Dark?

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 01 – Cap 02.2 – Começo em X

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Eu estava preocupado com quantas pessoas apareceriam, mas a resposta foi muito melhor do que eu esperava. Não colocar nenhum limite no tipo de dom e oferecer um prêmio em dinheiro provavelmente ajudou.

A capital ficou tão lotada de pessoas que tivemos que impor restrições ao número de cidadãos com acesso ao palácio. A situação era tão avassaladora que os funcionários, incluindo Marx, começavam a correr feito loucos desde a manhã.

Parecia que muitas pessoas tinham aparecido, mas pelo visto, desde que fiz uma convocação tão ampla, as massas correram para a capital para ver que tipo de gente chamaria a atenção do rei.

Quando as pessoas se movem, as coisas também se movem.

Os comerciantes que perceberam uma oportunidade de negócio se reuniram para abrir uma loja, de modo que a cidade-castelo parecia estar em um festival. Foi um tiro inesperado para a nossa economia, mas, ao mesmo tempo, significava mais trabalho para os funcionários.

E, quanto ao importantíssimo recrutamento, a resposta também foi massiva.

Uma infinidade de dons diversos, alguns imediatamente úteis, alguns sem uso aparente à primeira vista, estavam em exibição na estação de julgamento. Lá, cinco funcionários avaliavam se os dons dos participantes eram únicos. Se fossem reconhecidos como sendo, o prêmio em dinheiro seria concedido, não importando qual fosse o dom. Liscia e eu estávamos em uma sala separada, lendo os relatórios dos jurados e escolhendo as pessoas de quem gostávamos.

Realmente havia muitos candidatos, mas isso também indicava uma considerável sobreposição de seus dons. A competição foi particularmente acirrada para o “Dom da Habilidade Marcial”, “Dom do Talento” e “Dom da Beleza”, então estavam decidindo sobre um número um para cada categoria em outro local.

Em cada um desses locais, nomeados de “O Melhor no Torneio de Artes Marciais do Reino”, “Talento do Reino” e “Grande Prêmio da Garota Bonita de Elfrieden”, os espectadores gostavam de assistir aos procedimentos.

Aliás, depois disso, a pedido da guilda dos mercadores, esses torneios se tornaram um evento anual na capital Parnam e atraíam um grande número de turistas…

Além disso, o Grande Prêmio da Garota Bonita de Elfrieden gerou rumores de que o rei escolheria suas amantes ali. Como resultado, todos os nobres que queriam vincular suas próprias linhagens à família real enviaram suas parentes para participar, mas isso não é relevante no momento, então vou pular essa parte. Porém, quando Liscia ouviu os rumores, acabei sentindo alguns olhares frios em minha direção…

O processo de julgamento foi originalmente planejado para durar um dia, mas em vez disso, durou três. Aqueles com dons que me fizeram pensar: “É isto que estou procurando” foram apresentados a mim no quarto dia.

Eu estava sentado no trono, com Liscia ao meu lado. (Tecnicamente, enquanto estávamos noivos, o casamento ainda não havia sido celebrado, então ela não tinha permissão para tocar o trono da rainha.) Um degrau abaixo de nós, o Primeiro-Ministro Marx estava à nossa direita, o capitão da Guarda Real Ludwin à esquerda.

A propósito, tínhamos transportado a joia da Sala de Voz da Jóia para a sala do trono, então a cena estava sendo transmitida por todo o reino.

Cinco jovens estavam diante de nós:

Uma tinha cabelos prateados e orelhas de elfa, uma garota que parecia uma guerreira com alguns músculos aparecendo ao longo de sua pele morena.

Um usava um robe preto que cobria todo o corpo, um jovem magro com uma expressão um tanto apática no rosto.

Uma parecia distinta, mas de um jeito diferente de Liscia, uma linda garota de cabelo azul com um ar gentil em torno dela.

Uma tinha pequenas orelhas de raposa brotando da cabeça, uma garota que parecia ser do interior e com cerca de dez anos.

E, finalmente, um homem gordo de meia-idade encharcado de suor.

— Vossa Majestade. As muitas pessoas talentosas deste país que vieram em resposta à sua convocação foram devidamente registradas. Essas pessoas aqui possuem dons ainda mais raros.

Quando Marx disse isso, o gordo se prostrou diante de mim, saltando para fazê-lo com a velocidade de um gafanhoto. A linda garota de cabelo azul fez o mesmo, cada um de seus movimentos foi cheio de graça, e a garotinha com orelhas de raposa desajeitadamente a seguiu. O jovem vestido de preto observou todos eles sonolento, prostrando-se diante de mim só no final.

A garota com orelhas de elfa permaneceu de pé. Todos os presentes ficaram chocados.

— Você está diante do rei. Não irá se prostrar? — Ludwin a advertiu com uma voz baixa, mas contundente.

A garota com orelhas de elfa parecia não se importar. Mais do que isso, me olhou nos olhos e disse o seguinte:

— Peço sua indulgência, pois este é o costume da minha tribo. Os guerreiros de minha tribo não baixam a cabeça diante de ninguém, exceto de seu mestre. E, para nossas mulheres, não abaixar a cabeça diante de ninguém, exceto seu marido, é prova de sua castidade.

— Mesmo assim… — argumentou Ludwin.

— Não me importo. — Levantei a mão para impedir Ludwin de discutir com ela. — Somos nós que lhe pedimos que ajude o país. Não há necessidade para tanta tensão.

— Como quiser, Vossa Majestade… — disse Ludwin, recuando facilmente.

Ele fez isso sabendo o que iria acontecer, aposto… Agiu de uma forma que evita que as pessoas nos considerem levianamente, ao mesmo tempo em que mostra como o rei é tolerante. Que ator impressionante. Nesse caso, eu terei que corresponder com suas expectativas e bancar o rei tolerante.

Me levantei do trono e me virei para encarar todos.

— Por favor, não se prostrem diante de mim. Sou eu que estou em posição de lhes pedir um favor. Não façam cerimônia. Vão em frente e fiquem à vontade.

Os quatro se levantaram em silêncio. Olhei para Marx, indicando que ele deveria continuar.

O primeiro-ministro acenou com a cabeça, começando a ler algum tipo de pergaminho.

— Vamos agora anunciar os dons dessas pessoas e realizar a entrega dos prêmios! Madame Aisha Udgard, elfa negra da Floresta Protegida por Deus, dê um passo à frente!

— Sim senhor!

Desta vez, a garota com orelhas de elfa obedeceu humildemente.

Ela parecia ter menos de 20 anos, mas eu tinha ouvido dizer que elfas negras permaneciam jovens por um longo tempo, então sua aparência e idade não combinavam. Ela tinha pele morena e um atraente rabo de cavalo prateado. Usando armadura no peito e manoplas, estava vestida como uma guerreira. Suas pernas esbeltas apareciam através da fenda em sua cintura. Elas eram moderadamente musculosas e pareciam bastante saudáveis.

Elfos negros, pensei. Uma das raças minoritárias de Elfrieden, uma raça com um alto nível de habilidade em combate. Em vez de nas cidades, residem na Floresta Protegida por Deus e recebem autonomia como protetores da floresta. Têm um forte senso de unidade racial e rejeitam estranhos… huh.

Enquanto agia como se nada estivesse fora do normal, manipulei as luvas que deixei impregnadas com minha consciência na outra sala para folhear a Enciclopédia  Infantil de Elfrieden (já que era destinada a crianças, as descrições eram curtas, o que a tornava útil ao procurar informações rapidamente) para ler o artigo sobre elfos negros.

Os elfos negros deste país não eram elfos caídos que perderam a bênção dos deuses, como era comum em muitos cenários de fantasia. Parecia que os elfos loiros de pele clara eram chamados de “elfos claros”, e os elfos de cabelos prateados e pele marrom eram chamados de “elfos negros” para fazer distinção entre ambos.

— Esta se mostrou notavelmente dotada de habilidade marcial. Foi a vencedora e a Melhor no Torneio de Artes Marciais do Reino. Essa conquista mostra que realmente está preparada para ser chamada de a melhor neste reino, e por isso, nós a agraciamos! — declarou Marx.

Huh, então ela é a vencedora daquele torneio de artes marciais. Então deve ser bem durona. Havia apenas uma coisa que me preocupava.

— Fiz um apelo por pessoas capazes que queiram ajudar o reino, mas você irá me ajudar quando a hora chegar? Li que os elfos negros são leais apenas ao seu próprio povo.

— Esta não é uma era em que sobreviveremos protegendo apenas nossas florestas… Se o país cair, a floresta será ameaçada. Alguns acham que nós, elfos negros, precisamos mudar. Eu sou um deles — disse Aisha claramente.

— Bem… Essa é uma declaração bastante liberal para alguém de uma raça tão conservadora — falei.

— Verdade, sou vista como uma herege. Entretanto, se não fizermos algo… Rei Souma?

— Sim?

— Eu não preciso do dinheiro do prêmio. Em vez disso, peço que me permita falar diretamente com você.

O salão ficou agitado. Aisha estava tentando fazer um apelo direto ao rei. Mesmo no Japão, houve um tempo em que isso teria sido considerado um crime capital. Parecia que este país não era diferente.

As mãos de Liscia e Ludwin traçaram o caminho até suas espadas, mas fiz sinal para que parassem.

— Posso permitir isso. Diga o que quiser.

— Souma?! Isso não…!

— Ela estava disposta a arriscar muito para me dizer isso. Como rei, devo ouvi-la.

— Obrigada. Então falarei. — Aisha estufou o peito com orgulho e falou: — Recentemente, houve um grande número de incursões de outras raças na Floresta Protegida por Deus. Colhem cogumelos e outras plantas selvagens que são comestíveis, além de caçar as feras da floresta. Entendo que você tem uma crise alimentar para resolver; entretanto, se roubarem essas coisas de nós, seremos nós que morreremos de fome! Não tivemos escolha a não ser pegar em armas contra os intrusos. Mesmo agora, há confrontos ocorrendo em toda a floresta. Rei Souma, por favor, reprima os infratores!

— Entendo…

Basicamente, ela quer que eu proíba as pessoas que estão sem comida de caçar ou colher plantas selvagens na floresta. Quando há uma crise alimentar, se alguém vai para uma área onde a distribuição é limitada, a crise lá se torna ainda pior. Se por acaso houver uma floresta com recursos abundantes nas proximidades, acho que podem invadir mesmo em face dos ataques de elfos negros.

— Claro, pode deixar. Em relação à Floresta Protegida por Deus, já existem leis restringindo a entrada, então não posso emitir uma nova proibição, mas vou cuidar para que a ajuda alimentar chegue às pessoas nas proximidades de uma vez por todas. Se, mesmo depois disso, ainda houver alguém tentando entrar na Floresta Protegida por Deus, iremos reconhecer os infratores como caçadores predatórios e processá-los.

— Obrigada. Você tem minha gratidão.

Com essas palavras, em vez de se curvar, Aisha levou a mão ao peito e fechou os olhos. Eu não tinha certeza se isso era um gesto de gratidão ou apenas uma pose mostrando alívio por realizar sua tarefa.

— Ainda assim, Aisha, a caça predatória é um crime indescritível, mas se pensarmos no futuro, não seria sensato considerar o comércio com quem está fora da floresta? Não existem coisas no mundo exterior que atraem o seu interesse? — perguntei.

— Bem, sim, mas… É provável que não tenhamos bens comerciáveis.

— Hmm… E madeira? Vocês não têm um pouco proveniente do desbaste periódico?

Vivendo em uma floresta, deviam ter madeira de sobra para não saber o que fazer com tanta. No mundo externo, por outro lado, a demanda por isso era alta. Devia ser um comércio bom… Foi o que pensei, mas…

— Desbaste periódico… O que seria isso? — perguntou Aisha com uma expressão séria no rosto, e eu não pude deixar de ficar pasmo por um momento.

Hã? Será que não fazem desbaste periódico nas florestas deste mundo?

— Estou me referindo ao corte periódico de um determinado número de árvores para a manutenção da floresta…

Ao dizer isso, olhei para Liscia, Marx e Ludwin, mas todos balançaram a cabeça. Pelo visto, foi a primeira vez que ouviram algo parecido. Era o mesmo com Aisha.

— Cortar árvores… para proteger a floresta?

— É claro. Se você deixar as árvores em paz, elas continuarão crescendo e suas folhas e galhos se espalharão. Se bloquearem a luz do sol, as árvores pequenas não poderão crescer. Além disso, se estiverem crescendo muito densamente, isso afetará sua vida útil, então você acaba com nada além de árvores velhas que são finas e fracas, como brotos de feijão. Esse tipo de floresta de broto de feijão é facilmente destruída pela neve e pelo vento. Além disso, se o sol não chegar até o solo, ficará todo seco. Isso faz com que a terra perca sua capacidade de reter água, o que pode ser uma causa de deslizamentos. Isso é de conhecimento comum… certo?

Olhando ao meu redor, era como ver uma coleção de bonecos cabeçudos que só podiam balançar a cabeça para a esquerda e para a direita.

Aisha de repente se prostrou diante de mim.

— Rei Souma… não, Vossa Majestade!

— O-o quê?!

— Eu humildemente imploro seu perdão por minha grosseria anterior!

— Uh, eu nem me importei, mas… Espere, está tudo bem para você abaixar a cabeça assim?

— Não me importo! Porque, a partir deste momento, prometo servi-lo com lealdade para o resto da minha vida!

Whoa, whoa, espera. O que está acontecendo aqui…?

— Use minha vida como quiser! Meu corpo, meu coração, minha castidade, eu ofereço a você! Se me disser para lutar, eu lutarei! Se me disser para te amar, eu te amarei! Se me disser para que me torne sua concubina ou escrava, eu o farei! Se me disser para morrer, eu morrerei!

— De onde saiu essa lealdade maluca?! O que foi que aconteceu?!

— No entanto, antes que você ordene minha morte, peço que preste atenção ao meu pedido final!

— Hã? Você está me ignorando?! Você está me ignorando completamente?!

— Por favor, o mais rápido possível, vá até a Floresta Protegida por Deus! — Então ela voltou a bater a cabeça com firmeza no chão.

Nesse ponto, até Liscia ficou completamente surpresa.

Essa prostração autoagressiva é praticamente uma ameaça…

— Certo, vamos ouvir sua história — falei. — Você quer, basicamente, me levar até a Floresta Protegida por Deus, correto?

— É exatamente isso! E, na Floresta Protegida por Deus, por favor, nos ensine sobre este “desbaste periódico”! Nos últimos anos, a Floresta Protegida por Deus tem enfrentado exatamente os problemas dos quais você acabou de falar, senhor! Onde as árvores são densas, as mudas se tornam finas e fracas, e as árvores novas não crescem, a água fica lamacenta e, quando o vento ou fortes tempestades passam, desnudam a terra. Com suas palavras, finalmente descobri a causa para isso!

— A Floresta Protegida por Deus tem uma história que remonta a milhares de anos, não é? Ninguém nunca percebeu isso? — perguntei, apenas para Liscia e Aisha acenarem envergonhadas com a cabeça.

— Para começar, as árvores da Floresta Protegida por Deus têm vida longa — disse Aisha. — É por isso que, até agora, que estão chegando ao fim do ciclo de vida, ninguém percebeu…

— Isso mesmo… — disse Liscia. — E esse não é o único problema. Também não fazemos desbastes periódicos nas montanhas de Elfrieden, então a situação pode ser a mesma em todos os lugares.

— Bem, qualquer lugar onde não dependam muito da floresta deve estar bem. Quando as árvores velhas caírem, as novas crescerão da mesma maneira. Mesmo que um desastre natural destrua uma floresta de brotos de feijão, ela se recuperará em cerca de dez anos. Afinal, a natureza funciona seguindo ciclos.

— Isso não seria devastador para os elfos negros da Floresta Protegida por Deus? — perguntou Liscia.

Aposto que provavelmente sim… Afinal, eles vivem na floresta em si. Se a floresta desaparecer, teremos uma leva instantânea de refugiados. Não preciso de mais refugiados, então é melhor agir logo.

— Entendo. Vamos para a Floresta Protegida por Deus em algum momento no futuro próximo.

— Ohhhh! Obrigada, senhor! — gemeu Aisha.

— Porém, quando eu for, vocês terão que permitir a entrada de um certo número de pessoas. Parece que o manejo florestal vai ser uma tarefa envolvendo todo o país. Vou aproveitar esta oportunidade para dar algumas aulas sobre como estabelecer a indústria florestal.

— Como desejar, senhor — disse ela.

— Bom. Ludwin.

— Sir.

— Parece que ela quer me servir, então gostaria que você visse do que Aisha é capaz. Conhecemos suas proezas marciais individuais, mas se ela pode se tornar uma general e liderar tropas permanece como uma questão em aberto. Se ela tiver potencial, irei torná-la general de um exército. Se não, vou contratá-la como minha guarda-costas pessoal.

— Sim senhor. Entendido.

Muito mais tarde, após testá-la, Ludwin me disse: “Ela tem potencial como general. No entanto, sua habilidade como lutadora individual é maior, e seria um desperdício usá-la como general.” Ela fazia o conveniente tipo Lu Bu1 Lu Bu foi um militar durante a Dinastia Han na Era dos Três Reinos na China, ele era um guerreiro ímpar e também servia como general. Ele chegou a ser considerado um tipo de deus da guerra., pelo visto, sendo o tipo de lutadora que poderia agir como um general, mas também poderia ser enviada sozinha para causar estragos. A partir de então, manteria Aisha ao meu lado como guarda-costas.

Esse foi o fim do turno dela, mas as coisas acabaram ficando muito intensas com a primeira pessoa. Eu estava planejando distribuir os prêmios rapidamente e, em seguida, chamar qualquer pessoa que parecesse útil…

Por favor, me diga que os outros quatro não vêm todos com tanta bagagem, certo?

— Em seguida, Sir Hakuya Kwonmin, dê um passo à frente — disse Marx.

— Sim senhor. — Com seu nome sendo chamado, o jovem de robe preto caminhou vagarosamente para frente.

Ele era um jovem de cerca de 20 anos vestindo uma roupa distinta que parecia ter combinado uma batina de pastor e um quimono tradicional de kannushi2 Kannushi é a pessoa responsável pela manutenção de um santuário xintoísta e que lidera a adoração por um determinado kami (deus). e, em seguida, tingido o traje resultante de preto. Seu cabelo preto na altura dos ombros parecia despenteado. Ele era pálido e esguio, parecendo mais do tipo que vive em ambientes fechados. Parecia indiferente, mas seus olhos sonolentos estavam fixos em mim.

— Este homem, embora sua recomendação tenha vindo de outro, demonstrou o dom da sabedoria! — anunciou Marx. — Ele memorizou as leis deste país, e acredita-se que seu conhecimento e memória são incomparáveis nesta nação!

Isso é como ser capaz de recitar todos os Seis Códigos3 São os principais códigos legais que constituem o principal corpo legislativo no Japão, Coreia do Sul, e Taiwan. O termo também pode ser usado para descrever as seis principais áreas do direito. E também pode se referir a todos ou parte dos estatutos japoneses. de memória, acho. Isso pode ser incrível, sim. Se ele está presente pela recomendação de outra pessoa, então deve ter sido indicado por um parente, huh… Me pergunto o que é. Há algo começando a se arrastar no fundo da minha mente.

— Seu dom é esplêndido… — falei. — Se quiser, eu o recomendarei para um cargo burocrático no Ministério da Justiça. O que acha disso?

—  Não, apenas o prêmio já basta — disse Hakuya na mesma hora, rejeitando minha proposta. — Só vim aqui porque meu tio, que cuida de mim, disse: “Na sua idade, você precisa parar de ficar sentado sem fazer nada além de ler livros e fazer algo útil para a sociedade”, e enviou o formulário sem me consultar, então não preciso de recompensas excessivas.

— Esses livros que você mencionou são todos relacionados às leis? — perguntei.

— Não. Não me concentro em nenhum gênero específico. Leis, literatura, manuais técnicos, leio qualquer coisa.

— Entendo.

Me pergunto por quê. Há algo me incomodando.

—Hmm… Nesse caso, que tal você se tornar o bibliotecário dos arquivos do palácio? — perguntei. — Provavelmente há livros lá que você não encontrará no mercado aberto e, com sua autoridade como bibliotecário, será capaz de lê-los.

— Eh, isso soa bem. Se for esse o caso, por favor, deixe-me fazer isso. — Finalmente, algo que pude reconhecer como uma expressão de felicidade cruzou o rosto de Hakuya. Ele parecia satisfeito.

Aproveite todas as oportunidades, como dizem. Provavelmente era melhor para mim manter uma carta interessante como ele em minhas mãos do que deixá-lo ir.

— Em seguida, Madame Juna Doma, dê um passo à frente.

— Sim senhor.

Trocando de lugar com Hakuya, a linda garota de cabelo azul se aproximou.

Ela parecia ter mais ou menos a mesma idade que eu, dezenove, mas o ar que havia sobre a mulher fazia sentir que ela era mais madura do que indicado por sua idade. Com seu cabelo fofo caindo atrás dela, era o retrato da beleza enquanto curvava a cabeça graciosamente. Embora suas roupas não fossem muito reveladoras, sua metade superior parecia um dirndl4 São as vestimentas tradicionais vestidas pelas mulheres na Baviera. da Áustria, enquanto a inferior era transparente e mostrava suas pernas, como seria esperado do sári5 Consiste em uma peça de pano com cerca de 6 metros de comprimento, é tipicamente amarrada na cintura com uma das pontas colocada sobre um ombro. de uma dançarina indiana. Em torno de seus quadris estava enrolada uma peça de roupa com babados.

Se não fosse o olhar penetrante que recebi de Liscia, poderia ter admirado sua beleza por uma hora inteira.

— Sim. Não esqueci qual é o meu trabalho, então pare de me olhar assim — murmurei.

— Não sei nada quanto a isso… — respondeu Liscia, desviando o olhar raivoso.

Marx tossiu e pigarreou, dizendo:

— Senhor, esta aqui mostrou que tem uma beleza rara e habilidade para cantar. Com esses dons, levou a coroa tanto no Grande Prêmio da Garota Bela de Elfrieden com sua beleza, quanto no Talento do Reino com suas canções. Na verdade, ela é a mais bela cantora desta geração.

Uma coroa dupla?! Isso sim é impressionante.

— Às vezes, os céus concedem dois dons, ao que parece — falei.

— Você é muito gentil — respondeu Juna com calma e elegância ao meu elogio um tanto admirado. — Ouvi dizer que a família Doma descende de loreleis. Cantar está em meu sangue.

Loreleis… São monstros marinhos que usam sua beleza e suas canções para conduzir os marinheiros ao seu destino, não são? Sua beleza e aquelas mechas azuis esvoaçantes com certeza me fizeram pensar em loreleis.

— Gostaria muito de ouvir você cantar.

— Se você quiser, posso fazer isso.

— Certo. Esta cena está sendo transmitida por todo o reino por meio desta joia. Poderia cantar um pouco para animar nossos conterrâneos?

— Uma música para animá-los… é isso? — Juna parecia preocupada. — A maioria das canções lorelei transmitidas pela minha família são canções tristes de amor, sabe…

— Ohh, se houver algum código ou algo impedindo você de cantar, sem problemas.

— Não, eu simplesmente não conheço nenhuma canção adequada. Se pudesse ouvir uma, poderia aprender na mesma hora.

— Hmm… Ah, então que tal isso?

Peguei meu smartphone. Era uma das poucas coisas que eu tinha comigo quando fui convocado para este mundo. Abri minha pasta de músicas, escolhi uma música que me veio à mente, fui até Juna e coloquei os fones de ouvido nela.

— O que seria isso?

— Algo como uma máquina que toca música, eu acho? De qualquer forma, já está tocando.

Juna arregalou os olhos.

No momento em que apertei o botão, seu corpo estremeceu. No começo ela parecia confusa, mas estava aos poucos se acostumando, conforme seu corpo ia gradualmente entrando no ritmo. Então, cinco minutos depois, ela tirou os fones de ouvido.

— Já memorizei.

— Já? Você realmente consegue memorizar depois de ouvir uma única vez?

— Sim. Agora, deixe-me cantar para você.

Voltei para o meu lugar e ela começou a cantar.

A música era “Ganbaranba” de Masashi Sada6 Ouça clicando aqui.. Esta canção alegre, que teve até um Minna no Uta7 Um Minna no Uta é um programa de 5 minutos que é feito pela tv NHK desde 1961. É usado principalmente para introduzir novos singles ou apresentar as músicas populares, além de revelar diversos talentos. feito para ela, era distinta por usar rap no dialeto de Nagasaki misturado com a canção infantil de Kyushu, “Denderaryuba8 Ouça clicando aqui“. Vovô era um fã dela, então costumávamos ouvir juntos.

Mesmo assim, fiquei impressionado com esta lorelei. Ela conseguia cantar até as partes do rap no dialeto de Nagasaki. Eram completamente incompreensíveis para as pessoas da região de Kanto, mas ela as cantava com perfeição.

Aliás, depois Liscia me disse que não entendeu a letra. Eu podia entender a língua que as pessoas do país falavam, e todos podiam entender meu japonês, mas parecia que fazia parte do meu poder como herói. Eu era capaz até mesmo de escrever na língua do mundo. O que eu pensava em escrever era traduzido para o idioma local, então, embora depois eu não conseguisse ler, conseguia escrever.

Portanto, o japonês (no dialeto de Nagasaki) que saiu da boca de Juna estava em uma língua desconhecida para o povo deste país. Mesmo assim, mesmo sem saber a letra, se uma música fosse boa, as pessoas ainda poderiam aproveitar. Todos ouviram aquela melodia cativante e a aproveitaram.

Poucos minutos depois, em meio a aplausos estrondosos, Juna terminou sua música e fez uma reverência.

— Essa foi uma boa música. Muito obrigada.

— Não, eu que deveria agradecer — falei. — Seu canto foi maravilhoso.

— Se possível, espero que me ensine mais canções do seu país, Vossa Majestade.

— Eu gostaria muito que você as cantasse. Ah, já sei…! Esperamos poder aumentar o número de joias, mas mesmo que isso não seja possível, poderíamos eventualmente converter a Sala de Voz da Joia em um estúdio de gravação para que as pessoas possam ouvir suas músicas o tempo todo.

— Nossa! Isso seria como um sonho se tornando realidade, senhor. — Juna mostrou um sorriso de sincera felicidade. Foi um sorriso maravilhoso.

— Quando chegar a hora, estarei contando com você — falei. — Você fez um ótimo trabalho hoje.

Juna recuou e então era a vez da garotinha com orelhas de raposa.

— Em seguida, Madame Tomoe Inui da raça dos lobos místicos, dê um passo à frente.

— T-tá!

Com a voz trêmula, a jovem com orelhas de animal que parecia ter cerca de dez anos deu um passo à frente com o braço direito movendo-se ao mesmo tempo que a perna direita.

A raça dos lobos místicos… pensei. Acho que não são orelhas de raposa, são orelhas de lobo.

Com sua pele bronzeada e lindos olhos redondos, ela era adorável. Entretanto, suas roupas estavam um pouco surradas. Estavam rasgadas em alguns lugares e, talvez porque estava tensa, a cauda fofa que saía de seu traseiro estava ereta.

Sim, quero acariciá-la.

— Por mais jovem que seja, esta tem o dom excepcionalmente raro de ser capaz de falar com pássaros e feras. Quando a levamos aos estábulos, foi capaz de nos contar tudo ao pé da letra, desde o atual estado de saúde dos cavalos até suas histórias. Segundo ela, os cavalos lhe disseram todas as coisas. Na verdade, essa é uma habilidade divina.

O dom de conversar com animais, hein? Parece que temos uma surpreendente pequenina do povo-fera em mãos.

Enquanto eu pensava nisso, Liscia sussurrou baixinho ao meu lado:

— O país dos lobos místicos fica bem ao norte. Não deveria haver nenhum neste país.

— Uma refugiada, hein… — murmurei. Ah, então isso explica as roupas surradas, não é?

Com a expansão do Domínio do Lorde Demônio, vários países e aldeias acabaram destruídos. Aqueles que perderam suas terras fugiram para o sul, tornando-se refugiados em outras nações, e começaram a pressionar a economia. Diferentes nações lidaram com eles de maneiras diferentes. Algumas os receberam de forma proativa, enquanto outras se moviam para expulsá-los. Porém, mesmo quando se tratava dos países que os recebiam, a maioria os obrigava a trabalhos forçados, como mineração, ou os enviava como mão de obra adicional para lutar contra os demônios, então os dois tipos de países eram um inferno para os refugiados.

Mesmo em meu reino, campos de refugiados surgiram fora da capital Parnam. No momento, a decisão sobre o que fazer com eles ainda estava “suspensa”. Se ajudássemos os refugiados quando não tínhamos nem comida suficiente para alimentar nosso próprio povo, poderiam acontecer alguns tumultos. Se os expulsássemos ou os forçássemos a trabalhos forçados, teríamos que lidar com o ressentimento dos refugiados. Se eles se escondessem e se tornassem terroristas, isso seria terrível. Do jeito que as coisas estavam, eram responsáveis por um declínio na segurança pública, mas não tínhamos escolha a não ser manter o status quo.

Para oferecer ajuda aos outros, primeiro precisamos estar em um bom lugar para ajudar a nós mesmos, pensei.

— Disse que se tivessem um dom, o colocaria em uso, e não pretendo distorcer essas palavras — falei em voz alta. — Se ela tem um dom, não importa se é estrangeira ou refugiada. Afinal, não estamos em posição de ser específicos quanto a essas coisas.

— Você tem razão.

Quando eu disse isso, a garota loba mística que acabara de ser apresentada, hesitantemente, abriu a boca para falar.

— Uh… Um… Rei Souma…

— Hm? Pois não?

— Um… Bem… Uh, eu também… tenho algo que gostaria de dizer…

Porque ela estava extremamente tensa, falou como se forçando as palavras para fora. Era difícil entender o que estava dizendo.

— Você tem algo que quer dizer? Não me importo com isso. Por favor, vá em frente e fale.

— Tá… Um… Na verdade…

— Hm? O quê? Você precisa falar, ou não vou conseguir te escutar…

— Um… Eu… — Tomoe estava com os olhos cheios de lágrimas. Ela ainda era jovem o suficiente para ser chamada de garotinha, então foi doloroso vê-la com um rosto assim.

— Entendo… Vou até você, então não chore mais — falei.

— Awoo…

Fui até a garota e me agachei ao seu lado, colocando meu ouvido perto de sua boca. Como o encarregado pela minha proteção, Ludwin tinha uma expressão desaprovadora no rosto, mas o ignorei.

— Agora devo ser capaz de te ouvir — falei. — Diga o que quiser.

— Aham. A verdade é…

O que ela me sussurrou a seguir me fez duvidar de minha audição. Me levantei e encarei o rosto de Tomoe.

— Você tem certeza disso…?

— A-aham.

— Contou isso a mais alguém?

— N-não… Ninguém além da minha mãe…

— Entendo…

Soltei um suspiro. Foi meio que por alívio e meio que por preocupação ao pensar no que estava por vir. Isso era mais do que um dom raro. Esta garota tinha o potencial de ser “bombástica” para este mundo.

Calma… Respire. Não deixe que ninguém perceba o quão agitado você está.

— Uff… Estou um pouco exausto. Gostaria de fazer uma pequena pausa.

— Souma?

Quando falei aquilo, olhando para os lados, Liscia me encarou em dúvida. Os outros tiveram mais ou menos a mesma reação, mas os ignorei, ousadamente levantando minha voz.

— Agora, gostaria de fazer uma pausa de trinta minutos. A seguir, terá lugar a entrega de prêmios aos dois restantes, incluindo esta garota. Madame Juna.

— Pois não, Senhor? — Quando chamei seu nome, a cantora lorelei deu um passo à frente.

— No momento, nossos compatriotas estão nos observando pela Transmissão de Voz da Joia. Seria doloroso fazer as pessoas apenas esperarem durante nosso intervalo. Então, poderia te pedir para mantê-los entretidos por cerca de meia hora com seu canto?

— Claro, senhor. Nossas músicas são o orgulho da minha família. Cantarei de todo coração.

Com essas palavras, Juna fez uma reverência elegante.

Nossos olhos se encontraram por apenas um momento. Parecia que ela estava me perguntando: Há uma razão para isso, não há? Mas, mesmo assim, optou por não perguntar nada, fazendo o que eu havia pedido.

Mesmo sem sua beleza e canto, eu gostaria de uma pessoa atenciosa como ela entre meus subordinados.

Enquanto Juna ganhava tempo para mim, reuni pessoas em quem podia confiar no escritório de relações governamentais. Isso incluía eu, Liscia, Marx, Ludwin e Tomoe. Isso era tudo. Quanto a Aisha, que não queria se separar de mim agora que tinha jurado sua lealdade, fiz com que ficasse do lado de fora da porta para garantir que ninguém estivesse ouvindo.

— Todo esse cuidado é realmente necessário? — perguntou Liscia perplexa, ao que respondi com um aceno de cabeça.

— Estamos em uma situação muito ruim. Alguém ouviu o que Tomoe disse? — Verifiquei com os outros três, mas todos balançaram a cabeça.

— Eu não ouvi… A voz dela estava muito baixa.

— Nem eu.

— Eu também não.

— Então, há algum risco de que as pessoas a tenham ouvido pela Transmissão de Voz da Joia…?

— Isso provavelmente não representa risco — disse Liscia. — Aquilo não é tão sensível.

Assim que ouvi isso, senti como se um grande peso tivesse sido tirado de meus ombros.

— É algo tão ruim assim? — perguntou ela.

— Sim. Foi literalmente uma declaração bombástica.

O foco de todos se fixou em Tomoe, fazendo-a se encolher ainda mais. Parecia que fazê-la falar seria difícil, então respondi pessoalmente.

— Ela pode conversar com animais. Vocês ouviram isso, correto?

— Sim. É um dom incrível, não é?

— Pelo visto, ela usou este dom para falar com um demônio.

No momento em que falei isso, o cômodo esfriou. Ficaram todos sem palavras, apenas murmurando mudos como um bando de peixinhos dourados. Antes de entrar em detalhes, há algumas coisas que todos precisam saber.

O que as pessoas deste mundo pensavam quando falavam sobre demônios ou monstros e no que pessoas do mundo de onde eu era pensavam quando falavam sobre demônios ou monstros eram coisas ligeiramente diferentes. No mundo de onde saí, os monstros não eram “pessoas” ou “plantas e animais”, eles eram vistos como aberrações.

No entanto, neste mundo, as palavras “pessoa” e “animal” foram definidas de forma muito ampla.

Para ser mais específico, humanos, elfos, homens-fera e dragonatos eram todos “pessoas” e se enquadravam na categoria de “humanidade”.

Nas categorias de “plantas e animais”, mesmo com quatro metros de altura, um urso-pardo ainda seria um mamífero. Mesmo se parecesse um dinossauro, um dragão de komodo ainda seria um simples réptil. Mesmo se fosse tão grande quanto uma pessoa, uma formiga continuaria sendo um inseto. E mesmo que comesse gente, uma planta devoradora de homens continuaria sendo uma planta. Além disso, os gelins, as criaturas parecidas com slimes que faziam coisas como se fundir, se separar, derreter e muito mais, também se enquadravam, por algum motivo, na categoria “plantas e animais”.

A propósito, dragões e coisas do tipo eram chamados de “deuses-feras”, e eram categorizados à parte.

O motivo pelo qual nenhuma dessas criaturas era chamada de monstro era por serem nativas deste mundo. Por terem sempre feito parte da ecologia deste mundo, cada um deles tinha seu próprio habitat afastado do perímetro de habitação humana. Na verdade, os cavalos de oito patas deste país seriam todos Sleipnir, pelos padrões do mundo de onde eu era, e as criações, como vacas e galinhas, pareciam ter sido projetadas para parecer mais monstruosas.

No entanto, se alguém perguntasse o que eram os monstros, o termo iria ser referido a coisas como quimeras, que eram uma mistura da fusão de diferentes animais, zumbis, esqueletos e outros tipos de mortos-vivos, bem como goblins, orcs e ogros, que pareciam com pessoas, mas ninguém os confundiria com seres sencientes.

Desde que o Mundo Demoníaco apareceu, houve uma grande erupção desses monstros no norte do continente, mas mesmo antes do aparecimento do Mundo Demoníaco, habitavam áreas conhecidas como masmorras que estavam por todo o continente.

Masmorras eram espaços subterrâneos com uma ecologia misteriosa. Eu estava acostumado a vê-las em jogos, mas realmente existiam neste mundo. A propósito, eu tinha ouvido falar que neste mundo havia pessoas chamadas de “aventureiras” que exploravam esses tipos de masmorras, protegiam mercadores, eliminavam feras perigosas que destruíam os campos e matavam monstros que saíam das masmorras como forma de ganhar a vida.

Antes da aparição do Mundo Demoníaco, pensava-se que os monstros não tinham inteligência. Na verdade, os monstros nas masmorras, mesmo os quase humanoides como os goblins, só possuíam inteligência no nível dos animais.

No entanto, entre os monstros no Domínio do Lorde Demônio, havia aqueles que se comportavam como se fossem inteligentes.

Aqueles monstros agiam em grupos, usavam armas e magia e podiam bolar estratégias. Agiam quase da mesma forma que “pessoas”. Quando a humanidade falhou em sua invasão ao Domínio do Lorde Demônio, sua falta de conhecimento sobre a existência desses monstros foi o maior fator para sua derrota. A humanidade escolheu chamar aqueles monstros inteligentes de “demônios” para distingui-los dos monstros mais animalescos.

Agora, vamos voltar à história. Tomoe disse, basicamente, que havia conversado com um daqueles demônios.

Pelo visto, até o momento, ninguém tinha conseguido fazer isso. Com o súbito surgimento de um exército que falava uma língua desconhecida, e com as hostilidades em andamento, o entendimento mútuo simplesmente não aconteceria.

Liscia se aproximou de Tomoe.

— O que você falou e sobre o que você falou?!

— C-com o Senhor Kobold. Eles são diferentes de nós… São baixos e seus rostos inteiros, e não só as orelhas, parecem com os de cachorros… Um dia antes de nossa aldeia ser atacada, ele disse: “Não suporto ver pessoas com o mesmo cheiro que eu sendo atacadas. Ande logo e fuja.” Eu conseguir entender o que o Senhor Kobold disse foi um milagre, mas… graças a isso, conseguimos evitar problemas…

— Então, para resumir… Os demônios têm uma vontade própria e clara, é isso? — disse Ludwin, como se estivesse gemendo.

As pessoas deste mundo só pensavam nos demônios como monstros ligeiramente mais espertos. Como gafanhotos pulando sobre a terra, ou bárbaros que se deliciavam com a matança. Pelo que eu tinha ouvido, essa não era uma impressão errada quando se tratava de monstros. Contudo… Para os demônios, talvez fosse necessário um outro ponto de vista.

Se eles tivessem vontade própria, como sugerido por Tomoe, a humanidade poderia estar travando uma “guerra” contra a raça dos demônios sem sequer perceber isso. Uma guerra sem meios de diplomacia. Com suas famílias sendo dizimadas, suas casas destruídas e seus países saqueados, a humanidade guardou um enorme ressentimento em relação aos monstros e demônios. Se fosse uma guerra, era possível que os demônios se ressentissem da humanidade da mesma maneira.

— Se esse conhecimento se espalhar para todos os outros países… — Comecei a falar.

— O caos seria instaurado… — Liscia completou.

Ambos deixamos nossos ombros caírem.

Não acho que o diálogo com todos os demônios ou monstros do Domínio do Lorde Demônio seria possível. Aqueles com quem poderíamos falar, como o kobold que deixou os lobos místicos escaparem, podiam ser apenas uma pequena parte deles. No entanto, se as pessoas descobrissem que até mesmo alguns dos demônios eram assim, a raça demoníaca deixaria de ser o inimigo comum de toda a humanidade.

E, no atual momento, mesmo que fosse apenas superficialmente, todos os outros países estavam unidos contra o Domínio do Lorde Demônio. Se essa informação se espalhasse, o que aconteceria? Se significasse que tentariam buscar a paz com os demônios, seria ótimo, mas não seria nenhuma surpresa se alguns colocassem os interesses de seu próprio país em primeiro lugar, aliando-se aos demônios para invadir outros países. Se isso acontecesse, a humanidade cairia em pedaços.

— Vocês acham que o Império sabe disso? — perguntei.

— Não tenho certeza… — disse Liscia. — Foi graças ao dom único de Tomoe que alguém finalmente conseguiu se comunicar com um deles. Mesmo se suspeitarem, não têm como verificar.

— Então, nosso país basicamente detém o monopólio dessa informação no atual momento. Minha nossa… — Essa foi uma coisa terrível caindo no meu colo.

Ela é como uma bomba. Posso usá-la como um trunfo, mas se lidar mal com ela, pode acabar explodindo na minha cara.

— S-sinto muito… — Tomoe estava tremendo, então Liscia me cutucou.

— Ah, não, não estamos te culpando — falei rapidamente. — Na verdade, fico feliz por você ter vindo para este país. Só de pensar no que poderia ter acontecido se você fosse para outro país eu já fico arrepiado.

— Ainda assim, você vai esconder essa informação? — perguntou Ludwin. — Se as pessoas descobrirem que escondemos essas informações vitais, não é possível que sejamos condenados como inimigos de toda a humanidade?

— Esse é um bom ponto… — Tive vontade de agarrar a minha cabeça quando Ludwin apontou isso. — Fazer um trabalho ruim ao esconder isso e depois fazer com que as pessoas pensem que estamos nutrindo algumas ambições não é um grande plano. Além disso, tratando-se de guerra, a situação atual em que ambos os lados estão travando uma guerra de extermínio não é boa. A fim de garantir que a guerra não continue até que um lado seja eliminado, precisamos vazar a informação aos poucos.

Eu preciso me resolver. Continuei a falar, olhando para as pessoas ao meu redor.

— “Entre os demônios podem haver aqueles com quem possamos conversar.” Vamos vazar algo que soe como nada além de uma hipótese, e deixar que outros países saibam disso. Se fizermos isso, eles devem ficar um pouco mais cautelosos. Devem, no mínimo, tentar descobrir se existe alguma verdade em meio aos boatos.

— Como parte desse processo, não é possível que cheguem às mesmas informações que nós temos? Isso não eliminaria o valor por ocultá-la?

— Você está errado, Marx. Nosso trunfo é a própria Tomoe.

— E-eu?! — guinchou ela.

Balancei a cabeça com firmeza para Tomoe, cujos olhos estavam arregalados em perplexidade.

— Mesmo que os demônios tenham vontade própria, é necessário que haja algum meio de comunicação para negociar com eles. Enquanto os outros países continuarão procurando meios de negociar com os demônios, podemos, por exemplo, dialogar usando Tomoe como mediadora. Essa é uma grande vantagem.

Eu não sabia o quanto nosso reino seria capaz de negociar por conta própria. No entanto, tendo nossa própria linha de comunicação independente, poderíamos evitar uma situação em que outro país monopolizasse o direito de negociar e nos recusasse qualquer oportunidade de diálogo. Em troca, estaríamos colocando um fardo sobre nós mesmos, mas isso era muito preferível a deixar o destino de nosso reino nas mãos de outro país.

— Então, Tomoe, nosso país precisa fazer tudo o que puder para protegê-la — falei.

— M-me proteger…?!

— Sim. Não é exagero dizer que, agora, você é muito mais importante do que um cara como eu. Honestamente, se essa informação vazar, no momento em que você for sequestrada, este país estará arruinado.

— Não mesmo… você está inventando isso… certo? — Tomoe olhou em volta inquieta, mas ninguém a respondeu.

Não seria exagero dizer que ela estava com o destino deste país em suas mãos. Embora eu nunca faria isso, outro país poderia ter fingido que nunca tinha ouvido nada a respeito e “se livrado” dela. Isso era o quão importante era a existência de Tomoe.

— Então, para mantê-la sob o mais alto nível de guarda que pudermos, quero que você viva aqui no palácio. Se não aceitar isso, podemos não ser capazes de protegê-la no campo de refugiados.

— Awoo… — gemeu Tomoe.

— Espere um momento — Marx ergueu a mão. — Se tivermos alguém que não é de sangue real vivendo no palácio, isso não atrairia um escrutínio indesejado?

— Hmm. Bem, então diga-me como podemos torná-la parte da realeza.

— Você diz isso como se fosse algo fácil… Existem várias maneiras de uma pessoa comum entrar para a realeza. Um deles seria adotá-la, senhor. Entretanto, como o casamento ainda não foi realizado, isso é impossível. Afinal, sua cerimônia de casamento levará mais de um ano para ser preparada.

— Você ouviu, Liscia — falei.

— Ei, não jogue isso para o meu lado. — Ela desviou o olhar na mesma hora.

Morar com Liscia, tomando-a como minha esposa, e Tomoe, já com uns dez anos, como minha filha, hein… Sim, simplesmente não consigo imaginar.

— Mais alguma ideia? — perguntei.

— Você poderia tomá-la como esposa secundária, senhor.

— Isso é… um pouco estranho.

Ela é jovem o suficiente para estar na escola primária, parceiro. Isso me traz a lembrança do Barba-Negra dizendo: “Seu maldito lolicon”.

Marx limpou a garganta.

— Acredito que ela mal está dentro da faixa etária para um casamento político.

— Souma… Dez anos é meio jovem demais…

— Por que você está me culpando, hein?!

Agora Liscia começou a olhar para mim com frieza. Eu não gosto dessas coisas, viu?!

— Ei, espere, o ex-casal real pode simplesmente adotá-la.

— Hmm. Acredito que isso seria aceitável. — Marx estava sorrindo.

Esse desgraçado deu todas as outras opções mesmo sabendo qual seria a melhor possível!

— Parece bom! Sempre quis uma irmã mais nova! — disse Liscia.

— Whuwhuh! — Tomoe chorou, confusa.

Liscia a abraçou com força, fazendo-a engasgar e entrar em pânico. Quanto à própria princesa, a expressão em seu rosto estava mais relaxada do que qualquer outra que eu já tinha visto antes.

Pensando bem, como ela é minha noiva, Tomoe vai se tornar minha cunhada. Uma cunhada loli com orelhas de lobo… Quantos atributos de características.

— Mas, mas… Eu tenho uma família. Minha mãe e meu irmão estão esperando por mim no acampamento — disse Tomoe, libertando-se do abraço excessivamente meloso de sua (futura) irmã mais velha.

— Ahh, a adoção é apenas para o bem das aparências, então você não precisa se preocupar com isso. Caso se torne minha cunhada, sua mãe e seu irmão também entrarão para a família, então não me importo se também passarem a morar no palácio. Vamos providenciar alguns fundos para que vivam e, se quiserem trabalhar, forneceremos algo para fazerem no palácio.

— Bem… nesse caso… tá bom — Tomoe aceitou um tanto timidamente.

Bom. Isso não resolve as coisas de uma maneira tão boa, mas acho que fiz o que pude para o momento. De alguma forma, ganhei uma cunhada no meio do processo, mas, ei, ela é fofinha, então sem problemas.

— Então vamos voltar — falei. — Estamos deixando a Madame Juna esperando.

Afinal, já se passou quase meia hora. Ela provavelmente não conseguirá continuar por muito mais.

— Por enquanto, vamos dar para Tomoe o dinheiro do prêmio como recompensa. Se o ex-casal real de repente anunciasse a sua adoção, seria como dizer a todos que há algo acontecendo. Vamos deixar algum tempo passar e anunciá-la em outra hora. Gostaria que todos vocês agissem com isso em mente, entendido?

— Sim senhor! — responderam todos.

 


 

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