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Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 04 – Cap. 08.2 – Histórias Curtas: Bônus

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O Pedido Equivocado de Roroa

— Ah, droga… O que eu faço agora? — murmurou Roroa.

Era um dia estranhamente morno de inverno, com somente quatro dias restantes até o 32º dia do 12º mês, o dia em que teria a noite de ano novo.

Dentro da loja de roupas que finalmente tinha aberto em Parnam um mês antes, chamada A Corça Prateada 2, a antiga Princesa da Amidônia e atual candidata a se tornar a terceira rainha primária, Roroa, tinha um problema. Havia um vestido carmesim-profundo e sem mangas na sua frente.

— Como? Como as coisas acabaram assim? — reclamou.

— Não tem nada de “como” nisso… A culpa foi sua, não foi, Senhorita Roroa? — disse o belo homem de meia-idade, que estava de pé ao lado de Roroa, um pouco irritado.

Ele era o Sebastian, o dono da A Corça Prateada. A loja principal se encontrava em Van, mas devido a Roroa, uma de suas maiores clientes, ter se mudado para Parnam, ele deixou a loja principal para outra pessoa gerenciar para que pudesse trabalhar nesta filial. Esse vestido que estava causando tanta dor de cabeça em Roroa era um que ele havia feito para ela.

— As costureiras fizeram esse vestido com as especificações exatas solicitadas, Senhorita Roroa — salientou.

— Bom, sim, minha piadinha pode ter sido o que causou isso…

— Não só “pode”. Sou capaz de dizer com convicção que isso foi causado por você — disse ele.

— Não, não. Devia ser óbvio que eu só estava brincando, não é? — Após apontar para o vestido, Roroa exclamou: — Quem vestiria um vestido enorme desses?!

Havia um único vestido exposto em frente a Roroa. No entanto, esse vestido tinha incríveis dezoito metros de altura. Roroa estava de pé em frente àquele vestido, o qual ainda monopolizava o chão da loja mesmo estando dobrado, enquanto segurava sua cabeça com suas mãos.

— Vai ser a Margie que vai vestir, sabe?

Margarita Maravilha, ou Margie, como Roroa gostava de chamá-la, havia sido uma general no antigo Principado de Amidônia. Agora ela tinha mudado de profissão e se tornado uma cantora. Esse vestido era um que Roroa tinha encomendado para ela. No entanto, mesmo que Margarita fosse uma mulher alta, só tinha dois metros de altura, então esse vestido claramente era longo demais.

— Sinceramente… Você esperava que um dragão vestisse isso? — perguntou Roroa.

— Como eu disse, isso aconteceu porque ele foi feito seguindo as especificações exatas que você nos pediu. Você esqueceu o que escreveu na coluna sobre a altura da Madame Margarita?

— 1.950 cm…

— Há um 0 a mais. Ela é algum tipo de gigante, por acaso?

— Não deveria ter sido óbvio que coloquei isso como uma piada por ela ser tão alta?! — gritou Roroa.

Roroa e Margarita eram próximas. Havia uma diferença de idade entre elas, além de que uma era filha do soberano enquanto a outra era sua vassala, mas o carinho que ambas tinham pela população devia ter sido o que as uniu. Roroa via Margarita como uma amiga, e Margarita não hesitava em brigar com Roroa quando era necessário. Como parte disso, a brincalhona da Roroa frequentemente fazia piadas sobre a altura da Margarita e sempre recebia um golpe leve na cabeça por isso.

O que tinha acontecido desta vez era que ela tinha escrito 1.950 cm na coluna de altura e tinha mostrado para Margarita para brincar, mas tinha esquecido de corrigir após receber o golpe de sempre em sua cabeça.

— Quero dizer, ninguém achou estranho?! São dezoito metros! — exclamou Roroa.

— Você tem noção de que é a antiga Princesa de Amidônia e que também é a futura rainha da Sua Majestade, Souma? Nenhum artesão conseguiria reclamar, mesmo que achasse estranho.

— Ugh… Não posso mais brincar? — perguntou Roroa, com lágrimas nos olhos.

— Não há necessidade de um governante saber fazer piadas — disse Sebastian, repassando a dura verdade. — De toda forma, se assumirmos que Madame Margarita usará um vestido diferente para participar do duelo musical, o que faremos com esse aqui? Mesmo que deixe aqui, vou ter problemas para vendê-lo, sabia?

— Ah, já chega! — Roroa deu um tapa em suas bochechas para se animar. — Não sou o tipo de pessoa que fica para baixo. Vou mostrar o que a noiva mais inteligente do meu Querido pode fazer quando fica séria! Da mesma forma que utilizei a derrota na guerra ao nosso favor, vou procurar alguma utilidade para esse vestido monstruoso!

Roroa havia se animado e estava pronta para fazer algo, mas Sebastian parecia estar em dúvida.

— Você disse que encontrará um uso para ele, mas exatamente qual? A melhor coisa que consigo pensar é descosturar ele e reutilizar o material…

Roroa pressionou seus dedos contra suas têmporas.

— Hmmm… — Ela grunhiu enquanto pensava. Mas, então, após cinco segundos, aparentemente pensou em algo e bateu palmas. — Já sei! Pensei em uma alternativa, Sebastian! Ao invés de descosturar o vestido e refazer em um tamanho que ela possa usar, só precisamos fazer com que ela consiga usá-lo neste tamanho mesmo.

— Hm? Mas não é impossível que ela consiga vestir um desse tamanho? — perguntou Sebastian.

— Se ela estivesse usando como um vestido, sim. No entanto, como uma saia, há várias maneiras de improvisar.

Roroa levantou o vestido segurando na região da nuca.

— Se fechássemos os buracos dos braços e encurtássemos a seção da nuca, ela poderia vestir como uma saia. Se juntássemos com a parte de cima de um vestido normal, se tornaria um vestido com uma saia estranhamente longa.

— No entanto, ela ainda não iria ter que arrastar nove décimos da saia? — perguntou Sebastian.

Roroa balançou um dedo enquanto dizia não, não para ele com um sorriso corajoso em seu rosto.

— Se fizéssemos ela o vestir em uma ocasião normal, esse seria o caso, mas esse vestido é para uma competição musical; ela vai usá-lo no palco. A intenção é, justamente, chamar a atenção. Não acha que seria impactante se colocássemos a Margie em algum tipo de plataforma e espalhássemos a barra da saia dela pelo palco?

— Entendi… — disse Sebastian. — Você quer fazer com que o vestido se torne parte do cenário.

Era verdade que, se ela fosse utilizar somente para cantar no palco, não precisaria se mover, além de que um vestido com um tom intenso de carmesim chamaria a atenção de quem estivesse assistindo pela Transmissão de Voz da Joia. Sebastian havia se impressionado bastante por ela ter tido tal ideia.

— É… mas tenho certeza de que a Madame Margarita irá odiar isso… — murmurou ele.

Eles estavam falando da mesma Margarita que já tinha servido como general do Principado da Amidônia e que valorizava a simplicidade e a força. Esse tipo de apresentação chamativa não combinava com ela.

Mas, mesmo assim, Roroa tinha uma visão diferente.

— A Margie não é deslumbrante como a Irmãzona Juna, mas tem a coragem necessária para falar o que pensa para qualquer um, além da habilidade de liderança que desenvolveu durante a época como militar. As loreleis e os orfeus são quem estão mantendo essa nova cultura de programas transmitidos que está crescendo neste país. Cada vez mais deles vão começar a ter personalidades mais fortes. Para mantê-los unidos, precisaremos de alguém com coragem e capacidade de liderança como a Margie. Tanto eu quanto meu Querido queremos que ela seja a líder desse novo tipo de entretenimento. É por isso que esse vestido deve ser utilizado para passar uma imagem boa da Margie para todas as pessoas do reino; para fazer com que as pessoas do reino pensem que a Margarita sempre estará onde o entretenimento estiver.

Roroa havia apresentado seu argumento. Ela havia falado com tanta convicção que, por um momento, tinha feito Sebastian pensar: Então tinha esse raciocínio todo por trás, mas… quando ele pensou bem, tudo havia começado com o pedido equivocado da Roroa, então tudo que tinha sido dito era somente uma desculpa que ela tinha arranjado.

— Isso não é algo que você deveria conversar com a sua família? — perguntou Sebastian.

— E-Eu acho que o Querido vai entender, sabe?

— Eu, obviamente, estava falando sobre a Senhorita Liscia.

— A Irmãzona Cia não! Ela é séria demais. Ela vai ficar falando que “é importante agir com a cortesia adequada mesmo com os vassalos mais próximos! Você não pode deixar seus erros causarem problemas para quem te serve.” E, então, eu levaria bronca durante uma hora da mesma forma que o Querido leva!

Após Roroa, com lágrimas em seus olhos, abraçar seu braço, dizendo: “Por favor, por favor, não fale nada sobre isso”, Sebastian não teve escolha a não ser permanecer em silêncio sobre a situação.

No final das contas, Margarita acabou usando o vestido gigante para a Competição Musical Vermelha-e-Branca.

Ela odiou isso, mas a apresentação extravagante foi um sucesso entre as pessoas e, mesmo com seus protestos, se tornou uma tradição anual na Competição Musical Vermelha-e-Branca.

Aliás, quando Souma viu o vestido gigante de Margarita, sussurrou: “Eu pensava que ela era uma chefe de fase do mundo das celebridades, mas, na verdade, ela é a última chefona…”

E, então, todos viveram felizes para sempre, com exceção de Margarita.

Associação de Vítimas de Mestres: Agora Em Busca de Novos Membros

– Um dia do 12º mês, 1546º ano, Calendário Continental –

Era uma noite de inverno tão fria que, sem uma lareira acesa, sua respiração ficaria branca até mesmo dentro de casa.

Na Sala de Voz da Joia do Castelo de Parnam, o Primeiro-Ministro de Elfrieden, Hakuya, e a Irmãzinha-General do Império Gran Caos, Jeanne, estavam realizando uma de suas conferências frequentes pela Transmissão de Voz da Joia.

Quando chegava o final da semana, eles entravam em contato um com o outro utilizando o embaixador posicionado no Império, Piltory, como um intermediário. Discutiam os detalhes das negociações que não necessitavam da atenção do Rei Souma ou da Imperatriz Maria, além de que conversavam sobre acontecimentos dentro de seus países para compartilhar informações. E, após terminarem essas tarefas, reclamavam sobre seus respectivos governantes enquanto tomavam um chá. Essa era a diversão secreta deles.

Esse geralmente era um momento só dos dois, mas desta vez estranhamente tinham um convidado extra.

— Hm, Sir Hakuya? Quem é essa pessoa que está junto com você? — perguntou Jeanne.

Quando a reunião de rotina acabou, ela pensou que finalmente era a hora da sessão de reclamações deles começar, mas Hakuya havia convidado um outro indivíduo para a sala, o que a deixou perplexa.

Hakuya pediu para que a pessoa que ele havia convidado para a sala ficasse de pé em frente da joia.

— Permita-me apresentá-lo — disse Hakuya. — Este é Sir Colbert, o qual era o ministro das finanças do antigo Principado de Amidônia e que, agora, possui a mesma posição em nosso reino.

— Prazer em conhecê-la, Madame Jeanne. — O homem se curvou. — Me chamo Gatsby Colbert.

Jeanne rapidamente se curvou de volta.

— Ah! Ora, olá… Hm, devo te chamar de Sir Gatsby?

— Ah, não. Por algum motivo, tanto Sua Majestade quanto a princesa insistem em me chamar pelo meu nome de família ao invés de meu primeiro nome. Então, Madame Jeanne, por favor me chame de Colbert também.

Ahem… Sendo assim, Sir Colbert, é um prazer te conhecer. — Jeanne cumprimentou o homem e, então, olhou para Hakuya. — Então, Sir Hakuya, por qual motivo o apresentou para mim?

— Na verdade… Sua Majestade começou a nos chamar de “Associação de Vítimas de Mestres” — disse Hakuya.

— Hm… Define exatamente o que somos, mas… se fosse a minha irmã que tivesse nos chamado disso, eu teria dito: “E de quem é a culpa?”

Ao invés de atacar Souma diretamente, Jeanne puxou sua irmã para o assunto e a criticou. Não importa o quanto ela e Hakuya simpatizassem um com o outro, ela sabia que não poderia insultar o governante de outro país.

Hakuya respondeu enquanto assentia:

— Eu não poderia concordar mais. O ideal seria não precisarmos de tal associação, mas… a realidade é que estamos em farrapos por causa de nossos mestres. Ao criarmos uma associação, podemos compartilhar nossas dificuldades e talvez pensar em uma maneira de lidar com isso. É por isso que quis te apresentar o Colbert, o qual possui todos os requisitos para ser um novo membro.

— Entendi… Então, resumindo, Sir Colbert também está em farrapos por causa de seu mestre? — Jeanne assentiu, parecendo estar satisfeita com aquela resposta. — Sir Colbert, seu mestre também é o Sir Souma?

— Não… Ah! Talvez possa se dizer que sim, mas quem está me deixando em farrapos é a antiga Princesa de Amidônia, a qual agora é candidata a se tornar a terceira rainha primária de Sua Majestade Souma, a Princesa Roroa.

— A Princesa Roroa? — perguntou Jeanne. — Você está falando daquela que forçou Sir Souma a tomá-la como noiva após a guerra acabar e a tomar posse de seu país junto? Aquela mesma que fez ele cancelar as reparações de guerra e, além disso tudo, o fez assumir a responsabilidade de cuidar das pessoas de seu país?

Ao fazer uso total da rede de informações dos mercadores, a garota conseguiu superar Souma, o sábio Hakuya e até mesmo o seu próprio irmão para que tudo ocorresse do jeito que quisesse. Souma havia descrito aquela experiência como “eu estava usando um camarão como isca para pescar brema do mar, mas pesquei um tubarão.”

— Eu tinha escutado que ela é uma princesa astuta. Isso não é verdade? — perguntou Jeanne.

— Isso está certo… Mas há alguns pequenos problemas em sua personalidade — disse Colbert.

— Na personalidade? Como assim?

— A curiosidade dela não tem limites e ela ama fazer coisas chamativas. Se eu me limitasse a falar somente sobre economia, poderia dizer que ela pensa bem no uso do dinheiro, mas quando se trata de sua vida pessoal, pessoas como eu ficam sobrecarregadas. No dia anterior à primeira vez que ela veria Sua Majestade, por exemplo, me foi dito de repente que ela queria que eu procurasse uma grande quantidade de carpetes…

Na noite anterior a sua audiência com Souma, Roroa havia dito de repente: “Eu vou me casar com o Souma, mas a primeira impressão é importante, sabe? Me considero bonita, na medida do possível para uma garota, mas o Souma provavelmente tem várias beldades ao seu redor. Quero que nosso primeiro encontro seja impactante.”

Ela tinha pensado em se esconder em um dos carpetes que seriam dados como presente para Souma e saltar para surpreendê-lo assim que chegasse perto. No entanto, para sua tristeza, uma mulher já havia feito algo parecido no mundo do Souma, então ele descobriu o que havia sido tramado facilmente….

Quando Colbert lembrou daquele momento, seus ombros caíram.

— Na noite anterior, corri desesperado em busca de carpetes de alta qualidade, mas a grande surpresa foi descoberta tão fácil. Para que serviu todo o meu esforço?

— B-Bom… meus sentimentos… — Jeanne não pôde evitar de sentir empatia por ele.

Hakuya, o qual estava os escutando, perguntou:

— Você também teve que usar seu próprio dinheiro para pagar pelos carpetes?

— Ah, não. Ela é organizada com coisas assim — falou Colbert rapidamente. — Saiu dos fundos secretos da princesa… Sinto que a quantia que ela tem é grande demais para chamar dessa forma, mas utilizei esse dinheiro.

— Ah, então ela tem senso comum para isso — disse Jeanne.

— Sim. No entanto, também é possível dizer que ela só tem quando se trata de dinheiro. Contei como consegui todos esses carpetes, mas como eu estava com pressa, houve uma grande quantidade que não servia para ser dada como presente. Não podíamos oferecer eles para Sua Majestade, então estão comigo. Os carpetes enrolados parecem troncos que cresceram descontroladamente pela minha casa.

— Isso é terrível… — disse Jeanne.

O domínio do Colbert ficava na Amidônia. Ele estava vivendo em uma pequena casa na capital real enquanto permanecia lá para trabalhar. Essa pequena casa estava lotada de carpetes. Não havia dúvidas de que isso estava ocupando muito espaço de onde vivia.

— Me foi dito que Sir Sebastian eventualmente viria pegar eles para vender, mas, até então, tenho que viver rodeado de carpetes. Praticamente não há lugar para ficar de pé… eu pensava que deveriam ser desenrolados para que eu pudesse me sentar, mas descobri que também é possível ficar sentado neles enquanto ainda estão enrolados.

— Você está fazendo descobertas estranhas! — exclamou Jeanne. — Vejo que está passando por momentos difíceis.

— Hahaha… bom, servir a princesa não é tão ruim assim — admitiu. — Roroa somente faria esses pedidos egoístas para quem ela confiasse, então a vejo como uma irmãzinha carente.

Após Colbert falar com um olhar distante em seu rosto, Jeanne sentiu que ele também era um de seus companheiros.

— Mas será que, assim como é com minha irmã ou com Souma, todas as pessoas que estão acima dos outros possuem algum defeito? Meio que… para deixar tudo balanceado.

— Pode ser que você esteja certa… — concordou Hakuya com um sorriso sarcástico. — Enfim, Madame Jeanne, eu estava pensando em admitir Sir Colbert como um membro de nossa Associação de Vítimas de Mestres. O que acha?

— Não poderia concordar mais. Seja bem-vindo, Companheiro Colbert.

— H-Hahaha… Obrigado por me receberem — disse Colbert.

Dessa forma, a Associação de Vítimas de Mestres ganhou um novo membro.

O novo recruta, Colbert, olhou para Hakuya e disse:

— Mas eu não esperava por isso. E pensar que Hakuya, conhecido por sua sagacidade, estaria liderando um encontro brincalhão como esse… Ah, me desculpe, fui rude em falar isso?

— Hee hee, verdade. — Jeanne riu. — Pode não parecer, mas Hakuya consegue ser bem engraçado.

— Por favor, não me provoquem dessa forma… — Hakuya fez uma expressão mal-humorada. — Sirvo a Sua Majestade, o qual é imprevisível e tende a levar piadas a sério. Também não daria certo se eu relaxasse o tempo inteiro.

— Você tem toda a razão. Também gostaria que minha irmã fosse um pouco mais responsável — disse Jeanne.

— Consigo te entender — concordou Colbert. — Até porque, no outro dia…

Nesse dia, é dito que os três ficaram acordados até tarde da noite para reclamar de seus mestres.

Poncho e Serina: Uma Sessão Bizarra de Lanches Noturnos

— Hmm… Não estou conseguindo acertar, sim.

Isso foi logo após a anexação do Principado da Amidônia ao Reino de Elfrieden.

O Ministro da Agricultura e da Floresta, Poncho, estava passando as longas noites de outono na cafeteria do castelo se afundando em pensamentos. A raiz de seus problemas era um certo molho que Sua Majestade havia pedido para ele desenvolver. Foi dito que era essencial para recriar os pratos do mundo anterior de Souma.

De acordo com Souma, este molho era mais grosso que os que existiam neste país, tinha um sabor agridoce e era extremamente delicioso quando misturado com massas ou colocado em comidas fritas. A tarefa atual de Poncho era desenvolver esse molho para as comidas à base de farinha.

Poncho engoliu a seco. Eu gostaria muito de provar o yakisoba e o okonomiyaki que Sua Majestade mencionou, sim.

Pelo seu interesse em comidas além do comum, Poncho tinha experiência em gastar quantias exorbitantes de dinheiro em viagens gourmet para diversos países. Se fosse dito para ele que havia iguarias desconhecidas para provar, era óbvio que ele ficaria interessado. No entanto, para prepará-las, teria que criar esse molho desconhecido primeiro.

Eu nunca ter provado só deixa mais difícil. Isso significa que tenho que recriar um gosto desconhecido me baseando somente no que Sua Majestade falou, sim.

Seguindo o conselho de que ficaria gostoso ao comer com massas, ele repetidamente provou seus molhos experimentais colocando no espaguete usado para fazer os pães com espaguete e misturando enquanto fritava. Ficava gostoso até mesmo misturando com os molhos normais, mas parecia que estava faltando algo.

O que seria essa doçura que Sua Majestade mencionou? Açúcar? Caramelo? Ou algum tipo de doçura de fruta? Sem saber disso, não tem muito que eu possa…

— Sir Poncho. — Uma voz no outro lado da cafeteria, local no qual pensou que estivesse sozinho naquela hora da noite, o chamou de repente.

— Hiii! Sim?! —  Poncho deu um pulo. Após se virar rapidamente, viu a criada-chefe, Serina, de pé. — A-Ah… Era você, Madame Serina. Me assustou, sim.

— Eu venho aqui com frequência, então não tem motivos para tanta surpresa. Estou magoada. — Serina suspirou, mas sua expressão estava desprovida de emoção como sempre, então era difícil ter certeza se ela havia se magoado ou não. Poncho balançou sua cabeça para cima e para baixo.

— Sinto muito — falou. — Estava perdido em pensamentos, entende? Sim.

— Sobre o molho… certo? Ainda não conseguiu terminar?

— Não consegui produzir nada que me fizesse dizer “é isso”, sim — disse Poncho.

— Isso é lamentável. Estava esperançosa de que hoje seria o dia em que poderia provar um pouco dele… — disse Serina com o rosto sério, o qual tornava difícil saber o quão sincera estava sendo. Entretanto, Poncho conseguiu sentir uma leve decepção honesta nas palavras dela.

— É por isso que está vindo aqui todas as noites? — perguntou ele.

— O molho yakisoba que Sua Majestade falou… parece ser tão simples, mas também tão atraente, não concorda? Oh, Sir Poncho… por favor, deixe-me provar ele logo.

Serina estava com uma expressão entusiasmada, o suficiente para fazer sua irreverência anterior parecer mentira. Após comer os frutos do mar e o ramen de osso de porco de Souma e de Poncho, ela ficou completamente encantada pelas comidas do mundo de Souma que Poncho fazia.

Com um sorriso torto pela forma que Serina havia agido, Poncho disse:

— Vou te dizer quando estiver finalizado, sim. Quero que você seja a primeira a provar, então não precisa vir aqui toda noite…

— Essa não é a única razão para eu vir, obviamente — disse Serina para ele. — Afinal, como diversos tipos de lanches gostosos quando venho aqui.

— Sei que não sou a melhor pessoa para falar isso, mas não está preocupada que possa ganhar peso? — perguntou Poncho.

Serina respondeu com um olhar despreocupado.

— Ser uma criada é um trabalho difícil, então não tenho tempo para engordar. Na verdade, estou aumentando minha carga horária durante o dia para poder aproveitar esses lanches noturnos.

O que Serina estava dizendo era verdade. Recentemente, ela havia ficado com uma carga horária pesada, a qual incluía o treinamento da nova criada, Carla, o cuidado da Princesa Liscia e a administração das outras criadas, como a criada-chefe.

— É difícil mesmo — continuou ela. — Tenho que comer meu lanche noturno para conseguir terminar o meu dia bem.

— I-Isso é um fato, sim?

— Sim. Agora, Sir Poncho, por favor… me alimente de novo nesta noite.

O rosto de Serina chegou tão perto que fez ele pensar que escutava a respiração dela enquanto aquelas palavras eram suavemente sussurradas. Com uma bela mulher como Serina implorando de forma tão sedutora, ele não podia recusar.

— T-Tudo bem. Mesmo assim, a única coisa que tenho aqui é espaguete. O máximo que consigo fazer é um Espaguete à Napolitana. Isso serve?

— Serve — disse ela. — Mas realmente é um mistério. Quem teria pensado que o espaguete e aquele molho chamado ketchup combinariam tanto? Tudo que tem que fazer é colocar o molho e fritar, mas cria um prato único, o que diferencia do molho de carne e do molho arrabiata. É simples, mas delicioso; com um gosto que te faz lembrar de casa. Minha boca está salivando só de pensar.

Serina falou rapidamente, com um entusiasmo que normalmente seria impensável para ela. Poncho estava a escutando com um sorriso torto, mas, então, algo que ela havia dito chamou sua atenção.

— Ketchup combina com espaguete… — murmurou ele.

— Hm? Há algum problema, Sir Poncho? — perguntou ela.

— Não, é só que uma das características do molho para comidas a base de farinha que Sua Majestade tinha mencionado era que ele combinava com massas, sim. Espaguete é um tipo de massa, então pensei que também seguia essa lógica…

— Isso é verdade… — disse ela. — O molho deveria ser grosso, não? Esse traço também é parecido com ketchup.

— Será que o molho para comidas à base de farinha que Sua Majestade tinha falado é o molho inglês misturado com ketchup ou algum outro vegetal cozido?! M-Madame Serina, quero tentar fazer isso agora. Teria algum problema?

— Claro que não. Deixe-me ajudar.

E, então, os dois trabalharam lado a lado na cozinha. Poncho tentou colocar uma pequena quantidade de ketchup no molho e misturou os dois. Após isso, Serina colocou a mistura sobre o espaguete fervido e fritou tudo em uma frigideira junto com vegetais e outros ingredientes. Um cheiro apetitoso cobriu o ambiente.

Quando a massa ficou marrom, colocaram ela nos pratos; finalmente era a hora de provar. Os dois se sentaram de frente um para o outro em uma das mesas da cafeteria. Enrolaram o garfo na massa, já que esse país não tinha o costume de chupar as massas, e comeram ao mesmo tempo.

Ambos arregalaram seus olhos, surpresos.

— Não vou me cansar disso, sim.

— Sim. Minha nossa, que gosto incrível que isso tem.

Era isso. Esse era exatamente o gosto que Sua Majestade Souma estava procurando. Mesmo que ele não soubesse a resposta correta, Poncho conseguia afirmar isso por instinto.

Esse sabor forte, tão forte, era irresistível. Apesar do espaguete ser um alimento básico, esse molho fazia querer um outro alimento básico para acompanhar. Ah, agora fazia sentido. Por isso do pão. Sua Majestade havia criado o pão de espaguete após desistir de algo chamado pão de yakisoba. Se pudessem comer esse yakisoba em um pão, assim como um pão de espaguete, certamente seria incrível.

— Eu diria que nós… conseguimos terminar, sim.

— Sim, tenho que concordar — disse Serina. — Ah, é tão gostoso.

— Hahaha… Você parece estar aproveitando mesmo, sim — disse Poncho enquanto observava Serina comer com um olhar de êxtase em seu rosto. Ela estava obcecada com a sua comida, mas ele também gostava de a observar comendo os pratos que ele tinha feito.

Ver ela aproveitar o que eu fiz… é maravilhoso, sim.

— Hm? Há algum problema? — Serina inclinou sua cabeça para o lado ao perguntar, mas Poncho riu, sem graça, e balançou sua cabeça.

— Não… Nós fizemos bastante, então tem o suficiente para você repetir, sim.

— Ah, isso é ótimo, Sir Poncho.

A comida de Poncho tinha um lugar especial na barriga de Serina. Ele geralmente era um homem tímido e ela, uma mulher com tendências sádicas, mas o relacionamento deles agora estava invertido.

Aquela sessão bizarra de lanches noturnos tinha acabado de começar.

 


 

Tradução: Jeagles e Rlc

Revisão: Sonny Nascimento

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