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Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 06 – Cap. 06 – As Planícies do Pesar

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Ao noroeste do Reino de Friedônia ficava o local que, em alguns anos, seria chamado de Planícies do Pesar.

De acordo com as histórias, dos lamentos de uma bela jovem pela perda de seu amado, um lago foi criado a partir de suas lágrimas. De fato, havia um lago nas Planícies do Pesar e os fazendeiros da região o usavam como fonte de água para irrigar suas plantações. Era dito que essa lenda de um amor trágico encantou diversas jovens que visitavam aquelas terras.

Entretanto, aqueles que sabiam da verdade por trás da lenda só conseguiam sorrir ironicamente ao observá-las.

 

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— Uou — disse Liscia, admirando a paisagem do lado de fora da janela da gôndola.

Nesse exato momento, estávamos bem alto no céu. Eu até voaria nas costas de Naden, mas se Liscia quisesse se juntar a mim, a proteção da ryuu não a cobriria. Por causa disso, Liscia e eu estávamos na gôndola criada originalmente para o transporte wyvern, porém após um pequeno ajuste, pedi para Naden puxá-la em sua forma ryuu.

Naden movia-se no ar mais rápido do que um wyvern conseguiria voar. Ao observar o cenário em constante mudança, Liscia disse relativamente animada: — Estou surpresa, Souma. Ela é muito mais rápida que um wyvern.

— Gwah! — respondi.

— Espera, qual o problema?! Por que você está agarrando seu peito do nada?

— Não… eu já vi essa fala em um RPG antigo, mas ouvir você soltar ela do nada… foi um choque…

— Mas por quê?!

É, ela nunca entenderia o motivo da minha dor, nem precisava. Eu abracei Liscia enquanto ela me encarava perplexa.

— Por favor, não me deixe. — Eu lhe disse.

— Não sei o que te deixou tão preocupado, mas… claro que não vou. — Liscia descansou sua cabeça em meu ombro. — Nós dois… ficaremos juntos para sempre.

— Liscia…

— Eeeeeeeeeeeeeeei! — Quando a atmosfera começou a ficar boa, um rugido irritado trovejou de cima. — Vocês me pediram para carregar essa budega por aí só para me fazer ficar de vela?!

— Ah, desculpa — falei — Não consegui me segurar…

— O que você quis dizer com isso?! Para começo de conversa, você podia só montar nas minhas costas!

— Mas aí, nós três não conseguiamos conversar.

Em sua forma ryuu, Naden se comunicava usando algo parecido com telepatia, então podia falar ignorando as paredes da gôndola, ou o som do vento uivando. Mas se eu montasse nas costas dela, não conseguiria conversar com Liscia na gôndola.

Liscia se inclinou e suspirou no meu ouvido, sussurrando: — Você está fazendo isso de propósito, não está? Só porque as reações da Naden são super fofas.

— Claro que não — sussurrei de volta. — Bom, talvez um pouquinho.

— Você desenvolveu um belo de um traço de mau caratismo, sabe disso, né?

— Bom, com tantas garotas complicadas ao meu redor, acabei treinando bastante.

— … você está me incluindo nisso aí?

— Fala sério, eu falei para vocês não me excluírem da… que…? — A reclamação da Naden foi cortada no meio. Enquanto me perguntava qual o motivo, Naden acrescentou do nada: — Ei, vocês dois podem olhar para o chão por um momento?

Eu abri a janela e olhamos para o chão enquanto nos encolhemos por causa de todo vento que entrou repentinamente no interior da gôndola.

— Mas o quê?! — Eu e Liscia gritamos ao mesmo tempo.

Nos campos abaixo de nós, havia vários buracos de todos os tamanhos. Crateras, pequenas e grandes, se formaram lá. Parecia que a área foi atingida por uma chuva de meteoritos.

— Parece que a área foi bombardeada por um grupo de wyverns… — Liscia sussurrou.

— Bombardeada?! Hakuya não me falou coisa alguma sobre isso! — gritei.

— Espera, Souma! Aqui é bem perto da vila onde Aisha e os outros estão nos esperando, não é?!

— Ah! Temos que nos apressar. Naden, estou contando com você!

— É pra já!

Naden mergulhou na hora em direção a vila onde Aisha e os outros esperavam.

Pedimos que ela descesse perto da vila e assumisse sua forma humana, para então entrarmos na vila pelo portão de entrada. Diferente dos campos surrados, a vila não parecia nada diferente de quando viemos pela primeira vez.

Ué, mas que diabos eram aqueles buracos, então? — Enquanto eu pensava isso…

*Stomp* *Stomp* *Stomp* *Stomp* *Stomp*

Eu ouvi o som de passos pesados e…

— Vossa Majestaaaaaaaaaaaadeeeeee!

Vi Aisha correndo em disparada na nossa direção.

Com aquele desespero todo, ela parecia mais um cavalo em disparada ou um rinoceronte selvagem. Conforme  ela se aproximava, eu conseguia ouvir o som de sinos de alarme tocando na minha cabeça. Merda, isso não ia dar certo. Eu tentei me virar e correr para o outro lado, mas…

— Vossa Majestaaaadeeeee! Finalmente, eu te encontreeeeeeeeeeiiii!

— Gwah!

— Souma?! — Liscia e Naden gritaram de susto.

Sem nem conseguir me virar direito, ela me alcançou e se lançou contra mim com tudo. Parecia que eu fui atropelado por um carro pequeno.

… ai, essa doeu. Merda… devo ter quebrado… o que, umas duas costelas nessa brincadeira?

Entretanto, meu inferno só havia começado.

— Por que você sumiu do nada?! Que maldade, me abandonar assim sem mais nem menos! Me deixe ficar do seu lado para sempre!

As palavras até que eram fofas e ela parecia uma criança carente pedindo por atenção, mas essa era Aisha, a guerreira mais poderosa de todo nosso país. Com sua força, quando ela me deu um abraço de urso, eu conseguia sentir meus ossos rangerem.

— Aisha! Isso não é mais só um abraço! É um abraço de urso! — Eu gritei desesperado.

— Mas senhooooooor! — Ela gritou de volta, me apertando mais ainda.

— Desisto, desisto, já falei que desisto! — Eu tentei dar dois tapinhas no chão, mas ela não queria nem saber.

Incapaz de continuar assistindo, Liscia disse para Naden enquanto suspirava. — … Naden, se incomoda?

— Eu posso? No estado atual, vou acabar acertando o Souma também, sabe?

— Eu diria que é parcialmente culpa dele. Você tem minha permissão.

— … é pra já.

Com essa fala, Naden ergueu um dedo em nossa direção.

Quê?! Mas o que que ela tá pensando em fazer?!

— Tudo bem, eu consigo ajustar o nível de poder.

— Não, não, não é esse o problema aqui…

— Toma essa!

*Bzaap*

— Gyaaaaaaaaa!

Ao levar um choque da magia de Naden, eu e Aisha acabamos esparramados de costas no chão.

Apesar de finalmente estar livre do abraço de urso, eu ainda queria ter sido salvo de uma maneira mais pacífica. Sinceramente… fui derrubado, apertado, esmagado e, finalmente, eletrocutado. Esses últimos minutos já acabaram com todas as minhas forças.

Quando chegamos no hotel onde Aisha e os outros se encontravam, Tomoe me recepcionou com um sorriso que parecia o desabrochar de uma flor.

— Irmãozão! Graças a deusa, você está bem!

Afaguei sua cabeça gentilmente, enquanto perguntava. — Desculpa por te preocupar, onde estão os outros?

— Sobre isso… — Ela respondeu enquanto olhava para trás.

Seguindo sua linha de visão, eu vi Hal, Kaede e Carla desmaiados numa mesa. As feições em seus rostos pareciam dizer: “Estou pior que o pão que o diabo amassou”, toda energia e vitalidade sumiram de seus rostos. Suas roupas estavam um pouco surradas também.

— Mas… mas o que aconteceu aqui…?

— Os três… deram o seu melhor.

Tomoe deu um olhar distante conforme relatava o que aconteceu no tempo que eu estava fora.

 

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A história se passou a alguns dias atrás…

— Senhor… Senhoooooooooooooor!

Halbert por pouco desviou da espada larga de Aisha que ela balançava por aí enquanto chorava. — Uou! Essa foi por pouco!

Tendo cortado nada além do ar, a espada de Aisha continuou acertando o chão, deixando marcas de uns cinco metros de distância. Ao ver aquele poder, Halbert estremeceu.

— Is… isso aí já é apelação demais, vou morrer com um só golpe. Não era para ser só um treinamento de combate?

— Se prepare. — Carla disse, segurando com firmeza sua espada. Ela estava ao lado de Halbert. — Temos uma luta de verdade em nossas mãos agora.

— Ai… que droga. Como que a gente se meteu nessa…? — Halbert disse com um suspiro, segurando sua lança curta favorita com ambas as mãos. — Sinceramente… vou guardar rancor por essa, Souma.

— Não é culpa do Mestre, mas… não posso dizer que não compreendo o sentimento. — Carla concordou.

— Digo o mesmo. — Kaede disse. Ela estava atrás dos três com ambas as mãos no chão. — Acho que vou pedir a Vossa Majestade um extra por causa do perigo… droga!

*Crack!* *Crunch!*

Enquanto Kaede pressionava o chão com ambas as mãos, o chão ao redor de Aisha se ergueu, formando paredes para cercá-la. Eles pensaram que seria o suficiente para segurá-la, mas…

— Por que, senhor… por que…? — Com olhos lacrimejando, Aisha acertou de novo e de novo as paredes que a cercavam.

Segundos depois, as paredes de terra se quebraram, desmoronando como um monte de blocos de madeira. Porém, na verdade, a terra foi cortada em pedaços do tamanho de tijolos. Pedras duras e terra macia foram ambos cortados em formatos exatamente iguais. Isso teria sido impossível sem uma força assustadora e uma espada afiada feito navalha.

 Quando o grupo viu aquilo, todos estremeceram.

— Gosto de pensar que sou bem forte, mas… — Halbert começou.

— Eu consigo sentir meu orgulho como uma mulher do exército se esvaindo. — Carla confessou. — Porém, reconheço que sou uma criada agora.

— Estou seriamente considerando uma estratégia onde nós só jogamos Madame Aisha no meio de um exército inimigo sozinha. — Kaede disse.

Sem prestar atenção aos seus companheiros claramente perturbados, Aisha continuava a gritar — Senhooooooooooor! Por que, por que você me abandonou e foi embora?!

— Ela fala como se o Souma/Mestre/Vossa Majestade estivesse morto! — Os três falaram ao mesmo tempo.

— O que eu faço agora que você se foooooi?!

— O Souma/Mestre/Vossa Majestade não está morto, sua maluca!

Os três continuaram a apontar o óbvio, mas Aisha não estava nem aí.

Agora, quanto à pergunta do motivo de Aisha e os outros três estarem lutando, tudo começou no dia antes de ontem, quando Souma acabou indo para a Cordilheira do Dragão Estrela sozinho. Apesar das circunstâncias das pessoas da região tornarem o ocorrido inevitável, ainda permanecia um fator de que Souma foi raptado do nada. Aisha, que também era guarda-costas dele, além de ser uma candidata a segunda rainha primária, ficou muito perturbada com isso.

Quando uma das Sacerdotisas do Dragão a serviço da Mãe dos Dragões Tiamat foi despachada para se encontrar com ela, Aisha tentou intimidar a emissária com um olhar ameaçador. Felizmente, Halbert e Carla conseguiram segurá-la, então o incidente não tomou proporções desnecessárias.

Porém, foram eles que começaram o problema, então a Sacerdotisa do Dragão ainda se desculpou. Apesar disso, a situação poderia facilmente ter se transformado em um grande problema diplomático.

Mesmo depois de receber uma explicação, Aisha ainda estava amuada. Ela chegou em um nível de preocupação com Souma que sua mente sempre parecia estar em outro lugar.

Tomoe começou a se preocupar com ela, então conversou com Carla sobre o que elas poderiam fazer e decidiram que treinar ajudaria a distraí-la.

Sim, isso começou como um treinamento.

— Wahhhhhh…. Senhoooooor…

Porém, quando enfim começaram, o treino se tornou um meio para Aisha desestressar.

Aisha sempre foi reconhecida por sua proeza marcial, mas parecia que ela sempre se segurava. Agora, com seus sentimentos à flor da pele, o limitador que controlava sua força não estava funcionando. Com isso, o chão estava cheio de buracos feitos por sua força desenfreada e seus parceiros de treino, Halbert, Kaede, e Carla, estavam surrados e exaustos.

Enquanto assistiam a Aisha chorar como uma criança, Carla sorriu ironicamente. — Se ela se importa tanto com ele, o Mestre é um homem de sorte.

— É um amor pesado. — Halbert disse, girando seus ombros para relaxar o corpo. — Mas de um jeito esmagador. Espera, não vamos chamar reforços? Você enviou um  mensageiro kui para o castelo, não?

— Parece que o melhor que eles conseguiram foi colocar uma fita de segurança e manter a população civil longe dessa área — disse Kaede. — Eles devem estar dependendo da gente para fazer algo em campo. Não podem deixar pessoas que não sabem da situação em um lugar onde a futura segunda rainha primária pode estar fazendo algo para se humilhar.

Os ombros de Halbert desceram levemente. — Você faz isso parecer tão fácil. Eles não sabem do nosso sofrimento aqui em campo.

— Choramingar não vai resolver nada — disse Carla . — Mantenha o foco no problema em nossas mãos, Senhor Halbert. — Apesar dela estar tão surrada quanto ele, Carla parecia cheia de vida por algum motivo.

— Ei… por que você parece tão energética? — perguntou Halbert.

— Eu posso sentir o sangue de guerreiro dentro de mim ardendo pela primeira vez em um bom tempo. Não fiz nada além de serviços domésticos ultimamente, então estava quase esquecendo que já fui uma mulher do exército. Ah, mas não se preocupe. Comparado a humilhação de ser forçada a usar aquela roupa sexy —feita pela sádica maluca, Serina— e atuar como Senhorita Dran, a comandante que apareceu no tokusatsu Super-Pratamen, um espetáculo com ótimas avaliações rodando por todo o Reino de Friedônia por meio da transmissão de voz da jóia, isso não é nada!

Halbert, alguém que até recentemente foi forçado a participar no treinamento da unidade Dracotropas proposta por Souma, não conseguia deixar de simpatizar com outra vítima sendo escravizada pelos seus superiores.

Olhando para aquela dupla, Kaede só deu de ombros desanimada — Eu acho que já foi o suficiente dessa conversa boba, sabe.

— Não chame ela de boba! É importante pra gente, tá bom?!

— Estou falando para vocês que agora não é a hora! Se vocês deixarem os guardas na mão… acabarão mortos.

— Augh, aff! — Tendo sido avisado, Halbert olhou para Aisha, que estava com a espada larga pronta. — Ai, foda-se! Vamos fazer isso!

Halbert e Carla tomaram impulso, avançando com tudo contra Aisha.

A batalha desses dois só tinha começado.

 

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— … e foi assim que nós paramos onde estamos agora. — Tomoe disse.

— O quanto ela se descontrolou para deixar o Hal e os outros naquele estado? — perguntei.

— Eles tentaram evitar incomodar os aldeões, pelo menos, ao levar ela em direção aos campos perto da vila e lutar lá.  Mas ainda foi bem assustador, com explosões como se houvesse uma guerra rolando.

— O que? Foram vocês que fizeram todos aqueles buracos no chão? — disse brincando olhando para Aisha, apesar de claramente não estar falando sério. Mas Aisha desviou deliberadamente seu olhar e fingiu que não me ouviu.

Quando Aisha se soltava de fato, conseguia mudar a topografia de uma área? Eu pensava nela como um leal cão de guarda, mas quando ela chegava nesse ponto, parecia mais uma arma de destruição em massa.

Vou contactar o castelo e pedir para os servos arrumarem aquela bagunça depois.

Por agora, decidimos esperar enquanto Hal e os outros se recuperavam. Depois fomos para o quarto onde eles ficavam, no qual pude apresentar Naden para todos.

— Essa é Naden Delal, uma ryuu da Cordilheira do Dragão Estrela com quem vou firmar um contrato. Para começo de conversa, ele tem como base que nós nos casemos, então está planejado que ela seja minha segunda rainha secundária. Naden, essa guerreira elfa sombria é minha futura segunda rainha primária, Aisha. A garotinha lobo mística é minha irmãzinha honorária, Tomoe. Os outros três são meus vassalos, Halbert, Kaede, e Carla.

Carla era na verdade minha escrava, mas explicar todos esses detalhes demandaria tempo demais, então vassala teria de servir.

Naden se virou para todos e curvou levemente a cabeça. — Eu sou Naden. É um prazer conhecê-los.

— Oooh, Madame Naden, sim? Como rainhas companheiras, vamos trabalhar juntas para o bem de Vossa Majestade. — Aisha balançou a mão de Naden de maneira amigável.

… que?

— Eu estava bem certo que você não ia gostar disso… não?

— Hm? Por que?

— Não, é que, você quase matou a emissária da Cordilheira do Dragão Estrela, não?

— Foi porque eles te raptaram do nada! — Aisha explicou enquanto bufava. — Eu estava brava com eles porque tiraram meu Senhor de mim. Mas Madame Naden trouxe meu Senhor de volta. Eu tenho todo motivo para ser grata a ela e nenhuma para estar brava.

— Eu realmente não entendo a lógica por trás disso aí…

— Pessoas que tomam sua comida são más. — Aisha explicou. — Pessoas que te dão comida são boas.

— É tão simples?! E, espera, eu sou comida agora?!

Bom, considerando quão devota Aisha era com a comida, eu não me sentia mal por saber que ela me amava tanto quanto. Mas, me preocupava que minha segunda esposa primária estava se tornando cada vez mais como uma filhote de cachorro.

— Então… você não quer monopolizar toda comida? — Liscia perguntou a Aisha.

Que tipo de pergunta era aquela?!

Aisha encarou ela inexpressiva e inclinou sua cabeça para o lado, confusa. — Hm? Melhor do que monopolizar tudo, a comida não teria um gosto melhor se nós comêssemos todos juntos em família?

Liscia riu. — Ahahah! Estou feliz que você é desse tipo de pessoa, Aisha!

— ???

Liscia sorriu conforme um monte de interrogações flutuavam acima da cabeça de Aisha.

Me sinto mal por dizer isso quando havia um clima tão harmonioso rolando entre elas, mas era um pouco assustador ser tratado como comida de todo mundo.

… bom, era melhor do que elas quererem pular na garganta uma da outra, pelo menos.

Enquanto pensava nisso, Tomoe se introduziu para Naden. — Eu sou a irmãzinha adotada do Irmãozão e da Irmãzona. É um prazer te conhecer, Naden.

— É um prazer te conhecer, também. Você parece uma garota fofa e inteligente, assim como Liscia me contou.

— Hehe! Eu sou mesmo?

— Sim. É uma outra vantagem, ganhar uma irmãzinha fofa como você!

— Eeek! Faz cócegas!

Naden abraçou Tomoe. Naden era pequena, mas ainda muito maior do que uma garota de onze anos como a Tomoe, que só chegava no peito dela.

Agora, terminadas as introduções, eu expliquei resumidamente os acontecimentos para todos que ficaram segurando as pontas aqui. Eu lhes contei sobre o motivo da Madame Tiamat ter me chamado e a tempestade que ela estava preocupada. Isso e sobre como Naden era um ser um especial chamado de ryuu.

— Esse é o meu senhor, sempre encontrando indivíduos talentosos onde quer que ele vá! — Aisha declarou.

Ela escolheu algo estranho para ficar impressionada. O que eu sou? Um porco que encontra trufas…?

De qualquer forma, quando terminaram de ouvir a história, Carla foi a primeira a levantar a mão.

— Eu entendo que Liscia é capaz de vir conosco agora, mas o limite de pessoas que você poderia levar para Cordilheira do Dragão Estrela era de cinco, não? Vamos ficar com uma pessoa a mais?

— Sim… sobre isso, estava pensando em deixar Tomoe aqui na vila.

— Que…? — Tomoe ficou embasbacada quando soube que seria deixada para trás.

Me senti culpado ao ver sua feição, como de uma criança cuja viagem ao campo foi cancelada por causa da chuva, mas a segurança dela vinha em primeiro lugar.

— Agora que nós temos o elemento desconhecido da “tempestade” na Cordilheira do Dragão Estrela, não posso mais trazer Tomoe conosco — Expliquei. — Por mais patético que seja, estou numa posição onde eu preciso da proteção dos outros. Pode surgir uma situação onde eles não consigam proteger a nós dois. Nada pode acontecer comigo, mas se alguma coisa acontecesse com a Tomoe, eu não conseguiria me perdoar.

— … eu entendo. — Tomoe disse, sendo a garota razoável que ela era, mas o jeito que sua cauda e orelhas caíram indicavam claramente seu desapontamento. — Eu vou esperar vocês voltarem.

Afaguei Tomoe na cabeça. — Quando esse assunto com Cordilheira do Dragão Estrela terminar, pretendo ficar viajando até o número de propostas de casamento que eu recebo no castelo diminuir. Quero tentar visitar outros países também e eu com certeza te trarei junto comigo, então gostaria que você fosse paciente por agora. É uma promessa.

— Tá bom… Irmãozão.

Quando fiz uma promessa de dedinho com ela, as orelhas e cauda da Tomoe se levantaram um pouco.

Todos ficaram aliviados ao ver a Tomoe mais alegre, então Liscia pode perguntar: — Eu entendo o que você está dizendo, mas nós vamos deixar a Tomoe sozinha na vila assim? Isso me deixa um pouco preocupada.

— Está tudo bem — respondi. — Apesar deles não terem se mostrado, os membros da Gatos Negros foram enviados para essa vila. Então, ela não vai ficar sozinha.

— Sério?

— Sim… Inugami.

A porta do quarto se abriu e um homem com uma máscara de cachorro preto entrou. Era Inugami, um membro da unidade de operações clandestinas, a Gatos Negros, e o braço direito do líder Kagetora.

Inugami parou na minha frente, então se curvou pondo um joelho no chão. — Eu vim a seu comando.

— De fato — disse. — Enquanto estivermos na Cordilheira do Dragão Estrela, eu quero que a Gatos Negros cuidem da Tomoe.

— Seja feita sua vontade.

— Também, Inugami, quanto a você pessoalmente, em vez de vigiá-la das sombras, eu quero que você fique ao lado da Tomoe para que ela possa conversar com alguém. Você tem permissão para tirar a máscara enquanto estiver nesta vila.

— … entendido.

Com isso, Inugami tirou a máscara que estava usando para revelar o rosto de um homem fera com cara de lobo. Quando ele viu aquela face, Hal se levantou da cadeira.

— Vo… você! Você é o Beo –

— Tome cuidado com sua língua, Oficial Halbert. — Ele disse com aspereza. — Eu sou apenas Inugami.

Preste atenção no que fala.

— … — Hal olhou para mim.

Não, ele podia olhar para mim o quanto quisesse, mas eu não lhe daria uma explicação. Os únicos que conheciam o Beowulf eram Liscia e Hal, que já participaram do Exército antes.

Olhando para Inugami, Tomoe inclinou sua cabeça para o lado. — Você é um lobo místico também, Sr. Inugami?

— Não, meu povo se chama de raça do lobo cinzento. Porque nossos rostos não são humanos, no final das contas.

— Mas, nós dois somos pessoas-lobo, certo? Vamos ser amigos, por favor?

— Você é gentil demais, Irmãzinha. — Inugami curvou sua cabeça para Tomoe.

Eles eram um lobo cinzento e uma loba mística, duas raças com aparências similares e com uma diferença de vinte anos de idade, então qualquer um que olhasse para eles pensariam que eles eram um par de pai e filha. Apesar disso, eles estavam em uma posição estranha em que o pai estava se curvando para sua filha. Bom, parecia que eles estavam se dando bem, então provavelmente tudo ficaria bem.

Com isso resolvido, me virei para os outros — Naden nos levará de volta para Cordilheira do Dragão Estrela. Se partirmos agora,  chegaremos no meio da noite, então sairemos de manhã bem cedo. Se planejem de acordo.

— Então, ficaremos nessa vila nesta noite? — Kaede perguntou e eu assenti.

— Isso deve significar um sim. Então, vamos ver como dividiremos os quartos…

— Que tal um quarto para dois e dois quartos para quatro? — Liscia disse antes que eu pudesse falar algo. — Halbert, Kaede, Carla, e Inugami ficarão com um. Naden, Tomoe, e eu ficamos com o outro. Souma e Aisha, vocês ficam com o quarto de duas pessoas.

— Nós podemos?! — Ao saber que ela dividiria o quarto comigo, um sorriso radiante brotou no rosto de Aisha.

Não tinha como discutir com um rosto daquele, então eu sussurrei para Liscia. — Éee… tem certeza disso?

— Você quase matou ela de preocupação, então o mínimo que você pode fazer é ser legal com ela hoje.

— … tá bom.

Não sabia o que dizer. Liscia estava se tornando uma mulher cada vez melhor para se tornar a primeira rainha primária.

Nem era só ela também. Juna, Roroa, e até a Aisha, cada uma delas cresceu desde o dia em que eu as conheci e todas estavam ficando mais atraentes também. Estava certo de que seria a mesma coisa com a Naden.

Eu precisava crescer também, para me certificar de que elas não me abandonariam.

Naquela noite, eu e Aisha dormimos no mesmo quarto.

Você quase matou ela de preocupação, então o mínimo que você pode fazer é ser legal com ela hoje. — Me lembrei do que Liscia disse mais cedo.

… ela está certa. Preocupei ela demais dessa vez, então, hoje eu vou ser muito doce com a Aisha. Farei tudo que puder para ela, o que ela quiser.

Eu estava preparado para tudo, mas…

Aisha me fez um pedido surpreendente.

— Você só quer isso? Tem certeza? — perguntei.

— Sim! É o que eu mais quero, senhor.

Então, agora eu estava sentado na cama, enquanto Aisha estava deitada de lado com sua cabeça no meu colo. Aisha só pediu para deitar no meu colo e afagar sua cabeça gentilmente. Só de passar levemente minha mão na cabeça dela e afagar seu cabelo, que estava solto na hora, foi o suficiente para fazer Aisha derreter de alegria. A expressão em seu rosto era fofa.

Com um olhar como se estivesse em transe, Aisha sorriu satisfeita para mim. — Quando você deitou no meu colo na viagem  para cá, eu pensei: “nossa, eu gostaria que Vossa Majestade fizesse isso comigo também”. Estou muito satisfeita agora.

— … você está me perdoando meio fácil demais, não? — Não consegui deixar de sorrir ironicamente, me perguntando se algo tão simples era bom o suficiente. — Sabe, eu estava pronto para fazer qualquer coisa por você. Liscia me disse para ser doce com você hoje, então, se você quiser, nós poderíamos fazer algo mais… quente, Aisha.

Caceta, que vergonha alheia falar uma coisa dessas!

Mas considerando o fato que foi a própria Liscia que colocou a gente no mesmo quarto… provavelmente, era essa a intenção dela.

Se a Aisha engravidasse antes da Liscia isso resultaria em uma crise na sucessão do trono, mas como ela era de uma raça bem longeva, não deveria ser tão fácil isso acontecer. Mesmo que nós chegássemos aos finalmentes, era praticamente impossível dela engravidar antes da Liscia.

— Provavelmente, foi por isso que Liscia nos colocou no mesmo quarto. — Eu disse com uma leve vergonha.

Aisha riu. — Hehe. É tão a cara dela. Ela não só pensa em vocês dois, como ela também pensa em mim, Madame Juna, Madame Roroa e… era Madame Naden, o nome da novata? Talvez seja estranho que eu diga isso, mas achei ela uma mulher adorável.

— … com certeza ela é.

— É por isso que eu quero ser tão boa com ela também. Bom, claro, eu gostaria que você fizesse amor comigo, mas se eu me entregar ao desejo agora, só estaria me aproveitando da gentileza de Madame Liscia. Não quero fazer isso. — Aisha bufou. — É por isso que eu vou esperar até que você e Madame Liscia tenham um filho. Não importa a competição, independente do meu oponente, e mesmo que seja uma batalha no amor, eu quero uma luta justa.

Luta justa no amor, hein. Era tão a cara da Aisha falar algo do tipo.

— Eu acho que você é bem adorável também. — Eu disse.

— Hehe… assim você me faz corar.

Então, Aisha se sentou e se virou para mim, seus olhos cheios de anseio. — Mas, senhor, ainda estou pensando sobre quanto gostaria que você fizesse amor comigo, sabe? Quando você sumiu do nada, fiquei tão só.

— Cer… certo.

— Então, por favor, se apresse e faça um bebê. O mais rápido que puder.

— … darei meu melhor.

Aisha se aproximou, pressionando seus lábios contra os meus.

Parando para pensar… este era meu primeiro beijo com ela.

Enquanto meus olhos ainda estavam arregalados com a surpresa, Aisha sorriu para mim e disse, — Me permita isto, ao menos. E… quando você fizer aquele bebê, não se esqueça de fazer um comigo também, sim? Meu querido.

Nem preciso dizer que um gesto fofo como esse me deixou tão vermelho quanto um tomate maduro.

 

 

 

No dia seguinte…

— Agora, Vossa Majestade! Vamos partir para Cordilheira do Dragão Estrela!

O rosto de Aisha estava radiante enquanto ela falava, tão cheia de energia que Liscia e Naden me deram aquele olhar de quem já sabia de tudo.

Ao lembrar da nossa conversa na noite passada, só consegui me sentir embaraçado.

 


 

Tradução: Worst

Revisão: CastroJr

 

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