Dark?

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 02 – Cap. 03.5 – História Extra 01 – A História de um Certo Grupo de Aventureiros 02

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Aconteceu poucos dias antes do ultimato aos três duques.

Eu estava em uma sala escura com Hakuya, examinando um grande mapa deste país que estava aberto sobre a mesa. Havia peões de vários tamanhos, todos em forma de “T” de cabeça para baixo, em vários pontos do mapa.

No ponto representando a capital real, Parnam, havia um peão grande e outro médio. Na cidade central do Ducado Carmine, Randel, havia quatro peões grandes. Na cidade central do Ducado Vargas, Cidade Dragão Vermelho, havia um único peão que era menor que os outros. Esses peões em forma de T representavam as forças posicionadas em cada local.

Hakuya estava usando uma vara longa para falar sobre cada um deles.

— Os peões grandes representam uma força de 10.000, os médios uma força de 5.000 e os pequenos uma força de 100. Em outras palavras, o número de tropas que você pode mobilizar é de 15.000, enquanto o Duque Carmine reuniu cerca de 40.000. São muitos os desertores do Exército, como Glaive Magna, mas parecem ter compensado suas perdas com as tropas pessoais dos nobres que estavam engajados na corrupção.

— Então, nenhuma mudança nos valores numéricos, hein — falei.

— Correto. Além disso, de acordo com as informações que recebemos da Duquesa Walter, o Duque Vargas fez o que declarou que faria. Ele não convocou a Força Aérea. Parece que ele pretende ir para a batalha com apenas 100 de suas tropas pessoais.

— Hm… Ainda assim, se são as tropas de Castor, são todos da cavalaria wyvern, certo? — Peguei um dos peões de tamanho médio ao lado do mapa e substituí o peão pequeno na Cidade Dragão Vermelho por ele. — Ouvi que um único cavaleiro wyvern pode fazer o trabalho de 500 soldados do exército. Se formos comparar o poder, devemos considerá-los o equivalente a 5.000 das nossas tropas. Mesmo se houver apenas 100 deles, não podemos subestimar o seu poder.

— Estou impressionado com seus astutos poderes de observação. — Hakuya se curvou reverentemente. Ele fez disso grande coisa, mas eu sabia que só devia estar me lisonjeando.

— Por favor, pare. Não fico feliz em apontar o quão ruim é a nossa situação.

— Suponho que não — disse ele. — Parece que a situação também está piorando…

Com essas palavras, Hakuya colocou três peões grandes na fronteira sudoeste com o Principado da Amidônia. Os três representavam as forças da Amidônia que estavam prestes a invadir este país.

— Os exércitos do Principado da Amidônia estão preparados para avançar pelos vales das Montanhas Úrsula para invadir — disse ele.

— O poder total deles estava em 50.000 para cima, certo? — perguntei.

O Principado da Amidônia tinha apenas metade do poder nacional do Reino de Elfrieden. Graças a isso, só podiam manter metade do exército de forma permanente. Além disso, o Principado da Amidônia compartilhava fronteiras com três outros países além de nós, então tiveram que deixar tropas para defesa.

— Dadas as circunstâncias, 30.000 é muito — falei.

— Graças a isso, você pode ver quão sério Gaius está, suponho — respondeu ele. — Ele está pronto para vencer ou morrer tentando.

— Isso vai nos dar trabalho — suspirei. — O que o principado fará a partir de agora…?

— Provavelmente pretendem ocupar a cidade de Altomura, no sudoeste — respondeu Hakuya. — Assim que Altomura cair, varrerão toda a oposição da área circundante e se moverão para assegurar a região produtora de grãos. Assim que tiverem total controle da área, imagino que a declarem parte de seu território.

Gaius estava mobilizando seu exército com a determinação de vencer ou morrer tentando, mas faria o equivalente a arrombar um prédio enquanto ele estivesse em chamas.

— Apesar de toda a sua determinação, ele não está fazendo muito — comentei.

— Com o poderio que a Amidônia possui, acredito que isso é o máximo que poderiam fazer — respondeu Hakuya. — Afinal, se ficarem muito fora de controle, os nobres que estão esperando para ver seu conflito com o Duque Carmine provavelmente se aliarão a você.

— Entendo… Qual é o poder de nossa força de defesa na fronteira? — perguntei.

Hakuya moveu o peão de tamanho médio que estava em Parnam para a fronteira sudoeste.

— Já despachei 5.000 do Exército Proibido para a área perto da fronteira.

— Estamos enviando uma força terrestre de 5.000 para enfrentar uma força de 30.000 que terá forças aéreas também, hein… — murmurei.

Os números eram piores que seis para um, e o lado com a desvantagem era o nosso. Eu sabia que seria esse o caso, mas… Não me senti bem com esses números.

— Quanto tempo podem aguentar…? — perguntei.

— Mesmo no caso de se fecharem na fortaleza próxima à fronteira, fariam bem se durassem um dia — respondeu ele. — A intenção é só ganhar tempo, então o comandante foi ordenado a não ser imprudente e realizar uma retirada coordenada.

— É mais fácil falar do que fazer… Mas ele pode conseguir, eu acho. Entretanto, mesmo se assumir que as tropas estão de acordo com isso… o que planeja fazer com as pessoas que vivem na área? — Direcionei um olhar severo a Hakuya.

A menos que estivessem esperando por uma emboscada, os exércitos evitariam as encostas íngremes e avançariam ao longo das estradas sempre em terreno plano. Essas estradas eram usadas para as idas e vindas diárias das pessoas, e elas se reuniam ao longo do percurso, formando cidades e aldeias. Haveria também cidades e aldeias em pontos ao longo da rota pelos quais os exércitos do principado estariam avançando para chegar a Altomura.

— Não temos muito tempo até que os exércitos do principado ataquem — adicionei. — Devemos emitir uma ordem real para encorajar a evacuação?

Quando perguntei isso, Hakuya balançou a cabeça em silêncio.

— Por favor, abstenha-se. Se mostrarmos que estamos cientes das intenções do principado, seus exércitos ficarão em alerta. Isso poderia fazer com que todos os nossos preparativos fossem em vão.

— Você está me dizendo para abandoná-los…?

— Não acredito que tenhamos outra escolha — disse Hakuya com firmeza, seus olhos nunca desviando do meu encarar. — Agora que você tomou a decisão de lutar, senhor, deve estar ciente de que isso significa que o sangue de seu povo será derramado. Como rei, às vezes deve engolir suas lágrimas e estar preparado para fazer sacrifícios para salvar um número maior de pessoas.

Hakuya falou essas palavras com uma expressão séria no rosto. Podia até parecer frio, mas estava assumindo a responsabilidade por dizer coisas que sabia que me doeriam escutar. Para que eu não pudesse fugir de fazer essas escolhas.

— Certo… — falei. — Eu entendo o que você está dizendo. Essa provavelmente é a forma mais certa e segura. Mas… é mesmo a única opção?

Ele não disse nada.

— Nesta ocasião, não me importo se o método for um pouco grosseiro ou perigoso — acrescentei.

Com a guerra chegando, haveria um certo número de pessoas sacrificadas, não importava o que eu fizesse. Mesmo assim, se eu não trabalhasse para baixar esses números ao mínimo absoluto, isso não seria segurança, seria negligência.

— Vou escutar qualquer coisa que tenha a dizer — falei em um tom tenso. — Existe alguma coisa, qualquer coisa que possamos fazer?

Hakuya parou por um momento para pensar. Então… soltou um suspiro, encolhendo os ombros, exasperado.

— E eu pensei que ultimamente você estava agindo como um verdadeiro rei, senhor.

— Se eu deixar a compaixão levar a melhor sobre mim, ainda terei um longo caminho a percorrer, é isso que quer dizer? — perguntei.

— Se você está ciente disso, então já está bom. Minha nossa… Parece que não tenho escolha.

Apesar de todas as suas reclamações, isso foi o mais próximo de um sorriso que vi no rosto de Hakuya em muito tempo. Parecia que nem ele gostava da ideia de abandonar as pessoas ao longo das estradas ao léu.

— Eu tenho uma ideia — disse. — Entretanto, é um método bastante turbulento…

O plano proposto era definitivamente muito complicado. Para as pessoas ao longo da estrada, seria um verdadeiro incômodo, com certeza. Mesmo assim… era bem melhor do que abandonar o povo.

— Vamos seguir com esse plano — falei. — Temos pouco tempo. Entre em contato com a guilda dos aventureiros agora mesmo.

— Como queira.

Monstros não identificados apareceram no sudoeste do Reino de Elfrieden.

Eles eram humanoides bípedes, eram todos retalhados, com corpos parecidos ao de palhaços e cabeças que pareciam estar em chamas. Eram monstros que nunca antes haviam sido vistos.

Pela aparência, passaram a ser chamados de pierrots flamejantes.

Os pierrots flamejantes apareciam principalmente em grupos, atacavam uma aldeia e então usavam as chamas em suas cabeças para incendiar as casas. Embora o aparecimento de uma nova espécie de monstros não fosse comum, em um mundo onde as masmorras estavam por todas as partes, isso era algo longe de ser inédito. Os pierrots flamejantes sem dúvidas nasceram em alguma masmorra.

Lidar com monstros novos como esses era um trabalho explorado principalmente pelos aventureiros. Então, logo após os relatórios de seu surgimento, a guilda dos aventureiros despachou uma missão. “Protejam os refugiados que deslocaram devido aos ataques dos pierrots flamejantes” dizia o documento.

A missão foi emitida pelo reino, sob o nome do próprio rei. Parecia que o primeiro pensamento do rei foi o de evacuar as pessoas das aldeias em zona de risco. Entretanto, o rei atual, Rei Souma, e o General do Exército, Georg, estavam atualmente em estado de conflito, então ele não podia se dar ao luxo de enviar tropas.

Ao fazer com que a guilda emitisse uma missão, devia esperar que os aventureiros protegessem os refugiados. Como uma missão emitida pelo país, parecia que o pagamento seria muito bom, então todos os aventureiros começaram a aceitar a missão e trabalhar na proteção de refugiados.

Assim sendo, havia também um outro grupo que aceitou o mesmo pedido.

Lá estava o líder, o jovem e musculoso espadachim, Dece, a ladra com cara de bebê, Juno, o sacerdote quieto e afável, Febral, e a bela e bem torneada Julia. Era o grupo que uma vez fez uma missão com o Pequeno Musashibo.

Desta vez, além dos quatro, estava o forte e brigão Augus. O motivo pelo qual o Pequeno Musashibo se juntou ao grupo da última vez foi por Augus não estar disponível e precisavam de alguém para substituí-lo.

Eles também haviam pego a missão emitida pelo reino.

Quanto mais perto uma aldeia ficava da capital, mais cedo um grupo de aventureiros a reivindicava e, então, tendo começado meio tarde, seu grupo assumiu uma aldeia nas montanhas, próxima à fronteira sudoeste. Estavam agora avançando em direção ao leste, passando pela floresta densa, protegendo cerca de trinta aldeões.

Até aqui… Tudo limpo. A batedora do grupo, Juno, estava inspecionando a área por cima das árvores.

No processo de proteção dos aldeões, tinham que estar em alerta para mais do que apenas pierrots flamejantes. Havia animais selvagens ferozes e, em áreas onde a ordem pública ia mal, também tinham que tomar conta dos bandidos, já que estavam em uma missão de escolta. Graças a isso, Juno estava pulando de árvore em árvore igual um macaco, inspecionando a área toda.

Por incrível que pareça, não houve muitos problemas… Estou até meio desapontada, pensou ela consigo mesma enquanto saltava pelo ar.

Na maioria das vezes, se uma missão pagasse bem, seria muito difícil. Mesmo missões que à primeira vista não pareciam ser tão difíceis, se houvesse uma boa recompensa, qualquer um poderia esperar por um algo mais. “Cuidado com tudo que parece bom demais para ser verdade” era uma regra de ferro entre os aventureiros. Mesmo se a missão viesse de um reino confiável.

Entretanto, uma vez que aceitaram, nenhum pierrot flamejante apareceu, e estava se tornando uma simples missão na qual davam um passeio com alguns aldeões.

Quando Juno terminou a sua missão de patrulha e retornou, Dece e Febral estavam conversando.

— Acho que essa missão é realmente muito fácil — disse Febral.

— Ei, o que há de errado com ser fácil? — respondeu Dece ao pensativo Febral, balançando os braços em um círculo.

Febral era o analista do grupo e também assessorava Dece, o líder do grupo.

— Para começar, ainda não vimos os pierrots flamejantes que deveriam ser a razão desta missão — disse Febral. — Existem muitas conversas sobre o quão perigosos eles são, mas… Não posso deixar de imaginar que seja exagero.

— Ah, eu também estive pensando nisso — disse Juno, juntando-se à conversa.

Dece voltou o olhar para ela.

— Como está a situação?

— Tudo limpo. A floresta estava quieta.

— Entendo… Então, no que você também estava pensando, Juno?

— Esta é uma missão de escolta onde protegemos as pessoas dos pierrots flamejantes, certo? Estava me perguntando por que não é uma missão de subjugação dos monstros. Pelo que ouvi, eles não são muitos. Em vez de fazer todos esses aldeões evacuarem, destruir os pierrots flamejantes não seria bem mais simples?

— Acho que essa é uma ideia razoável — disse Febral com um aceno de cabeça, mas Dece ainda parecia ter as suas dúvidas.

— Isso não significa que são simplesmente perigosos demais para emitir uma missão de subjugação? — perguntou ele.

— Se fossem, poderíamos esperar relatos de danos mais extremos do que os que estamos vendo — respondeu Febral. — Os únicos danos que ouvi mencionarem foram de uma ou duas aldeias abandonadas que foram queimadas até não sobrarem nem as cinzas, mas tudo depois que os residentes já tinham sido evacuados…

— Bem, acho que isso pode parecer meio estranho… — disse Dece.

Como seria de se esperar do líder de um grupo, ele sabia ouvir os outros. Quando achava que ouvir uma opinião valia a pena, mantinha a mente aberta o suficiente para seguir os conselhos adequados.

Ele então falou para Juno, que estava com as mãos atrás da cabeça e os dedos entrelaçados:

— Juno. Conto com você para que seja meticulosa na sua patrulha. De agora em diante, fique de olho em mais do que apenas monstros ou animais.

— Entendido!

Com essas palavras, ela voltou a subir nas árvores e desapareceu de vista.

Depois de vê-la partir, Dece disse:

— Febral, vá dizer tudo que você me contou a Augus e Julia. Vou ficar aqui e proteger a retaguarda.

— Entendido.

Enquanto observava Febral correr em direção ao resto do grupo, Dece soltou um suspiro. E eu aqui torcendo para a missão continuar assim até acabar…

Essa era a fervorosa esperança de Dece.

Após se separar dos outros, Juno retomou a sua patrulha.

A floresta estava quieta como sempre, mas, quando saiu por um dos caminhos estreitos da montanha, seus ouvidos sensíveis captaram algo.

Ela então desceu das árvores, ficando de quatro e colocando uma orelha contra o chão. Esse barulho… Esse é o som de cascos?

O barulho estava não muito longe. Havia mais de um deles, e o barulho estava alto.

No momento, tudo o que escutou foi o som de cascos. Levando em conta que também não ouvia rodas, julgou que o som provavelmente vinha de cavaleiros… um grupo de cavalaria pesada, aliás.

Há cavalaria pesada galopando ao longo desta estrada na montanha?

Desconfiada, Juno decidiu fazer um reconhecimento na direção do barulho. Mas, antes de sair para explorar…

— Awoooo! — uivou, imitando o lamento de um lobo cinzento.

Esta era uma mensagem para Dece e os outros. “Situação anormal detectada. Fiquem em guarda”, era isso que significava.

Feito isso, Dece e os outros permaneceriam alertas. Se acontecesse algo que atrasasse o seu retorno, eles provavelmente surgiriam ao seu resgate.

Juno ficou ainda mais silenciosa do que antes, pulando de árvore em árvore enquanto procurava pelos indivíduos que faziam o barulho.

Após algum tempo, ouviu o farfalhar de uma armadura, não muito longe. Escondeu-se nas sombras, examinando toda a área circundante.

Quando o fez, conforme esperado, avistou um grupo de cavalaria pesada galopando ao longo do caminho da montanha. Havia um total de cinco indivíduos, cada um deles usava uma armadura de placa completa e preta.

O que estão fazendo aqui?

Enquanto os observava, desconfiada, os escudos que carregavam chamaram a sua atenção.

Esse ornamento… Isso pertence ao Principado da Amidônia. Então… são cavaleiros do principado?

Este era o território do Reino de Elfrieden. Era estranho que os cavaleiros do Principado da Amidônia estivessem ali. Os aventureiros vagavam pelo continente em busca de masmorras e missões, então sua lealdade a qualquer estado era fraca. Entretanto, por terem perambulado pelo continente, conheciam muito bem a relação entre os diferentes países.

O principado é considerado hostil ao reino, lembrou. Se os cavaleiros do principado estão aqui… então o Reino de Elfrieden está sendo atacado pelo Principado da Amidônia?

Ela se lembrou das conversas sobre o Principado da Amidônia concentrando as suas forças na fronteira.

A guilda dos aventureiros tinha um sistema que permitia a um país que estava sob ataque pagar uma certa quantia para recrutar todos os aventureiros dentro de seu território. Graças a isso, os aventureiros que trabalhavam no reino estavam de olho nos movimentos do principado, mas a guilda não recebeu qualquer pedido de apoio do reino. E, por esse motivo, ela pensou que o acontecimento não resultaria em nada.

Souma, aliás, havia cancelado aquele contrato com a guilda, declarando-o um desperdício de dinheiro, afirmando que era a mesma coisa que a contratação de mercenários, mas os aventureiros não foram informados disso.

A julgar pelos seus números, são um grupo de batedores. Nesse caso, a força principal está por perto?

Se os soldados encontrassem os aldeões que o grupo estava escoltando, seria muito, muito ruim. O grupo poderia lidar com cinco cavaleiros sem problemas, mas se eles os atacassem com seus números, os aventureiros não teriam a menor chance. Os aldeões poderiam ser levados como prisioneiros de guerra, mas eles, aqueles que estavam fazendo a escolta, poderiam ser assassinados. Mesmo assim, se abandonassem a missão e fugissem, se veriam na lista de procurados da guilda.

Juno deixou um suspiro curto escapar, tentando colocar os seus sentimentos de lado. Por enquanto, preciso detê-los.

Ela se escondeu na vegetação, mantendo-se fora de vista enquanto gradualmente se aproximava dos cinco cavaleiros. Então pegou uma pedra e jogou na cabeça do cavalo que galopava à frente do grupo.

Whack.

— Neighhhh!

— Whoa?!

Tendo a lateral do pescoço acertada por uma pedra, o cavalo da frente empinou. O soldado do principado, surpreso, quase caiu da sua montaria.

Seus camaradas agruparam-se ao seu redor.

— O que houve?

— Só perdi o controle do cavalo…

— Ele foi picado por uma abelha ou coisa do tipo?

— Sei lá. Acho que algo apareceu voando dali…

Enquanto os cavaleiros do principado falavam sobre isso, Juno circulou para trás deles. Então, desta vez, atirou uma pedra no cavalo que estava na retaguarda do grupo.

Whack.

— Neighhhh!

No momento em que acertou, o cavalo que estava na retaguarda empinou e saiu correndo.

— Whoa! Ei, calma garoto!

— O quê?! Tem alguma coisa aqui?!

Os cavaleiros olharam em volta inquietos. Com dois de seus cavalos sendo sucessivamente surpreendidos, pareciam ter ficado bem cautelosos.

Juno, quando viu isso, ficou aliviada.

Ótimo. Isso deve diminuir o ritmo deles.

Quanto mais cautelosos ficassem com os arredores, mais devagar avançariam. Então só tinha que se juntar a Dece e aos outros, e depois fazer os aldeões se apressarem. Com isso em mente, Juno estava se virando para sair quando tudo aconteceu.

Como havia se virado de repente, os galhos farfalharam um pouco. Essa vibração, infelizmente, assustou um pássaro empoleirado no galho acima de Juno e ele levantou voo. Com o bater de asas forte, os soldados do principado olharam em sua direção.

— Tem alguma coisa ali?!

— Ah, merda…! — Juno fugiu na mesma hora.

Tomando uma decisão rápida, disparou na direção oposta de onde tinha chegado. Ela não poderia levar esses caras na mesma direção em que os aldeões estavam.

Os cavaleiros a perseguiram.

— Não deixem que ela escape! Certifiquem-se de capturá-la!

Juno podia ouvir as vozes gritando atrás dela. Ela fugiu pelas áreas onde as árvores estavam densamente compactadas, fazendo curvas fechadas para tentar despistar os seus perseguidores, mas em terra os cavalos eram rápidos. Os cavaleiros eram habilidosos no controle de seus cavalos, desviando das árvores aos montes para continuar a perseguição.

Droga… Esses caras simplesmente não desistem!

Juno não estava convencida de que sairia dessa com vida. Como uma aventureira, ela não tinha qualquer lealdade em especial para com o reino. Entretanto, eles provavelmente não se importariam com isso. Se a pegassem, não havia como dizer o que poderiam lhe fazer. O simples pensamento fez um arrepio correr por sua espinha.

Huff… huff… Alguém me salve…

Aconteceu quando suplicou por salvação.

Ela viu chamas bruxuleantes à sua frente. Seis delas, no total. Se podia vê-las tão claramente mesmo de longe, então deviam ser incêndios bem grandes. Juno, apesar de tudo, quase parou. Então…

— Whoa!

Um braço de repente apareceu e a puxou para os arbustos.

— A-ai…!

Pompf.

Ela começou a gritar, mas algo macio cobriu a sua boca. Assim que viu melhor, notou que havia uma coisa redonda e fofa à sua frente. Quando viu o que era, Juno soltou um gritinho.

— V-você?!

Ela conhecia essa coisa. Aquele corpo rechonchudo. Aquele rosto envolto em seda branca com olhos de bolota para fora. A cesta de vime em suas costas, o enorme colar de oração que usava, a naginata em suas mãos.

Este era o conhecido Aventureiro Kigurumi dos rumores, o Pequeno Musashibo.

— Você é o Senhor Kigurumi! O que está fazendo aqui?! — exclamou ela.

Em resposta à pergunta de Juno, o Pequeno Musashibo levantou a mão redonda para cobrir a boca.

— … — (O pequeno Musashibo estava dizendo: “Fique quieta, por favor. Eles vão nos encontrar.”)

Nos encontrar? Meus perseguidores estão bem ali…, pensou ela.

— … — (“Está tudo bem. Só olha”, disse ele, gesticulando para que Juno olhasse.)

Hmm?

Depois de passar por uma de suas conversas habituais, na qual de alguma forma conseguiram se comunicar, Juno enfiou a cabeça para fora dos arbustos a tempo de ver as chamas antes de passarem. Tinham corpos retalhados, roupas esfarrapadas, movimentos de zumbis e chamas saindo de suas cabeças.

Os pierrots flamejantes…

Juno logo os reconheceu como os novos monstros que haviam sido relatados para a guilda. Entretanto, quando olhou mais de perto, notou que algo parecia errado. Seus movimentos eram estranhamente espasmódicos, quase como se fossem marionetes.

Enquanto pensava nisso…

— Ahhhh!

— O-o que são essas coisas?!

Os cavaleiros do principado que a perseguiam começaram a gritar…

Assim que viram as aberrações flamejantes movendo-se em sua direção e fazendo um barulho de click-clack, eles ficaram com coisas mais imediatas do que a missão de reconhecimento para se preocupar. Não tinham nada a ganhar ficando onde estavam e lutando contra essas monstruosidades desconhecidas. Ir e notificar a força principal a respeito desta existência era a maior das prioridades.

— Tch! Não temos tempo para lidar com esses caras. Estamos voltando! — gritou o líder.

Os cavaleiros recuaram. Juno soltou um suspiro de alívio, mas ainda não estava fora de perigo.

Agora, tinha um enxame de pierrots flamejantes quase ao lado. Ela desembainhou a sua espada curta, então estaria pronta para lutar a qualquer momento.

Pompf.

O Pequeno Musashibo colocou a mão na sua cabeça.

Foi tão repentino que ela arregalou os olhos.

— E-ei, Senhor?! O que você acha que está fazendo em um momento como este…?

— … — (“Agora está tudo bem. O perigo já passou”, disse ele, acariciando a sua cabeça.)

— O perigo já passou…? Mas essas coisas ainda estão aqui!

— … — (“Não se importe com isso. Vamos voltar para onde estão Dece e os outros”, dizia ele.)

O Pequeno Musashibo a ergueu em seus braços, jogando-a na cesta de vime em suas costas.

— Whoa! Isso de novo?!

Ignorando os protestos de Juno, o Pequeno Musashibo marchou. Juno ficou perplexa por um tempo, mas quando recobrou os sentidos, apoiou o queixo na cabeça dele.

— Agora é a segunda vez que você me salva, Senhor…

— … — (O Pequeno Musashibo fez um sinal de positivo.)

— O que você está fazendo aqui?

— … — O pequeno Musashibo não disse nada para responder à pergunta de Juno. Não… ele nunca disse nada, mas desta vez nem mesmo Juno conseguiu entender os seus sentimentos. Entretanto, ao olhar para as suas costas, ela percebeu que podia sentir algo parecido com tristeza.

A garota coçou a cabeça e começou a bater várias vezes nas costas do Pequeno Musashibo.

— … — (“P-pare, por favor”, disse ele, agitando os braços.)

— Hmph! — disse ela. — Se quer que eu pare, então se anime. As coisas nem sempre dão certo na vida, mas, ainda assim, sobreviver continua sendo uma vitória. Isso significa que amanhã você ainda pode abrir os olhos.

— …

O Pequeno Musashibo não disse nada em resposta. Seus passos, entretanto, pareceram ficar um pouco mais leves do que antes.

— Sobreviver já é uma vitória… hein.

Juno tinha sido um pouco dura, mas provavelmente estava tentando encorajá-lo. Suas palavras com certeza alcançaram Souma, que controlava o Pequeno Musashibo e os pierrots flamejantes de bem longe, lá da capital.

Esse era o plano que Hakuya havia bolado para salvar o povo do sudoeste do principado.

Usando o poder de Souma, os Poltergeists Vivos, teriam um monte de bonecos bizarros circulando como uma nova raça de monstro, os pierrots flamejantes. Os usariam para atacar cidades e aldeias ao longo da rota do exército do principado e forçar todos a evacuar. Depois, enviariam uma missão para a guilda dos aventureiros. Isso daria crédito à história, e poderiam incumbir os aventureiros de escoltar os refugiados.

Na verdade, ele até mesmo usou os pierrots flamejantes para queimar algumas das cidades que foram desocupadas. Do ponto de vista das pessoas cujas aldeias estavam sendo incendiadas, era um terrível inconveniente. Mais tarde planejava compensar todos, já que estava queimando as suas casas para o seu próprio benefício, mas elas estavam, sem dúvidas, repletas de boas memórias.

Não era de se admirar que Hakuya tivesse avisado que era um plano difícil já de antecedência.

Apesar disso, Souma ainda optou por segui-lo. Ele já havia concluído que isso era melhor do que deixar o povo inocente sofrer com a tirania dos exércitos do principado. Então pesou as suas opções, e fez a sua escolha para salvar tudo o que pudesse e descartaria o resto. Suas ações certamente não foram louváveis.

Isso deixou seu coração pesado, mas as palavras de Juno serviram de algum ânimo.

— Ela está certa. Se não sobrevivessem, eu não seria capaz de pedir desculpas depois. — Sussurrando essas palavras para si mesmo, Souma saiu do Escritório de Assuntos Governamentais.

Enquanto isso, mais ou menos ao mesmo tempo, Julius, que estava com a força principal do exército Amidoniano, olhava confuso para o relatório que recebera. A aparição de um monstro flamejante… Era difícil de acreditar nisso.

Existem relatos de que cidades e aldeias ao longo do caminho do exército foram incendiadas…

Quando recebeu o relatório, pensou que alguns soldados deviam ter fugido, correndo à frente do exército para se concentrar na pilhagem. Eles pretendiam anexar esta região após a guerra, então a alienação excessiva da população local não servia aos seus interesses.

Justo quando Julius começou a pensar que deveria alertar todo o exército a respeito disso, recebeu um relatório dizendo que aquelas cidades e aldeias tinham pegado fogo alguns dias antes da chegada das forças do principado. Embora estivesse feliz por nada disso ter sido causado por soldados furiosos, por que as cidades e aldeias foram incendiadas?

A próxima coisa que surgiu em sua mente foram as táticas de terra arrasada1Uma tática de terra arrasada ou terra queimada envolve destruir qualquer coisa que possa ser proveitosa ao inimigo enquanto este avança ou recua em uma determinada área.. Em outras palavras, suspeitava de que pessoas haviam incendiado as cidades e aldeias ao longo da rota do exército amidoniano para evitar que reabastecessem suas provisões nos locais. Nesse caso, o reino devia ter previsto todos os passos que seguiriam. Assim sendo, seria perigoso avançar, e Julius deveria aconselhar seu pai, Gaius, a recuar.

Mas, ainda assim… Isso está muito mal feito para ser uma estratégia de terra arrasada.

Por ser o final do nono mês do ano, estavam no meio da época da colheita. Se estivessem usando táticas de terra arrasada, deveriam ter arrasado os campos e também destruído ou envenenado os poços.

Entretanto, tudo o que havia sido queimado foram as próprias cidades e aldeias. Os campos ficaram intactos e os poços continuavam utilizáveis. As forças do principado ainda poderiam se reabastecer. Além disso, encontraram objetos de valor nas cidades incendiadas. Isso só podia ser prova de que os residentes fugiram às pressas.

No final, ele chegou à conclusão de que as cidades e aldeias da área deviam ter sido atacadas por monstros ou bandidos. Graças a isso, Julius não deu qualquer conselho a Gaius.

O relato de avistamentos de monstros flamejante não é inconsistente, levando em conta as condições locais… Mas, mesmo assim.

Isso não era meio que inconveniente demais? Foi isso que Julius sentiu.

Não posso deixar de sentir que há algo de errado com o reino.

Isso é um pandemônio…

E foi isso que Julius pensou enquanto olhava para o noroeste.

 


 

Tradução: Taipan

Revisão: PcWolf

 


 

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