir permissão do governo para que o equipamento não fosse confundido com armas quando fosse exportado.

Como Kuu era o filho do chefe de Estado, e era incerto se os dois países poderiam ter laços cordiais, eu estava hesitante em mostrar os meus trunfos, porém, como já havia discutido tudo isso com Taru, decidi que não deveria enganá-lo.

A propósito, quando tentei um tom mais formal nas discussões…

— Vamos esquecer toda essa formalidade — ele declarou de forma alegre. — Sim, eu sou o filho de chefe de Estado, mas não sabemos se o conselho vai me deixar herdar a posição. Ver pessoas sendo tão formais comigo só faz minha bunda coçar.

Tendo isso em vista, optei por usar um tom mais casual com ele. Considerando sua posição, ele era como um livro aberto, mas, bem… quem era eu para julgar?!

Depois de ouvir o que eu tinha a dizer, Kuu pensou por um momento e então soltou um suspiro:

— Bem… reformas médicas, né… isso é incrível. Quer dizer que é isso que nossos vizinhos estão fazendo?! Nós não temos muitas notícias do mundo exterior aqui; nosso acesso a elas é tão ruim que temos que conseguir nossas informações dos mercadores que aparecem no verão, somente ao final e início dos anos, ou seja, só ouvimos falar da absorção do Principado da Amidônia pelo Reino de Elfrieden depois que a neve descongelou.

Bem, ele tinha razão, isso parecia um pouco devagar.

A anexação de Amidônia aconteceu entre o fim do outono e o início do inverno do ano passado. Se ele está dizendo que a informação não chegou aqui até a primavera desse ano… então sim, isso era bem ruim. Isso só mostrava o quão intensa era a neve nesta região. Talvez fosse como ter a edição da manhã e da noite do jornal chegando ao mesmo tempo.

— Pelo que eu ouvi falar, o rei que assumiu é bem novo, certo? — acrescentou Kuu.

— Ele vai fazer 20 esse ano — eu respondi.

Ah, mas se fossemos usar o calendário desse mundo, eu já tinha 20 anos, certo? Bem… que seja.

Quando ele escutou que o rei (provisório) tinha 20 anos, Kuu soltou uma risada muito alta:

— 20 anos, né?! Eu vou fazer 16 nesse, então ele não é muito mais velho que eu!

— Uma diferença de 4 anos entre um humano e um homem-besta não é bastante coisa?

Quando estava indo para o meu primeiro ano do ensino médio, esse cara ainda estaria no ensino fundamental, certo?

— Não exatamente — Kuu balançou a cabeça com uma risada — É um erro de arredondamento, nada mais que isso. Se são apenas 4 anos, ainda está confortavelmente dentro da minha zona de ataque.

— Do que você está falando?

— Mulheres, claro! — ele respondeu. — Fico bem com qualquer uma entre 12 e 30!

— Eu não ligo! Você não vai pôr um dedo na Tomoe, entendeu?

— Isso é uma drog…. Ei! Não me acerte com essa coisa, Taru!

Taru havia batido na cabeça de Kuu com a bandeja que ela usou para trazer o café. Fez um nítido som de metal quando ela acertou. Essa garota não se segurou nem um pouco contra o filho do chefe de Estado.

Taru voltou a segurar a bandeja e bufou:

— Que mestre estúpido! Sua vulgaridade envergonha nosso país. Você precisa se esforçar para consertar isso.

— Cl-Claro, ela está certa — disse a garota com orelhas de coelho, Leporina. — Seu pai não está sempre irritado com você por causa disso? Para começo de conversa, você sempre age como um mulherengo, mas na verdade não se sente bem com qualquer uma, certo? Fingir que tem sentimentos por qualquer mulher não vai fazer com que a garota que está interessado… Ai ai ai! Não puxe minhas orelhas!

— ISSO É PORQUE VOCÊ CONTINUA ABRINDO A BOCA! — Gritou Kuu.

Aha, acho que essa conversa me mostrou um pouco mais sobre como Kuu realmente é.

Então era isso… se ele iria fazer 16 esse ano, isso significava que tinha 15 agora. Pelo raciocínio de meu antigo mundo, ele estaria no terceiro e último ano do ensino fundamental. Quando lembrei como eu era com essa idade, pude entender como ele estava agindo.

Eu iria estar dando voltas e mais voltas completamente perdido e ansioso, e quando voltasse aos meus sentidos, perceberia que o caminho que eu trilhei não levaria ao fim que eu desejava.

— O que houve, meu querido? Por que essa cara emburrada? — perguntou Roroa enquanto eu simpatizava com a situação dele.

— Não é nada, eu estava observando como Kuu estava agindo e vendo um pouco de mim mesmo nele.

— Hm, você viu?

— He he, vovó me disse que homens são assim — disse Juna com um sorriso cheio de charme e eu não pude refutá-la.

Então, para mascarar sua vergonha, Kuu limpou sua garganta audivelmente e voltou ao tópico.

— Então, como é o novo rei? Eu ouvi dizer que ele anexou Amidônia não muito depois de tomar o poder. Então ele é um grande guerreiro?

— Nada próximo disso — eu disse —, ele não anexou Amidônia porque quis. A sequência de eventos fez com que isso se tornasse uma necessidade… ou pelo menos foi isso que ouvi dizer.

Hmm…. Era difícil tentar me explicar enquanto pretendia não ser eu mesmo.

— Mas bem, mesmo que o próprio rei não seja um homem bélico, ele montou um time de subordinados muito capaz — adicionei —, digamos que o suporte deles permite que o país continue andando.

— Subordinados capazes, né…. Isso é algo invejável. A única pessoa que posso ordenar por aí é Leporina. Eu quero correr e conseguir mais alguns empregados para mim mesmo.

— E-Eu não sou sua subordinada, mas sua assistente, se lembra? Não fique me ordenando assim! — protestou Leporina, mas Kuu não estava nem mesmo escutando-a.

— Então… — Kuu perguntou, olhando diretamente nos meus olhos, como se estivesse tentando me analisar — você é um daqueles subordinados capazes que dão suporte ao rei, certo?

— Sou apenas um mercador, sabe…?

— Ookyakya, mentir não é legal. Aquelas reformas médicas são patrocinadas pelo rei, certo? O equipamento para elas não é exatamente algo que um simples mercador, que dirá o filho mais novo de alguém que nem mesmo herdou o negócio, poderia estar negociando. Você está se passando por um mercador, mas está agindo de acordo com a vontade daquele rei. Estou errado?

— …

Ele acertou em cheio, então não consegui inventar nenhuma boa desculpa. Parecia que ele não pensava que eu era o rei em pessoa, mas agir pela vontade do rei era equivalente a agir na minha própria vontade, então ele não estava errado.

Taru chamou ele de “mestre estúpido”, mas ele parece ser terrivelmente afiado. Se eu o subestimasse, poderia me machucar.

— E se eu for? — perguntei — Você desistiria do negócio?

— Eu não diria isso — ele disse. — Pelo lado do nosso país, produzir em massa esse equipamento médico, ou o que quer que seja, seria uma nova forma de indústria. É só que… tem um ponto que me incomoda.

— O que seria?

Ele se inclinou com os cotovelos na mesa, com suas bochechas apoiadas em suas mãos, e respondeu:

— Eu acho que essa reforma que o novo rei está propondo parece fantástica. Esses… doutores, certo? Eles não se apoiam na magia da luz e até mesmo tratam doenças que são difíceis de curar com magia.

Eu acenei com a cabeça.

— Basicamente, eu quero esses médicos aqui também. Exportar os equipamentos é aceitável, mas se estiver sendo produzido em massa, eu não posso aceitar não ser capaz de utilizá-los nós mesmos. Tem um grande número de pessoas doentes e machucadas em todos os países. Se existirem ferramentas que sejam capazes de tratá-los, seria um desperdício não ter pessoas capazes de usá-las, certo? Então se você quiser equipamento médico nosso, em troca, precisa disponibilizar médicos para nós.

Kuu falou de forma firme. Eu senti uma intensidade em seus olhos que transparecia seu orgulho como filho do chefe de Estado. Mesmo que ele fizesse apenas 16 esse ano, ele podia lutar as próprias batalhas para fortalecer seu país e as pessoas nele.

Esse era… um homem que faria grandes coisas no futuro. Meio impressionado e cauteloso, eu aceitei a proposta de Kuu. Subitamente, ele sorriu e deixou a tensão sair de seus ombros.

— Bem, isso é o que eu acho que meu velho pai teria dito.

— Seu pai, né…

Mesmo que essas fossem claramente suas palavras, Kuu trouxe o nome de seu pai para ofuscar essa distinção. Ele era bem astuto.

— Eu pensei devidamente sobre isso — eu disse, finalmente — “Se vocês irão exportar o equipamento para nós, eu irei prover os médicos…” é o que diz nosso rei.

— Bem, isso é ótimo, mas o inverno em nosso país é severo, sabe? Será que um forasteiro conseguirá suportar?

— Nesse caso, podemos transformar as pessoas desse país em médicos.

— Nosso povo? — Kuu perguntou e eu acenei com a cabeça.

— Para ser mais específico, o que o reino irá prover será o estudo da medicina. Quando o assunto é treinar médicos, acreditamos que nosso país está bem à frente de seu tempo. Então, se qualquer um nesse país desejar se tornar um doutor, eles podem vir ao reino para estudar. Se essas pessoas retornarem para casa após adquirir conhecimento da medicina, você terá médicos que podem permanecer aqui.

Kuu deu um tapa em seu joelho como se tivesse entendido agora:

— Entendi…, isso parece que vai funcionar. Então é assim que iremos trocar médicos e equipamentos, certo?

— Fundamentalmente, essa ideia está certa — eu disse. — O que acha?

Kuu bateu em seu peito com uma mão:

— Parece bom! Irei falar com meu pai. Na verdade, insisto para que você se encontre com ele e discuta isso agora — disse ele com um sorriso feliz.

Eu não tinha um mal pressentimento sobre isso. Se pudéssemos esperar o apoio de Kuu, o filho do chefe de Estado, isso seria de grande ajuda.

Na verdade, espera um pouco…

— Em relação a isso, tem uma pessoa que eu gostaria que lidasse com as negociações com o chefe de Estado.

— Você vai deixar essa tarefa para alguém? Não vai fazê-la você mesmo?

— Sim. Acredito que negociações não devam ser levadas por mim, Kazuma, mas por Sua Majestade, Rei Souma.

— Oookyah?! Uma reunião entre chefes de Estado, né!?

— Sim. Seria mais rápido, certo?

— Bem, sim, mas… você consegue fazer o Rei Souma vir até aqui?

— Eu acho que vai ficar tudo bem. Sabe, aquele rei gosta de fazer o trabalho braçal — Roroa olhou para mim com um sorriso enquanto falava.

Bem, eu estava aqui, afinal…

— Oookyakyakyakya! — Kuu riu com todo o coração — Ok! Eu vou falar com meu velho. O que vai acontecer depende dele, mas vocês, pessoal, falem com seu Rei Souma!

— Beleza.

— Agora as coisas estão ficando interessantes! Esse vai ser um grande acordo! — Kuu parecia profundamente entretido. — Ei, Leporina! Vá até o meu pai agora e deixe-o saber sobre as novidades!

— Agora?! — Ela protestou — Já está de noite, então deixe-me preparar as coisas para amanhã!

— Sua idiota! — ele gritou — Você precisa tomar decisões de imediato e agir rápido quando o assunto são oportunidades de negócio!

— Me dê um tempo, por favor.

Kuu estava animado e Leporina estava ficando exausta por conta de sua pressa. Olhando para esse mestre barulhento e sua serva, Taru, que até esse ponto não tinha falado nada, deixou algumas palavras saírem:

— Eu sabia… o mestre estúpido é realmente estúpido.

Seu tom era frio, mas os cantos de seus lábios pareciam que haviam se curvado ligeiramente para cima.

Esse encontro não planejado com Kuu resultou na decisão de marcar uma outra reunião inesperada com o chefe da república.

Para fazer as preparações, despachei uma mensagem Kui para Hakuya, no reino, enquanto Kuu despachou outra para seu pai, buscando providenciar um lugar e horário para a reunião. Então, quando esses arranjos foram completados, foi decidido que ficaríamos no país até o dia da reunião.

Levando em consideração a velocidade da mensagem Kui, a reunião seria em pelo menos uma semana (8 dias nesse mundo).

Expliquei para Kuu que eu seria um agente de ligação.

Como haviam questões de segurança quando o rei ficava em outro país, eu preferia manter minha identidade em segredo por um pouco mais de tempo. Como eu entrei nesse país, tecnicamente com falsos pretextos, decidi fazer com que Hakuya informasse de forma sutil o seu chefe de Estado sobre esse fato antes da reunião.

Sendo esse o caso, eu pensei que usaria o meu tempo sobrando antes do encontro para continuar aprofundando meu conhecimento sobre o país, como originalmente havia planejado, mas Kuu disse que queria me acompanhar.

— Se você quer aprender sobre nosso país, vai precisar de um guia, certo? Tendo nascido em Turgis e crescido aqui, eu diria que me encaixo nos requisitos, você não?

— Oh, bem…. Eu agradeço a oferta, mas eu não poderia fazer o filho do chefe de Estado ser o meu guia…

Eu tentei recusá-lo de forma discreta, mas Kuu apenas riu.

— Ei, não se preocupe com isso. Eu posso ser filho dele, mas não tenho nenhum poder. Além disso, Kazuma, agora que sei que você é um estrangeiro importante, não posso te perder de vista — Kuu me encarou de forma afiada e levemente provocante. — Olhar os pontos turísticos é algo tranquilo, mas não quero que vá a algum lugar muito inusitado. Se você tentar entrar em instalações militares, por exemplo, talvez tenhamos um pequeno problema.

Isso fazia sentido… Ele estaria agindo como nosso vigia, ao que parece. O ar ficou um pouco tenso, mas eu relaxei e deixei seu olhar passar.

— Eu nunca planejei fazer isso, de qualquer forma.

— Oookyah, apenas não queria arriscar — ele disse —, vocês não gostariam de ser suspeitos em nada que não estejam fazendo, certo?

— Excelente observação.

Neste momento, não estávamos no país para serviço de inteligência. Nós estávamos aqui puramente para expandir nosso conhecimento sobre o local. Não havia necessidade de procurar as suas instalações vitais. Se Kuu iria acompanhar-nos, nós não precisaríamos nos preocupar sobre qualquer problema indevido com a população local, então era uma combinação conveniente.

Eu ofereci a Kuu minha mão direita:

— Se é assim que funciona, então, por favor, nos acompanhe.

— Claro — Kuu apertou minha mão com um balanço firme. — Por falar nisso, vocês têm reserva em algum alojamento para a noite?

— Sim, nós reservamos alojamentos no Hotel Pássaro Branco na cidade de Noblebeppu.

— O Hotel Pássaro Branco! Esse é um bom lugar. Agora, se vocês estão se perguntando o que é tão bom a respeito dele, é que existem fontes termais!

Fontes termais… Sim, fontes termais.

Eu ouvi falar que haviam muitas fontes termais na república. A cidade de Noblebeppu era uma das poucas áreas de fontes termais no país, o que também era uma razão pela qual havíamos escolhido ela como nossa base de operações. Nós aparentemente tínhamos um número decente de fontes termais na região da Amidônia, em nosso reino, mas havia poucas nos territórios originais de Elfrieden; e nenhuma delas na vizinhança da capital de Parnam.

Eu queria aproveitar a oportunidade para usar Noblebeppu e suas famosas fontes como base de operações, além de desfrutá-las enquanto aprofundava meu conhecimento do país. Essa era a razão de estarmos aqui.

O Hotel Pássaro Branco, onde ficaríamos por algum tempo, era concentrado em atender viajantes e gerenciado por um membro da raça Águia Branca. Além do mais, por um pagamento extra, poderíamos reservar os banhos a céu aberto por uma hora para uso exclusivo da nossa família.

Quando Roroa, com seu olhar afiado, percebeu esse pequeno detalhe durante nosso check-in

— Ei, ei, querido. Nós não temos sempre essa chance, então que acha da gente reservar esse banho e entrar como uma família? Com “a gente” me refiro a eu, você, irmã Ai e a irmã Juna, claro. — disse ela com um sorriso.

Sendo um homem, era uma proposta tentadora, mas eu não tinha ideia em como explicar nossa situação familiar para o atendente do hotel, além de sentir que seria uma má influência para a Tomoe, que estava viajando conosco. E, o mais importante, eu me sentia incrivelmente envergonhado, então eu dei um firme, porém indolor, golpe de karatê na cabeça dela.

Enquanto eu me lembrava disso, Kuu deu um súbito tapa em seu joelho.

— Ok! Então eu também ficarei no Hotel Pássaro Branco essa noite!

Leporina deixou escapar um estranho choro:

— Ei, o que está dizendo, jovem mestre?! Você tem uma casa de campo aqui, não?

Mas Kuu soltou um som em desaprovação e balançou o dedo para ela:

— Kazuma e seus parceiros querem entender mais sobre nosso país, certo? Nesse caso, temos que deixá-los experimentar nossa cultura tradicional.

— Cultura tradicional? —  Perguntei.

— Oookyakya! — Kuu gargalhou de alegria — Nesse país, quando amigos vem de uma terra distante visitá-lo, é costume matar um animal e dar uma festa. Você e eu já somos como amigos, afinal! Vamos pedir ao hotel para realizar uma celebração!

Com isso, Kuu colocou seu braço por cima de meus ombros.

Deveria parecer um pouco íntimo demais vindo de um cara jovem, mas, por alguma razão, não me incomodou muito. Não tinha malícia por trás daquilo e eu poderia dizer que era apenas quem ele era, então eu nem mesmo pude me sentir com a sensação de indiferença quando você diz: “Bem, que seja…”, então pode-se dizer que era uma espécie de carisma dele.

— Eu aprecio a oferta, mas não seria um problema para o hotel receber um súbito pedido como esse? — perguntei.

— Ah, não se preocupe, eu conheço o dono. Se eu pagar um pouco de dinheiro e prover os ingredientes eu mesmo, não será um problema. Leporina, corra até o hotel e consiga os materiais necessários.

— Urgh… eu entendo, mas você é tão exigente, jovem mestre — Leporina reclamou — você já me mandou ver o seu pai amanhã…

Kuu riu do fundo do coração:

— Enquanto você estiver comprando as coisas, pode comprar aquele vinho de cereja que você gosta também.

— É para já! — com uma saudação, Leporina saiu correndo da oficina.

Kuu era surpreendentemente bom lidando com seus subordinados.

Virando-se para a mulher ao seu lado, ele disse:

— Taru, venha para a festa também; quanto mais melhor, afinal!

— Honestamente, chefe estúpido, você é incontrolável — Taru aceitou, conformando-se, mesmo que suas orelhas brancas de urso estivessem se contraindo um pouco.

Poderia ser verdade que as orelhas da raça dos Ursos da Neve funcionam de forma similar às caudas da raça dos lobos místicos? Se for, mesmo considerando a forma fria que ela agiu, talvez ela esteja entusiasmada com relação ao convite.

Bem, de qualquer forma, a festa improvisada estava organizada.

O sol se pôs e um amplo carpete, no grande hall do Hotel Pássaro Branco, estava lotado de pratos contendo diversas iguarias. A maioria delas era carne, carne e mais carne… uma miscelânea de pratos de carne. O estalajadeiro Águia Branca que cuidava do hotel estava colocando outro grande prato com outro tipo de carne.

A raça da Águia Branca era, como o nome sugeria, um homem-besta com asas em suas costas, mas com partes em marrom do meio para fora delas. Por conta disso, eles não davam a impressão de serem anjos. Para os machos, seus rostos eram realmente de águias, fazendo com que parecessem meio-homens, meio-bestas como os deuses dos murais do antigo Egito.

Enquanto assistia o estalajadeiro colocar a comida, eu conversei um pouco com Kuu, que estava ao meu lado:

— Estou vendo uma quantidade terrivelmente grande de pratos de carne…

— É assim que nossas comemorações são. Nós, no geral, matamos nosso gado e então comemos a carne.

— Isso é comida de festa, certo? Como é uma dieta normal?

— Além da carne, comemos mariscos, peixes e laticínios. Nós temos batatas, mas frutas e vegetais só podem ser colhidas em algumas partes do Norte, então são raras e bem caras.

— Hmm…

Se ele estava dizendo que havia uma demanda por vegetais, nós provavelmente poderíamos desenvolver uma rota de comércio e exportá-los até aqui. Bem, como eles conseguiam sua Vitamina C e coisas do gênero? Eu li em algum mangá que, a muito tempo, marinheiros sofriam de escorbuto devido à falta de Vitamina C e que isso era muito difícil para eles.

— Vocês não ficam doentes com a falta de vegetais? — eu perguntei.

— Huh? Nunca ouvi falar sobre nada do tipo. Na verdade, nós nem costumamos ficar muito doentes. Nem precisamos ter muito medo de mortes por doenças… temos mais medo de morte por congelamento.

— Hmm…

Eles tinham alguma forma especial de tomar esses nutrientes?

Enquanto eu pensava sobre isso, as preparações para a comemoração pareciam ter sido completas. Os presentes na ocasião eram: Aisha, Juna, Roroa, Tomoe, Hal, Kaede e eu da Friedônia, assim como Kuu, Taru e Leporina de Turgis, num total de 10 pessoas.

Algo parecido com cálices de madeira foram passados entre nós, um para cada um.

Quando olhei, o cálice tinha um líquido branco dentro. Depois de balançar o recipiente, pude ver que a bebida era um pouco grossa. Em vez de leite, parecia mais com saquê não refinado.

— Um misterioso líquido branco? — eu murmurei.

— Isso? É nosso famoso leite fermentado — Kuu respondeu.

— Leite fermentado?

— É uma bebida feita a partir da fermentação de leite de Yak das Neves, então, é leite fermentado. Tem um gosto forte, mas uma vez que você se acostuma, fica muito bom, sabe como é?

— Fermentação… — murmurei. — Se é leite de Yak, então… bactéria do ácido lático?

Parando para pensar, essas bactérias não produzem Vitamina C? Se eu bem me lembro, era parte do processo de fermentação…. Eu só me recordo vagamente, entretanto. Poderiam as pessoas desse país estarem suplementando sua insuficiente ingestão de Vitamina C com essa bebida?

Pondo isso de lado, uma vez que todos tinham recebido sua taça, foi decidido que eu e Kuu faríamos um brinde. Com todos à nossa volta, eu e ele nos levantamos.

— Discursos longos e tediosos antes de um banquete são muito toscos! É por isso que vou manter este breve — dizendo isso, Kuu se virou para mim, levantando sua taça — Aos nossos visitantes de Friedônia!

Em resposta a essas palavras, eu levantei minha taça para Kuu também:

— Ao povo de Turgis!

Então, nós juntamos nossas taças.

— Saúde! — nós dois dissemos.

— Saúde! — os outros responderam em coro.

Então, começou a comemoração.

— Agora, experimente — Kuu insistiu.

— C-Certo…

Eu tentei beber o leite fermentado de Yak das Neves. Tinha um gosto estranho.

Era mais suave do que a aparência sugeria, mas… como poderia descrever…? Era como simples iogurte bebível, talvez. Mas tinha um certo teor alcoólico nele, também. Era melhor do que eu esperava, mas ainda acho que talvez ficasse melhor com um pouco de mel.

Todos, exceto Tomoe, experimentaram esse leite fermentado.

Incidentalmente, nesse país, assim como no nosso, havia uma lei ditando uma idade mínima para beber. Parecia costumeiro que, com 15 ou 16 anos, as crianças poderiam beber em público. Eu pensei em promulgar uma verdadeira lei para isso, mas parecia uma parte do costume local, então estava deixando isso de lado por enquanto. Se eu me intrometesse de forma desnecessária, poderia estar dando espaço a uma oposição do público, afinal.

Bem, se as pessoas se tornassem conscientes sobre saúde, vozes clamando por uma idade mínima para beber emergiriam naturalmente. Eu poderia esperar para passar uma nova lei até lá.

Enquanto bebia o leite fermentado, eu olhava em volta.

Checando o local mais barulhento do recinto, Aisha e Kuu estavam sentados em frente a grandes pratos lotados de comida e, por alguma razão, competiam sobre quem era capaz de comer mais comida mais rápido. Parece que Kuu, influenciado pela forma como Aisha comia, tinha lhe desafiado. A competição era, aparentemente, para definir quem conseguia acabar com um prato lotado de comida primeiro.

 — Chomp, chomp, chomp, chomp…

Eles estavam ambos enfiando comida para dentro da boca.

Em uma simples disputa para ver quem comia mais, eu não pensava que seria possível que Aisha perdesse, mas com o elemento velocidade adicionado, quem sabe? Com um olhar rápido, pode-se dizer que a comida desaparecia da mesa de ambos em velocidade semelhante.

— Chomp, chomp…, oookyakya, você não é tão ruim para alguém tão magra.

— Chomp, chomp…, você também não, estou impressionada

Seus olhos cruzavam de vez em quando e, quando o faziam, pareciam ter uma troca parecida com essa.

Eles eram assistidos pela Roroa, que estava agitada, e pela Tomoe, muito perplexa com a situação.

— Honestamente, irmã Ai, por que você participando uma competição dessa? — Roroa perguntou

— Aisha está comendo rápido como sempre — Tomoe comentou

— Tomoe, não deixe ela ganhar de você. Coma bastante, se não vai acabar não crescendo, sabe?

— Se eu comer bastante, vou ficar tão grande quanto a Aisha?

— Deve ser legal, ter espaço para crescer…

Eu tinha quase certeza que Tomoe estava falando sobre altura, mas Roroa estava olhando para seu peito com um olhar de peixe morto. Ela deve ter ficado depressiva quando imaginou nossa pequena irmã crescendo mais que ela no futuro. Eu acho que ela só escolheu uma pessoa ruim para a comparação; não é como se ela não tivesse nada, mas… abordar o assunto com ela muito profundamente seria parecia suicídio, então optei por não o fazer.

Olhando para outro local, Hal e Kaede estavam bebendo com Taru enquanto conversavam sobre alguma coisa. Hal fez uma pergunta ao mesmo tempo em que servia outra bebida para Kaede.

— Taru, você é uma ferreira, certo? Você sabe que tipo de arma serviria para mim?

— Que tipo de arma você quer? — Taru perguntou.

— Eu sou especialista em envolver minhas armas em fogo e então jogá-las, mas quando uso lanças comuns, elas queimam depois de atirá-las. Enquanto isso, lanças magicamente imbuídas são caras, então eu não posso jogá-las fora; em um campo de batalha, não tenho o benefício de poder recuperá-las.

— Além disso, Hal às vezes também monta em Ru… em uma grande “criatura” — Kaede adicionou —, então ele ficaria melhor com uma arma que pudesse usar do alto de alguma coisa assim, sabe?

A criatura que Hal normalmente monta era Ruby, mas ela não mencionou isso. Se as pessoas soubessem que Hal tinha um contrato com um dragão de fora da Cordilheira do Dragão Estrela, eles começariam a se perguntar quem ele é, então ela manteve essa parte vaga.

— Nesse caso, existe uma arma chamada Lança das Cobras Gêmeas — Taru parecia pensativa enquanto falava.

— Lança das Cobras Gêmeas? — Hal perguntou — Que tipo de arma é essa?

— É como uma cobra de duas cabeças que tem a segunda localizada no fim de sua cauda, a arma tem duas lanças que estão conectadas com uma fina corrente por meio de suas bases. Então, caso você jogue uma delas, você pode puxar a outra para recuperá-la. Foi feito originalmente para que alguém montado em uma grande besta, como o numoth do estúpido mestre, pudesse atacar soldados aos seus pés.

— Hmm, parece uma excelente arma.

Hal parecia impressionado, mas Taru balançou a cabeça silenciosamente em negação.

— Só que é… absurdamente difícil de usar. O tamanho da corrente pode ser ajustado com magia de encantamento, mas quanto mais longa fica, mais técnica e força é necessário para utilizá-la. Não é amplamente usada, nem mesmo em meu país.

— Eu acho que deve dar tudo certo, sabe — Kaede intrometeu-se — Se tem uma coisa que Hal pode ter confiança, é em sua força.

— Isso é cruel…. Não podia ter arranjado um jeito mais bondoso de dizer isso?

— É amor que está me fazendo procurar uma arma que possa impedir vocês dois de morrerem no campo de batalha, sabe?

— Urgh…

Ver Hal sendo superado na discussão pela Kaede fez Taru rir:

— Se bem me lembro, temos uma dessas no estoque da oficina. Eu acho que seria uma boa ideia testar se ela é funcional para você. Se gostar, posso aceitar um pedido para fazer uma.

— Ah! Obrigado, estou contando com você — Hal disse.

— Nós vamos aceitar essa sua oferta, sabe — acrescentou Kaede.

Os três brindaram suas taças juntos. Um acordo havia sido feito? Espero que ele encontre uma boa arma.

Agora, para aqueles que faltavam, Juna, que estava fazendo o papel de minha esposa, sentou-se enquanto Leporina, a Coelho Branco, servia as bebidas. Por conta de estarmos sentados diretamente no chão, e não em cadeiras, isso me lembrou da recepção japonesa em um salão de tatame.

— Desculpe-me — Leporina disse enquanto me servia um pouco de leite de Yak — Normalmente entreter os nossos convidados seria tarefa do nosso mestre Kuu…

— Não, não, eu estou extremamente grato só de ter um banquete desses.

— Me tranquiliza muito ouvir você dizer isso. Ah, deixe-me cuidar de sua esposa também.

— He he. Obrigado. — Juna também estava sendo servida por Leporina; ela parecia estar de bom humor.

— Você parece estar aproveitando Juna — eu disse.

— Sim. Nós parecemos muito com marido e mulher agora.

— Vo-Você acha…?

Isso foi um pouco embaraçoso. Leporina nos olhava com um grande sorriso.

Juna escavou algo do fundo de uma panela próxima, colocou dentro de uma tigela de madeira e me ofereceu:

— Toda a culinária daqui é tão nova para mim, também. Essa sopa está maravilhosa!

— Ah, é? Pela aparência, diria que é uma sopa de bolinhos.

Haviam raízes de vegetais e finos bolinhos brancos flutuando em um caldo parecido com sopa de missô feita com missô vermelho.

Eu dei um gole e um saboroso gosto inesperado se espalhou pela minha boca. Isso não era sopa de missô, era ensopado de abóbora. Os bolinhos eram realmente o que pareciam, mas eram finos e alongados. Era como uma… como posso dizer isso? Era como uma mistura de hontou[1] e ensopado de abóbora.

— Não era o sabor que eu esperava, mas… é bom.

— Sim, — concordou Juna — de alguma forma, faz seu corpo se sentir quentinho.

— He he! Esse ensopado é algo comum em nosso país a muito tempo, sabe? — Leporina explicou inquieta enquanto Juna aproveitava a refeição — É difícil colocar as mãos em vegetais frondosos em nosso país, mas você pode conseguir muitas abóboras. Por isso temos uma grande variedade de pratos feitos com elas. Muitos de nossos doces também utilizam recheio ou creme de abóbora. Eles também têm muito açúcar, então podem parecer doces demais para quem vem de fora.

— Oh? Vocês têm um monte de açúcar? — perguntei.

Sim. Assim como as abóboras, também temos muitas beterrabas.

Beterrabas; ela estava falando de beterrabas doces.

Como o nome sugeria, elas eram uma das plantas da qual era possível fazer açúcar. A maior parte do açúcar circulando em nosso país também era feito de beterrabas doce. Além disso, havia xarope de ácer, que podia ser extraído de árvores de bordo. Como cana-de-açúcar só poderia crescer em alguns locais ao norte do reino, não havia muito açúcar de cana em circulação.

Eles podiam colher um monte de beterrabas nesse país, né?!

— Comida é um dos departamentos no qual uma terra realmente mostra sua personalidade — comentei.

— Você está corretíssimo — Leporina concordou —, mas a adição de bolinhos no ensopado de abóbora é uma adição recente, sabe?! Nós começamos a colocá-las quando soubemos de um mercador da Amidônia que você pode comer a raiz do lírio sedutor.

— Espera, esses eram bolinhos de raízes de lírio?

— Sim. Parece que uma divindade conhecida como Lorde Ishizuka, o Deus da Comida, apareceu na Amidônia e os ensinou que era comestível. Graças a isso, agora somos capazes de comer uma sopa que já foi apenas um acompanhamento em nossos pratos principais. Temos que prestar nossos agradecimentos àquele Deus.

— … — estávamos todos em silêncio.

E pensar que a cultura alimentícia que estávamos espalhando na Amidônia também iria chegar até esse país.

E para complementar, Poncho estava ascendendo como uma divindade chamada de Deus da Comida; não apenas em Amidônia, mas aqui também…. Rumores tendem a deixar as coisas fora de proporção, mas no ritmo que as coisas estavam indo, eu começo a imaginar que alguém pode realmente construir um templo ao deus Ishizuka eventualmente.

Ah, Poncho, onde você vai parar? Bem, provavelmente nem ele sabia a resposta para isso.

Kuu veio até nós, com a mão na barriga:

— Ei, vocês dois, estão se divertindo?

— Estamos sim, obrigado — respondi —, e você? A disputa de comida acabou?

— Oookyakya! Aquela garota é durona. Comer em velocidade é uma coisa, mas nunca tive chance quando o assunto é quantidade. Estou chocado em como ela pode comer aquilo tudo e ainda ter espaço para mais.

Aisha ganhou a competição? Bem, em retrospectiva, essa parecia uma conclusão esperada.

Kuu tomou a taça de Leporina das mãos dela e colocou-se ao meu lado:

— Eu lido com o resto, então pode ir se juntar aos outros, Leporina.

— Beleza — Leporina assentiu e voltou para onde Aisha e os outros estavam.

— Eu estou indo checar como estão Aisha e os outros — disse Juna, levantando-se e deixando seu lugar livre.

Parecia que agora seríamos só nós, os rapazes, bebendo cara a cara daqui em diante. Enchemos nossas taças com bebida e então, fizemos um brinde.

Kuu tomou toda a sua bebida em um só gole e então, riu alegremente:

— Bem! Tomar sua bebida em uma comemoração como esta faz o gosto parecer mais especial.

— Essa não é uma frase um pouco velha para alguém de 15 anos? — comentei.

— Oookyakya! Não se preocupe com isso. Deixar de lado idade e ranking é a única forma de se ter uma festa.

— … Ah é?

 

 

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Eu coloquei outra bebida para Kuu. Dessa vez, ele tomou um gole e então deu um tapa em meu ombro com sua mão, repousando-a naquele lugar. O que? Ele estava tentando brigar comigo? Eu estava pensando nisso, mas…

— Então, o que acha, Kazuma?

— O que acha sobre o que?

— Quero dizer… esse país. Está gostando?

Eu pensei um pouco antes de responder:

— Sim. Eu acho que é um bom país. Tem fontes termais, além das comidas e bebidas locais serem deliciosas. Vocês também têm artesãos competentes, então acho que é um lugar muito atrativo.

— Oookyakya! Sim, pode apostar que é. Eu também amo esse país — Kuu deixou outra gargalhada escapar, para então tornar sua expressão mais séria — Eu honestamente… creio que esse é um bom país, sabe? Nós colocamos nosso gado para pastar no verão e criamos excelentes equipamentos no lado de dentro no inverno. É frio, mas as pessoas se juntam para sobreviver nesse lugar. Entretanto, tem alguns velhos teimosos que se sentem inclinados a expandir ao norte.

Eu estava em silêncio.

Eu havia escutado que a República de Turgis tinha uma política nacional expansionista ao norte. Na verdade, durante o tempo em que nosso país estava agitado por conta dos problemas internos e com o conflito contra o Principado de Amidônia, esse país moveu suas tropas em massa nas fronteiras, mostrando suas intenções de nos invadir. Apesar de não ter acontecido conflito direto entre nossas nações, eu estava surpreso de encontrar alguém na República de Turgis que pensasse como Kuu.

— Além disso, mesmo que conseguíssemos terras ao norte, não seríamos capazes de mantê-las — Kuu continuou, cruzando os braços e assentindo — No mundo externo, forças aéreas como Wyverns são mais efetivas, certo? Uma terra fria como a nossa não foi feita para gerar esses répteis. Esse é um benefício quando o assunto é outros países virem nos invadir, mas é impossível fatiar uma parte do território de um país vizinho sem esses seres. Não importa o quanto a gente tente, pegaríamos no máximo uma ou duas cidades. Além disso, quando o inverno viesse, a neve iria impedir nosso contato com o continente, então seria difícil mantê-las.

Seu comportamento estúpido tornou difícil ver, mas ele tinha uma compreensão muito precisa sobre a situação geopolítica de seu país. Falando com ele, eu senti um carisma que também iria atrair mais pessoas. Se Kuu tivesse nascido na família real de um reino com uma situação territorial um pouco melhor, talvez ele tivesse se tornado um raro herói.

Kuu tomou todo o seu leite fermentado em um só gole novamente:

— Ouça, Kazuma, eu acredito que esse país tem sua própria forma de se tornar próspero. Nós não temos que ir para o norte. Esse país tem o potencial inato para se desenvolver. Pelo menos, é assim que me sinto.

— Eu acho que entendo — eu disse de forma soberba.

— Você entende, né? — ele riu — fico feliz, nesse caso! Tenho esperanças que as negociações entre meu pai e seu rei sejam bem-sucedidas!

— Sim. Tenho certeza que a reunião vai ser significativa para ambas as partes.

Com isso, brindamos nossas taças mais uma vez.

[1] Hontou é uma sopa de macarrão e uma comida regional popular originada em Yamanashi, no Japão. É feita cozinhando bolinhos de udon planos e vegetais em uma sopa de missô. Apesar de ser comumente reconhecido como uma variante de udon, não é realmente considerado assim pelo povo local, uma vez que a massa é preparada em formato de bolinhos ao invés de fitas.

 


 

Tradução: EuMesmo

Revisão: Shadow C-137

 

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