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Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 02 – Cap. 08.2 – Declaração de Guerra

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No crepúsculo, enquanto a lua era escondida pelas nuvens, as forças do principado corriam com tochas em mãos.

A horda de 30.000 homens portando tochas se movia como uma cobra rastejando pelo chão. A visão, de longe, devia parecer fantástica. Entretanto, da perspectiva dos homens em questão, estavam apenas sendo forçados a correr enquanto estavam cobertos de suor e sujeira.

À frente dessas tropas, o Príncipe da Amidônia, Gaius VIII, estava no centro da unidade de cavalaria que liderava o caminho. Cercado por cinco guarda-costas, cada um portando uma tocha, ele conduzia o seu cavalo feito um possesso.

Sua expressão estava sombria. Isso era tudo culpa daquele jovem rei.

Aquele que havia incitado Gaius e seus homens usando as terras que haviam perdido, a fértil região produtora de grãos. Isso deixou a capital, Van, exposta, com seu flanco, normalmente protegido por uma firme defesa, livre. Elfrieden então aproveitou a chance para um ataque.

Georg Carmine estava bloqueando a rota para a capital, mas resistiu por apenas dois dias desde o ultimato. Neste momento, Gaius tinha ouvido falar que as forças de Souma, o Exército Proibido e o Exército, estavam avançando sobre Van com 55.000 tropas.

Van foi construída para bloquear as incursões do Reino e dar uma base para servir como linha de frente diante da ocasião de qualquer invasão de Elfrieden. Graças a isso, não havia fortalezas entre o exército do Reino de Elfrieden e Van.

Devido ao quão passivo tinha sido o rei anterior, Albert, Gaius acabou baixando a guarda. Ele ficou cheio de si, tratando o Reino de Elfrieden de forma leviana, acreditando que não teriam coragem de invadir outro país.

Agora que as coisas já tinham chegado tão longe, Gaius percebeu que foi enganado por Georg e Souma.

Muita conspiração pode resultar no fim de um conspirador. Um conspirador costuma esquecer que também pode ser vítima de conspirações alheias. E foi isso que aconteceu com Gaius.

Isso é terrível! E pensar que essa nação de fracotes, Elfrieden, poderia me fazer passar por tanto sofrimento!, pensou ele com amargura.

Enquanto fazia o seu cavalo correr, amaldiçoou o seu próprio descuido.

Quando se viu acuado pelo expansionismo de Elfrieden, há duas gerações, o Rei da Amidônia perdeu metade de suas terras e morreu em desespero. Para garantir que nunca esqueceriam daquela derrota mortificante, o pai de Gaius mudou o nome do país de Reino da Amidônia para Principado da Amidônia. Era uma demonstração de determinação, já que o homem sentiu que não poderiam se chamar de reino após ter metade de suas terras roubadas.

Ele se autodenominou Príncipe Soberano e, desde então, a Amidônia tratou a retomada de suas terras perdidas como uma política nacional, sempre observando de perto qualquer chance que aparecesse para alcançar esse objetivo.

Quando aquele Rei de Elfrieden morreu, Albert assumiu o trono. (Ou, mais precisamente, casou com a filha daquele rei, aquela que herdou o direito de sucessão.) Quando isso aconteceu, a Amidônia aproveitou da passividade dele para estender uma mão maquinadora sobre a nobreza do país vizinho e apoiar o crescimento de grupos dissidentes dentro do reino.

Isso continuou mesmo após a morte do pai de Gaius, que assumiu o trono como Gaius VIII.

A maioria desses nobres foi esmagada por Georg e Excel, mas os demais que participaram do esquema foram para a clandestinidade, lentamente exaurindo o reino. Estava correndo tudo bem.

Albert não tinha muito potencial como rei, mas a diferença de força entre o reino e o principado continuava grande.

Sendo a nação menos poderosa, a Amidônia só foi capaz de pacientemente esperar pela sua oportunidade.

E então, por fim, a chance pela qual esperavam chegou. O Reino Demônio apareceu, e a crise alimentar e financeira causada por isso exauriu o reino. Então, com a repentina mudança de governantes, os três duques que deveriam proteger a nação se rebelaram contra o novo rei.

O principado juntou forças para um novo ataque. Nesse momento, sabiam, o reino não seria capaz de se mover com liberdade. Por fim chegara a hora de o Principado da Amidônia realizar o seu sonho… Sim, Gaius estava convencido disso.

Porém, ao fazer uma inspeção mais detalhada, teria mesmo sido esse o caso? Não era o Principado da Amidônia que estava agora encurralado?

Se perdermos Van, a Amidônia nunca mais vai se recuperar, pensou Gaius freneticamente. Se deixar isso acontecer, não poderei enfrentar os fantasmas dos meus ancestrais!

O rosto de Gaius VIII estava distorcido de tanta frustração.

Isso, porém, ainda não aconteceu! Ainda não terminamos! Van é uma fortaleza sólida. E a deixei nas mãos de 5.000 soldados de elite. Mesmo se o inimigo aparecer em grande número, devem ser capazes de resistir por dois ou três dias. Se conseguirmos alcançar Van nesse meio tempo e pegar as forças do reino em um ataque surpresa em pinça com as tropas dentro do castelo, teremos chances de vitória!

Foi o que Gaius pensou enquanto tentava se encorajar. Mas, conforme pensava nisso…

— Pai! — Julius galopou até o lado de Gaius. — Estamos avançando rápido demais! Nesse ritmo, não deixaremos apenas os carroções para trás, mas também a nossa infantaria! Sugiro que diminuamos um pouco o ritmo, e…

— Silêncio! — berrou Gaius. Ele ignorou por completo o conselho de seu filho e ainda gritou com Julius. — Se Van cair, nunca mais ascenderemos! Não importa o que aconteça, devemos chegar antes que Van caia! Então, pegaremos as forças do reino em um ataque em pinça com os soldados no castelo! — vociferou Gaius, fazendo Julius se sentir um pouco inquieto. Pareceu-lhe que, naquele momento, seu pai estava muito concentrado na capital e acabou ficando um pouco nervoso.

— Pai, mesmo que perdêssemos Van, nosso exército continuaria intacto — disse Julius. — Não poderíamos ir para uma cidade segura e procurar a ajuda do Império? Afinal, ao contrário do Reino de Elfrieden, assinamos a Declaração da Humanidade.

A Declaração da Frente Comum da Humanidade Contra a Raça Demoníaca (também conhecida como Declaração da Humanidade) era uma política proposta pelo maior e mais poderoso império do continente, o Império Gran Caos, para resistir aos avanços dos demônios.

Primeiro, a aquisição de territórios pela força entre as nações humanas seria considerada inadmissível.

Segundo, o direito de todos os povos à igualdade e autodeterminação seria respeitado.

Terceiro, os países distantes do Domínio do Lorde Demônio forneceriam apoio às nações adjacentes, que atuariam como uma muralha defensiva.

Esses eram os três principais artigos da Declaração da Humanidade.

A Amidônia havia assinado essa declaração, mas, mesmo após Souma assumir o trono, Elfrieden não o fez. Graças a isso, se a Amidônia procurasse o Império dizendo que suas terras tinham sido tomadas, como a principal potência por trás da Declaração da Humanidade e, portanto, aliada da Amidônia, o Império provavelmente pressionaria Elfrieden a devolver o que fora confiscado. (Embora o território perdido antes da Declaração da Humanidade não fosse afetado.)

Primeiro invadiram um país, depois reclamariam quando o mesmo acontecia com eles. Seria uma coisa capciosa, assim como o Ministro da Fazenda, Colbert, havia dito antes de partirem para a guerra, mas isso era culpa de Elfrieden, que se recusou a assinar a Declaração da Humanidade. Julius achava que essa era uma boa ideia. Em todo caso…

— Idiota! O Império não é a nação de coração mole que você pensa que é! — Gaius o abateu com impiedade. — Essa invasão se aproveitou de uma brecha na declaração. Sim, se enviarmos o pedido, o Império terá que agir, mas depois de termos feito o que fizemos, não manterão uma opinião positiva a nosso respeito. Eles com certeza gostariam de usar o que aconteceu como um pretexto para remover nós dois do poder, e depois transformariam nosso país em um estado fantoche.

Julius ficou em silêncio.

Assim que ouviu isso, ele não pôde dizer mais nada.

Gaius olhou para ele, bufando, depois ergueu a voz e ordenou:

— Se entendeu isso, então se apresse! Devemos chegar antes da queda de Van!

Porém, sua marcha forçada se deparou com um obstáculo.

Foi nas Montanhas Úrsula, que separam o Reino de Elfrieden da fronteira sul do Principado da Amidônia. Quando chegaram perto do Vale Goldoa, que era o caminho entre aquelas montanhas, homens e cavalos ficaram presos no solo lamacento, um depois do outro.

— O-O quê?! De onde essa lama saiu?! — gritou um soldado.

— Maldição! Meu cavalo ficou preso na lama! Alguém me ajude a puxá-lo para fora! — uivou um outro.

— Ah, vamos lá! Não tinha nenhum lugar assim no nosso caminho, tinha?! — gritou um terceiro.

Havia cavalos presos na lama por toda parte, com as pessoas lutando enquanto seus pés também ficavam presos.

Quando Gaius viu esse fiasco, ficou surpreso.

Haviam atravessado o Vale Goldoa em seu caminho de vinda. O solo não estava lamacento desse jeito, e ninguém ficou preso assim.

— Por quê…? — murmurou ele. — Não pode ter chovido. Por que a estrada está tão ruim?

Como se em resposta aos murmúrios de Gaius, um único soldado gritou:

— A-Ataque inimigo!

No momento seguinte, houve o som de flechas voando pela escuridão, depois o de algo quebrando violentamente. Cada vez que aquele som soava, os soldados Amidonianos caíam, um depois do outro. Quando um dos soldados que estava carregando uma tocha perto dele caiu do cavalo soltando um grito abafado, Gaius sentiu um mal-estar surgindo dentro de si.

— O quê?! O que está acontecendo?! — gritou.

Um soldado se apressou para entregar um relatório.

— É uma emboscada inimiga! Parece que o reino deixou algumas tropas esperando por nós neste vale! O inimigo está escondido atrás das árvores, atirando flechas e gelo em nossa direção!

— Gelo, você disse? — vociferou Gaius.

— Suspeitamos que alguns magos de gelo estão misturados entre os inimigos!

— Magos… Claro! Maldição, essa lama toda também deve ser trabalho deles! — Gaius explodiu.

Vendo que o rosto de seu pai havia se transformado em uma máscara de fúria, Julius desesperadamente tentou fazê-lo parar.

— Por favor, acalme-se, Pai! A força principal do exército do Reino está seguindo em direção a Van. Os soldados à espreita não podem ser muitos. Além disso, é impossível manobrar uma força muito grande por este caminho estreito. No momento, nosso melhor curso de ações é atravessar o vale o mais rápido possível.

— Urgh, mas com o caminho tão ruim assim… — murmurou Gaius.

— Vamos mandar os soldados na frente… — disse Julius. — Nosso caminho será por onde não ficarem presos na lama.

Gaius arregalou os olhos diante de uma sugestão tão cruel.

— Quer que eu descarte meus soldados como se fossem peões de sacrifício?

— Temos poucas escolhas… — disse Julius. — Se acontecesse o pior e você fosse abatido, Pai, os exércitos do principado estariam acabados. Assim não seríamos mais capazes de lutar contra o reino. Por favor, tome essa decisão.

— Suponho que não tenhamos escolhas… — disse Gaius.

Sacrificar os seus soldados para encontrar uma rota de fuga. Se suas posições fossem invertidas, Souma ficaria muito angustiado para escolher tal opção, mas Gaius fez isso na mesma hora.

Para o Principado da Amidônia, seu desejo de vingança contra o Reino de Elfrieden já havia se tornado uma parte da sua identidade. Era justo dizer que, por mais que estivessem cercados por nações poderosas e tivessem caído em uma crise alimentar e financeira, a Amidônia era capaz de continuar com uma vontade de ferro graças ao seu desejo de vingança contra Elfrieden. Não se importavam com o sofrimento, contanto que seus inimigos sofressem mais.

Na verdade, até mesmo os cidadãos que estavam sofrendo atribuíam suas desgraças não às elites excessivamente exageradas que tinham gasto muito com o exército, mas ao reino que havia há muito tempo roubado a prosperidade de outrora.

Mesmo com 50 anos já tendo passado.

Mesmo com os cidadãos comuns nessa situação, as elites começaram a pensar que não havia problema em sacrificar qualquer coisa para lutar contra o reino. Neste país, aqueles como Roroa e Colbert, que pensavam em tentar fazer o melhor que podiam com o que tinham, eram minoria.

Gaius, por exemplo, estava menos preocupado com a perda de seus soldados do que com a perda da capacidade de lutar contra o reino. Ele foi capaz de dar a ordem sem hesitar.

— Avancem as tropas! Precisamos nos apressar para o outro lado do Vale Goldoa!

Com essa ordem cruel emitida, em uma reversão do que tinham feito até então, a infantaria tomou a frente, com a cavalaria avançando logo atrás, ignorando os soldados a pé presos na lama enquanto seguiam pelas rotas seguras.

Era uma cena horrível.

Não seria tão ruim se estivessem apenas presos na lama. Mas, com dezenas de milhares de soldados sendo emboscados, não havia como permanecerem em fileiras ordenadas. Estavam se espalhando, então é claro que alguns tentaram passar por cima dos soldados que acabaram encalhados. Esses soldados presos foram pisoteados e esmagados por cavalos, morrendo de uma forma terrível demais para se ver.

Havia um grupo assistindo aquela amostra do inferno se desenrolando, um que estava entre o topo das árvores na encosta da montanha. O grupo estava vestido com armaduras pintadas de preto, carregando arcos e varinhas mágicas, e havia um pano preto enrolado em seus rostos.

Tratava-se de uma unidade de comando do reino que a Amidônia acabara de atacar. Havia, talvez, 2.000 deles. A figura central daquele grupo vestido de preto tinha uma constituição frágil, mas suas proporções deixavam claro que era uma mulher, mesmo com aquela roupa.

Ela era a líder da unidade de comando.

As pessoas lá embaixo não fizeram nenhuma tentativa de ajudar seus camaradas que afundaram no lamaçal. As forças Amidonianas no máximo pisaram neles enquanto batiam em retirada.

Quando ela pensou que os humanos poderiam se tornar ainda mais cruéis pela sobrevivência, estremeceu por um momento.

Há momentos em que um rei deve dar ordens cruéis, pensou ela. Entretanto, quando ele mostra tão pouca hesitação, percebo que não gosto dele tanto como pessoa quanto como rei.

Enquanto ela pensava nisso, um de seus subordinados apareceu com um relatório.

— Lady Canaria, o grupo líder das forças do principado conseguiu atravessar o vale. Devemos persegui-los?

Em resposta, a líder balançou a cabeça.

— Não é necessário. Nossa missão é atrapalhar e paralisar o inimigo. Além disso, nossa força é de apenas 2.000 tropas. Mesmo se os perseguirmos, não podemos esperar por resultados melhores do que os que já obtivemos. Já fizemos o suficiente. Prepare-se para a retirada.

— Sim senhora! — falou ele.

Assim que o subordinado entregou o seu relatório e se retirou, ela removeu o pano enrolado ao redor do seu rosto.

No mesmo momento, as nuvens que cobriam a lua recuaram, o luar refletindo em seu lindo cabelo azul.

Linda até no simples ato de pentear o cabelo para trás, esta era a lorelei do reino, Juna Doma.

Quando ela apareceu diante de Souma, era a lorelei Juna que trabalhava em um café cantante, mas na Marinha era Canaria, a líder de 2.000 marinheiros, da única unidade destinada a lutar em operações anfíbias1Operação Anfíbia ou guerra anfíbia é um tipo de operação militar lançada a partir do mar por uma força naval ou de desembarque em navios ou embarcações envolvendo o desembarque em uma praia hostil ou potencialmente hostil..

Sim, a verdadeira identidade desta unidade de comando era o Corpo de Marinheiros, que se reportava a Excel Walter.

Juna ficou aliviada por ter cumprido a sua tarefa com êxito.

A Vó desempenhou bem o papel dela, pensou. Não pode ser eu quem vai estragar tudo.

Por “Vó”, se referia à Almirante da Marinha, Excel Walter. Além de lorelei e Canaria, Juna também assumia o posto de neta de Excel. Claro, com a longa vida e vários amores de Excel, ela deu à luz muitos filhos, e se contasse todos os seus netos e bisnetos… bem, tinha parentes o bastante para povoar uma pequena aldeia.

Com uma família tão grande, devia ser possível derrubar o reino usando apenas seus parentes de sangue. Era por isso que, para evitar suspeitas desnecessárias, Excel manteve o nome “Walter” para si. Quando seus filhos alcançavam a maturidade, ela os deserdava e enviava para se casarem em outras casas. Juna era filha de um dos filhos de Excel que se casou com membros da família de comerciantes Doma.

Ela, que herdou o belo rosto de Excel, olhou para os cadáveres cruelmente abandonados dos soldados Amidonianos e franziu a testa.

— Se os deixarmos lá, os animais locais podem desenvolver gosto pela carne humana… Isso seria problemático. Vamos resgatar os sobreviventes, prendê-los e enterrar os demais.

— Você vai ajudar os soldados Amidonianos? — perguntou seu subordinado.

— Depois de serem abandonados pelo seu próprio rei, Sua Majestade, Rei Souma, o rei de um estado inimigo, os salvará — disse ela. — Isso pode melhorar a reputação de Sua Majestade, e de forma alguma a prejudicará.

— Entendo.

Assim como a aura que ela exalava, o processo de pensamentos de Juna também era maduro. Depois de dar as ordens aos seus subordinados, olhou para o nor-noroeste2É um ponto subcolateral, NNO, NNW, MNN ou Nor-Noroeste é o ponto entre o norte e o noroeste.. Era essa a direção que imaginava que estavam Souma e os outros. Depois disso, Souma e os demais estariam dando início à batalha final com o Principado da Amidônia.

Juna levou a mão ao seu farto seio, fechando os olhos em meditação. Sua Majestade… Por favor, fique em segurança.

O fato de ela clamar por sua segurança, não por sua vitória, era devido aos seus sentimentos como Juna Doma, lorelei de Souma, se revelando.

A emboscada no Vale Goldoa matou muitas das forças Amidonianas em marcha rápida. Quando tentaram se reorganizar em grupos após deixar o vale, os 30.000 soldados foram reduzidos a 15.000. Isso indicava que, além daqueles que foram perdidos na emboscada e aqueles que foram pisoteados até afundarem no lamaceiro, havia um considerável número de soldados que também debandou.

Além disso, como os carroções não tiveram escolha a não ser abandonar os suprimentos e correr no meio do caos, as forças do principado estavam agora exauridas pela exaustão e pela fome.

O estresse dos soldados havia chegado ao pico e eles estavam a ponto de explodir a qualquer momento. Mesmo se conseguissem chegar a Van com os 15.000 homens e, depois, conseguissem lançar um ataque em pinça com os defensores, seria difícil derrotar a força de 55.000 homens do Reino de Elfrieden.

Em resposta a essa situação, Gaius VIII fez com que o capitão da equipe dos carroções assumisse a responsabilidade pela perda das provisões. Ele decapitou o homem para apaziguar os outros soldados.

Depois, reuniu provisões pelas aldeias e cidades próximas, convocando seu povo para elevar o total de suas tropas para 25.000 pessoas. Claro, isso causou algum ressentimento, mas com a existência do país em jogo, Gaius não se importou.

Embora isso tivesse permitido que assegurasse o número de soldados de que precisaria, suas forças estavam juntando provisões e soldados à medida que avançavam, então se moviam lentamente. Já haviam passado alguns dias desde o início da retirada, mas ainda não faziam ideia de quando chegariam a Van.

Depois de mais um dia, as forças Amidonianas finalmente chegaram perto o suficiente para talvez alcançar Van dentro de mais um dia. Porém, suas forças estavam cometendo um erro fatal por todo esse tempo.

Forçaram muito o avanço.

Poderiam questionar o que há de errado com isso, ou até mesmo pensar no que o próprio Sun Tzu3Sun Tzu foi um general, estrategista e filósofo chinês e principal nome relacionado a escola militar de filosofia chinesa. Ele é mais conhecido por seu tratado militar, A Arte da Guerra, composto por 13 capítulos de estratégias militares. disse: “Soldados valorizam a pressa”.

Mas, quando Sun Tzu menciona um “soldado”, está falando de “guerra”. O texto original diz: “Assim, embora tenhamos ouvido falar da pressa estúpida na guerra, a inteligência nunca foi vista sendo associada a longos atrasos.”

O que isso quer dizer é: “A guerra (por ser algo que esgota os países) é mais benéfica quando rapidamente resolvida, e nenhum país se beneficia de uma guerra prolongada.”

É por isso que os exércitos do principado deveriam ter prestado atenção às seguintes palavras do capítulo “Manobra” de A Arte da Guerra:

“Manobrar com um exército é vantajoso; com uma multidão indisciplinada, muito perigoso. Se colocar um exército totalmente equipado em marcha para obter uma vantagem, é provável que chegue tarde demais. Por outro lado, destacar uma coluna voadora4Uma coluna voadora é uma pequena unidade terrestre militar independente, capaz de mobilidade rápida e geralmente composta por todas as armas. Geralmente é uma unidade ad hoc, formada durante o curso das operações. O termo geralmente é aplicado, embora não necessariamente, a forças inferiores à força de uma brigada. em busca de resultados envolve o sacrifício de sua bagagem e provisões.”

“Manobra” é a competição entre duas forças que reivindicarão primeiro os locais estrategicamente importantes.

No caso da Batalha de Yamazaki5A Batalha de Yamazaki foi travada em 1582 em Yamazaki, como era chamada a fronteira entre as províncias de Settsu e Yamashiro, no Japão, entre Toyotomi Hideyoshi e Akechi Mitsuhide, querendo o primeiro vingar a morte do seu lorde, Oda Nobunaga, o qual foi assassinado pelo segundo. entre Hideyoshi Hashiba e Mitsuhide Akechi, isso era o Monte Tennouzan6O Monte Tenno foi tratado como o território chave que decidiria a Batalha de Yamazaki., enquanto na Guerra Russo-Japonesa, era a Colina 2037É um terreno elevado localizado no distrito de Lushunkou, Dalian, província de Liaoning, China. Em 1904-1905, uma das batalhas mais ferozes foi travada entre os exércitos japonês e russo no Cerco de Port Arthur, durante a Guerra Russo-Japonesa. Tem esse nome porque está 203 metros acima do nível do mar..

Claro, se conseguisse garantir esses pontos importantes antes do oponente, a batalha seria vantajosa.

Mas Sun Tzu diz que desenvolver uma fixação por esses pontos e competir por eles com o oponente é perigoso. Se enviar o exército todo, provavelmente chegará tarde demais, mas se enviar uma unidade rápida para cuidar do trabalho, acabarão deixando a equipe que carrega os suprimentos para trás.

Se isso acontecer, mesmo que conquiste o ponto em questão, acaba por ser inútil.

Além disso, Sun Tzu diz que se marchar cem li8Uma dentre as várias unidades de distância chinesas, um li é equivalente a cerca de 576 m. enquanto manobra, apenas um décimo do exército chegará ao destino, e os líderes de todas as três divisões cairão nas mãos dos inimigos. Se marchar cinquenta li, apenas metade do exército chegará ao destino, e o líder da primeira divisão será abatido.

Em outras palavras, se exaurir os soldados tentando capturar os pontos estrategicamente importantes e perder todos os suprimentos no processo, de nada adianta.

Se olhar o que os exércitos do principado fizeram, verá que visaram cegamente o ponto estratégico que era a capital, Van, abandonaram seus carroções de suprimentos e exauriram seus soldados sem necessidade.

Em outras palavras, fizeram exatamente o que Sun Tzu alerta a não fazer.

O que o exército do principado encontrou ao chegar à planície aberta dez quilômetros ao sul de Van foi um exército descansado do reino esperando por eles.

Quando Gaius viu as forças dispostas diante dele, toda a força abandonou seu corpo e ele quase caiu do cavalo.

— Isso é um absurdo… Não vai dizer que Van já caiu…?

Não havia ninguém que pudesse responder aos seus murmúrios.

Partindo direto para a conclusão, não, Van, neste ponto, ainda não havia caído.

Quando as forças de Elfrieden, comandadas por Souma, chegaram, um dia antes das forças Amidonianas, não fizeram nada estúpido como atacar os 5.000 soldados de elite sitiados em Van. Separaram 10.000 tropas para monitorar aqueles soldados, enquanto a força principal se movia para o campo aberto dez quilômetros ao sul da capital, esperando pela força principal do exército do principado que sem dúvidas estaria chegando.

O alvo de Souma, desde o começo, foi a força principal do exército Amidoniano. Foi por isso que disse a Gaius qual era o alvo do ataque, algo que normalmente deveria ser mantido em segredo.

Ao dizer que atacaria Van, ele ficaria à espera do avanço das forças do principado para lá, e então as destruiria.

Era um plano que se enquadra no sexto estratagema dos Trinta e Seis Estratagemas, “Faça barulho no leste, depois ataque no oeste”, mas também reencenava a Batalha de Maling9A Batalha de Maling ocorreu em Maling, atualmente cidade de Dazhangjia, condado de Shen, província de Henan, em 342 aC, durante o período dos Reinos Combatentes. Os combatentes foram o Estado de Qi, que lutou em nome do Estado de Han, e o Estado de Wei., da qual saíam as palavras do segundo estratagema: “Assedie Wei10Uei ou Wei foi um Estado chinês da Antiguidade, um dos sete a ascender durante o Período dos Estados Combatentes. Estava situado no que é hoje a província de Xanxim, no centro norte da China. Originalmente era um reino vassalo que foi anexado pelo vizinho Reino de Jim em 661 a.C. para resgatar Zhao11Chao ou Zhao foi um Estado chinês da Antiguidade, um dos sete a ascender durante o Período dos Estados Combatentes. Em 403 a.C., seu fundador Chao Ji e os líderes dos reinos de Uei e Hã partiram o Reino de Jim. Chao se estendia através do nordeste e centro de Xanxim e sudoeste de Hebei.“.

Essa era a estratégia que o segundo Sun Tzu, Sun Pin12Sun Pin foi um general, estrategista chinês, que viveu durante o Período dos Reinos Combatentes. Alegado descendente de Sun Tzu, Sun Pin recebeu formação em estratégia militar pelo filósofo Guiguzi., usou para derrotar seu rival Pang Juan13Pang Juan foi um antigo general militar chinês do estado Wei durante o período dos Reinos Combatentes.. Gaius não teve a chance de ver através disso.

Embora tivesse 25.000 tropas sob o seu comando, em comparação com aqueles soldados exaustos que tinham perdido a maioria de seus carroções de suprimentos, as forças do reino tinham rações suficientes, providas por Poncho, para alimentar todo o exército e passaram o dia descansando e esperando no campo, então estavam ansiosas para lutar.

55.000 soldados do reino em ótimas condições contra 25.000 soldados do principado exaustos.

A batalha foi decidida antes mesmo de começar.

No acampamento principal, no centro das forças do Reino de Elfrieden que assumiram a formação asa de garça14É, basicamente, uma formação de ataque que avança em forma de U em uma guerra., Souma levantou de seu banquinho, ergueu o braço direito bem no alto e depois o balançou em direção às forças do principado.

— Siiiiiiiiiim! — Um grito de vitória ergueu-se das forças do reino.

Com isso como sinal, a batalha final entre o Reino de Elfrieden e o Principado da Amidônia começou.

Lições das Expressões Históricas de Elfrieden: Número 4

“Deixe que ataquem o interior para tomar a capital.”

 

Tipo: Provérbio

Significado: Fazer algo com o mínimo de esforço.

Origem: Durante a Guerra de Uma Semana, Souma usou a cidade interiorana de Altomura como isca, depois usou a abertura criada para liderar um ataque à capital do Principado da Amidônia.

Sinônimos: “Perca a batalha para vencer a guerra”.

 


 

Tradução: Taipan

 

Revisão: Milady

 


 

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