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Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 4 – Cap. 07 – Relatos Esquecidos da Amnésia

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Em certo lugar, havia uma garota misteriosa que um dia perdeu a memória.

Seu nome era Amnésia. Ela tinha dezessete anos. Usava uma faixa preta grossa em seu cabelo branco e liso, que batia na altura dos ombros, e seus olhos verde-jade eram tão bonitos quanto as flores do verão.

Ela usava um robe branco, uma saia preta e botas de cano alto. Parecia possuir alguma lembrança de como manusear uma espada, já que também mantinha um sabre preso ao quadril. Era a roupa de alguém que não tinha certeza sobre ser uma maga ou espadachim.

Ela não conseguia se lembrar de nada. Tudo o que restava da sua vida anterior eram alguns hábitos, profundamente enraizados, como cuidar da sua arma antes de dormir ou revisar o seu diário após despertar pela manhã.

A garota viera de uma cidade isolada que ficava por perto, uma chamada de Cidade Santa, Esto, e aparentava estar viajando em direção dela. Ela descobriu muitas coisas no seu diário.

Devia haver algo lhe esperando por lá, em Esto.

Mas também existia a chance de que retornar a Esto não refrescaria a sua memória. Esse medo a atordoava como uma onda que aparecia várias vezes ao dia, mas, mesmo assim, não podia fazer nada além de seguir em frente.

Estava continuando a sua jornada neste dia, cuidadosamente escrevendo em seu diário, que tinha algo como Leia isso quando acordar pela manhã escrito na capa. Ela havia registrado os acontecimentos de cada dia que passou na estrada.

— Bem-vinda! Esta é a Cidade Fronteiriça, Albed! Você é uma viajante?

— Mm. Bem, suponho que sim.

Depois de balançar a cabeça para o sentinela no portão, respondeu às duas ou três perguntas que foram feitas de um jeito bem seco e passou pela inspeção da imigração sem qualquer incidente. Para a sua última pergunta, o guarda a encarou desconfiado e perguntou:

— Você parece estar vestindo um robe, mas não é uma maga, é…?

— Não posso usar magia nem nada do tipo… então, não? — respondeu, inclinando a cabeça, confusa. Essa era a verdade; e mesmo que tivesse uma vez sido capaz de usar magia, com certeza não conseguia lembrar disso no momento. Parecia ser aceitável dizer que não era uma maga.

No final, o guarda olhou para o sabre pendurado no quadril dela e concluiu que não. Então abriu o portão e autorizou a sua entrada.

Diante dela apresentava-se uma paisagem urbana bastante comum. Havia vielas ladeadas por edifícios de tijolos a vista e as ruas eram pavimentadas com o mesmo tipo de alvenaria. O musgo aparecia entre as brechas dos tijolos pelo caminho. O cenário passava a vaga sensação de que a cidade possuía uma vasta história, permanecendo ali inalterada desde tempos imemoriais.

Por outro lado, cidades assim não eram difíceis de encontrar, e esta não tinha nenhum encanto em particular ou detalhe que a diferenciasse.

Mas esse não era o caso para essa garota.

— Linda…!

Tudo chamava a sua atenção, todos os lugares visitados pareciam-lhe novidade. A cena diante de seus olhos era fresca e inédita. Tudo brilhava como ouro. Ela estava cativada.

Para não se esquecer daquele cenário, pegou seu diário e começou a escrever sobre as belezas da cidade, para o benefício do seu amanhã, enquanto caminhava. Mesmo que não tivesse memória, poderia capturar a beleza em prosa. Foi isso que decidiu.

E provavelmente não foi a primeira vez que o fez. Enquanto relia o diário, descobriu que costumava falar muito sobre a beleza de outras cidades como esta.

E então a garota se perdeu no movimento de sua caneta sobre a folha e não percebeu que havia outra pessoa dirigindo-se a ela.

— Ack…! — Aquela pessoa caiu de bunda.

— Ah…! — Amnésia também acabou caindo de bunda.

Ela colidiu com uma garota da mesma idade. Seu cabelo cinzento era longo e liso, e ela tinha olhos cor lápis-lazuli.

Devia ser uma moradora local. Estava vestida com roupas extremamente comuns, um cardigã simples e um vestido, com o único acessório sendo um colar que parecia ser caro. Ela tinha uma bolsa no ombro, mas estava aberta. Parecia estar no meio das compras, já que entre as duas havia uma maçã que fora comida pela metade e várias revistas, além de um diário e alguns outros itens.

— Ah, f-foi mal! Eu estava presa à minha escrita… — Em confusão, Amnésia lutou para reunir os pertences da outra garota.

Ela, a de cabelo cinzento, levantou-se e limpou a sujeira em seu traseiro com calma.

— Não, sou eu que não estava olhando por onde anda… — Suas palavras azedaram conforme continuava sem pausa. — Mas não posso dizer que te elogio por escrever enquanto caminha. Não há nada a ser dito sobre isso, exceto que você limita o seu próprio campo de visão — disparou.

A maçã comida pela metade podia estar estragada.

— Uh… Foi mal… — Amnésia baixou a cabeça humildemente e se desculpou.

A propósito, a garota de cabelo cinzento que deu um encontrão nela estava sendo mal educada, já que comia a maçã enquanto caminhava. Claro, ela não estava olhando por onde andava. Estava profundamente absorta em comer a sua maçã. Apesar disso, tinha estabelecido uma disputa com Amnésia, cega pela sua escrita durante o incidente, possivelmente porque ficou brava por sua maçã ter acabado suja quando deram o encontrão. Ela mostrou que tinha um caráter bem estragado. Até a maçã comida pela metade podia também estar estragada.

— Bem, vamos ambas tomar mais cuidado a partir de agora, que tal…?

As duas pegaram seus pertences que acabaram espalhados e misturados, viraram as costas uma para a outra e foram embora como se nada tivesse acontecido.

Seguiram caminhos diferentes.

— Acho que não devia escrever no meu diário enquanto estou caminhando…

Tendo devolvido o diário ao bolso da camisa, a garota começou a falar sozinha.

Entretanto, ela não sabia que havia sempre escrito em seu diário enquanto caminhava. E também não tinha como saber que nunca tinha conseguido tempo para escrever antes de dormir. E, por fim, não percebeu que o diário que tinha acabado de guardar havia sido trocado com um que pertencia a outra pessoa.

Naquela noite, reservou um quarto em uma pousada e dormiu, caindo em um sono profundo sem ter registrado os acontecimentos do dia.

E então esqueceu até mesmo disso assim que adormeceu.

— A Cidade Santa, Esto, hein…?

Eu havia perguntado a um comerciante local se havia algum lugar interessante para visitar por perto, e foi este que ele recomendou.

— Sim. Aquele lugar é realmente incrível. E quando digo incrível, quero dizer que é incrível porque não sabemos o que é que há de tão incrível por lá. É tão incrível que não sabemos nem o que é que tem de incrível. Digo, é realmente muito incrível.

— Desculpa, mas poderia explicar de uma forma que eu possa entender?

— Uh, ah, isso foi demais para você, princesa?

— Receio que eu não tenha a educação real necessária para entender essa sua conversa absurda.

— …

— Então que tipo de país é? Por favor, diga os detalhes.

O comerciante pigarreou, limpando a garganta.

— Primeiro, devo dizer que nunca estive lá. Esto é praticamente fechada ao comércio exterior. Estrangeiros são completamente proibidos, a menos que estejam acompanhados por um residente. Ouvi dizer que estão tentando impedir que os poderosos segredos mágicos que possuem cheguem ao resto do mundo.

— Huh…

— Porém, de vez em quando, alguém consegue convencer algum morador de Esto que encontra do lado de fora e se infiltra na cidade, mas… quase todo mundo, por qualquer motivo que seja, volta sem qualquer lembrança do lugar. Esquecem de tudo o que acontece depois que entram na cidade e não conseguem se lembrar de nada a respeito da estadia.

— … — Havia uma parte pela qual fiquei meio obcecada. — Quando você diz “quase todo mundo”, quer dizer que nem todo mundo perde a memória, certo?

O comerciante acenou com a cabeça.

— Existem aqueles que se lembram. Mas…

— Mas?

— Quem não perde a memória passa a ser um fiel morador de Esto. E como fiéis moradores, dedicam-se inteiramente a manter os segredos da cidade secretos.

— …

Em outras palavras, ou perde a memória ou vira um cidadão.

Que tipo de cidade pode ser essa…? Ninguém sabe, e quem sabe não vai contar.

Estou intrigada…

Parece um lugar que preciso visitar em breve. Mas não posso entrar a menos que esteja acompanhada por um morador local, então vai ser bem complicado.

— Muito obrigada. Você foi muito útil. A propósito, há algum lugar interessante por aí além desse?

— Vejamos… ah, certo, claro. Existe mais um lugar interessante para visitar. E fica seguindo reto daqui.

— Ahah. Que tipo de lugar?

Inclinei a cabeça e o comerciante disse:

— Chama Cidade Fronteiriça, Albed, e, bem, é um lugar interessante, mas… ah, nada bom. É complicado para as bruxas entrarem.

— …

De novo? Seja Esto ou Albed, por que essa região tem tantas restrições?

Estufei as bochechas de frustração, e o comerciante disse:

— Albed proíbe a entrada de magos.

Entrada proibida para magos.

Entendi. Portanto, não existem limites para as dificuldades imigratórias.

Mas acho que poderia dizer que não existem problemas para entrar, desde que não seja um mago…

— Entendo. Por favor, conte-me todos os detalhes.

— Hein? Mas as bruxas não podem…

— Detalhes, por favor.

— …

E então obriguei o comerciante a cuspir todas as informações que possuía.

A Cidade Fronteiriça, Albed, tinha uma longa história, supostamente fundada há várias centenas de anos. Em tempos longínquos, na zona rural circundante, a supremacia mágica estava estabelecida, e qualquer um que não fosse mago – bem, o curso normal das coisas parecia ser que essas pessoas foram ridicularizadas e tratadas como subumanas, e até acabaram banidas. Era assim que as coisas funcionavam naquela época.

Os banidos procuraram por um lugar para morar e finalmente chegaram aos restos de uma fortaleza que havia sido anteriormente usada em guerra. No final, o povo ali se instalou. Enquanto se assentavam, a população continuava a aumentar e, antes que alguém percebesse, as pessoas estavam cultivando as terras ao redor da fortaleza, construindo casas de tijolos e erguendo muros.

Passou muito tempo e aquele lugar ficou conhecido como a Cidade Fronteiriça, Albed.

Graças ao que aconteceu com elas, as pessoas que viviam lá se ressentiam de todos os magos, e como nenhum usuário de magia tinha permissão para entrar no país, seus sentimentos negativos só pioraram, gerando um ciclo vicioso.

Bem, de qualquer forma, é essa a lenda.

— Em outras palavras, não tem problema, desde que eu não seja uma maga, certo?

Com isso em mente, troquei de roupas e vesti um cardigã comum e um vestido. Depois de vestir essas roupas bem simples, continuei descendo a estrada em direção a Albed.

Não demorou muito para eu chegar lá.

— Bem-vinda à Cidade Fronteiriça, Albed! Você é uma viajante?

O guarda que apareceu para me cumprimentar com um sorriso disparou duas ou três perguntas. Por fim, inclinou a cabeça.

— Bem, acho que está tudo bem, mas… você não é uma maga, é?

— Acho que você pode dizer só de olhar. Não, não sou — respondi com uma expressão calma.

O guarda balançou a cabeça com vigor.

— Foi o que pensei!

E, assim, me infiltrei com sucesso na Cidade Fronteiriça.

— …

Era só o boato de um comerciante, mas parecia que alguns magos cruzavam a fronteira em segredo.

É por isso que eu não estava tão preocupada quando entrei.

A primeira coisa que fiz foi dar uma volta pela cidade, ansiosa para saber que tipo de país poderia ser aquele que proibia a entrada de magos. Para a minha surpresa, qualquer descrição do lugar poderia ser reduzida a uma única palavra – comum. Os tijolos estavam até onde a vista alcançava, mas isso não era nada de especial.

As barracas de rua eram simples. Tinham montes de frutas à venda.

A livraria era comum. Não havia nada em particular que pudesse ser chamado de único neste país.

Claro, os restaurantes também eram normais. Não havia nada que pudesse ser considerado uma característica distinta.

Eu estava mordiscando uma maçã enquanto descia a estrada, fazendo um passeio e me perguntando se não havia nada de interessante no lugar. Continuei caminhando ao longo da estrada comum por várias dezenas de minutos. Antes que eu percebesse, descobri que havia voltado para o portão por onde havia começado.

— Ack…!

— Ah…!

E foi exatamente aí que me deparei com uma completa estranha.

No dia seguinte. Abri os olhos no quarto de uma pousada.

A luz que chegava de fora brilhava pelas cortinas balançando, denunciando que aquela manhã havia chegado com o calor característico do início da primavera.

Depois de soltar mais um bocejo, troquei de roupa, corri para fora da pousada e saltei para a rua ensolarada.

A quietude ecoava pela cidade que acabava de despertar.

— Vejamos… Que tal dar uma volta por todos os lugares que ainda não visitei…?

Caminhei distraidamente pela cidade.

Como o dia anterior foi o primeiro da minha estadia, havia um lugar que evitei de propósito.

As ruínas da fortaleza.

O lugar onde os exilados fundaram as suas novas casas. Era um lugar que não poderia ser esquecido pelas pessoas locais. Se essas pessoas continuavam rejeitando os usuários de magia, eu tinha certeza de que a fortaleza teria persistido. Não teria sido demolida. Era possível imaginar que a fortaleza tinha grandes probabilidades de continuar em pé mesmo neste momento.

— …

Digo, pude vê-la no final da estrada e tal.

CAMPO DE CONCENTRAÇÃO TEMPORÁRIA DE USUÁRIOS DE MAGIA, dizia a placa pendurada no prédio.

A hera tomava as enormes muralhas e, além delas, a torre rústica estava tingida de laranja onde era atingida pela luz do sol.

Parecia que já estava ali há muito tempo. Mostrava sinais de que fora reparada aqui e ali. Mesmo com o passar dos anos e com os reparos aumentando à medida que tudo começava a cair, devia ter permanecido o tempo todo no mesmo local.

Perto da placa, havia um sentinela imóvel, servindo como guarda do portão. Ele mantinha um rifle no ombro, sem se mover nada, igual um manequim.

Por que diabos este lugar se tornou uma prisão para magos? E o que significava esse “temporário”…?

— Aheh heh heh. Este lugar, bem… este é o lugar onde prendemos os magos que entram sorrateiramente em Albed e os mantemos até jogá-los para fora.

— Ah. Uh, certo.

A velha suspeita que de repente apareceu em cena me explicou tudo. Obrigada, mas quem é você?

— Fomos expulsos pelos magos, e este prédio está aqui desde o dia em que chegamos. Historicamente, este edifício é um símbolo do nosso ódio pelos magos. É por isso que, nos velhos tempos, nossos ancestrais o usavam como um lugar para aprisionar os magos que se infiltravam no país. Heh heh…

A velha mostrava um comportamento bem despreocupado para alguém que estava me contando sobre o passado sombrio do seu país.

Aliás, quem é você?

— … — respondi com o silêncio, e a velha continuou falando:

— Magos são trancados aqui, sem exceções, e mantidos até que os arranjos para a sua expulsão sejam feitos. Depois, são enviados de volta para seus amigos e familiares lá fora em troca de uma multa exorbitante. Este edifício é a maior fonte de renda de toda Albed.

— Entendo…

Negócio inteligente. Fiquei impressionada.

A velha continuou:

— Certo, olhe ali. Está vendo aquela carruagem?

— Hein? Ah, sim. — Olhei para a carruagem descendo pela estrada, em direção ao Campo de Concentração Temporária de Usuários de Magia.

Não era uma carruagem comum. A parte de trás era uma enorme gaiola de metal.

— Aquela é uma carruagem para transportar qualquer mago que for pego. Olha, tem um lá, não tem?

— …

Fiquei bastante surpresa.

No compartimento de carga daquela carruagem estava uma garota da qual me lembrava, olhando fixamente para a fortaleza com a boca aberta.

Era a garota de cabelos brancos com quem colidi no dia anterior.

Como assim? Ela é uma maga? Se infiltrou neste país, igual eu? Acho que se olhar de perto, vai perceber que ela tem uma aparência meio que de maga.

A carruagem parou em frente ao portão.

Já que estou aqui, posso muito bem ver como tratam os magos depois de capturá-los.

— Aqui estamos. Este é o campo de concentração. — O cocheiro da carruagem se virou e lançou um olhar severo para a garota.

— Incrível…! Está dizendo que posso ficar em um castelo enorme desses? Que massa!

O jeito como a garota estava agindo – seus olhos brilhando de verdade lá onde estava sentada, no topo da carruagem – não parecia combinar com a vibração do lugar. Naturalmente, o cocheiro ficou com raiva.

— Ora, sua! Você sabe o que fez? Entrou em nosso país sem permissão! Que tal sentir um pouco mais de remorso pelo seu crime?

— Ah… mas você não acha estranho me dizer para me arrepender, sendo que estou sendo enviada para um lugar tão luxuoso?

— Chega…! Saia da carruagem! Você está presa!

O cocheiro irritado abriu a gaiola no compartimento de carga e arrastou a garota para fora. As algemas balançando ao redor de suas mãos eram do tipo que mantinha cada dedo no lugar para que não pudesse fechar os punhos. Uma corrente se estendia das algemas igual uma coleira, e o cocheiro a puxou enquanto entregava vários pedaços de papel ao guarda do portão.

O homem folheou os papéis em silêncio.

— Como você anda espalhando boatos aos cidadãos da cidade e aos donos de lojas de que você é uma maga, a partir deste ponto, será confinada no Campo de Concentração Temporária de Usuários de Magia. Se desejar a liberdade, deve entrar em contato com seus amigos, conhecidos ou familiares fora da cidade. Entendeu, Elaina, Bruxa Cinzenta?

Hein?

Pisquei, surpresa, mas o guarda ainda estava olhando para a garota de cabelo grande sem nem olhar na minha direção.

— Não, hm, perdi a minha memória e não sei se tenho algum amigo ou familiar lá fora…

— Leve-a — ordenou o guarda asperamente ao cocheiro.

— Vamos lá! — latiu o cocheiro, puxando a corrente presa às algemas.

— Hm, espera aí! Escute o que eu estou dizendo…

Sua voz sumiu pelo caminho para a fortaleza dilapidada.

Hein? O que está havendo?

Embora os detalhes exatos de uma estratégia de negócios bastante inteligente tivessem acabado de se desdobrar bem diante dos meus olhos, eu estava preocupada com outra coisa. Exatamente o que aconteceu, e por que terminou com aquela garota sendo chamada pelo meu nome?

E ela disse que perdeu a memória…?

— Diga, a propósito, mocinha, você não vai me dar nenhum dinheiro?

— Hein?

A velha excessivamente familiar ainda estava ao meu lado. Para piorar as coisas, estava com a mão estendida, me pressionando por dinheiro. Desculpa, quem é você?

— O quê? Você é uma turista, e eu te falei sobre os pontos turísticos. Vamos, desembolse algum dinheiro… Pense nisso como uma taxa pela informação.

— …

Eu estava me perguntando qual era o negócio dela, e acho que era uma tática de venda de alta pressão sobre os turistas.

Mais uma estratégia de negócios inteligente. Soltei um suspiro.

A propósito, ela exigiu uma moeda de ouro como a taxa de informação. Fiquei com raiva, então usei magia para encantar uma peça de cobre para parecer com ouro e entreguei.

Por que diabos uma garota estava usando meu nome quando só nos encontramos uma vez?

Isso estava realmente me incomodando. Para começar, era vergonhoso ter alguém com o meu nome sendo presa por ter se infiltrado nesta cidade.

Fiquei irritada – fumegante!

— Hm, com licença. Posso te perguntar uma coisa? — Falei com o guarda do portão. — Por que diabos ela foi presa?

Ele virou a cabeça em minha direção de forma rápida e mecânica.

— A Bruxa Cinzenta, Elaina? Ela é uma bruxa bastante estúpida.

Está procurando briga?

— O que quer dizer com isso…? — Eu silenciosamente engoli a minha raiva.

— De acordo com os documentos, ela saiu pela manhã pedindo a cidadãos comuns que a ensinassem a usar magia. Parece que perdeu todas as memórias de qualquer coisa antes de ontem, e com elas, suas habilidades de usar magia.

— Huh… amnésia?

— Mm. Mas este país, como você sabe, proíbe a entrada de magos. Portanto, embora não saibamos o que aconteceu com ela, assim que se revelou como uma maga, foi presa.

— … — De repente, tive uma ideia. — Mas aquela bruxa na verdade não usou nenhuma magia, certo? Não é injusto prendê-la?

Bem, a garota não era eu, mas de alguma forma era difícil tolerar a ideia de alguém usando meu nome indo presa, então dei uma desculpa por ela.

Entretanto, o guarda do portão balançou a cabeça com firmeza.

— Ela não parece lembrar de como usar magia, mas, para o azar dela, temos um diário que confirma que é uma maga. Pode até ter perdido a memória, mas suas anotações provam a sua culpa.

— Um diário…?

Hein? Isso está ficando cada vez mais confuso.

Abri a minha bolsa e peguei meu diário, em pânico.

— Hmm…?

Era um livrinho bem parecido, mas com certeza diferente do meu.

Na capa, em uma caligrafia elegante, estava escrito “Leia isto ao acordar”.

No momento em que olhei para a capa, soube que não era meu.

— …

Espera…

O quê…?

Mas o que diabos é isso?

Voltei para o meu quarto na pousada por um momento, onde abri o diário.

Leia isto quando acordar.

Quando virei a capa com aquelas instruções, encontrei gravada ali a viagem de uma garota chamada Amnésia.

Parecia que tinha começado a sua jornada há cerca de um ano. Parecia errado continuar lendo muito, então folheei as páginas por cima, olhando as datas, e descobri que aquela garota, Amnésia, tinha uma natureza bem consistente. Todos os dias, sem falta, registrava todos os eventos que aconteciam. Pessoalmente, prefiro não escrever sobre o dia, a menos que aconteça algo de interessante, então poderia dizer que tínhamos personalidades meio que opostas.

Na anotação do diário, na seção do dia anterior, Amnésia continuava interminavelmente com uma longa passagem a respeito da beleza da Cidade Fronteiriça. No meio do caminho, encontrei uma linha estranha deslizando pela página e as anotações abruptamente pararam.

— …

A garota de cabelo branco e com uma faixa na cabeça devia se chamar Amnésia. Isso explicava as coisas.

Imaginei que acabamos trocando de diários por acidente quando nos esbarramos, e acabamos nos afastando com o errado em mãos.

— …

Mas que confusão…

Mas por que diabos ela estava usando o meu nome?

Encontrei uma pista que poderia explicar isso enquanto analisava a extensa escrita na página atrás da capa. Dizia:

Este é o seu diário. Leia-o ao acordar pela manhã.

Seu nome é Amnésia. Você tem dezessete anos. Já que acabou de acordar, provavelmente não consegue lembrar nem do seu próprio nome. Mas dê uma olhada no colar pendurado no seu pescoço – acredito que tenha as palavras “Para a nossa amada Amnésia”. Não sei de quem você comprou, mas não restam dúvidas de que o seu nome é Amnésia.

Neste diário, você registra tudo o que fez e tudo que ainda precisa fazer.

No momento, está sofrendo de uma doença que apaga a sua memória quando vai dormir.

Não sei a causa da sua doença. Porém, suas roupas finas e o sabre em sua cintura foram claramente confeccionados em uma determinada cidade. Aquele lugar pode ser a sua casa, então é para lá que deve ir. Continue seguindo para a sua terra natal.

Oro pelo seu retorno em segurança.

Depois, a página atrás da capa foi encerrada com uma única frase.

O nome da sua casa é Cidade Santa, Esto.

Era isso que dizia.

— …

Achei difícil de acreditar.

Entretanto, se pensasse no passado da situação atual, esse novo desenvolvimento seguia o que eu tinha visto até o momento.

Por exemplo, suponhamos que ela realmente perdia a memória todos os dias.

Ela colidiu comigo, trocou o diário com o meu, e então, por algum motivo, foi dormir sem registrar os acontecimentos do dia.

E então acordou pela manhã, tendo perdido todas as suas memórias. Já que não saberia nem o próprio nome, devia ter encontrado o meu diário ao seu lado e erroneamente pensou que era a Elaina.

Sem saber nada sobre este país, deve ter ficado com a impressão de que havia perdido a habilidade de usar magia, apesar de ser uma bruxa.

Claro, ela nunca foi capaz de usar magia.

E, para piorar as coisas, eu não escrevia em meu diário há dias, então a última página que ela leu devia estar datada de vários dias atrás.

Não seria exagero se presumisse que assumisse que havia perdido as memórias dos últimos dias.

— …

Para o azar dela, tudo parecia se encaixar.

— A Cidade Santa, hein…?

Pensei em Amnésia, que havia perdido a memória. Em meu diário. Na Cidade Santa, Esto, para onde deveria ir.

O que devo fazer?

Supondo que ela seja cidadã de Esto, deveriam permitir que eu entrasse no país como sua companheira de viagem. E se não for cidadã de Esto, tenho certeza de que a cidade teria algo a ver com a sua perda de memória. Se fizéssemos barulho suficiente a respeito disso, deveriam nos deixar ao menos entrar no país.

Será que tenho o dever de ajudar a garota que se confundiu, pensando ser a Elaina? Isso é necessário?

— Suponha que seja…

Ou melhor, não tenho motivos para não ajudar. Sem mencionar que é impossível dizer que sou parte do motivo pelo qual ela foi presa.

Parecia que ajudar a garota faria bastante sentido.

Então me levantei e tracei meu caminho para a fortaleza de novo.

— Sim, então tipo, quando realmente pensei nisso, percebi que aquela bruxa de antes, Elaina, é tipo, minha amiga! — reivindicou uma garota solitária de uma forma muito estúpida, coçando a bochecha. — Teehee!

Ela estava nas ruínas, dizendo isso como desculpa ao guarda.

Quem era ela?

Isso mesmo. Euzinha.

— Por algum motivo, ela sofre de uma doença e às vezes perde a memória e depois a recupera, então, tipo, está viajando comigo. Parece que ela não sabe nem quem é, e de alguma forma veio parar aqui, sabe?

O guarda balançou a cabeça para mim enquanto eu dava algumas desculpas.

— Huh… Está falando sobre a bruxa que esta manhã lembrou que é a Bruxa Cinzenta?

— Bingo.

O enredo básico era que eu estava tentando convencê-lo de que ela só entrou na Cidade Fronteiriça por acidente, tudo graças à sua condição infeliz.

Ficaria grata se as coisas corressem bem e o guarda apenas a soltasse, dizendo algo como: “Se ela perdeu a memória, então acho que é um erro aceitável. Vou deixá-la ir.

— Mesmo assim, isso não muda o fato de que é uma bruxa e veio aqui. Antes que eu possa libertar aquela mulher, você terá que pagar pela fiança dela.

Tch.

— Ei, você acabou de estalar a língua para mim?

— Não! Eu jamais faria algo assim! — Estalei. O que você vai fazer quanto a isso? — Então, sobre isso. Quanto custa?

— Aproximadamente vinte peças de ouro.

— Ah, não. Você está tentando me enganar…

Isso é muito… Digo, até que tenho esse tanto… mas não quero pagar…

— Se quer que eu liberte a bruxa, precisa pagar essa quantia. Na hora. Em moeda fria e dura. Sem problemas se não puder! Sua amiga vai passar o resto da vida na cadeia.

— …

Diante de sua postura firme, estava mais do que aparente que o guarda não tinha a menor intenção de recuar em sua palavra.

Me resignei e soltei um enorme suspiro.

— Tá bom… Eu vou pagar.

Já que parecia que não conseguiria nenhum progresso se não fizesse isso.

— Bem, então, antes de te entregarmos a Bruxa Cinzenta, vamos ter que confirmar que é ela. Você disse que é companheira de viagem dela, certo? Nesse caso, deve saber todos os lugares que ela visitou até agora.

— …

Eu esperava que obedientemente entregassem a garota, mas me acertaram com uma reviravolta ainda mais incômoda.

Eu já estava começando a ficar ressentida. Não gostava muito de ser enrolada.

Com um olhar indiferente, o guarda do portão abriu o diário da Bruxa Cinzenta – bem, era o meu próprio diário.

— Primeiro, qual país a Bruxa Cinzenta visitou mais recentemente?

— …

Claro, ele estava falando sobre mim.

— A Cidade Submersa.

— Correto. E qual é a comida menos favorita dela?

— Todas as variedades de cogumelos.

— Uhum. E qual é a pessoa que ela idolatra em segredo?

— A professora dela…

O que é que há com esta sessão de perguntas e respostas…? E quanto do meu diário ele leu?

— Tudo bem então, qual é o título deste diário?

— Bruxa Errante…

— Muito bem. — Após isso, o guarda parou por um momento e inclinou a cabeça. — Tenho uma última pergunta… Por que diabos a Bruxa Cinzenta repete “Isso mesmo. Euzinha” com tanta frequência? É uma frase de efeito ou algo assim?

— Hm, acho que sim…

— E ela parece realmente obcecada por dinheiro. Qual é o problema com isso? Isso significa que as bruxas não têm nenhum problema ao fazer coisas sujas?

— Tenho certeza de que ela considera essas ocasiões como exceções, como quando é roubada por alguém tão desagradável que gostaria de esquecer da existência dessa pessoa na mesma hora…

— Além disso, ela gasta muitas palavras poetizando sobre a própria beleza. Qual o sentido disso? A Bruxa Cinzenta está apaixonada por si mesma?

— Suponho que está, sim…

— E ela não é muito doce com as outras mulheres? Parece que tem alguma inclinação contra os homens.

— Acho que ela só não está acostumada a lidar com eles…

— Aliás…

Não quero contar todo o resto da conversa, portanto, permita-me omitir isso.

— Por favor… eu imploro…

Depois que todos os aspectos do meu diário foram apontados, eu podia sentir o meu rosto ficando vermelho.

O guarda do portão finalmente pareceu satisfeito e fechou o diário.

— Mm, muito bem. Ei, traga a mulher aqui! — gritou ele para trás.

— …

Esperamos um momento. Do prédio do outro lado do portão, apareceu uma mulher, puxada por um homem. Ela tinha uma faixa preta grossa em seu cabelo branco e seus olhos estavam arregalados de surpresa.

— Hein? Estou sendo liberada?

Ela me olhou nos olhos. Não devia se lembrar de ter colidido comigo no dia anterior, já que inclinou a cabeça.

— Quem é você…?

— Sou sua amiga. Suponho que não lembre de mim — respondi.

— Por que o seu rosto está vermelho? Está com febre?

— Por favor, me deixe em paz. — Virei o meu rosto para o lado. Queria fugir do fato de que meu diário havia sido lido em voz alta.

O guarda olhou para cada uma de nós.

— Bruxa Cinzenta — disse ele para ela. — Sua amiga veio buscá-la. Uma vez que você estiver liberada, deve sair na mesma hora e nunca mais voltar aqui!

Para mim, disse:

— São vinte peças de ouro. Pague agora. — Ele estendeu a mão.

— … — Depois de soltar um enorme suspiro, paguei a quantia. — Aqui está…

— Muito bom.

O guarda simplesmente confirmou a quantidade de ouro, guardou e tirou as algemas da garota. Enquanto fazia isso, entregou os pertences pessoais dela, como o diário e o sabre. Bem, o diário era meu.

A garota recuperou a liberdade do corpo e das mãos com um clink.

— Obrigada…? — disse ela inclinando a cabeça, talvez ainda não sendo capaz de compreender a situação.

— Não diga isso — respondi, depois peguei a mão dela e comecei a me afastar. — Pode vir comigo por um segundo?

E foi assim que deixei Albed em um ritmo acelerado – levando comigo a Amnésica que assumiu o meu nome.

Tínhamos deixado a Cidade Fronteiriça e estávamos caminhando por uma pradaria.

Depois de vestir meu robe de sempre, expliquei tudo.

Expliquei que na verdade não era sua amiga. Que era eu a verdadeira Bruxa Cinzenta, Elaina. E a razão pela qual ela acabou sendo presa.

— Hmm…? Espera um pouco. O que diabos você quer dizer?

Em resposta às minhas reclamações e explicações, Amnésia parecia estar com dificuldade para processar a situação, assim como esperado.

— Como eu disse, você não é a Bruxa Cinzenta. A razão pela qual pensa que é a Elaina é porque pegou o meu diário por engano.

— Mas não lembro disso ter acontecido…

— Leia isso.

Provavelmente seria melhor ela ler do que eu explicar.

Entreguei o diário.

— …

Depois de virar algumas páginas enquanto caminhávamos, a garota sussurrou:

— Meu nome é… Amnésia… Huh. Isso parece combinar mais comigo do que Elaina… — Ela pegou uma caneta.

Com movimentos incrivelmente naturais, começou a escrever enquanto caminhava.

Sua adorável caligrafia parecia ser da mesma pessoa que havia escrito as palavras em todas as outras folhas.

Nesse ponto, parecia ter finalmente percebido que era a Amnésia.

— Mas… com certeza achei bem estranho… Estava escrito no diário que eu era uma bruxa, mas não senti que poderia usar algum tipo de magia…

— Sei como é.

— E, embora não me achasse tão fofa quando me olhava no espelho, passei bastante tempo elogiando a minha própria aparência…

— Quer levar um tapa na cabeça?

Está procurando briga? É isso que você quer?

— Mas por que você… hmm, Bruxa Cinzenta, Elaina? Por que você me ajudou? Fico agradecida, mas não entendo as suas motivações.

— Está escrito no seu diário que a sua cidade natal é a Cidade Santa, Esto, certo?

— Hein? Mm. Parece que sim.

— Bem, tenho certo interesse naquele lugar. Mas, já que não posso entrar a menos que esteja com você…

Amnésia bateu palmas com força e balançou a cabeça com vigor.

— Entendi! Então foi um esquema para me usar e entrar em Esto, certo?

Sim, mas não havia outra maneira de dizer isso? Isso me faz parecer má.

— Tudo bem se eu te acompanhar na sua jornada?

— É claro! — Ela abriu um sorriso. Eu já tinha meio que percebido, mas a garota não parecia ser uma pessoa má. — Eu estava planejando te perguntar a mesma coisa. Já que parece que não consigo viver sem o meu diário… Estava pensando que gostaria de ter alguém como você comigo. É por isso que quando você me disse que era minha amiga, fiquei feliz. Ah, então esse tipo de pessoa é minha amiga, foi o que pensei… mesmo achando que não fosse verdade… — Ela parecia um pouco triste.

— Então, como devo te chamar de agora em diante…?

— Amnésia! E você?

— Elaina.

— Prazer em conhecê-la, Elaina.

— Digo o mesmo, Amnésia.

Nossa conversa foi um pouco estranha, e rimos de vergonha mútua. Depois disso, como se nada houvesse acontecido, ficamos ombro a ombro e começamos a andar.

Pela mesma estrada desta vez.

Depois que a Bruxa Cinzenta e a garota partiram, o homem que guardava o portão ficou em posição de sentido em frente ao prédio que servia como Campo de Concentração Temporária de Usuários de Magia, igual sempre.

— Já vi aquelas roupas antes — murmurou ele para si mesmo.

O soldado que havia levado a Bruxa Cinzenta para o Campo de Concentração o escutou.

— Onde viu…?

O guarda do portão ergueu os olhos para o céu, como se quisesse seguir sua própria memória, que fluía como as nuvens.

— Estou começando a achar que ela não era a Bruxa Cinzenta.

— Bem, por sua atitude descontraída, eu não tive uma impressão muito boa de que era uma bruxa, mas…

— Não é isso que estou dizendo.

— Como assim…?

— Aquelas eram as roupas da Ordem dos Cavaleiros Santos da Cidade Santa. Eu li sobre isso há muito tempo.

— A Cidade Santa, hein…?

Essas foram palavras que nem o soldado nem o guarda ficaram particularmente felizes em ouvir.

A dita Cidade Santa era a mesma que uma vez expulsou os ancestrais do povo da Cidade Fronteiriça de suas casas originais enquanto pregava a supremacia dos usuários de magia.

A mulher que se autodenominava Bruxa Cinzenta – aquela que prenderam – estava usando o uniforme daquela mesma ordem.

Esse fato era incompreensível.

Isso colocava em questão se a garota com o cabelo branco e faixa era mesmo a Bruxa Cinzenta.

O soldado de repente inclinou a cabeça, perplexo.

— Mas o fato de uma bruxa ter perdido a memória foi… estranho, certo? Quando você sai da cidade, apenas suas memórias de Esto devem ser apagadas. Mas… se ela pertencia aos Cavaleiros Santos, então devia ser uma cidadã de Esto. E, nesse caso, sua memória não devia ter sido apagada… hein?

Quando a Cidade Fronteiriça foi fundada, a Cidade Santa se cercou com uma barreira mágica que impedia que o conhecimento de suas habilidades mágicas vazasse para o mundo exterior. Dessa forma, qualquer forasteiro que deixasse a cidade teria todas as memórias da sua estadia apagadas.

Se fosse um cidadão, deixariam manter as memórias, confiando na pessoa para guardar os segredos.

Entretanto, a garota que havia sido detida como a Bruxa Cinzenta não se enquadrava em nenhuma dessas categorias. Sua situação era nada menos que peculiar.

— Então acha que ela era mesmo uma bruxa de verdade…?

— Imagino… — O guarda do portão dramaticamente deu de ombros. — Embora realmente não importe se era uma bruxa ou não, tenho certeza de que aquela mulher estava envolvida em algum tipo de situação complicada. — Ele continuou: — Ah, estou com o dinheiro que extorquimos da outra mulher. Leve para o cofre.

Ele preguiçosamente jogou a bolsa contendo as vinte moedas de ouro para o outro soldado.

O soldado pegou a bolsa ainda no ar e, com o mesmo movimento, abriu para conferir o conteúdo…

— Hmm…?

Ele descobriu uma situação ainda mais estranha.

O soldado parecia nervoso.

— Hm, são todas peças de cobre…

— Como é?

— Por que você aceitou cobres…?

— Não, tenho certeza de que verifiquei! Hein? São cobres mesmo. O que aconteceu?!

— Bem, não me pergunte…

O dinheiro que ele tirou da mulher, de alguma forma, transformou-se em uma bolsa de cobres.

Era quase como se as moedas de cobre tivessem sido enfeitiçadas para ficarem parecidas com ouro.

Depois disso, Amnésia e eu saudamos o sol da manhã juntas por muitas vezes.

Um dia após nos conhecermos, descobri que, por mais improvável que parecesse, seu diário dizia a verdade.

Embora caminhássemos pelas mesmas estradas, ela nunca lembrava de nada e, pela manhã, as únicas palavras que sempre dizia eram: “Quem é você?”

Não importa o quão amigáveis ficássemos, não importa o quanto conversávamos, as palavras que ela me dizia quando nos encontrávamos pela manhã eram sempre as mesmas.

Isso era triste e doloroso. Com o passar do tempo, esses sentimentos foram ficando mais fortes. Porém, a garota que eu conhecia todos os dias, que não sabia nada sobre o mundo, estava sempre alegre e me perguntava todo tipo de coisa com um sorriso parecido com o desabrochar de uma flor no rosto.

E um dia, então…

— Diga, que tipo de lugar era o país onde nos conhecemos…?

Ela, de repente, me perguntou algo que parecia ter acabado de passar pela sua cabeça.

— Vejamos…

Depois de passar um momento fingindo que estava pensando, respondi de forma bem simples, da maneira mais brincalhona possível.

— Esqueci.

 


 

Tradução: Sahad

 

Revisão: Kana

 


 

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