— Recebi uma mensagem do meu pai, o chefe da vila dos elfos negros — disse Aisha. — “Ontem à noite, um súbito deslizamento de terra engoliu cerca de metade da aldeia”, diz. Ultimamente tem chovido muito na Floresta Protegida por Deus… Sim. Tem… muita gente desaparecida… Ahh… — A voz de Aisha falhou.
Sua família e terra natal tinham acabado de ser atingidas por um terrível desastre. Devia ter sido um enorme choque para ela.
Estou preocupado, mas não tenho tempo para confortá-la…, pensei. Nesta situação, como rei, que movimentos devo tomar?
Enquanto eu pensava nisso em silêncio, Hal disse: “Ei, você poderia pelo menos confortá-la…”, mas Kaede já o estava puxando pela orelha antes que eu pudesse dizer qualquer coisa em resposta.
— O rei está pensando — pregou ela. — Você não devia interromper, sabe.
Eu a observei arrastar Hal para longe. Que boa amiga de infância era.
Certo, ordenei os meus pensamentos… Levantei o meu rosto, agindo na mesma hora.
— Esta unidade irá ajudar a aldeia dos elfos negros! — declarei.
Hal segurou a orelha e piscou várias vezes para mim.
— Esta unidade? Somos apenas cerca de cinquenta.
— O socorro em desastres é uma batalha contra o tempo — falei para ele. — Não temos tempo para voltar à capital. Felizmente, a Floresta Protegida por Deus está mais perto daqui do que da capital. Primeiro, vou enviar esta unidade como um time avançado!
Dei ordens a cada um deles.
— Liscia, volte para a capital e peça que enviem uma unidade de socorro. Além disso, fale com Hakuya e peça que envie comida, roupas, tendas e outros suprimentos de socorro para a aldeia dos elfos negros.
— Entendi, mas… Você não tem uma “consciência” trabalhando na capital? Se é para fazer isso, não seria mais rápido entrar em contato com ele por meio dela? — perguntou Liscia.
— Eu não posso. O Poltergeist Vivo tem um alcance efetivo de apenas uns 100 metros. Os bonecos podem ignorar essa limitação de alcance, mas não podem cuidar da papelada, então não deixei nenhuma para trás.
Se eu soubesse que isso iria acontecer, teria deixado pelo menos um boneco para trás. Se tivesse feito isso, poderia pelo menos ser capaz de comunicar que havia acontecido algo.
Agora acho que já é tarde para se arrepender…, pensei.
— Então, é isso — falei. — Alguém precisa fazer o pedido pessoalmente.
— Entendo — disse ela. — Deixe comigo.
— Quando for, leve os guarda-costas que trouxemos até aqui com você! Não seria nada bom se te acontecesse algo no caminho.
— Acho que vou ficar bem, mas… Entendido. Você também precisa tomar cuidado. — Lisica saiu correndo na mesma hora.
Se parasse para pensar a respeito disso, era incrível que eu estivesse fazendo a princesa de uma nação se comportar como uma mensageira, mas Liscia provavelmente não se importava. Tínhamos a mesma opinião sobre essas coisas.
— Aisha, a Floresta Protegida por Deus fica muito longe daqui? — perguntei.
— Meio dia em um cavalo rápido — disse ela. — Em uma marcha normal, levará dois dias, não importa o quanto nos apressemos.
— Dois dias… Quando aconteceu o desastre? — perguntei.
— Foi durante a hora das bruxas, pelo que entendi.
— Então já passou praticamente meio dia? O mais rápido que poderemos chegar será dois dias e meio após o desastre… Ter só meio dia para não batermos a marca de 72 horas será complicado.
Hal parecia confuso.
— O que é isso? O que você quer dizer com “a marca de 72 horas”?
— Em desastres naturais como este, essa é a linha a partir da qual a taxa de mortalidade para aqueles que precisam de resgate dispara. Isso é três dias inteiros após o desastre. Chama-se “parede das 72 horas”.
— Desculpa. Poderia dizer isso de um jeito mais fácil de entender? — perguntou ele.
— Isso significa que muitas vidas podem ser salvas nessas 72 horas.
— Agora entendi… Espera, nesse caso, não podemos ficar desperdiçando tempo! Não deveríamos estar indo para a Floresta Protegida por Deus agora mesmo?! Vamos precisar de dois dias inteiros, não é? — demandou ele.
— Eu sei disso — falei. — Temos alguma carruagem?
— O plano original previa que usaríamos carruagens apenas enquanto viéssemos e partíssemos. Se precisarmos conseguir carruagens para cinquenta pessoas, isso vai exigir tempo.
— Droga! — falei. — Não há outra maneira para se mover…?
Então notei algo. Hal e os outros olharam para ver o que eu estava olhando e engoliram em seco.
Eu estava olhando para as feras puxando os vagões de contêiner. Se pegar um rinoceronte, adicionar um dragão de Komodo, dividir por dois e multiplicar o tamanho por dez, conseguirá esses lagartos gigantes, os rinossauros. Eles eram grandes, mas podiam trabalhar em altas velocidades, comparáveis até mesmo a uma locomotiva a vapor.
— Ei, Hal, Kaede… — falei.
— O quê? — perguntou Hal, cauteloso.
— O que é? — perguntou Kaede.
— Isso provavelmente vai nos deixar com náuseas, então vocês vão ficar bem? — perguntei.
— Sou bastante resistente a enjoos, sabe — disse Kaede.
— Eu posso lidar com isso… — murmurou Hal.
— Você pode? Então também vou resistir.
Na mesma hora dei uma ordem a cinquenta membros do Exército Proibido.
— Descarreguem toda a carga dos vagões de contêineres! Felizmente, a estrada passa perto da Floresta Protegida por Deus, mas assim que entrarmos na floresta, estaremos viajando a pé! Quanto mais leve for a nossa carga, melhor! Deixem os materiais onde vocês os descarregarem! Mesmo se os perdermos, vocês não serão culpados! Vou pedir desculpas por escrito ao Hakuya e me livrar disso com uma pequena repreensão! Além disso, tragam toda a comida conosco! Não podemos fazer algo idiota como aparecer para oferecer ajuda e depois tomar a comida dos moradores locais!
— Sim senhor!
Seguindo as minhas ordens, os soldados do Exército Proibido rapidamente descarregaram os vagões de contêineres.
Como pode se esperar de pessoas que não faziam nada além de trabalho braçal, eles se moviam rápido. A maneira como trabalharam juntos e com eficiência para transportar os materiais fazia com que parecessem transportadores habilidosos. Eles realmente pareciam confiáveis.
— Não, somos soldados, lembra? — reclamou Hal.
— Pare de tagarelar e comece a trabalhar, Hal — disse Kaede.
Ela estava usando sua magia para mover materiais que normalmente precisariam de alguns homens grandes e fortes trabalhando juntos para erguê-los.
A magia de Terra era, no final das contas, a magia de manipulação da gravidade. Não criava terra ou pedra do nada: manipulava o que já existia. Provavelmente era por isso que ela sabia fazer truques como esse. Essa era uma enorme contribuição.
No momento, eu devia ser a pessoa menos útil dentre os presentes… Como a minha força era abaixo da média, mesmo que me juntasse aos soldados, provavelmente só ficaria no caminho.
Enquanto, por falta de algo melhor para fazer, eu observava todos trabalhando, Aisha veio até mim.
— Vossa Majestade…
Ela parecia enfraquecida, como se pudesse desabar a qualquer momento.
Desde que a recrutei, Aisha esteve sempre ao meu lado como guarda-costas, então eu sentia como se já tivesse visto muitas das suas expressões. Seu rosto determinado quando me fazia um apelo direto, seu rosto de guerreira imponente, seu rosto de criança enquanto comia alguma coisa, o rostinho de cão abandonado que fazia quando tinha que esperar para poder comer… Eu já tinha visto muitas das suas expressões, mas esta era nova.
Ver uma garota que era muito mais poderosa do que eu parecendo tão frágil fez o meu coração doer. Aisha sempre me protegeu atuando como minha guarda-costas, mas desta vez eu que precisava protegê-la. Levei a minha mão à sua cabeça, que era quase da mesma altura que a minha.
— M-majestade? — perguntou ela.
— Deixe isso comigo. — A puxei, para que descansasse a sua testa no meu ombro. — Não tenho poder nenhum, e sou muito mais fraco do que você, Aisha, mas estou em uma posição que pode mover muita gente. Então deixe isso comigo. Se houver vidas que podem ser salvas, salvarei tantas quanto for possível.
— Majestade… Majestadeeeeeeeeee! — Enterrando o rosto em meu ombro, Aisha desatou a chorar.
Eu gentilmente a acariciei.
Até que estivéssemos prontos para partir, consolei a pobre Aisha.
A Floresta Protegida por Deus era uma área florestal ao sul do país.
O nome parecia ser proveniente da lenda de que um deus-fera que assumia a forma de um antílope-cabra protegia a floresta.
Dito isso, não havia alegações de avistamento dele nos últimos anos, e a única prova que sobrava de sua existência era que a sua proteção divina impedia que os gafanhotos atacassem a floresta, impedia que as secas drenassem tudo, impedia que ondas de frio congelassem o lugar e mantinha as árvores sempre verdes. Este deus-fera que só mostrava a sua existência através da proteção divina… existia mesmo?
Foram os elfos negros que proclamaram que sua floresta estava sob a proteção do deus-fera.
A floresta tinha que ser aproximadamente tão grande quanto o Mar de Árvores ao redor do Monte Fuji. Eles chamavam de floresta, mas na verdade era o domínio autônomo dos elfos negros, e aquela raça xenófoba nunca deixava que outras raças adentrassem em sua floresta. Até Aisha me fez um apelo para repreender os invasores.
Desta vez, havia cerca de cinquenta (centenas, se levasse em consideração as unidades que chegariam depois) humanos aparecendo para fornecer socorro, e estaríamos entrando na floresta, mas isso era a pedido de Aisha, a filha do chefe, então parecia que seria tratado como um caso especial. Os elfos negros viviam na floresta, defendiam sua independência e odiavam forasteiros.
Na verdade, apesar do catastrófico deslizamento pelo qual passaram, aparentemente não haviam enviado qualquer pedido de ajuda à capital. Se Aisha não tivesse sido contatada, talvez nunca descobriríamos a respeito do desastre. Era admirável que tentassem resolver os próprios problemas sozinhos, mas era ridículo que deixassem o número de mortes aumentar só por causa disso.
— Eles começaram a ficar teimosos porque nem mesmo tentam conhecer o mundo exterior — falou Aisha com tristeza enquanto caminhávamos pela Floresta Protegida por Deus. — Por ter feito contato com você, majestade, e você ter escutado as minhas opiniões, surgiram sinais de que eu estava começando a mudar, mas… — Sua voz ficou indignada. — Esta não é uma época em que podemos viver sozinhos na floresta. Com a ameaça do Domínio do Lorde Demônio, nunca sabemos quando começarão a se mover para o sul! Acreditam que, se nos fecharmos na floresta, o deus-fera nos salvará quando chegar a hora?! O deus-fera é o protetor da floresta, não da raça dos elfos negros!
— S-sim… — falei, surpreso.
— É por isso que nós, elfos negros, devemos estudar e aprender a respeito do resto do mundo! — Aisha estava exaltada. Parecia ser a primeira vez que ela parecia tão respeitável, mesmo que só por um momento. — Além disso, se eu ficar na floresta, como vou provar as deliciosas comidas de Vossa Majestade?! — acrescentou ela.
Retiro o que eu disse… Aisha continuava sendo Aisha.
Bem, é melhor que ela continue assim do que fique tensa e ansiosa, pensei.
Logo após chegarmos à aldeia dos elfos negros, fomos recebidos por um homem bonito que parecia estar na casa dos vinte anos.
— Ah, Vossa Majestade! — exclamou ele. — Que bom que você veio.
Seu belo rosto tinha certa semelhança com o de Aisha. Será que ele era seu irmão mais velho?
Ele era alto, tinha pelo menos 190 cm. Só pelos acessórios que ele tinha na cabeça e braços eu já poderia dizer que era de alta classe, mas o robe de aparência cara que usava estava coberto de sujeira. Ele também parecia um pouco cansado.
Enquanto diante daquele jovem elfo, Aisha bateu com a mão no próprio peito.
— Pai, eu trouxe Sua Majestade comigo.
— Muito bem — disse ele. — Sua amizade com Sua Majestade deve ter surgido graças à orientação do nosso deus-fera.
— Pai?! — exclamei.
Minha surpresa levou um sorriso ao rosto exausto do jovem elfo.
— Meu rei, é um prazer conhecê-lo. Sou o chefe dos elfos negros e pai de Aisha, Wodan Udgard. Obrigado por cuidar tão bem da minha filha.
— Ah, claro. Um… Você é bem jovem.
— Elfos de sangue puro param de envelhecer quando seus corpos amadurecem um pouco — explicou ele. — Também vivemos três vezes mais do que os humanos e, graças a isso, embora eu possa parecer jovem, já vivi 80 anos.
Entendo, pensei. É quase a mesma coisa que se vê sobre elfos e elfos negros nas histórias, hein? Elas dizem que os elfos têm vida longa, permanecem jovens por muito tempo e que são todos lindos. Porém, meu camareiro, o meio-elfo Marx, é um cara velho, não é? Será que os meio-elfos envelhecem de forma diferente?
Deixando isso de lado, sussurrei para Aisha:
— Ele parece receptivo. Os elfos negros não deviam ser xenófobos?
— Meu pai é o chefe da facção da liberdade cultural, então apoia o intercâmbio cultural com o exterior. Também foi ele que aprovou que eu fizesse um apelo a você.
— Entendo. A razão pela qual você não se preocupa com as regras é graças à influência dele, hein? — falei. Então apertei a mão de Wodan. — Eu sou o rei (atuante), Souma Kazuya. Venho a pedido de Aisha para prestar socorro.
— Que bom que você veio — disse ele. — Além disso, você é o rei, então, por favor, não precisa ser tão formal comigo.
— Beleza… Melhor assim?
— Sim. Mesmo assim, nunca esperei que o próprio rei viesse.
— Aconteceu de eu estar fazendo uma inspeção por perto — expliquei. — Trouxe cinquenta membros do Exército Proibido que estavam presentes como um grupo avançado. Em alguns dias, um segundo grupo com suprimentos de emergência deverá chegar.
— Fico grato. A verdade é que eu adoraria que toda a aldeia viesse recepcioná-lo, mas, dadas as circunstâncias, espero que você entenda.
— Eu sei — falei. — É uma situação realmente horrível.
A aldeia dos elfos negros ficava no centro de um enorme círculo de árvores de proteção. Existiam aldeias semelhantes espalhadas por toda a floresta, e os elfos negros viviam nelas. Se fosse olhar para a Floresta Protegida por Deus como um país, esta aldeia seria a capital, e havia mais elfos negros vivendo nela do que em qualquer outro lugar.
Mais ou menos um terço da aldeia, a porção que ficava mais ao leste, foi destruída pelo deslizamento de terra. Parecia que uma encosta ligeiramente íngreme no lado leste havia passado por um deslizamento. Talvez graças ao longo período de chuva, houve um grande volume de água correndo pela superfície exposta. O solo podia ter acabado ficando mole. Nossa única salvação era que no momento estava ensolarado. Se estivesse chovendo, teríamos que nos preocupar com outro colapso enquanto trabalhássemos.
— Como estão os danos? — perguntei.
— Já registramos quase cem afetados. E também temos mais de quarenta desaparecidos.
Isso é muito, pensei. Será uma batalha contra o tempo para ver quantos poderemos resgatar.
— Vamos começar a operação de socorro agora mesmo — falei. — Entretanto, existe o risco de outros desastres, por isso seria bom evacuar as mulheres. Além disso, peça para algumas pessoas ficarem de olho na montanha, por favor. Se a montanha começar a passar por algum movimento, ou se houver algum ruído estranho, peça que relatem. Se voltar a colapsar enquanto realizamos as operações de socorro, isso seria um problema bem sério.
— Farei isso agora mesmo — concordou ele. — Há mais alguma coisa que você gostaria de me perguntar?
— Por favor, faça uma lista dos desaparecidos. Vamos apagar os nomes conforme procedermos com o resgate.
— Entendido.
Depois de acertar as coisas com Wodan, dei ordens a Aisha e ao Exército Proibido.
— Aisha.
— Sim senhor!
— Faça com que as mulheres evacuem para um lugar que não pareça que vai desabar. Consulte Wodan para decidir qual é o melhor local. Você vai acompanhá-las e garantir que cheguem em segurança ao destino.
— Sim senhor! Entendido!
— Bom — falei. — A partir de agora, o Exército Proibido iniciará as operações de busca por aqueles cuja segurança não foi confirmada. Vocês têm muita habilidade em cavar, tenho certeza. Ouçam com atenção e, caso escutem vozes pedindo socorro na terra, resgatem com cuidado!
— Sim senhor! — responderam todos.
— Entretanto, tenham certeza de que não farão nada que não possam controlar. Se parecer que pode haver outro colapso, recuem, mesmo que estejam salvando alguém. Os resgatadores não podem sofrer nem mesmo uma única perda. Entendido?
— Sim senhor!
Acenando diante da resposta dos soldados do Exército Proibido, gritei uma ordem:
— Nós iremos agora, comecem as operações de resgate!
Tradução: Taipan
Revisão: PcWolf
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