Dark?

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 06 – Cap. 03 – A Distância Decrescente Entre os Dois

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— Frio… Alto… Assustador…

Nesse momento eu estava voando pelos ares, sendo carregado pela sacerdotisa dragão.

Estava razoavelmente quente por causa de suas mãos me envolvendo, mas meu rosto estava diretamente exposto ao vento, que estava frio.

Além disso, essa altura era assustadora. Isso não tinha nada a ver com acrofobia; Tenho quase certeza de que qualquer pessoa ficaria assustada se tivesse que pular de paraquedas sem nunca ter feito antes. Era assim que estava me sentindo.

— Me desculpe pela inconveniência — disse a sacerdotisa dragão. — No entanto, um dragão somente deixa o seu companheiro montar em suas costas. Me perdoe por ter que carregar assim.

Ela realmente parecia sentir muito, mas acho que esse não era o problema aqui.

— Não, a questão não é eu montar nas suas costas…

Sinceramente, eu só não estava mais assustado porque apenas minha cabeça estava exposta. Tenho certeza de que desmaiaria se estivesse montado em suas costas, sentindo a velocidade e a pressão do vento em meu corpo inteiro.

Os membros da nossa Força Aérea também voam nessa altura… Percebi.

A sacerdotisa perguntou:

— Lugares altos lhe assustam, Sir Souma?

— Hã? Ah, sim. Um pouco…

— Sendo assim, irei mais rápido para que possamos chegar ao nosso destino mais cedo. — Logo após isso, ela passou a voar mais rápido.

— Isso não significa que quero ir mais rápidooooooooooooooo!

Eu gritei o mais alto possível naquele dia.

 

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— Eek! — gritou Naden.

Ela estava voltando à sua cabana após deixar o Castelo de Cristal, até que foi atingida pela maior descarga que já havia sentido.

Não era uma mera eletricidade estática; era como se tivesse sentado em cima de seu pé por muito tempo e o apertado forte após ficar dormente, ou como se alguém tivesse apertado sua cintura. Era aquele tipo de sentimento estimulante ou coceguento.

Naden massageou suas bochechas e disse:

— Pensei que pudesse ser por causa das minhas bochechas, mas será que…

E, então, ela foi interrompida por outra coisa.

— Ei, verme — disse uma voz assertiva, com um tom hostil.

Ao se virar para reagir, viu três garotas. Uma delas era uma garota bela e nova, que possuía um olhar provocante e cabelos cacheados e que parecia a personificação da arrogância, enquanto as outras duas eram suas lacaias de cabelos azul e verde.

A garota com os cachos vermelhos se chamava Ruby; a lacaia com o cabelo curto e azul, Sapphire; e a outra com o cabelo longo e verde era a Emerada.

Naden estava andando em uma pequena estrada na floresta e as três entraram em sua frente para bloquear o caminho.

Naden caminhou até as três com um olhar extremo de desprezo em seu rosto.

— Olha só, as três patetas.

— Quem você está chamando de patetas?! — exclamou Ruby.

— Bom, então eu deveria chamá-las de cobras? — gracejou Naden.

— Huh? Por quê?

— Porque vocês são venenosas. Sempre voltam a me incomodar sem motivo algum.

Como era possível ver nessa conversa, Naden odiava essas três. Esse país não era receptivo, tanto geograficamente quanto diplomaticamente, então muitos dragões tinham personalidades arrogantes. Por causa disso, muitos deles a chamavam de “dragão sem asas” ou de “verme”.

Os dragões tinham orgulho de serem criaturas que eram consideradas bestas-deuses, então muitos deles não falavam o quanto desprezavam Naden em sua frente, mas continuavam sendo maldosos em suas costas.

Essas três eram as únicas que mexiam diretamente com ela.

Ruby, a ruiva, disse para zombar:

— Hunf! Ouvi dizer que foi convocada pela Senhorita Tiamat, então vim ver se você finalmente tinha sido expulsa. E aí? Ela estava brava

— É uma pena para você — devolveu Naden —, mas ela não estava brava com nada.

— Hunf, então por que você foi convocada?

— Acho que isso não te interessa. Agora, saiam do meu caminho.

Naden tentou passar pelas três, mas Ruby a impediu imediatamente.

Ela tentou voltar pelo caminho que havia vindo, mas Sapphire e Emerada fecharam o caminho.

— Será que dá para vocês pararem?!

Quando Naden as encarou, Ruby deu um sorriso desagradável.

— Ah, verdade. Logo mais chega o dia da Cerimônia de Contrato, né?

Naden engoliu a seco. As três cercaram enquanto Ruby examinava seu rosto.

— É tão romântico — disse Ruby. — Jovens dragões e cavaleiros se conhecem, os nobres cavaleiros pedem as mãos de seus dragões e eles, por sua vez, aceitam e se tornam seus companheiros pelo resto da vida. É o momento mais importante da vida de todo dragão; dizem que é o momento em que nós mais reluzimos.

Naden ficou em silêncio.

— Eu me pergunto se haverá algum cavaleiro que irá te escolher neste dia tão importante. — Ruby levantou os cantos de seus lábios, o que fez seus caninos parecidos com presas se revelarem. Era um sorriso desagradável. — Dragões preferem cavaleiros fortes; eles produzem descendentes prósperos, o que é um motivo de orgulho para os dragões. Eles, por sua vez, preferem dragões imponentes e majestosos. Para os Cavaleiros de Nothung, os dragões são companheiros de casamento e de campo de batalha. Para que possam se destacar na batalha e subir de posto, além de sobreviver, eles vão escolher dragões fortes, majestosos e ferozes.

As triunfantes palavras de zombaria da Ruby agridem as orelhas de Naden.

 

 

 

— E você? Será que algum cavaleiro irá te escolher? Justo aquela que não tem asas, não sopra fogo e não voa? Mesmo que te escolham, o que ele irá fazer? Vai cavalgar em você? Vai ver o resto dos dragões voando pelos céus enquanto ele luta com um que é um pouco melhor do que um cavalo? Hahaha, que idiota. A única certeza é que ele não vai ver o mundo lá de cima!

Bzzt!

Quando esse som saiu de Naden, Ruby pulou para trás.

As pontas de seu cabelo começaram a se levantar enquanto seu corpo se cobria com uma descarga elétrica azul-pálida. Seu cabelo volumoso passou a se espalhar e balançar no ar como tentáculos.

Naden se virou para Ruby e apontou o dedo para ela enquanto dizia:

— Se você não calar essa sua boca imunda, eu vou te paralisar.

— Hunf! Tente. Duvido conseguir.

Em seguida, um raio azul foi atirado da ponta do dedo de Naden. No entanto, no momento em que deveria atingir seu alvo, Ruby não estava mais lá e o tronco da árvore que estava atrás dela queimou em seu lugar.

Naden olhou para o céu e gritou:

— Tsc! Volte aqui, sua covarde nojenta!

Haviam dragões vermelho, verde e azul no ar; eram Ruby e suas lacaias. As três batiam suas asas, parecidas com as de uma serpe1Wyvern., enquanto menosprezavam Naden.

— O que foi? Você não ia nos paralisar? — Ruby parecia ter ficado um pouco mais maldosa em sua forma de dragão. — Ah, verdade. Mesmo conseguindo controlar ondas elétricas, não consegue nos acertar sem voar

— Cale a boca! —gritou Naden.

— Quem é que te escolheria?

— Cale a boca, cale a boca, cale a boca!

— É melhor você não fugir da cerimônia. Por mais que eu tenha certeza de que ninguém irá te escolher, vai ser bom ver você sendo colocada no seu lugar.

— Ngh — chorou Naden.

Ela saiu correndo, virando de costas para Ruby e as outras duas.

Droga… Droga…

Naden não queria que vissem suas lágrimas de tristeza e frustração. Seu choro somente faria com que se sentissem mais superiores. Sem chance.

Por mais que eu tenha certeza de que ninguém irá te escolher.

Conforme as palavras da Ruby ecoavam em suas orelhas, ela imaginava os outros dragões a zombando na Cerimônia de Contrato.

A Pai e a Senhorita Tiamat pediram para que participasse, mas ela não iria ser motivo de chacota de ninguém!

Quem iria… para essa Cerimônia de Contrato estúpida?!

Naden sumiu na floresta.

 

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Após me ajustar para voar a altas velocidades, falei para a sacerdotisa dragão enquanto nos aproximávamos cada vez mais da Cordilheira do Dragão Estrela:

— Gostaria de fazer uma pergunta.

—E qual seria? — perguntou ela.

— Esse lugar onde os dragões vivem, Dracul, fica no topo daquelas montanhas, certo?

— Sim, é isso mesmo.

— Por enquanto, ainda estou bem, mas, em relação ao ar, eu vou continuar bem se você me levar até lá em cima? Prefiro não sofrer de enjoo de altura.

Essa era a Cordilheira do Dragão Estrela, um conjunto de montanhas do tamanho do Monte Fuji. Por causa da magia da Mãe Dragão, o planalto de Dracul era mantido em um estado de primavera eterna e o ar não era diferente daquele no nível do chão, mas e o caminho até lá?

Passar por uma experiência equivalente a ser jogado subitamente no topo do Monte Fuji seria perigoso para a minha saúde.

A sacerdotisa dragão balançou sua cabeça.

— Não precisa se preocupar. Quando entrarmos na Cordilheira do Dragão Estrela, o poder mágico da Senhorita Tiamat irá te teletransportar diretamente do resto do caminho para o Castelo de Cristal, em Dracul.

E esta foi a resposta. Basicamente, eu passaria por um teletransporte, assim como já havia passado antes.

— Se é este o caso, por que ela simplesmente não me teletransportou direto para o castelo ou algo do tipo?

— A Senhorita Tiamat somente consegue usar seus poderes na Cordilheira do Dragão Estrela. Em outras terras, seu poder é muito limitado. Por isso, ela só vai conseguir te teletransportar por curtas distâncias se estiver tão longe quanto aquela vila.

Alguns quilômetros poderiam ser considerados “curta distância”?

Bom, pelo menos parecia que ela não conseguia enviar dragões para o outro lado do continente, o que era um alívio. Eu não tinha nenhuma vontade de me opor a ela, mas a ideia de que ela tinha o poder de decidir minha vida ou morte era um pouco assustadora. Apesar de que, bem, eu tinha noção de que a Mãe Dragão definitivamente estava em um outro nível, em comparação a outras criaturas.

Enquanto eu pensava nisso, a sacerdotisa dragão acelerava mais.

— Daqui a pouco nós iremos entrar na Cordilheira do Dragão Estrela. Por favor, se prepare para o teletransporte.

— Me preparar? Como eu deveria fazer isso?

— Não fique surpreso caso o cenário ao seu redor mude de repente.

— Ah, então era isso que você queria dizer…

A sacerdotisa dragão diminuiu sua velocidade e, quando estávamos quase parando…

 

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… O cenário mudou. Nós estávamos no ar há alguns instantes, mas agora o chão estava logo abaixo dos meus pés.

A sacerdotisa dragão desceu suas mãos e, então, eu finalmente pude colocar meus pés em terra firme.

Olhei ao redor enquanto me perguntava onde eu estava. Eu conseguia ver bem, já que o local estava iluminado, porém ele era inacreditavelmente vasto. Havia uma parede branca logo à minha frente, mas, quando olhei para trás, vi que a parede do outro lado estava muito distante. Este lugar talvez fosse maior do que um estádio de futebol.

Quando olhei para o teto, ainda pensando nisso, engoli a seco de novo. Isso não é uma parede?!

O que encontrei foi uma enorme cabeça de dragão. Neste momento, eu estava na frente do peito de um dragão gigante, o qual estava sentado da mesma forma que a esfinge. Aquela cabeça… Este era o mesmo dragão que havia visto em meu sonho.

Isso significava que era a Mãe Dragão? Ela parecia grande no meu sonho, mas, por ser um sonho, seu tamanho exato estava pouco visível. Ela parecia maior do que eu havia assumido, vendo-a de perto.

Escutei uma voz vindo de cima:

— Obrigada. Agora, nos deixe ter um tempo a sós.

A dragoa que havia me trazido até aqui respondeu:

— Sim, senhora.

Ela desapareceu logo após se curvar. A Mãe Dragão provavelmente havia a teletransportado.

Enquanto eu ainda estava surpreso, ela me chamou, telepaticamente, com uma voz gentil.

— Pois bem, acredito que seria muita soberba da minha parte se eu seguisse com essa forma diante do mestre de uma nação.

Dito isso, seu corpo começou a brilhar e diminuir. Quando a luz deixou de brilhar, contemplei uma mulher com, praticamente, a mesma altura que eu. Seu rosto estava coberto com um véu, então não fui capaz de dizer qual era sua aparência ou idade, mas ela estava utilizando uma roupa parecida com uma túnica, a qual era prateada e brilhante, e tinha uma figura bem balanceada. Assim como ocorreu com os braços de Vênus de Milo2Escultura da Grécia Antiga que é conhecida pela falta de seus braços. Acreditam que já foi encontrada sem eles., não ser capaz de ver seu rosto fez com que eu imaginasse que fosse extremamente belo.

 

 

 

— Essa é… sua forma humana? — Eu estava impressionado, porém consegui dizer essas palavras de alguma forma.

Ela riu.

— Você quer saber se esta é a minha “forma humana”? Parece ser um nome adequado para isso. — A mulher levantou a borda de sua túnica e se curvou. — É um prazer conhecê-lo pessoalmente. Saudações, chefe de Elfrienden e Amidônia, Rei Souma. Eu sou a Tiamat, aquela que é responsável pela Cordilheira do Dragão Estrela.

— Estou honrado em conhecê-la, Madame Mãe Dragão. — Me curvei de volta para ela. — Eu sou o Rei de Friedônia, Souma.

A Mãe Dragão riu.

— Esse nome é algo que as pessoas passaram a me chamar com o tempo. Por favor, me chame de Tiamat.

— Como desejar, Madame Tiamat. É… Peço perdão pela minha aparência.

Era tarde demais, mas eu havia percebido que ainda estava utilizando as roupas de viajante parecidas com as do Kitakaze Kozou3Kitakaze Kozou no Kantarou é um clipe musical animado em que Tarou, o personagem principal, utiliza roupas de viajante típicas. e me senti mal de estar assim na presença da figura divina a minha frente. Afinal, eu não tive tempo para trocar de roupa. No entanto, quando falei disso, Madame Tiamat balançou sua cabeça.

— Não, você está assim porque foi chamado de repente. Se alguém deve se desculpar, sou eu; porém, antes disso… vamos nos sentar.

Uma mesa de vidro e duas cadeiras que combinavam com ela apareceram entre nós de repente. Teletransporte certamente era uma habilidade útil. Seria possível achar os documentos que estaria procurando enquanto trabalhava instantaneamente, então era algo que eu realmente queria.

Eu estava pensando completamente como um escravo do trabalho.

Ao sentarmos, Madame Tiamat começou fazendo um grande reverência.

— Primeiro gostaria de me desculpar pela maneira tão forçada que eu te trouxe.

— Eu aceito suas desculpas — falei —, porém posso perguntar o motivo para isso? Já estava a caminho de cá junto com meus companheiros quando fui teletransportado.

— Eu irei explicar, é claro; porém, antes disso…

De repente, um conjunto de chá apareceu diante dos meus olhos. A xícara posicionada à minha frente já estava servida com um chá preto morno.

— Que tal um pouco de chá? Gostaria de açúcar ou leite?

— Não, puro já está bom.

Já estava na hora de eu parar de ficar surpreso com cada coisinha. Afinal, ela era adorada como uma deusa.

Tomei um gole para acalmar meus nervos. Honestamente, eu gostava mais de café, mas… o chá tinha uma boa fragrância. Tiamat tomou seu chá e respirou fundo antes de falar:

— Agora, em relação ao motivo de ter forçado a sua vinda para cá, é uma situação urgente que ameaça a Cordilheira do Dragão Estrela. Para que ela seja resolvida, preciso da sua… Não, da ajuda de todos vocês. É por isso que te convoquei para cá, mesmo sabendo que poderia ser ofensivo.

Ela tinha que resolver algo? Além disso, o que ela quis dizer com a ajuda de todos nós? Até onde eu sabia, era o único aqui.

— E, sendo mais específica, qual é essa situação urgente que você citou? — perguntei.

— Uma tempestade está se aproximando da Cordilheira — disse Madame Tiamat com um tom misterioso em sua voz.

Uma tempestade? Dracul não era um planalto com a altitude equivalente à do Monte Fuji? O som dos trovões não viriam lá de baixo, estando aqui em cima? Na verdade, pensando bem, lembrei que também era possível ter tempestades no pico do Monte Fuji. Dizem que as nuvens cumulonimbus podem ir até a estratosfera, afinal. Na verdade, espera um pouco…

— Nem mesmo o nosso país consegue lidar com um fenômeno natural — falei.

— Não estou me referindo a um “fenômeno natural”, é claro.

— Então isso foi algum tipo de metáfora…?

— Isso mesmo, utilizei “tempestade” para representar uma ameaça iminente. Para lidarmos com ela, precisamos de sua ajuda, Sir Souma, e de um outro indivíduo. A fim de uní-los, era necessário que você viesse à Cordilheira do Dragão Estrela sozinho.

A Madame Tiamat estava falando com uma voz tranquila, quase como se estivesse redigindo uma poesia.

— Não há muito tempo. Se tivéssemos que esperar você vir junto de seus acompanhantes, haveria o risco de a situação sair do controle. No entanto, mesmo que tivéssemos explicado a situação, os vassalos de um rei jamais deixariam ele ir para um outro país sozinho e, por causa disso, recorremos a métodos mais brutos. Peço desculpas por isso novamente. Eu sinto muito pelo que fizemos você passar.

Após isso, a Madame Tiamat se curvou honestamente.

A Mãe Dragão, que era adorada como uma deusa, estava se curvando para mim. O que a Liscia e o restante de pessoal do reino diriam se soubessem disso?

Deixando isso de lado, ela disse que havia me arrancado de onde estava porque não havia “muito tempo”, mas estava sendo muito vaga sobre o motivo disso.

— Você já se desculpou o suficiente — falei. — Posso pedir para que me dê uma explicação mais concreta sobre essa “tempestade” ou o que quer que seja?

— Ela definitivamente vai chegar. Eu não posso tocar diretamente na tempestade, porém meus filhos não são capazes de resolvê-la sozinhos. Exceto… um deles. A tempestade será uma calamidade terrível. Precisamos de você, que será a chave para lidar com isso, e dessa garota, que te auxiliará. É um milagre que a calamidade e os meios para resolvê-la tenham se encontrado nesse período de tempo, mas, olhando para todo o eterno fluxo do tempo, talvez tenha sido algo inevitável.

Eu não sabia o que falar já que não havia entendido nada.

Cocei a minha nuca.

— Essa maneira indireta de falar realmente parece ser apropriada para uma deusa, mas…

— Peço desculpas novamente se achar desagradável, porém essa é a maior “orientação” que posso oferecer..

— Orientação… — murmurei.

— Eu sou um ser que existe para criar e velar por quem vive no continente de Landia. Posso oferecer conselhos que ajudem as coisas a seguirem um bom caminho, mas não me foi dada a autoridade para interferir diretamente em assuntos individuais.

— Se a autoridade tem que ser dada, quer dizer que existe alguém em um patamar mais alto que o seu?! — exclamei.

Os praticantes da adoração à Mãe Dragão acreditavam que ela era a maior deusa de todos, mas, se existisse um ser que estivesse na posição de dá-la autoridade, não seria ele o maior dos deuses? Deixando de lado a possibilidade de não acreditarem, seria um caos enorme se os fiéis ficassem sabendo disso…

Enquanto eu a encarava boquiaberto, Madame Tiamat balançou sua cabeça silenciosamente.

— Já existiu, porém não mais.

— S-Sério?

Ela queria dizer algo como Deus morreu? Eu não conseguia tomar uma decisão com as informações disponibilizadas para mim, porém a Madame Tiamat somente me deu um sorriso um pouco triste.

— Sim, porém as limitações impostas a mim seguem existindo. Eu nasci dessa forma, então devo continuar as obedecendo. Mesmo sabendo que quem vai ser exposto à tempestade são os meus próprios filhos, não posso fazer nada a respeito.

— Então você me convidou por causa dessa tempestade? — perguntei.

— Exatamente.

— Acho que sou um dos mais fracos deste mundo, até mesmo entre os humanos.

— Isso não está relacionado a sua força — disse ela. — A sua existência, por si só, é a chave.

— Isso tem alguma relação com o fato de eu ter sido invocado como um herói?

— Sim, porém não posso dar mais detalhes sobre isso.

— Eu não sei… — falei enquanto coçava minha cabeça.

De acordo com as informações disponíveis, essa não parecia ser uma situação em que eu poderia tomar uma decisão tão fácil. No entanto, vendo o quanto a Madame Tiamat estava sendo honesta, era possível ter certeza de que a situação era, no mínimo, urgente.

Argh. Se o Hakuya estivesse aqui com sua habilidade retórica, talvez conseguisse extrair o máximo de informações possível com os limites da Senhorita Tiamat. Além disso, se Liscia, Aisha, Juna ou Roroa estivessem comigo, eu poderia consultá-las sobre o que fazer.

Agora que toquei nesse assunto…

— Madame Tiamat — falei. — Gostaria que me respondesse algo.

— O que seria? Espero que não seja algo que a minha resposta seja restrita.

— É uma pergunta de sim ou não.

Terminei meu chá e me acalmei. Em seguida, eu me levantei, olhei diretamente para os olhos da Madame Tiamat e a perguntei:

— Essa tempestade, ou o que quer que seja, é algo que machucaria a mim ou aqueles que irão virar minha família?

Já que eu ainda não podia saber de todos os detalhes, queria, ao menos, ter certeza daquilo que era o mais importante para mim.

Em seguida, a Madame Tiamat respondeu:

— Sim.

Aquilo praticamente definiu a minha resposta.

 

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Naden estava correndo pela floresta.

Ela correu pelas trilhas enquanto tentava não pensar em nada, porque sentia que seria esmagada por sua tristeza se refletisse sobre sua situação, mesmo que só por um momento.

Enquanto corria, o corpo de Naden se transformou no de um quadrúpede: conforme seu corpo endurecia e crescia, chifres parecidos com os de um veado, uma longa cauda e dois bigodes parecidos com chicotes surgiram. Ela havia entrado na sua forma de dragão.

Ela contorcia seu corpo gigantesco e deslizava pelas árvores como uma cobra. Obviamente, não havia nenhuma asa em suas costas.

Ter asas te torna tão melhor assim?! Ela já havia se perguntado a mesma coisa várias vezes em sua vida. Não ter asas é tão errado assim? Caramba… eu já não sei mais! O que quer que eu faça?! Não há nada que eu possa fazer!

Em algum ponto, lágrimas começaram a cair de seus olhos vermelhos e não pararam mais.

Chega! Eu não me importo mais!

Ela continuou correndo e, eventualmente, saiu da mata.

Ela chegou em um lugar rochoso. Era um enorme penhasco, que ficava em uma das distantes beiras da área em que Tiamat conseguia manter sua magia de primavera eterna. Esse era o canto de Dracul. O sol poente estava pintando o mar de nuvens espalhadas abaixo dela com seu vermelho.

Esse cenário realmente era digno de ser chamado de deslumbrante, mas Naden não estava bem o suficiente para perceber isso agora.

Ela se inclinou no penhasco, esticou seu pescoço e gritou o mais alto possível com sua telepatia:

— Seu sol estúpidoooooooooooo!

Em seguida, adicionou em voz alta:

— Rooooooooooooooar!

Ooooooooooooooooar…

Ooooooooar…

Ooooar…

Enquanto gritava, seu rugido ecoava conforme sumia para algum lugar além das nuvens.

Naden ficou parada, olhando para o sol.

— U-Uma ryuu adolescente. — Uma voz sem tensão alguma surgiu atrás de Naden.

— Quê?!

Quando Naden se surpreendeu e olhou para trás, viu um homem novo com um traje incomum, parado e olhando-a como se tivesse visto algo inacreditável. O jovem, que estava usando um manto de viajante por cima de sua camisa e um chapéu de palha cônico, coçou sua bochecha enquanto a olhava, sem saber o que fazer.

— Por causa da Madame Tiamat e da sacerdotisa, eu sei que também é possível conversar nessa forma, mas… simplesmente não sei como reagir quando vejo uma garota-ryuu gritando algo por causa de um problema de adolescente — acrescentou.

Naden arregalou seus olhos. O que um humano está fazendo aqui? Ainda por cima naquele traje estranho… Ele não é um cavaleiro do Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung, é?

Por mais que recebesse informações do Império por seu receptor simples, ela não sabia de quase nada sobre Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças, então não sabia que o traje do jovem vinha de lá.

Enquanto continuava a olhar para Naden, ele abriu sua boca e falou:

— Ainda assim, eu já tinha ouvido que a Cordilheira do Dragão Estrela era uma nação de dragões… mas nunca havia passado pela minha cabeça que também haveria uma ryuu aqui. Sinto como se esse mundo fizesse cada vez menos sentido para mim.

Uma “ryuu”… Aquele jovem estava a chamando disso. Essa era uma outra palavra para definir os dragões. Naden arregalou seus olhos.

— Uma ryuu, né…? — disse friamente, por achar que ele havia falado de forma sarcástica. — Eu não tenho asas, sabia?

Contudo, o jovem inclinou sua cabeça.

— Hã? Isso não é óbvio? Os ryuus não tem asas mesmo.

— Hã? Do que você está falando? Eles deveriam ter asas, não é?

— Hã? Se estiver se referindo aos ryuus com asas, tem os ouryuus, também conhecidos como yinglong; mas eles não são um caso raro?

— Quê? — perguntou Naden.

— Quê?

Parecia ter uma discrepância sobre o que estavam falando.

— Espera um pouco… — disse Naden. — Com “ryuu”, você quer dizer “dragão”, certo?

— Dragão…? Ah, entendi. Então é isso.

O jovem juntou suas mãos, como se algo tivesse feito sentido. Em seguida, pegou um galho e desenhou dois caracteres no chão: 龍 e 竜.

— No mundo de onde vim, havia o dragão oriental, também chamado de ryuu ou “longo”, e o dragão ocidental. Duas criaturas similares, mas diferentes.

— No seu mundo? Similar, mas diferente…?

Enquanto um ponto de interrogação flutuava acima da cabeça de Naden, o jovem desenhou um círculo em volta do 竜.

— No meu mundo, os dragões ocidentais eram representados por esse caractere, que é lido como ‘ryuu’. Eles eram criaturas que pareciam lagartos gigantes e chifrudos, mas com asas.

— Lagartos gigantes com asas… É praticamente isso mesmo. — Naden achou que essa era uma boa maneira de descrever.

Foi bom ouvir os outros dragões, que sempre a chamavam de verme, sendo chamados de lagartos gigantes. Era algo refrescante.

— Hm? E esse outro ryuu? — adicionou Naden enquanto apontava para o 龍.

— São criaturas que dizem ter cabeça de camelo, olhos de coelho, orelhas de vaca, chifres de veado, pescoço de cobra, barriga de serpente marinha, pernas de tigre, garras de águia e cento e sete escamas iguais às de uma carpa cobrindo seu corpo.

Isso era muito mais bizarro do que um lagarto grande. Que tipo de criatura misteriosa era essa?

— Pelo que você disse, elas realmente parecem com quimeras — disse Naden.

— Não, não… Isso se refere a você.

— …

A mim?!

O que ele havia dito fazia sentido. O seu longo corpo, as escamas que o cobriam, as pernas traseiras e dianteiras com garras afiadas e os chifres de veado… Se fosse para descrever o corpo de Naden usando animais, talvez essa fosse a forma mais correta. Ela não sabia que tipo de criatura era um camelo, mas realmente era parecida com um?

— Eu sou uma… ryuu… — disse lentamente.

— No meu país, quando ouvimos a palavra “ryuu”, a primeira coisa que passa em nossa cabeça é um ser que parece muito com você — explicou ele. — Bom, mas isso provavelmente é efeito de algum anime ou mangá famoso.

— Mangá? Anime?

— Não é nada demais, eu só estava falando sozinho. A propósito…

O jovem caiu no chão de repente, enquanto, por algum motivo, segurava sua barriga.

— E-Ei, o que foi?! Sua barriga está doendo?! — exclamou Naden.

— Não, é que… estou com fome… Eu fui arrastado para cá antes do meu café da manhã e, parando para pensar, não comi o dia inteiro.

— Então é só fome?! — gritou Naden, irritada.

Bzzt! Aquela sensação de formigamento surgiu novamente.

Em sua forma de ryuu, ela conseguia saber de onde estava vindo. Suas bochechas formigaram um pouco, mas, na verdade, a reação havia vindo de seus dois bigodes longos e parecidos com chicotes. Eles eram os órgãos sensoriais mais sensíveis de Naden, os quais faziam com que a mais leve brisa que passasse por eles fosse o bastante para que ela soubesse qual seria o clima da próxima semana.

Meus bigodes… estavam reagindo a ele?

Naden voltou para a sua forma humana e ficou na frente do jovem, que estava curvado. Seu rosto estava virado para baixo, então não era possível ver a sua expressão. Ela estendeu sua mão para tocar gentilmente em seu rosto, porém, quando estava próxima a ponto de não saber se já havia o tocado ou não…

— Essa forma que você se transformou é bem fofa — disse ele ao olhar para cima e ver Naden transformada em uma jovem garota.

Seu rosto ficou extremamente vermelho ao ser chamada de fofa.

— Qu-Qu-Qu-Qu-Qu-Qu-Qu-Qu-Qu-Que?! E-Eu?!

— Hã? Você é a única aqui, não é?

— Mas eu sou tão simples e… pequena.

— Sério? Eu acho que tem um bom material para ser trabalhado. Acredito que ficaria bonita nas telas se usasse roupas melhores, sabia? Se também fosse um pouco melhor no canto, eu provavelmente te recrutaria para ser uma lorelei — disse o jovem enquanto dava uma pequena risada.

Embora tivesse alguns termos desconhecidos, como “telas” e “lorelei”, no momento em que percebeu que estava sendo elogiada por sua aparência, seu rosto queimou de vergonha.

Enquanto ela pressionava suas bochechas coradas com suas mãos, o jovem perguntou hesitantemente:

— A propósito…

— O-O que foi?

— Você tem algo para comer? — Um leve barulho de barriga roncando veio da direção do jovem.

— Pff… — Naden começou a gargalhar. — Hahahahahahahahaha! Mas o que foi isso…? Hahahaha

Foi uma gargalhada calorosa. Para onde tinha ido toda aquela tristeza de antes?

— Você é tão estranho — disse ela calorosamente.

Em seguida, Naden voltou para sua forma de ryuu e pegou o jovem pela nuca, como uma gata carregaria seu filhote.

 

Separador Tsun

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Chomp…  Nham…. Nham…

— Que tal comer um pouco mais devagar? — disse a ryuu, exasperada, enquanto me via devorar minha comida.

Eu estava mastigando um pedaço de carne na caverna que ela havia me trazido. No lado de fora, esse covil parecia ser somente uma caverna, mas, lá dentro, tinha uma cama, estantes cheias de livros de romance e um tapete; parecia o quarto de uma garota.

Ela havia me servido um tipo de carne assada e salgada junto com uma fruta. Normalmente, esse pedaço enorme de carne seria assustador, mas eu estava tão faminto que, para mim, estava parecendo um banquete. Eu estava despedaçando-o de forma selvagem, assim como a Aisha fazia quando via comida em sua frente.

— Hmm — falei com apreço. — Não sei que tipo de carne é essa, mas é gostosa!

— Meu Deus, não fale de boca cheia — disse a garota, que estava apoiando suas bochechas em suas mãos do outro lado da mesa. — Você estava com tanta fome assim?

— Sim, estou muito grato por você ter me ajudado. A propósito, que tipo de carne é essa?

— É de um veado grande que cacei nas montanhas.

— Então é carne de veado…? Espera, foi você que caçou?

— É assim que a maior parte dos dragões conseguem a sua comida, sabia? Nós voamos pela Cordilheira do Dragão Estrela para caçar animais e colher frutas para comermos. Assim, nos tornamos dragões fortes.

— Você vive uma vida muito mais selvagem do que o seu quarto sugere…

Enquanto eu comia, ela explicou que os dragões ficavam muito apegados às suas famílias após se casar com um cavaleiro, mas cada um cuidava de si mesmo na Cordilheira do Dragão Estrela. Não havia lojas lá, então eles caçavam e colhiam todos os dias para se alimentarem.

Além disso, eles também não viviam em grandes grupos, então não se incomodavam de ter somente um ou dois amigos. Aparentemente, essa mentalidade foi adotada porque a maioria dos dragões se casava e partia para o Reino dos Cavaleiros Dragão Nothung, então isso foi feito para evitar o arrependimento de sair da cidade natal.

Enquanto ouvia tudo isso, terminei de comer minha carne e minhas frutas e juntei minhas mãos.

— Ufa… Que banquete.

— Não foi bem um banquete — disse a ryuu.

— Isso só é uma coisa que dizemos depois de comer, no meu país. Ah, isso me lembra que, mesmo depois de você me alimentar, eu ainda não sei o seu nome, não é? Acabei me esquecendo disso. — Endireitei minha postura e me curvei para a garota diante de mim. — Obrigado por me ajudar. Eu me chamo… Kazuma Souya.

Hesitei por um momento, mas optei por usar meu nome falso. Seria chato explicar para ela que sou o Rei de Friedônia. Isso era o suficiente por enquanto. Eu não tinha entendido bem a situação por causa da explicação abstrata da Madame Tiamat, então, se possível, não queria gerar problemas para ninguém.

— Vim do Reino de Friedônia após ter sido convidado pela Madame Tiamat — acrescentei.

— Oh, que educado. — Influenciada por minha reverência, a garota também se curvou. — Eu me chamo Naden Delal.

—Hã? Dendera?

— Naden Delal! Não abrevie de um jeito estranho!

— Dendera, a ryuu… Denderaryuu…

De repente, me lembrei de uma canção infantil. Qual era mesmo?

— Denderaryuuba detekurubatten, denderarenken detekonken? — perguntei.

— O que foi esse encantamento estranho?! — exclamou ela.

— Ah, essa é uma música infantil do meu país.

“Denderaryuuba” era uma canção infantil da parte rural de Kyushu. A propósito, ela não mencionava nenhum dragão chamado denderaryuu. “Denderaryuuba” significava “se eu quisesse sair”, no dialeto daquela região. Pelo que me disseram, aquela parte da música significava: “Se eu quisesse sair, sairia, mas eu não posso, então não irei”. Será que era uma música sobre um recluso?

— Bom, de qualquer forma, é um prazer te conhecer, Dendera — falei.

— Na-de-n! Não me chame de Dendera! — Naden ficou bem irritada.

Eu achei que ela era uma garota fofa cuja expressão mudava muito.

Foi assim que fui para a Cordilheira do Dragão Estrela e conheci Dendera… opa, desculpa… como eu conheci Naden Delal.

 


 

Tradução: NotHoneyBadger

Revisão: Marcos S

QC: Jeagles

 

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