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Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 5 – Cap. 06 – Uma Lua de Mel e os Lírios da Felicidade

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Campos de flores se espalhavam abaixo do céu.

Vermelhas, azuis, amarelas, roxas e brancas. Flores de todas as cores estavam lado a lado, balançando inconstantemente. Conforme balançavam suas cabeças, emitiam um aroma que era o suficiente para fazer as pessoas que passavam suspirarem.

As nuvens à deriva no céu faziam sombras pelos campos. A brisa da primavera estava levemente fria e soprava em fortes rajadas, agitando as flores. Um pouco de brisa fresca misturada com um vento morno, ambos estavam tão bons que se alguém fechasse seus olhos, adormeceria de imediato.

A passageira da vassoura sentiu suas pálpebras começando a fechar lentamente.

— Não pode dormir, irmã.

No momento em que a garota fechou seus olhos, sua irmã mais nova, a responsável por conduzir a vassoura, tocou em seu ombro para acordá-la.

— Eu não estava dormindo…! — A garota soltou um bocejo que parecia com um suspiro.

— Mas parecia que ia. — A outra garota, bufando, olhou fixamente para a frente. — Há campos de flores aqui, então significa que estaremos lá em breve.

As duas eram viajantes.

A mais nova, que conduzia a vassoura, se chamava Avelia. Seu cabelo branco era grande o suficiente para alcançar sua cintura e ela tinha um único laço preto enrolado em sua cabeça. Vestida com uma capa branca, era uma maga. Esse, portanto, era o motivo de estar conduzindo a vassoura.

— Mas a vista é tão bonita… Está me deixando sonolenta.

Atrás de sua irmã, na mesma vassoura, estava a garota mais velha, Amnésia. Seu cabelo também era branco, mas curto, e em sua cabeça estava uma bandana preta e grossa.

Amnésia estava vestindo uma capa branca idêntica à da sua irmã, mas não conseguia usar magia. Ela tinha uma espada decorando seu quadril, o que de alguma forma não combinava com sua capa.

— Provavelmente está sonolenta porque ficou acordada até tarde ontem à noite. — Avelia olhou para a direção de sua irmã de forma um pouco fria. — Te falei para não dormir tarde porque hoje acordaríamos cedo, não falei?

— Dormi cedo e acordei cedo.

— Mais especificamente, dormiu e acordou à tarde.

— Isso se chama cochilo da tarde.

— Deixando isso de lado, onde estamos?

— … — Avelia, enquanto fazia beicinho por ter sido ignorada por sua irmã, olhou para a frente. — Aparentemente iremos chegar em breve, eu acho.

O campo de flores indicava que estavam chegando perto do destino.

— Estou tão animada — disse Amnésia, preguiçosamente, da parte de trás da vassoura.

— Não estamos indo para lá de férias — respondeu Avelia em um tom ligeiramente mal-humorado, mas seus lábios se suavizaram um pouco.

À frente das garotas estava uma cidade única.

Um local amável, completamente envolvido em flores.

 

 

O lugar era chamado de Cidade das Flores.

Não seria exagero dizer que tudo lá era coberto de flores. Eram a única coisa que consegui ver conforme caminhávamos pela rua.

Havia tantas floriculturas alinhadas que pareciam conseguir estar em maior número que as cafeterias e os restaurantes, mas com um olhar mais cuidadoso era possível ver que muitas delas eram apenas residências privadas decoradas com uma abundância de flores. A cidade era tão coberta de flores que me fez pensar que as pessoas de lá realmente deviam às amar. Mas, pensando bem, poderia ser que as flores representassem a fortuna da casa. Algo como: “Quanto mais flores, mais próspera.” As exposições eram tão esplêndidas que me deixaram em dúvida.

— Olha, irmãzona! Essa, e essa aqui também! Todas essas flores!

Quando viu a situação do local, minha irmã correu sorridente enquanto apontava para as casas e falava sobre a variedade de flores que encontrou nelas.

Minha irmãzinha tinha cabelo branco que ia até sua cintura e vestia uma capa da mesma cor. Com seu cabelo e capa balançando conforme se lançava pelos lugares, não parecia muito diferente de uma borboleta sendo atraída pelo néctar.

Ué, onde minha irmãzinha calma foi parar? Jurava que estava aqui agora.

— É perigoso brincar demais, Avelia.

Ela se virou quando chamei seu nome.

— Irmãzona, se disser coisas assim, nunca conseguiremos achar o Lírio da Felicidade, independentemente de quanto tempo fiquemos aqui.

Ah, olha só. Minha irmãzinha racional está de volta. Voltou ao normal.

— Hm, sendo assim… — murmurei.

Nosso verdadeiro propósito em ir para aquele país não era passear. Claro, era um dos nossos objetivos, mas fomos para resolver um problema urgente que enfrentávamos.

O qual era, como dito pela minha irmã:

— Devemos achar o Lírio da Felicidade e imediatamente adquirir verbas. Irei precisar da sua ajuda, irmãzona. Caso contrário, passaremos a noite com fome.

Resumindo, estávamos procurando por uma flor específica para que pudéssemos ter alguma melhora rápida. Resumindo ainda mais, estávamos procurando pelo Lírio da Felicidade.

Eu não achava provável encontrarmos ele no meio de tantas flores nas ruas da cidade.

Nos foi dito que “é um lírio que aparece para aqueles que amam lindas flores e nunca murcha. Ele atrai felicidade e é super legal.” Esse era um boato de fundamento duvidoso que escutamos por acaso em um país estrangeiro, então não fazíamos ideia se ao menos era verdadeiro.

Assim que ouvimos o boato, pensamos entre nós:

— Se vendêssemos aquele lírio, conseguiríamos fazer um bom dinheiro, né?

— Com certeza.

Éramos apenas viajantes novatas e não sabíamos o que fazer quando se tratava de conseguir dinheiro. Sendo honesta, quando saímos da Cidade Santa de Esto, não pegamos dinheiro o suficiente para durar em uma longa viajem. A partir do momento em que viramos viajantes, constantemente precisávamos de dinheiro, então acabamos com nossas economias bem rápido. Ou seja, estávamos na pior.

Deveria ter perguntado para a Elaina como que ela consegue dinheiro…

— Enfim! Você precisa ficar estupidamente feliz enquanto olha para as flores, irmãzona! Assim o Lírio da Felicidade deve aparecer. — Avelia estava saltitante. — Uau! Também tem flores aqui!

Ugh! Ela é fofa demais…!

— Vamos, você também. Rápido!

— … — Por hora, me forcei a mostrar entusiasmo e me aproximei de uma floricultura. — Meu deus! Essas são bonitas! Quanto essas flores custam?

Que vergonha. Alguém me mata…

—Quais…? — A dona da loja colocou a cara para fora, parecendo um pouco irritada.

— Hã? É… essas? — Eu estava apenas inventando coisas, então fiquei um pouco confusa quando me pediram para detalhar.

— Ah, essas são apenas ervas.

— … — Olhando de perto, percebi que aquelas flores não estavam decorando a frente da loja, mas sim florescendo das ervas daninhas que cresciam na rua.

Que confuso!

— Caso queira, te darei elas de graça. Honestamente, são um incômodo…

— … — Para disfarçar o clima ligeiramente vergonhoso que havia coberto o local, sorri um pouco. — Hm, essa loja tem algo tipo o Lírio da Felicidade?

A dona da loja balançou sua cabeça, exasperada.

— Me perguntam muito isso. — Continuou: — Não tenho nenhum desses aqui. Talvez tenha sorte em outro lugar.

Acabamos andando por todo tipo de loja, mas foi totalmente em vão.

Houve algumas pessoas que inclinaram suas cabeças para o lado, confusas.

— Lírio da Felicidade…?

Alguns vendedores nos mostraram flores artificiais.

— Ah, que tal essa?

Como se fôssemos cair nisso.

No final das contas, não achamos nossa flor. Parecia ser uma coisa incerta, que desaparecia de vista como o sol atrás das nuvens. Foi o suficiente para me fazer inclinar minha própria cabeça, me perguntando: Uma flor assim realmente existe? Não conseguiríamos dinheiro mais rápido se trabalhássemos em trabalhos normais…?

— É muito difícil de achar!

Naquele anoitecer, nos instalamos confortavelmente em uma pousada local, mas Avelia estava terrivelmente irritada após passar o dia todo andando e sorrindo para nada. Ela estava rolando furiosamente em cima da cama, se debatendo de raiva.

Para! Para! A cama vai quebrar!

— Não seria um tesouro raro se pudesse ser encontrado tão fácil assim, seria?

Se o lírio aparecesse para qualquer um que fingisse amar flores, veríamos ele à venda por preço de banana em qualquer floricultura.

— Irmãzona, vamos tentar uma tática diferente amanhã. — Avelia levantou sua mão de onde estava deitada, de bruços, na cama. — Procurarmos juntas não é muito eficiente. Deveríamos tentar conseguir informações separadamente.

— Concordo. — Não rejeitei a ideia. Agir como se estivesse obcecada pelas flores na frente de minha irmã foi difícil de diversas formas, então eu estava de acordo!

Enquanto estávamos nesse assunto, eu tinha uma sugestão.

— Ei, Avelia. Se estiver tudo bem para você, eu gostaria de trabalhar um pouco enquanto estamos aqui.

— Hã? Por que? — Minha irmãzinha estava muito fofa olhando para mim fixamente, com os olhos arregalados.

Suprimindo minha vontade de sorrir, levantei meu dedo indicador e falei, com uma atitude determinada:

— Pense bem sobre isso, minha irmã. Nós duas estamos procurando pelo Lírio da Felicidade, certo? Mas tem a chance de não acharmos ele, não é? E, se não acharmos, iremos acabar sem um tostão, né? Não seria terrível?

— …! Então está dizendo que irá conseguir dinheiro para nós trabalhando?! Essa é a minha irmã! — gritou ela.

— Né? Né?

Vai! Me elogie mais! Sou do tipo de pessoa que melhora quando é elogiada.

— Então, a partir de amanhã — continuei —, irei conseguir dinheiro para nós e, Avelia, você vai procurar pelo Lírio da Felicidade fingindo estar obcecada pelas flores. Dessa forma consegue focar em sua procura sem se preocupar com nossos recursos!

— Isso aí! Ainda bem… Como sua irmã mais nova, estava preocupada com o que faria caso você se tornasse uma preguiçosa que sempre montasse na parte de trás da minha vassoura e praticamente não trabalhasse…

— Você é tão maldosa. — Era por isso que ela estava tão feliz?

— Então como planeja fazer dinheiro? — Ela rapidamente voltou a ficar séria.

— Não se preocupe. Deixe com sua irmãzona. Tenho um plano.

Não faria uma sugestão sem ter um.

— E você não está apenas empurrando tudo para cima de mim e fugindo por ter ficado com vergonha de fingir ser uma donzela que ama flores, certo…?

— Eu j-j-jamais f-f-faria isso! Fiz minha sugestão após pensar em tudo!

— Suspeito. — Avelia semicerrou os olhos conforme me encarava fixamente.

— V-Vamos. Espere só. Amanhã vou juntar alguma coisa para nós. Então trabalhe bastante e ache o Lírio da Felicidade, Avelia.

— Hm… Não me satisfiz com essa resposta, mas entendi. Vou dar o meu melhor.

Avelia escorregou para a cama, parecendo hesitante. Ela parecia estar bastante sonolenta após andar por aí durante o dia todo.

— Bem, então, boa noite… — disse ela com um bocejo, já meio adormecida.

— Boa noite — respondi. — Falando nessa, quer dormir junto comigo?

— Ah, eu passo. — Mesmo que estivesse meio adormecida, sua rejeição foi evidente.

— … — Fui dormir após bufar.

 

 

Quando acordei pela manhã, minha irmãzona estava me agarrando, então a afastei de mim. Achei difícil dormir e acho que foi esse o problema.

Minha irmã era do tipo que vira de um lado para outro, ou até fique se mexendo sem parar na cama. Mesmo que fosse amarrada com uma corda ou algo assim, sempre arranjava um jeito de se desamarrar enquanto dormia e sair de sua própria cama. Não acho que alguém já tenha conseguido a impedir de fazer isso.

Acordei minha irmãzona imediatamente:

— Acorde.

Balancei seus ombros violentamente e, após um tempo, ela abriu os olhos.

— Ah…! Por que estou na cama da Avelia?

— É por causa do seu sono irregular.

— Seu rosto está corado…?

— E-Está imaginando coisas.

De toda forma, foi assim que nosso segundo dia na Cidade das Flores começou.

— Que flores lindas com um vermelho apaixonante! Essas flores azuis são tão encantadoras quanto o oceano! Ah! Essas são amarelas como o sol! Aah… Meu coração está puro novamente…

Andei pela cidade agindo como uma garota idiota, com ambos os braços bem abertos, parecendo que iria começar a cantar a qualquer momento.

—Aah…! Estou com tanta inveja das pessoas dessa cidade, que podem viver suas vidas rodeadas por essas flores!

Toda vez que alguém olhava em minha direção, eu não falhava em entrar na personagem:

— Eu amo taaaanto as flores!

Inclusive, isso me rendeu mais olhares vazios e um qual é o problema daquela doida?

— Sr. Florista! Qual é essa flor?

— Essas são ervas daninhas.

— Que belas ervas…!

Ervas de novo? Bom, que perca de tempo.

De qualquer maneira, fiz meu melhor e andei pela cidade.

— Aaah… Essa flor é realmente, hmm… alguma coisa…

Eu tentei, mas pensar em maneiras de elogiar flores sem parar foi mais difícil do que imaginei.

— Olha, você tem tantas flores… Essas são, sabe…

Lírio da Felicidade… Sai, sai de onde quer que esteja.

— Uau, lindas…

Não aguento mais fazer isso…

— Haaa…

Cheguei ao meu limite mais ou menos ao meio-dia. Me sentei em um banco na praça da cidade e suspirei, completamente exausta. É um lírio que aparece para aqueles que amam belas flores e nunca murcha, de acordo com as histórias, mas o que diabos isso significava? Aqueles que amam belas flores? Foi aí que me perderam.

Primeiramente, passei metade do dia fazendo o papel de garota que ama flores, mas não apareceu nada para mim. As histórias eram mesmo verdade…?

Suspirei de novo.

— Haaaah…

No entanto, a expiração barulhenta daquela hora não foi minha.

A pessoa que soltou aquele suspiro – bem mais profundo e pesado que o meu – foi uma garota que se sentou ao meu lado.

Ela era linda e tinha o cabelo impressionantemente ondulado. Da barra de seu sobretudo cor-de-areia se esticavam pernas esbeltas, vestidas com uma meia-calça preta, além de que pude ver que ela tinha uma aparência fantástica. Sua silhueta era tão refinada que fez eu me perguntar se ela realmente estava vestindo algo por baixo do sobretudo.

— Quero morrer…

E então ela soltou outro suspiro profundo enquanto fazia uma expressão preocupante, como se o mundo fosse acabar.

Humanos têm memórias curtas, então quando vi alguém que estava mais deprimida que eu, rapidamente esqueci sobre meus próprios problemas.

—É… aconteceu alguma coisa? — perguntei à garota sentada ao meu lado, cujo nome não sabia, sem pensar muito.

Ela pareceu um pouco surpresa, mas então virou seus olhos escarlate para mim e assentiu.

— Ah, estou com alguns problemas.

— Ho-ho. — Isso estava aumentando as minhas expectativas. — Caso queira, pode me contar seus problemas. Apesar da aparência, costumam me dizer que sou boa ouvinte.

Devido ao meu trabalho anterior como defensora da população, praticamente requerer que eu soubesse da vida de todos (para a segurança deles, claro) sempre que via alguém com problemas, sentia necessidade de me envolver. Fazia parte de mim.

Em outras palavras, as pessoas me chamavam de intrometida. Realmente, fui amaldiçoada com a curiosidade.

— Ah… Tem certeza…? — Ela soltou uma risadinha. — Então vou aceitar essa oferta.

Então, nesse momento, uma pessoa normal com certeza teria dito: “Hã? Por que eu deveria contar para uma estranha? Está louca? Está tentando me fazer entrar para o seu culto? Sai fora dessa!” e teria cuspido na minha cara como um camelo, mas pude ver pela maneira que se portava que a garota em minha frente não era assim.

Ela parecia tão derrotada que achei que sua racionalidade pudesse estar um pouco distorcida.

Enquanto olhava para mim, ela soltou outro suspiro sem vida.

— Agora estou na minha lua-de-mel…

— Oh.

Hmm? Tenho um pressentimento de que pode ser sobre um relacionamento tóxico.

— Mas não estou me dando tão bem com quem está comigo…

— Ah-ha! — Amo ouvir esse tipo de história!

— Por que seus olhos estão brilhando…?

— É impressão sua.

Ela me olhou com desconfiança.

— Então, qual de vocês está tendo um caso? — Investiguei. — É você? Ou seu marido?

— Não disse nada sobre qualquer um de nós estar traindo!

— Tá, tá, não se preocupa. Estou acostumada a ouvir esse tipo de coisa. De todas as pessoas que vieram me consultar, eu diria que pelo menos metade delas estavam incomodadas com o casamento rumando à zona morta por causa de infidelidade. Seja de seu cônjuge ou da própria pessoa.

— E a outra metade?

— É, bem, eles…

— Ah, pela sua reação eu já entendi, praticamente. Oh-ho-ho. — A garota riu e pude ver um pouco de vida retornando ao seu rosto. — Inocente, né, você.

Ao mesmo tempo, pude sentir um pouco mais de cor vindo para minhas próprias feições.

Parando para pensar, nem ao menos nos apresentamos.

— Falando nessa, meu nome não é “você”. Me chamo Avelia.

— Céus, você está certa. Perdão, Avelia. — Com um pouco de atraso, ela me disse seu nome enquanto colocava uma mão em seu peito com movimentos elegantes ao fazer. — Meu nome é Chocolat. Prazer em conhecê-la.

Não parecia haver muita diferença de idade entre nós, mas seu jeito era estranhamente calmo e dignificado, o que indicava seu alto status social.

Ela perfeitamente exemplificava elegância.

Assim como uma princesa.

 

 

— Olha, você me ajudou muito, senhorita. Aqui está seu pagamento.

Quando reportei para o dono da floricultura que havia terminado meu trabalho, ele examinou rapidamente a frente da loja, e então alegremente me deu algum dinheiro. Era pouco, quase uma mesada de criança, mas, para mim, que estava na beira da miséria, qualquer quantia de dinheiro era uma dádiva.

— Eba! Muito obrigada! Me chame novamente quando as ervas voltarem a crescer, tá bom? Vou retirá-las em um piscar de olhos!

Guardei o dinheiro com prazer em minha carteira.

O trabalho que fiz era algo que qualquer pessoa conseguiria, mas que ninguém estaria disposto a fazer.

Eu era uma capinadora.

O trabalho mais simples e mais banal, podar as ervas que estavam florescendo em frente às floriculturas, as quais confundiam por serem muito parecidas com as mercadorias. De toda forma, se eu continuasse trabalhando assim, consequentemente faria um bom dinheiro.  Como dizem: “de gota a gota se forma o oceano” então de erva em erva… Hm, acho que um amontoado de grama é só um amontoado de grama.

— Tudo bem, então, estou indo para a próxima loja!

Até mais! Deixei a loja e saltitei pela estrada.

Eu diria que já estava vendo algum retorno pelo trabalho de meio-período, mesmo que fosse só uma iniciante. Até mesmo conseguia sentir minha carteira levemente mais gorda do que durante a manhã. Foi o suficiente para me fazer pensar… caso continue assim, talvez nem mesmo precisemos procurar o Lírio da Felicidade, no final das contas.

Segurando minha carteira, corri pela cidade por mais um tempo.

— Ei! Mas que droga! Onde está esse maldito Lírio da Felicidade?!

Uma voz ensurdecedora estava vindo da próxima floricultura que eu visitaria. Uma mulher brava, furiosa, estava com suas mãos plantadas em seu quadril e com um olhar furioso fixado na lojista, a qual estava se curvando educadamente.

— Não existe algo assim, existe? Os rumores eram falsos? Não brinque comigo!

Ela tinha um cabelo vermelho cor-de-fogo. Pelo que gritou, não havia dúvida de que tinha vindo de outro lugar, mas estava vestida com um sobretudo e jeans, uma vestimenta verdadeiramente cotidiana. Pensei que parecia diferente das pessoas que vagavam de um lugar para outro a trabalho, como viajantes ou mercadores. Ela também devia ser uma viajante. Entretanto, havia uma espada em seu quadril.

Será que ela veio de longe para procurar o Lírio da Felicidade?

— Éé, como eu te disse, madame… Essa é só uma floricultura qualquer, então…  não temos nenhum…

Tsk…! Onde poderia estar…?! — A visitante sem nome coçou a bochecha, aborrecida.

Ah… Como pensei, não é tão fácil de achar, né…?

Estava começando a parecer cada vez mais que Avelia e eu jamais conseguiríamos encontrar a flor lendária, mesmo que revirássemos cada pedra deste país.

Não seria mais fácil conseguir dinheiro trabalhando normalmente?

A velha lojista balançou a cabeça.

— Também ouvi esses boatos, mas, sabe… nunca vi nenhuma loja vender isso. Me pergunto se realmente existe…

Ah não, parece que esse local também não tem o Lírio da Felicidade. Onde é que poderia estar…?

— Éé, desculpa interromper a conversa… — falei à velha lojista. — Tem ervas crescendo ao redor da loja? Sou uma viajante que está sobrevivendo podando as ervas daninhas dessa área, então…

A lojista me cumprimentou. Provavelmente estava pensando em algo como: Uma boa desculpa para escapar dessa cliente chata.

— Ah! Estou tão grata… Uma boa desculpa para escapar dessa cliente chata… — murmurou ela com uma voz baixa.

Que lojista terrível…

— … — A Senhorita Ruiva havia encarado intensamente a velha lojista, mas direcionou sua hostilidade para mim quando me intrometi. Pude sentir seu olhar afiado em meu rosto.

Igual a uma fera observando sua presa, hein?

— Hm…?

Quando pensei nisso, seus olhos se desviaram de meu rosto, descendo lentamente pelo meu peito e percorrendo todo o caminho até a ponta do meu pé.

— Hmm, o que foi? — Isso foi estranho e um pouco desconfortável.

— Qual é o seu nome?

— … — Isso também foi estranho e um pouco desconfortável. — Quando pergunta o nome de alguém, precisa dizer seu nome primeiro. Que rude.

— Meu nome é Rosamia.

Entendi, entendi. Não que eu esteja interessada.

Já que ela tinha dito seu nome, não tinha como eu evitar uma resposta.

— Tá. Meu nome é Amné…

Antes que eu terminasse, uma poderosa rajada de vento passou por mim, fazendo um corte em minha bochecha. Meu cabelo foi soprado para meu rosto e senti um arrepio na minha pele.

Não tive tempo para arrumar meu cabelo bagunçado… porque a mulher em minha frente estava segurando sua espada, com sua ponta virada para o meu rosto.

Eu não fazia ideia de como chegamos àquele ponto.

— Ah… que?

Então ela é uma fera capturando uma presa?

 

 

A história que Chocolat me contou foi uma história muito triste de discussão de casal.

Para dizer de forma clara e concisa, Chocolat e seu marido estiveram tendo dificuldades em seu relacionamento fazia um mês.

Estavam viajando para países ao redor do mundo, chamando isso de lua-de-mel e, um mês antes, haviam chegado em um certo país. Era um lugar sem muito valor, mas ela me disse que eram felizes desde que estivessem juntos.

No entanto, enquanto estavam passeando por lá, houve um incidente.

Chocolat ficou amigável com outra viajante.

Foi isso que Chocolat me disse sobre como conheceu a outra viajante:

— De vez em quando, eu andava pela cidade, sozinha, e foi em um desses momentos que aconteceu. Passei, por acaso, por uma viajante jovem que havia se perdido. — Ela disse que a visitante era uma pessoa muito misteriosa. — A viajante tinha cabelo branco e uma bandana grossa. Estava vestida como uma cavaleira, mas não tinha nenhuma armadura. Em vez disso, vestia uma capa igual à de uma maga e estava equipada com uma espada, então acho que aquela pessoa provavelmente era uma cavaleira. Tenho uma queda por cavaleiras. São tão incríveis. Meu coração bateu mais forte. Por isso decidi que deveríamos virar amigas.

Isso soa um pouco familiar, mas vamos ouvi-la.

De toda forma, enquanto mostrava o caminho para a viajante, Chocolat começou a se abrir para sua nova companheira, e a relação delas não acabou naquele dia. Elas rapidamente se tornaram amigas e continuaram se encontrando sempre que tinham tempo.

— Mas aquela viajante era mesmo uma pessoa estranha. Sabe, sua memória era completamente limpa após um dia. A viajante aparentemente estava tentando voltar para casa, mas nem ao menos sabia onde ficava. Um novo dia significava mais memórias perdidas, incluindo tudo sobre mim. Pensei: “não posso só deixar essa pobre pessoa sozinha.”

Então, em uma tentativa de ajudar de uma forma ou outra, Chocolat gastou uma generosa quantia de dinheiro para procurar informações sobre a Cidade Santa de Esto, a qual era o local que a ovelha perdida estava encontrar.

Isso parece extremamente familiar, mas vamos ouvi-la.

— De todas as possíveis maneiras, descobri tudo que pude sobre a Cidade Santa de Esto e consegui um mapa. Entreguei o mapa para ela, com um “Bem aqui!” marcando o destino, o que deixou a viajante bastante contente.

Mas o marido de Chocolat não estava tão feliz com essa ajuda.

Aparentemente, Chocolat escondeu sua amizade com a viajante de seu esposo. De acordo com o que me disse, seu marido era um cavaleiro que já havia sido seu guarda real, então ela tinha certeza de que ele sentiria ciúmes após ouvir que ela havia se tornado amiga de uma viajante que também era cavaleira.

Portanto, Chocolat manteve seus encontros em segredo.

Entretanto, após Chocolat ter dado o mapa para a viajante e todos terem deixado aquele país, seu marido perguntou:

— Você perdeu o interesse em mim?

Seu marido sabia que ela havia encontrado a viajante em segredo, que elas se tornaram amigas e que Chocolat secretamente conseguiu e entregou o mapa para ela.

E, por isso, ficou terrivelmente deprimido e seu relacionamento começou a sofrer. Seguiram suas viagens, mas começaram a passar cada vez menos tempo juntos, fazendo com que conversassem cada vez menos. Antes que percebessem, um mês inteiro já havia passado.

Durante esse mês, ouviram um certo boato.

O Lírio da Felicidade.

Havia um conto razoavelmente duvidoso de que qualquer um que conseguisse achá-lo iria encontrar a verdadeira felicidade, mas a intuição de Chocolat dizia que essa talvez pudesse ser a única maneira de fazer seu relacionamento voltar ao normal.

Nos últimos dias, estiveram procurando pela flor enquanto ficavam nessa cidade.

— Mas não conseguimos encontrar nada…

Ela estava desanimada.

Seu relacionamento nunca voltaria a ser como era. Isso era tudo que ela conseguia pensar. Conversei com ela justamente no momento em que se sentou no banco, sentindo-se desesperada.

Ah, entendi.

Creio que essa seja uma razão muito mais respeitável, né? Completamente diferente de procurar o Lírio da Felicidade para conseguir dinheiro fácil.

Falando nisso…

— É… não tem a ver com o que você estava falando, mas…

— O que foi?

— A viajante era uma garota? Por que seu marido ficaria com ciúme de você se tornar amiga de outra garota?

Chocolat respondeu tranquilamente:

— Meu marido também é uma garota.

— …

Aah, entendi…

 

 

— Se prepareeee!

A espada brandida contra mim arranhou minha bochecha e assobiou pelo ar. Nunca imaginei alguém empunhando uma espada e colocando vidas em risco, mas desviar da arma dessa mulher rapidamente mudou essa visão de mundo na minha cabeça.

Hã? Por que minha vida está em risco em uma floricultura? Não pude evitar de me perguntar.

Ela estava me atacando sem descanso. Não tive tempo para expressar minha dúvida em palavras. Se eu perdesse o foco mesmo que por um segundo, minha cabeça sairia voando.

— Qual é o problema? Esperava mais da mulher que roubou o amor da minha vida!

Você diz isso, mas…

— Não sei quem é você…

— Não se faça de idiota para mim! — A espada desceu em direção ao topo da minha cabeça e, um pouco antes de acertar, bloqueei com minha bainha.

— Por que não saca sua espada?!

— Porque minha espada não serve para matar alguém!

E não é como se eu pudesse te cortar sem saber o motivo.

— Nesse caso, por que a carrega?

— Para podar ervas?

— Sua…! — Houve um som de rangido. Não consegui discernir se veio de seus dentes ou de nossas espadas se cruzando. A força por trás da espada levantada acima da minha cabeça aumentou.

— …

Recuperei minhas memórias, mas referente ao conflito entre essa moça e eu, Rosamia, que estava diante meus olhos, não fazia a menor ideia. As circunstâncias fizeram eu me perguntar: Primeiro de tudo, quem é essa pessoa?

Provavelmente cometi algum erro descuidado com o amado dessa mulher na época em que sofria de perca de memória, mas…

— É… Não acho que interferi com a história de amor de ninguém durante minhas viagens.

— Não se faça de estúpida!

Ela me atacou, me fazendo voar para trás. Teve um barulho alto, como se uma rocha larga tivesse se partida ou algo assim, e o blocos pavimentando o chão foram pulverizados.

Eu a encarei inexpressivamente, pensando que uma tora de madeira ou um bastão, algum tipo de arma contundente, a serviria melhor que uma espada, então ela fez careta para mim.

— Um mês atrás, você conheceu uma bela garota loira.

— Bela…? Loira…? Um mês atrás…? — Que vago…

Abri meu diário em minha mente. Antigamente eu o abria quase todo dia, então obviamente decorei o conteúdo.

Um mês atrás… Acredito que seja um pouco antes de eu encontrar a Elaina, quando ainda lia os registros de meu diário quase todo dia…

— …! Ah! Aquela garota! — De repente, eu soube de quem ela falava e bati uma palma, alegre. — Está falando da Chocolat, né?!

— Então a encontrou mesmo! — Ela brandiu a espada, deslizando-a horizontalmente para que atravessasse meu tronco. Eu desviei.

— Espera, mas Chocolat não é uma garota?

— Ela é. Qual é o problema?

— Éé, mais cedo… disse que ela era o amor de sua vida…

— Ela é.

Hã? Hmm? Sinto que houve um mal-entendido…

— Do jeito que falou, eu tinha certeza de que dei em cima da sua namorada sem querer ou algo assim…

— Errado.

— Ah, é o que pensei. Ela não é sua namorada.

— Ela é minha esposa.

— Ah, então são casadas…

Interessante. Sempre assumi que uma relação amorosa tinha que ser entre homem e mulher, mas relações entre duas mulheres ou dois homens talvez fosse comum em outras partes do mundo. Talvez fosse uma norma mundial. Um padrão mundial.

— Isso é comum em meu país.

— Ah, sim. É só que… sempre pensei que o amor somente pudesse florescer entre um homem e uma mulher, então não me aproximei de Chocolat com segundas intenções ou algo assim e, claro, nunca pensei, nem por um momento, em roubá-la de você, Rosamia…

— Está dizendo que minha princesa não é atraente?!

— Não, não foi isso que quis dizer! Você é muito chata!

Dane-se isso! Vou embora!

Nada seria resolvido se continuasse a discutir com alguém que simplesmente se recusava a escutar.

Dei meia volta e corri o mais rápido que pude.

Vamos acabar com isso com uma fuga apropriada!

— Espera! Esperaaaaaa!

Continuei saltando pelo pavimento, sendo pressionada a seguir em frente pelo seu grito irritado.

 

 

Essa cidade com certeza é barulhenta.

Tenho uma sensação de que algo perigoso está acontecendo.

Ao mesmo tempo, me sinto vagamente ansiosa, mesmo que não tenha ideia do que pode ser.

— O que devo fazer, Avelia? O que é que devo fazer?

A comoção na cidade não devia ter chegado aos ouvidos de Chocolat, que estava sentada ao meu lado, preocupada. Ela soltou um suspiro do tipo romântico, como uma donzela doente de amor.

Ela me perguntou isso, mas eu estava totalmente perdida.

— Que tal primeiro conversar sobre a situação com Rosamia?

Essa provavelmente seria a maneira mais rápida. E com isso quero dizer que na verdade não há outra maneira.

— Se eu conseguisse fazer isso, não estaria tendo esse problema! — repreendeu Chocolat. — Quando se trata de Rosamia, não importa o quanto eu me explique, ela fica brava e não escuta! Ela fica dizendo: “Mas você parecia estar se divertindo tanto quando estava com aquela garota…”

— Uau, ela é um saco.

— Exatamente! Ela é um saco! Mas eu também amo essa parte dela…

— …

Talvez ela ficasse melhor se dissesse isso para a outra.

— Tudo bem, então creio que deva provar seu amor para ela.

— Ou seja…? — Chocolat inclinou a cabeça, confusa.

Coloquei uma mão em seu ombro e, com uma expressão solene, falei:

— Você tem que a beijar.

— Oi?

— Não sei se isso é ciúme ou que, mas você precisa a calar quando ela estiver assim. E então ela vai ficar quieta.

— Ah não. Beijar na frente dos outros… Isso é… indecente…

Bem, não te disse para fazer isso na minha frente ou algo assim, então…

— Qual a localização exata de Rosamia neste momento?

Quando perguntei, Chocolat, que ficou brincando com seus dedos, envergonhada, instantaneamente voltou a ficar com a feição pálida que tinha há alguns momentos.

— Estamos… separadas, por enquanto. Estava ficando estranho… Tenho certeza de que sou a única procurando pelo Lírio da Felicidade… Ela provavelmente está procurando por outras garotas, desapontada comigo…

— …

Ela era a representação perfeita da instabilidade emocional.

— Tudo bem, vamos encontrá-la.

— Hã? — Chocolat arregalou seus olhos e me encarou enquanto eu me levantava. — E-Espera um pouco! Agora? Vou beijá-la agora?

— Escuta, nunca falei nada sobre fazer isso na minha frente. — Soltei um suspiro, irritada.

O tumulto na cidade estava zumbindo em meus ouvidos, ainda mais alto que antes.

Estava começando a ficar muito barulhento e foi nesse momento que me virei e forcei meus olhos a prestar atenção, me perguntando o que é que estava acontecendo.

Quando vi, consegui a explicação do porquê me sentia vagamente ansiosa.

— Aaaaaaaaaaaaaaahhhh! — Alguém com cabelo branco estava correndo em minha direção.

— Espera aííííííííííí! — Alguém com cabelo vermelho estava a perseguindo.

Ah, minha irmã estava sendo perseguida por uma ruiva.

— Hm…

Vejamos, o trabalho da minha irmãzona envolve ser perseguida por aí por uma moça de cabelo vermelho?

 

 

Havia dois rostos que reconheci à frente.

Um era da minha irmã mais nova. Ela estava com uma expressão confusa, como se dissesse: O que diabos pensa que está fazendo, Irmãzona?

A outra era uma amiga que cuidou de mim um mês antes, Chocolat.

Mas não tive tempo para ficar feliz em vê-la novamente. Se continuasse correndo para elas, havia uma chance de que acabassem envolvidas no alvoroço de Rosamia. Tive um pressentimento de que nem Avelia ou Chocolat sairiam ilesas se isso ocorresse.

Então…

— Rosamia! — Parei e me virei. — Vamos parar com isso. Realmente não coloquei meus olhos em Chocolat! Isso é um mal-entendido!

— Não minta para mim! Estava tentando tomar minha princesa para você, não estava?!

— Não. Sério, não estava. Por favor, me escute…

Eu estava ficando farta quando uma voz soou por trás de mim.

— Rosamia! O que está fazendo? Somos só amigas! Não temos esse tipo de relação!

— Mas, Princesa Chocolat… você me deixou de lado para ir e ter um momento que parecia bem divertido com ela.

Bom, me lembro de conversar com ela e passar o tempo, claro, mas…

— Mas eu honestamente não tenho nenhum interesse romântico por Chocolat!

E estou falando sério.

— Meu coração não bate por ninguém além de você, Rosamia! — exclamou Chocolat. — Bem, meu coração palpitou um pouco quando a vi parecendo uma cavaleira, mas… — Adicionou ela quietamente, enquanto eu fingia que não ouvi.

Entretanto, Rosamia apenas respondeu gritando insultos em retorno.

— Está mentindo! Apenas diga que cansou de mim! — Parecia que donzelas apaixonadas eram criaturas complicadas de lidar.

A garota atrás de mim parecia profundamente magoada.

— Que coisa cruel de dizer… — Sua voz estava baixa. — Estive terrivelmente desolada desde que tivemos nossa discussão. Por isso que estive procurando pelo Lírio da Felicidade neste país, para que ficássemos bem…

— O Lírio da Felicidade…! — interrompeu Rosamia. — Estive procurando por ele também! Para que pudesse voltar com você, Princesa…

— Aah! Tinha certeza de que havia me superado e estava atrás de outra namorada…

— Não existe qualquer possibilidade de eu fazer isso! Você é a única para mim, Princesa!

— T-Também! Não me interesso por nenhuma mulher além de você, Rosamia!

E então…

— Eu te amo!

Ambas disseram a frase vergonhosa em conjunto. Não consegui ficar olhando.

Ah, estou com vergonha por elas.

— Ah! — Chocolat cobriu sua boca com ambas as mãos conforme ficava vermelha.

— Ah! — Rosamia escondeu o sorriso que surgia em seu rosto com o braço.

O que é que há com essas duas?

No final das contas, as duas queriam superar a tensão entre elas encontrando o Lírio da Felicidade, o qual retornaria o relacionamento ao normal.

Entendi, entendi.

Que final anticlimático…

— Então foi tudo um mal-entendido… Desculpa. Tinha certeza de que…

— É minha culpa…  Fui direto para a conclusão errada… Desculpa…

As duas se reconciliaram completamente.

Rosamia embainhou sua espada e caminhou em direção de Chocolat, a qual avançou hesitantemente para sua parceira. Desde o momento que estavam se olhando, provavelmente já tinham esquecido que nós duas estávamos assistindo.

— Realmente não há ninguém para mim além de você. Eu te amo, Rosamia.

Era como se Chocolat não fizesse ideia de que Avelia e eu estivéssemos lá. As duas pareciam profundamente submersas em seu próprio mundo.

— Eu também te amo! Mas… quando fica muito amigável com outras garotas… fico com ciúme. — No caso de Rosamia, ela estava nos checando por encaradas que nos dava junto com uma mexida em sua espada.

Já te disse que não estou atrás dela!

— Não importa o quão amigável eu fique com alguém, ninguém jamais irá ser mais importante para mim do que você. Não foi assim, e nem será.

— …

— …

— Princesa…

— Rosamia…

O que há com esse clima?

— Princesa Chocolat, por favor, nunca olhe para ninguém além de mim a partir de agora… Não posso viver sem você…

— Rosamia, nunca olhei para ninguém além de você desde o começo. Amnésia era minha amiga, mas nunca gostei dela desse jeito… Sempre tive uma queda por pessoas vestidas como cavaleiras, mas olhe para mim, Rosamia. Você e Amnésia são tão diferentes quanto o céu e a terra.

— Princesa…

— Rosamia…

Por que ela tinha que me envolver nisso?

— Irmãzona, não se preocupe. — Avelia colocou uma mão em meu ombro para me consolar. — Eu gosto muito de você, sabia? Não é o suficiente?

Quem disse que eu estava preocupada?

Pobre e coitada eu fui negligenciada. Como se não ligassem nem um pouco para meu drama, Rosamia e Chocolat estavam queimando de amor, se segurando uma na outra em um abraço sensual para todos verem.

Quando as duas começaram a se beijar, cobri os olhos de minha irmã com minhas mãos.

— Não consigo ver.

— É muito cedo para você, Avelia.

— Hunf. — Ela se contorceu, tentando retirar minhas mãos, lutou contra mim por um tempo, e então finalmente desistiu e soltou um suspiro. — Bem, eu não entendi direito, mas de alguma forma parece que resolvemos o problema…

— Com certeza…

Gostaria que conseguíssemos algo pelo incômodo de sermos envolvidas nessa mal-entendido estranho.

— Então… Não acho que perceberam que ainda estamos aqui…

— É, não perceberam. O amor é cego, afinal de contas.

— Não acho que parecem cegas…

— Você só tem olhos para sua parceira. — Suspirei enquanto assistia as duas de longe. Praticamente conseguia sentir o calor radiando do abraço ardente delas.

Meu suspiro foi de alívio por finalmente ter conseguido uma solução para esse incidente confuso.

Eu também estava um pouco desapontada por não termos encontrado o Lírio da Felicidade.

— O que vamos fazer a respeito do dinheiro…?

Eu realmente deveria pedir para a Elaina nos ensinar mais sobre seus esquemas para fazer dinheiro.

 

 

 

No final das contas, nunca achamos o Lírio da Felicidade.

Mas a realidade é que, mesmo que não tenhamos achado nada disso, nossos problemas urgentes com dinheiro foram varridos para longe naquela cidade.

— Causamos muitos problemas para vocês duas. Aqui, isso é um símbolo de minha gratidão. Por favor, aceite.

Após seu relacionamento voltar ao normal, o casal nos disse que aparentemente Chocolat foi definida como próxima rainha em algum país de algum lugar. Como agradecimento por termos salvado seu casamento, ela nos deu dinheiro.

Uma impressionante quantidade de moedas de ouro.

— Éé, não podemos aceitar isso tudo…

Era muito dinheiro, então minha irmã mais velha, sempre educada, gentilmente tentou recusar.

Quero dizer, o que é que ela está pensando, para nos dar tanto ouro como “um símbolo de gratidão”? Não é muita gratidão? Chocolat e sua esposa estão secretamente tentando conquistar minha irmãzona?

— Não. Esse é o quanto estou grata. Por favor, aceite.

Isso não é gratidão demais?

— Ah, mas…

— Está tudo bem.

Por fim, aceitamos o dinheiro que foi forçado para nós.

De uma maneira ou outra, nosso problema com arrecadação de dinheiro foi resolvido.

Nunca achamos o Lírio da Felicidade. O boato se formou do nada e, por fim, nunca ao menos vimos algo parecido.

Deixamos a Cidade das Flores e, conforme flutuávamos sem pressa na minha vassoura, minha irmãzona olhou vagamente para o céu e disse:

— Acho que uma flor assim provavelmente nunca existiu.

— O que quer dizer? — Inclinei minha cabeça, curiosa.

— Elaina uma vez me disse algo: “Viajantes com o coração impuro e mercadores irão te contar mentiras para conseguir vender, por exemplo, alguma porcaria no meio dos seus produtos vira um produto lendário ou vira algo popular em outros lugares.”

— Aham.

— Então o que quero dizer é que a flor provavelmente nunca ao menos existiu…

— …

Se o caso é esse, então significa que fomos completamente enganadas por uma mentira estúpida. Nada poderia me deixar mais brava.

— Bem, creio que devemos ser um pouco mais cuidadosas sobre acreditar alegremente em tudo que ouvimos.

— Acho que sim.

Minha irmãzona provavelmente meio que acreditou e meio que duvidou do boato sobre o Lírio da Felicidade desde o começo.

Ser uma viajante com certeza é difícil…

 

 

— Sim, é isso que estou te dizendo. Esse é o Lírio da Felicidade. Veio do extremo oeste… ou foi do leste? Ah, talvez do norte… Não. Do sul? Bem, realmente não importa de onde, mas, de toda forma, tem um lugar chamado Cidade das Flores e, nessa cidade, a flor é uma lenda local. É realmente incrível!

No canto de uma rua em algum país de algum lugar, uma bruxa com cabelo cinzento estava vendendo flores.

Uma flor custava uma moeda de ouro, um preço absolutamente absurdo, inacreditável, mas aquela bruxa, aquela viajante, estava descaradamente vendendo suas flores do mesmo jeito.

— Vamos, moça… Você diz isso, mas… Não é muito cara para uma flor?

Seu cliente estava olhando de volta para ela com uma expressão de dúvida.

Apesar disso, ela seguia com um sorriso destemido.

— Tem uma razão para esse preço. Uma vez que obter essa flor, irá encontrar a felicidade. Por uma única moeda de ouro, sua vida pode ser brilhante e cor-de-rosa. É um lírio que o fará ver rosas. Não é incrível?

— Mas é uma flor, não vai murchar?

— Essa flor nunca murcha.

— Que tipo de flor nunca murcha?

Uma artificial.

— Esses lírios têm poderes misteriosos e só aparecem para aqueles que os procuram. Nunca irão se decompor. É isso que os faz serem especiais.

E flores falsas comuns.

Eram flores falsas comuns, mas essa bruxa estava as vendendo por um preço extraordinário, tecendo mentiras inacreditáveis. Essas flores artificiais podiam ser compradas em uma loja próxima por uma moeda de cobre cada. Lixo, basicamente.

— Aham… Bom, acho que vou tentar comprar uma…

— Obrigada pela preferência!

A garota encheu sua carteira com dinheiro sujo, uma viajante com coração impuro, ocupada engordando sua carteira. Quem ela poderia ser?

Exatamente. Eu.

 

 


 

Tradução: Jeagles

Revisão: Sonny Nascimento(Gifara)

 

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