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Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 02 – Cap 02.2 – Os Moldes das Duas Nações

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– Capital Real Parnam, final de Setembro, 1.546º ano do Calendário Continental, no palácio do Reino de Elfrieden, o Castelo Parnam. –

No escritório de relações governamentais, eu estava escutando os relatórios de Poncho e Tomoe.

Primeiro, ouvi o de Poncho.

Até outro dia, seu título tinha sido de Ministro de Estado para a Crise Alimentar, mas com essa questão resolvida, o nomeei como o Ministro da Agricultura e Silvicultura1Silvicultura é a ciência dedicada ao estudo dos métodos naturais e artificiais de regenerar e melhorar os povoamentos florestais com vistas a satisfazer as necessidades do mercado e, ao mesmo tempo, é aplicação desse estudo para a manutenção, o aproveitamento e o uso racional das florestas.. Além da agricultura, silvicultura e administração das provisões militares, também fiz que supervisionasse o estabelecimento de arrozais em socalcos e outros projetos que estabeleceriam as novas safras deste país.

A propósito, a razão pela qual ele não era responsável pela pesca era porque este país não administrava os direitos de pesca. Cada uma das várias guildas de pescadores tinha as suas próprias zonas, de certa forma, mas tudo o que o país fazia era receber os impostos das guildas em troca de seus direitos.

Eventualmente, pretendia reconfigurar isso, mas teria que esperar até que eu tivesse a marinha sob o meu controle. Para que o país pudesse garantir os direitos dos pescadores, iríamos precisar de algo como uma Agência de Segurança Marítima. Se tentássemos impor obrigações aos pescadores, sem qualquer proteção, eles não seriam obedientes e concordariam com tudo.

Parece que fugi um pouco do assunto, hein?

Fiz uma pergunta a Poncho.

— Como estão as coisas com os suprimentos (provisões militares e forragem para os cavalos da cavalaria) que te pedi?

— Muito bem. De alguma forma, consegui tudo, mas… — Poncho parecia terrivelmente descomprometido, ainda mais considerando que estava dizendo que tinha conseguido preparar os suprimentos.

— Algum problema? — perguntei.

— Não… Eu só estava preocupado com esses números estarem corretos — disse Poncho, enxugando o suor em sua testa. — Os suprimentos que você solicitou, no total, poderiam facilmente manter o Exército Proibido por mais de um mês, sabe… Não foi fácil reunir isso tudo, então, se os números estiverem errados, isso nos renderá enormes perdas, sim.

Ah, isso fazia sentido. Quando ele olhou para os números que eu atualmente poderia mobilizar com o Exército Proibido, se preocupou com a possibilidade da quantidade de suprimentos ser muito alta. Afinal, havia apenas cerca de 10.000 homens.

— Isso não é um problema — falei. — Na verdade, precisamos desses suprimentos todos. O fato é, você poderia até mesmo dizer que esse enorme estoque de suprimentos é o que vai decidir se vamos ganhar ou perder.

— É-é mesmo? — gaguejou ele. — Ainda bem que tivemos uma colheita tão abundante neste ano… Se você me pedisse isso no ano passado, eu não teria conseguido reunir isso tudo.

— Sim — falei. — Embora isso seja fruto do trabalho árduo de todos. Claro, isso significa que também é graças a você, Poncho.

— V-você é muito gentil, sim! — Poncho, honrado pelo repentino elogio, ficou tão duro que parecia capaz de dobrar-se para trás.

Dei uma risada irônica diante seu comportamento, então me virei para olhar para Tomoe.

— Como vão as coisas do seu lado, Tomoe? — perguntei.

— C-certo. Acho que encontrei outros cinco rinossauros que vão nos ajudar.

Como Tomoe tinha o dom de compreender monstros e animais, a enviei para “recrutar” alguns lagartos gigantes, rinossauros, que usamos durante nossa missão para fornecer socorro à Floresta Protegida por Deus.

Sua capacidade de transporte de carga, como eu havia visto durante a construção da estrada, era realmente incrível. Eu queria aumentar o número deles em poder do Exército Proibido, mas como eram criaturas vivas, demorava muito para treinar um rinossauro. Ainda assim, se tentássemos usá-los sem treinamento substancial, caso o pior acontecesse e eles enlouquecessem, seus corpos enormes seriam um problema, já que poderiam causar muitos danos.

Isso tornava a tarefa ideal para Tomoe, que podia entender a língua de todas as criaturas vivas. Ela podia ouvir os pedidos dos rinossauros.

Veja bem, parecia que eles não eram tão espertos (talvez estivessem no mesmo nível que estegossauros, não diziam que eles tinham cérebros do tamanho de um ovo de galinha?), então seus pedidos costumavam equivaler a “comida gostosa” e “um lugar para procriar em segurança”.

Para isso, acabei criando uma reserva para rinossauros no reino, mas era um pequeno preço a pagar por um meio de transporte de longa distância e alta velocidade, mais ou menos equivalente a um trem, que seria leal e não requeria treinamento nenhum.

— A-a habilidade de M-Madame Tomoe é realmente incrível, sim — disse Ponho.

— Com certeza — concordei. — Estou feliz por ter conseguido colocá-la sob minha proteção antes que caísse nas mãos de outro país.

— V-você está me lisonjeando. — Tomoe brilhou de tão vermelha e olhou para baixo, envergonhada.

As portas do escritório de relações governamentais foram abertas e Liscia entrou.

— Souma…

Há algo perturbado em sua expressão, pensei. Fico um pouco preocupado…

— Poncho, Tomoe… — falei. — Posso pedir que nos deixem a sós por um momento?

— S-sim, você pode, sim.

— C-certo, Irmãozão…

Com uma reverência, ambos saíram do escritório, deixando eu e Liscia sozinhos.

Nós dois ficamos em silêncio por um momento, mas então me levantei da cadeira e fui até a cama que ficava no canto. Então, sentando ali, fiz sinal para Liscia ir para o meu lado.

Ela sentou ao meu lado, assim como pedi. Sentado na minha cama, com uma linda garota ao meu lado, devia ser uma situação adorável, mas a atmosfera estava pesada e opressiva.

— Você veio porque precisa discutir alguma coisa, correto…? — perguntei a Liscia, incapaz de continuar suportando o silêncio.

Ela pareceu se recompor e começou a falar, as palavras saindo sem pressa.

— Na cidade castelo… existem rumores de que você está organizando um exército para ir contra os três duques.

Fiquei em silêncio.

— Dizem que um confronto com o Duque Carmine já é inevitável. — Liscia se virou para mim. Seus olhos tremiam de incerteza.

Mas eu não poderia culpá-la… Para ela, eu era seu rei e noivo, enquanto o General Georg Carmine fora seu superior durante seu tempo no exército, um que respeitava. Se entrássemos em conflito, Liscia sentiria como se estivesse sendo esmagada por ambos os lados. Para evitar isso, eu sabia que ela havia enviado várias cartas a Georg, que estava se isolando em seu próprio território, pedindo para que se encontrasse comigo.

— Não… não há mais nada que você possa fazer? — gaguejou ela.

Quando me perguntou isso com aqueles olhos trêmulos, quis dizer algo, mas…

Incapaz de encontrar palavras adequadas, só pude balançar a cabeça em silêncio.

Vendo a minha reação, Liscia murmurou:

— Certo… Claro…

Com apenas essas palavras, ela olhou para frente e seus ombros cederam.

Isso era frustrante. Ter que tomar esse caminho, mesmo sabendo que iria machucar Liscia. Isso já tinha ido longe o suficiente para que nem Georg nem eu pudéssemos recuar. Nesse caso… Pelo menos…

— Liscia…

— O quê…?

— Quero que você me fale sobre Georg Carmine — falei.

— ?!

Ela ergueu o rosto e olhou para mim.

— Por que agora, sendo que já é tão tarde…?

— Quero saber que tipo de pessoa é o homem com quem vou lutar — falei. — Afinal, agora que penso nisso, nunca conheci esse cara.

Liscia ficou em silêncio por um momento. Ela parecia meio confusa, mas, com o tempo, começou a falar.

— Duque Carmine… Georg Carmine é um guerreiro com habilidades sem precedentes. Ele é um homem-fera robusto com cabeça de leão e, embora tenha enorme habilidade em combate próximo, dizem que é quando o coloca no comando de um exército que mostra o seu verdadeiro valor. Trata-se de um grande general, capaz de criar seu caminho em um campo de batalha, ou como atacante ou mesmo defensor em um cerco. Quando ele liderou a vanguarda durante uma batalha de retirada sob o comando do homem que foi rei antes do meu pai, ouvi dizer que conseguiu arrancar a cabeça do comandante inimigo, mesmo em uma batalha já perdida.

— Isso é incrível, hein… — falei.

Se puder apenas manter as perdas dos aliados ao mínimo durante uma retirada já está bom, mas ir e também desferir um golpe no inimigo – isso era algo que um famoso general do Período dos Estados Combatentes teria feito. Isso me lembrava do jovem Shingen Takeda2Foi um proeminente daimyo, ou senhor feudal com prestígio militar, que procurou o controle do Japão, na fase tardia do Sengoku., que havia corrido à frente do exército de seu pai, Nobutora3Takeda Nobutora era um daimyō japonês que controlava a província de Kai e lutou em várias batalhas no período Sengoku., em retirada para tomar um castelo em um ataque surpresa.

— Exatamente, é incrível — disse ela. — Ele não apenas teve a liderança para manter o moral de um exército derrotado, como também foi um feito que não poderia ter realizado sem a percepção de encontrar um local onde pudessem enfrentar o inimigo de forma eficiente.

Havia um pouco de orgulho na voz de Liscia enquanto ela falava. Ela realmente… o respeitava, hein.

— Quando meu pai assumiu o trono, este país mudou a sua forma de expansão — continuou ela. — Com meu pai, que foi, para bem ou para mal, um rei comum governando este país, devíamos ser um alvo fácil para todos os países vizinhos.

— Você é terrivelmente dura, mesmo com o seu próprio pai — comentei.

— Bem, essa é a verdade. Ainda assim, as invasões nunca aconteceram. Como o Duque Carmine sempre manteve um olhar atento no oeste, nem a Amidônia, nem Turgis tentaram colocar as mãos em nosso território. Apesar de ser o maior guerreiro da sua geração, ele não tinha ambições e serviu meu pai com lealdade. Não, não é isso… Em vez de ser por causa do meu pai, o Duque Carmine nutria puro amor por este país.

— Por que por este país? — perguntei.

— Você não sabe? — perguntou ela. — Ainda existem países por aí que discriminam outras raças. O Império agora defende os calores da igualdade racial, mas em algumas regiões ainda existe a discriminação contra não humanos. Também existem lugares onde acontece o contrário; no noroeste, há uma ilha que promove uma política de supremacia dos elfos superiores, e lá são os humanos que são desprezados.

Parecia que esses tipos de problemas que acontecem em todos os lugares também existiam neste mundo.

— Mas, neste país, não temos esse tipo de discriminação — continuou ela. — E mesmo que existisse, não existem saídas para isso. As raças que no começo eram contra esse tipo de discriminação se reuniram sob a bandeira do primeiro rei e cooperaram para tornar este país próspero, para que não tivessem que viver sob o domínio de ninguém. É assim que é este país… e o Duque Carmine o amava mais do que qualquer outra pessoa.

Nesse ponto, Liscia parou por um momento antes de continuar a falar.

— Em sua vida pessoal, o Duque Carmine é um homem que sabe ser cortês. Ele tinha um relacionamento próximo com o meu pai, algo que era mais do que profissional, e costumava dar conselhos a ele. Até mesmo cuidou de mim como se fosse a sua própria filha. Quanto a mim… Eu amava o Duque Carmine.

Fiquei em silêncio.

Ela continuou:

— Quando fui para a Academia de Oficiais porque queria me tornar uma soldada, ele, no começo, se opôs a isso. Ele disse que isso era impróprio para uma princesa. Mas, no final, deixou eu seguir o meu caminho. Veja bem, assim que me formei na academia, fui colocada sob o seu comando e só era usada para encorajar as tropas.

Bem, sim… Ele não poderia usar a princesa, uma parente de sangue do rei, como uma de suas subordinadas. Até Georg, um homem tão impressionante assim, devia ter passado por muitos problemas para lidar com o jeito de moleca de Liscia.

— Então ele era como um segundo pai para você, hein? — perguntei.

Quando falei isso, Liscia baixou a cabeça, triste.

— Sim… Ele era um homem maravilhoso. Então, por que…

Liscia começou a dizer algo, mas parou, balançando a cabeça.

— Não sei exatamente no que o Duque Carmine estava pensando… Mas, talvez, pode ter sido porque ele era um guerreiro.

— Porque ele era um guerreiro? — perguntei.

— O Duque Carmine já tem mais de cinquenta anos — disse ela. — A vida de um homem-fera não é diferente da de um humano. Se ele fosse um simples general, ainda teria muitos anos para continuar crescendo, mas como um guerreiro, a partir desse ponto é só ladeira abaixo. Acho que talvez seja por isso que ele está tentando fazer algo grandioso pelo seu país.

— Mesmo que isso signifique que se tornará um traidor…? — perguntei.

— Se ele pensar que beneficiaria o país, o Duque Carmine faria.

Havia um grau de confiança que não pude deixar de invejar um pouco nessas palavras.

Falei logo em seguida:

— Amanhã… Vou fazer uma conferência pela Transmissão de Voz da Joia com os três duques.

Havia quatro joias de Transmissão de Voz da Joia neste país. Três delas eram mantidas pelos três duques. Usando essas joias, faríamos algo como uma videoconferência. Nela, eu daria um ultimato final aos três duques, para que se submetessem a mim como meus vassalos. Eu teria que lutar contra qualquer um que recusasse. E, independentemente do que os outros dois fizessem, a chance de Georg obedecer era zero.

— Liscia, se isso for difícil para você… — Comecei a falar.

— Vou comparecer — disse ela.

Liscia nem me deixou dizer que não precisava fazer isso.

Ela mostrou um sorriso turvo pela tristeza.

— Eu sei. O Duque Carmine já fez a sua escolha. Ele não pode mais voltar atrás.

— Liscia… — falei.

— Quero assistir até o fim, porque eu sei disso. Quero ver como aquele homem vive a sua vida. — Liscia olhou direto nos meus olhos.

Sério… Eu não tinha palavras para ela. Então, para fazer o mínimo que eu pudesse, a envolvi em um abraço apertado. Ela estava tremendo um pouco.

Pousei a cabeça de Liscia em meu ombro.

Mesmo sendo o rei, eu não podia fazer mais nada por ela e sentia raiva de mim mesmo por isso.

No mesmo dia, na Cidade Dragão Vermelho…

— Merda… O que diabos está acontecendo?!

Na Cidade Dragão Vermelho, localizada ao norte do Reino de Elfrieden, o comandante da força aérea, Castor Vargas, estava em sua mesa, segurando a cabeça entre as mãos.

A Cidade Dragão Vermelho era a cidade central do Ducado Vargas, e também onde o castelo de Castor ficava.

Ele foi construído em uma ligeira elevação em uma parte da montanha que havia sido desmatada. Podia parecer uma localização ruim para uma cidade central, dado o inconveniente de transportar mercadorias até ela, mas para o Ducado Vargas, que detinha a força aérea do reino, possuíam a conveniência de ter acesso a wyverns de transporte, além dos de combate.

Cada um deles podia carregar tanto quanto um teleférico lotado de suprimentos, e existiam veículos parecidos com ônibus transportados por quatro wyverns que iam a cada cidade, então a distância entre os locais não importava tanto.

Além disso, como o castelo do General da Força Aérea estava localizado na Cidade Dragão Vermelho, as defesas da cidade também eram reforçadas.

Embora o local em si fosse um castelo na montanha, também era cercado por enormes muralhas. Enquanto as encostas da montanha evitavam os aríetes (veículos com uma enorme estaca destinada a quebrar portões) ou escadas de escalada (aquelas que apareciam em veículos construídos como caminhões de bombeiros, que forneciam uma base para passar por cima das muralhas do castelo), as muralhas defenderiam contra quaisquer ataques de infantaria ou cavalaria.

O único meio de ataque que poderia ter sido eficaz era um ataque aéreo com wyverns, mas essa era a especialidade da família Vargas, então seria justo chamar o lugar de fortaleza inexpugnável.

Além disso, Castor, o atual governante da cidade, era um excelente comandante. Mesmo que ele não fosse tão bom com as complexidades políticas, exibia uma força incomparável no campo de batalha. Nos últimos cem anos de guerra pelo Reino de Elfrieden, esteve sempre à frente da unidade wyvern, derrubando inimigos estrangeiros como um comandante de vanguarda.

Ele tinha cometido muitos erros por não ser muito bom pensando, mas a sua mente aberta, sua personalidade de sangue quente e sua incrível força lhe concediam um carisma que encantava os subordinados. Se fôssemos compará-lo a Zhang Fei4Zhang Fei foi um general de Shu, durante a era dos Três Reinos da China. Zhang Fei foi um mestre geral e não apenas um guerreiro. Ele tratava seus superiores com respeito, mas tinha pouco respeito por seus subordinados. da história chinesa, ou Masanori Fukushima5Foi um daimyo do fim do período Sengoku e início do período Edo. da história japonesa, isso tornaria as coisas mais fáceis de entender.

Por ser esse tipo de pessoa, ele deixou a gestão da cidade inteiramente para a sua esposa, Accela, que era filha da Almirante Excel, e também para Tolman, o homem que era seu segundo em comando na força aérea e também administrador da sua casa.

Nada de bom poderia ser aguardado de um mau gerente se intrometendo em decisões administrativas, então assim devia ser melhor. Castor sabia que correr pelo campo de batalha era muito melhor do que administrar uma cidade.

Agora, Castor, o homem que não era adequado para pensar, estava pela primeira vez quebrando a cabeça a respeito do que fazer.

— Tolman! O Duque Carmine ainda não disse nada?! — exclamou ele.

— Ainda não… — respondeu o homem em trajes cavalheirescos em sua frente, continuando de pé enquanto o fazia. Este era o homem encarregado do controle administrativo da Cidade Dragão Vermelho, o administrador da Casa de Vargas, Tolman.

Castor bateu com as mãos na mesa.

— O ultimato do rei chega amanhã! O que ele está planejando ao não nos enviar nenhuma palavra antes disso?!

Tolman não disse nada.

Todas as pessoas estavam falando sobre um confronto entre o novo rei e os três duques, mas isso não significava que os três duques estavam todos de acordo. O General do Exército Georg Carmine deixara clara a sua oposição ao rei, mas a Almirante da Marinha Excel Walter tinha uma visão negativa a respeito de lutar contra o rei. E Castor, por fim… Ele estava revelando uma posição de oposição ao rei, mas estava, internamente, vacilando nisso.

O General Georg era seu camarada de armas e recebia o seu respeito como guerreiro. Como Georg era o único hasteando a bandeira da rebelião, Castor presumiu que ele havia pensando muito nisso e até mesmo empurrou sua sogra, Excel, para ficar do lado de Georg, opondo-se ao rei. Em outras palavras, embora fosse verdade que Castor tinha suspeitado quando houve a repentina mudança de reis, ele havia deixado a decisão de se opor ao novo rei para outra pessoa.

Sua própria imaturidade emocional era uma das causas para isso.

Dragonatos como ele eram uma raça que vivia mais do que humanos ou homens-fera. A velocidade do desenvolvimento emocional tendia a ser inversamente proporcional ao tempo de vida de uma raça. Graças a isso, embora Castor tivesse vivido por mais de cem anos, sua idade mental era comparável a trinta anos, e ele tratava Georg, alguém de cinquenta, como um ancião.

Entretanto, embora ele tenha enviado várias cartas a Georg perguntando qual seria o próximo passo, não recebeu resposta alguma.

— Só pode haver algo de errado! — exclamou Castor. — Se ele fosse fazer as pazes com o rei a essa altura, então seria melhor nunca ter se erguido contra ele. Por outro lado, se pretende lutar contra o rei, deve estar desesperado para que a nossa força aérea o ajude. Então, por que ele não está nos contando nada? Pretende lutar contra o rei apenas com o exército?

Tolman ponderou:

— A única coisa na qual consigo pensar é… Será que ele foi “levado à loucura pela ambição”, como sugerido pela Duquesa Walter? Mestre, mesmo que você desconfie do novo rei Souma, não gostaria de prejudicar o ex-rei Albert, sua esposa Elisha, e até mesmo a Princesa Liscia, não é?

Prejudicar a família real.

Quando Tolman falou essas palavras, Castor gritou em voz alta:

— É claro que não! O próprio Duque Carmine disse: “Assim que o Rei Souma for removido, farei com que o Rei Albert volte a assumir o trono, e então o apoiaremos”!

— E se isso fosse uma mentira? — perguntou Tolman. — Será que, na verdade, ele deseja tomar o trono para si? Se for esse o caso, você e a Duquesa Walter definitivamente serão os seus próximos inimigos. Em preparação para quando isso acontecer, ele não poderia estar tentando resolver as coisas apenas com as próprias forças, de modo a evitar que vocês dois obtenham alguma influência ao fim da guerra? Para que assim possa abolir ambas as suas casas depois de tudo?

— Isso é um absurdo! — explodiu Castor. — Não existe forma de o Duque Carmine pensar em fazer isso!

Castor negou, mas, como seria de se esperar de alguém a quem foi confiado como administrador da sua casa, Tolman tinha a capacidade de analisar as coisas com muita calma. Esta foi a conclusão a qual ele chegou, deixando de lado os apelos à emoção e olhando apenas para os interesses dos envolvidos.

Entretanto, como Castor conhecia Georg muito bem, não podia aceitar esse argumento.

— Não existe guerreiro que se importe mais com este país do que o Duque Carmine! — protestou Castor. — Ele jamais poderia prejudicar a família real…

— Entretanto, não foi por causa das suas dúvidas a respeito do Duque Carmine que a Duquesa Walter se afastou dele? — perguntou Tolman. — Indo até mesmo tão longe a ponto de levar a mestra e o Jovem Mestre Carl de volta para casa com ela?

— …

Temendo que a esposa de Castor, Accela, e seu filho mais velho, Carl, fossem considerados coletivamente responsáveis, Excel exigiu que ele se divorciasse de Accela, e estava agora os abrigando na Casa de Walter. Ao menos não seriam pegos no confronto final entre Georg e Souma, que sem dúvidas estava por vir. Isso pelo menos servia de algum conforto para Castor.

Ele apoiou os cotovelos na mesa, cobrindo os olhos com as mãos.

— Não consigo imaginar que o Duque Carmine tenha enlouquecido de ambição…

— Mestre… — começou Tolman.

— Sinto muito, mas você poderia me deixar sozinho por um momento?

— Como desejar…

Com uma reverência, Tolman saiu do escritório.

Deixado sozinho no local, Castor se recostou na cadeira, olhando para o teto. E então…

— Carla — disse ele calmamente. — Você está aí, não está?

A janela atrás de Castor foi aberta e uma garota com asas vermelhas entrou com um olhar envergonhado na cara. Com longos cabelos ruivos da mesma cor das suas asas, essa linda garota que parecia ter cerca de dezoito anos era a única filha de Castor, Carla. Em contraste com sua aparência de garota bonita, ela tinha a coragem e o senso de combate para liderar uma unidade da força aérea em batalha.

— Então você me notou — disse ela.

— Você vai precisar esconder a sua presença melhor do que isso. O som das suas asas, quando pousou na varanda, te entregou.

— Mas isso não tem nada a ver com sentir a minha presença. — Carla encolheu os ombros. Em seguida, puxou um maço de cartas do bolso.

Por estar falando com sua filha, Castor estava assumindo um tom menos formal.

— O que é isso?

— São de Liscia — disse ela. — Liscia enviou várias delas, pedindo que fizéssemos as pazes com o Rei Souma.

Carla considerava Liscia uma amiga. Elas começaram a se conhecer após Liscia entrar para o exército. Como ambas tinham personalidades sérias, e ambas haviam se alistado no exército, mesmo sendo mulheres de nascimento nobre, tinham muito em comum e logo se tornaram amigas.

Entretanto, por Carla ser ainda mais séria do que Liscia… ou, para colocar em termos menos favoráveis, por ser um pouco mais teimosa… quando Liscia ficou noiva do Rei Souma, Carla suspeitou de coerção, e ela teve que tornar-se hostil a Souma. Graças a isso, mesmo quando sua mãe e seu irmão foram para a casa Walter, permaneceu com seu pai, Castor.

Entretanto, neste ponto, ela estava começando a mudar de ideia.

— Posso sentir a paixão de Liscia nestas cartas. Não são de alguém que foi coagida a um noivado indesejado. Além disso, em suas cartas, Liscia alerta para “Tomar cuidado com a forma que Duque Carmine atualmente está”. Pode ser que aqueles que foram enganados sejamos nós…

— Entendo… — disse Castor. — Então a Princesa Liscia sente a mesma coisa, não é?

Os ombros de Castor caíram. Então, como se tomando uma decisão, ergueu a cabeça.

— Carla… Ainda não é tarde demais. Vá ficar com Accela. Eu sou o único que precisa se juntar ao Duque Carmine.

Como pai, ele devia querer evitar que ela se envolvesse em algo que ele estava fazendo por pura amizade. Carla, entretanto, balançou a cabeça, decidida.

— Não sei nem mesmo como devo mostrar a cara para Liscia depois disso tudo — disse ela. — Além do mais, você ainda acredita que o Duque Carmine pensou um pouco nisso, não é, Pai? Nesse caso, vamos manter a nossa posição até o fim. Mesmo que o Duque Carmine seja derrotado e nos tornemos traidores, se você cair ao lado dele, por ter acreditado na sua amizade, duvido que as pessoas rirão de você.

— Mas… você então…

— Nasci em uma família de militares — disse Carla. — Estou preparada. Ah, não se preocupe, ainda temos o Carl, então a linhagem da casa ao menos permanecerá. Por isso, como membros da Casa de Vargas, deixaremos um registro ilustre de serviço militar.

— Entendo…

Ao saber sobre a determinação de Carla, Castor tomou a sua própria decisão. Ele acreditaria em Georg Carmine até o fim, e estava pronto para cair por causa disso.

Para tanto, não convocou as unidades da força aérea estacionadas ao redor do Ducado Vargas. Isso foi feito sem qualquer consideração, de modo que mesmo se ele entrasse em conflito com o rei após o ultimato do dia seguinte, lutaria apenas com suas próprias forças pessoais na Cidade Dragão Vermelho, e não arrastaria o resto da força aérea para o conflito.

À noite, no mesmo dia, em determinado local…

— Entendo… Então aqueles dois resolveram fazer isso.

Quando soube dos movimentos de Castor e Carla com os espiões que havia plantado na Cidade Dragão Vermelho, o belo rosto da Almirante da Marinha Excel Walter assumiu uma expressão de tristeza, e ela soltou um suspiro.

Esta beldade com chifres que, apesar de ter vivido por quinhentos anos, não parecia ter mais do que vinte e cinco, estava na janela de seu quarto escuro, olhando para o céu noturno. Até as roupas que usava pareciam pesar sobre ela neste momento.

Esta noite estava nublada e mal era possível ver as estrelas.

— Castor está preparado para se martirizar pela sua amizade com Georg — disse Excel com tristeza. — E, enquanto ele faz isso, Carla está preparada para segui-lo até o fim. Por mais tolos que sejam, não posso negar a plena validade de suas escolhas.

Excel fechou os olhos lentamente, levando a mão aos fartos seios que ficavam aparentes até mesmo através de sua roupa parecida com um quimono.

O que ela deveria pensar, sabendo da determinação de seu genro e neta?

Algum tempo passou até que ela voltasse a abrir os olhos, virando as costas para a janela e partindo.

— Na verdade, isso só me dá ainda mais motivos para fazer o que devo.

Mesmo que isso significasse pisar na determinação deles…

 


 

Tradução: Taipan

 

Revisão: PcWolf

 


 

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