Dark?

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 06 – Cap. 07.1 – A Tempestade

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— Hmm hmm-hmm hmm-hmm! — Naden viajava pelo céu em sua forma ryuu, enquanto cantarolava.

Montado em suas costas, esfreguei suas escamas e perguntei: — Naden, tudo bem? Sou muito pesado?

— Hmm? Tranquilo, por que a pergunta? — Naden respondeu como se realmente não fosse nada demais.

Havia um motivo para eu estar nas costas da Naden. Já que Aisha se juntou aos outros na gôndola, ficou cheio demais. A gôndola era tão grande quanto um iate pequeno e, normalmente, dez adultos caberiam lá confortavelmente, mas nós estávamos nos preparando para a “Tempestade”, então cerca de sete dos dez espaços estavam cheios de coisas que trouxemos do reino.

Imaginei que uma gôndola poderia ficar bem pesada quando carregada até o limite. E quando isso acontecia, eram necessários de dois a quatro wyverns para carregá-la, mas Naden estava aguentando essa carga toda sozinha. Em sua forma ryuu, ela era bem maior que um wyvern; mas isso realmente não era pesado demais?

— Todos os dragões são tão fortes assim?

— Não sei sobre os outros, mas é tranquilo para mim. Pensando bem, é como se estivesse carregando uma tábua de madeira pela água…

— Hmm…

Isso significava que ela estava manipulando inconscientemente a gravidade? Bom, ela conseguia fazer seu corpo gigante flutuar, então tinha de haver alguma magia envolvida nisso.

— Hmm hmm-hmm hmm-hmm! — Ela começou a cantarolar novamente.

— Você está num ótimo humor.

— Hmm hmm-hmm! Bom, claro que estou. Dessa vez, você está viajando nas minhas costas.

— É tão diferente assim de quando estou na gôndola?

— Ah, sim. Completamente diferente. Mas… pode ser difícil de explicar para alguém que não seja um dragão. Quando você viaja em minhas costas, parece que tudo está em seu devido lugar, ou algo assim. Como coçar uma coceira, tipo isso. Me deixa mais tranquila, de alguma forma.

— Hmm….

Se ela mesma estava dizendo, deveria estar certo. O cavalo favorito de Liscia sempre parecia tão animado quando ela estava nas costas dele. Mas, realmente, eu não devia comparar minha noiva com um cavalo…

— Mas… — Naden adicionou, em um tom preocupado — está tudo bem? Trazer Liscia e os outros sem pedir permissão?

Ela estava aparentemente pensando sobre as palavras da Madame Tiamat, que meus companheiros seriam convidados depois.

— Bom, não sabemos o que essa “tempestade” é ainda, então eu gostaria de ter meus companheiros ao meu lado quando algo acontecer — falei. — Ela vai nos perdoar por não pedir permissão previamente.

— Eu acho que você está certo. Mas sendo assim, eu queria que a Tomoe tivesse vindo também.

— Sim… eu queria mostrar a ela a paisagem em Dracul.

A Grande Cachoeira… a Grande Árvore de Ladão… havia muitas vistas fantásticas. Eu amaria mostrá-las para Tomoe, que era extremamente curiosa sobre o mundo.

Naden de repente disse: — Quê? Souma, Liscia e os outros estão dizendo algo.

Eu estava nas costas dela, então não conseguia ouvir a conversa na gôndola. Se eu quisesse falar algo para eles, Naden precisaria transmitir minhas palavras com sua telepatia.

— O que eles estão dizendo?

— Vamos ver… “Olhem na direção da Cordilheira do Dragão Estrela”… eles estão preocupados com algo.

— A Cordilheira do Dragão Estrela?

Naden estava indo para lá, então estava sempre bem na minha frente. Não havia nada de estranho até um momento atrás, mas…

— QUÊ?!

A Cordilheira do Dragão Estrela era uma cadeia de montanhas do tamanho do Monte Fuji. Mas no meio do céu acima delas, havia uma nuvem enorme.

— Aquilo não está bem acima de Dracul?! — Naden gritou em pânico.

Ela estava falando sobre o platô onde os dragões viviam. Quando cheguei lá pela primeira vez, Madame Tiamat me teletransportou, então não consegui observar o lugar, mas jazia realmente no centro da Cordilheira do Dragão Estrela. A nuvem gigantesca e a tempestade que ela me contou antes… eu tinha um mau pressentimento sobre isso.

— Na sua previsão, não havia um sinal de tempestade chegando, havia?

— Não, não havia. E é estranho que só haja uma nuvem acima de Dracul.

— … Não deve ser só uma nuvem. Por agora, vamos nos aproximar. Estamos longe demais, e não tem como sabermos como estão as coisas em Dracul.

— Certo. — Naden foi em direção à nuvem. Era visível mesmo daqui, mas conforme nos aproximamos, sua escala gigantesca se tornou aparente.

A nuvem era cônica, com um topo parecido com um domo manchado. Mais do que isso, ao observar mais de perto, haviam muitas nuvens reunidas, indo da esquerda para direita ao longo da superfície da nuvem maior. As nuvens… estavam formando um tornado?

— Eu nunca vi algo assim.

— Sim, eu só vi esse tipo de nuvem em um filme.

— Filme? — Ela repetiu a palavra estranha.

— Só falando sozinho. De qualquer forma, parece ser grande o bastante para cobrir Dracul.

Olhando para baixo, essa nuvem só cobria o platô, bloqueando toda a luz e deixando tudo num breu. Pelo visto, uma chuva intensa caía. Os ventos pareciam bem violentos, então o clima lá devia estar bem pesado. Apesar disso, fora da nuvem, o clima estava limpo. Que coisa estranha.

— Está focado um pouco demais para ser só uma chuva torrencial.

— Por que você está tão calmo?! Sem chance de estar chovendo só em Dracul!

— A pressa é a inimiga da perfeição. Primeiro, nós precisamos observar com calma.

Enquanto esfregava o pescoço da Naden, eu inspecionei a nuvem. Havia muita chuva. Desse jeito, um desastre em larga como aquele na Floresta Protegida por Deus aconteceria aqui. Daquela vez também foi por causa da chuva prolongada, mas tanta água em um único lugar teria o mesmo efeito em bem menos tempo.

Mas para pensar em contramedidas… é, vamos precisar entrar lá para descobrir mais.

— Naden, você conseguiu subir uma cachoeira, então chuva e vento devem ser moleza, certo?

— Si… sim.

— Bom, então… não queria ter de dizer isso, mas você pode mergulhar naquela nuvem gigante?

— Queeeeee?!

Ela ficou surpresa, mas não resolveríamos nada observando as coisas do lado de fora. Felizmente, não haviam sinais de relâmpagos, então ainda seria seguro ver as coisas lá dentro.

— Vai ser difícil de entender a situação daqui — expliquei — Teremos que entrar na nuvem para investigar e também ir em direção ao Castelo de Cristal. Claro, se você sentir que está em perigo, se afaste imediatamente. Diga a Liscia e os outros na gôndola para se prepararem.

— Tá…

Ela foi lentamente em direção às nuvens rodopiantes. Depois de hesitar por um momento na frente delas, a ryuu preparou sua mente e entrou devagar.

Inicialmente, parecia como uma névoa, mas conforme progredimos, escurecia cada vez mais. O vento e a chuva acertando meu corpo aumentavam rapidamente de intensidade. Menos de um minuto depois de entrar, meu corpo estava sendo surrado pela chuva torrencial e ventos laterais. Se não fosse pela proteção de Naden, eu teria caído há muito tempo.

— Naden! Você está bem?! — Eu disse enquanto tentava permanecer firme em meio a tempestade.

— Sim! Não sei o motivo, mas consigo ver algo como um fluxo aqui!

Certo, ela estava navegando pelo céu da mesma forma que antes. Não devia ter duvidado de uma ryuu, a raça dita ser capaz de viajar por nuvens, ventanias, relâmpagos e chuva. Mesmo tamanha tempestade não era o suficiente para intimidá-la.

Dragões comuns, por outro lado, não conseguiriam voar aqui. O vento forte atrapalharia o bater de suas grandes asas.

Espera… por que tinha de ser a Naden?

Somente ela conseguia voar aqui. Madame Tiamat disse que ela era a chave. Então, dizendo que havia um ser que me carregaria, ela fez com que eu me encontrasse com Naden.

Então, era com essa chuva e vento na “tempestade” que ela estava preocupada?

Eu tentei observar meus arredores, mas a escuridão e a chuva não me deixavam ver muito.

— Naden! Vê algo?

— Não! Escuro demais!

Então, ela gritou: — Souma! Estou bem, mas Liscia e os outros na gôndola podem estar em perigo!

Com uma tempestade desse nível, ventos batendo na gente e esse barulho da chuva, meu grupo devia estar com muito medo. A gôndola retangular não era muito aerodinâmica e, se ela quebrasse, teríamos uma tragédia em mãos.

— Precisaremos tentar depois… vamos pousar no Castelo de Cristal!

— Sim! — Ela começou a descer suavemente.

Quando ela o fez…

— …nã…

Quê?!

Estava certo que ouvi algo.

— Espere um pouco, Naden! Você ouviu algo?!

— Quê? Não ouvi.

— O… você es… va… fa… so… is…

— Aí! Você ouviu, certo?!

— Sim…

Essa era… uma voz, talvez? Eu ouvi palavras, tenho certeza.

Mas, pelo visto, Naden não concordava comigo, pois disse: — Sim, mas… não entendo o que estão tentando dizer.

Que? Ela não sabe? Mesmo ela escutando?

— Havia um “você” ali… não ouviu?

— Foi isso o que disseram? Não consegui entender mesmo.

Mas o quê? Sem chance de eu conseguir ouvir algo que Naden não conseguisse, não é?

Algo estava errado. Além disso, essa voz… algo nela me incomodava. Era aguda demais para ser de um homem e aparentava ser de uma mulher, mas ainda assim havia algo errado…

— Se ain… nã… ficien…

Ouvi de novo. Essa voz… estava vindo de cima?

Olhando para cima, eu vislumbrei, mesmo que só um pouco, uma sombra negra entre as nuvens. Mas com elas atrapalhando, só consegui ver de relance, mas aquela sombra parecia bem grande mesmo que devesse estar bem longe. Devia ser algo bem enorme.

— Eu… vo… destruir… para…

Destruir?!

Destruir. Eu ouvi essa palavra perigosa bem claramente.

Aquela sombra grande estava escondida pelas sombras. Naden deve ter saído delas, porque conseguia ver uma Dracul encharcada aparecendo abaixo de nós. O som estático da chuva já começava a me irritar também.

 Aquela voz, falou em uma língua que eu reconhecia… sem sombra de dúvidas.

Algo estava naquelas nuvens.

Na chuva, nós pousamos na frente do Castelo de Cristal.

Devia ser uma linda vista na luz do dia, mas nessa escuridão o castelo parecia bem ordinário.

Conforme Naden começara a voltar para forma humana, eu pulei de suas costas e corri para a gôndola. Quando abri a porta e me perguntava se os outros estavam bem, Liscia, Aisha e Kaede rastejaram para fora com seus rostos pálidos. Hal e Carla seguiram. Todos pareciam bem.

Eu corri em direção a eles. — Vo… vocês estão bem?

— Blech… Souma, você é imprudente demais. — Liscia murmurou.

— O vento nos balançou tanto, eu me sinto mal…  Blech.

— Ah… éee… desculpa.

Eu esfreguei suas costas para confortá-los enquanto vomitavam. Hal e Carla estavam cuidando da Kaede.

— Vocês dois estão bem?

— Eu era da Força Aérea e voava muito em wyverns — Carla disse.

A experiência de Carla na Força Aérea e a do Hal no treinamento das dracotropas deve ter feito eles se acostumarem com esse tipo de coisa.

Me incomodou ver Hal encarando a distância, mas… de qualquer forma, era melhor ir para algum lugar com um telhado, do que ficar debaixo dessa chuva.

— Hal e Carla, amarrem a gôndola para ela não ser arrastada! — gritei. — Todos os outros, vamos entrar! Naden, guie a gente!

— É para já!

Nós entramos no Castelo de Cristal. Quando os outros se acalmaram e Hal e Carla voltaram, eu perguntei a Naden: — Quero encontrar com a Madame Tiamat. Para onde eu vou?

— O grande salão, eu acho. Quando há uma crise aqui, os dragões se reúnem no grande salão do Castelo de Cristal.

— Tudo bem, então vamos para lá.

Decidimos pedir para Naden nos levar até lá. Só levou um momento quando Madame Tiamat me teletransportou, mas correr nesse castelo ridiculamente grande era um saco. Pelo visto, ia levar um tempo até chegarmos.

Quando chegamos no grande salão depois de cinco minutos correndo, haviam duas surpresas esperando. Uma era que o salão era tão grande que “grande” não fazia jus a ele. A outra era que, ao observar de perto, o grande salão era o espaço que a Madame Tiamat me trouxe quando cheguei em Dracul pela primeira vez.

Haviam umas cem pessoas no centro. Todas possuíam caudas e chifres, deveriam ser dragões em forma humana.

Pelo que Naden me disse, havia umas trezentas pessoas — dragões — vivendo na Cordilheira do Dragão Estrela.

Até considerando seu tamanho enorme, era uma densidade populacional incrivelmente baixa para um país.

Já que esse número também incluía jovens dragões e sacerdotisas a serviço de Madame Tiamat, significava que as pessoas aqui eram todas dragões adultos que podiam deixar as montanhas.

No momento que entramos, sentimos o clima de tensão. Num lugar que caberia dezenas de milhares de humanos, os dragões estavam reunidos em uma área compacta por algum motivo.

O lugar estava bem barulhento e parecia que ninguém nos notou. Pelo visto, nem Madame Tiamat estava aqui ainda, então o que aconteceu?

Independente do que fosse, nos aproximamos do grupo até que…

— Naden! — Uma garota com um vestido saiu do grupo. Era uma… amiga da Naden… Pai, talvez?

Ela se encontrou com sua amiga, que lhe deu um abraço bem apertado. — Pai!

Naden tinha uma expressão aliviada em seu rosto e o desespero de Pai diminiu.

— Naden, onde você estava?! Estava tão preocupada.

— Ah, desculpe, fiz uma visitinha no país de Souma….

— País do Souma? Quem?

Ah! Verdade, não falei meu nome real para Pai. Parecia que Naden acabou de lembrar disso também.

— Talvez você se lembre se eu chamar de país do Kazuma. O Reino de Friedônia.

— Friedônia?! Tão longe assim?! Como… ?

— Ahaha, é uma história longa…

Naden tentou resumir a história, mas Pai a cortou na hora. Uma expressão séria havia em seu rosto conforme ela agarrava uma Naden insatisfeita.

— Por favor, Naden! Me escute! Nesse ritmo, a Ruby vai…

Ruby? Ruby era… a dragão vermelho que sempre queria brigar com a Naden?

Pai explicou a situação atual para nós.

Aqui a história voltava um pouco.

Pelo visto aquela nuvem misteriosa que apareceu do nada surgiu nesta manhã.

Apesar dos céus estarem claros até aquele momento, a nuvem surgiu do nada e trouxe consigo uma tempestade violenta. O temporal pesado fez os lagos de Dracul transbordarem e árvores caírem.

Em resposta, os dragões se reuniram no Castelo de Cristal.

O vento e chuva pareciam estar só afetando Dracul, então imaginei que eles só teriam evacuado para outro lugar, mas havia um motivo para isso.

Era porque os ovos de dragão estavam debaixo do Castelo de Cristal.

Já me disseram que quando um dragão formava um contrato com um cavaleiro e punha um ovo, este era deixado aos cuidados das pessoas na Cordilheira do Dragão Estrela. Aparentemente, a simples passagem do tempo não era o suficiente para fazê-los chocar.

Eles eram deixados num lugar chamado Berçário, abaixo do Castelo, e lá permaneciam até o tempo de seu despertar.  Este só viria quando pudessem encontrar a pessoa a qual estavam destinados a formar um contrato. Havia casos quando um ovo não chocaria por quase um século e era por isso que eles não podiam ser criados por seus pais.

Como os ovos não podiam ser tirados do Berçário, os dragões tinham que defender esse lugar a todo custo.

Foi este o motivo que levou os dragões a investigar essa nuvem bizarra, mas os seres alados não conseguiam voar por causa da ventania forte e ninguém conseguia alcançar as nuvens.

Em resposta, os dragões se voltaram para Madame Tiamat em busca de orientação.

Ela respondeu: — Um dragão sem asas poderia voar nesse temporal. Aquele que possui a chave. Até seu retorno, eu protegerei as crianças, os ovos que esperam o tempo de seu despertar.

Então, ela tomou as sacerdotisas do dragão com ela e foi para o Berçário.

Os dragões deixados para trás estavam quase entrando em pânico. Era assustador, pois lhes disseram que não havia qualquer coisa que pudessem fazer para resolver a situação. Eles pensaram quem seria o dragão sem asas e logo lembraram de Naden Delal. Poucos não sabiam que Naden era um dragão que não tinha asas.

Entretanto, quando estavam para procurar Naden, Pai os impediu. Ela lhes disse que ninguém usou a caverna de Naden pelos últimos dias.

Quando foram checar, Naden não estava lá.

Naturalmente, ela havia partido para o Reino de Friedônia comigo e, nesta manhã, nós estávamos na vila perto da fronteira onde Aisha e os outros nos esperavam.

E, então, os dragões estavam estupefatos. Naden, quem Madame Tiamat lhes garantiu que conseguiria resolver o problema, não estava lá.

— De primeira, alguns estavam descontentes, dizendo: “Onde ela foi numa hora dessas?” — Pai explicou. — Mas, porque ela não estava aqui, não importava. Eventualmente, a pergunta mudou para: “Por que Naden não está aqui?”. Dali, eles chegaram a conclusão de que era por causa dos seus próprios sentimentos em relação a Naden. Eles zombaram dela por ser um dragão sem asas, uma minhoca. “Talvez ela ficou cansada de ser chamada de minhoca e foi por isso que ela foi embora?”. Eles começaram a pensar. E, então, eles se viraram contra Ruby e os amigos dela.

Todos sabiam que Ruby sempre zombava de Naden, o que fez as duas brigarem várias vezes. Então, todos condenaram Ruby e suas amigas. Este era o motivo da comoção atual.

Pai continuou agarrada em Naden e disse: — Ruby é do tipo emocional que não pensa bem antes de fazer algo e ela é orgulhosa, então ela disse que assumiria responsabilidade pelas suas ações assim como as de Sapphire e Emerada. Eu estava tão brava sobre tudo que ela disse antes, mas ao ver todos se virarem contra ela daquele jeito…. me senti tão mal por ela…

— Não faça isso comigo — Naden disse com uma voz dolorida.

Quando olhei para ela, o cabelo da Naden brilhava e se levantava por causa da eletricidade. Era como a materialização da raiva e indignação de Naden.

Naden deixou uma Pai chorosa comigo, então foi em direção ao grupo de dragões, seu rosto uma máscara de fúria.

— Eles são tão egoístas!

— Naden…. — Um dragão arfou.

Por um momento, eu pensei que deveria pará-la. Ela não era a pessoa sendo crucificada agora. Pelo contrário, ela era a peça chave para resolver o problema, então com certeza Naden conseguiria ser respeitada em Dracul. Não havia motivos para ela comprar uma briga com os dragões e piorar sua posição. Eu gostaria de observar Naden analisar a situação e tomar uma decisão inteligente como essa.

Então, eu lhe disse: — Você deveria fazer o que quiser. Mesmo que eles não gostem, seu lugar é no Reino de Friedônia… nosso lar.

— Você disse que queria ser parte da família, Naden. — Liscia confirmou — Então, há apenas um único lugar para você voltar.

— A família sempre volta para o lugar aconchegante o qual chamam de lar, no final das contas — Aisha adicionou, com uma piscadela charmosa.

— Souma, Liscia, Aisha…

— Então, bota pra quebrar, Naden! — gritei.

— É pra já!

Naden secou seus olhos levemente, então assumiu sua forma ryuu, arregalou a boca e rugiu o mais alto que podia.

— *Roaaaaaaaaaaaaaar*

O rugido dela foi tão alto que fez o grande salão estremecer, fazendo com que todos se voltassem para ela. Então, conforme os dragões observavam, Naden alçou voo no ar.

— Mentira… Naden está voando… — Pai cobriu sua boca levemente aberta. Os outros dragões pareciam não conseguir acreditar no que viam também.

O corpo de Naden serpenteou elegantemente diante deles.

Conforme Pai encarava embasbacada, uma única lágrima caiu de seus olhos. — Entendi… é por isso que Madame Tiamat… fico feliz por você, Naden…

Tendo dito isso, Pai secou seus olhos e sorriu conforme chorava. Ela devia estar preocupada com a amiga todo esse tempo. Naden tinha uma boa amiga.

Quando Naden ocupou o espaço acima dos dragões, ela gritou: — Cheeeeeeeeeeeeeega!

*Crackle!* *Crackle!*

Ela fez relâmpagos caírem onde os dragões estavam em pé. Houve gritos aqui e ali e os dragões caíram um após o outro.

… Ela estava ao menos tentando se segurar? Que sons assustadores… eu senti o cheiro de queimado também. Bo… bom, eles eram dragões. Um choquinho não devia ser nada para eles… ao menos foi o que eu pensei, mas o olhar tenso de Pai me disse o contrário. Pelo visto, até para dragões, ela exagerou. Naden não deve ter conseguido se segurar.

A comoção parou na hora e Naden pousou no centro do grupo, onde ninguém estava de pé, em sua forma humana. Então, Naden olhou para a dragoa que jazia aos seus pés.

Aquela era… Ruby? Seu cabelo estava uma bagunça, os cantos de sua boca estavam cortados e sua roupa estava em frangalhos. Em resumo, ela estava bem acabada. Estava claro que foi linchada.

Naden olhou uma vez para Ruby, então se virou e começou a gritar de novo: — Fala sério! Eu nunca gostei da implicância da Ruby, mas vocês que zombavam de mim pelas costas eram tão ruins quanto ela! E agora?! Agora que não é mais conveniente, vocês só vão jogar a culpa toda em cima da Ruby e bater nela assim?! Vocês são retardados?!

Era como se uma barragem tivesse rompido. As emoções acumuladas dentro dela todo esse tempo foram liberadas. Os sentimentos sombrios, ocultos que ela guardou dentro de si, incapaz de expressá-los.

— Nó… nós só…

Alguns dragões tentaram responder, mas foram silenciados no final pelo discurso inflamado de Naden.

— É tarde demais para isso! Vocês zombaram de mim todo esse tempo, me chamando de minhoca, dragão que não voa e agora querem jogar todos seus problemas nas minhas costas?! Vocês têm asas, não têm?! São melhores que eu, não são?! Então, que tal saírem daqui e fazerem algo sobre essa merda vocês mesmos!

— Naden… — Com um tom triste, Pai começou a andar em direção a sua amiga, mas eu a impedi. Agora, era o momento dela tirar tudo isso de seu peito. Eu senti… que era algo que ela precisava para prosseguir com sua vida.

— Vocês só se divertiram às minhas custas! Agora que têm algo que só eu posso fazer, vocês vêm com a maior cara lavada para me pedir um favor? Estão de sacanagem com a minha cara?! Melhor me escutarem, eu odeio a atmosfera aqui na Cordilheira do Dragão Estrela! Fora Pai e Madame Tiamat, eu odeio os dragões também! Por que eu devia fazer qualquer coisa por vocês?! Eu não dou a mínima se esse lugar for destruído!

Naden encarou os dragões que estavam sem palavras, e pisou com força.

— Vocês falavam mal de mim pelas costas toda hora! “Ela é uma minhoca”, “Ela devia aprender qual é o seu lugar!”, e mais! Quem foi que deu o direito a vocês de vir aqui querer qualquer coisa de mim? E qual é o meu lugar, de qualquer forma? Talvez vocês queiram pôr as testas no chão e implorar? Talvez isso me faça mudar de ideia?

Ah… ela exagerou um pouco no veneno e agora ela perdeu um pouco a noção. Provavelmente, Naden nem percebia mais o que ela estava dizendo. Aff.

— Vamos lá, nós temos que correr… — Pai disse.

— Tá bom, vamos acabar com isso.

Eu coloquei uma mão no ombro de Naden e a parei.

 

Separador Tsun

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Souma pegou no meu ombro com um olhar sério no rosto. — Acho que você já falou o bastante. Se passar disso, você estará se rebaixando, Naden.

O quê? Não fique no meu caminho. Pensei enquanto tirava sua mão do meu ombro, então me voltei com raiva e gritei com ele.

— Qual é o meu valor, de qualquer jeito?! Que eu consigo voar mesmo sem asas?

— Não.

— Meu valor é que eu consigo voar na tempestade? “Então vá e voe”, é isso?

— Não.

— Bom, o que é então?!

— Seu coração não se prende no valor das coisas. É isso que te torna valiosa, Naden!

Souma colocou suas mãos nos meus ombros de novo e disse com firmeza. Ele estava me agarrando com firmeza, tanto que doeu um pouco. Aquela dor… me fez voltar a mim.

— Sua habilidade de ver o lado bom das coisas, independente do que qualquer um diga, este é o seu charme, Naden! Se é divertido, você lerá novelas de romance do mudo de fora e até assistir Transmissão de Voz da Jóia do Império. Você até consegue se dar bem com um estrangeiro como eu, que apareceu do nada, como se não fosse nada demais. Você não liga para o que os outros pensam. Você faz o que você quiser. Aquele seu espírito livre, comum, é o que eu amo sobre você. Não foi com qualquer dragão que eu quis formar um contrato, foi você, Naden!

Eu fiquei em silêncio.

Ouvir ele dizer que me amava fez minha cabeça esfriar rapidamente. Não, muito pelo contrário. Fez ela ferver. Meu rosto estava queimando. Minha cabeça abria e fechava como se eu fosse um peixe arfando por ar e nenhuma palavra saía.

Souma continuou como se isso não importasse. — Se você vai pisar nas personalidades dos outros só porque as posições mudaram, você se transformará naquilo que mais odeia. Eu não quero ver você se tornar alguém assim.

— S-Souma…

— Além disso, não há mais necessidade de você aguentar essas coisas sozinha.

A próxima coisa que notei, Liscia e Aisha estavam do nosso lado.

— Naden, você é parte da família agora, então dependa da gente quando precisar — Liscia disse.

— De fato — Aisha concordou. — Não sou esperta como os outros, então darei meu melhor com minhas habilidades de luta. Se alguém te machucar, Madame Naden, deixe-me cortar essa pessoa com minha lâmina.

Liscia tinha um sorriso irônico em seu rosto e Aisha estava dizendo coisas bem perigosas com uma risada calorosa.

Ah… agora entendi. — Eu tinha tantas pessoas agora, não só a Pai, que veriam a minha dor como as suas próprias.

Eu me virei para Souma e os outros com uma mesura. — Desculpem. Eu acabei me excedendo aqui.

— Haha, bom, todo mundo precisa dar uma extravasada de vez em quando — disse Souma. — Além disso, estamos irritados também. Então, vamos torcer a faca um pouco.

Com isso, Souma se virou para os dragões que assistiam ao longe. Huh? O que ele ia fazer?

— Eu sou o Rei Souma Kazuya do Reino de Friedônia. — Souma se apresentou do nada.

Houve burburinho entre os dragões.

— E… ele disse o rei… ?!

— E de Friedônia?! Aquele país grande do leste?!

Já era um fato surpreendente que humanos vieram aqui antes da Cerimônia de Contrato, e não só isso, ele disse que não era do Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung, mas sim o próprio Rei de Friedônia.

Até Pai, que conhecia Souma, ficou surpresa — Espera, Kazuma é o Souma? E um rei ainda por cima? — Piscando involuntariamente.

Em uma voz régia, Souma continuou: — Nesta ocasião, Eu, Souma Kazuya, vim para formar um contrato com Naden sob orientação de Madame Tiamat. Este também é um meio de lidar com a “tempestade”. Em outras palavras, Naden Delal se tornará uma das rainhas de Friedônia — Souma encarou os dragões. — Então, se algum de vocês incomodarem a Naden depois disso, se preparem para enfrentar um incidente diplomático.

Quando ele intimidava os dragões dessa forma, Souma parecia menos com o rei de um país humano e mais com um rei demônio. Ele disse que torceria a faca, mas essa faca era grande demais. Era como uma estaca, que Souma estava martelando neles, para prendê-los no chão, se certificar de que eles ficassem lá e entendessem bem a seriedade da situação. Como prova disso, os dragões estavam congelados, incapazes de falar um “a” sequer.

Na verdade, ele era só um humano frágil que eles podiam acabar só com um sopro, mas Souma dominava o salão. Me dava um novo senso do quão grande era o país que ele carregava nos ombros.

Mas Souma não agia normalmente como se quisesse usar esse tipo de autoridade. Quero dizer, ele até usou um nome falso quando nos conhecemos. Se ele estava dependendo de sua autoridade para intimidá-los… ele devia estar bem, bem bravo, certo?

Por minha causa, porque eles zombaram de mim… não, talvez eu esteja sendo pretensiosa demais.

Enquanto pensava nisso, eu vi Ruby, espancada e jogada no chão, no canto de meu olho. Lentamente, fui em direção a ela.

Eu olhei para ela, jazendo no chão, sua respiração irregular. Era o oposto de todas aquelas vezes que ela me menosprezava do céu.

Eu lhe fiz uma pergunta.

— Acordada, Ruby estúpida?

— Sim, estou acordada, Naden burra.

Surrada ou não, parecia que ela ainda estava bem o suficiente para responder a altura. Mesmo nesse estado, Ruby era Ruby. Talvez porque eu acabei de extravasar minha raiva, eu não tinha rancor o bastante para ela. Eu ainda tinha muita coisa para reclamar sobre ela, mas não conseguia ligar para isso agora.

— Eu diria que os dragões exageraram, mas você mereceu metade disso.

— Hmph… !

— Quero dizer, você não podia ter sofrido menos? Tipo, se tivesse dito que eu fugi.

— Se eu fizesse isso… seria a mesma que eles — Ruby disse indignada. — Tudo que eles fazem é falar sobre as pessoas pelas costas. Eu não quero ser assim. Se eu penso em algo, eu vou e falo na sua cara.

— Essa sua atitude não foi nada além de um incômodo para mim.

Bom, já que isso serviu como uma motivação para mim, pode ter sido melhor do que os outros dragões que só falavam pelas minhas costas. Quando eu fiquei brava, consegui acertá-la com um choque elétrico no final das contas. Se ela tivesse ficado quieta, eu não teria conseguido fazer aquilo.

Ruby soltou um pequeno suspiro — … Você tem sorte demais. Você não tem asas, mas ainda consegue voar. E ainda vai casar com um rei? Só me fala, quão especial é você? Não consigo sentir mais inveja nem se eu tentasse.

Inveja… parecia que o que Souma disse era verdade. Apesar de eu não saber como reagir. No final das contas…

— Tantas vezes, eu queria ter nascido como um dragão comum como você, Ruby.

Se eu tivesse sido um dragão comum, nunca teria passado por nada daquilo. Se eu tivesse sido normal como Ruby. Mas, agora, ela me diz que tinha inveja do quão especial eu era.

Comum e especial. Se apenas nossas posições pudessem ser invertidas… mas, provavelmente, não era tão simples. Se eu fosse comum, eu desejaria ser especial e se Ruby fosse especial, ela desejaria ser comum. Todos só queriam ser as coisas que não eram, no final das contas.

— Naden… as coisas não acabaram tão bem assim para nenhuma de nós.

— Essa é a vida, Ruby.

Ambas sorrimos ironicamente.

Sinceramente… as coisas nunca acabam bem.

— Naden, venha conosco — Souma me chamou. Parecia que estava na hora de planejar como lidaríamos com a tempestade.

— Eles estão me chamando.

— Sim, sim. Vá para onde quiser. Se for para as nuvens ou para o reino.

Deixando Ruby para trás com seu recalque de sempre, corri até Souma.

 

Separador Tsun

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Aff… odeio isso… — Eu pensei, num estado miserável.

Meu corpo todo doía, por conta do espancamento. Por isso, fiquei deitada olhando para cima.

Eu, Ruby, fui repreendida por comprar brigas com Naden e todos os dragões se juntaram para me atacar. Mesmo para os padrões dos dragões, sempre senti que era bem forte, mas a maré contra mim era poderosa demais.

Os mesmos dragões que me atacaram disseram coisas horríveis sobre Naden pelas costas dela, mas agora que precisavam de seu poder, se viraram contra mim e me condenaram.

Você mereceu metade disso. — As palavras dela ecoaram em minha mente.

Aff, eu sei disso, tá?

O futuro marido de Naden estava certo. Estava com inveja dela. Sempre tive inveja de Naden, que nasceu especial, aqui na Cordilheira do Dragão Estrela, um lugar onde nosso sistema de valores era inflexível e a individualidade tendia a ser reprimida. Eu queria algo especial, algo que os outros dragões não tinham, como a Naden…

Tantas vezes, eu queria ter nascido como um dragão comum como você, Ruby.

Nada funcionava como você queria. No fim, ambas só queriam o que não tínhamos.

Olhei para o teto, que era tão alto que mal conseguia vê-lo. As lágrimas em meus olhos desceram e encharcaram minhas orelhas. Merda, onde foi que eu perdi o caminho…?

— Sim, eu não consigo ver isso como o problema de outra pessoa — De repente, havia uma voz acima da minha cabeça. Quando voltei meu olhar, um jovem ruivo, musculoso, olhava para mim. — Quando eu vejo quão acabada você está, espancada e deixada sozinha aqui, me lembra de como eu estava a não tanto tempo atrás. Eu zombei do Souma também e o meu velho me deu uma surra por aquilo.

Enquanto dizia isso, o jovem ruivo coçou sua cabeça. Então, se agachou para olhar para meu rosto enquanto eu continuava olhando para o alto; e ele riu.

— Ah… isso pode não ser problema meu, mas um conselho: você não pode mudar o fato que ferrou com as coisas. Não tem como desfazer isso.

 

 

 

 Eu fiquei em silêncio.

— Então, como vai pagar pelo erro? Há coisas nesse mundo que não tem como compensar, claro. Mas se puder, você vai querer fazer isso, para você poder estufar seu peito com orgulho, certo?

Compensar pelo erro e estufar meu peito com orgulho…

— Fazer as pazes com a pessoa que eu magoei, é o que quer dizer?

— Não. Você mesma.

Pagar pelo meu erro. Para que eu possa me olhar com orgulho. — Não sei o motivo, mas por alguma razão, conseguia aceitar facilmente as palavras desse jovem.  Então…

— Por que você tá agindo tão presunçoso dessa forma, Hal? — Uma garota de olhos esguios perguntou.

— Que foi, Kaede?! Qual o problema? Só estava demonstrando compaixão aqui!

— Hmm….

 A garota de orelhas de raposa olhou friamente para ele e o jovem ruivo começou a tentar se explicar desesperadamente. Ele pareceu um pouco legal antes, mas seu pânico arruinou a imagem.

Às vezes ele era legal e às vezes era bobo. Era interessante assisti-lo. E além disso…

Você vai querer fazer isso, para você poder estufar seu peito com orgulho, certo?

Para você mesma.

Eu sentia como se as palavras daquele jovem tivessem me dado uma direção. Eu ergui meu corpo dolorido.

— Ah! Ei, tem certeza que deveria estar levantando? — O jovem perguntou.

— Estando machucada, você pode só ficar deitada, sabe? — A menina com orelhas de raposa disse.

Verdade, meu corpo todo doía, mas… se eu ficar deitada aqui, não conseguiria estufar meu peito com orgulho. Então, me virei para o jovem ruivo, que a menina com orelhas de raposa chamou de Hal. Eu me virei para o Hal e me curvei o máximo que pude enquanto disse: — Eu gostaria de lhe pedir um favor.

 


 

Tradução: Worst

Revisão: CastroJr

 

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