Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 03 – Cap. 00 – Prólogo – Em um Terraço ao Luar

– Noite, 3º dia, 10º mês, 1546º ano, Calendário Continental – Capital Real Parnam –

A lua brilhava intensamente no céu praticamente limpo.

Era uma noite tão calma que estava difícil de acreditar que, há apenas alguns dias, esse país, o Reino de Elfrieden, travou uma grande batalha contra o vizinho, o Principado da Amidônia.

Saindo vitoriosos em uma recente série de confrontos, houve uma celebração estridente quando as notícias de seus triunfos alcançaram Parnam, mas após alguns dias se passarem, as coisas ficaram consideravelmente mais calmas.

O jovem Rei de Elfrieden (embora ainda estivesse sem coroa, sendo apenas rei provisório), Souma Kazuya, declarou a guerra encerrada após a ocupação da capital do Principado, Van, e a área ao seu redor. Agora estavam esperando as negociações começarem.

As pessoas esperavam ansiosamente para ver como as negociações se desenrolariam.

Era uma calma noite em Parnam.

O castelo estava sem seu mestre porque Souma e os outros partiram para Van. O Rei anterior, Albert, e sua esposa, Elisha, estavam aproveitando um chá à luz da lua no terraço ligado ao seus quartos.

— Esta noite está mais calma… — disse Albert.

— Hehe. Sim, está — falou sua esposa.

Enquanto bebiam seus chás, ambos estavam com sorrisos relaxados.

— Sem Liscia e nosso genro aqui, parece que o fogo deste castelo é apagado — disse Albert. —  Mesmo que há não muito tempo esse fosse o normal daqui.

— Esteve tudo tão animado desde que você cedeu o trono para o nosso genro — concordou Elisha. — Os ministros, burocratas, guardas do castelo, e até as empregadas têm trabalhado intensamente.

Quando Elisha disse isso, Albert concordou.

— De fato… — E então acenou com a cabeça.

Ele continuou:

— Mas, de todos, quem mais trabalhou foi nosso genro. Nunca percebi que havia tantas coisas que um rei deveria fazer, tantas coisas que podia realizar… Como o rei anterior não tenho créditos para dizer isso, mas acredito que não errei em abdicar.

Albert abdicou subitamente em favor do mais merecedor, Souma.

No começo houve resistência diante da mudança súbita, mas o constante sucesso das políticas de Souma gradualmente conquistou o povo, e também havia seu noivado com a filha de Albert, Princesa Liscia, que trabalhou apoiando-o.

Alguns dias atrás, Souma também derrotou seus inimigos no país, os três duques, e seu inimigo estrangeiro, o Principado da Amidônia, e então ganhou total reconhecimento das pessoas como seu rei.

— Todos devem ter se surpreendido com meus gostos para encontrar talentos — disse Albert com uma risada feliz.

Agora que aceitaram Souma, estavam começando a ver Albert, que havia sido um rei mediano, para melhor ou pior, de forma mais positiva.

— O antigo rei não conseguiu fazer nada notável, mas, no final, em vez de se manter no poder, tomou a decisão corajosa de passar o comando para alguém mais capaz. — Era o que eles começaram a falar.

Depois de uma boa risada, Albert encarou sua xícara. O rosto refletido em seu chá aparentava estar ligeiramente cansado e usava um sorriso solitário que parecia de alguma forma melancólico.

— Você acha… que conseguimos mudar as coisas? — perguntou Albert.

Em resposta às suas palavras de incerteza, Elisha abaixou seus olhos.

— Não deve ter problemas. Diferente “daquela vez”, agora “aquela garota” está com ele desde o começo — falou Elisha calmamente. — Se estão juntos, acho que conseguem nos levar para um resultado diferente “daquela vez”. Além disso, agora não estão sozinhos. As coisas estão até mais vívidas agora do que “naquela vez”.

— Ho ho ho…— riu Albert. — Imagino que sim. Agora mesmo, depois de tudo, nós mesmos temos uma filha.

Albert sorriu amplamente, relembrando a garota dos lobos místicos que adotaram. O sorriso se mostrou contagioso, e logo Elisha também ficou radiante.

— Ela é a coisinha mais fofa — disse ela. — Com suas orelhinhas e cauda fofinhas.

— Na época que Liscia chegou nessa idade, ela já era uma moleca — falou Albert. — Aquilo era fofo do seu próprio jeito, mas ter uma garota meiga também é bom.

— Realmente é — concordou Elisha. — O jeito que ela hesita em me chamar de “mãe” é adorável. Ah, eu espero que Tomoe volte logo para casa.

Tendo sido reconhecida pelo seu dom único, mesmo sendo uma refugiada, a garota loba mística, Tomoe, foi adotada por Albert e Elisha no intuito de protegê-la. Os dois agora a cobriam com amor como se fosse sua verdadeira filha.

— Terei que dizer para nosso genro confirmar que nenhum homem estranho esteja à espreita dela — disse Albert firmemente.

— Não é incomum que as famílias reais e nobres adotem crianças para usar em casamentos políticos, mas eu não quero que isso aconteça com Tomoe — acrescentou Elisha.

— Certamente não — continuou Albert.

Se Liscia estivesse lá para ouvir, teria gritado, indignada: “Isso não pareceu importar para vocês quando concordaram em me casar sem o meu consentimento!”

Pelo resto da noite, os dois tiveram uma conversa animada sobre quão adorável Tomoe era.

— Achoo!

Enquanto isso, no castelo em Van, Liscia e Tomoe espirraram ao mesmo tempo. As duas se viraram para olhar a outra, ambas inclinando suas cabeças um pouco para o lado, questionando:

Acho que alguém está falando sobre nós? Imaginaram ambas ao mesmo tempo.