Dark?

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 03 – Cap. 07 – Promessa

A+ A-

 

Manhã, uma semana (oito dias) depois de voltarmos a Parnam.

No gabinete de assuntos governamentais do castelo, tudo o que se ouvia era o arranhar da minha caneta e o arrastar de papéis enquanto Liscia me passava os documentos. Trabalhei sem parar enquanto estava em Van, mas a carga de trabalho não só não diminuiu após voltar para Parnam, como inclusive aumentou.

Agora que o sistema de três duques tinha entrado em colapso, eu precisava reorganizar o exército logo.

A fim de construir uma relação de igualdade com o Império, precisava aumentar as despesas militares para conter a ameaça do Domínio do Lorde Demônio. Em outras palavras, fortalecer os militares. Esse plano de fortalecimento dos militares era aquele do qual falei durante o ultimato aos três duques, a unificação das forças armadas.

Quando olhando para a história do outro mundo, notei que a força ou fraqueza de um exército dependiam muito de sua mobilidade. Em outras palavras, quão rápido ele poderia chegar aonde precisava ir e se poderia utilizar o poder de fogo necessário.

A razão pela qual obtivemos uma vitória esmagadora sobre as forças amidonianas foi por termos sido capazes de chegar ao campo de batalha antes de nossos oponentes. Como chegamos um dia antes do inimigo, pudemos lutar contra as forças exauridas do principado com um Exército Real bem descansado. Se tivéssemos chegado ao mesmo tempo, nossa exaustão seria praticamente a mesma e, embora as forças do principado ainda estivessem em menor número, teriam se empenhado e lutado com mais força. Se isso tivesse acontecido, a batalha teria sido muito mais complicada.

Para conseguir a mobilidade de que precisávamos, seria necessário implantar uma rede de transportes e, ao mesmo tempo, eliminar as divisões entre nosso Exército, Marinha e Força Aérea, para criar um sistema que funcionasse sob um único comando, estrutura essa necessária para mover todas as nossas forças de imediato. Esse sistema seria uma força armada unificada.

O Exército Proibido, Exército, Marinha, Força Aérea e, por último, as tropas que normalmente faziam parte do Exército Proibido, mas que eram tropas pessoais da nobreza, seriam todas desmontadas e reorganizadas como uma força a ser chamada de Força de Defesa de Elfrieden (FDE).

Ao organizar a FDE, tive que ser cauteloso com a resistência de cada ramo das forças armadas, já que o Exército e a Força Aérea perderam influência com a recente revolta. Os chefes temporários de cada força, Glaive e Tolman, cooperaram, então não representariam nenhum problema.

Além disso, a Marinha ficou do nosso lado e, assim sendo, não perdeu influência, portanto, ao nomear sua Almirante, Excel, como Comandante Suprema da FDE, poderíamos esperar pouca resistência. Ela não queria ser indicada como Comandante Suprema, mas a obriguei a aceitar a posição, com a condição de que fosse apenas enquanto Ludwin ganhava experiência suficiente para lidar com o cargo.

Isso bastava para o Exército, Marinha e Força Aérea, mas a verdadeira dor de cabeça seriam as forças dos nobres.

Faziam parte do Exército Proibido, mas o fato de que o comando sobre eles estava com os vários nobres os tornava difíceis de se lidar.

Neste mundo com feras e monstros (embora antes do aparecimento do Domínio do Lorde Demônio só existissem em masmorras), ladrões, piratas e bandidos, era necessário haver certa quantidade de poder de policiamento em todas as áreas.

Era por isso que a nobreza fundiária treinava tropas pessoais, que eram usadas para a obrigação de manter a estabilidade dentro de seus feudos.

Neste país, porém, os números que possuíam eram excessivos. Isso era o efeito das políticas expansionistas do rei anterior a Alfred.

Naquela época, as conquistas no campo de batalha representavam o caminho mais curto para a glória e o avanço, então a nobreza costumava convocar plebeus de seus feudos para reforçar o pessoal de suas forças pessoais. Apesar do fato de que, embora recrutar amadores pudesse resultar em aumento de mão de obra, se isso levasse a uma queda de produtividade, seria inútil. Por fim, quando o rei anterior, Rei Albert, resistiu às políticas expansionistas de seu predecessor, a nobreza ainda manteve suas forças ampliadas.

Era por isso que, neste momento, eu estava preso à tarefa de desmantelar suas forças até o mínimo necessário para o policiamento. Aqueles que tinham uma atividade primária fora do serviço militar receberam indenizações e foram liberados do serviço, enquanto aqueles que buscaram ingressar na FDE seriam submetidos a testes de alistamento.

Embora a organização fosse decidida por Excel, Glaive, Ludwin e outros oficiais militares, eles examinaram minha proposta e descobriram que não teriam escolha além de dar um selo de aprovação a isso.

Enquanto trabalhávamos, Liscia e eu ficamos em silêncio. Havia certo constrangimento entre nós.

Não, eu provavelmente era o único se sentindo estranho… Liscia estava agindo da mesma forma de sempre.

Naquele dia, mesmo quando contei para ela que Georg Carmine cometeu suicídio em sua cela, a expressão de Liscia não mudou. Seu rosto não tinha nenhuma emoção, e meu relatório provocou apenas um silencioso “Entendo…”

Não que eu achasse que ela fosse perder a compostura. Não era como se eu achasse que ela fosse me culpar por isso. Liscia não era esse tipo de garota, e eu estava bem ciente disso.

Mas eu dificilmente esperaria que ela pudesse continuar sua rotina diária dessa forma, como se estivesse tudo normal. Achei que iria parecer ao menos um pouco perturbada. De forma alguma que isso não teria sido doloroso para ela, de jeito nenhum não seria de partir seu coração, mas quando vi Liscia agindo como se nada tivesse mudado, não consegui pensar no que dizer.

Se ela tivesse brigado um pouco comigo teria sido bem mais fácil…

“Por que você não poupou o Duque Carmine?!”

Sim… Não, assim não teria sido melhor.

Só de imaginar Liscia me humilhando e insultando já era o suficiente para me deprimir.

Se ela me socasse, poderíamos esquecer tudo… Mas, não, o único capaz de me fazer sentir melhor era eu. Sério, no que eu estava pensando? Depois de falar aquelas coisas para Georg, eu não poderia nem mesmo proteger o coração da garota mais próxima de mim?

— Souma — disse ela.

— Hein? O quê? — Levantei a cabeça e vi Liscia olhando para mim com a cabeça interrogativamente inclinada para o lado.

— Sua caneta parou, sabe? — perguntou ela.

— Ah, desculpa…

Nada bom, pensei. Tenho que me controlar.

Voltei ao trabalho. Agora, tenho que me concentrar em cuidar de todas as pequenas tarefas diante de mim.

Enquanto eu trabalhava com esse pensamento em mente, ouvi uma batida na porta.

— Entre — falei, e a criada chefe, Serina, entrou.

— Perdão — disse ela. — Os preparativos estão completos e sua presença é solicitada.

— Claro.

Paramos de trabalhar, coloquei minha capa real e me dirigi para a sala de audiências. Era o dia de recompensar aqueles que se destacaram na guerra contra a Amidônia.

— Glaive Magna — falei. — Sua lealdade foi realmente notável. Em reconhecimento a essa lealdade, concedo Randel a região circundante ao seu governo.

— Sim senhor — disse Glaive. — Será um prazer.

— Muito bem. Além disso, embora seja apenas provisório, também lhe concedo alguns dos poderes que Georg detinha como General do Exército. Até que sejam incorporados ao FDE, mantenha tudo em ordem.

— Sim senhor — respondeu ele. — Juro que farei o meu melhor para atender às expectativas de Vossa Majestade.

Na minha frente, quando me levantei do trono, fazendo elogios em um tom grandioso, o velho de Hal, Glaive Magna, curvou-se profundamente. Não estávamos transmitindo isso, então eu não estava mantendo tanta formalidade, mas havia uma secretária obedientemente registrando cada uma das minhas palavras, então eu tinha que agir como rei. Isso era para garantir que as gerações futuras que lessem os registros não me desprezassem, ou ao menos foi o que meu camareiro, Marx, amargamente me disse, mas… sério, eu não me importava com o que as pessoas pensariam de mim após a minha morte.

Na guerra contra o Principado da Amidônia, o Reino de Elfrieden podia não ter conseguido territórios, mas garantimos excelentes reparações de guerra. Além disso, fomos capazes de coletar resgates de Zem pelo retorno de seus mercenários, e fui capaz de confiscar as terras e bens de nobres corruptos. O desmantelamento dos ducados Carmine e Vargas também havia sido decidido.

Apesar de todos esses ganhos, havia pouca necessidade de recompensar as tropas. A maior parte das tropas mobilizadas pertencia ao Exército e à Força Aérea. Estavam sob suspeita de traição, e esta tinha sido uma batalha para livrá-los dessa suspeita, então nenhuma recompensa precisaria ser paga.

Além disso, aqueles que adotaram uma abordagem de esperar para ver o desdobramento do conflito, os nobres cujas forças faziam parte do Exército Proibido, não receberiam nenhuma recompensa, já que não participaram. Isso significava que haviam perdido uma boa oportunidade, mas isso era problema deles, não meu.

Os únicos que precisavam ser recompensados eram os da Marinha e as forças diretamente sob meu controle no Exército Proibido. Aqueles da nobreza ou da classe de cavaleiros em qualquer dessas forças receberiam terras, mas elas sairiam dos antigos feudos dos nobres corruptos e dos ducados desmantelados, Carmine e Vargas. Aqueles de posição inferior receberiam um bônus em dinheiro.

E então, neste dia, eu deveria dar recompensas pessoais para aqueles que mais contribuíram. Dar títulos de nobreza e terras era o padrão, mas se quisessem outra coisa, seriam bem-vindos a negociar. Se estivesse ao meu alcance como rei, e se fosse uma recompensa adequada pelos esforços, seria concedido. Se quisessem dinheiro ou itens raros que estivessem em posse da família real, tudo bem.

Há muito tempo, houve um cavaleiro que usou este sistema para solicitar o direito de se casar com uma princesa por quem estava apaixonado. Também havia alguém que o usou para solicitar que um nobre corrupto fosse levado à justiça. Essa era uma situação em que nunca se sabia quais pedidos sem sentido poderiam surgir, então optei por não transmitir na Transmissão de Voz da Joia.

Desta vez, as pessoas a serem recompensadas foram as seguintes:

O vira-casaca do Exército que os liderou na batalha contra a Amidônia, Glaive Magna.

O Lorde de Altomura que ganhou tempo e atrasou as forças amidonianas, Weist Garreau.

A comandante da marinha que, da mesma forma, atrasou as forças amidonianas no Vale de Goldoa, Juna Doma.

Bem como aquele que enviou reforços durante a batalha fora de Randel, o chefe dos elfos negros que vivia na Floresta Protegida por Deus, Wodan Udgard. Sir Wodan era o pai de Aisha.

Normalmente, a Almirante da Marinha, Excel Walter, seria a primeira em tanto em posição quanto em termos de contribuição. Porém, ela renunciou a qualquer reconhecimento de suas realizações, a fim de buscar clemência pelos dois Vargas, então não receberia qualquer recompensa.

Além disso, antes de dar as recompensas aos cinco mencionados, formalmente recompensei Aisha, que estava me defendendo como minha autodeclarada guarda-costas, o posto recém-criado de kochiji.

Se eu fosse explicar o que isso mudava, era que antes ela atuava como uma mercenária, eu estava pagando com meu próprio dinheiro, mas passou a ser uma cavaleira de verdade, com salário e tudo mais.

A propósito, seu título, kochiji, saiu de um jogo de palavras com o apelido do guarda-costas de Cao Cao, Xu Chu, que era lido como Kochi em japonês. O nome original era escrito como “Tigre Tolo” e significava “um tolo forte como um tigre”, então escolhi escrever o dela com a letra de “Vento Oriental”.

Não que houvesse muito sentido em ficar obcecado com a forma como se escreveria o kanji neste mundo…

Além dessa nomeação, dei a Aisha uma manopla do tesouro do castelo, que estava encantada com um feitiço que reduzia danos físicos e mágicos (parecia que era chamada de Manopla Muralha de Ferro). Para ser honesto, eu queria dar um escudo, já que se adequava melhor à imagem da sua posição, mas Aisha usava uma espada larga de duas mãos, então optei por isso.

Aisha segurou a manopla com força contra o peito, gaguejando e arrastando as palavras enquanto as lágrimas escorriam.

— Ahh… Vossa Majestade… M-Muitíssimo obrigada!

Fico feliz em ver que ela está feliz e tudo mais, mas essa reação não é um pouco exagerada…?

Todos a observavam com sorrisos irônicos.

— Weist — falei. — Você me serviu muito bem ao distrair os amidonianos. Por favor, continue mantendo a estabilidade em suas terras como o Lorde de Altomura. Além disso, quando a cidade de Venetinova estiver pronta, tenho certeza de que irei colocá-lo como responsável por sua administração.

— Sim senhor — respondeu ele. — Por mais inadequado que eu seja, vou servi-lo ao meu máximo.

Depois de Glaive, terminei de recompensar Weist. Foi decidido que ele assumiria o posto adicional de Lorde de Venetinova, a cidade costeira que estava atualmente em construção. Como seu feudo original era no interior, por ser uma região de cultivo com terras férteis, ele rapidamente ganhou influência. Na operação recente, desempenhou o importante papel de se retratar como um covarde diante de Gaius e Julius. Era essa a sua recompensa.

Agora, estava na hora de recompensar Wodan Udgard, o pai de Aisha que enviou reforços para nos ajudar na batalha fora de Randel.

Foram reforços que nem Hakuya nem eu previmos. Sabíamos o quão poderosos eram os elfos negros, mas presumimos que estariam ocupados com a reconstrução após o deslizamento de terra, e, desde o começo, eles não se interessaram pelos assuntos fora da floresta, então pensamos que enviar uma solicitação seria inútil. Entretanto, ao contrário de nossas expectativas, Wodan e seu povo enviaram tropas ao nosso socorro.

Aparentemente, quando Aisha estava na Floresta Protegida por Deus, fez um pedido independente em meu nome. Pelo que Hal me contou sobre a batalha fora de Randel, os nobres corruptos apareceram com canhões e lançaram um ataque imprudente. Sem esses reforços, nossas perdas teriam sido muito maiores. Foi um erro de cálculo realmente feliz.

Me aproximei de Wodan, pegando sua mão enquanto o agradecia.

— Você tem a minha gratidão. Agradeço por enviar reforços, mesmo com vocês enfrentando momentos tão difíceis.

— Não pense nisso — disse Wodan. — Apenas pagamos nossa dívida de gratidão. Quando o desastre aconteceu, a força de ajuda que Vossa Majestade liderou nos lembrou dos laços que temos com o mundo exterior.

— Fico feliz em ouvir isso — falei. — Isso me mostra, mais uma vez, que este país foi construído com muitas raças diferentes se unindo. Se tiver algum desejo, só precisa dizer.

Wodan balançou a cabeça.

— Já devemos mais do que podemos pagar. Com o constante fornecimento de suprimentos de auxílio que você envia, nossos guerreiros já foram bem recompensados. Não espero mais nada de você.

— Por favor, não seja tão modesto — falei. — Aqueles reforços não teriam chegado sem você tomar a decisão. Se desejar, podemos plantar árvores ao redor da Floresta Protegida por Deus para expandir o seu território.

— Agradeço a oferta, mas a floresta está bem como está — disse ele.

Hmm… Isso me deixa com um problema, pensei. Eu queria uma forma de mostrar minha gratidão a Wodan. Porém, não importava o que eu oferecesse como recompensa, ele teimava a se recusar em aceitar.

— Realmente não tem nada que você queira? — questionei.

Quando perguntei isso a ele, Wodan ficou pensativo.

— Nesse caso, tenho um pedido, senhor…

— Diga. Se estiver ao meu alcance, será seu.

— Então… poderia tomar minha filha?

— Pai?! — gritou Aisha. Ela estava atrás do trono e parecia surpresa.

Sua filha… Estava falando de Aisha, certo?

Wodan continuou, sorrindo:

— Vejo que minha garotinha, que nunca se interessou por nada além de briga e comida, se tornou uma boa mulher. Essa mudança é um fruto dos sentimentos dela por você, senhor. Posso pedir para tomá-la como sua esposa?

— Sir Wodan é chamado de chefe na aldeia da Floresta Protegida por Deus, mas ele é, na verdade, o nobre que mantém o domínio da Floresta Protegida por Deus — disse meu camareiro, Marx, às pressas. — Você seria capaz de tomar a filha dele, Aisha, como sua segunda rainha primária.

Marx estava lidando com as coisas em nome do Primeiro-Ministro Hakuya, que estava indisposto.

Mencionei isso no passado, mas as rainhas deste reino eram categorizadas como primárias e secundárias, e era possível ter várias de cada uma delas.

Originalmente, havia apenas uma rainha primária e as demais eram rainhas secundárias ou concubinas (amantes) sem poder, mas um rei, há várias gerações, disse: “Não quero chamar essas mulheres de concubinas.”

Devia ter sido um homem apaixonado…

Como resultado, todas as suas rainhas secundárias foram transformadas em rainhas primárias. (A rainha primária original foi nomeada Primeira Rainha, com as demais sendo chamadas de Segunda Primária, Terceira Primária e assim por diante, para distinção.) E suas concubinas foram promovidas a rainhas secundárias, uma convenção que ainda continuava.

Já que estou nisso, deixe-me explicar a diferença entre uma rainha primária e uma secundária.

Para se tornar uma rainha primária, a dama em questão tinha que ser da classe dos cavaleiros, da nobreza ou superior. Para tornar uma mulher de posição inferior em uma rainha primária, ela primeiro teria que ser adotada por determinada família. Esse processo não era necessário para uma rainha secundária.

As crianças nascidas de uma rainha primária têm direito à sucessão. A linha de sucessão não era determinada pela ordem de nascimento, mas pelas crianças nascidas da Primeira Rainha, da Segunda, e assim por diante. Nos casos em que havia uma grande diferença de idade, a numeração das rainhas poderia ser alterada.

Por outro lado, embora uma mulher de qualquer classe (mesmo uma escrava ou prostituta) pudesse se tornar uma rainha secundária, suas crianças não teriam direito à sucessão. Entretanto, ainda eram parte da realeza, e casas nobres e cavaleiros que queriam uma conexão de sangue com a coroa tentariam casar seus filhos e filhas com as proles do rei com aquelas rainhas. Definitivamente era uma forma de arrumar um ótimo casamento.

Embora a posição não tivesse qualquer poder, também tinha menos responsabilidade do que ser uma rainha primária, e poderiam agir livremente, dentro de certos limites, claro. Para mulheres de nascimento comum que não tinham interesse pelo poder, essa costumava ser a posição de seus sonhos.

Mas… tornar Aisha minha segunda esposa principal…

— Você consideraria isso uma recompensa? — perguntei.

— Como pai, meus sentimentos são complicados… mas ela parece estar esperando por isso, e um pai sempre quer realizar os desejos de sua filha — disse Wodan. — Além disso, com o povo da Floresta Protegida por Deus começando a ver o mundo exterior, acho que seria bom verem a filha do chefe se casando com alguém da casa real. Não apenas iria criar um vínculo entre a casa real e a Floresta Protegida por Deus, como também se tornaria um símbolo do vínculo entre humanos e elfos negros.

Então não era só por causa da sua filha. Também havia considerações políticas.

Olhando da minha posição, se eu fortalecesse meus laços com a Floresta Protegida por Deus, provavelmente teria os arqueiros de elite que mostraram seu poder na batalha fora de Randel à minha disposição.

Não, mesmo se eu deixasse esse tipo de ganho pragmático de lado… A Aisha era fofa. Se eu tivesse que me perguntar se a queria como esposa ou não… Eu queria.

Ela podia ser meio excessivamente leal a mim, mas isso permitia que seu afeto por mim não fosse transmitido de forma ainda mais direta. Embora parecesse que eu havia a domesticado com comida.

Eu não podia esperar muito dela como uma operadora política, mas Aisha tinha proezas marciais mais do que suficientes para compensar isso. Seria reconfortante ter esse tipo de mulher ao meu lado.

Mas, está mesmo bem…? Voltei ao trono, olhando para Liscia, ao meu lado.

Eu tinha dito para Liscia que estávamos apenas temporariamente noivos, para que eu pudesse escapar dessa. Mas, agora que a guerra com a Amidônia havia ficado para trás, meu pensamento a respeito do assunto mudou.

Pessoas morreram por causa das minhas ordens. Eu carregava um peso de carma grande demais para voltar à vida normal. Eu não conseguia mais deixar de ser rei ou abandonar este país.

Eu sentia o mesmo em relação ao meu relacionamento com Liscia. Desde o dia em que nos conhecemos, superamos muitas dores e sofrimentos juntos. Eu não poderia romper nosso noivado, tampouco tinha vontade de fazer isso. Se Liscia fosse minha rainha, eu aceitaria ser o rei.

Mas esse é um problema totalmente diferente…

Embora eu estivesse decidido a ser rei, ainda tinha receio a respeito de pegar mais de uma rainha. Liscia, Marx e até Juna disseram várias vezes que isso era normal, mas como alguém carregando as visões morais do Japão moderno consigo, eu estava hesitante.

Sim, não é que eu achasse que amar mais de uma mulher fosse carência de sinceridade… Eu não estava tão cheio de mim. Mas achei que dar uma resposta imediata não seria algo justo com Liscia.

Eu me sentiria como se estivesse a traindo…

Enquanto eu pensava nisso, Liscia olhou para mim. Vendo que fiquei sem palavras, ela disse, exasperada:

— Souma, case com Aisha, assim como deveria.

— Como eu deveria…? Você está de acordo com isso, Liscia?

— Não tenho o direito de recusar, mas Aisha e o pai dela já disseram que está tudo bem, não é? — disse ela. — Na verdade, se você não a tomar, provavelmente será uma enorme dor de cabeça.

— Como assim? — perguntei.

Liscia destacou os aspectos práticos.

— Você é um rei, Souma. Podem surgir situações em que será forçado a se casar com as filhas de grandes nobres ou princesas de outros países como parte da diplomacia interna ou externa. Em preparação para isso, quero que as rainhas de classificação mais elevada sejam pessoas em quem posso confiar.

— Não… Mas… Digo…

Me vendo ainda hesitante, Liscia suspirou.

— Souma, você é capaz de tomar decisões quando o país está em jogo, mas quando se trata das mulheres da sua vida, é tão indeciso.

— Urkh…

— Sinceramente… Aisha! — chamou Liscia.

— S-Sim! — A elfa negra saltou de surpresa. Aisha estava em posição de guarda-costas, esperando ansiosamente enquanto observava as coisas se desenrolarem.

Liscia apontou um dedo para ela.

— Não estou desistindo da posição de Primeira Rainha, está ouvindo? Você é a Segunda Rainha, entendeu? Se estiver tudo bem para você, está tudo bem para mim. Na verdade, fico grata por isso.

— S-Sim! Desde que me deixe ficar ao lado de Sua Majestade! — resmungou Aisha.

Liscia acenou com a cabeça e me olhou diretamente nos olhos enquanto dizia:

— Ajustei tudo para você. Agora… trate-a bem.

— Certo… — falei lentamente.

Não sei. Senti como se o futuro equilíbrio de poder entre nós dois estivesse sendo decidido ali mesmo.

Liscia demonstrou muito espírito. Eu não conseguia mais continuar tagarelando qualquer coisa.

Me aproximei de Aisha. Aisha, a guerreira destemida do campo de batalha, tinha olhos que tremiam de incerteza.

Ah, nossa, não me olhe assim, implorei silenciosamente.

— Aisha — falei.

— S-Sim!

— Então… quer se casar comigo?

Ela respirou fundo.

— Sim! Seria um grande prazer!

Abstive-me de qualquer piada sobre como sua resposta a fazia soar como uma garçonete respondendo a pedidos em um pub ao estilo japonês. Meu rosto estava queimando de vergonha.

Entre todos os sorrisos, pude ver o rosto de Sir Wodan transparecendo todos os complicados sentimentos de ser um pai.

Falei para ele, não usando o tom que normalmente usaria como rei, mas sim em um aquele direcionado a superiores:

— Então é assim… Irei lhe apresentar cumprimentos formais em uma data posterior, Pai.

— Sim — disse ele, sorrindo. — Irei esperar por isso. Filho.

Assim, Aisha se tornou minha segunda noiva.

Com uma segunda rainha primária escolhida…

— Enfim, é um fardo a menos para mim — disse Marx com uma expressão de alívio. Marx sentiu uma sensação de crise com a escassez de membros da realeza provocada pela crise de sucessão após o reinado do rei anterior ao último. Era por isso que, como meu casamento formal com Liscia ainda não havia sido realizado, ele estava constantemente me importunando, dizendo: “Arrume esposas, faça bebês.” Ele nem parecia se importar se as crianças fossem concebidas fora do casamento.

Deixando isso de lado… o que eu faria com o título de kochiji que acabei de inventar? Eu não poderia fazer uma de minhas rainhas agir como minha guarda-costas pessoal.

Quando falei isso para Aisha, porém…

— Deixa isso comigo! Mesmo se eu virar sua esposa, irei sempre protegê-lo, senhor! — declarou Aisha com um enorme sorriso, então acabei deixando ela ficar com isso.

Eu sabia que Aisha era durona, então imaginei que estava tudo bem, mas Marx, antes exultante, imediatamente começou a segurar a cabeça com as mãos. Eu queria colocar a Segunda Rainha Primária que ele finalmente conseguiu me convencer a tomar em uma posição que era sinônimo de perigo. Eu me sentia mal pelo cara, tendo cada vez mais coisas com que se preocupar.

Juna assistiu essas coisas com um sorriso solitário no rosto, mas nenhum de nós percebeu.

Juna… Você…

Com exceção de Excel.

Com a importante recompensa para Wodan fora do caminho, finalmente chegou a vez de Juna.

Ofereci algumas palavras de elogio e perguntei:

— Há alguma coisa que você queira de mim?

Claro, eu sabia qual seria a resposta de Juna. Ela provavelmente pediria que todas as suas conquistas fossem contadas como sendo de sua avó, Excel. Se Excel quisesse salvar Castor e Carla, precisava do máximo de mérito possível em seu nome. Essa era a gentil Juna. Eu tinha certeza de que ela faria isso por pura consideração a Excel.

Juna olhou nos meus olhos e abriu a boca.

— Vossa Majestade, peço que todos os meus…

— Posso ter a palavra? — Excel interferiu antes que ela pudesse terminar de falar. — Perdoe minha repentina interrupção. Eu gostaria de ter permissão para falar.

— Hm? Concedida… — falei.

— Obrigada. — Excel se curvou e começou a lentamente falar. — Como sabe, Vossa Alteza, Juna Doma é minha neta. Entretanto, o pai dela, meu filho, se casou com um membro da família de comerciantes Doma, da Cidade Lagoon. Em outras palavras, Juna é uma plebeia.

Eu já sabia disso desde quando Juna revelou suas ligações com Excel para mim. Mas, por que ela estava mencionando a baixa posição de Juna neste momento?

Excel continuou:

— Dei a ela uma patente no exército por ser minha neta, mas isso não muda o fato de que Juna é filha de uma família comum. Ela não tem nenhuma conexão com as ações de qualquer casa nobre.

— Aonde você quer chegar, Duquesa…? — perguntei.

Excel não se voltou para mim, mas sim para Juna.

— Tenho certeza de que você pretende usar suas conquistas em meu benefício, mas isso não será necessário.

— Mas, Vovó…

Excel, porém, balançou a cabeça em silêncio.

— Está tudo bem. Você não tem nada a ver com a Casa de Vargas, então não deve usar suas realizações por alguém que não conhece. Use isso para o seu próprio bem.

— Vovó…

— Não posso sacrificar a felicidade da minha neta pelo bem do meu genro e da minha outra neta — disse Excel. — Não precisa se preocupar conosco. Você deve ter seu próprio desejo que quer ver sendo atendido.

Quando Excel voltou seu olhar gentil para ela, Juna baixou os olhos e pareceu em um debate interno por um momento. Quando ela finalmente ergueu os olhos, deu um passo à frente e se ajoelhou.

— Vossa Majestade. Eu tenho um pedido.

— E qual seria…? — perguntei.

— Se possível, então como Aisha… Desejo continuar cantando ao seu lado.

Será que ela… Não, não havia dúvidas sobre isso, Juna queria que eu também a tomasse como noiva.

— Senhor — disse Marx alegremente —, se você tomar Juna Doma, será como uma rainha secundária. Se desejar tomá-la como uma rainha primária, precisará primeiro adotá-la em uma família nobre ou de cavalheiros.

Ele devia ter ficado mais do que feliz com a aparição de outra candidata ao cargo de rainha. Quando olhei para Liscia, ela balançou a cabeça, aceitando.

Mas…

— Sinto muito, isso não é possível. — Fiz uma clara recusa.

Liscia arregalou os olhos, enquanto Excel perguntou “Por que…?” olhando para mim de forma suplicante. Juna continuou olhando para o chão, então não pude ver seu rosto.

O clima na sala ficou pesado, mas… Eu esperava que fossem ouvir tudo que eu tinha a dizer.

— Não posso fazer isso — falei. — Você é o pilar central do Projeto Lorelei, o projeto para criar um programa de música usando a Transmissão de Voz da Joia. Você é a Prima Lorelei. Também é popular entre as pessoas. O que acha que aconteceria se eu anunciasse que ficamos noivos? Aconteceriam tumultos.

Quando falei isso, todos pareciam satisfeitos com a explicação. Continuava fresco na memória de todos que o Congresso do Povo enviou uma petição dizendo: “Mostre Juna por mais tempo na Transmissão de Voz da Joia.”

No meu antigo mundo, era normal que revoltas acontecessem no blog de uma ídolo quando descobriam que ela tinha um amante, mas, na situação atual, eu temia que Parnam pudesse ser incendiada. O Reino queimaria de inveja… Sim, não é piada.

Foi por isso que eu disse:

— Você pode esperar, pelo menos um pouco?

Juna engasgou.

Quando ela ergueu o rosto, pensei: Bem, isso é estranho, já que eu disse para ela que

— Preciso da sua força como Prima Lorelei para produzir nossos programas de transmissão. É por isso que, por enquanto, estou pedindo que você continue sendo a cantora do povo. Quando mais cantoras se reunirem e tivermos treinado pessoas suficientes para manter o programa, juro, então irei tomá-la.

Quando falei isso, Juna enxugou as lágrimas dos olhos.

— Vou esperar ansiosamente por esse dia, senhor.

Quando ela disse essas palavras, estava com o sorriso de uma jovem pura e inocente.

 

 


 


Tradução:
Taipan

 

Revisão: Sonny Nascimento(Gifara)

 


 

📃 Outras Informações 📃

 

Apoie a scan para que ela continue lançando conteúdo, comente, divulgue, acesse e leia as obras diretamente em nosso site.

 

Acessem nosso Discord, receberemos vocês de braços abertos.

 

Que tal conhecer um pouco mais da staff da Tsun? Clique aqui e tenha acesso às informações da equipe!

 

 

Tags: read novel Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 03 – Cap. 07 – Promessa, novel Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 03 – Cap. 07 – Promessa, read Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 03 – Cap. 07 – Promessa online, Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 03 – Cap. 07 – Promessa chapter, Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 03 – Cap. 07 – Promessa high quality, Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 03 – Cap. 07 – Promessa light novel, ,

Comentários

Vol. 03 - Cap. 07