Dark?

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 02 – Cap. 09.2 – A Batalha Final

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— Parece que isso pode ser ruim… — disse Carla, que estava ao meu lado.

O exército do principado já dava sinais decisivos de derrota, não faltavam soldados em fuga ou se rendendo. Os mais próximos ao acampamento principal, os que ainda resistiam, foram completamente cercados. Parecia que tudo o que restava era esperar até que fossem eliminados.

O que poderia parecer ruim?

— Qual é o problema? — perguntou Souma.

— Não há sinais de que Gaius VIII vá fugir — respondeu Carla. — Ele escolheu morrer aqui.

— Não tenho intenção de deixá-lo fugir, então isso não é conveniente?

— Os covardes fugiram, os fracos caíram e, como resultado, a elite está se reunindo ao redor de Gaius enquanto ele continua resistindo… — disse ela. — Se formassem um esquadrão suicida, nenhum homem comum seria capaz de detê-los. Especialmente porque, uma vez que a vitória de um exército é assegurada, os soldados consideram as suas vidas ainda mais preciosas.

Quando olhei para o campo de batalha após ela apontar para isso, vi 40.000 soldados do meu próprio exército aparentemente incapazes de eliminar a força principal do inimigo, que já devia ter sido reduzida a menos de 500 tropas. Não importa quantas dezenas de milhares de soldados tivéssemos, apenas cerca de três pessoas, no máximo, poderiam atacar qualquer soldado em um determinado momento. Se ficassem agrupados, esse número ficaria ainda menor.

Para não mencionar o fato de que o inimigo havia aceitado a morte e estava agora destemido, enquanto os vitoriosos, o nosso povo, estava considerando as suas vidas ainda mais preciosas.

Não haveria glória ou recompensa para os que morressem. Era por isso que não podiam continuar o ataque.

Um calafrio correu pela minha espinha. Eu conhecia os exemplos históricos disso.

No Cerco de Osaka1O Cerco de Osaka foi uma série de batalhas feitas pelo Xogunato Tokugawa contra o Clã Toyotomi, que terminou com a destruição deste., por exemplo, Yukimura Sanada2Sanada Saemon-no-Suke Yukimura foi um samurai, segundo filho do Daimyo do período Sengoku, Sanada Masayuki. Seu nome era Sanada Nobushige, nomeado após pelo irmão mais novo de Takeda Shingen, Takeda Nobushige, que era um guerreiro valente e respeitado. liderou 3.000 homens em um ataque suicida que rompeu o exército de 13.000 homens de Tadano Matsudaira3Foi um samurai do início do período Edo da história do Japão. Foi o Segundo Daimyō do Domínio de Fukui em Echizen. e quase alcançou o comandante supremo deles, Ieyasu Tokugawa4foi o fundador e primeiro xogum do Xogunato Tokugawa do Japão, que perdurou desde a Batalha de Sekigahara em 1600 até a Restauração Meiji em 1868. Ieyasu tomou o poder em 1600, foi indicado xogum em 1603, abdicou do cargo em 1605, mas continuou no poder até a sua morte em Osaka, em 1615..

Outro exemplo está na China, após a Batalha de Gaixia5A Batalha de Gaixia foi a última resistência travada em 202 AC durante a Contenção Chu-Han entre as forças de Liu Bang e Xiang Yu. A batalha terminou com a vitória de Liu Bang, que se autoproclamou Imperador da China e fundou a Dinastia Han., quando uma força perseguidora de vários milhares de homens enviada pelo vitorioso Liu Bang foi derrotada várias vezes pelo derrotado Xiang Yu e seus vinte e oito partidários.

Quando havia uma diferença muito grande na vontade de lutar, a diferença no número de soldados perdia todo o significado. Um exército sem vontade de lutar nunca venceria, não importa quão grande fosse o seu número.

Aposto que essa força virá pela minha cabeça…

Sinceramente… Eu estava com medo. Sun Tzu havia dito para nunca lutar contra um esquadrão suicida.

Porém, mesmo assim, eu não podia deixar Gaius fugir. Se fizesse isso, todos os nossos sacrifícios teriam sido em vão.

Mas… se, por algum acaso… se o pior acontecesse…

— Ouça, Carla — falei com ela ao me virar.

— O quê?

— Precisamos conversar…

— Vão pela cabeça do rei inimigo, Souma Kazuya! — gritou Gaius VIII de cima do seu cavalo.

Ele reuniu os quinhentos cavaleiros de elite que continuavam ao seu redor. Estava prestes a realizar uma investida suicida contra o acampamento principal de Elfrieden. A área ao redor dele estava repleta de dezenas de milhares de corpos. Seria uma trilha da morte cheia de soldados inimigos, uma da qual jamais voltaria.

Mesmo que tivessem sucesso ao derrubar Souma, isso significaria apenas que o rei caiu pelas mãos de soldados comuns. Entretanto, seu rancor contra Elfrieden, que havia passado de pai para filho pelos últimos cinquenta anos, havia se infiltrado até mesmo na medula óssea dos seus seguidores. Eles não vacilariam.

— Vamos mostrar a Elfrieden o espírito e a coragem do povo Amidoniano! — gritou Gaius.

— Siiiiiiiiiim!

Ouvindo aquele grito de guerra dos seus apoiadores, Gaius apontou a sua espada para o meio do exército do reino e a balançou para baixo.

— Atacaaaaaaaaaar!

Os quase quinhentos cavaleiros de elite ao seu lado correram em direção ao centro do exército do reino.

Enfrentaram qualquer soldado pelo caminho com suas espadas, esmagando tanto o inimigo quanto os aliados que ainda resistiam sob seus cascos enquanto avançavam com a força de um vendaval. Eram como uma chama brilhando uma última vez antes de ser extinta. É por isso que brilhavam com mais força do que o normal.

— Gaius VIII?! Ele ficou louco?! — Ludwin, que estava defendendo o centro, olhou para aquele grupo em fúria de cima do seu cavalo branco, um olhar de óbvio desgosto apareceu no seu rosto. Esse tipo de avanço imprudente era nada menos do que suicídio.

Bem, provavelmente é suicídio, percebeu ele. Agora que aceitaram a derrota, estão procurando um lugar para morrer. Sério, prefiro não ter que levar isso adiante…

Ludwin colocou o capacete que havia tirado, içando sua lança de cavalaria para o alto. Então gritou para os cavaleiros da Guarda Real que estavam logo atrás:

— Sua Majestade está atrás de nós! Nós somos o escudo deste reino! Em nome da Guarda Real, vamos deter aquele grupo, mesmo que isso custe as nossas vidas!

— Siiiiiiiim!

— Vamos lá! — gritou Ludwin.

Os quase dois mil cavaleiros da Guarda Real comandada por Ludwin avançaram. Não demorou muito para que batessem de frente com os quinhentos apoiadores de Gaius.

Quando colidiram, cerca de metade daqueles do lado da Amidônia foram instantaneamente derrotados. Quase a mesma quantidade de membros da Guarda Real também foi derrubada ou mandada voando, mas, considerando que tinham a vantagem numérica desde o início, era possível dizer que sofreram perdas menos graves. A partir de então, a coisa evoluiu para uma confusão sem fim enquanto o som de cascos ecoava.

No meio da confusão entre amigos e inimigos, Ludwin saiu à procura de Gaius.

— Te encontrei, Gaius!

O homem que parecia ser Gaius estava em um grupo de cavaleiros intensamente avançando em direção ao acampamento principal, e ele usava uma capa magnífica. Quando o homem de capa viu Ludwin, ele apontou a espada desembainhada em sua direção.

— Você! Quem é você?! — gritou o homem.

— Sou o Capitão da Guarda Real, Ludwin Arcs.

— Hmph, uma unidade ornamental da capital, é isso?

— Diga o que quiser! Assim que o derrotarmos, a guerra estará acabada! — Ludwin esporeou seu cavalo favorito para a frente. Quando o fez, os apoiadores que cercavam o homem de capa se dispersaram em diferentes direções, como se já tivessem combinado que fariam isso.

Os apoiadores de Gaius o abandonaram?!

Por um momento, Ludwin achou o comportamento deles estranho, mas precisava se concentrar no homem à sua frente. Parecia que tudo que o homem de capa poderia fazer era desviar dos golpes desferidos por Ludwin com a sua espada.

— Guh… Você luta bem, considerando que a sua unidade só existe para ficar de enfeite — grunhiu o homem.

— Não importa onde me coloque em exibição, minha lança existe para perfurar os inimigos de Sua Majestade! — declarou Ludwin.

Ludwin golpeou a espada que era apontada para ele com a sua lança, golpeando com toda a força em direção ao agora indefeso torso do homem. Sua lança acertou em cheio, empalando o homem e perfurando a sua capa.

Ele cuspiu sangue e baixou a cabeça, mas estava sorrindo.

— Muito bem… Mas isso não significa nada…

— O quê?

Então o homem ergueu o rosto e gritou:

— Vossa Alteza! Realize o nosso maior desejo…!

Olhando para o homem que morria, Ludwin ficou chocado.

Quando pensou melhor nisso, percebeu que não fazia ideia de como era o rosto do governante de um país com o qual não tinham contato diplomático. Se Gaius, por exemplo, tivesse acabado de mandar que um de seus apoiadores usasse a sua capa, Ludwin confundiria essa pessoa com ele.

E se Gaius fosse um daqueles cavaleiros que se espalharam em várias direções…?!

Ludwin respirou fundo e gritou:

— Sua Majestade!

Quando ele se virou, viu um único cavaleiro avançando em direção ao acampamento principal.

— Tenho um relatório! Há um cavaleiro inimigo avançando sobre este acampamento principal a uma velocidade incrível! — gritou um soldado, correndo para o acampamento principal.

Isso foi quando estava acabando de fazer o meu pedido a Carla.

Ainda bem…, pensei. Parece que foi a tempo.

Carla estava com os olhos arregalados de surpresa, rangendo os dentes e olhando para mim.

— Isso é… uma ordem?

— Não, acho que não precisa ser — falei. — Tenho certeza de que você vai fazer, seja uma ordem ou não.

Fui tocar a coleira de escrava de Carla, mas ela bateu na minha mão.

Na mesma hora, gemeu de dor. Ela tinha batido em seu mestre enquanto usava uma coleira de escrava, então é claro que isso aconteceria.

— Urgh… Não seja ridículo… — disse Carla, olhando para mim mesmo enquanto sofria.

— Carla?! O que você está fazendo? — perguntei.

— Não seja ridículo! Eu nunca poderia ter ouvido esse pedido! — Ela ficou furiosa, como se a coleira apertando não significasse nada.

— Não, só estou dizendo que se acontecer o pior… — falei.

— Agh! Chega! Não me responda! Só dê a ordem para “matá-lo”! — gritou Carla, apontando na direção de onde o cavaleiro inimigo chegava. — Graças a esta coleira de escrava, não posso sair do seu lado sem a sua permissão! Apenas me dê permissão, agora! Eu cuido dele!

— Você está disposta a lutar por mim…? — perguntei.

Não pude acreditar, mas Carla soltou um “Hmph!” indignado.

— Não estou fazendo isso por você — disse ela. — Só estou fazendo isso porque não quero que Liscia te veja com essa cara.

Que cara? Que tipo de cara eu estava fazendo?

Era uma cara assustadora? Ou era uma cheia de tristeza? Estava lamentável?

Quando toquei no meu rosto, tentando descobrir, Carla bateu os pés, indignada, e voltou a exigir:

— Eu já disse, me dê a ordem! Pelo amor de Liscia, diga-me para “matá-lo”!

— Vou permitir isso… — falei, por fim. Se ela dissesse que era por Liscia, então eu provavelmente poderia confiar. — Por favor, Carla. Mate aquele cavaleiro e acabe com esta guerra.

— Entendido!

Com essas palavras, ela baixou a cabeça e pegou uma espada longa de cada um dos dois guardas que estavam por perto. Então abriu as asas e alçou voo.

Ela pairou no ar por um tempo enquanto procurava pelo alvo, então mergulhou como um falcão que encontrou a presa e voou para o sul.

— Carla… Vou transferir a minha propriedade sobre você como escrava para Liscia.

Foi o que Souma de repente disse para ela.

Claro, era possível passar a propriedade de uma coleira de escravos para outra pessoa, caso o mestre assim quisesse. Entretanto, se fizesse isso, ela poderia prejudicá-lo. Então, por que de repente disse aquilo?

Quando Carla perguntou, Souma apontou para o esquadrão suicida que se aproximava.

— Aquele esquadrão suicida está me visando. No pior cenário, vão continuar destruindo tudo mesmo depois de arrancarem a minha cabeça. Nesse ponto deverá ser fácil eliminá-los. Então, tenho um pedido. Se eu cair nesta batalha, diga para Liscia: “Deixo o trono para você”. Bem… Essa é a minha última vontade.

— Sua última vontade? Isso é sério?

Quando ela perguntou isso a ele, o rosto de Souma assumiu uma expressão séria, e então disse:

— Estou falando sério. Sou o rei, então tenho que levar o pior cenário possível em conta. Eu me sentiria mal se empurrasse as coisas para ela com o trabalho pela metade, mas, bem, se pudermos simplesmente derrotar Gaius, Van vai cair com bastante facilidade. Se ela fizer o que Hakuya disser, ficará tudo bem.

Depois de dizer isso, Souma sorriu.

Quando ela viu o seu sorriso… Carla percebeu que havia entendido alguma coisa de forma errada.

O rei era a pessoa mais poderosa do país, então pensou que ele poderia controlar tudo. Vendo as coisas como uma guerreira que servia ao rei, era assim que passou a ver a imagem de um rei.

Foi por isso que Carla pensou que Souma havia usurpado o trono.

Ela pensou que ele tinha sido seduzido por aquele tremendo poder, enganado o bondoso rei Albert para entregá-lo, e que forçara Liscia a um noivado indesejado, tentando usá-la para cimentar o seu poder. Embora mais tarde tivesse descoberto, pelas cartas de Liscia, que estava errada, ainda nutria essas dúvidas em algum canto do seu coração. Foi por isso que seguiu Castor até o amargo fim, quando escolheu morrer por sua amizade com Georg.

Souma realmente não foi seduzido pelo poder e autoridade? Mesmo estando prisioneira dele, Carla refletia a respeito disso.

Entretanto… com as anteriores palavras de Souma, ficou claro para ela.

“Carla, eu posso ser uma “farsa”.”

“Afinal… Se não posso assumir o papel de rei, não posso enviar soldados para o campo de batalha.”

Ele tinha que entrar no papel. Essa era a prova de que sabia que não era um rei.

Souma nunca quis ser rei…

Se ele tivesse uma atitude despreocupada e fosse capaz de ignorar a responsabilidade que vinha com esse poder, poderia ter se tornado rei sem se preocupar muito com essas coisas. Porém, para quem entendia essa responsabilidade, o poder nada mais era do que um fardo. Souma estava conseguindo suportar esse fardo enquanto desempenhava um papel.

As coisas que ela pensava que ele havia roubado, na verdade, foram forçadas a ele por outras pessoas.

Por Sir Albert, o rei anterior, por Liscia, por seus vassalos, pelo povo deste país, foi forçado a carregar todo tipo de fardo, pensou Carla. Quando ouvi Souma falando tão facilmente sobre a sua própria morte, pensei que pudesse estar se sentindo mal, mas… Eu estava errada. Se há algo de errado com ele, não é com o seu corpo, e sim com a mente.

A mente de Souma estava lentamente sendo consumida pela pressão.

Liscia percebeu isso. É por isso que está tentando com tanta sinceridade, com tanta coragem, apoiar Souma.

Carla também percebeu, mas já era tarde demais.

Tarde demais… Sim, tarde demais…

Ela já era uma criminosa à espera de julgamento. Mesmo que lutasse por Souma, a esta altura, de nada adiantaria.

Mesmo assim, quando o viu deixar o trono e seu último testamento para Liscia, quando sua vida estava em perigo, ela não poderia simplesmente deixá-lo. Se Souma morresse nesse lugar, Liscia ficaria triste.

Minha teimosia cega já a fez sofrer demais. Não vou deixar a Liscia ficar ainda mais triste!

Carla preparou as suas duas espadas.

— É por isso que vou te matar! — gritou ela para o general a cavalo que galopava sozinho para o acampamento principal.

— O quê?! — gritou o homem.

Carla disparou para baixo, jogando todo o seu ímpeto em um golpe baixo com as espadas em ambas as mãos. Ela planejava terminar tudo em um instante com aquele ataque surpresa.

Entretanto, o general inimigo bloqueou com suas próprias duas espadas. Ela pensou que tinha pego ele desprevenido, mas devia ser um guerreiro muito capaz.

Carla dobrou o corpo em forma de V, usando o impulso restante para acertar um chute em seu torso exposto.

— Urgh…

O general inimigo foi derrubado do cavalo, caindo no chão. Ele, entretanto, levantou-se de imediato, preparando a sua espada e olhando para Carla.

— Você… Você é uma dragonata, não é? — demandou ele.

— Suponho que você seja um general bem informado — respondeu ela. — Me chamo Carla, filha de Castor Vargas.

— Castor? Ele não se rebelou contra o rei?

— Sim… É por isso que estou neste estado lamentável — disse Carla, apontando para a coleira de escrava no pescoço.

Quando o general inimigo viu aquilo, rugiu:

— Então dê um passo para o lado! Meu único objetivo aqui é arrancar a cabeça de Souma!

— Infelizmente, não posso deixar que faça isso — disse ela.

— Souma não devia ser seu inimigo também?!

— Ele era, mas também é o homem que minha melhor amiga ama. Não posso deixar que o mate.

— Você não está fazendo sentido! Muito bem, então você pode morrer com ele! — O general inimigo atacou Carla.

Ela cruzou as espadas para bloquear, mas aquele golpe poderoso a forçou a se ajoelhar.

— O quê?! Isso é mesmo o poder de um humano?! — ofegou ela.

Para fazer uma dragonata, muito mais poderosa do que um humano, ajoelhar-se… Era difícil acreditar que era um general humano.

— Enquanto vocês do reino se sentam sobre os louros, nós melhoramos nossa magia e proezas marciais! — gritou o homem.

— Entendi… Magia de terra, hein.

Como mencionado quando os reforços chegaram da aldeia dos Elfos Negros, a magia da Terra manipulava a gravidade. Ele devia ter aumentado a força do seu golpe, tornando a ponta da sua lâmina mais pesada no momento do impacto.

O inimigo gritou enquanto tentava esmagar Carla.

— O desejo de longa data da nossa família real é se vingar de Elfrieden! Para isso, polimos as nossas presas e afiamos as nossas garras! Realizarei o desejo de três gerações da nossa família real, aqui e agora!

— Entendo… Então você é Gaius, não é? — perguntou ela.

Tendo discernido a verdadeira identidade do general inimigo, Carla desviou a lâmina pesada dele de lado com um movimento suave da espada em sua mão direita, em seguida, usou a espada na mão esquerda para dar um corte diagonal para cima. Justo quando ela quase o pegou, Gaius deu um salto para trás.

Carla apontou a lâmina dela para ele.

— Se você é o príncipe soberano… não deveria se preocupar mais com o seu povo do que com vingança?

— Hmph! — Gaius cuspiu. — Eu ficaria muito triste se me permitisse pensar como os fracotes da família real de Elfrieden. No Principado da Amidônia, um rei é aquele que pode usar a sua força de vontade e armas para manter o povo sob controle!

— Certo… — disse Carla. — Quando olho para você, Albert começa a parecer um grande governante, se for comparar.

Ele podia não ter sido especialmente bom ou mau, mas o reinado de Albert foi ao menos pacífico. Gaius havia começado uma guerra porque se importava mais com o seu próprio desejo de vingança do que com a forma como o seu povo vivia. Ela jamais poderia aceitar alguém assim como rei.

— Eu não gostaria que Souma se tornasse um rei como você… — murmurou Carla.

— Hmph, não preciso que os meus inimigos me amem… Hah! — Gaius de repente colocou a mão no chão.

Em um instante, espinhos começaram a surgir do solo, cercando Carla. Eles cresciam e corriam em sua direção.

Ela evitou um impacto direto, mas como o solo ao seu redor tinha tantos espinhos brotando que parecia até um ouriço, suas asas acabaram ficando presas e ficou incapaz de se mover. Por mais estranho que pareça, Carla foi coincidentemente capturada pela mesma tática que Liscia havia usado para capturar Castor.

— Droga! — gritou ela, tentando de tudo para se libertar.

— Agora você vai pagar caro por bloquear o meu caminho — disse Gaius. Ele empurrou a espada na direção dela.

Carla, apesar de tudo, fechou os olhos com força.

Baque…

Então ouviu o som de alguém sendo apunhalado.

Porém, não houve dor… Quando abriu os olhos, hesitante, havia uma coisa toda rechonchuda bem na sua frente. Era uma coisa redonda, grande e branca. Quando olhou mais de perto, notou que era um boneco grande o suficiente para ter uma pessoa dentro. Aquele boneco rechonchudo ficou entre Carla e Gaius, bloqueando a espada do homem com o corpo.

— Quê…?! — Carla e Gaius arregalaram os olhos diante da repentina aparição do boneco.

Então…

— Afaste-se, Carla!

Ela recuperou os sentidos assim que ouviu aquela voz. Então libertou-se do chão que a prendia e escapou. Quando recuperou o equilíbrio e olhou para a fonte da voz, voltou a arregalar os olhos.

— Você… Souma Kazuya?! — gritou Gaius.

Ele parecia também ter percebido.

Quando o notaram, Souma Kazuya estava a cerca de vinte metros de distância dos dois. Havia quatro bonecos com o mesmo formato daquele que protegeu Carla flutuando ao seu redor no ar. O que protegeu Carla foi um Pequeno Musashibo tamanho grande, enquanto os que estavam ao redor de Souma eram de tamanho médio.

— Seu idiota! O que você está fazendo aqui?! — Carla pousou ao lado de Souma e o repreendeu.

Ele deu de ombros e disse:

— Só sobrou esse cara. Nossos aliados logo estarão reunidos aqui. Então decidi que, ao invés de esperar no acampamento, mataria algum tempo aqui enquanto luto ao seu lado.

— Se você morrer, a Liscia vai ficar triste, e você sabe disso! — gritou ela.

— Sim. É por isso que vim para cá — disse ele. — Para viver. É melhor juntarmos o nosso poder. Em vez de lutarmos sozinhos contra ele, as chances de sobrevivermos ficará melhor caso cooperemos desde o início.

Dito isso, Souma balançou o braço à sua frente. Quando fez isso, dois dos Pequenos Musashibos de tamanho médio que portavam bestas dispararam contra Gaius.

As flechas voaram direto contra ele, mas o homem chutou o Pequeno Musashibo grande que estava no seu caminho para o chão e cortou as duas flechas no ar.

Desta vez, quem ficou pasmo foi Souma.

— Você consegue se defender disso?

— Tome cuidado — advertiu Carla. — Esse homem é muito poderoso.

Com essas palavras de cautela, Souma se preparou para o que estava por vir.

— Souma Kazuya! — uivou Gaius, um brilho intenso em seus olhos. — Vou derrotá-lo e destruir o reino.

— Odeio discordar, mas tenho certeza de que o reino não será destruído, mesmo que você me mate… — Apesar de Gaius o assustar, Souma estava com um enorme sorriso no rosto. — Eu reuni várias pessoas talentosas. Elaborei uma malha rodoviária, retrabalhei a infraestrutura das cidades e preparei todas as bases para um futuro próspero. Mesmo se eu morresse, tenho certeza de que alguém poderia assumir as coisas e controlar tudo perfeitamente.

— Então eu vou acabar com isso tudo! — Gaius esticou o braço. Naquele instante, uma pedra bateu no chão, onde estavam.

— Não permitirei! — gritaram Souma e Carla em uníssono.

Primeiro, dois Pequenos Musashibos médios carregando escudos se moveram para bloquear o ataque. Carla, ao mesmo tempo, deu a volta até ficar ao lado de Gaius e deu um soco nele.

O homem bloqueou o ataque com a sua espada, então a chutou para afastá-la e cobriu o seu corpo com a sua capa para se proteger de mais duas flechas disparadas por Souma. Neste mundo onde a magia podia ser anexada às coisas, até mesmo uma capa era uma peça de armadura.

— Droga. Sei que ele é um rei, mas é forte demais… — resmungou Souma.

— Ele foi treinado de uma forma bem diferente de você, tenho certeza… Hahh! — Carla cuspiu fogo na direção de Gaius.

— Urkh. — Gaius bloqueou as chamas com outro movimento de sua capa. Ele então lançou outra pedra.

Souma bloqueou o ataque com um dos escudos de seus bonecos, mas percebeu que sua defesa estava lentamente se quebrando. Nesse ritmo, não iriam conseguir nem mesmo ganhar tempo.

Ele, então, pensou em algo…

— Vá! — gritou.

Souma fez com que o Pequeno Musashibo caído se levantasse e atacasse Gaius. O homem gritou: “Sua praga!” e cortou, mas só conseguiu cortar a metade de cima, então o Pequeno Musashibo grande envolveu os braços ao seu redor.

— O quê?! — gritou Gaius.

— Agora, Carla! Queime o boneco!

— Hein?! Por quê…

— Só faça! Rápido!

— T-Tá!

Sem saber por que estava fazendo aquilo, ela cuspiu chamas no Pequeno Musashibo grande. Houve um brilho cegante quando as chamas acertaram o boneco, seguido por…

Boom!

Gaius foi pego pelas chamas e uma nuvem de fumaça preta.

Explodiu. Tendo explodido perto dele, Gaius foi arremessado por cerca de dez metros no ar.

Quando o homem caiu de costas, estava todo queimado.

— O que foi aquilo? — perguntou Carla ao se aproximar.

Souma respondeu à pergunta, aliviado por ter funcionado.

— Guardo todos os tipos de ferramentas na cesta de vime daquele boneco. Lembrei que também coloquei uma coisa parecida com uma bola de cerâmica cheia de pólvora. Você a acendeu e ela explodiu. Depois de ser pego por uma explosão dessas, até Gaius deve…

— Ele está se movendo… — disse Carla.

Ao ouvi-la, Souma pôde ver por si mesmo e duvidou dos próprios olhos.

Mesmo tendo sido pego pela explosão, Gaius estava se levantando. Ele estava com ferimentos graves por todo o corpo, mas tropeçou em direção aos dois igual a um zumbi.

— Eu… vou destruir… o reino… e mostrar… o espírito da Amidônia… — murmurou Gaius, seus olhos desfocados.

Ele, na verdade, parecia um pedaço solidificado de tenacidade.

— Mas que sujeito… — Carla deixou essas palavras escaparem e Souma concordou com ela.

Gaius continuou avançando, movido pelo propósito único de destruir o reino. Souma sentia medo e reverência pela sua tenacidade. Então…

Twang, twang, twang, twang, twang!

O corpo do homem foi crivado por inúmeras flechas. Depois de reorganizar a sua unidade, os arqueiros finalmente chegaram e dispararam uma saraivada de flechas em direção de Gaius.

Ele parou no meio do caminho, seu corpo começando a tremer.

Ele vai cair… No momento em que Souma pensou nisso, Gaius trocou a posição que segurava a espada para um aperto reverso e, reunindo toda a força que lhe restava, atirou-a como se fosse uma lança.

A espada traçou um arco enquanto voava, cravando no chão, bem perto dos pés de Souma.

— É isso que a sua tenacidade pode fazer…? — Souma deixou essas palavras escaparem com um suspiro de admiração. Então disse a Gaius, embora não soubesse se ele podia ouvir: — Eu vi o espírito da Amidônia! As histórias do seu valor serão contadas por muito tempo! Príncipe Gaius VIII da Amidônia. Eu… Rei Souma de Elfrieden, por toda a minha vida, não esquecerei o terror que você inspirou em mim!

Quando Souma disse isso, Gaius pareceu sorrir um pouco.

Então tombou suavemente para a frente, para nunca mais se levantar.

Souma queimou aquela visão final do homem em sua memória. Então, olhou para a espada aos seus pés.

— Eu talvez pudesse aprender com a tenacidade obstinada dele.

— Se você acabar ficando igual a ele, a Liscia vai chorar — disse Carla, que estava ao seu lado.

— Sim, acho que choraria…

Com essas palavras, Souma aproximou-se dos restos mortais imóveis de Gaius, juntou as mãos e orou. Sem saber o significado por trás do gesto, Carla inclinou a cabeça para o lado, confusa.

— O que você está fazendo? — perguntou ela.

— Todo mundo se torna um Buda depois de morto… um deus, em outras palavras. É um costume do meu outro mundo. É por isso que estou rogando para que ele encontre o seu caminho para o Nirvana6Nirvana, no Budismo, é o estado de libertação do sofrimento, uma superação do apego aos sentidos, do material, da existência e da ignorância; a pureza e a transgressão do físico, a qual busca a paz interior e a essência da vida..

— Está orando por este monstro obcecado pela vingança? — perguntou ela, incrédula.

— Essa é mais uma razão — disse ele. — Você não gostaria que ele voltasse como fantasma para me amaldiçoar porque deixou arrependimentos para trás, não é?

— Essa sua religião é meio calculista.

Souma se levantou rindo, depois olhou para as mãos e voltou a suspirar.

— É a primeira vez que vejo alguém sendo assassinado…

Quando Souma disse isso, Carla olhou para ele, incrédula.

— O que você está dizendo, depois de tudo o que fez? Tenho certeza de que você já deve ter em algum momento ordenado que seus soldados matassem alguém.

— Você realmente não se segura, hein…

Enquanto os dois discutiam, seus camaradas que ficaram sabendo sobre a crise no acampamento principal finalmente chegaram. Liscia, Aisha, Ludwin, Halbert e Kaede reagiram com surpresa ao ver o corpo caído de Gaius.

Liscia correu e o abraçou.

— Souma, você também lutou?! Você está bem? Você não se feriu, não é?

Enquanto ela conferia todo o seu corpo, Souma começou a exibir um sorriso irônico.

— Estou bem, sério. Nós conseguimos dar um jeito de lidar com ele até a ajuda chegar.

— Entendo — disse Liscia. — Obrigada, Carla… Por proteger o Souma.

— Aconteceu por sorte… — Carla ficou com vergonha de dizer “Fiz isso por você”, então virou a cabeça para o lado e ficou quieta.

Enquanto observava as duas, Souma bateu palmas para chamar a atenção delas.

— Bem, as coisas estão resolvidas por aqui. Vamos para Van.

Quando ele e seus companheiros começaram a se mover, viu o corpo de Gaius sendo carregado. Pelo vislumbre do rosto do homem, deu para perceber que ele realmente parecia satisfeito.

Para você, com suas proezas marciais… esse talvez fosse o único caminho que pudesse escolher, pensou Souma. Você realmente acreditava que se vingar do reino levaria o povo do principado à glória. Não quero negar essa sua forma de pensar.

Para evitar de estragar o clima de vitória, Souma ofereceu suas preces em silêncio.

Não acho que você estava certo. Mas também não acho que estava completamente errado. Mesmo assim, agora que te derrotei, seguirei em frente…

Para proteger Liscia, e todos aqueles que considero como a minha família…

Algumas horas depois, Van, a capital da Amidônia, abriu os portões com a condição de que os defensores da cidade fossem poupados, e que todos aqueles que desejassem partir fossem autorizados a partir (não seriam autorizados a levar mais bagagem do que poderiam carregar), e que os restos mortais de Gaius fossem devolvidos. Quando Souma levou todo o seu exército para Van, a série de batalhas que viria a ser conhecida como a Guerra de Uma Semana chegou ao fim.

Entretanto, foram apenas as batalhas que acabaram.

 


 

Tradução: Taipan

 

Revisão: Milady

 


 

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Vol. 02 - Cap. 09.2