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Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 6 – Cap. 08.1 – Sete Dias de Ariadne

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[Dia seis: Período da Tarde]

Era uma tarde de final de verão e uma brisa fresca soprou pelo ar.

Duas alunas entraram em uma sala de aula da Universidade Estadual de Latorita.

Uma delas era uma garota de blazer preto. Seu cabelo longo e sedoso era cinzento, seus olhos lápis-lazúli. Ela olhava diretamente para o outro lado da sala de aula.

Quem diabos poderia ser essa estudante universitária comum?

Isso mesmo, ela sou eu.

— Você está nervosa, Ariadne?

Havia outra aluna ao meu lado.

Usava um blazer vermelho e uma saia preta. Seu cabelo ruivo estava preso em duas tranças atrás da cabeça. Ela olhou para mim com olhos azuis impressionantes.

— Hmm? Huh? Preciso ficar nervosa?

Teria apreciado se ela tivesse levado a situação um pouco mais a sério, mas apesar dos altos riscos, parecia totalmente despreocupada.

Direcionei um olhar de reprovação para a garota.

— Nós duas fomos chamadas aqui juntas, sabia?! Seria prudente presumir que algo está acontecendo.

Mas Ariadne continuava tão alheia quanto sempre.

— Não sabemos disso! Talvez estejam tendo problemas com alguma coisa e queiram que ajudemos. Esta pode ser a nossa chance, certo Elaina?

— Obviamente, esse não é o olhar de alguém que deseja nossa ajuda.

Apontei.

Do outro lado da sala de aula estava uma garota que claramente estava esperando por nós. Ela usava o mesmo tipo de blazer que Ariadne, bem como uma longa capa preta por cima dele. Seu cabelo ruivo escuro estava preso em um rabo de cavalo na lateral de sua cabeça e ela olhou para nós com uma expressão vazia, permanecendo imóvel, igual um manequim.

Enquanto olhava para a garota parada do outro lado da sala de aula, de frente para nós, Ariadne semicerrou um pouco os seus olhos. Seu olhar era gentil, mas melancólico.

— Então, qual foi o seu motivo para nos chamar? — perguntou Ariadne à outra aluna. Ela foi direta ao ponto, ou talvez francamente sem tato, mas a garota do outro lado do corredor simplesmente balançou a cabeça.

— Não posso te contar.

Algo na voz da garota, na voz de Sara, me fez estremecer.

— Que fria… — Ariadne encolheu os ombros, claramente já sem paciência.

Que tipo de resposta é essa de “Não posso te contar”?

De repente, os cliques gelados de saltos altos ecoaram pelo corredor.

— Não foi ela quem chamou vocês.

Uma mulher apareceu calmamente diante de nós, seu cabelo esvoaçando glamorosamente atrás dela, igual grama nova balançando ao vento. Sua presença altiva me congelou no lugar enquanto ela caminhava com confiança em nossa direção.

Um arrepio subiu pela minha espinha.

Finalmente, a mulher parou ao lado de Sara.

— Sabia que havia alguns ratinhos farejando nosso negócio, mas… Foram vocês duas, hmm? Que pena. Isso é muito, muito infeliz… — Suas palavras frias nos atingiram como uma torrente gelada.

Tinha ouvido falar dessa mulher; especificamente que era da elite acadêmica, que estivera na universidade desde sua fundação, que era a escolha favorita de todos para ser a próxima diretora e que era jovem (estava apenas na casa dos trinta anos). Era a brilhante e adorável Senhorita Vivian.

E tenho certeza de que ela gostava de toda aquela atenção (embora não tivesse certeza se sua idade tinha alguma coisa a ver com isso).

Ao meu lado, Ariadne disse:

— De jeito nenhum. Sério? Parece que fomos descobertas, Elaina… — De alguma forma, ela ainda não parecia tão preocupada.

— Na verdade, tinha certeza de que nunca sairíamos impunes disso — respondi com um suspiro.

Para ser honesta, nós duas provavelmente parecíamos muito suspeitas nos últimos dias, enquanto tentávamos investigar o trabalho de Vivian. Realmente, se estivesse na posição dela, já teria nos capturado e interrogado.

Por outro lado, Vivian também era bastante suspeita. Na verdade, qualquer outra pessoa na minha posição já teria feito uma retirada apressada.

— Soube assim que comecei a olhar para vocês. A lista de alunos tornava isso óbvio. Não há alunas chamadas Elaina ou Ariadne matriculadas nesta instituição. — Ela apontou sua varinha para nós e exigiu: — Digam quem são vocês. Por que estão tentando ficar no meu caminho?

Bufei pelo nariz.

— A lista de alunos também disse que responderíamos honestamente se nos ameaçasse?

— Suponho que devamos incluir informações como essa a partir de agora.

Então ela balançou a varinha.

Na mesma hora, o chão da sala de aula se dividiu e a fenda subiu pela porta bem atrás de nós. Só percebemos que aquilo havia sido destruído por uma rajada de vento absurdamente forte quando, um momento depois, o vendaval passou por nós e fez nossas saias de uniforme esvoaçarem.

Entendo, então ela quer se gabar de seu próprio poder.

Ou isso, ou está tentando impedir nossa retirada destruindo a porta.

— É do seu interesse responder honestamente — disse Sara, ao lado de Vivian. — A professora não gostaria de ter que matar vocês duas…

Tenho certeza de que ela quis dizer isso como um aviso.

— Sara, não adianta — respondeu Vivian. — Se eu não as machucar um pouco, essas duas definitivamente não irão dar nenhuma resposta. Afinal, não parecem particularmente brilhantes.

Tenho certeza de que ela estava tentando nos provocar.

Mas não éramos o tipo de pessoa que morde a isca facilmente.

Contudo…

— Viemos aqui para acabar com essa charada tola. Liberte Sara de seu feitiço.

Segurei minha varinha a postos. Se minha oponente quisesse problemas, estava preparada para dar a ela.

— Ora, não estou sob o feitiço dela — respondeu Sara. — Só queria estudar magia sob sua tutela incomparável.

Mas, mesmo enquanto falava, pude ver que seus olhos estavam vidrados.

A garota obedecia lealmente a tudo o que a professora dizia, sem a menor hesitação ou preocupação com o certo e o errado. A professora devia tê-la manipulado de alguma forma. Tinha certeza.

— Estão planejando me derrotar sozinhas? Só vocês? — Os olhos de Vivian alternaram entre mim e Ariadne. — Afinal, a Ariadne ali não pode usar magia, certo? É por isso que me esforcei para cuidar dela. Achei que poderia transformá-la em uma maga igual fiz com Sara.

— Não preciso que você faça isso! — Ariadne cuspiu. — Estou perfeitamente feliz, mesmo sem a habilidade de usar magia! — Ela deu um passo atrás de mim. — Então, por favor, me proteja, viu Elaina?

— Hum, claro…

Não sabia se ela era legal ou desapontante.

De qualquer forma, preparei minha varinha enquanto me movia para protegê-la.

Estava enfrentando uma instrutora talentosa com anos de experiência mágica. Definitivamente, não era hora de baixar a guarda.

— Feliz sem magia…? — A expressão de Vivian ficou turva e parecia que ela estava juntando poder em suas mãos. — Dá um tempo! A vida das pessoas que não podem usar magia não tem sentido, porque a magia é tudo!

E então, acenou sua varinha novamente.

 

 

 

[Dia Três: Período da Tarde]

 

Bang!

Um som ensurdecedor trouxe minha consciência de volta ao presente.

Aparentemente estava no meio de um devaneio, quando mudei meu olhar da janela da sala de aula para a mesa da professora, vi a instrutora de meia-idade fazendo uma cara azeda.

A sala de aula estava totalmente silenciosa, quase como se fosse proibido falar.

Olhando em volta, vi alunos sentados em carteiras dispostas em um semicírculo em torno da mesa da professora. Havia alunos que se encolhiam de medo, alunos que anotavam desesperadamente as palavras escritas no quadro-negro e alunos que encaravam a instrutora com olhos frios e hostis.

— Você aí! Qual o seu nome? — O olhar da instrutora fixou-se em mim.

— Elaina — respondi com um bocejo.

— Tudo bem, Elaina. Você está olhando pela janela desde o início da aula! Talvez ache que minhas aulas são chatas?

A professora de meia-idade estava com as mãos nos quadris e as sobrancelhas levantadas. Rabiscado no quadro-negro atrás dela havia listas de ingredientes e etapas para fazer poções, girando sem parar como uma única receita espalhada.

— Se você quer ser aprendiz de bruxa, essa aula é obrigatória, sabe! Não acha que deveria prestar atenção?

Essa era a situação.

A Universidade Estadual de Latorita era uma instituição mista onde metade dos alunos eram magos e essa aula era importante para aquelas que pretendiam se tornar aprendizes de bruxa. O material abordado certamente apareceria nos exames de aprendizagem.

Então, em resumo, tudo isso era terreno familiar.

— Sinto muito. Vou prestar atenção.

Dei um pedido de desculpas indiferente.

Podia ser chato, mas eu realmente não estava prestando atenção.

— Você não vai escapar tão facilmente! Como castigo, venha resolver esse problema! Se não conseguir resolver, farei você rever minha aula! Venha agora, levante-se! — A professora bateu com a varinha no quadro-negro. Parecia querer envergonhar sua aluna problemática para que se comportasse melhor.

A varinha apontou para uma receita de poção para dormir. A coluna dos ingredientes foi deixada em branco. Parecia querer que eu preenchesse a parte que faltava na receita.

Um problema desafiador.

Me levantei.

— Primeiro, pegue caules de grama adormecida secos por dez dias e triture-os até virar pó. Adicione um pouco de lã puxada da pele de uma ovelha adormecida. Misture-a em água limpa e infunda-a com energia mágica. Então… — Levei cerca de mais trinta segundos para explicar os ingredientes e o método para fazer a poção.

— …

A instrutora apenas olhou para mim com uma expressão irritada, sem dizer se eu estava certa ou errada, então bateu no quadro-negro novamente.

— Muito bem, e esta?

Desta vez, estava apontando para uma lista isolada de ingredientes.

— Com esses ingredientes, você poderia fazer uma poção paralisante.

— E aqui?

— Essa é uma poção para transformar temporariamente alguém em um rato. Se você fizer isso… — falei sobre a receita fluentemente.

Suponho que a professora provavelmente estava tentando me intimidar, mas respondi a cada uma de suas perguntas.

Finalmente, com uma expressão amarga, ela disse:

— Você pode se sentar. Nunca mais fique entediada na minha sala de aula.

— Com licença, senhora?

— O quê?

— Aquela receita ali… Os ingredientes estão incorretos. E também há um problema com o procedimento.

— …

Depois de desfrutar de minha modesta vingança, olho por olho e tudo mais, recostei-me na cadeira. A sala de aula estava muito, muito silenciosa. Ou talvez simplesmente parei de ouvir, é o mais provável, agora que penso nisso.

 

Havia feito uma pausa em minhas viagens e, por vários motivos, estava disfarçada como estudante na Universidade Estadual de Latorita.

Consequentemente, estava vestida de forma diferente da que normalmente estaria. Estava vestindo um uniforme escolar com um blazer e uma capa longa. Fazia vários anos desde que coloquei um uniforme e estava ansiosa para caso não servisse em mim, mas devo dizer que ficou surpreendentemente bom. Apenas minha opinião.

— Elaina! O que vai ter na próxima aula? Se quiser, talvez você possa assistir história da magia comigo…

— Huh? Elaina verá aula de matemática comigo!

— Não, ela vai ver filosofia comigo!

Depois da aula, várias alunas me pararam enquanto eu tentava sair da sala.

Apenas dois dias se passaram desde que tinha me disfarçado nesta universidade, mas, aparentemente, já tinha deixado uma boa impressão.

O plano original era me infiltrar clandestinamente na universidade e realizar um resgate furtivo, mas… parecia que estava atraindo muita atenção. Poderia ser um problema.

Suponho que meu carisma pessoal esteja conquistando a adoração das pessoas.

— Elaina realmente sabe como lidar com aqueles professores irritantes.

— Sim, ela é útil.

— E é por isso que estará vindo para a minha aula de filosofia.

— De jeito nenhum! Ela verá história da magia.

— Não, matemática!

— …

Aparentemente, não era meu carisma. As pessoas achavam que eu era útil de ter por perto.

— Com licença. Tenho que ir ver alguém… — Recusei todos os convites das meninas categoricamente e deixei a sala de aula.

Na Universidade Estadual de Latorita, os alunos podem optar por assistir a diferentes aulas todos os dias. Isso tornou mais fácil para nós duas nos misturarmos com o corpo discente. A segurança neste campus é muito ruim, pensei.

Em todo caso, devido às circunstâncias que me levaram ao local, tive que me misturar com a turma da universidade. Provavelmente seria melhor não me envolver muito com outras pessoas.

Caminhei em direção ao pátio central, tinha feito uma promessa de encontrar alguém lá entre as aulas. Mas…

— Então, entende? Não ficará bem se você perder um botão em um momento crítico, certo? Se não usar esse tempo livre para consertar, vai acabar se arrependendo, sabe. Você tem que tomar mais cuidado! E você aí! Seu cabelo está nos seus olhos, não é? Isso é perigoso. Use este grampo de cabelo. Ah! E você, o que há com essa saia curta? É indecente! As meninas deveriam ser mais modestas. Desdobre a saia de volta ao normal! Uma saia que chega até os joelhos é perfeita.

Por alguma razão, uma multidão de garotas se formou no pátio e havia algum tipo de comoção se formando. No centro da multidão estava uma garota com cabelos ruivos, da cor das folhas de outono, presos em duas tranças nas laterais da cabeça. Ela estava vestida com um blazer vermelho e uma saia preta. Era uma das estudantes normais, que não estudava magia.

Ela estava ocupada se misturando com as outras garotas e, enquanto brincava, gritavam de alegria.

Oof… Você pode só me chamar de Mana.

Ela afastou alguns fios de cabelo soltos enquanto pronunciava esta estranha linha.

— O que está fazendo, Ariadne?

— Ah, Elaina. Você está atrasada. — Ariadne casualmente acenou um cumprimento para mim. Ao mesmo tempo, recebi muitos olhares hostis das garotas que andavam ao seu redor.

— Desculpem — disse Ariadne para a multidão —, tenho um compromisso marcado com esta garota. Não posso ir com vocês para a próxima aula.

Ela deu uma grande piscadela para o grupo e trotou até onde eu estava. Quando me alcançou, Ariadne agarrou meu braço.

Demorou menos de um segundo para que os olhares de suas seguidoras se tornassem assassinos.

— Você se importaria de não jogar combustível naquele fogo?

— Hmm? O que você quer dizer?

— Você nem deve ter percebido…

Caminhamos lado a lado para fora do pátio, as espectadoras nos direcionando olhares perfurantes durante todo o caminho. Eu tinha feito uma promessa de ver a próxima aula com Ariadne.

— Sabe, na verdade foi você quem disse que deveríamos tentar não nos destacar porque estamos no meio de uma operação secreta, certo Ariadne? Você está atraindo bastante atenção, não acha? O que está fazendo?

Lancei um olhar carrancudo para Ariadne enquanto caminhávamos pelo corredor, mas ela apenas riu.

— Ah, eu realmente disse isso? — Ela continuou: — Já que estamos nesse assunto, não foi meio conspícuo para você constranger um professor na classe, Elaina? Ouvi sobre isso.

— As notícias viajam rápido…

— Bem, não é como se eu não soubesse o que estou fazendo. Se eu me cercar de muitas pessoas diferentes, todos os tipos de coisas chegarão aos meus ouvidos.

— Então, você reuniu alguma informação secreta sobre Vivian?

— Hmm… Nem mesmo uma pista. E Você?

— Nada.

— Isso é ruim. — Ariadne encolheu os ombros.

— Parece que as alunas que estão do lado de Vivian são todas muito caladas, hein? — falei. — Mesmo quando perguntei sobre ela, a maioria não me deu qualquer resposta além de que ela é uma “boa professora”.

— Externamente, é isso, internamente devem saber o que ela está fazendo, certo?

Ariadne parou rapidamente. Havíamos chegado a uma sala de aula no final do corredor. A classe já estava quase cheia. Era ali que Vivian ensinava magia de combate.

— Aquela garota ali!

Em pé na porta, cutuquei Ariadne com meu cotovelo e apontei.

Porque sentada dentro da sala estava Sara, a garota que estávamos procurando.

 

— Os feitiços que vou ensinar a todas vocês hoje são feitiços especialmente versáteis para uso em batalha. Estou falando, é claro, sobre magia de vento. A magia de vento é, como o nome sugere, um ramo da magia em que você assume o controle do vento e direciona seu poder. O verdadeiro potencial da técnica reside na invisibilidade inerente de seus efeitos. Isso torna muito difícil fugir ou contra-atacar. É um ramo incrivelmente versátil da magia que pode ser usado em batalhas abertas, mas também é prático para ações secretas.

Senti uma pontada de nervosismo com a palavra “secretas”.

Estamos bem, certo…? Fomos descobertas?

Indiferente à minha ansiedade, Vivian continuou a palestra.

— Agora, deixe-me demonstrar. — Ela ficou no púlpito, balançando sua varinha e explicando os usos dos feitiços e como melhor direcionar a energia mágica de alguém. Seu cabelo, da cor de folhas novas, esvoaçava suavemente enquanto se movia.

— De qualquer forma, temos que encontrar uma maneira de resgatar Sara… — Ariadne estava olhando fixamente para Vivian, na verdade, estava carrancuda enquanto falava. — Talvez possamos convencer Vivian a deixar Sara ir.

— Ela realmente não parece o tipo de pessoa que vai ouvir um pedido educado.

Eu tinha certeza de que havia mais alunas como Sara que haviam caído no feitiço de Vivian. Era até possível que ela já tivesse assumido o controle da maior parte do corpo discente. Não pensei que abordá-la diretamente nos levaria a lugar nenhum.

— Ah…! Tive uma ótima ideia! — Ariadne de repente bateu palmas, mas pelo menos teve os meios para manter sua voz em um sussurro animado. — Você deveria atacá-la, Elaina!

— E depois que eu atacá-la, o que acontecerá?

— He-he-he… então… bem… sabe como é, vou improvisar com algo incrível.

— Talvez você possa bolar um plano mais… substancial.

— Huh? Mas é uma ótima ideia, não é? Vamos, Elaina, vamos lá!

— De jeito nenhum.

Mesmo supondo que eu fosse capaz de obter a vantagem, não conseguia ver nenhum resultado além das apoiadoras de Vivian se unindo contra nós.

— Ah, uma digressão momentânea — disse Vivian do púlpito. — Quantas alunas aqui são do programa não mágico? Levantem suas mãos. — Vivian ergueu a mão e incitou os alunos a levantarem as suas.

Ao redor da sala de aula, mãos se ergueram. Ao meu lado, Ariadne também levantou a mão obedientemente. Cerca de metade das alunas eram magas como eu, e apenas olhavam para o púlpito, já que a pergunta não tinha nada a ver conosco. Sara fez o mesmo.

Entendo, então esta é uma classe de feitiços para usar em batalha, mas aparentemente está aberta para não-magos.

— Certo, cerca de metade da classe — continuou Vivian. — Bem, não presumam que este curso não tem nada a oferecer a vocês só porque não podem usar magia. Também estaremos cobrindo maneiras de se defender contra vários feitiços de ataque, então encorajo todas vocês a tratarem desse assunto com a maior seriedade.

Os olhos de Vivian pousaram brevemente em Ariadne.

A diferença entre as alunas não magas e as alunas magas era óbvia. As alunas de magia usavam capas sobre seus blazers, como Sara e eu estávamos usando atualmente. A divisão deveria ter sido clara sem pedir a todos que levantassem as mãos. Era possível que Vivian tivesse feito questão de que nossa conversa silenciosa parecesse muito alta.

— Bem, então, voltando à palestra.

Depois disso, a aula foi retomada como se nada tivesse acontecido.

Se ela fosse mais como a instrutora de meia-idade de antes, as coisas provavelmente teriam acontecido do jeito que Ariadne queria…

— Acho que estávamos fazendo barulho demais — sussurrei, enquanto agarrava minha caneta e papel. — Bem, no que diz respeito ao nosso resgate, temos muitas opções além de um ataque direto. Apenas deixe comigo.

Minha caneta deslizou suavemente sobre a página por alguns segundos. Então, dobrei o papel em um pequeno pacote.

Depois de terminar, dei um tapinha no ombro da garota sentada na minha frente e entreguei-lhe o bilhete.

— Você poderia passar isso para a garota na sua frente com o cabelo castanho?

Duas carteiras à minha frente, pude ver as costas de uma aluna que, como eu disse, tinha cabelos castanhos brilhantes e tingidos, amarrados em um único cacho na lateral da cabeça. Era a garota que Ariadne queria resgatar, Sara.

Minha estratégia era a seguinte:

Entrar em contato com Sara e pedir para ela marcar um encontro com Vivian.

Minha cartinha perguntava: Você está livre depois da aula? Se não se importar, há algo que gostaria de discutir com você.

O primeiro passo era fazer com que ela concordasse em me encontrar.

Esta é realmente a opção mais segura. Não há como essa estratégia falhar.

Contudo…

A garota na cadeira na minha frente soltou uma risada suave.

— Huh, o que é isso? Uma carta de amor? — Ela deu um tapinha nas costas de Sara e, em seguida, entregou-lhe o bilhete. — Aqui está uma carta de amor da garota atrás de mim — contou.

Ela obviamente interpretou mal a situação e erroneamente presumiu que Sara e eu já tínhamos algum tipo de relacionamento.

— …

Consequentemente, quando Sara se virou e pegou a carta, semicerrou seus olhos azuis para mim por um momento; então pegou a caneta, parecendo muito, muito irritada, arranhou algo no papel e praticamente jogou de volta na garota entre nós.

— Uau, acho que ela é do tipo quente e fria, hein? — comentou a garota enquanto me devolvia o bilhete.

Havia apenas uma coisa escrita nele.

Desculpe, não estou interessada.

— Isto me lembra. É uma tradição do campus que os amantes troquem cartinhas durante a aula… — Ariadne estava olhando para o papel ao meu lado.

— E você não poderia me dizer isso de antemão?

— Ah, pensei que você soubesse.

— …

— Mas esta é a nossa chance, Elaina. Dá aqui. — Ariadne arrancou a caneta da minha mão e escreveu no papel novamente. — Se usarmos esta oportunidade para fazer amizade com Sara, podemos ser capazes de tirá-la do controle de Vivian.

Ela escreveu:

Desculpeee! Minha amiga pode ser estranha (ops), mas ela não quis dizer nada de ruim. Só queremos ser suas amigas (há ha)! Quero saber mais sobre você, Sara!

Dei a Ariadne um olhar incrédulo enquanto ela me entregava o bilhete com confiança.

Ele voltou direto para nós.

Esquisitas, foi a única resposta.

— Ela realmente não gostou de nós…

— É porque ela é tão fria…

— De alguma forma, não acho que seja esse o problema. — Estava ficando claro que teria que descobrir isso sozinha. — Nossa, me dá isso.

Escrevi: Queremos ser suas amigas, Sara. Por favor, apenas fale conosco.

Estou ocupada.

Seria porque você está ajudando a Senhorita Vivian?

Por que eu deveria responder isso?

Bem, o que você acha da Senhorita Vivian, afinal?

Você está dando em cima de mim, mas só quer falar sobre outra mulher. Não te entendo.

Acredite em mim, o sentimento é mútuo…

Trocamos mais algumas cartinhas, mas sem sucesso. Quando a aula acabou, não tínhamos conseguido fazer o menor progresso.

Vivian com certeza era uma professora popular, não havia dúvida sobre isso. No momento em que a aula acabou, as alunas se aglomeraram ao seu redor, zumbindo de entusiasmo.

— Achei que poderíamos fazer contato direto depois da aula, mas… agora parece que isso nunca vai acontecer.

— Sim, parece que sim.

Uma parede de pessoas se formou. Lutar até o meio parecia quase impossível.

— O que deveríamos fazer?

— Parece que nossa melhor chance de chegar até Vivian é por meio de Sara. — Tive uma percepção repentina. — Embora eu ache que Sara também faz parte da multidão.

Lá estava Sara, no centro da multidão, olhando para Vivian com olhos brilhantes. Ela parecia uma donzela apaixonada. Tentar falar com Sara não seria mais fácil do que abordar a própria Vivian.

Tch… Que saco. Como diabos vamos chegar até Vivian? — Ariadne estava começando a soar desesperada.

— Vocês duas. — Uma voz chamou de dentro da multidão. — Vocês aí.

Os olhos das alunas se voltaram para nós e então percebemos que Vivian estava olhando diretamente em nossa direção.

Ela caminhou direto até nós, separando a parede de alunas em seu rastro. De repente, estava bem na nossa frente, sorrindo amplamente.

— Vocês duas têm um tempo agora? — perguntou ela. — Gostaria de saber se poderia ter apenas um pouco do seu tempo para me ajudar com algumas pesquisas muito importantes.

Pesquisa… Essa foi a palavra que Vivian usou quando levou Sara embora.

Então, possivelmente, ajudar em sua pesquisa significaria se tornar sujeita ao controle de Vivian.

Isso não fazia parte de nenhum plano nosso. Ela nos pegou de surpresa.

— Então, o que devemos fazer se é ela quem inicia o contato? — sussurrou Ariadne baixinho para mim.

— Acho que você deveria improvisar algo — sussurrei de volta secamente.

 

[Um Mês Antes: Período da Tarde]

Vozes furiosas ecoaram das janelas da padaria que dava para a avenida principal. Uma cliente que estava prestes a entrar na loja girou nos calcanhares, sentindo a atmosfera perigosa que emanava do estabelecimento e, sabiamente, saiu correndo.

Além do vidro trêmulo, havia uma mãe e uma filha olhando uma para a outra e mais ninguém.

— Diga isso mais uma vez. — A mãe baixou a voz. Ela tinha visto o cliente fugir. — Você ao menos sabe o que está dizendo?

A filha respondeu, praticamente cuspindo as palavras:

— Eu disse que estou saindo de casa para ajudar a Professora Vivian com sua pesquisa. A partir de agora, vou morar na casa da professora. Não voltarei por vários anos.

Ela falou com total compostura. A garota usava um blazer vermelho e carregava nos ombros uma bolsa grande e pesada. Ela suspirou.

Sua mãe apenas olhou para ela, perplexa.

— Você está definida para herdar nossa loja, mas, em vez disso, está dizendo que vai morar com alguma professora fazendo… o que, exatamente?

— Nada! Ou qualquer coisa! O que eu quiser! Ouça, não entenda errado. Na verdade, não estou pedindo sua permissão, mãe, estou só te comunicando. Vou aprender magia com a professora.

A filha fez esta afirmação decisiva.

Ela era aluna da Universidade Estadual de Latorita, onde os magos representavam cerca de metade da população estudantil. Ela ansiava por ser um deles porque estava constantemente cercada por aquilo que mais desejava.

As alunas que se formavam naquela escola passavam a ocupar cargos importantes na cidade. Por outro lado, quando se tratava de alunas, como essa garota, que não podiam usar magia… bem, a maioria delas tinha bem poucas perspectivas após a formatura. Todos podiam ver que havia uma grande divisão no corpo discente.

— Você tem agido de forma estranha ultimamente, sabia disso? Desde que começou a ir para aquela escola… não, desde que conheceu a Professora Vivian… Mas você está indo muito bem sem magia, não está…? E se você herdar a loja…

— Não me alimente com esse absurdo. — A filha interrompeu. — Quero me tornar uma maga. Então, mãe… não estarei em casa por um tempo.

Ela deu meia-volta e saiu da loja sem olhar para trás.

Desde que começou a estudar na universidade, a menina mudou. Talvez fosse o novo ambiente, ou talvez fossem as pessoas que conheceu, mas se tornou distante e se fechou para sua mãe. A garota não ajudava mais na loja e tinha parado de sorrir como costumava fazer.

A mãe pretendia que a loja fosse o legado da filha. Ela mandou a garota para a universidade para aprender sobre o mundo, acreditando que um negócio de sucesso precisava de um proprietário bem relacionado, mas assim que as aulas começaram, a menina havia se esquecido completamente da lojinha.

Assim, a filha, Sara, saiu da casa da mãe, dizendo que nunca mais voltaria.

No dia seguinte, Sara foi transferida do curso normal para o programa de magia.

 

[Dia Três: Período da Noite]

— O que acha?

A padaria da avenida principal da cidade tinha um visual bastante especial. Tinha até um espaço para os clientes comerem no interior. Na verdade, poderia facilmente chamá-la de cafeteria centrada em pão, em vez de uma simples padaria. Tinham até mesmo café grátis para os clientes que optassem por comer no local.

— Acho que esse é o melhor! Lugar! De todos!

Fiquei muito animada com esta padaria de vanguarda.

Ariadne semicerrou os olhos para mim.

— Não estava perguntando sobre sua impressão da loja, sabe?!

Oh, eu entendi mal?

— O que eu acho da proposta de Vivian, você quer dizer? — Fiz uma ligeira reverência ao aceitar uma xícara de café da lojista e tomei um gole.

Ariadne acenou com a cabeça bruscamente.

— Sim, acho que isso não cheira bem.

— Bem, acho que tem uma fragrância adorável.

— Não estava perguntando sua impressão sobre o café, sabe?!

— …

Coloquei minha xícara na mesa.

— Tudo bem. Honestamente, acho que é uma armadilha. Parece muito conveniente.

— Tenho que concordar… mas, também é definitivamente nossa melhor chance de chegar até ela. Não podemos perder esta oportunidade.

— Em outras palavras, caímos mesmo sabendo que é uma armadilha?

— Exatamente. — Ariadne assentiu. — Teremos que tomar cuidado para não baixar a guarda. Sara mudou depois que conheceu Vivian, então…

— Tenho quase certeza de que vou ficar bem. Afinal, já sou uma maga. — Na verdade, não estava claro por que Vivian havia demonstrado qualquer interesse em mim. — Acho que ela provavelmente está de olho em você. Então é você quem realmente precisa tomar cuidado.

— Sim, provavelmente…

Ariadne respirou fundo, quase soltando um suspiro, pegou sua xícara de café e tomou um gole.

— No caso de algo acontecer comigo… bem, por favor, tire-a de lá. Mesmo se eu não conseguir.

— Isso soa como um último pedido.

— Essa era a intenção.

— Nesse caso, não posso aceitar. Terei problemas se você morrer comigo — respondi. — Estou te ajudando a cumprir sua promessa.

 


 

Tradução: Nero

Revisão: Sonny Do Nascimento

 

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