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Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 01 – Cap 02.1 – Começo em X

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A tecnologia deste mundo era do tipo completamente confusa.

Na Terra, a tecnologia mudou assim: da força do homem, para a roda d’água e moinho de vento, para a máquina a vapor e depois para a máquina de combustão. Foi uma série de avanços incrementais.

Se alguém quisesse voar livremente pelo céu, antes de construir um avião, precisaria descobrir o conceito de sustentação e um sistema de propulsão (o motor de combustão interna) precisaria ser criado. Para criar esse sistema de propulsão, precisaria entender o sistema por trás de como as coisas queimam. Na história da Terra, as novas tecnologias sempre foram construídas com outras tecnologias que estabeleciam as bases para elas.

No entanto, neste mundo, existiam criaturas misteriosas e magia. Se alguém quisesse voar livremente pelo céu, poderia simplesmente andar em um wyvern. Essas pessoas ignoraram o conceito de sistemas de sustentação e propulsão e começaram a voar.

Em um mundo onde seria possível criar fogo, gelo e muito mais com magia sempre que quisesse, a diferença entre o que é possível ou não se torna extrema.

Neste mundo, existiam grandes bestas domesticadas que podiam transportar tanto quanto um caminhão de quatro toneladas.

Existiam navios de guerra feitos de aço, mas eram puxados por enormes dragões marinhos. Não havia eletricidade, ainda assim as noites no país eram claras. As lâmpadas da rua possuíam musgo iluminado nelas, que armazenava energia luminosa durante o dia e se tornava fosforescente à noite, mantendo a cidade iluminada.

Eles não tinham gás, usavam lenha, fornos e magia de fogo (ou itens mágicos) para cozinhar.

Não existiam aquedutos; no entanto, por toda a cidade, havia poços com feitiços elementais de água lançados neles que extraíam água das profundezas da terra… bem, já são exemplos suficientes para chegar ao ponto.

Neste país, mesmo sem ciência, muitas coisas poderiam ser feitas com magia. Mudando de assunto, se deixasse a magia e criaturas misteriosas de lado, a civilização deste país não seria lá muito avançada. Comparando com um ponto da história do nosso próprio mundo, provavelmente estavam no final da Idade Média ou no início do período moderno, na melhor das hipóteses. O sistema feudal ainda estava intacto e a revolução industrial estava muito distante.

Era desse tipo de país que eu tinha me tornado rei.

 

 

 

— Liscia, as reformas agrícolas não acontecem da noite para o dia — disse-me Souma. — Então, por enquanto, para compensar, suponho que teremos que aumentar nossas importações de outros países.

Me sentei de frente para Souma, mordiscando minha torrada enquanto ele falava. Na mesinha havia uma cesta de pães, além de pratos com ovos mexidos, salsichas e salada para dois. Estava na hora do café da manhã.

— Mas você não disse que as importações são caras e isso causa uma queda nos gastos do consumidor?

— Sim. É por isso que provavelmente acabaremos fazendo com que o país compre produtos e os revenda a preços de custo por algum tempo. Teremos prejuízo com as tarifas, mas precisaremos suportar por um tempo. Eu gostaria de compensar o déficit com as exportações, mas primeiro precisamos encontrar um substituto para nossa principal exportação atual, o algodão.

— Parece difícil… De qualquer forma, vamos deixar isso de lado por um momento. — Fiz a pergunta que já estava me incomodando há algum tempo: — Você é o rei, então por que diabos está comendo aqui?!

Estávamos no refeitório do castelo. Além do mais, era o refeitório geral que os soldados e as criadas usavam. O que estávamos comendo nesta manhã era o almoço Tipo-A. O rei de um país estava sentado entre os guardas, comendo a mesma comida que eles. Havia limites para a falta de dignidade que um rei poderia ter.

— Os constantes olhares curiosos dos guardas e das criadas estão começando a doer, sabe! — protestei.

— Não deixe isso te incomodar. No momento o castelo inteiro está economizando, então não posso permitir desperdícios com as minhas refeições.

— Você não disse que as medidas rígidas eram uma má influência na economia?!

— Se você ficar só economizando e guardando o dinheiro, sim — disse ele. — Mas se o dinheiro extra for usado de forma adequada, faz a economia girar.

— Ainda assim, isso não significa que temos que comer aqui.

— Bem, você quer comer essas coisas na grande mesa real? Desse jeito vai parecer ainda mais insatisfatório.

— Você pode até ter razão, mas mesmo assim…

Mesmo assim, parecia errado comer com todas essas pessoas nos observando. Mesmo comigo acostumada com isso desde meus dias na academia de oficiais, eu era tecnicamente a noiva de Souma, uma pessoa sob o escrutínio das massas e, aos olhos de todos, estávamos no meio de um encontro. Como poderia ficar calma desse jeito?

Suspirei.

— Se precisamos cortar os gastos com comida, devo conversar com meus pais? Eles estão sempre comendo bolos e coisas do tipo na hora do chá.

— Ah, sem problemas. De qualquer forma, são apenas “oferendas”.

— Presentes, você quer dizer? — perguntei surpresa. Nosso povo poderia pagar por isso?

— Bem, pelo visto são todos de grandes lojas e de lojas de nobres. Mesmo com um cara como eu como o rei, ser fornecedor da família real parece ser motivo de prestígio. Apesar da escassez de alimentos, ainda recebemos muitas coisas.

— Por favor, não fale mal assim de si mesmo — falei. — Agora você é um rei.

— Muitos dos alimentos são doces, mas não têm um prazo de validade longo. E como não gosto muito de doces, os entrego ao ex-casal real ou às criadas e peço que escrevam análises. Então, para os que são bem avaliados, dou um mandato de avaliação real. Isso funciona surpreendentemente bem.

— Então é isso… — murmurei.

Nos últimos tempos, eu tinha ouvido que “nem tudo está correndo bem na dieta” das criadas. Surgiram até mesmo relatos de que algumas delas estavam se juntando aos guardas na hora do treinamento.

É melhor eu também tomar cuidado…, decidi.

Em contraste comigo, enquanto fazia promessas a mim mesma, Souma estava olhando para longe.

— A-algum problema? — perguntei.

— Não, é só que… Se o orçamento alimentar estivesse mais apertado, poderíamos sobreviver com uma dieta de bolo três vezes ao dia… Hahaha… Quase coloquei “se não tiver pão, que comam bolo” em prática.

— Se as pessoas não conhecessem as circunstâncias, poderia haver uma revolução por causa dessas palavras… — falei.

— Vocês dois parecem estar se divertindo.

Quando me virei na direção da voz repentina, vi um jovem de armadura completa (sem capacete) da Guarda Real. Ele era alto, com uma estrutura suficientemente robusta, e por trás de seu cabelo loiro longo e liso aparecia um rosto bonito que com certeza o tornava popular entre as mulheres.

— Ora, Sir Ludwin — falei.

— Faz muito tempo, minha princesa. Não… talvez agora deva chamá-la de minha rainha.

— Um, bem… Na verdade, no momento não sou nenhuma dessas duas coisas.

Vendo nossa conversa, Souma mostrou um olhar que dizia: “Quem é esse cara?”

— Souma, este cavalheiro é Sir Ludwin Arcs da Guarda Real — falei, apresentando ele.

Apesar de sua juventude, tendo pouco menos de trinta anos, Sir Ludwin era um gênio que fora nomeado chefe da Guarda Real. Em tempos de paz, o chefe da Guarda Real ficava responsável pela segurança na capital, Parnam, bem como do Castelo Parnam, mas em tempos de crise também recebia o comando das forças pessoais do rei, o Exército Proibido. Embora, dito isso, o controle militar prático do país ficava nas mãos dos Três Ducados.

“Os Três Ducados” referiam-se aos dois duques e uma duquesa que controlavam as forças terrestres, marítimas e aéreas.

Os atuais detentores dos Três Ducados eram:

General do Exército do Reino de Elfrieden, Duque Georg Carmine. Um homem-fera com juba de leão. Ele comandava suas tropas com a intensidade de um incêndio violento, causando medo nos corações de nossos inimigos.

Almirante da Marinha do Reino de Elfrieden, Duquesa Excel Walter. Uma serpente marinha descendente de piratas. Ela era uma mulher incrível, perita não apenas em batalhas de frotas, como também em política.

General da Força Aérea do Reino de Elfrieden, Duque Castor Vargas. Um dragonato. Ele era o rei dos céus e líder das estrelas do exército real, os Cavaleiros Wyvern.

Em troca de jurar lealdade ao reino, suas famílias foram autorizadas a manter territórios (ducados) dentro do reino, onde governavam livremente.

Na época da fundação do reino, com ele tendo sido criado pela união de muitas raças, este sistema foi estabelecido para proteger as raças do atrito com as outras. No entanto, mesmo no atual momento, com todas as raças vivendo em harmonia, o sistema ainda permanecia imutável. Em troca de território, suas famílias colocavam suas vidas em risco para defender o país que amavam. Isso era o orgulho dos Três Ducados.

No entanto, no momento, os Três Ducados haviam recuado suas forças e estavam se isolando em seus próprios territórios. Parecia que os três, com seu grande amor e respeito pelo antigo rei, ainda não reconheciam Souma, que havia subido ao trono de uma maneira que fazia parecer que estava o usurpando, tornando-se o soberano. Essa era a sua atual fonte de preocupações.

Se os três ducados fossem combinados, representariam um terço do país. Sem a cooperação deles, suas reformas seriam difíceis de realizar.

Eu mesmo havia escrito para o Duque Carmine, que me amava como uma filha, várias vezes, pedindo-lhe que se encontrasse com Souma pessoalmente, mas a resposta sempre foi: “Por enquanto, não vejo motivo para confiar nele.”

Ele era um homem decidido e convicto, mas nunca tinha o visto como alguém tão teimoso. Então, porque desta vez estava sendo assim? De minha parte, esperava que aceitassem Souma o mais rápido possível.

Sem fazer a menor ideia de como eu me sentia, Souma apertou a mão de Sir Ludwin.

— Sou Souma Kazuya. Tecnicamente, sou o atual rei deste país.

— Sou Ludwin Arcs. Ouvi rumores de seu trabalho árduo a partir dos funcionários públicos.

— Bem, diga o seguinte a esses funcionários públicos: “Se têm tempo para fofocar, voltem a trabalhar” por mim.

— Hahaha, vou fazer isso. Se importa se eu me juntar a vocês durante o café da manhã?

— Por mim tudo bem.

— Obrigado.

Sir Ludwin pegou uma bandeja de café da manhã e sentou-se ao meu lado.

— Então, como vão as coisas? Com essas suas reformas, quero dizer, Vossa Majestade.

— Não muito bem… — reclamou Souma enquanto mordiscava uma torrada. — Estamos sofrendo principalmente com a falta de gente qualificada. No momento, herdei os conselheiros do rei anterior. Em outras palavras, as pessoas que deixaram o país chegar ao ponto atual. Deixando de lado o primeiro-ministro Marx, todo o resto é inútil.

Este país era um estado autocrático. A vontade do rei refletia-se fortemente em sua política.

Havia um Congresso do Povo no qual todos os cidadãos tinham o direito de votar em seus representantes, mas era apenas um lugar onde as leis e políticas para “sugestões” ao rei eram elaboradas, e essas leis e políticas seriam mais tarde “sugeridas” ao rei pelo primeiro-ministro. Resumindo, era uma caixa de sugestões glorificada, e se as sugestões seriam implementadas ou não dependia inteiramente do rei.

Embora, dito isso, se o rei fizesse apenas o que quisesse, perderia o amor do povo e provavelmente se veria deposto pelos Três Ducados…

Além disso, quando o rei desejasse considerar políticas diferentes, poderia convocar outros conselheiros além do primeiro-ministro. O rei discutiria com seus conselheiros, decidindo se suas políticas seriam eficazes ou não. A seleção dos conselheiros ficava a critério exclusivo do rei. Ele poderia contratar quem e quantos quisesse.

Na verdade, antes mesmo de assumir o trono (neste reino, desde a época em que se era príncipe), um futuro rei começava a reunir pessoas que poderiam se tornar suas conselheiras. Mas com Souma tendo ascendido ao trono tão repentinamente, ele não tinha ninguém assim.

— Pessoas que podem me dizer as coisas que quero saber e que trabalharão arduamente nas tarefas que lhes atribuir — disse ele. — São desses tipos de apoiadores que eu quero.

— Entendo. Todos aqueles que estão acima dos outros desejam ter subordinados capazes — disse Sir Ludwin.

— Você passa pelo mesmo no Exército Proibido?

— Sim. A maioria dos formandos da Academia de Oficiais pede para ser designada para os exércitos dos Três Ducados. Já que, embora nos chamem de Exército Proibido, somos basicamente apenas a força de defesa da capital. Não é um posto bem popular, não é, Princesa?

— Bem… Acho que não. A maioria dos meus colegas foi para os exércitos dos Três Ducados.

Eu estava nas forças terrestres, mas isso era porque não havia motivo para entrar no Exército Proibido, já que ele existia para proteger a família real.

— Bem, aí está. Hoje em dia, o Exército Proibido tem muitos desajustados e excêntricos. Temos até um cientista maluco que nos foi enviado pela Divisão de Desenvolvimento de Armas.

— Ah, isso parece com alguém que eu gostaria de conhecer! — disse Souma.

Vendo o entusiasmo dele, Sir Ludwin respondeu: “Algum dia vou apresentá-los.” E riu ironicamente.

Após isso, conversamos um pouco e depois nos separamos de Sir Ludwin. Quando eu voltar para o meu quarto, enviarei outra carta encorajando o Duque Carmine a se encontrar com Souma, pensei comigo mesma.

 

 

 

— Nós realmente sofremos com a falta de pessoas capazes! — reclamei.

— S-suponho… — disse Liscia.

Tentei a persuadir, mas ela parecia meio confusa.

Porque eu estava trabalhando tão duro com a minha habilidade, isso podia ter subido de nível. Ultimamente, conseguia mover até quatro coisas ao mesmo tempo (poderia fazer o trabalho de cinco pessoas de forma efetiva), mas mesmo assim, era apenas o equivalente a ter uma pessoa a mais. Uma pessoa que não tinha nenhum conhecimento ou habilidade que eu mesmo não tinha. O que precisava era de pessoas com conhecimentos que me faltavam. Pessoas com habilidades que me eram desconhecidas. Eu estava desesperado por pessoas assim.

E então, resolvi juntá-las…

— Então, assim sendo, acho que vou usar uma Transmissão de Voz da Joia.1Transmissão de Voz da Joia é uma referência ao que aconteceu no final da segunda guerra mundial, quando o Imperador Hirohito “desceu do céu” e fez uma transmissão declarando aceitar os termos impostos pela Declaração de Potsdam inteiramente.

— Uma Transmissão de Voz da Joia?

Isso era um sistema para transmitir a voz do rei por todas as regiões do país. Na Sala de Voz da Joia no palácio, havia uma joia flutuante que devia ter cerca de dois metros de diâmetro. Dizia-se que ela estava imbuída com magia dos espíritos do ar, silfos, e dos espíritos da água, ondinas. Isso levaria a voz do rei a todo o país e, em cidades com a configuração adequada, poderia até mesmo projetar sua imagem. Os reis anteriores aparentemente usaram a Transmissão de Voz da Joia para revelar uma nova constituição ou para declarar guerra a outra nação, e coisas do tipo.

— Aposto que você será o primeiro a usá-lo para reunir pessoas capazes — disse Liscia, aparentemente impressionada.

Era mesmo uma ideia tão selvagem assim?

— Normalmente como vocês os reúnem? — perguntei.

— Através de conexões pessoais, ou realizando exames escritos e contratando aqueles que são aprovados.

— Esses métodos não são muito desequilibrados? Qual é a taxa de alfabetização neste país?

— Metade das pessoas sabe ler e três décimos sabem escrever.

— Isso não é nada bom. Apenas três décimos da população pode fazer os exames.

— Só para você saber, isso é bastante comum neste mundo… — disse ela.

Hmm… Acho que é isso que acontece quando o ensino não é obrigatório.

— Qualquer pessoa pode aprender a ler e escrever — falei. — Veja bem, a qualidade de um candidato não deve ser decidida por sua capacidade de pagar por aulas. São sete décimos da população. Quantos diamantes brutos vocês pretendem abandonar?

— Não há nada que eu possa dizer contra isso… — falou Liscia, parecendo envergonhada.

Porém, suponho que não era para ela que eu devia falar isso, hein? Realmente, este país precisa ser reconstruído do zero.

— Então, quais condições você vai usar na sua chamada? — perguntou ela.

— Estou considerando o texto. Embora, na verdade, pretenda tomar emprestadas as palavras de um grande homem que admiro.

— Um grande homem?

— Sim. Um “herói astuto de uma terra conturbada.”

 

 

 

— Se tiverem algum dom, irei colocá-lo em uso!

Pela capital, cidades e vilarejos, a voz de Souma ecoou.

Na capital, nas cidades e até nas cidades maiores, a imagem de Souma também foi projetada. Os receptores nas áreas maiores lançaram uma névoa no ar, então usaram a refração de luz para recriar a cena que se passava dentro da Sala de Voz da Joia.

Para colocar isso em termos modernos, estavam recebendo uma vídeo transmissão das filmagens e projetando tudo ao vivo em uma tela no meio do ar. A qualidade da imagem era toda chuviscada, mas as pessoas estavam ansiosas para ver o novo rei pela primeira vez.

Algumas ficaram perplexas com sua pouca idade, outras com sua aparência simples. A culpa disso era de Souma, que achava muito incômodo vestir um traje formal ou até mesmo sua coroa.

O simples fato de ver a Princesa Liscia parada ao seu lado sem parecer particularmente tensa tranquilizou o povo. Embora tivessem ouvido que ele não forçou o rei a abdicar e que não usurpou o trono, até que o viram por si mesmos, ainda abrigavam alguma incerteza. Especialmente no caso da Princesa Liscia, cuja nobre beleza a tornara uma espécie de ídolo do povo, alguns chegaram a expressar preocupação com seu bem-estar.

Enquanto todos tratavam de seus negócios, o discurso de Souma continuou.

— Meu povo, nosso país está enfrentando uma crise de proporções até então nunca vistas! O grave problema da crise alimentar, a desaceleração econômica que dela decorre, o afluxo de refugiados das terras tomadas pelo Lorde Demônio… Qualquer uma dessas coisas por si só já iria gerar um grave mal-estar que ameaçaria este país. Entretanto, há ainda mais! O Império expandiu sua influência, e alguns de nossos vizinhos nos observam com olhos brilhantes, prontos para atacar! O ex-rei, reconhecendo que esta situação estava além de seu poder de resolução, confiou este país à minha humilde pessoa.

“Reconhecer o que não pode fazer e abrir caminho para alguém capaz. Mesmo quando sabemos qual é a coisa certa a fazer, a escolha nunca é fácil. Em tempos de paz, o ex-rei teria a capacidade de ser um grande governante.”

Por um momento, a Princesa Liscia pensou: “Desse jeito está dando muito crédito a ele…” com um sorriso amargo, mas ninguém percebeu.

— No entanto, estes são tempos difíceis! Em tempos turbulentos, buscamos em nossos governantes não uma pessoa de virtude sagrada, mas alguém disposto a sujar as mãos, disposto a fazer obstinadamente o que for preciso para sobreviver. Não um governante que está acima da média em todas as coisas, mas um que não desistirá da sobrevivência, e nesse ponto se destaca além de todos os outros. Porque, em uma última análise, é isso que protegerá suas famílias e seu sustento! É por isso que o antigo rei confiou este país a mim! Sou persistente e, neste ponto, superior ao antigo rei.

“No momento, estou no processo de colocar muitas reformas em andamento. No entanto, enfrentamos uma enorme falta de pessoas capazes para ajudar na implementação delas. Assim sendo, faço um apelo aos talentosos entre vocês. Repito: se tiverem algum dom, irei colocá-lo em uso!

“Nestes tempos confusos, o que precisamos não é daqueles que são, na média, melhores que os outros. São daqueles que, em um aspecto, estão acima de todos os demais. Não importa que tipo de dom for. Não importa se tiverem quaisquer qualificações além desse dom. Se há algo sobre o quê se orgulhem em dizer que “Sou melhor do que qualquer outra pessoa”, apresentem-se diante de mim!

“Escolaridade, idade, classe, origem, raça, gênero… nada disso me importa. Quer saibam ler, calcular, tenham dinheiro, mente e corpo sãos ou não, sejam bonitos ou feios, mancos ou deformados, não importa! Se puderem pensar: “Nessa coisa, sou o melhor de todos. Nessa coisa, não vou perder para nenhuma outra pessoa do país,” então mostrem-se diante de mim! Se eu decidir que seu dom é algo de que o país precisa, serão bem-vindos como um de meus apoiadores pessoais!”

O discurso apaixonado do novo rei colocou um brilho nos olhos do povo.

Enquanto ouviam, todos deviam estar quebrando a cabeça em busca de algo em que eram mais talentosos do que as outras pessoas. Ao mesmo tempo, porém, mesmo que encontrassem algo, provavelmente pensariam que não seriam contratados se não fossem de alguma forma úteis. À medida que esse sentimento de resignação se instalava, tornou-se uma barreira bloqueando a onda de entusiasmo que se formava a partir do discurso apaixonado.

O rei estava procurando pessoas capazes que pudessem resolver os problemas do país. Todos achavam difícil imaginar que seus próprios dons tivessem alguma utilidade para a nação.

— Tenho certeza de que, entre vocês, há aqueles que hesitam em acreditar que seus dons possam ser úteis — disse Souma, como se ciente da hesitação das pessoas. — No entanto, isso não é algo para decidirem por conta própria! Eu, o rei, decidirei se o país precisa de seu dom! Não me importa se os outros ridicularizam seu dom como algo sem valor! Quem irá julgar serei eu! Portanto, não hesitem! Venham e revelem seus dons diante de mim!

Souma fez uma pausa para respirar e se acalmar.

— Se ainda estiverem hesitantes, então aqui está o que iremos fazer. Se seu dom for comprovado como incomparável no país, em nome do Reino de Elfrieden, emitirei um Certificado de Incomparabilidade e receberão um prêmio em dinheiro. Então, que tal isso como motivação?! — A imagem de Souma ergueu o punho no ar.

Naquele momento, uma grande alegria se estabeleceu em cada cidade que vale a pena chamar de cidade do país. A represa dentro do coração das pessoas estourou. E o mesmo aconteceu na capital.

— Oh…! Eu posso ouvir a aclamação pela cidade-castelo até daqui. Que bom que vocês estão empolgados — disse Souma, começando a discursar de forma mais casual.

De pé ao seu lado, Liscia queria segurar a cabeça entre as mãos, mas ninguém parecia se importar.

— Vocês podem indicar a si mesmos ou outras pessoas — disse Souma. — Se a indicação for para outra pessoa, três décimos do prêmio irão para o indicador. Se houver alguma pessoa se escondendo e bancando a eremita enquanto o país está em crise, quero que todos vocês vão até ela e a arrastem até aqui. Além disso, para dons como “Sou mais forte do que os outros” ou “Sou bom em cantar”, onde há espaço para competição, faremos com que os candidatos concorram entre si antecipadamente para escolher um único representante para tal dom, então estejam prontos para isso. Agora… acho que isso é tudo que eu precisava dizer.

Por fim, Souma encerrou sua Transmissão de Voz da Joia com as seguintes palavras:

— Então, ó talentosos, venham apertar minha mão na capital, Parnam.

Liscia olhou para ele com reprovação depois que a transmissão terminou.

— Que última fala foi aquela? — demandou ela.

— Só segui o fluxo — disse Souma com uma risada.

Então, como as pessoas irão reagir? As pessoas que ele quer virão? perguntou-se ela. Espero que apareça muita gente…

 

 

 

Na história, existem algumas cenas que são facilmente dramatizadas pelas gerações posteriores. Existem algumas condições para isso:

Primeiro, deve ser o momento decisivo de uma era.

Segundo, deve haver um certo talento quando dramatizado.

Essas são as duas condições.

No Período Sengoku, seria a cena em que Oda Nobunaga atua como Noh em Atsumori, antes da Batalha de Okehazama.

No Romance dos Três Reinos, seria a cena em que Liu Bei recruta Zhuge Liang após fazer três visitas pessoais a ele.

Na história Romana, seria a cena em que César diz “A sorte está lançada” ao cruzar o Rubicão.

Então, se alguém perguntasse qual cena da época em que o trono foi abdicado para Souma foi mais frequentemente dramatizada em anos posteriores, a resposta com certeza seria esta reunião de pessoas capazes.

Diante de Souma, que havia procurado quem tivesse dons, foram convocados cinco jovens talentosos. Deles, o rei daria as boas-vindas a apenas um com uma alegria de coração puro.

Visto da perspectiva de Souma, foi uma de suas maiores realizações. Da perspectiva de outra pessoa, era o ponto de virada na história da Cinderela de sua vida. E da perspectiva de “aquele que assistiu aquela cena com olhos diferentes dos outros”, ela se tornou “o ponto de virada de uma era.”

Sim. Nesta cena, havia três personagens principais.

 


 

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